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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III
Aula 1:O contexto sócio-econômico político em que ocorre o Movimento de Reconceituação do Serviço Social no Brasil. 
AULA1
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III
Nesta aula analisaremos o período da década de 60 e 70 no Brasil, quando vivemos sob uma ditadura militar, que José Paulo Netto denomina de “autocracia burguesa”. A emergência da ditadura brasileira inscreve-se num panorama internacional, no qual uma sucessão de golpes de Estado constituía-se como cenário para uma alteração na divisão internacional capitalista, sob a hegemonia norte-americana, patrocinando uma contra-revolução que visava a manutenção do sistema capitalista em escala planetária, numa disputa com os países socialistas.
Essa contra-revolução tinha como finalidades:
AULA1
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III
Adequar os padrões de desenvolvimento nacionais e de grupos de países ao novo quadro do inter-relacionamento econômico capitalista, marcado por uma internacionalização do capital ( globalização);
Golpear e imobilizar os protagonistas sociopolíticos habilitados a resistir a esta reinserção mais subalterna no sistema capitalista ( países opositores, de viés comunista e socialista);
Dinamizar em todos os continentes forças aliadas contra a revolução e o socialismo.
AULA1
FUNDAMENTOS HISTÓRICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III
Como consequência dessa estratégia, verifica-se a partir da segunda metade da década de 60, os seguintes resultados : 
a afirmação de um padrão de desenvolvimento econômico associado subalternamente aos interesses imperialistas, com uma integração mais dependente ao sistema capitalista; 
a articulação de estruturas políticas garantidoras da exclusão dos protagonistas comprometidos com o projetos nacional-populares e democráticos;
um discurso oficial com uma prática policial-militar anti-comunista.
No Brasil, o desenvolvimento capitalista foi implantado e se desenvolveu sem desvencilhar-se de formas tradicionais ( oligarquia rural), modernizando-a e a integrava em sua dinâmica em patamares mais complexos, funcionais e integrados ( modernização e industrialização da agropecuária, através de maquinários, insumos industrializados : fertilizantes, inseticidas, etc). 
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Um outro aspecto a considerar é que as forças populares foram recorrentemente excluídas dos processos de decisão política, por dispositivos sinuosos ou de coerção aberta. O Estado brasileiro desde 1930 consegue desestruturá-la Destaca-se nesse sentido as estratégias de relacionamento de Getúlio Vargas com as organizações dos trabalhadores ( sindicatos e associações), que o consagram como populista. O surgimento de amplas camadas trabalhadoras urbanas e rurais no cenário político, galvanizando segmentos pequeno-burgueses (camadas intelectuais) e parcelas da Igreja Católica e das Forças Armadas era um fato novo no país, que poderiam ter como desdobramentos um reordenamento político-social capaz de gerar uma situação pré-revolucionária, a partir das articulações do movimento operário e sindical. 
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No Brasil, verifica-se um desenvolvimento tardio do capitalismo em relação aos países europeus e norte-americanos. A industrialização pesada passa a acontecer somente a partir de 1956, implicando em num novo padrão de acumulação capitalista. As lutas contra a exploração imperialista e latifundiária, acrescidas das reivindicações de participação cívico-política ampliada, apontavam para uma ampla reestruturação do padrão de desenvolvimento econômico e uma profunda democratização da sociedade e do Estado, que poderia criar uma nova hegemonia e a implementação de políticas democráticas e populares, compondo um novo bloco de forças político-sociais, capaz de assumir e redimensionar o Estado. 
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FUNDAMENTOS HISTÓRICOS TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III
Estava em jogo não só a luta pelo capitalismo ou socialismo, mas a reprodução do desenvolvimento associado, dependente e excludente, ou um processo profundo de reformas democráticas e nacionais, antiimperialistas e antilatifundiaristas, numa perspectiva de revolução social. Nesse sentido, o movimento cívico-militar de abril de 64 configurou-se como um pacto contra-revolucionário, portanto reacionário, conservador da ordem burguesa vigente. A resultante é um Estado que estrutura um sistema de poder muito definido, no qual se unem os monopólios imperialistas e a oligarquia financeira nacional.
