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Apostila 2 Literatura - Steller De Paula - Vestcursos

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LITERATURA – VOLUME 2 
SUMÁRIO 
 
Aula 21 – Pré-Modernismo I................................................................................................................................................ 1 
Aula 22 – Pré-Modernismo II ............................................................................................................................................ 12 
Aula 23 – Impressionismo e Vanguardas I ....................................................................................................................... 25 
Aula 24 – Pós-Impressionismo e Vanguardas II .............................................................................................................. 37 
Aula 25 – Funções da Linguagem .................................................................................................................................... 50 
Aula 26 – Primeira Geração do Modernismo I ................................................................................................................. 60 
Aula 27 – Primeira Geração do Modernismo II ................................................................................................................ 73 
Aula 28 – Prosa de 30 ....................................................................................................................................................... 90 
Aula 29 – Poesia de 30 I ................................................................................................................................................. 104 
Aula 30 – Poesia de 30 II ................................................................................................................................................ 128 
Aula 31 – Geração de 45 - Prosa ................................................................................................................................... 148 
Aula 32 – Realismo e Naturalismo.................................................................................................................................. 163 
Aula 33 – Concretismo e Poesia Marginal ..................................................................................................................... 179 
Respostas e Comentários Exercícios de Fixação.......................................................................................................... 193 
 
 
Prof. Steller de Paula 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO ANUAL DE LITERATURA 
Prof. Steller de Paula – VOLUME 2 
VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
 
AULA 21 - PRÉ-MODERNISMO I 
01. CONTEXTO HISTÓRICO 
As duas primeiras décadas do século XX não registram, no Brasil, 
convulsões semelhantes às ocorridas na Europa. A abolição da 
escravatura e o golpe republicano pouco haviam alterado as 
estruturas básicas do país. A economia - ainda voltada para as 
necessidades dos países europeus - assentava-se na dependência 
externa e no domínio interno dos cafeicultores. 
Porém, algumas mudanças iam se desenhando. A urbanização, o 
crescimento industrial e a imigração modificam a fisionomia da 
sociedade brasileira. Nas cidades, começa a se formar uma classe 
média reformista. Simultaneamente, emerge uma massa popular 
insatisfeita e propensa a revoltas irracionais como, por exemplo, a 
rebelião contra a vacina obrigatória. 
Na zona rural, produzem-se confrontos de maior ou menor 
intensidade dentro das classes dominantes, das violentas, mas 
restritas, lutas entre coronéis em determinadas regiões até a 
verdadeira guerra civil - que se trava no Rio Grande do Sul - entre 
republicanos e maragatos. Não esqueçamos também que, nesse 
período, irrompem as revoluções camponesas de Canudos (1896-
1897) e do Contestado (1912). 
Manifesta-se, então, na Literatura, um desejo individual - e nem 
sempre explícito - de redescoberta crítica do Brasil. De um Brasil 
esquecido, ignorado e, por vezes, doente, mas que precisa ser 
mostrado, discutido, interpretado. 
Sergius Gonzaga 
02. O TERMO “PRÉ-MODERNISMO” 
A literatura do início do século XX é marcada pelo ecletismo: além 
de poetas parnasianos e simbolistas e de prosadores realistas, 
despontam escritores que, apesar de manifestarem características 
dessas escolas do século XIX, apresentam elementos 
diferenciados, sobretudo, um olhar crítico para aspectos da 
realidade sociocultural brasileira até então ignorados. Por não se 
encaixarem em nenhuma das escolas anteriores, mesmo estando 
ligados a elas, e prenunciarem uma mudança de postura são 
chamados “Pré-modernistas”. Assim, o Pré-modernismo não se 
configura como um movimento, com manifestos, teorias e um 
grupo coeso de representantes: é mais uma fase de transição entre 
os movimentos de fins século e o modernismo que se firmaria a 
partir da Semana de Arte Moderna, em 1922. 
03. AUTORES E OBRAS: 
- Euclides das Cunha: Os sertões (1902), Contrastes e confrontos 
(1907), À margem da história (1909) 
- Monteiro Lobato: 
Literatura geral: Urupês (contos-1918) Cidades mortas (contos-
1919) Negrinha (contos-1920) 
Literatura infanto-juvenil: Reinações de Narizinho (1931) Viagem 
ao céu (1932) As caçadas de Pedrinho (1933) Geografia de dona 
Benta (1935) Histórias de tia Nastácia (1937) 
- Simões Lopes Neto: Cancioneiro guasca (1910); Contos 
gauchescos (1912); Lendas do Sul (1913); Casos do Romualdo 
(1952 - edição póstuma). 
- Lima Barreto: Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909) 
Triste fim de Policarpo Quaresma (1911) Numa e Ninfa (1915) Vida 
e morte de M.J. Gonzaga de Sá (1919) Os bruzundangas (1923) 
Clara dos Anjos (1924) Cemitério dos vivos (1957 - edição 
póstuma) 
- Augusto dos Anjos: Eu (1912) 
04. EUCLIDES DA CUNHA 
Em 1897, Euclides da Cunha é enviado pelo jornal O Estado de 
São Paulo, ao interior da Bahia, para cobrir última expedição das 
Forças Armadas contra Canudos, assistindo à derrota dos 
sertanejos. Em 1902, publicou a obra Os sertões, revisando a 
versão oficial sobre o evento. 
O próprio Euclides, antes de acompanhar pessoalmente a última 
etapa da guerra e, a partir daí, começar a escrever sua obra, 
acreditava a versão oficial propagada pelo governo de que os 
liderados de Antônio Conselheiro eram fanáticos religiosos e 
monarquistas ferozes determinados acabar com a República 
nascente e restaurar a Monarquia, chegando o autor a publicar um 
artigo chamado “A nossa Vendeia”, em que compara os 
canudenses aos camponeses reacionários que, sob o comando de 
aristocratas, procuraram destruir a República francesa, logo após a 
Revolução Francesa. 
Mesmo os artigos escritos durante sua cobertura sobre a guerra 
refletem essa visão geral. No entanto, nasce em Euclides uma 
necessidade de entender o que foi Canudos de uma maneira mais 
profunda, mais concreta, uma necessidade de compreender que 
país era aquele que permitia a eclosão de uma brutal manifestação 
de guerra em seu próprio território. 
Com Os sertões, o autor investiga a natureza sertaneja, espaço 
onde se deu o conflito, o homem sertanejo e os condicionamentos 
históricos e sociais que concorreram para possibilitar o conflito, 
numa obra que mudaria para sempre o modo como os brasileiros 
enxergavam a si mesmos e o país em que viviam. 
Um último aspecto que vale a pena ressaltar sobre a obra é a sua 
linguagem, que alguns críticos chamam de “Barroco Científico”, 
pelo rebuscamento e pelo rigor científico que o leva a utilizar 
termos técnicos com frequência. 
O livro é dividido em três partes e reflete uma visão determinista e 
positivista: 
A terra - O homem - A luta 
A Terra 
Euclides estudou Geografia, Botânica, Geologia, Psicologia, 
Sociologia e, na primeira parte, A terra, a visão cientificista é 
absolutamente predominante, voltando-se para a análise do meio, 
do clima, da topografia, da vegetação, enfim, da natureza 
sertaneja, retratadacomo opressora, um meio natural árido, uma 
vegetação pobre e seca, um chão calcinado. 
Trecho I 
“De repente, uma variante trágica. Aproxima-se a seca. 
O sertanejo adivinha-a e prefixa-a graças ao ritmo singular com 
que se desencadeia o flagelo. 
Entretanto não foge logo, abandonando a terra a pouco e pouco 
invadida pelo limbo candente que irradia do Ceará. 
Buckle, em página notável, assinala a anomalia de se não afeiçoar 
nunca, o homem, às calamidades naturais que o rodeiam. Nenhum 
povo tem mais pavor aos terremotos que o peruano; e no Peru as 
crianças ao nascerem têm o berço embalado pelas vibrações da 
terra. 
 
 
 
