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Gestão Estratégica de Custos Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Andréa Martins Cristovão Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos Gestão de Custos 5 • Introdução • Gestão de Custo como estratégia • Atividades econômicas • Visão gerencial de custos • Métodos de custeio • O que é gestão estratégica de custos? • Bases da gestão estratégica de custos • Estudo de Caso - Caracterização da empresa estudada Os objetivos desta unidade é apresentar os conceitos e as práticas empresariais relacionadas, presentes no que tange ao gerenciamento de custos de um modo geral. Leia atentamente o conteúdo desta Unidade, que lhe possibilitará conhecer vários aspectos sobre como as empresas encaram os aspectos econômicos das empresas. Também veremos o que são as atividades meio e as atividades fim. Você também encontrará nesta Unidade uma atividade composta por questões de múltipla escolha, relacionada com o conteúdo estudado. Além disso, terá a oportunidade de trocar conhecimentos e debater questões no fórum de discussão. É extremante importante que você consulte os materiais complementares, pois são ricos em informações, possibilitando-lhe o aprofundamento de seus estudos sobre este assunto. Gestão de Custos 6 Unidade: Gestão de Custos Contextualização Para iniciar esta unidade, a partir da ilustração a seguir reflita sobre a questão de custos nas empresas. Fonte: Thinkstock / Getty Images Oriente sua reflexão pelas seguintes questões: » Qual a importância da gestão estratégica de custos para o crescimento empresarial? » O que são atividades meio? » O que são atividades fim? 7 Introdução A gestão de custos começou a ganhar importância em meados de 1930. Após a I Grande Guerra Mundial, as empresas começaram a criar o que hoje nós conhecemos como gestão de custos. O lucro deixou de ser atributo da receita, das vendas, passando a ser função resultante dos custos incorridos, de tal modo que almejar lucro é conter custos. Lucros e custos são grandezas inversamente proporcionais. O lucro será máximo se o custo for mínimo. Diante dessa realidade, as empresas - pequenas, médias e grandes - carecem de ferramentas eficientes para serem utilizadas nos processos de gestão dos negócios. A institucionalização nas empresas de uma transformação comportamental alicerçada na prática efetiva de nova cultura de custos, consubstanciada em técnicas modernas de produção e de administração de recursos financeiros e humanos, é o caminho mais eficaz para a boa gestão de custos. Em qualquer circunstância, é sempre possível conter custos, pela racionalidade das tarefas, pelo combate implacável aos desperdícios e pela eliminação dos supérfluos. A boa gestão de custos nas empresas é dependente e consequente da coragem decisória dos administradores em mudar processos e comportamentos. Quanto mais intensa a competição a que estiver submetida uma empresa, mais importante é a participação de um sistema de gestão de custos que permita à empresa conhecer os custos de seus produtos e de suas operações e, a partir daí, encontrar uma posição competitiva e vantajosa diante de seus concorrentes, de maneira a lhe proporcionar uma sustentação em seu segmento de atuação no mercado, condição fundamental para a sobrevivência no contexto atual. Até hoje, os especialistas tentam criar uma fronteira para as áreas de contabilidade de finanças e contabilidade gerencial Esses tênues limites, quando falamos de gestão, não estão bem delineados; podemos dizer que todas essas práticas se complementam e se completam entre si. A técnica de gestão que se propõe ao atendimento dessas necessidades de controle, planejamento e acompanhamento dos recursos empregados na produção de bens e serviços denomina-se Contabilidade de Custos. A utilização dos princípios, critérios e procedimentos contábeis tornam a Contabilidade de Custos um instrumento gerencial importante para as empresas. Mas a gestão de custos está muito além das técnicas tradicionais da área contábil. Vejamos: » Sob a ótica da contabilidade, os custos podem ser vistos como custo contábil e custo gerencial; » Custo contábil, sob o enfoque da contabilidade financeira, é regido por normas legais e técnicas (princípios contábeis), fiscais (aplicação de leis) e societárias (rigidez formal); » O chamado custo gerencial, embora não tenha como meta o desrespeito a nenhuma lei, não tem nenhum vínculo ou ligação com elas. Tem como principal meta a redução de custos, através de mudanças nos processos e atividades empresariais. 