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Analisando o período ditatorial, que Netto chama de modernização conservadora, a ordenação da economia brasileira, caracteriza-se por: 
- benefícios ao capital estrangeiro e aos grandes grupos nativos; 
- concentração e centralização em todos os níveis, através de conselhos e coletivos diretamente atrelados ao grande capital;
- a internacionalização e a territorialização do imperialismo norte-americano;
- uma concentração tal da propriedade e da renda que engendrou uma oligarquia financeira.
- um padrão de industrialização na retaguarda tecnológica e vocacionado para estimular e atender demandas elitizadas no mercado interno e direcionado para o exterior.
- a constituição de uma estrutura de classes fortemente polarizada, apesar de muito complexa;
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- um processo de pauperização relativa sem precedentes no mundo contemporâneo;
- a acentuação da concentração geopolítica das riquezas sociais, aprofundando brutais desigualdades regionais;
- a cristalização de uma estrutura estatal-burocrática e administrativa para gerir este modelo, baseada num referencial político-ideológico específico, cuja matriz foi a doutrina de segurança nacional. 
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Quando o projeto da modernização conservadora, baseado na política desenvolvimentista, perde a legitimação política, ocorre o aumento do processo da resistência democrática, que se alarga e se aprofunda vinculados ao movimento golpista, levando o regime à defensiva, à concessões e, no limite, a negociar as vias de transição a outras formas de dominação. 
Nas condições brasileiras, a supressão da democracia política haveria de responder por um lado à necessidade de reverter o processo de democratização que estava em curso no país antes de 64, e neutralizar seus protagonistas, e por outro, atender às exigências de adequar ou criar as instâncias estatais e os dispositivos institucionais requeridos pelas novo padrão de desenvolvimento.
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O ciclo autocrático burguês se desenvolveu em três períodos:
de abril de 1964 a dezembro de 1968, cobrindo o governo Castelo Branco e parte do governo Costa e Silva, cuja tarefa inicial foi depor o governo de João Goulart (considerado progressista, de esquerda, sensível às demandas do movimento operário e camponês, e as forças populares de esquerda).
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A implementação do Plano de Ação Econômica do governo- PAEG, para o período de 1964-1966 com medidas racionalizadoras face à desaceleração do crescimento, atingiu a pequena burguesia urbana, além dos trabalhadores, que tiveram a liquidação da estabilidade no emprego e uma política salarial depressiva, com perdas muito visíveis a partir de 1967, alargaram a distância entre a classe trabalhadora e o governo, criando um clima de enfraquecimento do pacto contra-revolucionário, com a emersão de partidos de oposição. A Frente Ampla, composta pelo movimento operário e sindical retomou ações significativas,e o movimento estudantil, expressão privilegiada da pequena burguesia, assumiu ruidosamente nas ruas a constestação à nova ordem .
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b) de dezembro de 1968 a 1974, envolvendo basicamente o fim do governo Costa e Silva, o intemezzo da Junta Militar e todo o governo Médici. Esta nova fase é marcada pelo Ato institucional nº 5. Se entre 1964 e 1968 os militares assumiram o Estado numa ditadura reacionária, com discurso contraditório, fazendo alusões à democracia, a nova fase caracteriza-se por um regime político de características fascistas, de componente mais autoritário e reacionário, que corporifica os interesses do grande capital monopolista imperialista e nativo.
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A estrutura do Estado é inteiramente redimensionada e refuncionalizada para servir e induzir à concentração e centralização, a partir do monopólio do aparato estatal. A repressão à oposição torna-se intensa e vai ser operacionalizada de forma policial-militar: o terrorismo de estado é a contraface da racionalização e modernização conservadora. A legitimação do Estado se dará com base no discurso sobre a eficácia do regime do governo na promoção do desenvolvimento econômico: é o tempo de crescimento acelerado, batizado de “ milagre brasileiro”, conferindo um enorme poder de definição macroscópica de políticas sociais abrangentes, e um poder para efetivamente implementá-las. Estas políticas sociais tornam-se não apenas repressivas, mas positivas, com a intenção de obter o consenso da população, cujo marco é o I Plano Nacional de Desenvolvimento. 