 2 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
Mas o nosso sertanejo faz exceção à regra. A seca não o apavora. 
É um complemento à sua vida tormentosa, emoldurando-a em 
cenários tremendos. 
Enfrenta-a, estoico. Apesar das dolorosas tradições que conhece 
através de um sem-número de terríveis episódios, alimenta a todo 
o transe esperanças de uma resistência impossível. 
Com os escassos recursos das próprias observações e das dos 
seus maiores, em que ensinamentos práticos se misturam a 
extravagantes crendices, tem procurado estudar o mal, para o 
conhecer, suportar e suplantar.” 
Euclides da Cunha, Os sertões 
Trecho II 
"Ao sobrevir das chuvas, a terra, como vimos, transfigura-se em 
mutações fantásticas, contrastando com a desolação anterior. 
Os vales secos fazem-se rios. Insulam-se os cômoros escalvados, 
repentinamente verdejantes. A vegetação recama de flores, 
cobrindo-os, os grotões escancelados, e disfarça a dureza das 
barrancas, e arredonda em colinas os acervos de blocos 
disjungidos -de sorte que as chapadas grandes, entremeadas de 
convales, se ligam em curvas mais suaves aos tabuleiros altos. Cai 
a temperatura. Com o desaparecer das soalheiras anula-se a 
secura anormal dos ares. Novos tons na paisagem: a transparência 
do espaço salienta as linhas mais ligeiras, em todas as variantes 
da forma e da cor. Dilatam-se os horizontes. O firmamento, sem o 
azul carregado dos desertos, alteia-se, mais profundo, ante o 
expandir revivescente da terra. 
E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem dono. 
Depois tudo isto se acaba. Voltam os dias torturantes; a atmosfera 
asfixiadora; o empedramento do solo; a nudez da flora; e nas 
ocasiões em que os estios se ligam sem a intermitência das 
chuvas -o espasmo assombrador da seca.” 
Euclides da Cunha, Os sertões 
O homem 
Na segunda parte, O homem, destaca-se a questão racial, embora 
numa inter-relação com as influências mesológicas. O sertanejo é 
visto como pertencente a uma “sub-raça”, por conta da 
miscigenação, numa visão que reflete as teorias raciais de sua 
época. 
Trecho III 
“O sertanejo do Norte é, inegavelmente, o tipo de uma 
subcategoria étnica já constituída (...). De sorte que o mestiço - 
traço de união entre as raças, breve existência individual em que 
se comprimem esforços seculares - é quase sempre um 
desequilibrado. (...) E o mestiço - mulato, mameluco ou cafuzo - 
menos que um intermediário, é um decaído, sem a energia física 
dos ascendentes selvagens, sem a altitude intelectual dos 
ancestrais superiores.” 
Euclides da Cunha, Os sertões 
Assim, o sertanejo é oprimido pelo meio e rebaixado pela sua 
herança genérica, um ser “degenerescido", propenso ao fanatismo, 
que encontra em Antônio Conselheiro um líder e uma síntese da 
“deformação” do mundo camponês do Nordeste. 
Trecho IV 
“Todas as crenças ingênuas, do fetichismo bárbaro às aberrações 
católicas, todas as tendências impulsivas das raças inferiores, 
livremente exercidas na indisciplina da vida sertaneja se 
condensaram no seu misticismo feroz e extravagante. Ele foi, 
simultaneamente, o elemento ativo e passivo da agitação que 
surgiu.” 
Euclides da Cunha, Os sertões 
No entanto, a leitura da obra nos deixa perceber a existência de 
dois Euclides: o primeiro procura entender e explicar 
sociologicamente o sertanejo com base nas teorias científicas de 
sua época, apresentando essa visão preconceituosa e deformada 
do homem do sertão; o segundo traz uma visão mais positiva e 
baseada na experiência concreta que teve, no contato direto com 
os sertanejos em guerra, que se apresentam corajosos e 
resistentes. Daí sua conclusão de que “o sertanejo é, antes de 
tudo, um forte”. 
Trecho V 
“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo 
exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. 
A sua aparência, entretanto, ao primeiro lance de vista revela o 
contrário. Falta-lhe a plástica impecável, o desempenho, a 
estrutura corretíssima das organizações atléticas (...). É 
desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo, reflete no 
aspecto a fealde típica dos fracos. 
(...) Entretanto, toda esta aparência de cansaço ilude. 
Naquela organização combalida operam-se, em segundos, 
transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer 
incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormidas. O 
homem transfigura-se. Empertiga-se, (...) e da figura vulgar do 
tabaréu canhestro, reponta inesperadamente o aspecto dominador 
de um titã acobreado e potente, num desdobramento 
surpreendente de força e agilidade extraordinárias.” 
Euclides da Cunha, Os sertões 
Como observamos, destaca-se na obra uma forte visão 
determinista, em seus três componentes: o meio, a raça e o 
contexto histórico. 
- Determinismo Geográfico: o homem como produto do meio 
natural. A impossibilidade civilizatória em zonas tórridas, como o 
sertão. 
- Determinismo Racial: os cruzamentos raciais enfraquecem a 
espécie. A miscigenação conduz os homens à bestialidade e a 
toda espécie de impulsos criminosos. O sertanejo é o caso típico 
de hibridismo racial. 
- Determinismo Histórico: Uma cultura como a sertaneja que, por 
ausência de contato com a civilização litorânea, não reproduz o 
progresso, permanecerá historicamente atrasada, tendendo a 
"anomalias", a exemplo de Canudos. 
Mas, como salientamos, em paralelo com essas afirmações de 
base cientificista, Euclides contrapôs outras, mais sensatas, 
partindo de suas observações pessoais, o que resulta numa 
ambiguidade. 
“Existe em Euclides da Cunha um dualismo singular: enquanto 
observa, testemunha, assiste, conhece por si mesmo, tem uma 
veracidade, uma importância, uma profundidade e uma grandeza 
insuperáveis; enquanto transmite a ciência alheia, ainda sobre o 
que ele mesmo viu, conheceu, descai para o teorismo vazio, para a 
digressão subjetiva, para a ênfase científica, para a tese 
desprovida de demonstração.” 
Nelson Werneck Sodré 
Na terceira parte, A luta, a Guerra de Canudos aparece não mais 
como uma guerra contra a ameaça monarquista à República, mas 
como uma guerra fratricida o Brasil arcaico e o Brasil urbano, entre 
Aula 21 – Pré-Modernismo I 
 
 
 
 
 
 
3 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
o interior atrasado, ignorado e explorado por séculos e o litoral 
desenvolvido e “civilizado”. 
Aqui, avulta o retrato de uma barbárie, do extermínio quase 
completo de uma população, que impôs sucessivas derrotas às 
tropas do governo e resistiu bravamente enquanto pode, até ser 
aniquilada. 
Trecho VI 
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, 
resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo, na 
precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando 
caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram 
quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na 
frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.” 
Euclides da Cunha, Os sertões 
A vitória é uma vitória moralmente baixa, que deveria envergonhar 
não só os soldados responsáveis por ela, mas todo o país: 
Trecho VII 
“Os novoscombatentes imaginaram-na (a guerra) extinta antes de 
chegarem a Canudos. Tudo o indicava. Por fim os próprios 
prisioneiros que chegavam e eram os primeiros que apareciam. 
Notou-se apenas, sem que se explicasse a singularidade, que 
entre eles não surgia um único homem feito. Os vencidos, 
varonilmente ladeados de escoltas, eram fragílimos; meia dúzia de 
mulheres tendo ao colo crianças engelhadas como fetos, seguidas 
dos filhos maiores, de seis a dez anos (...). Um dos pequenos 
- franzino e cambaleante - trazia à cabeça, ocultando-a 
inteiramente porque descia até os ombros, um velho quepe reiuno, 
apanhado no caminho. O quepe largo e grande demais oscilava 
grotescamente a cada passo sobre o busto esmurrado que ele 
encobria por um terço. E alguns espectadores tiveram a coragem 
singular de rir. A criança alçou o rosto, procurando vê-los. O riso 
extinguiu-se: a boca era uma chaga aberta de lado a lado por um 
tiro.” 
Euclides da Cunha, Os sertões 
Trecho VIII 
“Os combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam-
se; comoviam-se. O arraial, 'in extremis', punha-lhes adiante, 
naquele armistício transitório, uma legião desarmada, mutilada, 
faminta e claudicante. Custava-lhes admitir que toda aquela gente 
frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres bombardeados 
durante três meses. Contemplando-lhes os rostos baços, os 
arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos em tiras não 
encobriam lanhos, escaras e escalavros - a vitória tão longamente 
apetecida decaída de súbito. Repugnava aquele triunfo. 
Envergonhava.” 
Euclides da Cunha, Os sertões 
Para Euclides, os sertanejos eram vítimas de condicionamentos 
ambientais, raciais e históricos, representantes de um Brasil 
atrasado que deveria ser trazido à civilização. Mas, ao contrário 
disso, o Brasil litorâneo, razoavelmente desenvolvido, mostrou-se 
incapaz de entender aquele universo sertanejo e foi cúmplice de 
um crime, de uma tragédia nacional. 
05. GRAÇA ARANHA 
Canaã é a obra de maior destaque de Graça Aranha. O enredo gira 
em torno de dois imigrante alemãs que vieram para o interior do 
Espírito Santo: Milkau, para quem o mal é resultado do uso da 
força, da autoridade, da posse e que se mostra esperançoso em 
relação a nova vida que o espera, acreditando que o Mundo é uma 
expressão da harmonia e do amor universal, e Lentz, acreditando 
na superioridade da raça germânica, não se adapta à realidade 
brasileira. O livro, assim, estabelece um contraste entre a lei da 
força e da lei do amor, entre o racismo e o universalismo. 
Trecho I 
O agrimensor olhou a árvore. 
- Faz pena - disse compassivo - botar tudo isso abaixo. 
- Eu, por mim - acudiu Milkau, levado pelo mesmo sentimento -, 
preferiria um lote onde não fosse preciso esse sacrifício. 
- Não há nenhum - respondeu Felicíssimo. 
- O homem - notou Lentz a sorrir com ar de triunfo - há de sempre 
destruir a vida para criar a vida. E depois, que alma tem esta 
árvore? E que tivesse... Nós a eliminaríamos para nos 
expandirmos. 
E Milkau disse com a calma da resignação: 
- Compreendo bem que é ainda a nossa contingência essa 
necessidade de ferir a Terra, de arrancar do seu seio pela força e 
pela violência a nossa alimentação; mas virá o dia em que o 
homem, adaptando-se ao meio cósmico por uma extraordinária 
longevidade da espécie, receberá a força orgânica da sua própria e 
pacífica harmonia com o ambiente, como sucede com os vegetais; 
e então dispensará para subsistir o sacrifício dos animais e das 
plantas. Por ora nos conformaremos com este momento de 
transição... Sinto dolorosamente que, atacando a Terra, ofendo a 
fonte da nossa própria vida, e firo menos o que há de material nela 
do que o seu prestígio religioso e imortal na alma humana... 
Enquanto os outros assim discursavam, Felicíssimo, no seu amor 
ingênuo à Natureza, mirava as velhas árvores, e com a mão meiga 
festejava-lhes os troncos, como os últimos afagos dados às vítimas 
do momento do sacrifício. Dentro da mata penetrava o vento da 
manhã e nas folhas passava brandamente, levantando um 
murmúrio baixo, humilde, que se escapava de todas as árvores, 
como as queixas surdas dos moribundos. 
(in:ARANHA, Graça. OBRA COMPLETA. Rio de Janeiro: MEC-Instituto Nacional do 
Livro, 1969. p.106-107.) 
06. MONTEIRO LOBATO 
Obra: 
- Literatura geral: Urupês (contos-1918) Cidades mortas (contos-
1919) Negrinha (contos-1920) 
- Literatura infanto-juvenil: Reinações de Narizinho (1931) 
Viagem ao céu (1932) As caçadas de Pedrinho (1933) Geografia 
de dona Benta (1935) Histórias de tia Nastácia (1937) 
- Polêmicas: Ferro (1931) O escândalo do petróleo (1936) 
Monteiro Lobato exerceu um amplo e importante papel como 
intelectual no início do Sec. XX. Escreveu literature adulta, na qual 
denunciou a decadência da região do Vale do Paraíba, no interior 
de São Paulo, a perserverança de ações racistas no Brasil, 
herança da escravidão que a abolição não foi capaz de mitigar, e o 
atraso intelectual do brasileiro, que impedia o país de desenvolver-
se a content. Escreveu uma literatura infantil que valorizou o nosso 
Folclore, nossos mitos e lendas, e que encantou gerações e 
gerações de novos leitores, configurando-se, até hoje, entre o que 
de melhor se produziu no gênero em nosso país. Além disso, 
modernizou e ampliou o mercado editorial brasileiro e lutou pela 
nacionalização dos nossos recursos minerais, principalmente do 
petróleo. 
 
