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Giseli Barreto da Cruz Ana Teresa de Carvalho Correa de Oliveira Maria das Graças Chagas de Arruda Nascimento Monique Andries Nogueira (ORGANIZADORAS) I Ensino de didática Entre recorrentes e urgentes questões FAPERJ Fimitd^ An Carlo»Chmja»Filltnrfn AmparaA PPMJUIM iln Citniln do Hlo de Janeiro Rio de Janeiro &• 2014 DIDáTICA: ENTRE SABERES, SUJEITOS E PRÁTICAS 1 Vera Maria Candau 1 INTRODUçãO Hoje diferentes autores, de distintos contextos sociais e a partir de reflexões culturais e científicas diversificadas, afirmam que vivemos uma época em que é cada dia mais forte a consci- ência de que o mundo passa por transformações profundas e em acelerado ritmo de mudança. Salientam que vivemos uma crise de paradigma. Essa realidade provoca em muitas pessoas e gru- pos reações contraditórias de insegurança, mal-estar, inquietação e medo, e também de abertura e esperança, sentimentos mobili- zadores das melhores energias para a construção de um mundo diferente, mais humano e solidário. Essa realidade está especialmente presente entre nós, quando a afirmação de uma sociedade democrática e igualitária encontra diariamente obstáculos nas políticas hegemónicas que em nome da modernização, da inserção no mundo globaliza- do, na economia de mercado e na sociedade do conhecimento, 1 Texto publicado originalmente nos anais do XVI Endipe, realizado na Unicamp, de 23 a 26 de julho de 2012. 111 DIDáTICA: ENTRE SABF.RES, SUJEITOS E PRáTICAS ENSINO DE DIDáTICA: ENTRE RECORRENTES E URGENTES QUESTõES reforçam a marginalização e a exclusão de diferentes grupos so- i ia is. No entanto, é necessário também reconhecer nos cenários públicos de movimentos sociais de afirmação de sujeitos socioculturais e de questões e temas específicos, de trução de sociedades que articulem políticas de igualdade e po- l íticas de reconhecimento e favoreçam novas configurações dos Estados, tendo como perspectiva a construção de democracias mais plenas c igualitárias. Vivemos tempos tensos, dinâmicos, instáveis e criativos. Muitas são as interrogações, as urgências e as interpelações à afir- mação de uma vida digna a que todas as pessoas têm direito. Nesse contexto, a educação vive especialmente paradoxal e contraditório. Não se pode negar a enorme expansão do sistema educacional nas ú ltimas décadas, pelo menos no que se refere à educação básica. O dis- curso oficial apresenta a educação como a pela modernização das nossas sociedades, menores possibilidades de integrar-se no mundo globalizado e na sociedade do conhecimento e do consumo. A educação é vis- ta como a esperança do futuro. Nesse contexto, na minha perspectiva, o pensamento pe- dagógico tem tido um desenvolvimento que podemos classifi- de débil, light, de pouco debate entre os diferentes atores implicados para o aprofundamento em o sentido da escolarização hoje. As questões instrumentais dos processos educativos centralizam as políticas públicas como, por exemplo, a gestão e a avaliação dos sistemas educativos, conce- bidas de modo restrito e focalizando basicamente o desempenho acadêmico obtido em algumas áreas curriculares que pode medido e quantificado. A articulação entre o sistema educacional e a perspectiva empresarial se faz cada vez mais forte. Os temas relativos ao sentido da educação escolar e seu formato historica- mente construído não são discutidos, por mais que os desafios que as escolas e os professores/as enfrentam se multipliquem e apresentem em episódios emblemáticos caráter dramático. Para Dubet (2011): a presença car questões que focalizemcons- ser no continente um mo- mento grande responsável por suas maiores ou Em todos os lugares, e não somente na escola, o programa institucional [ republicano ] declina. E mutação é muito mais ampla que a simples confron- tação da escola com novos alunos c com os problemas engendrados por novas se trata de uma mutação radical que a identidade dos atores da escola fica fortemente perturbada, para além dos problemas específicos com os quais eles se deparam. A escola foi um programa institucional moderno, programa institucional apesar de tudo. Hoje, “ ainda mais modernos” , as contradições desse essa No entanto, persistem elevados índices de analfabetismo, evasão, fracasso e desigualdade de oportunidades de educação regiões geográficas e grupos