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"" 1. O CARÁTER HISTORICO DAS MIGRAÇOES INTERNAS Como qualquer outro fenômeno social de grande significado na vida das nações, as migrações internas são sempre historicamente condicionadas, sendo o resultado de um processo global de mudança, do qual elas não devem ser separadas. Encontrar, portanto, os limites da configuração histórica que dão sentido a um determinado fluxo migratório é o primeiro passo para o seu estudo. Ravenstein, 1 por exemplo, estudou as migrações internas na Grã-Bretanha, no contexto da revolução industrial. Suas "leis da migração" dificil- mente se aplicariam às grandes migrações dos povos germânicos que puseram fim ao Império Romano ou às migrações dos ame- ríndios do norte ao sul do continente, no período pré-colombiano. No entanto, elas se aplicam razoavelmente às migrações do campo à cidade de numerosos países em processo de industrialização, inclu- sive vários da América Latina. Isso leva a formular a hipótese da existência de tipos historicamente definidos de migrações, con- dicionadas pela industrialização. A análise do processo de industrialização mostra, no entanto, que o seu caráter tem sofrido modificações profundas, que levam a distinguir pelo menos três modalidades de industrialização: a) a Re- volução Industrial "original", que começou no século XVIII, na Inglaterra e rapidamente se expandiu na Europa Ocidental e Central e na América do Norte, da qual resultou o sistema econômico dos países capitalistas desenvolvidos de hoje em dia; b) a industrialização dos países de economia centralmente planejada, iniciada na União Soviética com o Primeiro Plano Qüinqüenal (por volta de 1930) e que hoje tem lugar em vários países da Europa Oriental, Ásia e América (Cuba); c) a industrialização em moldes capitalistas, igualmente recente, das ex-colônias européias da América Latina, Preparado, originalmente, para o Grupo de Trabalho sobre Migrações Internas da Comissão de População e Desenvolvimento do CLACSO _ Con- selho Latino·Americano de Ciências Sociais. 1 RAVENSTEIN, E. G. - "The Laws of Migration", [ournal of tbe Royal Statistical Society, XLVIII, Parto 2 (June, 1885). Economia Polltlca da Urbanhação 31 It~11 'Á(ri R. Uma primeira questão importánte a examinar, por- IOIHo ( fi que medida diferentes modalidades de industrialização « Ildj'í narn Ou não tipos correspondentemente diferentes de fluxosIIIiAr Ilórios. INDUSTRIALIZAÇÃO E MIGRAÇÃO O processo de industrialização não consiste apenas numa rnu. IInça de técnicas de produção e numa diversificação maior de pro- JUl S, mas também numa profunda alteração da divisão social do trabalho. Numerosas atividades manufatureiras, que antes eram mbinadas com atividades agrícolas, são separadas destas, passando a ser realizadas de forma especializada em estabelecimentos espacial- mente aglomerados. A aglomeração espacial da atividade industrial se deve à necessidade de utilização de uma mesma infra-estrutura de serviços especializados (de energia, água, esgotos,transporte, comu- nicações erc.) e às economias externas que decorrem da complemen_ taridade entre os estabelecimentos industriais. Para reduzir os custos de transporte que consubstanciam estas economias externas, as em- presas que realizam intenso intercâmbio de mercadorias tendem a se localizar próximas umas às Outras. Surge daí a cidade industrial. Uma vez iniciada a industrialização de um sítio urbano, ele tende a atrair populações de áreas geralmente próximas. O cresci- mento demográfico da cidade torna-a, por sua vez, um mercado cada vez mais importante para bens e serviços de consumo, o que passa a constituir um fator adicional de atração de