8 Unidade: Gestão de Custos Conceitualmente, o sistema de gestão de custos pode ser definido como conjunto de meios e recursos, técnicos, metodológicos e funcionais, que a empresa utiliza para coletar dados referentes ao uso de recursos e gerar informações úteis para o desempenho global da empresa e de suas áreas funcionais. O básico para a consolidação de uma estrutura de custos passa pela formação de três grandes blocos de sistemas: 1º Sistema: sistema de informações gerenciais gerados pela empresa – dados em estado bruto que serão armazenados numa espécie de banco de dados de modo a serem facilmente acessados; 2º Sistema: desenvolvimento de um aplicativo analítico que seria o próprio sistema de gestão de custos baseado em atividades ABC, ou seja, foco no cliente em primeiro lugar (necessidades e diferenciais da minha empresa) e análise de rentabilidade; 3º Sistema: tomando como base as informações geradas pelo aplicativo analítico, transformá-las em Processos de Decisão. A tomada de decisões atualmente é muito dependente das informações que são diariamente armazenadas nos sistemas informatizados de banco de dados das organizações empresariais. 9 Gestão de Custo como estratégia O mais importante para as empresas na década de 80 e 90 e até no momento atual talvez tenha sido o foco no aumento da eficiência – “fazer certo as coisas”. Por isso, o movimento da reengenharia tornou-se tão popular: era uma maneira rápida de se tornar mais eficiente. A competição no século XXI, diferentemente, enfatizará a eficácia – “fazer as coisas certas”, o que leva empresários a procurar novas e criativas maneiras de gerar lucro. Tudo isso está diretamente relacionado com a gestão de custos, calcanhar de Aquiles de muitas empresas (sejam pequenos, médios ou grandes empreendimentos). Já em 1954, Peter Drucker recomendava que em todas as áreas nas quais as atividades pudessem afetar o desempenho da empresa, deviam ser estabelecidos objetivos e metas a serem alcançados. A Análise S.W.O.T é uma ferramenta estrutural da administração, utilizada na análise do ambiente interno e externo, com a finalidade de formulação de estratégias da empresa. Nessa análise identificamos as Forças e Fraquezas da empresa, extrapolando então Oportunidades e Ameaças internas para a mesma. É uma sigla do idioma inglês, a qual representa: Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats). Essa técnica auxilia na elaboração do planejamento estratégico que começou a ser estruturado por volta dos anos 60 a 70 nas escolas americanas, com o objetivo de focar na combinação das forças e fraquezas de uma organização, ao mesmo tempo também nas oportunidades e ameaças do mercado. Isso porque constantes mudanças nos processos organizacionais, bem como as mudanças de comportamento do consumidor, do mercado financeiro e a globalização, forçam as empresas a criarem planos estratégicos. Quando analisamos o mercado, a conclusão não deixa dúvidas: as empresas que obtêm maior sucesso e melhores vendas são as que se encontram bem preparadas estrategicamente. Existe um jargão no meio corporativo que diz que os bens do empresário que não tem competência sempre irão pararna conta bancária dos empresários astutos e competentes. A gestão de custos eficiente e eficaz tem como meta aumentar ao máximo os lucros, sem mexer na qualidade dos produtos ou serviços oferecidos. Atenção Podemos definir sistema de custos como uma coletânea de tarefas, processos e métodos que a empresa deverá utilizar para obter informações gerenciais. Figura 1 – Sistema de Informações Gerenciais (SIG) Fonte: iStock/Getty Images 10 Unidade: Gestão de Custos Quando as empresas criam estratégias competitivas, devem prestar muita atenção na estruturação teórica de seu negócio. A maioria das técnicas administrativas propostas no início do século passado, por volta de 1930, propostas por Taylor, é fundamental, até os dias de hoje, para que as empresas consigam estudar, analisar e formular as estratégias que usarão no dia a dia corporativo. Vejamos algumas outras técnicas que são usadas até hoje: » Fundamentação na organização científica do trabalho, método proposto por Mayo, que tem como principal característica o foco nos modelos comportamentais das pessoas (capacitação) » Fayol sempre foi defensor do método da organização científica da administração. A eficácia desse método depende diretamente de seis funções: técnica, comercial, financeira, contábil, de segurança e administrativa. 