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aula 02 Poder Judiciário X Arbitragem

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Poder Judiciário X Arbitragem. 
Profa. Fernanda Macedo 
Poder Judiciário- Conceito
Poder Judiciário é um dos três poderes clássicos na tripartição do Poder uno estatal, com função maior de guarda da Constituição, além de administrar todo o corpo da Justiça, com finalidade de preservar os princípios da legalidade e igualdade, pela necessidade jurídica da pacificação social.
Vantagens
1- O Estado como provedor da resolução do conflito:
Sendo o Poder Judiciário um órgão do Estado ao decidir sobre um conflito, intrinsicamente tem em vistas a pacificação social baseado nos conceitos da segurança jurídica e a ampla defesa dos cidadãos. 
Há décadas de trabalho na construção de um cenário que reflete toda a evolução do estado democrático de Direito, algo que já está mais amadurecido frente a arbitragem. 
Vantagens
2- PODER DE COAÇÃO.
O Poder Judiciário , como órgão do Estado está autorizado a se valer do poder coercitivo a fim de cumprir as decisões judiciais, sempre dentro dos limites legais. Esse poder coercitivo não pode ser utilizado pelos cidadãos comuns, por ser reprimida a violência. As decisões arbitrais não podem ser executados de forma coercitiva, senão através do Estado- Juiz. 
 
Vantagens
3- POSSIBILIDADE DE RECURSO DAS DECISÕES
Em que pese o duplo grau de jurisdição seja um princípio implícito no cenário constitucional a doutrina majoritária entende –o como base constitucional que garante ao cidadão o direito de recorrer da sentença, sendo, em regra, a instâncias superiores formadas por colegiados de juízes. 
Na arbitragem as sentenças são irrecorríveis . 
Vantagens
4- Princípio da imparcialidade
No Poder Judiciário dada a distribuição aleatória dos processos, garante , em tese, a igualdade dos julgamentos e a imparcialidade do julgador. 
No processo arbitral, a escolha do julgador pelas partes pode ser benéfica no sentido da confiança e da especialização, mas também pode trazer parcialidade em alguns casos.
DESVANTAGENS
1- A não escolha do julgador: 
Efetivação do principio do juiz natural –art. 5º, incisos LIII e XXXVII da Constituição.
O art. 285 do Código de Processo Civil, por exemplo, dispõe que: "A distribuição, que poderá ser eletrônica, será alternada e aleatória, obedecendo-se rigorosa igualdade“
Dessa forma, diferentemente da arbitragem, não há escolha do(s) julgador(es), não permitindo que as partes previamente estabeleçam uma relação de confiança; 
DESVANTAGENS
2- FALTA DE EXPERTISE DO JULGADOR
Não podendo as partes escolher o julgador, há determinados casos que são julgados por quem detém conhecimento jurídico, mas não de fato sobre o objeto em discussão. 
Por exemplo , aqueles que necessitam de um julgamento técnico e negocial ou com base na equidade não encontrarão guarida na via judicial;
DESVANTAGENS
3- DEMORA NA ENTREGA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL 
Um dos piores problemas enfrentados pelo Judiciário brasileiro é a morosidade processual. 
DESVANTAGENS
4- Excesso de burocracia
 Os processos judiciais possuem muitos entraves. Excesso de decisões interlocutórias do juiz, as possibilidades recursais das partes e as várias consequências negativas de uma sobrecarga de ritos burocráticos. Falta de racionalização dos meios judiciais de solução de conflitos. 
ARBITRAGEM
“ Arbitragem é uma forma extrajudicial de solução de controvérsias referentes a direitos patrimoniais disponíveis, em que as partes elegem um terceiro independente e imparcial - o árbitro -, para dirimir a controvérsia.” 
Fundamento - Lei nº 9.307 de 23.09.96
ARBITRAGEM
A decisão proferida pelo(s) árbitro(s) é obrigatória, não cabendo, em regra, o duplo grau de jurisdição. Há, porém, a possibilidade de interposição de recurso semelhante aos embargos de declaração, visando a esclarecimentos ou correção de erro material, conforme art. 30 da Lei nº 9.307/96, e a possibilidade de pleitear ao Judiciário a declaração de nulidade da sentença arbitral (art. 33), nos casos previstos no art. 32 da referida lei.
VANTAGENS
1- FLEXIBILIDADE DE ESCOLHA QUANTO À FORMA E AO TIPO DE ARBITRAGEM
Pelo princípio da autonomia da vontade, as partes são livres para decidir, por exemplo, se as regras da arbitragem serão estabelecidas por uma instituição ou de forma ad hoc, por elas próprias. 