 
 
 4 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
A LITERATURA ADULTA 
Compreendendo três coletâneas de contos: Urupês, Cidades 
mortas e Negrinha, a literatura adulta de Monteiro Lobato, 
apresenta uma técnica narrativa e uma linguagem tradicionais, mas 
apresenta uma temática nova, que se manifesta no interesse por 
problemas específicos da nossa realidade social, apresentados 
com uma olhar profundamente crítico. 
Assim, é o regionalismo e a denúncia da realidade brasileira que 
fazem de Monteiro Lobato Pré-modernista. Através de seu Jeca 
Tatu, caboclo do interior paulista, ele denuncia a realidade da 
população subnutrida, marginalizada, acometida por doenças 
epidêmicas. 
Trecho I 
Porque a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado 
matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro 
recente e o aborígene de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar 
de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia 
e sorna, nada a põe de pé. 
Quando Pedro I lança aos ecos o seu grito histórico e o país 
desperta estrouvinhado à crise duma mudança de dono, o caboclo 
ergue-se, espia e acocora-se de novo. 
Pelo 13 de Maio, mal esvoaça o florido decreto da Princesa e o 
negro exausto larga num uf! o cabo da enxada, o caboclo olha, 
coça a cabeça, ‘magina e deixa que do velho mundo venha quem 
nele pegue de novo. 
A 15 de Novembro troca-se um trono vitalício pela cadeira 
quadrienal. O país bestifica-se ante o inopinado da mudança. O 
caboclo não dá pela coisa. 
Vem Floriano estouram as granadas de Custódio Gumercido bate 
às portas de Roimal Incitatus derranca o país. O caboclo continua 
de cócoras, a modorrar… 
Nada o esperta. Nenhuma ferrotoada o põe de pé. Social, como 
individualmente, em todos os atos da vida, Jeca, antes de agir, 
acocora-se. 
Jeca Tatu é um piraquara do Paraíba, maravilhoso epítome de 
carne onde se resumem todas as características da espécie. (...) 
Pobre Jeca Tatu! Como és bonito no romance e feio na realidade! 
Jeca mercador, Jeca lavrador, Jeca filósofo… 
Quando comparece às feiras, todo mundo logo advinha o que ele 
traz: sempre coisas que a natureza derrama pelo mato e ao 
homem só custa o gesto de espichar a mão e colher – cocos de 
tucum ou jiçara, guabirobas, bacuparis, maracujás, jataís, pinhões, 
orquídeas ou artefatos de taquara-poca – peneiras, cestinhas,samburás, tipitis, pios de caçador ou utensílios de madeira mole – 
gamelas, pilõesinhos, colheres de pau. 
Nada Mais. 
Seu grande cuidado é espremer todas as consequências da lei do 
menor esforço – e nisto vai longe. 
Monteiro Lobato, Urupês 
07. SIMÕES LOPES NETO 
Obras: Cancioneiro guasca (1910); Contos gauchescos (1912); 
Lendas do Sul (1913); Casos do Romualdo (1952 - edição 
póstuma). 
Segundo Sérgius Gonzaga, João Simões Lopes Neto é o 
verdadeiro consolidador do regionalismo na literatura brasileira: 
“O que antes se designava como regionalismo era um conjunto de 
textos ficcionais que primavam pelo abuso da “cor local”, isto é, do 
retrato pitoresco de alguns aspectos do mundo agrário, dentro de 
uma ótica estritamente urbana, como se observa, por exemplo, nos 
romances “sertanistas” de José de Alencar. Esta visão quase 
sempre exótica da vida rural foi virada ao avesso por Simões 
Lopes Neto, cuja pequena obra, composta por três livros de contos 
e um cancioneiro, apresenta dimensão revolucionária em função 
de vários fatores: 
- Registro predominantemente realista do universo gauchesco. 
- Captação da linguagem regional e notável utilização artística da 
mesma. 
- O sentido universal dos contos.”. 
Os relatos de Simões Lopes Neto abrangem o período histórico 
que se inicia depois da Independência e alcança o início do século 
XIX e tem como pano de fundo momentos significativos da 
formação do Rio Grande do Sul, como a Revolução Farroupilha, as 
Guerras Platinas e a Guerra do Paraguai. No entanto, apesar do 
substrato histórico e do regionalism que nos traz a imagem do 
gaucho honrado, corajoso e de espírito guerreiro, que aparecerá 
novamente na obra do modernista Érico Veríssimo, o interesse 
maior de Simões Lopes Neto é pelo humano e pelo que há de 
universal em dramas e tragégias regionais. 
Outro ponto relevante da obra do autor é a linguagem. É comum, 
emo bras regionalistas, encontrarmos um contraste entre a 
linguagem do narrador, normalmenten culta, e a dos personagens, 
oral e dialectal, regional. Simões Lopes Neto, em Contos 
Gauchecos, apresenta como narrador um velho gaudério, Blau 
Nunes, que possui uma linguagem popular e campeira, marcada 
por espanholismos (despacito, entrevero, etc.); arcaísmos 
(escuitar, peor, etc.); corruptelas (vancê, desgoto, etc.); e uma 
grande quantidade de termos específicos da região dos pampas 
(china, bagual, chiru, etc.). 
 
 
 
Aula 21 – Pré-Modernismo I 
 
 
 
 
 
 
5 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
EXERCÍCIOS DE APRENDIZAGEM 
 
Questão 01 (Unesp 2017) 
Trata-se de uma obra híbrida que transita entre a literatura, a história e a ciência, ao unir a perspectiva 
científica, de base naturalista e evolucionista, à construção literária, marcada pelo fatalismo trágico e 
por uma visão romântica da natureza. Seu autor recorreu a formas de ficção, como a tragédia e a 
epopeia, para compreender o horror da guerra e inserir os fatos em um enredo capaz de ultrapassar a 
sua significação particular. 
(Roberto Ventura. “Introdução”. In: Silviano Santiago (org.). Intérpretes do Brasil, vol. 1, 2000. Adaptado.) 
 
Tal comentário crítico aplica-se à obra 
a) Capitães da Areia, de Jorge Amado. 
b) Vidas secas, de Graciliano Ramos. 
c) Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. 
d) Os sertões, de Euclides da Cunha. 
e) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. 
 
Questão 02 (Puccamp 2016) 
Para responder à questão a seguir, considere o texto abaixo. 
“Euclides fora um dos que deram à nossa história um “estilo”: uma forma de pensar e sentir o país (...) 
Não casualmente ele conferira lugar especial ao fenômeno da mestiçagem (...) Ele teria descoberto 
nossa “tendência” à fusão, nossa aptidão para a “domesticação da natureza” e para a religiosidade. A 
figura do sertanejo como “forte de espírito” por excelência era o símbolo de nossa originalidade 
completa.” 
 (GOMES, Ângela de Castro. História e historiadores. A política cultural do Estado Novo. Rio de Janeiro: 
Fundação Getúlio Vargas, 1996. p. 195) 
 
O seguinte trecho crítico alude à obra prima de Euclides da Cunha: 
a) A vasta erudição histórica costuma desviar o leitor do plano central desse grande romance intimista. 
b) A descrição minuciosa da terra, do homem e da luta situa essa obra literária no nível da cultura 
científica e histórica. 
c) Não se poderia imaginar que um testemunho sobre a vida nos internatos resultasse num romance 
épico. 
d) Tomando como modelo a queda da Bastilha, esse romance repercutiu entre nós a destruição de 
uma etnia. 
e) Por vezes, o exibicionismo da oratória faz desse discurso histórico uma peça algo enigmática. 
 
Questão 03 (Ufrgs 2014) 
A obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, está dividida em três partes: A terra, O homem e A luta. 
Esses três elementos, no entanto, são interdependentes: a luta do homem em determinada terra. 
Assinale a alternativa que exemplifica essa interdependência entre as três partes do livro, nos 
fragmentos abaixo. 
a) Ajusta-se sobre os sertões o cautério das secas; esterilizam-se os ares urentes; empedra-se o 
chão, gretando, recrestado; ruge o nordeste nos ermos; e, como cilício dilacerador, a caatinga estende 
sobre a terra as ramagens de espinhos... 
b) É que nessa concorrência admirável dos povos, evolvendo todos em luta sem tréguas, na qual a 
seleção capitaliza atributos que a hereditariedade conserva, o mestiço é um intruso. 
c) Para todos os rumos e por todas as estradas e em todos os lugares, os escombros carbonizados 
das fazendas e dos pousos, avultavam, insulando o arraial num grande círculo isolador, de ruínas. 
Estava pronto o cenário para um emocionante drama da nossa história. 
d) (...) as caatingas são um aliado incorruptível do sertanejo em revolta. Entram também de certo 
modo na luta. Armam-se para o combate; agridem. Trançam-se, impenetráveis, ante o forasteiro, mas 
abrem-se em trilhas multívias, para o matuto que ali nasceu e cresceu. 
e) O clima extremava-se em variações enormes: os dias repontavam queimosos, as noites 
sobrevinham frigidíssimas. 
 