atividades pro- dutivas que, pela Sua natureza, usufruem de vantagens quando se localjzam junto ao mercade> de seus produtos. Tal é o caso das in- dústrias de bens de consumo não durável, dos serviços de consumo coletivo (escolas, hospitais etc.), de certos serviços de produção (comércio varejista) e assim' por diante. As cidades que acabaram por se industrializar foram, geral- mente, aquelas que já tinham relativa expressão urbana por terem sido antes importantes centros comerciais. Tais centros, quase sem- pre, já POssuíam parte dos serviços de infra-estrutura que a indústria necessitava. A industrialização, por sua vez, fez surgir uma grande variedade de novos serviços (de educação, de pesquisa científica, governamentais, de finanças, contabilidade etc.) além de fazer crescer enormemente muitos dos já existentes. Sendo os serviços atividades que têm que ser executadas junto aos usuários, a cidade acabou sendo o lugar onde todas estas atividades passaram a se realizar. Houve inclusive a transferência à cidade de numerosos serviços que . N .edade pré-industrial' rurais l a SOcl 0111' rarn executados em areas té o mercado onde ele mesmo :','";~~d~ni~,~::;:'~~:~',~Ufer,:~d;:~~ili"~;m'i,~:~1:'~;6;':~';':~~~ ;I v ida dos da saúde sao providos por . os assam a ser prestados:d~;~d:Com a industrialização, estes :e1 v~;tir Pde uma base urbana. por estabelecimentos espe~Ializad~s~d d~s do campo à cidade ~arece Toda esta transferênc~a Ade.atl~I 1~C;da produção industrial: a "r motivada por uma eXIg.er:Cla tec~ ue se traduz em s~a. urb_a- 1\ lomeração espacial das atlvI~~~i~~ de ~ua crescente especI~h~tça~ nizacão - parece ser um tarid d Há que acrescentar ain ~ 1. > plernentari a e. a especIa 1-e conseqüente com 1 de produção que torna b I . imenso crescimento das esc~ aI e leva ao sdrgimento' de est~ e .ecI- zação economicamente rentave i antismo das unid~des pr~ utIva~ mentos de. grande porte. m~ c;n~entração espacial ainda mais a~enacarreta, evidentemente, u . tuada. . _es internas (sem falar das Interna- Neste context~, as mIgri,ço arte ser explicadas do m~sm? cionais, que poderiam, em. o~e Pum ~ero mecanis:n0 de ;:dlstn- d ) não parecem ser mars q d t em última analise, ao mb~ ~ espacial da população que se a Aap.a, Os mecanismos de uiçao d (idades economicas. . tos rearranjo espacial a~ a. IV ientam os fluxos de inveAstI:nen , mercado que, no capitalismo, or. os incentivos economicos .as ' cidades e ao mesmo tempo ctlfan: mais que exprimir a racio- as , idade não anam .t iria amigrações do campo:: c. 'ro resso técnico que CO?Stl u nalidade macro-eCO?o:nIc~ do T~l ~terpretação faria derivar o pr,o- essência da i~~us~rrahz~pç~f~ industrialização, sem que aI caracpt~~!i cesso migrat~t1o. a pr? »Ó» da mesma tivessem qua quer _ ticas institucionais e históricas Vale a pena, no en~anto, :x~ na determinação daquele, p~oces~ofl em no processo de industrialí- minar como tais caractensticas rn ~ rações não passam de conse- - ver se realmente as mI~ . zaçao para 'f da mudanca tecnica.qüências demogra ícas > CAPÍTALISMO E MIGRAÇÃO 3. . dão em geral, ênfase à deter- As teorias econômicas corr~ntes d 'mercado ocultando, desta 1 mecanismos e , e de-minação dos preços pe os . I - "política" dos preços qu neira a considerável rmnipu açao h m papel fundamental na ma, . a desempen ar u bi Grãsempenhou e continua . 