sociais. São graves a crise da escola pública e a demandas. É também porque entre crescente fragmentação do sistema de ensi- no. Grupos sociais, em geral os mais pobres, têm acesso apenas a determinadas escolas, e outras camadas de população, com maior poder aquisitivo, frequentam as melhores escolas públi- cas e escolas particulares consideradas de excelência. Por mas um somos programa explodem, não apenas sob o efeito de uma ameaça externa, mas de causas endógenas, inscritas germe da própria modernidade (p. 299). outro lado, são crescentes o questionamento e o mal-estar em relação aos sistemas educacionais e às escolas. Fenômenos de violên- no cia, discriminação e bullying se multiplicam e afetam diferentes atores presentes nas escolas. A realidade do burnout (“ desgaste profissional” ) é cada vez mais comum entre os educadores educadoras. A educação escolar está hoje desafiada a promover qualidade adequada à sociedade contemporânea. A dar respos- tas aos desafios que as escolas e educadores/as enfrentam. uma e as 112 113 Felipe Destacar DIDáTICA: ENTRE SABERES, SUJEITOS E PRáTICAS ENSINO DE DIDáTICA: ENTRE RECORRENTES E URGENTES QUESTõES É nesse contexto em que a educação escolar ser evidenciada no discurso cada vez mais Frequente que sente a necessidade de acrescentar um adjetivo à palavra “ qualidade” : fala-se de qualidade total, qualidade humana, qualidade social, qualidade cidadã, etc. Parto nesta reflexão da afirmação de que, cm contextos democráticos, a qualidade da educação é objeto de contínuas negociações, disputas e revisões c apresenta um cará ter multidi- mensional. se encontra — entre a crise e a reinvenção - que situamos a didática, como um campo do conhecimento pedagógico orientado à compreensão dos processos de ensino-aprendizagem e à construção de for- mas alternativas de desenvolvê-los, orientadas a promover uma educação que dê resposta aos interrogantes atuais da sociedade, dos educadores/as, das crianças e jovens sobre o sentido da es- colarização em suas vidas. Pretendo identificar sinteticamente as principais concepções de qualidade da educação hoje presentes no discurso educacional e situar as possíveis contribuições da didática numa perspectiva sociocrítica c intercultural de enfren- tamento das questões atuais que desafiam nossas escolas, a partirdas reflexões desenvolvidas pelo Grupo de Estudos sobre Coti-diano, Educação e Culturas (Gecec), vinculado ao Departamen- to de educação da PUC-Rio, com o apoio do CNPq. O que está em jogo atualmente é o confronto entre dis- tintas concepções da qualidade da educação, que l êm a ver com os diferentes modos de entender as relações entre educação, es- cola e sociedade. Mencionarei três concepções que me parecem ser as mais presentes em nossas sociedades, consciente de que não existem em estado puro e que as articulações entre elas, não necessa- riamente expl ícitas e coerentes, transitam em nossos distintos cenários.2 QUALIDADE DA EDUCAçãO: UM DISCURSO PLURAL Fendo presente o contexto que descrevi, qualidade da educação adquire relevância A primeira concepção vem adquirindo cada vez maior for- ça e apresenta como característica principal conceber a educação como um produto capaz de responder às exigências do desen- volvimento económico e do mercado. Seu objetivo principal é formar sujeitos empreendedores e consumidores. Nesse sentido, a qualidade vem definida pelas necessidades do aparato produ- tivo e do mercado. A busca da qualidade supõe um maiorajuste do sistema educacional a essas necessidades. A educação fica as- sim reduzida a uma função fundamentalmente económica, a de capacitar o “ capital humano” necessá rio ao modelo económico vigente. Afirma a centralidade do conhecimento científico e dos saberes valorizados pela sociedade dominante. Enfatiza o domí- nio das tecnologias de informação e comunicação. Essa é a visão que, com distintos matizes e revestida de linguagens plurais, vem informando as políticas educacionais de inspiração neoliberal. Uma segunda perspectiva é a que entende a qualidade da educação como uma volta a concepções e aspectos tradicionais a questão da especial. Todas as autoridades educacionais, os/as professores/as e as famílias de-fendem a promoção da qualidade da educação. Além disso, a referência à qualidade sempre orientou distintas concepções e propostas educacionais ao longo