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O terrorismo de Estado conduziu as forças democráticas a uma residual política de resistência, à clandestinidade. É somente a partir de 1973 que o “milagre” começa a se esgotar, que ressurge a resistência do movimento popular. Num período em que as lutas do proletariado industrial são duramente reprimidas, a ditadura militar fascista utiliza num processo eleitoral com um caráter plebiscitário em relação ao regime. 
A massa do povo com acesso ao voto surpreende em 1974, não legitimando o autocratismo burguês em sua forma militar-fascista, abrindo a fase derradeira da ditadura, com o processo que denominou-se “processo de distensão” e auto-reforma do Estado, implementado no governo do general Figueiredo.
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c ) de 1974 a 1979, o período Geisel e Figueiredo. O objetivo inicial foi uma liberalização controlada e limitada, numa combinação estável de formas parlamentares limitadas com mecanismos decisórios ditatoriais, através do enquadramento do vasto aparelho policial-militar repressivo, impedindo seu acionamento por segmentos corporativos localizados ( facções do partido militar), subordinando-o a um comando único e inquestionável. Por outro lado, aniquilou todas as forças político-organizativas que poderiam se insurgir no processo de manutenção da ordem estabelecida, como a reinserção da classe operária a partir das greves do ABC paulista, entrando na cena política. 
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Em seu último momento, a autocracia burguesa é obrigada a combinar concessões e gestos tendentes à negociação com medidas repressivas, por força da ação do movimento operário e popular, que passa à ofensiva. Em todo o ciclo autocrático-burguês, o referencial político ideológico da doutrina de segurança nacional foi o parâmetro criado pela autocracia burguesa para sua legitimação, tornando esse Estado incompatível com um processo de democratização.
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 Não é por acaso que a crise da ditadura alonga-se por mais de uma década, e configurou um processo de transição singular e atípico: uma situação política democrática nos primeiros anos da década de 80, coexistindo com um aparato estatal inteiramente incompatível com sua manutenção, ampliação e consolidação, gerando um impasse entre estado e regime político.
Na sociedade contemporânea de base urbano-industrial, a dinâmica do mundo da cultura tem como força motriz o confronto livre de posições, concepções, e tendências, a tensão entre sua manifestações e expressões intelectuais distintas. Um dinamismo inerente à vida cultural re-produz e re-constrói, por seus meios específicos, as tensões que percorrem a vida social. Consequentemente, o mundo da cultura não é um todo ou bloco homogêneo, mas traduz os diversos aspectos da totalidade social
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A ditadura não contentou-se com o viés elitista do processo da cultura brasileira A primeira face da política cultural necessária à autocracia burguesa foi a face repressiva, das tendências críticas que emergiam através de escritores, críticos, artistas, cientistas e pedagogos, que se expandiu dos anos cinquenta aos anos setenta. Diante dela, a autocracia burguesa tinha uma ação duramente repressiva. 
A segunda face da política cultural deste período foi a promocional, indutora, positiva, que consistia em buscar uma legitimação, com aportes de quadros técnicos e científicos, assépticas no debate político-social. Na sistemática busca do controle do mundo da cultura, a autocracia burguesa procurou integrar a sua política cultural ao sentido global de suas políticas sociais, especialmente as de educação e de comunicação social.
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 A RENOVAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL SOB A AUTOCRACIA BURGUESA
Do ponto de vista profissional, alteram-se muitas demandas práticas e sua inserção nas estruturas organizacional-institucional, que alteram as condições do exercício profissional. A reprodução da categoria profissional, a formação de seus quadros técnicos viu-se profundamente redimensionada, bem como os padrões de organização da categoria. Seus referenciais teórico-culturais e ideológicos sofreram alterações significativas. 
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A renovação do Serviço Social no Brasil, mesmo que não se possa reduzir os seus múltiplos condicionantes às constrições do ciclo ditatorial, é impensável tal como se realizou, sem a referência à sua dinâmica e crise. Até o final da década de 60, e entrando pelos anos 70, no discurso e na ação governamental há um claro componente de valorização e reforço do que caracterizamos como Serviço Social tradicional, entendido como prática empirista, paliativa e burocratizada dos profissionais, orientada por uma ética liberal-burguesa, que consiste na correção de resultados psicossociais considerados negativos ou indesejáveis à ordenação capitalista. 