1. tas O livre cam ismo na _1· - moldes capita IS . . rtante noindustria izaçao em d f i um instrumento irnpo -Bretanha do século passa. o. _o. ernacional de trabalho q.ue per- sentido de promover umb3 ~lvIsa~ I~~stos de produção, mediante a.. . ultaneamente lIxar onutra SIm . Política da Urbanização 33Economia livre importação de alimentos e ma ' . . ~?dos externos da indústria incrlesa.tet1~s-pnmas, .e ~mpliar os mer- IlO, p~s~o em prática pela AI~manh! a o proteciomsmo alfandegá- necessario para que a indú . d e pelos Estados Unidos fOI' do suoeri ustria estes p , d 'o superior poder de competição da G _ aises pu e~s~ se defender X I;X'. o des 7 nvolvimento do mercado ra-Br~ta~h~. Ainda no século anornma fOI um elemento . de capitais a base da sociedade : I Importante par ducãcaprta para as empresas _ a a re uçao do curso do T' em expansao.Nos países que chegaram tarde à . . I~.ção dos preços para favorecer a i corn?a. m~ustrial, a manipu- direta c, por isso mais ób I' A ndustrialização tornou-se mais . dú ' v a. reserva d do ja m ustna nacional passou . o merca o Interno para tax favoreci a ser garantida p . da fi caxas avorecidas de cârnbi I E d or mero a fixação de. _ d o pe o sta o e .Síça? . e quotas de importações O b ,multas vezes, pela impo- ausencia de um mercado de ca 'itais a~a~eamento do capital, na passou a ser assegurado medi Pt sU!I~lentemente desenvolvido, ou mesmo negativos e sub ídi ande o crédito estatal a juros bai xos f de i SilOS e toda ' . .. 'a orrna e Isenções fiscais T bé espécie, principalmente sob a s~r, subsidiado indiretam~nt:~led~ o cus7 da ~ão-de-obra passou sociais _ de saúde, seguro social laJte 0_ orn~Clmento de serviços --:- em parte ou inteiramente a~: ucaçao, alimentação, habitação amda. a extensa série de servFçog d p~lof Estado. É preciso referir enercrla ' sem ra-estrut . b' agua, esgotos, cornunicaçõ f .ura - transporte preços subvencionados. oes - ornecidos às empresas a A industrialização em molde . r, processo espontâneo r . s caplta,lstas está lonze de ser um , .. . ' p ornovido excl '"iniciatrva de "entrepreneurs" d usivamente pelo espírito de di . mova ores El 'me iante arranjos institucionai '. a so se torna possível a acumulação do capital e d lS que permitem, de um lado acelerar lável às empresas que in~oro outro, encaminhar o exceden;e acumu- pr.odução. Como' foi visto !o:am = n,ovo,s m.éto~os industriais de' a industrialização nem' sem' .:ranJos msntucronais que promovem d presao os mesmo d d d reza, o contexto histórico' a . " s, _ epen en o sua natu- um tipo de política de comérci industrialização britânica requereu l _CIO externo (li' bique a a ema e a americana e . . "re-cam isrno ) ao passo N- b xigiram outra o t ( .ao o stante, a intervenção I' . . I' pos a protecionismo ) P indí I' . nstrtuciona n . A • •rescin ive a industrialização ca 'r o Jogo econormco é irn- multiforme e direta na did pita ista, tornando-se mais ampla _ me I a em que 'centraçao do capital tornam .. o avanço tecnológico e a con- s!c~s de mercado como regula~~;~s lâoPyant:s os mecanismos clás- nçao da renda. a a ocaçao de recursos e repar- A Os a~ranjos institucionais que influe tem por fim tornar as empresas ind ~. sOlbre o~ preços relativos.. ustrrais ucrativas, aumentando 34 Paul Slnqer \.la participação na renda. Mas deste modo se favorece também a , ncentração do capital, pois as mesmas medidas institucionais debi- litam as atividades não favorecidas. Assim, por exemplo, na medida .m que o governo subsidia (direta ou indiretamente) certas ativi- lades industriais, a carga fiscal sobre o conjunto das demais ativi- dades se torna mais pesada, Na medida em que o governo controla os preços dos alimentos, os termos de intercâmbio entre cidade e campo vão se tornando cada vez mais desfavoráveis ao campo, E assim por diante. O progresso técnico e a concentração do capital são duas ten- dências que se alimentam mutuamente. O progresso técnico requer escalas cada vez mais amplas de produção, proporcionando deste modo vantagens