da história. Todos os planos de reforma dos sistemas de ensino pretendem trabalhá-la de alguma forma. Contudo, a expressão qualidade da educação, ao mesmo tempo em que explicita um aparente consenso, também admite distintas interpretações e encobre diferentes marcos conceituais e políticos de conceber a educação, relacionando de sociedade e cidadania -a com o tipo que se quer construir. Trata-se de umaexpressão polissêmica, de constante reformulação, que suscita fortes polêmicas e de-bates entre os educadores e educadoras conceito socialmente construídoum e em e na sociedade em ge-ral. Essa polissem ia da expressão “ qualidade da educação” pode 114 115 Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar DIDáTICA: ENTRE SABERES, SUJEITOS E PRáTICAS ENSINO DE DIDáTICA: ENTRE RECORRENTES E URGENTES QUESTõES il.i educação2. Afirma que a modernização da educação, assim como os movimentos renovadores, têm favorecido superficiais e de pouca consistência nas escolas. Defende tam- bém que a ênfase nos interesses das crianças e dos adolescentes, aspecto fundamental do conhecido movimento das “ escolas novas” , enfraqueceu a função do/a professor/a e sua autorida- de. A escola passa a priorizar o “ acolhimento” em detrimento de sua função cognitiva. É necessá rio reafirmar a centralidade da formação intelectual e moral dos educandos, a cultura geral, o domínio dos autores que têm amplo reconhecimento acadê- mico, os conteúdos concebidos como universais, a disciplina, a autoridade do/a professor /a, o esforço e os procedimentos formais da avaliação. Nessa perspectiva, a qualidade da educa- ção se entende como uma revitalização dos conteúdos e valores considerados como configuradores de uma concepção tradicio- nal da educação. Essas duas maneiras de se conceber a qualidade da edu- cação se situam politicamente em uma perspectiva que, em geral, reforça o modelo dominante na sociedade ou propõem algumas mudanças que não afetam sua lógica básica. Algumas vezes essas concepções se articulam , por mais contrapostas que possam parecer. Seu af ã é que os processos educacionais res- pondam às necessidades detectadas, sobretudo as do mercado e a dos grupos sociais hegemónicos. Podem propor medidas orientadas à inclusão dos grupos marginados na sociedade vi- gente, contudo sua lógica estrutural não é colocada em ques- tão. São essas as visões da qualidade de educação que hoj geral, se expressam com maior força nas nossas sociedades. Na produção acadêmica da área de educação sobre as distintas tendências pedagógicas, a perspectiva tradicional é em geral apontada como a de maior vigência no desenvolvimento histórico da escolarização em diferentes países. Para alguns autores, a dificuldade de construir estratégias pedagógicas adequadas para enfrentar os desafios colocados h o j e às escolas e aos/as educadores/as está provocando, em muitos contextos, o fortalecimento dessa perspectiva. No entanto, é possível perguntar: podemos entender a qualidade da educação em outro marco conceituai e ideológico? Situo-me entre aqueles educadores e educadoras que acreditam que sim. Na verdade, há várias experiências em curso que utili- zam outros parâmetros. Partem da convicção profunda de que a educação escolar pode colaborar com processos de transforma- ção estrutural da sociedade. Assumem uma perspectiva crítica e intercultural. Afirmam a importância da educação como direito humano que não pode ser reduzido a um produto que se negocia na lógica do mercado. Defendem o papel do Estado na demo- cratização da educação e se opõem às formas diretas e indiretas de privatização da escola pública. Lutam pela valorização da pro- fissão docente e pelo reconhecimento dos movimentos promovi- dos por educadores e educadoras. Propõem “ reinventar” a escola, seus espaços, tempos, organização, dinâmicas, etc. Assumo essa perspectiva. Sou consciente de que ela já está sendo constru ída no dia a dia de muitas escolas e salas de aula, por muitos educadores e educadoras, em várias partes do país. É nessa busca que situo as possíveis contribuições da didática. processos 3 BREVES APONTAMENTOS SOBRE A HISTóRIA DA DIDáTICA ENTRE NóS A didática tem uma longa trajetória histórica, sempre re- lacionada com os diferentes contextos sociopol íticos e culturais, as diferentes concepções de educação e as relações entre escola e