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O desenvolvimento das forças produtivas é acompanhado do aumento e complexificação das expressões da questão social, e sua administração crescentemente centralizada pelas políticas sociais do Estado ditatorial, a partir da criação de cargos na estrutura sócio-ocupacional a serem preenchidos por assistentes sociais, quer nos aparelhos burocráticos-administrativos do Estado, quer no âmbito das empresas.
A criação de um mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais tem início em meados dos anos quarenta, quase uma década depois da fundação das primeiras escolas de Serviço Social, no bojo do processo de desenvolvimento de grandes instituições sociais implementadas pelo Estado Novo. 
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Nos anos 50 e na entrada dos anos 60 esse mercado se expande com a industrialização pesada. Trata-se porém de um mercado de trabalho emergente e ainda em processo de consolidação, só residualmente estendendo-sepor todo o território nacional e com relações trabalhistas carentes de uma institucionalização plena, exceto nas organizações governamentais, onde elas se desenvolveram primeiramente. 
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A produção teórica do Serviço Social brasileiro recebe inicialmente forte influência do pensamento católico, das escolas europeias de formação de profissionais, vinculadas à Igreja Católica. Num segundo período vincula-se à perspectiva norte americana, baseada no Positivismo e no Funcionalismo, adequando-se às novas exigências profissionais decorrentes de sua inserção nos órgãos estatais e nas empresas. O Estado, tradicional grande empregador dos assistentes sociais, reformula a partir de 1966-1967, as estruturas onde se inseriam aqueles profissionais, através de uma série de reformas que, atingindo primeiramente o sistema previdenciário, haveria de alterar posteriormente todo o conjunto de instituições e aparatos governamentais, através dos quais se interfere na questão social. 
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Esta reformulação foi tanto organizacional quanto funcional, acarretando numa diferenciação e especialização das próprias atividades dos assistentes sociais, decorrentes do elenco mais amplo das políticas sociais, quer das próprias sequelas do modelo econômico, promovida aquela reformulação em escala nacional e sob a ótica centralizadora do Estado de Segurança Nacional. Sua nova inserção nos chamados serviços públicos viu-se universalizada no espaço nacional, provocando uma extensão quantitativa da demanda de quadros técnicos de Serviço Social.
Até meados da década de sessenta, o mercado para os assistentes sociais, era complementado efetivamente no setor privado pelas obras sociais filantrópicas que, embora girando na órbita estatal , não estavam diretamente ligados às agências oficiais. Mas o mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais foi dinamizado nos anos sessenta pelas médias e grandes empresas monopolistas e estatais. 
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Os anos do milagre econômico ampliam as oportunidades de trabalho para o Serviço Social de Empresa, não apenas em razão do crescimento industrial, mas determinado também pelo pano de fundo sociopolítico em que ele ocorre, que requer a vigilância e controle da força de trabalho no âmbito da produção.
Por outro lado, os fenômenos de pauperização, as sequelas do desenvolvimento orientado para privilegiar o grande capital, levaram as organizações de filantropia privada a requisitar a contratação de profissionais que antes não ocorria. Mesmo que o conteúdo geral das práticas profissionais não tenha sido deslocado da execução terminal de políticas sociais setoriais, alterou em escala significativa o relacionamento dos profissionais com as instâncias hierárquicas das organizações empregadoras. 
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A prática dos profissionais teve que revestir-se de características formais e processuais segundo critérios burocráticos-administrativos modernos, implicando num redimensionamento técnico-racional, que superou e questionou os comportamentos profissionais fundados em supostos humanistas. Mudou o perfil do profissional demandado pelo mercado de trabalho.
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Simultaneamente verifica-se a inserção do Serviço Social no espaço universitário. Trata-se da efetiva incorporação da formação profissional pela universidade, introduzindo os cursos na academia e subvertendo as condições de ensino. As escolas isoladas mantidas por organizações confessionais ou leigas, passam a se localizar nos complexos universitários. Num curto espaço de tempo, a formação profissional viu-se penetrada pelas exigências da refuncionalização global da universidade pelo regime autocrático burguês, propiciando a interação com as disciplinas vinculadas às ciências sociais, recebendo as influências da Sociologia, da Psicologia Social e da Antropologia.