às empresas maiores. Estas, por sua vez, tratam de acelerar ao máximo o progresso tecnológico, na medida em que uma oferta abundante de capital (proporcionada pelo subsidiamento esta- tal e/ou pelo aperfeiçoamento do sistema financeiro) torna econo- micamente vantajosa a substituição de trabalho por capital. É ine- gável que a concentração do capital é uma condição necessária ao progresso tecnológico, mas é inegável também que o quadro insti- tucional apropriado à industrialização capitalista leva a uma concen- tração do capital ainda muito maior,2 ao favorecer uma :lcumuhção do capital em escala geométrica dentro das empresas e ao permitir que, nos períodos de baixa conjuntural, as empresas maiores absor- vam um grande número de empresas médias e pequenas. Do ponto de vista puramente tecnológico, os modernos métodos de produção exigem o crescimento do estabelecimento c uma cres- cente coordenação entre os estabelecimentos, a qual supera os limites da ação rotineira dos mecanismos de mercado. O quadro institu- cional do capitalismo monopolista provê os meios pelos quais se pode dar esta coordenação pelo crescimento da firma, que assume a forma do "conglomerado", cujo tamanho é determinado antes pelas necessidades de valorização do capital do que pelas do processo produtivo enquanto tal. Sem insistir mais neste assunto, já bastante discutido na litera- tura econômica corrente, é preciso considerar que a concentração do capital e a concentração espacial das atividades possuem, no capi- talismo, um nexo causal comum. Assim como a concentração do capital tende a ultrapassar os limites mínimos impostos pela recno- 2 BAIN, J, (Barriers to neui Competition, Cambridge, 1965) demons- trou que, nos Estados Unidos, em numerosos ramos industriais as maiores empresas possuíam tamanho várias vezes maior. que o "mínimo tamanho ótimo", Eçonom\apolítica da Urbanização 3S log~a industrial, a concentração espacial também te d . maior que a decorrente das n id d ,. n e a ser multo d . eceSSI a es tecnic d .. utrvo. A razão básica d t as o processo pro-• es a concentração e . 1 da é as empresas unicamente usufruem a spaCIa exagera a e que passo que as deseconornias d s e.conomIas de aglomeração, ao_ " o congestionamento e d . sao suportadas pelo conjunt d . d d o esvaziamento. o a SOCIe a e em p ti 1 1 ses mais pobres. Isto se dá d .d ' ar ICUar pe as elas- cionais que criam condições ap ev~ .0 a?s. r:lesm?s .arranjos institu- prática, isentam as empresas :f:Ic~as a in ustrialização e que, na lidades do processo de ind tri lS'on~s decorrentes das irraciona- d us na izaçao Os e 1'1 . este fato podem ser multipli d " d xemp os. 1 ustratívos d . ica os a vonta e Ad it me Ida em que aumenta a densid d d . _ m e-se que, na mica do espaço urbano as" t 'dade e ,oc~paçao humana e econô-. ' au ort a es públicas 10 . - 1" d a Inverter somas crescentes na am lia - d .cais sao so ICIta as rendo a soluções cada vez . p çao os serviços urbanos, recor- vadas, tratamento de esgotmosalsdcar~s:dtrens subterrâneos, vias ele- , . ' esvlO e correntes d" d di tanctas cada vez maiores etc C agua e IS- tais empreendimentos provê~ d~7~rfb fundos ~overnamentais para as empresas participassem na proporçã~to;' seria dâ s~ esperar que deste ônus. Acontece, o~ém ue o seu po en~ ~conômico, temente se beneficiam ~e i ''! f~eI?presas industriais freqüen- postos são indiretos d de ser iscais e que boa parte dos im- final. Além disso a' cPao,en. o dser pass~dos adiante, ao consumidor d ,renCIa os serVIços urb . . , o congestionamento recai sobr d an.os, SIntoma visível 1 _. ' e as cama as rnais p b d açao, pOIS o mercado irnobiliá . . o res a popu- servidas, que ficam deste mod~r~?re~~~~:dcae,? sol~ d~s, áreas melhor de mais recursos e ' s aos indivíduos dotados o esvaziamento de' ~tiv~dsaedmesPreesas~n~turalmente. 