Questão 04 (Enem 2015) 
TEXTO I 
Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. 
Vencido palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os 
Anotações 
 
 
 
 
 6 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e 
uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. 
CUNHA, E. Os sertões. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1987. 
 
TEXTO II 
Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um 
velho, coxo por ferimento e usando uniforme da Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto 
alto e magro, e um caboclo. Ao serem intimados para deporem as armas, investiram com enorme fúria. 
Assim estava terminada e de maneira tão trágica a sanguinosa guerra, que o banditismo e o fanatismo 
traziam acesa por longos meses, naquele recanto do território nacional. 
SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Altina, 1902. 
 
Os relatos do último ato da Guerra de Canudos fazem uso de representações que se perpetuariam na 
memória construída sobre o conflito. Nesse sentido, cada autor caracterizou a atitude dos sertanejos, 
respectivamente, como fruto da 
a) manipulação e incompetência. 
b) ignorância e solidariedade. 
c) hesitação e obstinação. 
d) esperança e valentia. 
e) bravura e loucura. 
 
Questão 05 (Ufrs 2005) 
Considere as seguintes afirmações sobre obras de Monteiro Lobato. 
 I. Em "Urupês", "CidadesMortas" e "Negrinha", ele produz uma literatura comprometida 
predominantemente com os problemas socioeconômicos do Brasil. 
II. Em "Urupês", ele atribui a culpa pelo atraso do Brasil ao caboclo, por ele ser acomodado e 
inadaptável às mudanças necessárias ao desenvolvimento. 
III. O título "Cidades Mortas" alude às cidadezinhas do interior de São Paulo, que perderam a sua 
importância econômica face à Capital. 
Quais estão corretas? 
a) Apenas I. d) Apenas I e II. 
b) Apenas II. e) I, II e III. 
c) Apenas III. 
 
Questão 06 (Enem 2010) 
Negrinha 
Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e 
olhos assustados. 
Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da 
cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de 
crianças. 
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na 
igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na 
sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma 
virtuosa senhora em suma – “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, 
dizia o reverendo. 
Ótima, a dona Inácia. 
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva.[...] 
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. 
Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e 
estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo – essa indecência de negro igual. 
LOBATO, M. Negrinha. In: MORICONE, I. Os cem melhores contos brasileiros do século. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000 
(fragmento). 
 
A narrativa focaliza um momento histórico-social de valores contraditórios. Essa contradição infere-se, 
no contexto, pela 
a) falta de aproximação entre a menina e a senhora, preocupada com as amigas. 
b) receptividade da senhora para com os padres, mas deselegante para com as beatas. 
c) ironia do padre a respeito da senhora, que era perversa com as crianças. 
d) resistência da senhora em aceitar a liberdade dos negros, evidenciada no final do texto. 
e) rejeição aos criados por parte da senhora, que preferia tratá-los com castigos. 
 
Anotações 
 
Aula 21 – Pré-Modernismo I 
 
 
 
 
 
 
7 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
Questão 07 (Imed 2015) 
Em sua obra “Urupês”, publicada em 1918, Monteiro Lobato apresenta uma de suas personagens mais 
representativas: Jeca Tatu. Sobre o autor e sua obra, é possível afirmar que: 
I. A personagem Jeca Tatu representa a miséria e o atraso econômico do país, principalmente o 
descaso do governo em relação ao Brasil rural. 
II. Jeca Tatu remete à figura do homem caboclo, e sua aparência ligada à falta de higiene passou a ser 
relacionada à campanha sanitarista aderida por Monteiro Lobato. 
III. Sem educação e alheio aos acontecimentos de seu país, Jeca Tatu representa a ignorância do 
homem do campo. 
 
Quais estão corretas? 
a) Apenas I. 
b) Apenas III. 
c) Apenas I e II. 
d) Apenas II e III. 
e) I, II e III. 
 
Questão 08 (Pucsp 2005) 
Monteiro Lobato foi um escritor que, quanto ao uso da língua, sempre questionou a obediência aos 
padrões rígidos da gramática e às normas herdadas de Portugal. No texto, há momentos em que ele 
não segue as regras de uso da vírgula previstas pela Gramática Normativa. 
 
Assim, observe os fragmentos a seguir: 
I. "As fibras do México saem por carroças e se um general revolucionário não as pilha em caminho, 
chegam a salvo com presteza". 
II. "Às vezes, pensa o patrão que o veículo já está de volta, quando vê chegar o carreiro". 
III. "O primeiro destes países voa; o segundo corre a 50 km por hora; o terceiro apesar das revoluções 
tira 10 léguas por dia". 
 
Quanto ao uso da vírgula, em relação às regras da Gramática Normativa, desses fragmentos, 
a) I e II estão corretos. 
b) II e III estão corretos. 
c) I e III estão corretos. 
d) apenas II está correto. 
e) apenas I está correto. 
 
Anotações 
 
 
 
 
 8 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 
 
Questão 01 (Unifesp 2015) 
É preciso ler esse livro singular sem a obsessão de enquadrá-lo 
em um determinado gênero literário, o que implicaria em prejuízo 
paralisante. Ao contrário, a abertura a mais de uma perspectiva é o 
modo próprio de enfrentá-lo. A descrição minuciosa da terra, do 
homem e da luta situa-o no nível da cultura científica e histórica. 
Seu autor fez geografia humana e sociologia como um espírito 
atilado poderia fazê-las no começo do século, em nosso meio 
intelectual, então avesso à observação demorada e à pesquisa 
pura. Situando a obra na evolução do pensamento brasileiro, diz 
lucidamente o crítico Antonio Candido: “Livro posto entre a 
literatura e a sociologia naturalista, esta obra assinala um fim e um 
começo: o fim do imperialismo literário, o começo da análise 
científica aplicada aos aspectos mais importantes da sociedade 
brasileira (no caso, as contradições contidas na diferença de 
cultura entre as regiões litorâneas e o interior).” 
(Alfredo Bosi. História concisa da literatura brasileira, 1994. Adaptado.) 
 
O excerto trata da obra 
a) Capitães da areia, de Jorge Amado. 
b) O cortiço, de Aluísio de Azevedo. 
c) Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa. 
d) Vidas secas, de Graciliano Ramos. 
e) Os sertões, de Euclides da Cunha. 
 
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES: 
“O planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em 
1escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e 
desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras 
marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. 2Mas ao derivar 
para as terras setentrionais diminui gradualmente de altitude, ao 
mesmo tempo que descamba para a costa oriental em andares, ou 
repetidos socalcos, que o despem da primitiva grandeza afastando-
o consideravelmente para o interior. 
De sorte que quem o contorna, seguindo para o norte, observa 
notáveis mudanças de relevos: a princípio o traço contínuo e 
dominante das montanhas, precintando-o, com destaque saliente, 
sobre a linha projetante das praias, depois, no segmento de orla 
marítima entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, um aparelho 
litoral revolto, feito da envergadura desarticulada das serras, riçado 
de cumeadas e corroído de angras, e escancelando-se em baías, e 
repartindo-se em ilhas, e desagregando-se em recifes desnudos, à 
maneira de escombros do conflito secular que ali se trava entre os 
mares e a terra; em seguida, transposto o 15º paralelo, a 
atenuação de todos os acidentes — serranias que se arredondam 
e suavizam as linhas dos taludes, fracionadas em morros de 
encostas indistintas no horizonte que se amplia; até que em plena 
faixa costeira da Bahia, o olhar, livre dos anteparos de serras que 
até lá o repulsam e abreviam, se dilata em cheio para o ocidente, 
mergulhando no âmago da terra amplíssima lentamente emergindo 
num ondear longínquo de chapadas... 
Este facies geográfico resume a morfogenia do grande maciço 
continental.” 
Euclides da Cunha, Os Sertões. 
 
Questão 02 (Mackenzie 2015) 
Assinale a alternativa INCORRETA sobre o contexto histórico e 
literário da prosa pré-modernista a que pertence o fragmento de Os 
Sertões. 
a) Os prosadores pré-modernistas produziram uma literatura 
problematizadora da realidade brasileira de sua época. 
b) Entre os temas pré-modernistas, está o subdesenvolvimento do 
sertão nordestino. 
c) A investigação social presente na prosa pré-modernista colabora 
para o aprofundamentodo sentimento ufanista nacional. 
d) A prosa da época é marcada por obras de análise e 
interpretação social significativas para a literatura brasileira. 
e) O pré-modernismo antecipou formal ou tematicamente práticas e 
ideias que foram desenvolvidas pelos modernistas. 
 
Questão 03 (Mackenzie 2015) 
A partir do fragmento selecionado, considere as seguintes 
afirmações sobre as características da prosa de Euclides da 
Cunha. 
I. Tendência à intensificação dos fragmentos descritivos. 
II. Presença de vocabulário farto e raro. 
III. Uso de tom subjetivo e linguagem simbólica. 
Assinale a alternativa correta. 
a) Estão corretas apenas as alternativas I e II. 
b) Estão corretas apenas as alternativas I e III. 
c) Estão corretas apenas as alternativas II e III. 
d) Todas as alternativas estão corretas. 
e) Nenhuma das alternativas está correta. 
 