11 Atividades econômicas Todos os modelos de processos em que existe a verificação dos custos gerenciais ou contábeis podem e devem ser aplicados em todos os modelos de negócio que existem de um modo geral, especialmente se vamos realizar atividade de planejamento, de gestão ou de controle ou auditoria de processos econômicos que são resultado dos negócios que podem, via de regra, explorar atividades industriais, comerciais ou mesmo de prestação de serviços. Todas as atividades comerciais das empresas são fontes, geram lucros e ativos: essas atividades comerciais dizem respeito ao saldo positivo resultante das vendas dos bens ou dos serviços produzidos pelas empresas e são chamadas de atividades “meio”. Os investimentos com as atividades “fim” de uma empresa são chamados, popularmente, de custos. Em compensação, os gastos com as atividades que denominamos “meio” são conhecidas como despesas. A principal atividade da contabilidade de custos são os controles resultantes dos registros da contabilidade dos gastos, custos e despesas. Gastos x atividades Atividades são combinações resultantes de um conjunto de pessoas, processos, tecnologias, recursos e métodos. Sabemos que custos são os gastos que uma empresa tem com a compra de bens e de serviços que serão utilizados por essas empresas para produzir outros bens e serviços. Todos os gastos consequentes para a fabricação de um produto, no caso da indústria, na compra de mercadorias, no caso do comércio, ou para prestar um serviço, no caso da área de empresas que prestam serviços, são chamados de custos, pois são gastos com a atividade “fim”. Como são considerados custos, os valores desses gastos configuram valores em bens diretos. De forma geral, podemos dizer que os custos se transformam em ativos através de processos. Teoricamente, despesas podem ser vistas como gastos em bens ou serviços que são adquiridos, consumidos ou repassados para que a empresa possa obter receitas, ou seja, despesas são sempre ligadas às atividades “meio”. Atividades FIM No cenário industrial, denominamos atividade “fim” o custo para produzir produtos que serão posteriormente vendidos. Dentro do ambiente da indústria, os custos com a produção são os custos industriais. Portanto, o custo industrial é composto pelas somas da compra com produtos de matéria prima, mão de obra especializada para fabricação dos produtos e outros custos com a fabricação, que são usualmente chamados de custos indiretos. Todos os detalhes de um custo têm um tratamento contábil previamente definido, pois possuem vários detalhes minuciosos de ordem fiscal, econômica e administrativa que precisam ser analisados individualmente. Podemos dividir os componentes que compõem o custo em dois grupos: 12 Unidade: Gestão de Custos Custos Primários chamamos de grupos primários os valores que resultam nos gastos com matéria prima e mão de obra. Custos de Transformação são os valores que resultam da soma das atividades de mão de obra direta e também dos custos ocorridos durante o processo de fabricação. No comércio, denominamos atividade “fim” como a compra e a venda de mercadoria ou insumos. Na área de prestação de serviços, a atividade que denominamos como fim é a própria prestação de serviços! Atividades MEIO Chamamos usualmente de gastos com as atividades “meio” todas as despesas de uma empresa. Sob a ótica da gestão de custos, a divisão dos gastos em custos e despesas não exclui o controle individual de gastos, seja qual for ele, ao contrário: todos os controles de custos devem ser rígidos e abranger todas as áreas. A correta administração da atividade econômica e do negócio é fundamental para o sucesso do desempenho das empresas. 13 Visão gerencial de custos Nos dias de hoje, com a concorrência cada vez maior, as empresas disputam todos os clientes disponíveis. E consequentemente, quanto maior for a concorrência de uma determinada empresa, mais estratégico deve ser o seu sistema de gestão de custos, pois essa empresa precisará conseguir uma posição de destaque frente aos seus rivais. Claro que, obviamente, a implementação de uma gestão de custos adequada implicará várias mudanças empresariais, que exigirá a compreensão de todo o sistema de custos, sua manutenção e devida aceitação dessas novas regras por parte dos colaboradores da empresa. Centro de processamento de informações de custos Segundo