As partes podem decidir se utilizarão regras de direito ou equidade, ou seja, de acordo com o que os árbitros considerem justo, sem necessidade de regramentos legais. Ressalta-se, porém, que, independentemente das regras decididas para a arbitragem, não pode haver violação aos bons costumes e à ordem pública - art. 2º da Lei nº 9.307/96; 
VANTAGENS
2-ESPECIALIDADE DO ÁRBITRO E CONFIANÇA DAS PARTES
As partes podem escolher um ou mais árbitros, sendo pessoa(s) capaz(es) e com base na confiança - art. 13 da Lei nº 9.307/96. 
O árbitro poderá ser escolhido com base na sua expertise em resolução de conflitos relacionados a contratos de grande vulto ou à área petrolífera;
VANTAGENS
3-CELERIDADE
Tendo em vista que contra a sentença arbitral, não caberá uma segunda análise de mérito, isso acarreta a redução do tempo de duração do processo. Assim, a arbitragem baseia-se, sobretudo, no princípio da irrecorribilidade das sentenças arbitrais;
VANTAGENS
4- SIGILO 
Diferentemente do Judiciário, em que o processo e os julgamentos são, em regra, públicos - art. 93, IX, da Constituição Federal -, as partes, com base no princípio da autonomia da vontade, podem utilizar da confidencialidade durante o trâmite do processo arbitral;
VANTAGENS
5- princípios do contraditório e da ampla defesa:
 Na arbitragem é garantida a observância aos princípios constitucionais do contraditório, ao passo que as parte devem tomar conhecimento da existência da ação e de todos os atos do processo arbitral e também a garantia do direito de manifestação e do contraditório, alicerçado na disponibilidade de todos os meios legalmente utilizáveis para provar o direito de cada parte no processo - art. 5º, LV, da Constituição Federal. Além desses princípios constitucionais, o procedimento arbitral deve respeitar os princípios da igualdade das partes, da imparcialidade do árbitro e de seu livre convencimento, conforme art. 21, parágrafo 2º, da Lei nº 9.307/96. A sentença arbitral que desrespeitar os princípios citados será considerada nula - art. 32, VIII, da Lei nº 9.307/96;     
VANTAGENS
6- equiparação da sentença arbitral a título executivo judicial
 com a promulgação da Lei nº 9.307/96, a sentença arbitral (antigo laudo arbitral) não precisa mais ser validada por um juiz de direito. Essa inovação garantiu atratividade à Lei de Arbitragem e trouxe celeridade aos processos arbitrais, à medida que, aliada ao princípio da irrecorribilidade das sentenças arbitrais, demanda tempo drasticamente inferior aos processos judiciais - art. 31 da Lei nº 9.307/96;
VANTAGENS
7- preservação do relacionamento contratual.
a escolha da arbitragem, por meio de uma decisão de árbitro(s) especialista(s) no assunto alvo da necessidade de pacificação, demonstra que as partes escolheram esse meio alternativo de resolução de conflitos visando à manutenção de um  relacionamento entre elas. A rapidez e a confiança nos árbitros permitem a possibilidade da preservação do relacionamento contratual;
DESVANTAGENS
1- falta de poder de coação.
 a arbitragem ainda depende do Judiciário para, no curso do processo arbitral, promover diligências que necessitam de coação para serem efetivadas - art. 22, parágrafo 2º, da Lei nº 9.307/96. Ademais, caso a parte não cumpra a sentença arbitral, será necessário que a outra parte recorra ao Judiciário para dar efetividade à decisão. Assim, os árbitros não possuem poder de coação, sendo necessário, caso a parte não cumpra voluntariamente as decisões, que a outra parte recorra ao Poder Judiciário;
DESVANTAGENS
2- risco de anulação por parte do Poder Judiciário
Caso o procedimento arbitral não cumpra as regras e os princípios estabelecidos pela Lei nº 9.307/96, há possibilidadede anulação da arbitragem - arts. 32 e 33 da Lei de Arbitragem. O Superior Tribunal de Justiça corrobora com o positivado na legislação, por meio do REsp 693219 / PR Recurso Especial 2004/0124717-5: "Não é possível a análise do mérito da sentença arbitral pelo Poder Judiciário, sendo, contudo, viável a apreciação de eventual nulidade no procedimento arbitral"
DESVANTAGENS
3- possibilidade de parcialidade dos árbitros
 na arbitragem, como o árbitro é escolhido pelas partes, há a possibilidade da escolha de árbitro parcial, prejudicando alguma das partes. Dessa forma, a parte prejudicada poderia recorrer ao Judiciário para anulação da sentença arbitral, nos motivos apresentados no art. 21, parágrafo 2º da Lei nº 9.307/96, acarretando perda de tempo e de recursos
DESVANTAGENS
4- possibilidade de custos financeiros maiores para determinados processos
a escolha da via arbitral em detrimento de partes amparadas pela justiça gratuita ou pelos atos processuais mais céleres nos Juizados Especiais (Lei nº 9.099/95) podem representar investimentos financeiros que sobrecarregarão as partes.