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Mas o conjunto de sequelas que o ciclo ditatorial imprimiu ao quadro educacional e cultural do país, rebateu com imensa força sobre a formação dos assistentes sociais. Entretanto, o recrutamento do novo pessoal docente agregou elementos que vinham da formação em momentos imediatamente anteriores ou posteriores à implantação da ditadura, puderam introduzir no Serviço Social uma massa crítica inexistente anteriormente, apoiadas em novos referenciais teóricos, ideológicos e políticos. 
 
É nesse contexto que se desenvolve a renovação do Serviço Social, fornecendo as balizas histórico-sociais e ideoculturais no interior das quais a profissão experimentará o processo de renovação, via movimento de reconceituação profissional, a partir do qual surgem novas produções teórico-metodológicas no país.
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Já na segunda metade dos anos setenta, em visível relação com a consolidação do mercado nacional de trabalho e a cristalização da condição assalariada do profissional, emergem formas de organização da categoria, cada vez mais próximas dos instrumentos sindicais de representação e luta tradicionais: o Conselho Federal de Assistentes Sociais – CFAS e seus Conselhos Regionais- CRAS .
 Nos anos oitenta verifica-se a revitalização de inúmeros sindicatos e a criação da Associação Nacional de Assistentes Sociais- ANAS de 1983, que vem no desdobramento da Comissão Executiva Nacional das Entidades Sindicais de Assistentes sociais – CENEAS, articulada em 1979. 
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A ruptura com o Serviço Social tradicional tem suas bases na laicização do Serviço Social, que as novas condições postas à formação e ao exercício profissional pela autocracia burguesa conduziram a um ponto culminante. São constitutivas desta laicização ( afastamento das organizações e diretrizes católicas), a diferenciação da categoria profissional em todos os seus níveis, e a consequente disputa pela hegemonia do processo profissional em todas as instâncias ( projetos de formação, paradigmas de intervenção, órgãos de representação, etc) . Segundo José Paulo Netto, tal laicização é um dos elementos caracterizadores da renovação do Serviço Social sob a autocracia burguesa. 
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A EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL NO BRASIL
Segundo NETTO, “ a autocracia burguesa exerceu uma função precipitadora de um processo de erosão do Serviço Social “Tradicional” que lhe é anterior, e a ela conferiu uma direção particular, colocando demandas de intervenção sobre a questão social, que se desdobravam amplamente as práticas profissionais, com a assunção da abordagem comunitária como outro processo profissional, além das abordagens individual e grupal. 
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Ainda que o universo teórico-ideológico do Desenvolvimento de Comunidades fosse candidamente acrítico e profundamente mistificador dos processos sociais reais e não supusesse uma ruptura com os pressupostos gerais do tradicionalismo, ele abria uma fenda nas preocupações basicamente microssociais. 
Outra consequência, igualmente expressiva, era a inserção do assistente social em equipes multiprofissionais nas quais , dado o caráter relativamente novo destas experiências entre nós, o seu estatuto não estava definido previamente como subalterno, relacionando o assistente social com aparelhos administrativos e decisórios do Estado, situando-o ao mesmo tempo em face das novas exigências de alocação e gestão de recursos e de circuitos explicitamente políticos.”
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O II Congresso Brasileiro de Serviço Social realizado no Rio de Janeiro em 1961, significou não apenas a descoberta do desenvolvimentismo, mas efetivamente a intervenção profissional inscrita no Desenvolvimento de Comunidade como a área do Serviço Social a receber dinamização preferencial e mais compatível com o conjunto de demandas da sociedade brasileira. 
São elementos determinantes para detectar a erosão do Serviço Social tradicional:
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- o reconhecimento de que a profissão ou se sintoniza com as solicitações de uma sociedade em mudança e em crescimento ou se arrisca a ver seu exercício relegado a um segundo plano;
- levanta-se a necessidade de aperfeiçoar o aparelhamento conceitual do Serviço Social e de elevar o padrão técnico, científico e cultural de profissionais desse campo de atividades, com o reconhecimento da insuficiência da formação profissional;
- a reivindicação de funções não apenas executivas na programação e implementação de projetos de desenvolvimento. 