Leone (2001), “a visão gerencial dos custos completa-se no exato momento em que visualizamos os custos da empresa como um centro processador de informações, que recebe dados, armazena-os de forma organizada em bancos de dados, interpreta esses dados para depois produzir informações para os gestores”. Quando realizamos o processamento dos dados, teremos como resultado as informações que precisamos para tomar decisões. Mas, para que haja informação segura e precisa, é necessário realizar uma espécie de “filtragem” de dados. Essa filtragem ocorre em três fases: 1ª fase é a do levantamento de dados para que possamos obter os dados que são relevantes; depois esses dados serão filtrados. 2ª fase é a do processamento: os dados serão processados através de um sistema de computador com a ferramenta de software adequada. Nessa fase é de suma importância ter em mãos o levantamento de dados realizado pela empresa, pois precisaremos saber quais são as reais necessidades da empresa para podermos ter as informações adequadas para a solução dos problemas. 3ª fase é a da obtenção de resultados: depois que os dados foram processados, teremos as informações adequadas. As informações geradas nessa fase deverão ser repassadas aos funcionários da empresa para que esses possam auxiliar nas tomadas de decisões. Atenção Quando falamos em sistema de gestão de custos, estamos falando de uma série de ferramentas de software e procedimentos que a empresa utiliza para coletar, processar, distribuir e armazenar as informações 14 Unidade: Gestão de Custos Métodos de custeio Os métodos de gestão de custos dividem-se, basicamente, em alguns métodos. Um deles é chamado de tradicional, pois surgiram da necessidade das empresas em medir os estoques na indústria nascente após o período de revolução industrial. Mas, com o passar do tempo, esse método foi ficando obsoleto, e foram surgindo novos métodos de gerenciamento de custeios, que passaram a apoiar o controle das operações, análise dos resultados e de produtos. Os sistemas antigos, intitulados como tradicionais, centravam suas atuaçõesem três pontos básicos: » Materiais utilizados na fabricação de produtos; » Mão de obra empregada; » Custos indiretos de fabricação. Eles possuem capacidade de fornecer informações para algumas necessidades dos gerentes. São elas: » Apuração de custos; » Decisões; » Controle. A segunda corrente dos métodos de custos é a do gerenciamento de custos. Essa abordagem foca nas necessidades e nas exigências que são impostas diariamente em função da concorrência cada vez maior, e do ambiente globalizado cada vez mais competitivo, que gera, cada vez mais, o crescimento dos custos indiretos da fabricação de produtos. Esse ambiente hostil produziu nas empresas uma constante pressão pela busca de vantagem competitiva, o que aumenta ainda mais a necessidade do uso maciço da tecnologia para mensuração de resultados, que pode ajudar a gestão de custos a responder perguntas como: » Qual a margem de lucro real que um produto ou serviço produz? » Qual o custo da estrutura fixa? » É possível diminuir custos, sem mexer na qualidade, e ainda assim aumentar o resultado? » Quem são nossos clientes mais importantes? » Quais são nossos produtos mais lucrativos? A gestão de custos voltada para essas informações permite o surgimento de várias metodologias que têm como base a análise de processos das operações, melhoria contínua e otimização dos custos: 15 Custeio baseado em atividades (ABC - Activity Basead Costing): As atividades são o foco do processo de custeio. Os custos são investigados, relacionando-se as atividades aos produtos, com base na demanda por tais atividades pelo produto durante o processo de produção ou o serviço em questão. Portanto, as bases de alocação usadas no custeio baseado na atividade são medições das atividades executadas, que podem incluir horas do tempo de ajuste de máquina ou número de vezes em que isso foi feito, ou demais maneiras de distribuição em função da atividade que está sendo analisada, seja industrial ou serviço. O método ABC demonstra a relação entre Recursos consumidos (o que foi gasto: água, luz, salários, etc.), Atividades executadas (onde foi gasto: produção, informática, vendas, etc.) e Objetos de custo (para que foi gasto: produto A, Produto B, Atividade X, etc.). Custeio alvo: Desenvolvido nos meios empresariais, especificamente por empresas japonesas, em resposta às difíceis condições de mercado na época (1960-1970). Sistema de planejamento de lucros e gerenciamento de custos que é conduzido pelo preço, focado no cliente, centrado no projeto, e que envolve diversas áreas da empresa. O custeio alvo inicia o gerenciamento de custos nos primeiros estágios de desenvolvimento do produto e é aplicado durante todo o ciclo de vida do produto por um envolvimento ativo de toda a cadeia de valor. Custo Kaizen: O sistema de custo Kaizen foi desenvolvido com o objetivo de busca contínua de reduções de custo em todas as partes de manufatura de uma indústria. Kaizen significa manter os níveis correntes de custo e trabalhar sistematicamente para reduzir os custos aos valores desejados. A abordagem Kaizen surgiu no Japão nos anos 50, inicialmente implementada na Toyota. O Custo alvo e Kaizen trabalham em conjunto. O Custo alvo é aplicado durante o projeto do produto, e o custeio Kaizen durante o processo de fabricação do mesmo na Unidade Estratégica de Negócios (UEN). 16 Unidade: Gestão de Custos O que é gestão estratégica de custos? Sabemos que as informações são de vital importância para uma empresa, e diante do avanço tecnológico que vivemos, as pessoas e os gestores se tornam cada vez mais dependentes de informações precisas, rápidas e seguras. Essas informações são imprescindíveis para que a empresa consiga ter sucesso nas suas decisões estratégicas e também operacionais. De acordo com Nakagawa (1993): [...] os sistemas de custeio tradicionais foram desenvolvidos para a avaliação dos inventários, tendo em vista a necessidade de elaborarem demonstrações contábeis e fiscais, e têm sido continuamente aperfeiçoados através do tempo. No entanto, esses sistemas não estão mais proporcionando aos gerentes, que sempre buscam eficiência das operações nas diversas áreas operacionais, a informação precisa e oportuna que eles necessitam para a gestão e mensuração de custos e desempenho nas atividades em um ambiente de tecnologias avançadas de produção. Padoveze (2000) tem uma visão complementar: As metodologias de apuração de custos dos produtos, custeamento direto ou variável, e custeamento por absorção, são consideradas clássicas dentre as metodologias de contabilidade de custos. Elas foram desenvolvidas com base nos conceitos de custos, com comportamentos variáveis em relação à quantidade produzida, ou seja, nos custos fixos e variáveis. Para entendermos com mais facilidade custos diretos ou indiretos, vamos citar Martins (2003): Custos variáveis significam a apropriação de todos os custos variáveis, sejam eles diretos ou indiretos e tão somente variáveis. Portanto só podem ser alocados aos produtos de custos variáveis, ficando os custos fixos considerados como despesas do período, indo diretamente para o resultado. E para finalizar as explicações a respeito de custos, Leone (2001) diz que o principal objetivo é a elaboração de metas da chamada contribuição marginal. Essa contribuição é calculada através da diferença da receita proporcionada pelo produto, pelo processo, pela prestação de serviços, ou mesmo qualquer outro segmento da empresa. 18 Unidade: Gestão de Custos Estudo de Caso - Caracterização da empresa estudada O estudo foi realizado em uma empresa do ramo alimentício, localizada no município de Horizontina - RS. A mesma iniciou suas atividades no ano de 2012, e conta com serviço de tele entrega de pizzas e refrigerantes. Com um quadro de 02 funcionários, o principal negócio da empresa pode ser definido como “preparação de alimentos com sabor e preço diferenciado”, atuando com o lema “você tem o melhor sabor, nós temos a melhor pizza”. As atividades iniciam-se com a cotação dos preços dos ingredientes (matéria prima) nos dois principais supermercados da cidade, efetivando as compras no qual oferecer os menores preços. Realizadas as compras da matéria prima, as mesmas são recebidas e higienizadas, para o posterior armazenamento. O estoque é controlado diariamente antes do início das atividades, sendo verificada a quantidade de cada ingrediente e a necessidade de efetuar a compra. À medida que a matéria prima é consumida, faz-se necessária a preparação de novos ingredientes, onde é realizado o descascamento dos legumes, seguido por corte, cozimento e fritura. Após o cliente efetivar o pedido, a pizza é montada conforme a solicitação, utilizando- se dos ingredientes já preparados. Feita a montagem, a pizza é levada ao forno para o assamento. Após um período de 5 minutos ao forno, a pizza é embalada