Questão 04 (Mackenzie 2015) 
A partir do fragmento de Os Sertões, pode-se afirmar que todas as 
afirmações estão corretas, EXCETO: 
a) o autor compõe seu texto com traços tanto de uma prosa 
científica quanto de uma prosa literária. 
b) a constante utilização de termos científicos, como cumeadas, 
taludes e morfogenia, compromete o valor literário da obra. 
c) destacam-se contrastes geográficos do Brasil, como evidenciado 
no fragmento: Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui 
gradualmente de altitude (ref. 2) 
d) há uma detalhada descrição da região embasada pelo 
conhecimento das Ciências Naturais. 
e) a opção pela utilização de mais de um adjetivo para caracterizar 
o substantivo, como em escarpas inteiriças, altas e abruptas (ref. 
1), está vinculada à ideia da objetividade científica. 
 
Questão 05 (Ufrgs 2012) 
Leia os fragmentos que seguem, extraídos, respectivamente, dos 
textos Trezentas Onças e No Manantial, incluídos em Contos 
Gauchescos, de Simões Lopes Neto. 
Fragmento 1 
Eh-pucha! patrício, eu sou mui rude... a gente vê caras, não vê 
corações...; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava 
como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia: 
era luz de deus por todos os lados!... 
E já todo no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. 
Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar. 
 
Fragmento 2 
O arranchamento alegre e farto foi desaparecendo... o feitio da 
mão de gente foi-se gastando, tudo foi minguando; as carquejas e 
as embiras invadiram; o gravatá lastrou; só o umbu foi guapeando, 
mas abichornado, como viúvo que se deu bem em casado...; foi 
ficando tapera... a tapera... que é sempre um lugar tristonho onde 
parece que a gente vê gente que nunca viu... 
Considere as seguintes afirmações sobre esses fragmentos. 
Aula 21 – Pré-Modernismo I 
 
 
 
 
 
 
9 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
I. No primeiro fragmento, a presença de termos regionais, de 
linguagem figurada e de ditado popular contribui para a 
caracterização da identidade e do estado de espírito do 
personagem. 
II. No segundo fragmento, o uso das formas verbais “invadiram” e 
“lastrou” para descrever mudanças sofridas pela vegetação sugere 
uma identificação entre a paisagem natural e o destino trágico da 
família de Maria Altina. 
III. Ambos os fragmentos exemplificam o uso coloquial da 
linguagem de Blau Nunes, que contrasta com o discurso urbano e 
erudito do “patrício”, reproduzido no texto. 
Quais estão corretas? 
a) Apenas I. d) Apenas II e III. 
b) Apenas II. e) I, II e III. 
c) Apenas I e II. 
 
Texto 
Foi na estância dos Lagoões, duma gente Silva, uns Silvas mui 
políticos, sempre metidos em eleições e enredos de qualificações 
de votantes. 
A estância era como aqui e o arroio como a umas dez quadras; lá 
era o banho da família. Fazia uma ponta, tinha um sarandizal e 
logo era uma volta forte, como uma meia-lua, onde as areias se 
amontoavam formando um baixo: o perau era do lado de lá. O 
mato aí parecia plantado de propósito: era quase que pura 
guabiroba e pitanga, araçá e guabiju; no tempo, o chão coalhava-
se de fruta: era um regalo! 
Já vê... o banheiro não era longe, podia-se bem ir lá, de a pé, mas 
a família ia sempre de carretão, puxado a bois, uma junta, mui 
mansos, governados de regeira por uma das senhoras-donas e 
tocados com uma rama por qualquer das crianças. 
Eram dois pais da paciência, os dois bois. Um se chamava 
Dourado, era baio; o outro, Cabiúna, era preto, com a orelha do 
lado de laçar branca, e uma risca na papada. 
Estavam tão mestres naquele piquete, que, quando a família, de 
manhãzita, depois da jacuba de leite, pegava a aprontar-se, que a 
criançada pulava para o terreiro ainda mastigando um naco de pão 
e as crioulas apareciam com as toalhas e por fim as senhoras-
donas, quando se gritava pelo carretão, já os bois havia muito 
tempo que estavam encostados no cabeçalho, remoendo muito 
sossegados, esperando que qualquer peão os ajoujasse. 
(LOPES NETO, Simões. Contos gauchescos. Porto Alegre: 
Artes e Ofícios, 2008. p. 65-66.) 
 
Questão 06 (Uel 2011) 
Observando os seus aspectos constitutivos, percebe-se que 
Contos gauchescos é uma obra representativa 
a) da escola romântica, pelas imagens poéticas na descrição 
espacial e pelo retrato de personagens sensíveis e heroicas. 
b) da estética naturalista, pois defende a determinação do 
comportamento das personagens pelo espaço geográfico e por 
fatores genéticos. 
c) da tendência regionalista em literatura, por retratar a substância 
real de um espaço e a relação entre ele e o homem que o habita. 
d) do movimento realista, por assumir forte tom de crítica social e 
adotar uma linguagem científica na construção da narrativa. 
e) da fase heroica do Modernismo brasileiro, caracterizada pela 
incorporação da oralidade e pela criação de neologismos. 
 
Texto 
Embaixo, o rumor da água pipocando sobre o pedregulho; vaga-
lumes retouçando no escuro. Desci, dei-me com o lugar onde havia 
estado; tenteei os galhos do sarandi; achei a pedra onde tinha 
posto a guaiaca e as armas, corri as mãos por todos os lados, mais 
pra lá, mais pra cá...; nada... nada!... 
Então, senti frio dentro da alma. . . o meu patrão ia dizer que eu 
havia roubado!... roubado... Pois então eu ia lá perder as onças!... 
Qual! Ladrão, ladrão, é que era!... 
E logo uma tenção ruim entrou-me nos miolos: eu devia matar-me, 
para não sofrer a vergonha daquela suposição. 
É, era o que eu devia fazer: matar-me... e já, aqui mesmo! 
Tirei a pistola do cinto: amartilhei o gatilho... benzi-me, e encostei 
no ouvido o cano, grosso e frio, carregado de bala... 
Ah! patrício! Deus existe!... No refilão daquele tormento, olhei para 
diante e vi... as Três-Marias luzindo na água... o cusco 
encarapitado na pedra, ao meu lado, estava me lambendo a mão... 
e logo, logo, o zaino relinchou lá em cima, na barranca do riacho, 
ao mesmíssimo tempo que a cantoria alegre de um grilo retinia ali 
perto, num oco de pau!... Patrício! não me avexo duma heresia; 
mas era Deus que estava no luzimento daquelas estrelas, era ele 
que mandava aqueles bichos brutos arredarem de mim a má 
tenção... 
O cachorrinho tão fiel lembrou-me a amizade da minha gente; o 
meu cavalo lembrou-me a liberdade, o trabalho, e aquele grilo 
cantador trouxe a esperança... 
Eh-pucha! patrício, eu sou mui rude... a gente vê caras, não vê 
corações...; pois o meu, dentro do peito, naquela hora, estava 
como um espinilho ao sol, num descampado, no pino do meio-dia: 
era luz de Deus por todos os lados!... 
E já todo no meu sossego de homem, meti a pistola no cinto. 
Fechei um baio, bati o isqueiro e comecei a pitar. 
(LOPES NETO, J. S. Contos gauchescos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2008. p. 21-
22.) 
 
Questão 07 (Uel 2011) 
Acerca da obra Contos gauchescos, de João Simões Lopes Neto, 
é correto afirmar: 
a)É representativa da chamada Geração de 30, de feição 
neorrealismo, preocupada em apresentar as desigualdades sociais 
do Brasil. 
b) Trata a afinidade entre o homem e a natureza de forma 
inverossímil, o que a filia à tradição do realismo mágico no Brasil. 
c) Publicada antes da Semana de Arte Moderna, é uma obra 
representativa do regionalismo, tendência estética iniciada no 
período romântico. 
d) Sob uma perspectiva crítica, delineia os contornos físicos e 
sociais dos grandes centros urbanos sulistas. 
e) Caracteriza-se por conter referências à história do Brasil, indo 
desde a chegada dos portugueses até a Era Vargas. 
 
Questão 08 (UFRS) 
Considere as seguintes afirmações sobre OS SERTÕES, de 
Euclides da Cunha. 
I - Nas duas primeiras partes do livro, o autor descreve, 
respectivamente, o homem e o meio ambiente que constituíam o 
sertão baiano, valendo-se, para tanto, das teorias científicas 
desenvolvidas na época. 
II - Ao descrever os sertanejos, o autor idealiza suas qualidades 
morais e físicas e conclui que seu heroísmo era resultado da fé nos 
ensinamentos religiosos do líder Antônio Conselheiro. 
III - O autor descreve, na terceira parte do livro, as várias etapas da 
guerra de Canudos e denuncia o massacre dos sertanejos pelas 
tropas do exército brasileiro, revelando a miséria e 
subdesenvolvimento da região. 
 
 
 
 10 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
Quais estão corretas? 
a) Apenas I. d) Apenas I e III. 
b) Apenas II. e) I, II e III. 
c) Apenas III. 
 