sociedade. Ao longo de sua história, da Didática Magna (1631) de Comênio, considerada o ponto de partida da construção da didática moderna, até hoje, tem sido objeto de ardorosas discus- sões, controvérsias e intensas buscas. Centrarei estes breves apontamentos no seu desenvolvi- mento entre nós, especialmente a partir dos anos 1980, isto é, do seminário “ A Didática em Questão” , realizado em 1982, que está completando, portanto, 30 anos. No entanto, considero fundamental, para uma visão ampla do desenvolvimento da di- e, em 116 117 Felipe Destacar Felipe Destacar ENSINO DE DIDáTICA: ENTRE RECORRENTES E URGENTES QUESTõESDIDá TICA: ENTRE SABF.RES, SUJEITOS E PRáTICAS gico, enquanto constituindo um campo de conheci- mento e enquanto conteúdo do currículo da formação do educador, no contexto da luta pela especificidade e importância do papel dos processos da educação e do ensino, no movimento de recuperação e democrati- zação da escola pú blica e na transformação social il.ilica a partir dos anos 1950, a leitura do livro de Magda Soares ( 1991), baseado no seu memorial do concurso para professora titular de didática da UFMG, Metamemória-memórias: travessia de uma educadora, certamente uma produção fundamental para se compreender o processo vivido nessa etapa. Quando foi realizado o seminário “A Didática em Ques- tão” , considerado o in ício dos hoje chamados Endipcs (Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino), essa iniciativa estava marcada pelo contexto de forte compromisso com a construção dos caminhos de redemocratização da sociedade brasileira. Para todos os implicados, essa era uma exigência iniludível: articular os processos educacionais com as dinâmicas de transformação e resgate do estado de direito no país. Conscientes de que a edu- cação tinha um papel, limitado, mas significativo, no processo sociopolítico c cultural de afirmação da democracia, colocamos nossos melhores esforços na construção de uma pedagogia e uma didática em consonância com essa perspectiva. Certamente a década del 980 constituiu uma etapa fecun- da e mobilizadora de um pensamento pedagógico e didático ori- ginal e diversificado, assim como de diferentes propostas, tanto no nível de sistemas educativos, como de escolas e salas de aula. O que se pretendia nesse seminário de 1982? Assim foi explicitado em um dos seus objetivos: “ Estimular a busca de propostas alternativas que visem, de fato, à ampliação quanti- tativa e à melhoria qualitativa das oportunidades educacionais para a maioria da população brasileira’ (Candau, 2005, p. 9). Oliveira (2000),membro da mesa-redonda que, no X En- dipe, realizado no Rio de Janeiro, foi dedicada à análise dos 20 anos de produção dos Endipes, na mesma perspectiva, afirma em relação à década del 980: ( p. 164 e 165) . Quanto aos anos 1990, os depoimentos analisados pela pesquisa “ Ressignificando a Didática numa perspectiva multi/ intercultural” , que coordenei no período 2003-2006, com o apoio do CNPq, salientam uma menor convergência de ideias e, embora possamos dizer que há uma continuidade das reflexões em torno da perspectiva crítica, naquele momento essa aborda- gem se faz presente de modo mais frágil. Sobre essa década, os/ as entrevistados/as parecem concordar com o fato de que existe uma incorporação de novos temas, a partir de outros enfoques teórico-metodológicos. Por exemplo, temas como professor re- flexivo, professor pesquisador, identidade docente, questões rela- tivas ao cotidiano escolar ganham força. Para alguns/mas entre- vistados/as começa a aparecer aqui o tema do multiculturalismo, mas ainda de modo bastante tangencial. No que diz respeito à última década, é possível afirmar que, em geral, é percebida como uma fase em que a confluência de olhares e perspectivas se fragilizou ainda mais, e se acentua a diversificação de temas e abordagens. Alguns chegam mesmo a caracterizá-lo como um momento de “ risco de dispersão” . Prefi- ro considerá-lo como a afirmação de um universo plural e diver- sificado de buscas e referenciais. Novos elementos parecem “ afetar” o campo da didática. Alguns deles são: a tentativa da retomada de uma visão tecnicis- ta, em consonância com as atuais políticas educacionais, a neces- sidade de busca de novos referencias para lidar com novos con- textos, novos sujeitos, novas problemáticas, como, por exemplo, a