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Sistemas Interpretativos de Hermenêutica Jurídica

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OS SISTEMAS INTERPRETATIVOS
Sistema Dogmático
A tese fundamental dessa escola é a de que o Direito é revelado pelas leis, sendo um sistema sem lacunas reais. Assim, o verdadeiro jurista deve procurar dentro da lei positiva as respostas para solução dos casos concretos. Surge, neste contexto, a ideia de uma dogmática conceitual, sendo dever do jurista ater-se ao texto, sem procurar soluções estranhas a ele (REALE, 2002, p. 415-416). A jurisprudência conceitual dava, portanto, mais atenção aos conceitos, aos preceitos jurídicos, esculpidos na lei, do que às estruturas sociais às quais os conceitos se destinam.
Na realidade, esta foi uma estratégia utilizada pela classe então dominante para abolir os privilégios e prerrogativas da nobreza e do clero, substituindo o direito divino pelo direito fundado na “vontade geral”, ratificada por um contrato social. Com isso se pretendeu declarar a igualdade de todos perante a lei, assim como se buscou fixar todos os direitos pela lei.
A Escola da Exegese, portanto, tem como uma de suas principais características o fetichismo da lei, uma vez que esta exsurgiu a um plano tão alto que passou a ser entendida como única fonte do direito. Além disso, todo o direito positivo foi reduzido à lei, que deveria ser interpretada segundo processos lógicos formais adequados (REALE, 1996).
Neste sentido, costuma-se dizer que a interpretação deveria ser entendida como um trabalho meramente declaratório, por “admitir-se como indiscutível o princípio de que toda a evolução do Direito só poderia se operar através do processo legislativo, e jamais em virtude e uma contribuição integradora ou supletiva do interprete” (REALE, 2002, p. 416-417).
Sendo assim, o primeiro dever do interprete seria o de captar o sentido exato da lei, do ponto de vista sintático, uma vez que a lei seria uma realidade morfológica e sintática que deveria ser estudada do ponto de vista gramatical, para que o significado e o alcance da lei não fossem dados pelo arbítrio do interprete, mas sim pelo exame imparcial do texto (REALE, 1996). Ou seja, o método de interpretação gramatical era o mais utilizado pela Escola da Exegese.
Contudo, cada artigo da lei situa-se num capítulo, este num título e assim por diante. O valor de cada dispositivo da lei depende de sua colocação sistemática, sendo necessário, portanto, a utilização do método de interpretação lógico-sistemático pela Escola da Exegese.
Não sendo o texto suficientemente claro, o que era uma exceção, a ordem era que se buscasse a “intenção do legislador”, através do estudo dos precedentes legislativos ou de acordo com a situação social do tempo (intenção presumida). Regra geral, contudo, o jurista cumpria seu dever primordial de aplicador da lei graças à interpretação lógica e gramatical, que possibilitava determinar qual seria a intenção do legislador (REALE, 1996).
Definição do livro do Limongi: O sistema dogmático representou uma síntese, causando a impressão que no Código de Napoleão continha todo o Direito de forma positivada. Dentro desse sistema, admite-se duas orientações:
i.	Extremada: o pressuposto geral dessa matéria é sempre o de que a lei é clara e que, portanto, os seus termos correspondem ao pensamento do legislador. Assim a missão do interprete é não reformar a lei, mas explica-la, devendo ainda aceitar os seus defeitos.
ii.	Moderada: alinha as regras para a interpretação das leis, em casos duvidosos, recomenda a interpretação sistemática, o exame dos trabalhos preparatórios, a ponderação das consequências das interpretações possíveis e, finalmente, a indagação do espírito da lei.
Definição do Pascarelli: Sistema dogmático é o baseado na tradição e nos costumes, utiliza as bases jurídicas tradicionais que já existem costumeiramente, com a finalidade de aplicar a segurança jurídica.
Extremado: para resolver qualquer problema jurídico a lei é o bastante, o ordenamento é suficiente. Esse modelo não serve para o Brasil.
Moderado: para solução de conflitos a lei não é o bastante, deve ser auxiliada pela jurisprudência e pela doutrina que já existe e que são aplicadas com constância, tornando-se tradicional. Esse modelo é o mais eficaz para o Brasil.
A desvantagem percebida nesse sistema é que gera o engessamento do direito, é um sistema que não se renova, apenas matem uma realidade já existente, dificultando a transformação e a evolução necessária ao direito, não se inova.
Sistema Histórico-Evolutivo
No que se refere à Escola Histórica, verificando o desequilíbrio entre a lei e a realidade, procurou-se dar maior elasticidade ao Código, propondo a ideia de que a lei seria uma realidade histórica, que se situava na progressão do tempo. Esta é a posição de Savigny, o expressivo representante da Escola Histórica, para quem tanto o direito quanto a linguagem surgiram de maneira anônima, atendendo aos interesses múltiplos no “espírito do povo” (REALE, 2002, p. 422).
Para Savigny, a lei nasce obedecendo a certos ditames e determinadas aspirações da sociedade, sendo o seu significado mutável, uma vez que não deve ficar restrita às suas fontes originárias, mas sim deve acompanhar as modificações sociais. Dito de outra forma, para interpretar o jurista deveria estudar as fontes de que emanaram a lei para descobrir qual a mens legislatoris, contudo sua atitude não deve estar restrita a essa investigação, sendo necessário descobrir qual teria sido a intenção do legislador se no seu tempo houvesse os fenômenos que causam as atuais questões jurídicas.