Questão 09 (UFRS) 
Assinale com V (Verdadeiro) ou F (Falso) as afirmações abaixo 
sobre a obra "Os Sertões", de Euclides da Cunha. 
( ) No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o requinte da 
linguagem, a intenção científica e o propósito jornalístico. 
( ) A obra euclideana insere-se numa tradição da literatura 
brasileira que tematiza o povoamento do sertão, iniciada ainda no 
Romantismo com Bernardo Guimarães. 
( ) Euclides da Cunha escreveu "Os Sertões" com base nas 
reportagens que realizou como correspondente do jornal "O Estado 
de São Paulo". 
( ) Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia criada pelo 
imaginário do autor. 
( ) O episódio de Canudos, retratado no texto de Euclides da 
Cunha, faz parte dos movimentos de protesto surgidos logo após a 
proclamação da Independência do Brasil. 
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima 
para baixo, é 
a) V- F- V- F- F d) F- V- F- F- V 
b) V- V- V- F- F e) V- V- F- F- F 
c) F- F- V- V- F 
 
Questão 10 (UFRS) 
Leia o trecho abaixo de "Os Sertões," de Euclides da Cunha. 
"Daquela data ao termo da campanha a tropa iria viver em 
permanente alarma. 
(...) 
A tática invariável do jagunço, expunha-se temerosa naquele 
resistir às recuadas, restribando-se* em todos os acidentes da terra 
protetora. Era a luta da sucuri flexuosa* com o touro pujante. 
Laçada a presa, distendia os anéis; permitia-lhe a exaustão do 
movimento livre e a fadiga da carreira solta; depois se constringia 
repuxando-o, maneando-o nas roscas contráteis, para relaxá-las 
de novo, deixando-o mais uma vez se esgotar no escarvar*, a 
marradas, o chão; e novamente o atrair, retrátil, arrastando-o - até 
ao exaurir completo..." 
*restribar - estar firme, estar escorado. 
*flexuoso - sinuoso, torcido, tortuoso. 
*escarvar - cavar superficialmente. 
Assinale a alternativa INCORRETA em relação ao trecho. 
a) O jagunço, ao aproveitar-se dos "acidentes da terra protetora", 
conseguia superar-se e confrontar-se com o inimigo, trazendo-lhe 
novas dificuldades. 
b) O "touro pujante", apesar de sua força, na ilusão do movimento 
livre, acaba se exaurindo. 
c) No confronto, a "sucuri flexuosa" vence, pois usa os recursos de 
que dispõe. 
d) No trecho, a imagem da luta entre a "sucuri flexuosa" e o "touro 
pujante" é uma metáfora da luta entre jagunços e expedicionários. 
e) A "sucuri flexuosa" e o "touro pujante" estão em constante 
confronto sem que haja um vencedor. 
 
Questão 11 (UFRS) 
Assinale a alternativa INCORRETA sobre a obra de Monteiro 
Lobato. 
a) A obra literária de Lobato, um dos intelectuais mais importantes 
da sua época, se insere no Regionalismo Pré-Modernista. 
b) O conto "Urupês", que dá título ao primeiro livro do autor, nasceu 
de um panfleto em que Lobato criou a figura típica do "Jeca Tatu". 
c) As denúncias de Lobato sobre as queimadas nos campos e 
sobre o caboclo miserável, indiferente e preguiçoso ajudaram a 
projetá-lo como ficcionista. 
d) Além de contos, crônicas e ensaios variados, a obra de Lobato 
compreende vários textos de literatura infantil. 
e) A prosa de Lobato é marcada pelo gosto documental naturalista 
e pelo uso de uma linguagem ornamentada, como pode ser 
comprovado nas obras "Fruto Proibido", de 1895, "Sertão", de 
1896, e "Canaã", de 1902. 
 
Questão 12 (Ufrn 2012) 
Considere o seguinte trecho do conto “O fisco (conto de Natal)”, 
publicado em 1921 e integrante do livro Negrinha, de Monteiro 
Lobato: 
Súbito, viu um homem de boné caminhando para o seu lado. 
Olhou-lhe para as botinas. Sujas. Viria engraxar, com certeza – e o 
coração bateu-lhe apressado, no tumulto delicioso da estreia. 
Encarou o homem já a cinco passos e sorriu com infinita ternura 
nos olhos, num agradecimento antecipado em que havia tesouros 
de gratidão. 
Mas em vez de espichar o pé, o homem rosnou aquela terrível 
interpelação inicial: 
– Então, cachorrinho, que é da licença? 
(LOBATO, Monteiro. Negrinha. São Paulo: Globo, 2008, p. 71) 
 
O trecho em destaque apresenta um episódio ocorrido em um 
parque. No contexto da narrativa, a cena ilustra: 
a) um confronto entre a autoridade constituída e o menino que 
insiste na desobediência à lei. 
b) um encontro amigável entre o menino engraxate e um cliente. 
c) uma conversa amistosa entre as personagens, de posições 
sociais distintas. 
d) uma relação de desigualdade entre as personagens, 
determinada pela força repressiva. 
 
Questão 13 (Ufrn 2012) 
Parte do capítulo IX (“Transição”), de Memórias Póstumas de Brás 
Cubas: 
E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a maior 
transição deste livro. Vejam: o meu delírio começou em presença 
de Virgília; Virgília foi meu grão pecado da juventude; não há 
juventude sem meninice; meninice supõe nascimento; e eis aqui 
como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 1805, 
em que nasci. Viram? Nenhuma juntura aparente, nada que divirta 
a atenção pausada do leitor: nada. 
(ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. 
São Paulo: Ática, 2000.) 
 
Trecho do conto “O fisco (conto de Natal)”, publicado em 1921 e 
integrante do livro Negrinha, de Monteiro Lobato: 
Súbito, viu um homem de boné caminhando para o seu lado. 
Olhou-lhe para as botinas. Sujas. Viria engraxar, com certeza – e o 
coração bateu-lhe apressado, no tumulto delicioso da estreia. 
Encarou o homem já a cinco passos e sorriu com infinita ternura 
nos olhos, num agradecimento antecipado em que havia tesouros 
de gratidão. 
Mas em vez de espichar o pé, o homem rosnou aquela terrível 
interpelação inicial: 
– Então, cachorrinho, que é da licença? 
(LOBATO, Monteiro. Negrinha. São Paulo: Globo, 2008, p. 71) 
Aula 21 – Pré-Modernismo I 
 
 
 
 
 
 
11 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
Da leitura comparada do romance Memórias Póstumas de Brás 
Cubas, de Machado de Assis, e do conto “O fisco”, de Monteiro 
Lobato, pode-se afirmar que, 
a) tanto no romance quanto no conto, a crítica social dirige-se 
principalmente à hipocrisia da burguesia. 
b) no romance, a crítica social dirige-se à hipocrisia da burguesia; 
no conto, à opressão do poder público aos desvalidos. 
c) tanto no romancequanto no conto, a crítica social dirige-se 
principalmente à opressão do poder público aos desvalidos. 
d) no romance, a crítica social dirige-se à opressão do poder 
público aos desvalidos; no conto, dirige-se à hipocrisia da 
burguesia. 
 
Questão 14 (Fgv 2015) 
No livro de crônicas Cidades Mortas, o escritor Monteiro Lobato 
descreve o destino de ricas cidades cafeicultoras do Vale do 
Paraíba. Bananal, que chegou a ser a maior produtora de café da 
província de São Paulo, tornou-se uma “cidade morta”, que vive do 
esplendor do passado: transformou-se em uma estância turístico-
histórica, mantendo poucas sedes majestosas conservadas, como 
a da Fazenda Resgate. A maioria, entretanto, está em ruínas. O 
fim da escravidão foi o fim dos barões. E também o fim do Império. 
(Sheila de Castro Faria, Ciclo do café In Luciano Figueiredo (org), História do Brasil 
para ocupados, 2013, p.164) 
 
Sobre a conclusão apresentada no texto, é correto afirmar que 
a) a decadência econômica do vale do Paraíba tem fortes vínculos 
com as periódicas crises internacionais que reduziam a demanda 
pelo café, mas a causa central da derrocada do cultivo nessa 
região foi a ação do Império combatendo a imigração. 
b) o Centro-Sul, especialmente a região do vale do Paraíba, 
manteve uma constante crítica à Monarquia, em razão da defesa 
que esta fazia do federalismo, opondo-se ao centralismo político-
administrativo, prejudicial aos negócios do café. 
c) a decadência da produção cafeeira no vale do Paraíba, 
relacionada aos problemas de solo, foi impulsionada pela abolição 
da escravatura, fato que levou os grandes proprietários de terra da 
região a retirarem o seu apoio à Monarquia. 
d) as divergências entre os cafeicultores do vale do Paraíba e a 
liderança do Partido Conservador cristalizaram-se com o fim do 
tráfico de escravos, culminando no rompimento definitivo com a lei 
do Ventre Livre. 
e) a posição antimonarquista dos cafeicultores do vale do Paraíba, 
fundadores do Partido Republicano, resultou na imposição de 
medidas, por parte da elite imperial, prejudiciais a essa elite, como 
a proibição da entrada de imigrantes. 
 
A Reforma da Natureza 
Quando 2a guerra da Europa terminou, os ditadores, reis e 
presidentes cuidaram da 11discussão da paz. Reuniram-se num 
campo aberto, 3sob uma grande barraca de pano, porque já não 
havia cidades: todas haviam sido arrasadas pelos 4bombardeios 
aéreos. E puseram-se a discutir, mas por mais que discutissem 
não saía paz nenhuma. Parecia a continuação da guerra, com 
palavrões em vez de granadas e 1perdigotos em vez de balas de 
fuzil. 
Foi então que o Rei Carol da Romênia se levantou e disse: 
– Meus senhores, a paz não sai porque somos todos aqui 
representantes de países e cada um de nós 5puxa a brasa para a 
sua sardinha. Ora, 6a brasa é uma só e as sardinhas são muitas. 
Ainda que discutamos durante um século, 12não haverá acordo 
possível. O meio de arrumarmos a situação é convidarmos para 
esta conferência alguns representantes da humanidade. Só essas 
criaturas poderão propor uma paz que, satisfazendo toda a 
humanidade, também satisfaça aos povos, porque a humanidade é 
um todo do qual os povos são as partes. Ou melhor: a humanidade 
é uma laranja da qual os povos são os gomos. 
Essas palavras profundamente sábias muito impressionaram 
aqueles homens. Mas onde encontrar criaturas que 
representassem a humanidade e não viessem com as 
mesquinharias das que só representam povos, isto é, gomos da 
humanidade? 
O 7Rei Carol, depois de cochichar com o 8General de Gaulle, 
prosseguiu no seu discurso. 
– Só conheço – disse ele – duas criaturas em condições de 
representar a humanidade, porque são as mais humanas do 
mundo e também são grandes estadistas. A pequena república que 
elas governam sempre nadou na maior felicidade. 
9Mussolini, enciumado, levantou o queixo. 
– Quem são essas maravilhas! 
– Dona Benta e tia Nastácia – respondeu o Rei Carol – as duas 
respeitáveis matronas que governam o Sítio do Picapau Amarelo, 
lá na América do Sul. Proponho que a Conferência mande buscar 
as duas maravilhas para que nos ensinem o 13segredo de bem 
governar os povos. 
– Muito bem! – aprovou o 10Duque de Windsor, que era o 
representante dos ingleses. A Duquesa me leu a história desse 
maravilhoso pequeno país, um verdadeiro paraíso na terra, e 
também estou convencido de que unicamente pelo meio da 
sabedoria de Dona Benta e do bom senso de tia Nastácia o mundo 
poderá ser consertado. No dia em que o planeta ficar inteirinho 
como é o sítio, não só teremos paz eterna como a mais perfeita 
felicidade. 
Os grandes ditadores e os outros chefes da Europa nada sabiam 
do sítio. Admiraram se daquelas palavras e pediram informações. 
O Duque de Windsor começou a contar, desde o começo, as 
famosas brincadeiras de Narizinho, Pedrinho e Emília no Picapau 
Amarelo. [...] 
Eis explicada a razão do convite a Dona Benta, tia Nastácia e o 
Visconde de Sabugosa para irem representar a Humanidade e o 
Bom Senso na Conferência da Paz de 1945. 
LOBATO, Monteiro. Obra infantil completa. Vol. 10 – A chave do tamanho; A 
reforma da natureza. São Paulo: Brasiliense, 1991. p. 1185-6. (Adaptado) 
1. Perdigoto é “uma gota de saliva” (Dicionário Aulete. Disponível em 
<http://aulete.uol.com.br>. Acesso em 10 out. 2013.) 
 