violência e os impactos provocados pelas tecnologias da infor- Pode-se constatar, então, o fato de que, para além das diferentes posições sobre o objeto de estudo das á reas, o que existe é um grande consenso. Ele se refere à luta defesa da legitimidade do saber didático-pedagó-em 119118 Felipe Destacar ENSINO DE DIDáTICA: ENTRE RECORRENTES E URGENTES QUESTõESDIDáTICA: ENTRE: SABERES, SUJEITOS E PRáTICAS à construção de sociedades democráticas que articulem igual- dade e reconhecimento das diferenças culturais, assim como alternativas ao caráter monocultural e ocidentali- maçao e comunicação no processo de ensino-aprendizagem. Alem disso, as questões relativas ao multiculturalismo ganham maior presença, seja quando apontam o tema das diferenças como uma possibilidade de enriquecimento da reflexão e ação didáticas, seja quando suscitam preocupações em ticulação entre o social e o cultural. Em relação a essa última questão, convém ressaltar que uma maior incorporação da dimensão cultural na análise das questões pedagógicas não supõe necessariamente uma retra- ção do social. Trata-se de articular as diferentes dimensões dos processos educativos, com a consciência da importância de se trabalhar os processos de construção de identidades culturais, tanto no âmbito pessoal como social. a propor zante dominante na maior parte dos países do continente. Tendo este como ponto de partida para os trabalhos venho realizando, considerei necessário construir, de relação à ar- que modo coletivo, no espaço do grupo de pesquisa que coor- deno, uma concepção de educação intercultural que servisse de referência comum para os trabalhos da equipe e, com esse objetivo,- optei pela utilização da perspectiva dos mapas conceituais. A teoria dos mapas conceituais teve sua origem nos anos 1970, com os trabalhos de Joseph Novak, pesquisador psicologia cognitiva. base a teoria da aprendizagem significativa de David Temestadunidense, especialista emApresentadas essas breves reflexões, é possível afirmar que o campo da didática está no momento atual sendo de- safiado por novas problemáticas, É possível interpretar realidade como um por Ausubel.essa momento de desestabilização e diversifi- cação, em que emerge uma pluralidade de enfoques, temáticas e problemáticas. O desafio atual da didática, na perspectiva que privilegio, pode ser sintetizado em como trabalhar com a diferença, ou melhor, com as atores e protagonistas, favorecendo espaços de interlocução e diálogo entre, principalmente, os grupos de pesquisa presentes como ferra-Novak concebe os mapas conceituais cujo principal objetivo é organizar e representar omentas, conhecimento. Segundo Novak e Canas (2005) , os mapas conceituais são estruturados a partir de conceitos funda- relações. Essa ferramenta está orientada adiferenças entre seus próprios mentais e suas reduzir e concentrar a estrutura cognitiva subjacente a dado conhecimento, visibilizando os elementos básicos da u m estrutura cognitiva a ele subjacente e permitindo analisar seus elementos fundamentais. A questão focal que orientou nossos trabalhos foi: em que consiste a educação intercultural? Com tida, durante o primeiro semestre de 2009, realizamos encon- que fomos trabalhando conjuntamente as diferentes etapas do desenvolvimento do mapa conceituai. O passo fundamental consistiu em definir as categorias básicas. Depois de vários encontros, chegamos a assumir con- sensualmente que eram as seguintes: sujeitos e atores, saberes e conhecimentos, práticas socioeducativas e pol íticas públicas. neste campo. Neste sentido, me sinto provocada a trazer questões que venho trabalhando nos últimos anos, especialmente a partir da última década, que me parecem estar demandando olhar, uma nova leitura para as questões do campo da didática. ponto de par-esseum novo tros semanais em 4 CONSTRUINDO UMA DIDáTICA NA PERSPECTIVA SOCIOCRíTICA E INTERCULTURAL Situo-me na perspectiva da interculturalidade crítica. Essa é uma proposta epistemológica, ética e política orientada 121120 Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar DIDáTICA: ENTRE SABERES, SUJEITOS E PRáTICAS ENSINO DE DIDáTICA: ENTRE RECORRENTES E URGENTES QUESTõES Apresentarei as categorias básicas e enumerarei alguns de- safios postos por cada uma delas para as práticas pedagógicas reflexão nar e dú-Quanto à categoria de saberes e