“A título de ilustração, vale trazer os cálculos do custo da instituição da arbitragem junto ao Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC): considerando-se uma arbitragem na qual a requerente indique aos seus pedidos o valor de R$2.000.000,00 (dois milhões de reais) e a requerida na resposta ao requerimento de instituição de procedimento apresente pedidos contrapostos que correspondam ao valor de R$100.000.000,00 (cem milhões de reais), aplicando-se a regra geral para cobrança de taxas de administração e honorários dos árbitros, considerar-se-á o valor em disputa total indicado pelas partes, ou seja, R$102.000.000,00 (cento e dois milhões de reais), de maneira que cada um dos litigantes deverá pagar, no total, o valor mínimo de R$488.600,00 (quatrocentos e oitenta e oito mil e seiscentos reais), sendo R$118.800,00 (cento e dezoito mil e oitocentos reais) devidos pela taxa de administração + R$367.800,00 (trezentos e sessenta e sete mil e oitocentos reais) relativos à remuneração do tribunal composto por três árbitros + R$2.000,00 (dois mil reais) referentes à taxa de registro (CENTRO DE ARBITRAGEM E MEDIAÇÃO DA CÂMARA DE COMÉRCIO BRASIL-CANADÁ, 2015)”. 
Tamires de Almeida Damásio Soares - Mestre em Direito Público (Esfera pública, legitimidade e controle) pela Fundação Mineira de Educação e Cultura - FUMEC, Minas Gerais (Brasil). E-mail: tamirames@hotmail.com Revista de Direito Administrativo e Gestão Pública | e-ISSN: 2526-0073 | Brasília | v. 2 | n. 1 | p. 37 - 55 | Jan/Jun. 2016. 
A ARBITRAGEM NO NOVO CÓDIGO DE 
PROCESSO CIVIL 
O art. 3º do NCPC indica que o projeto se encaminhou para a concepção majoritária: a arbitragem é, no Brasil, jurisdição. 
FREDDIE DIDIER:
O caput do art. 3º repete o enunciado constitucional que cuida do princípio da inafastabilidade da jurisdição: “não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito”. Nesse mesmo artigo, o legislador acrescentou um § 1º, que está assim redigido: “§ 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei”.
Esse parágrafo possui dois propósitos, um ostensivo e outro simbólico.
a) Ostensivamente, serve para deixar claro que o processo arbitral se submete a um microssistema jurídico, previsto em lei extravagante, servindo o Código de Processo Civil como diploma de aplicação subsidiária.
b) Do ponto de vista simbólico, relaciona a arbitragem ao princípio da inafastabilidade da jurisdição, de modo a evitar discussões sobre se a escolha pelo juízo arbitral, com a impossibilidade de discussão do mérito da sentença arbitral, é proibida constitucionalmente.
A ARBITRAGEM NO NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Influencia do NCPC no procedimento arbitral. 
1) previsão do segredo de justiça em todos os procedimentos judiciais relacionados à arbitragem, inclusive no cumprimento forçado de sentença arbitral, desde que tenha sido estipulada a confidencialidade no procedimento arbitral (art. 189, IV). 
2) disciplina da carta arbitral, a fim de que órgão do Poder Judiciário pratique de ato objeto de pedido de cooperação judiciária formulado pelos árbitros, como a condução coercitiva de testemunhas ou a busca e apreensão de documentos (art. 237, IV)
3) uniformização do regime jurídico da convenção de arbitragem, passando a haver previsão expressa, tanto para a convenção de arbitragem, como para a cláusula compromissória, de que tais matérias não podem ser conhecidas de ofício pelo juiz (art. 337, § 5º)
4) previsão de que o processo judicial deve ser extinto, sem resolução de mérito, não apenas quando o juiz considerar presente a convenção de arbitragem alegada pelo réu em contestação, mas também na hipótese em que o juízo arbitral já reconheceu sua competência (art. 485, VII). Trata-se de decorrência do princípio da competência-competência, contemplado pelo art. 8º, parágrafo único da Lei nº 9.307/1996,segundo o qual incumbe ao árbitro apreciar sua própria competência
5) previsão de interposição imediata de agravo de instrumento contra a decisão que rejeitar a alegação de convenção de arbitragem (art. 1.015, III); e
6) alteração da Lei nº 9.307/1996, para prever de forma expressa a impugnação (em vez dos antigos embargos de devedor, anteriores à Lei nº 11.232/2005, que reformou a execução dos títulos judiciais) como via adequada para o executado questionar o cumprimento forçado da sentença arbitral (art. 1.061).

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