Questão 15 (Ucs 2014) 
Quanto à presença de líderes mundiais no texto, é correto afirmar 
que 
a) o Rei Carol (ref. 7) e o General de Gaulle (ref. 8) cochichavam, 
pois tinham um ótimo relacionamento incentivado pelas relações 
entre os seus países, que dividem fronteiras. 
b) o italiano Mussolini (ref. 9) mostrou-se contrariado porque não 
pôde relatar, na reunião, sua parceria entre italianos e japoneses 
contra o nazismo alemão. 
c) o Duque de Windsor (ref. 10), pelo fato de o regime de governo 
da Inglaterra ser monarquia parlamentarista, estava representando 
o Primeiro Ministro Inglês. 
d) Monteiro Lobato, por ser parnasiano, não tinha o compromisso 
de manter personagens associados diretamente a figuras reais em 
suas obras; por esse motivo, nenhum dos líderes citados realmente 
existiu. 
e) Monteiro Lobato, estrategicamente, para que o Brasil parecesse 
neutro, não citou Juscelino Kubitschek, presidente eleito do Brasil à 
época da guerra da Europa, que enviou tropas brasileiras para lutar 
ao lado da Itália em Monte Castelo. 
 
 
 
 
 
 
CURSO ANUAL DE LITERATURA 
Prof. Steller de Paula – VOLUME 2 
VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
 
AULA 22 - PRÉ-MODERNISMO II 
01. LIMA BARRETO 
Obras principais: Recordações do escrivão Isaías Caminha 
(1909) Triste fim de Policarpo Quaresma (1911) Numa e Ninfa 
(1915) Vida e morte de M .J. Gonzaga de Sá (1919) Os 
bruzundangas (1923) Clara dos Anjos (1924) Cemitério dos vivos 
(1957 - edição póstuma) 
 
 
Segundo Antonio Cândido, “para Lima Barreto a literatura devia ter 
alguns requisitos indispensáveis. Antes de mais nada, ser sincera, 
isto é, transmitir diretamente o sentimento e as ideias do escritor, 
da maneira mais clara e simples possível. Devia também dar 
destaque aos problemas humanos em geral e aos sociais em 
particular, focalizando os que são fermento de drama, 
desajustamento, incompreensão. Isto, porque no seu modo de 
entender ela tem a missão de contribuir para libertar o homem e 
melhorar a sua convivência.”. 
Assim, o Rio de Janeiro que emerge nas obras de Lima Barreto é, 
principalmente, o Rio da gente simples, dos mestiços, dos 
carteiros, dos empregados no comércio, dos funcionários públicos 
em cargos subalternos, dos seresteiros e poetas populares. 
Em sua obra, Lima Barreto condessou suas dores, seus 
ressentimentos, suas revoltas, enxergando a Literatura como um 
instrumento de denúncia. 
Em Clara dos Anjos, obra que começou a escreverem 1904, 
reescrevendo-a posteriormente, e que foi publicada como uma 
novela após a sua morte, uma jovem mestiça do subúrbio é 
seduzida e depois largada por Cássio, um jovem branco de uma 
família burguesa. Ao apelar à mãe do jovem que a iludiu, é 
despachada com arrogância. Humilhada, chora nos braços da 
própria mãe, soluçando em desespero: 
- Mamãe! Mamãe! Nós não somos nada nesta vida. 
Esse “nós”, na visão de Lima Barreto, abarca todos aqueles que 
nasceram pobres e mulatos. 
Seu primeiro romance, Recordações do escrivão Isaías Caminha, 
de 1909, também desenvolve o tema do preconceito racial. Isaías, 
pobre e mestiço, viaja ao Rio de Janeiro vindo do interior com o 
objetivo de tornar-se doutor, bacharelando-se, e, assim, elevar-se 
acima de sua condição social. Em sua trajetória, Isaías convive 
com jornalistas, intelectuais e políticos, a quem ele precisa adular 
para alcançar alguma posição de maior prestígio. 
Trecho I 
A minha situação no Rio estava garantida. Obteria um emprego. 
Um dia pelos outros iria às aulas, e todo o fim de ano, durante seis, 
faria os exames, ao fim dos quais seria doutor! 
Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento 
humilde, amaciaria o suplício premente, cruciante e onímodo¢ de 
minha cor... Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a 
consideração de toda a gente. Seguro do respeito à minha 
majestade de homem, andaria com ela mais firme pela vida em 
fora. Não titubearia, não hesitaria, livremente poderia falar, dizer 
bem alto os pensamentos que se estorciam£ no meu cérebro. 
O flanco, que a minha pessoa, na batalha da vida, oferecia logo 
aos ataques dos bons e dos maus, ficaria mascarado, disfarçado... 
Ah! Doutor! Doutor!... Era mágico o título, tinha poderes e alcances 
múltiplos, vários polifórmicos... Era um pallium¤, era alguma cousa 
como clâmide¥ sagrada, tecida com um fio tênue e quase 
imponderável, mas a cujo encontro os elementos, os maus olhares, 
os exorcismos se quebravam. De posse dela, as gotas da chuva 
afastar-se-iam transidas¦ do meu corpo, não se animariam a tocar-
me nas roupas, no calçado sequer. O invisível distribuidor de raios 
solares escolheria os mais meigos para me aquecer, e gastaria os 
fortes, os inexoráveis§, com o comum dos homens que não é 
doutor. Oh! Ser formado, de anel no dedo, sobrecasaca e cartola, 
inflado¨ e grosso, como um sapo-entanha antes de ferir a 
martelada à beira do brejo; andar assim pelas ruas, pelas praças, 
pelas estradas, pelas salas, recebendo cumprimentos: Doutor, 
como passou? Como está, doutor? Era sobre-humano!... 
(BARRETO, Lima. In: VASCONCELOS, Eliane (org.). Prosa seleta. Rio de Janeiro: 
Nova Aguilar, 2001.) 
Trecho II 
"Não era ele o seu grande eleitor? Não era ele o seu banqueiro 
para os efeitos eleitorais? E nós, lá na roça, tínhamos quase 
convicção de que o verdadeiro deputado era o coronel e o doutor 
Castro um simples preposto seu. As minhas idas e vindas ao hotel 
repetiam-se e não o encontrava. Vinham-me então os terrores 
sombrios da falta de dinheiro, da falta absoluta. Voltava para o 
hotel taciturno, preocupado, cortado de angústias. Sentia-me só, só 
naquele grande e imenso formigueiro humano, só, sem parentes, 
sem amigos, sem conhecidos que uma desgraça pudesse fazer 
amigos. Os meus únicos amigos eram aquelas notas sujas 
encardidas; eram elas o meu único apoio, eram elas que me 
evitavam as humilhações, os sofrimentos, os insultos de toda sorte; 
e quando eu trocava uma delas, quando as dava ao condutor do 
bonde, ao homem do café, era como se perdesse um amigo, era 
como se me separasse de uma pessoa bem amada... Eu nunca 
compreendi tanto a avareza como naqueles dias em que dei alma 
ao dinheiro, e o senti tão forte para os elementos da nossa 
felicidade externa e interna." 
(BARRETO, Lima. "Recordações do escrivão Isaías Caminha". Rio de Janeiro: 
Garnier, 1989. p. 52-53.) 
Isaías acaba por tornar-se jornalista, após flagrar seu superior em 
Aula 22 – Pré-Modernismo II 
 
 
 
 
 
 
13 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
 
uma orgia, e, assim, ilude-se por um tempo com a ideia de que se 
alçou a uma posição superior: 
Trecho III 
“Nos meus primeiros meses de reportagem foi quando amei mais 
ativamente a vida. Não porque me visse adulado pelos almirantes 
e capitães-de-mar-e-guerra, mas porque senti bem a variedade 
onímoda da existência, a fraqueza dos grandes, a instabilidade das 
cousas e o seu fácil deslizar para os extremos mais opostos. Dois 
meses antes era simples contínuo, limpava mesas, ia a recados de 
todos; agora, poderosas autoridades queriam as minhas relações e 
a minha boa vontade.” 
Porém as forças que atuam contra ele são demasiado grandes 
para que ele as vença, e Isaías falha, vencido, condenado a não 
ultrapassar o limite estreito que a sociedade reservar aos de sua 
condição. 
1.1. TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA 
 