e entregue ao cliente, contando com o serviço de conta juntamente com a entrega. A contabilização das vendas e pagamentos é realizada no final do expediente, juntamente com a disposição das sobras de alimentos e a higienização dos equipamentos. Processo de elaboração das pizzas São descritas na figura 2 as atividades referentes ao processo produtivo desenvolvido pelos colaboradores da empresa: Figura 2 – Processo produtivo Cotação de preços Cliente faz pedido Disposição das sobras Embalagem Entrega Assamento Corte/ Cozimento/ Fritura Montagem conforme solicitação Contabilização de vendas e pagamentos Efetivação das compras Recebimento das compras Higienização/ Armazenamento Higienização dos equipamentoa 19 Levantamento de dados A empresa estudada não possui método de controle de seus custos e despesas atualmente, ou seja, não tem acerteza de que suas vendas estão superando suas expectativas referentes ao percentual de lucratividade desejado. A empresa conta atualmente com um quadro de dois (02) funcionários, os quais desempenham as funções de produção, tais como compra de matéria prima, preparação, montagem, entrega e contabilização dos pagamentos. Os dados foram obtidos através de visitas à empresa e conversas com o proprietário, buscando-se entender o processo produtivo da empresa para realizar a análise dos custos da melhor forma possível. Através dessas visitas levantou-se a quantidade de matéria prima utilizada em cada pizza, as quais estão descritas na figura 3. Figura 3 – Quantidade de matéria prima por pizza. Valores em Gramas (g) Sabor M ol ho d e T om at e M us sa re la Pr es un to M an je ric ão Ca la br es a Ov os (D úz ia ) Ba co n Er vil ha M ilh o Pa lm ito Ce bo la Or ég an o Sa la m e C ol on ia l To m at e St ro go no ff de Fi lé Ba ta ta Pa lh a Fil é a o M ol ho M ad ei ra Ch ed da r Pr ov ol on e Pa rm es ão Pe pe ro ni Ca tu pi ry Sa la m e I ta lia no Pi m en tã o Presidente 30 250 100 2 100 2 50 50 50 50 50 2 Campeira 30 250 2 50 2 400 50 Srogonoff 30 250 2 500 80 Filé ao Cheddar 30 250 2 50 P 100 Cinco Queijos 30 250 50 2 70 30 30 20 80 Sabor Caseiro 30 250 50 2 50 Suprema 30 250 100 50 50 2 100 Portuguesa 30 250 100 50 2 50 Xadrez 50 Brigadeiro Recursos Humanos Como já mencionado, a empresa conta atualmente com um quadro de dois colaboradores, os quais são o proprietário e uma empregada. O proprietário trabalha atualmente com a parte administrativa, bem como com a compra dos ingredientes, recebimento dos pedidos e efetuação das entregas das pizzas. Já a colaboradora tem uma carga horária de 4 horas durante um período de seis (06) dias semanais, executando as atividades de recebimento das mercadorias, higienização e armazenamento, corte, cozimento e fritura, bem como a montagem das pizzas conforme solicitação do cliente e posteriormente limpeza e higienização dos talheres e das máquinas utilizadas na fabricação das pizzas. Os custos referentes às despesas com os recursos humanos como salário, FGTS, INSS, 13° salário e férias são apresentados na tabela 1 (com encargos/mês). 20 Unidade: Gestão de Custos Tabela 1 – Custo mensal Colaboradora x Proprietário. Custo Mensal Colaboradora Custo Mensal Proprietário Salário R$ 650,00 Salário R$ 1.000,00 8% FGTS R$ 52,00 8% FGTS ------ 11% INSS R$ 71,50 20% INSS R$ 200,00 13º Salário R$ 54,17 13º Salário ------ 1/3 Férias R$ 18,06 1/3 Férias ------ Total R$ 845,72 Total R$ 1.000,00 Depreciação de máquinas e equipamentos O objetivo principal do cálculo de depreciação é descobrir o custo de desvalorização das máquinas por dia de trabalho. Através dos cálculos efetuados, chegou-se ao valor de R$ 0,64 para o forno a lenha e R$ 0,16 para o triturador de legumes. As máquinas utilizadas e seus respectivos valores de custo de depreciação são mostrados na tabela 2, utilizando-se o método do custeio integral, com durabilidade de 10 anos, conforme LEI 6506/76. Tabela 2 – Depreciação das máquinas. Depreciação das Máquinas (R$ / Dia) Forno a lenha R$ 8.000,00 R$ 0,64 Triturador de legumes R$ 2.000,00 R$ 0,16 Total R$ 0,80 Despesas gerais A empresa estudada, bem como as demais empresas, apresenta despesas, as quais devem ser levadas em conta em uma análise de custos. As despesas listadas abaixo são fixas, ou seja, são despesas que a empresa tem todo mês e não variam de acordo com a quantidade de pizzas produzidas. As despesas fixas mensais da pizzaria são as seguintes: luz, água, telefone, aluguel, escritório, lenha, outras. As figuras 4 e 5 apresentam custos diretos e indiretos, respectivamente. 