conhecimentos, sem vida, ela tem especial importância para a didática. Parto da afirmação da ancoragem histórico-social dos diferentes sabe- conhecimentos e de seu caráter dinâmico, o que supõe e a e pesquisa em didática, certamente com caráter prelimi- provisório. Convém ter presente que essas categorias estão inter-relacionadas e concebidas de modo articulado. res e analisar suas raízes históricas c o desenvolvimento que foram A primeira categoria, sujeitos e atores, refere-se à promo- ção de relações tanto entre sofrendo, sempre em íntima relação com quais esse processo se vai dando e os mecanismos de poder nele presentes. Em consonância com posição que afirma que mais do que discutir se esses os contextos nos sujeitos individuais, quanto entre grupos sociais integrantes de diferentes grupos socioculturais. A interculturalidade crítica fortalece a construção de identidades dinâmicas, abertas e plurais, assim como questiona uma visão essencializada de sua Koff (2009, p. 61) , as- sumo a termos são sinónimos ou não, o importante é reconhecer a existência de diversos saberes e conhecimentos no cotidia-constituição. Potência os processos dc poderamento, principalmente dc sujeitos e atores inferiorizados e subalternizados, e a construção da autoestima, assim como estimula a construção da autonomia num horizonte dc em- escolar e procurar estimular o diálogo entre eles, assu- mindo os conflitos que emergem dessa interação.Trata-se dc dinâmica fundamental para que sejamos capazes de dc- no eman- uma senvolver currículos que incorporem referentes de diferentesuniversos culturais, coerentes com a perspectiva intercultural. Esse cruzamento dc culturas, conhecimentos e saberes se dá cipação social. Neste sentido, é importante que as práticas educativas partam do reconhecimento das diferenças presentes na escola e na sala dc aula, o que exige questionar os processos de homoge- neização, que invisibilizam e ocultam as diferenças, reforçando o caráter monocultural das culturas escolares. vezes de modo confluentede diferentes maneiras, algumas complementário, e outras de interação tensa, chegando confronto entre diferentes posições. As tensões ou mesmo a um Romper com este “ daltonismo cultural” (Cortesão; Stoer, 1999, p. 56) e ter presente o “arco-íris das culturas” nas práticas educativas supõe todo naturalizadas e enraizadas universalismo e relativismo no plano epistemológico geral, se fazem especialmente presentes. O entre e pedagógico em que considero importante na perspectiva intercultural é es- timular o diálogo e a cotidiano escolar e nos processos de ensino-aprendizagem processo de desconstrução de práticas no trabalho docente para sermos edu- cadores/as capazes de criar novas maneiras de situar um construção de conhecimentos comuns -nos e inter- no vir no dia a dia de nossas escolas e salas de aula. Exige valorizar as histórias de vida de alunos/as e professores/as e a construção de suas identidades culturais, favorecendo a troca o intercâmbio desenvolvidos nas salas de aula. socioeducativas referida à inter-A categoria práticas culturalidade exige colocar em questão as dinâmicas habitu- ais dos processos educativos, muitas vezes padronizadores e uniformes, desvinculados dos contextos socioculturais dos baseados no modelo frontal e o reconhecimento mútuo, assim como estimular que profes- sores/as e alunos/as se perguntem quem situam na categoria de “ nós” e quem são os “ outros” para eles. Esta categoria também convida à interação da escola com os diferentes sujeitos que dele participam e de ensino-aprendizagem. Favorece dinâmicas participativas, processos de diferenciação pedagógica, a utilização de múlti- plas linguagens e estimulam a construção coletiva. grupos presentes na comunidade e no tecido social mais amplo, favorecendo dinâmica escolar aberta e inclusiva. uma 122 123 ENSINO DE DIDáTICA: ENTRE RECORRENTES E URGEN TES QUESTõESDIDáTICA: ENTRE SABERES, SUJEITOS E PRáTICAS de ação afirmativa orientadas a fortalecer processos de cons- trução democrática que atravessem todas as relações sociais, na perspectiva de radicalização dos processos democráticos. Na perspectiva da didática, supõe ter presente o contexto onde se realizam as práticas educativas, os constrangimentos e possibilidades que lhe são inerentes, e desenvolver um diálogo crítico e propositivo no sentido de