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- o amadurecimento de setores da categoria profissional na sua relação com outros protagonistas ( equipes multiprofissionais, grupos da população politicamente organizados, núcleos administrativos e políticos do estado).
- o desgarramento de segmentos da Igreja católica em face de seu conservantismo tradicional e a emersão de católicos progressistas, e mesmo de uma esquerda católica, com ativa militância cívica e política. 
- o espraiar do movimento estudantil que faz seu ingresso nas escolas de Serviço Social .
 - o referencial próprio de parte significativa das ciências sociais do período, imantada por dimensões críticas e nacional-populares.
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Ocorre no início dos anos 60, um duplo movimento de desprestígio do Serviço Social tradicional e a crescente valorização da intervenção no plano comunitário, nos quais era possível identificar três vertentes:
- uma corrente que extrapola para o Desenvolvimento de Comunidades os procedimentos e as representações tradicionais, apenas alterando o âmbito da sua intervenção;
- outra que pensa o Desenvolvimento de Comunidade numa perspectiva macrossocietária, supondo mudanças socioeconômicas estruturais, no bojo da sociedade capitalista;
- e por último uma vertente que pensa o Desenvolvimento de Comunidade como um instrumento de transformação social substantiva, conectado à libertação social das classes e camadas subalternas. 
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A EROSÃO DO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL NA AMÉRICA LATINA
A crise do Serviço Social tradicional foi um fenômeno internacional em praticamente todos os países Latino Americanos, onde a profissão encontrou um nível de significativo de inserção na estrutura sócio-ocupacional e articulara sua legitimação social. O pano de fundo de tais núcleos é dado pelo esgotamento de um padrão de desenvolvimento capitalista- o das ondas longas de crescimento, na década de 60.
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O tensionamento das estruturas sociais do mundo capitalista gestou um quadro favorável para a mobilização das classes sociais subalternas em defesa dos seus interesses imediatos. Registram-se amplos movimentos para direcionar as cargas de desaceleração do crescimento econômico , mediante as lutas dos trabalhadores e as táticas de reordenamento dos recursos das políticas sociais dos Estados burgueses. Em tais movimentos, o conteúdo das demandas econômicas entrecuza-se com demandas sociais e culturais: começam a emergir reivindicações diferenciadas por categorias específicas( negros, mulheres, jovens), à ambiência social e natural ( a cidade, o equipamento coletivo, a defesa dos ecossistemas), a direitos emergentes ( ao lazer, à educação permanente, ao prazer), etc. 
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Esses movimentos põem em questão a racionalidade do Estado burguês e suas instituições, e nas suas expressões mais radicais, negam a ordem burguesa e seu estilo de vida. Recolocam em pauta as ambivalências da cidadania fundada na propriedade ( lógica capitalista) e redimensionam a atividade política , multiplicando seus sujeitos e suas arenas. 
As instituições e organizações governamentais e o elenco de políticas do Welfare State, vêem-se em xeque; seu universo ideal, centralizado nos valores da integração na sociedade aberta, sua aparente assepsia política formalizada tecnicamente é recusada, sua eficácia enquanto intervenção estatal é negada. 
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Esta efervescente contestação surge no meio profissional com base na convergência de três vetores:
A revisão crítica que se processa na fronteira das ciências sociais, levando à impugnação do funcionalismo, do quantitivismo e da superficialidade que impregnavam as ciências sociais e as instituições de Serviço Social;
O segundo vetor era o deslocamento sociopolítico de outras instituições cujas vinculações com o Serviço Social eram notórias: as Igrejas, a católica em especial nas discussões operadas na América Latina, com novas interpretações teológicas ( Teologia da Libertação), que justificavam posturas anticapitalistas e antiburguesas, provocando um reposicionamento político-social, durante o pontificado de João XXIII.
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O movimento estudantil, que dinamiza, no molde particular da contestação global, na reprodução da categoria profissional, nas escolas de formação.
O chamado movimento de reconceituação do Serviço Social é parte do processo de erosão do Serviço Social tradicional. É no marco da reconceituação que pela primeira vez, de forma aberta, o Serviço Social vai recorrer à tradição marxista.

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