Desta forma, pretendeu Savigny trazer para o debate jurídico outro importante elemento, desconsiderado pela Escola da Exegese, qual seja: a eficácia. Seu temor, portanto, justificava-se na ideia de que um Código prematuro poderia ser dotado de validade e vigência, mas ser destituído de eficácia, uma vez que não correspondesse ao “espírito do povo”, que se manifestaria principalmente através de regras de caráter consuetudinário (costumes). Desta forma, só seriam leis verdadeiras as que traduzissem as aspirações autenticas do povo (REALE, 2002, p. 423).
Dentro desta concepção, o costume seria a expressão autentica da consciência jurídica do povo, sendo o costume superior à lei, uma vez que esta é formulada por um legislador que lhe empreenderá seus sentimentos pessoais, subjetivos. Sendo assim, pode o costume revogar a lei positiva ou modificá-la (LIMA, 2002, p. 227)
Definição do livro do Limongi: Distinguindo os quatro elementos básicos da interpretação (gramatical, lógico, histórico e sistemático), afirma que estas não são quatro espécies de interpretação, mas operações distintas que devem atuar em conjunto. Para fazer uma interpretação histórica-evolutiva, devemos nos apegar a dois princípios, primeiro que devemos observar a expressão do pensamento do legislador, segundo que devemos correlacionar essa lei com todo o complexo das relações históricas e dogmáticas, concernentes ao esclarecimento desse ponto particular. A utilidade prática desse princípio se revela perfeitamente compatível com a pureza dos princípios, de se interpretarem as normas jurídicas de acordo com as necessidades da vida social.
Definição do Pascarelli: Sistema histórico-evolutivo é aquele que estuda a lei desde a origem, como a sociedade alterou essa origem e as necessidades da sociedade. Ex.: União estável; Casamento gay; Divórcio, etc. Defende que esse sistema é intelectual e complexo, pois necessita unir muitos estudos sobre a matéria e estuda as maneiras de como integrar a nova regra à sociedade (impacto no ordenamento). Há um nível de transformação, saindo da tradição e se transformando de acordo com a nova realidade social.
A principal desvantagem desse sistema é que o Direito tem que sempre se atualizar para se adequar a realidade social atual, transformando constantemente a realidade jurídica que já existia, a fim de adequar a nova realidade.
Sistema De Livre Pesquisa
Tendo fundamento semelhante ao sistema histórico-evolutivo, objetivou remediar os males do positivismo exegético, diferenciando-se,contudo, em relação aos meios utilizados para tal fim.
Seu maior representante, François Gény, defendeu que a lei positiva não contém muitas vezes a solução para o caso concreto, sendo necessário fazer uso de fontes suplementares do direito, quais sejam: o costume, a autoridade e a tradição, desenvolvidas pela jurisprudência e pela doutrina, e a livre investigação (SICHES, 1976, p. 23).
Verificado, porém, que a lei em sua pureza originária não corresponde mais aos fatos, deve-se reconhecer a presença de lacunas na obra do legislador. As lacunas devem ser suprimidas através do uso da livre investigação científica, que também deve ser instrumento utilizado quando o direito positivo der mais de uma solução possível para o caso concreto. A livre investigação é científica, não estaria presa, portanto, ao direito positivo.
Note-se, contudo, que a livre investigação só é possível quando da ausência da lei, ou seja, nos casos de lacunas no ordenamento jurídico. Nos casos de obscuridade, o interprete deve fazer uso do costume, da jurisprudência e da autoridade, sendo a livre interpretação, portanto, o último recurso de que pode se valer. Ou seja, Gény ainda mantém o pressuposto de que o objetivo da interpretação é encontrar a vontade do legislador.
A livre investigação científica não pode ser vista como uma manifestação subjetiva dos valores do juiz, mas como um necessário trabalho científico com base na observação dos fatos sociais, observação essa limitada pela pelas leis existentes. Significa que o trabalho de pesquisa só inova na medida em que integra e completa o sistema existente, mas sem lhe alterar o significado fundamental.
Definição do livro do Limongi: O sistema da livre pesquisa possui o mesmo fundamento do sistema histórico-evolutivo, com o mesmo objetivo de remediar os males do dogmático jurídico. Diferencia-se em relação aos meios que se vale, pois apresenta, ao lado da lei, outras fontes jurídicas portadoras de vida autônoma, dando lugar a um novo direito. Possui duas vertentes:
Romântica: a livre criação de cunho romântico não se trata propriamente de um sistema científico, mas de uma atitude antijurídica que, se generalizada, comprometeria a paz e a segurança públicas.
Científica: uma interpretação verdadeiramente científica, que ainda se subdivide em extremada e moderada, sendo que a moderada foi consagrada com o texto da lei positivado.
Definição do Pascarelli: o sistema de livre pesquisa é um sistema de criação de um novo direito. O direito ainda não existe para que seja considerado dogmático ou histórico-evolutivo, ainda será criada a regra. Ex.: Código ambiental. Admite duas subclassificações:
Romântica: não possui base científica em nenhuma outra área da ciência, é, portanto, super problemática.
Científica: com base na ciência geral para criar a regra jurídica (Biologia, Sociologia, Medicina, etc.)
A desvantagem principal desse sistema é que a regra não é criada pelo Poder Legislativo, mas pelo judiciário que se deparou com uma situação jurídica inusitada que não tinha previsão no ordenamento. Caso Concreto: descoberta de uma judoca na equipe feminina, mas que possuía muitas características masculinas, o que levou a questionar a permanência dela na equipe. O caso foi levado a juízo, onde requereram exames, para prolatar uma sentença com fundamentos científicos, com o resultado dos exames constataram que se tratava de uma “hermafrodita”, situação nova para a ciência e para o ordenamento. Após profundas pesquisas, chegaram a conclusão que, por uma mínima diferença, a predominância era de hormônios femininos, e o juiz assim decidiu que a judoca permanecesse na equipe.

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