fortalecer perspectivas educa- tivas e sociais orientadas a radicalizar os processos democráticos e articular igualdade e diferença, em todos os níveis e âmbitos, do macrossocial à sala de aula. Destaco dois aspectos incluídos nesta categoria de espe- para a didática: a diferenciação pedagógica utilização de múltiplas linguagens e mídias no cotidiano escolar. A diferenciação pedagógica não constitui um tema novo na re-flexão pedagógica. No entanto, hoje exige uma abordagem mais ampla que, sem desconsiderar os aspectos psicológicos os relativos aos ritmos e estilos de aprendizagem, incorporem também a utilização de distintas expressões culturais. A trução de materiais pedagógicos nessa perspectiva e a criação de condições concretas nas cas ciai relevância e a , como cons- escolas que permitam uma efetiva dife- renciação é outra exigência. Supõe “desengessar” a sala de aula, multiplicar espaços e tempos de ensinar e aprender. Quanto ao que diz respeito a linguagens e mídias, traba- o já afirmado nesta categoria, trata-se 5 CONSIDERAçõES FINAIS Retomo agora algumas das reflexões que desenvolvi neste Uma escola de qualidade para todos e todas ainda não foi lhadas em articulação com de conceber a escola como um centro cultural em que diferentes linguagens e expressões culturais estejam presentes c sejam pro-duzidas. Não se trata simplesmente de introduzir nologias de informação c comunicação e sim de dialogar processos de mudança cultural, presentes cm toda a população, tendo, no entanto maior incidência texto. conquistada. No momento atual está pressionada e desafiada por muitas questões. Não se trata de enfrentá-las através de um mero ajuste ou reforma de alguns aspectos específicos de guração, reduzindo sua problemática à gestão e maior controle através de sistemas de medição de determinadas aprendizagens. as novas tec- sua confi-com os entre os jovens e as crianças, configurando suas identidades (Sarlo, 2004, p. 120 e 121). Os educadores e educadoras estão chamados a enfrentar Assumo a perspectiva de que é necessário “ reinventar a escola ’, para que possa ser mais significativa e relevante para os tempos pós-modernos em que vivemos. Reinventar exige ressig- nificar e construir uma nova configuração. A dimensão cultural vem adquirindo especial relevância, em todos os âmbitos, do po- lítico ao escolar. A consciência de que igualdade e diferença se exigem mutuamente é cada vez mais forte. Os diferentes grupos socioculturais, particularmente os historicamente marginalizados e silenciados, vêm adqui- rindo continuamente crescente visibilidade e questionam a escola. A reflexão didática não pode estar alheia a essa proble- mática. A partir da perspectiva crítica, na qual estou enraizada, considero que a interculturalidade é central para se avançar produção de conhecimentos e práticas orientados a colaborar na as questões colocadas por essa mutação cultural, o que supõe não somente promover a análise das diferentes linguagens e produtos culturais, como também favorecer experiências de produção cul-tural e de ampliação do horizonte cultural dos alunos e alunas, aproveitando os recursos disponíveis na comunidade escolar e na sociedade. A quarta categoria, políticas públicas, aponta para as rela- ções dos processos educacionais e o contexto político-social que se inserem. A perspectiva intercultural crítica reconhece os diferentes movimentos sociais que vêm se organizando de questões identitárias, defende a articulação entre políticas de mhecimento e de redistribuição (Fraser, 2001) e apoia políti- em em torno na rec( 125124 Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar Felipe Destacar DIDáTICA: ENTRE SABERES, SUJEITOS E PRáTICAS ENSINO DE DIDáTICA: ENTRE RECORRENTES E URGENTES QUESTõES afirmação de uma sociedade verdadeiramente democráti que justiça social e justiça cultural se entrelacem. Essa perspectiva da didática crítica e intercultural está em que tanto na produção acadêmica, quanto na prática cotidiana de educadores e educadoras. REFERêNCIASca em construção. No entanto, já é possível identificar elementos favorecem seu desenvolvimento CANDAU, V. M. F. Construir ecossistemas educativos: reinventar a escola. In: CANDAU, V. M. F. (org.). Reinventar a escola.7. cd. Petró- polis: Vozes, 2010 ( 1. ed., 2005). DUBET, F. 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