21 Figura 4 – (a) lâmpada econômica, (b) custo de combustíveis. Fonte: iStock/Getty Images Figura 5 – Desconto em uniformes. Fonte: iStock / Getty Images As despesas fixas são apresentadas na tabela 3 (R$/Mês). Tabela 3 – Despesas gerais da empresa. Despesas Gerais Luz R$ 50,00 Água R$ 17,00 Telefone R$ 35,00 Aluguel R$ 150,00 Escritório R$ 100,00 Lenha R$ 100,00 Outros R$ 50,00 Total R$ 502,00 22 Unidade: Gestão de Custos Divisão dos custos baseada no método ABC Custos com matéria prima As informações sobre os ingredientes (matéria-prima) presentes em cada pizza foram obtidas através do cardápio da pizzaria fornecido pelo proprietário, dentre os quais se destacam alguns ingredientes pelo seu preço e também pela quantidade utilizada. Alguns ingredientes se destacam, pois estão presentes em 60% das pizzas, os quais são o molho de tomate, orégano, muçarela, batata palha, calabresa, cebola, sem contar a massa das próprias pizzas, pois as mesmas são compradas. Figura 6 – Pizza. Fonte: iStock/Getty Images Os ingredientes de maior impacto dentre os estudados são os queijos, provolone, parmesão e peperoni, pois apresentam um alto valor de aquisição para a pizzaria. Os custos referentes à matéria prima utilizada na fabricação de cada pizza são apresentados na tabela 4. Tabela 4 – Custo do produto na pizza. Ingredientes QTDE (g) Embal. (g) Custo Emb. Custo Produto Ca m pe ira Molho de Tomate 30 1000 R$ 0,80 R$ 0,02 Mussarela 250 2500 R$ 28,00 R$ 2,80 Salame Colonial 400 1000 R$ 10,00 R$ 4,00 Ovo Cozido 2 12 R$ 2,50 R$ 0,42 Tomate 50 1000 R$ 2,50 R$ 0,13 Cebola 50 1000 R$ 1,50 R$ 0,08 Orégano 50 1000 R$ 1,50 R$ 0,04 Massa 1 unidade. R$ 1,70 23 Ingredientes QTDE (g) Embal. (g) Custo Emb. Custo Produto St ro go no ff Molho de Tomate 30 1000 R$ 0,80 R$ 0,02 Mussarela 250 2500 R$ 28,00 R$ 2,80 Strogonoff de Filé 500 1000 R$ 14,00 R$ 7,00 Batata Palha 80 1000 R$ 10,00 R$ 0,80 Orégano 2 500 R$ 10,00 R$ 0,04 Massa 1 unidade. R$ 1,70 Ingredientes QTDE (g) Embal. (g) Custo Emb. Custo Produto Fil é a o C he dd ar Molho de Tomate 30 1000 R$ 0,80 R$ 0,02 Filé Molho Madeira 1 Porção R$ 7,00 Cheddar 100 1800 R$ 10,00 R$ 0,56 Batata Palha 50 1000 R$ 10,00 R$ 0,50 Orégano 2 500 R$ 10,00 R$ 0,04 Massa 1 unidade. R$ 1,70 Custos de transformação por etapa do processo Utilizando-se do método de rateio baseado em atividades, são apresentados na tabela 5 os processos realizados pelos funcionários para a elaboração de cada produto. Nessa mesma tabela, são descritos o tempo de execução de cada processo relacionado com a necessidade de mão de obra direta e depreciação corrente das máquinas e equipamentos, resultando no custo total de transformação de cada produto. Tabela 5 – Custos das etapas do processo. Etapas do Processo Tempo de Execução Depreciação MOD Custo de Transformação Cotação de Preços 2 min x R$ 0,43 Efetivação das Compras 1 min x R$ 0,21 Recebimento das Compras 1 min x R$ 0,21 Higienização / Armaxenamento 1 min x R$ 0,21 Corte / Cozimento / Fritura 5 min x x R$ 1,11 Cliente faz pedido 2 min x R$ 0,43 Montagem conforme solicitação 5 min x R$ 0,43 Assar a Pizza 5 min x x R$ 1,11 Embalagem 2 min x R$ 0,43 Entrega 9 min x R$ 1,97 Contabilização de vendas e pagamentos 2 min x R$ 0,43 Disposição das Sobras 1 min x R$ 0,21 Higienização dos Equipamentos 2 min x R$ 0,43 R$ 7,61 24 Unidade: Gestão de Custos Custos com despesas gerais As despesas gerais são alocadas em relação à produção mensal. » - Despesas gerais / Média unidades vendidas mensalmente = » - R$ 502,00 / 520 Un. = R$ 0,97 / Unidade Custos da embalagem O custo da embalagem é de R$ 1,20 / Unidade. Custo total das pizzas A partir das planilhasde custeio apresentadas anteriormente, pode-se visualizar o custo total de cada pizza, conforme demonstrado na tabela 6. Tabela 6: Custo total das pizzas. Sabor Matéria Prima Custo de Tranformação Outras Despesas Custo da Embalagem Total Presidente R$ 8,80 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 19,21 Campeira R$ 9,18 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 19,59 Strogonoff R$ 12,36 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 22,77 Filé ao Cheddar R$ 12,62 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 23,03 Cinco Queijos R$ 8,76 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 19,17 Sabor Caseiro R$ 11,27 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 21,68 Suprema R$ 7,14 