Triste Fim de Policarpo Quaresma tem como pano de fundo fatos 
históricos e políticos ocorridos durante a fase de instalação da 
república, mais precisamente no governo de Floriano Peixoto (1891 
- 1894). 
O romance é narrado em terceira pessoa, por um narrador 
onisciente, e retrata a vida política do Brasil da primeira República, 
caricaturizando o nacionalismo ufanista, ingênuo, e xenófobo do 
Major Policarpo Quaresma. 
A obra pode ser dividida em três partes, de acordo com o 
direcionamento dado por Quaresma ao seu nacionalismo. 
Primeira parte - Retrata o funcionário público exemplar, patriota e 
nacionalista ufanista, estudioso das coisas do Brasil: a geografia, a 
história, a música, o folclore e o tupi-guarani. Esta parte está ligada 
à Cultura Brasileira. Sua biblioteca é repleta de livros escritos por 
brasileiros ou por estrangeiros que escreveram sobre o Brasil. 
Nessa parte ligada à Cultura, algumas ações de Policarpo se 
destacam e contribuem para que construção de imagem caricatural 
de si. Começa a estudar violão, instrumento de má fama na época, 
por ser associado a malandros, com Ricardo Coração dos Outros, 
uma vez que descobre que a modinha, estilo tipicamente brasileiro, 
era tocada com esse instrumento. Recebe suas visitas chorando e 
se descabelando como alguns índios faziam, recusando outras 
formas de cumprimento, por serem importadas. Por fim, envia à 
Câmara um requerimento, solicitando que o Tupi se tornasse a 
língua oficial do Brasil, em detrimento do Português, idioma 
emprestado e por isso incentivador de inúmeras polêmicas entre 
nossos gramáticos. 
"Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo 
de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também 
de que, por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo nos 
campos das letras, se veem na humilhante contingência de sofrer 
continuamente censura áspera dos proprietários da língua; 
sabendo, além, que, dentro do nosso país, os autores e os 
escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no 
tocante à ¢correção gramatical, vendo-se, diariamente, surgir 
azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso 
idioma - usando do direito que £lhe confere a Constituição, vem 
pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani, como 
língua oficial e nacional do povo brasileiro. 
(...) Demais, Senhores Congressistas, o tupi-guarani, língua 
originalíssima, aglutinante, é verdade, mas a que o polissintetismo 
dá múltiplas feições de riqueza, é a única capaz de traduzir as 
nossas belezas, de pôr-nos em relação com a nossa natureza e 
adaptar-se perfeitamente aos nossos órgãos vocais e cerebrais, 
por ser ¤criação de povos que aqui viveram e ainda vivem, 
portanto possuidores de ¥organização fisiológica e psicológica para 
que tendemos, evitando-se dessa forma as estéreis controvérsias 
gramaticais, oriundas de uma difícil ¦adaptação de uma língua deoutra região à nossa organização cerebral e ao nosso aparelho 
vocal - controvérsias que tanto empecem o progresso de nossa 
cultura literária, científica e filosófica. 
Seguro de que a sabedoria dos legisladores saberá encontrar 
meios para realizar semelhante medida e cônscio de que a Câmara 
e o Senado pesarão o §seu alcance e utilidade. 
P. e E. deferimento" 
Com isso vira motivo de piada, sofrendo com as chacotas 
divulgadas até pela Imprensa. Seus colegas de trabalho tratam-no 
constantemente com ironias e chegam a sugerir que ele nem 
sequer conhecia o Tupi. Exasperado, Policarpo escreve, sem 
perceber, um ofício em Tupi, que chega aos superiores e lhe causa 
maiores problemas, desencadeando uma crise que culmina com 
sua internação num hospício. 
Segunda parte – Amargurado com as incompreensões, Quaresma 
recebe a visita de sua afilhada Olga, que sugere a Policarpo que se 
retire para o campo, a fim de descansar. Policarpo, aceita a 
sugestão da afilhada, mas logo encara a vida no campo como uma 
missão: pretende comprovar a tese de que no Brasil, “em se 
plantando, tudo dá”, empreendendo uma reforma da agricultura 
brasileira. Assim, Quaresma compra um sítio em Curuzu, e dedica-
se a estudar tudo o que se refere à agricultura, comprando livros 
técnicos e equipamentos, mas sofre com os inúmeros obstáculos 
postos aos pequenos agricultores e, por fim, vê seu cultivo sofrer 
com uma praga de saúvas. 
“Abriu a porta; nada viu. Ia procurar nos cantos, quando sentiu 
uma ferroada no peito do pé. Quase gritou. Abaixou a vela para ver 
melhor e deu com uma enorme saúva agarrada com toda a fúria à 
sua pele magra. Descobriu a origem da bulha. Eram formigas que, 
por um buraco no assoalho, lhe tinham invadido a despensa e 
carregavam as suas reservas de milho e feijão, cujos recipientes 
tinham sido deixados abertos por inadvertência. O chão estava 
negro, e carregadas com os grãos, elas, em pelotões cerrados, 
mergulhavam no solo em busca da sua cidade subterrânea.” 
Terceira parte – Enquanto lutava contra as saúvas, eclode a 
Revolta da Armada e volta para a Capital a fim de apoiar Floriano 
Peixoto. Alista-se voluntariamente no Exército, realizando o sonho 
de ser militar e lutar pela pátria, mas, aos poucos, vai percebendo 
que, mais que o interesse pela defesa e pelo crescimento da 
nação, são os interesses pessoais, as ambições que motivam 
políticos e militares. O tom de sátira política se acentua. 
Enfim, os marinheiros são derrotados e a revolta é sufocada. 
Quaresma é transferido para a Ilha das Cobras, onde trabalhará 
como carcereiro. Um dia, Policarpo recebe a visita de um militar 
 
 
 
 14 VestCursos – Especialista em Preparação para Vestibulares de Alta Concorrência 
CURSO ANUAL DE LITERATURA – (Prof. Steller de Paula) 
que, depois de entrar na cela onde os revoltosos estão presos, 
escolhe alguns aleatoriamente, fuzilando-os em seguida, sem 
julgamento ou mesmo qualquer direito à defesa. Indignado e 
movido pelos seus ideais de justiça, Policarpo escreve uma carta 
para o presidente, denunciando tal barbaridade por acreditar que o 
Presidente não estava ciente do fato. 
Como consequência, Policarpo Quaresma é considerado um 
traidor e preso, para também ele esperar pelo fuzilamento. 
No final, o nosso Dom Quixote, preso e possivelmente prestes a 
ser assassinado, avalia sua vida e percebe que a pátria que amara 
e por que sempre lutara era uma ilusão e que sua vida fora 
desperdiçada. 
"Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele 
fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? 
Eram grandes? Pois que fossem... Em que lhe contribuiria para a 
felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada. O 
importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das 
suas cousas de tupi, do 'folklore', das suas tentativas agrícolas... 
Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! 
Nenhuma! 
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e 
levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras 
não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra 
decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que 
achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois 
ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar 
prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma 
decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções. 
A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por 
ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a 
intelectual, nem a política que julgava existir, havia. A que existia 
de fato, era a do Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do 
homem do Itamarati. 
E, bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a 
Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, 
por uma ideia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou 
uma Deusa cujo império se esvaía? Não sabia que essa ideia 
nascera da amplificação da crendice dos povos greco-romanos de 
que os ancestrais mortos continuariam a viver como sombras e era 
preciso alimentá-las para que eles não perseguissem os 
descendentes? Lembrou-se do seu Fustel de Coulanges... 
Lembrou-se de que essa noção nada é para os Menenanã, para 
tantas pessoas... Pareceu-lhe que essa ideia como que fora 
explorada pelos conquistadores por instantes sabedores das 
nossas subserviências psicológicas, no intuito de servir às suas 
próprias ambições... 
Reviu a história; viu as mutilações, os acréscimos em todos os 
países históricos e perguntou de si para si: como um homem que 
vivesse quatro séculos, sendo francês, inglês, italiano, alemão, 
podia sentir a Pátria? 
Uma hora, para o francês, o Franco-Condado era terra dos seus 
avós, outra não era; num dado momento, a Alsácia não era, depois 
era e afinal não vinha a ser. 
Nós mesmos não tivemos a Cisplatina e não a perdemos; e, 
porventura, sentimos que haja lá manes dos nossos avós e por 
isso sofremos qualquer mágoa? 
Certamente era uma noção sem consistência racional e precisava 
ser revista." 
"Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito 
de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a 
pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de contribuir 
para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade 
nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, 
como ela o recompensava, como ela a premiava, como ela o 
condecorava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de 
fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara - 
todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua 
tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não 
experimentara. Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe 
absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe 
importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem... Em que lhe 
contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? 
Em nada... O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. 
Lembrou-se das suas causas de tupi, do folclore, das suas 
tentativas agrícolas... Restava disto tudo em sua alma uma 
satisfação? Nenhuma! Nenhuma!" 
Lima Barreto, Triste Fim de Policarpo Quaresma 
1.2. OS BRUZUNDANGAS 
Em Os Bruzundangas, Lima Barreto retrata um país fictício que 
nada mais é que uma paródia do Brasil de seu tempo e, 
infelizmente, de sempre, uma vez que muitas das críticas irônicas 
feitas pelo autor permanecem atuais. 
Na obra, Barreto reflete sobre a literatura, sobre a burocracia e os 
burocratas despreparados que ocupam os cargos públicos, sobre a 
elite, que ele chama de nobreza, sobre a política republicana, 
sobre a educação, o pseudointelectualismo e o ensino oferecido 
para a elite, sobre as relações diplomáticas, sobre as forças 
armadas e seus “heróis”, sobre as eleições, sobre

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