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 17,55 Portuguesa R$ 6,20 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 16,61 Xadrez R$ 5,37 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 15,78 Brigadeiro R$ 9,22 R$ 8,24 R$ 0,97 R$ 1,20 R$ 16,63 Preço de Venda Lucro ou Prejuizo Percentual de Lucro ou Prejuizo R$ 27,00 R$ 7,79 28,55% R$ 27,00 R$ 7,41 27,44% R$ 27,00 R$ 4,23 15,67% R$ 27,00 R$ 3,97 14,70% R$ 27,00 R$ 7,83 29,00% R$ 27,00 R$ 5,32 19,70% R$ 27,00 R$ 9,45 35,00% R$ 27,00 R$ 10,39 38,48% R$ 27,00 R$ 11,22 41,56% R$ 27,00 R$ 7,37 27,30% 25 Conclusões Dado ao exposto, é visível a dificuldade das empresas do ramo alimentício na administração de seus custos. A realidade financeira dessas empresas torna-se obscura pelo fato da administração incorreta dos dados, muitas vezes ocorrida pela inexperiência dos empresários do ramo. Dessa forma, o método de custeio proposto cumpriu com o objetivo de facilitar a execução desse trabalho, proporcionando uma estrutura padrão de rateio dos custos de determinado processo da empresa, a qual pode ser utilizada como referência para outros processos produtivos lá realizados. Através desse estudo conseguiu-se concluir quais são as pizzas que geram mais lucros e despesas dentre os dez sabores analisados. A pizza que obteve o maior percentual de lucratividade foi a Xadrez, pois se trata de uma pizza doce e com poucos ingredientes. Já a pizza que obteve o menor percentual de lucratividade foi a Filé ao cheddar; justifica-se este fato, pois a mesma possui ingredientes com custo elevado em relação às demais pizzas. A partir dos dados obtidos pela aplicação do método ABC na empresa, o proprietário contará com uma forma eficaz de controlar seus lucros, bem como suas despesas. Isso se justifica pelo simples fato de anteriormente a empresa não possuir um método de controle adequado, ou seja, o proprietário sabia que estava obtendo lucros, mas não exatamente quanto lucrava em cada unidade ou sabor produzido. Essas informações são suficientes para a formulação de novas estratégias diante de um mercado cada vez mais competitivo, em que os pequenos detalhes fazem a diferença. Assim sendo, pode-se concluir que o controle de custos é de fundamental importância em qualquer tipo empresa, fazendo parte das estratégias de negócio e proporcionando confiabilidade total nos lucros obtidos. Referência do estudo Souza, A. S.; Peiter J.; Perinazzo R. V.; BARTZ, C. R. F. Estudo de caso: análise de custos em uma empresa do setor alimentício. 2ª. Semana Internacional das Engenharias da FAHOR. Horizontina: 2012. Disponível em: http://goo.gl/Lh1bE7 . Acesso em: 22 abr. 2015 26 Unidade: Gestão de Custos Material Complementar Para complementar os conhecimentos adquiridos nesta Unidade, leia as seguintes obras: Ambos enriquecerão sua compreensão das importâncias empresariais nas empresas. Livros: BLOCHERET, et al. Gestão estratégica de custos. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 2007. 726p. MENDES, Luís Augusto Lobão. Estratégia empresarial: promovendo o crescimento sustentado e sustentável. São Paulo: Ed. Saraiva, 2012. 358p. 27 Referências CAMARGO, Marcos Antonio; DIAS, Alexandre Teixeira. Estratégia, administração estratégica e estratégia corporativa: uma síntese teórica. Caderno de pesquisa em administração. São Paulo, v. 10, 2003. Disponível em: <http://www.ead.fea.usp.br/cad- pesq/arquivos/v10n1art3.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2014. CERTO, Samuel; PETER, J. P. Administração estratégica – planejamento e implementação da estratégia, 2ª edição. São Paulo: Editora Pearson Education do Brasil, 2005. CLARET, Martin. A arte da guerra. São Paulo: Associação brasileira de direitos reprográficos. Ed. Martin Clarete, 2005. DA SILVEIRA, G; SLACK, N. Exploring the trade off concept. International journal of operations and production management, v. 21, n. 7, p. 949-964, 2001. LEONE, George. Custos: planejamento, implantação e controle. São Paulo: Atlas, 2000. MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 8ª edição. São Paulo: Atlas, 2001. NAKAGAWA, Masayuki. Gestão estratégica de custos. São Paulo: Editora Atlas, 1993. PADOVEZE, C.L.O. Paradoxo da utilização do método de custeio: custeio variável por absorção. Revista CRC-SP, ano 4, n. 12, p. 42-58, jun. 2000. RESNIK, P. A bíblia da pequena empresa. São Paulo: McGraw-Hill, Makron Books, 1990. 28 Unidade: Gestão de Custos Anotações
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