3 Por outro lado, , . conomlcas e de pop 1 - d . areas Implica num evidente d dí d u açao e muitas que habitações e equipamento~s~:r s~CIO. e r:cursos, na medi~a :m ou parcialmente e recursos nat . rvIÇOSsao abandonados mteira subutilizados H' ,urals - espaço sobretudo - são . a nestas areas também .d d de recursos humanos na medid um . eVI _ente esperdício não é seguida imedi;ta e plen a em quela em~graçao das atividades P' A amente pe a emigração d 1 - orem, o onus resultante deste desperdício nã , a P?d PU açalo.ao e senti o pe as 3 Na medida em que o solo sobe de re .. . levadas a desconcentrar suas tivi d d P ço, as empresas industriais são da mesma área urbana mer:~~~ta es n? espaço. Mas elas o fazem dentro necessidades de serviço; urbano e bm~ iando o seu perímetro, pois suas e, algumas vezes, água _ são m~ito m:i:lCamentevias de transporte, energia necess!ta também de meios de transporte d modesta~ q,:e as d~ população, que de saude etc. Deste modo os terreno' ~ comu~ll~açao, serviços de educação, mais baixos que os residenciais s mdus~nals sempre alcançam preços aglomerações urbanas. ' mesmo quando situados na fímbria das grandes 38 Paul SInger .mpresas, pois elas são protegidas pelo quadro instituciona1 que re- distribui os encargos decorrentes da irracionalidade do sistema pelo 'onjunto da sociedade, atingindo de modo mais grave os grupOS "desajustados": os recém-chegados à cidade e os que se deixaram ficar para trás, nas áreas esvaziadas. É claro que qualquer processo de industrialização implica numa ampla transferência de atividades (e portanto de pessoas) do campo às cidades. Mas, nos moldes capitalistas, tal transferência tende a se dar a favor de apenas algumas regiões em cada país, esvaziando as demais. Tais desequilíbriàs regionais são bem conhecidos e se agravam na medida em que as decisões locacionais são tomadas tendo por critério apenas a perspectiva da empresa privada. É sabido que, em freqüentes casos, a localização que seria "racional" no sentido de minimizar os custos para a empresa apresenta várias alternativas economicamente equivalentes. A decisão adotada quase sempre, po- rém, é escolher a localização onde já é maior a urbanização. Esta decisão é geralmente devida a motivos subjetivos: o tipo de vida que a cidade grande oferece é mais atraente para os que tomam a decisão e que, muitas vezes, terão que morar na proximidade da nova empresa. Tudo leva a crer que a urbanização assume caracte- rísticas próprias no capitalismo, na medida em que este cinde as perspectivas micro e macro-econômicas, fazendo com que as decisões locacionais sejam tomadas apenas em função da primeira. A reação a: este estado de coisas tomou a forma das variadas tentativas de "desenvolvimento regional" cujo "modus operandi" é intervir mais uma vez no quadro institucional de modo a fazer com que o sistema de preços relativos reoriente os investimentos para novas regiões, tornando a distribuição das atividades no espaço menos heterogênea. 4. CAPITALISMO, DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MIGRAÇÕES INTERNAS . A criação de desigualdades regionais pode ser encarada como o motor principal das migrações internas que acompanham a indus- trialização nos moldes capitalistas. Como mostra Gunnar Myrdal,4 as regiões favorecidas não cessam de acumular vantagens e os efeitos de difusão do progresso se fazem sentir num âmbito territorial rela- tivamente acanhado. A população das áreas desfavorecidas sofre, em conseqüência, um empobrecimento relativo: o arranjo institucional 4 MYRDAL, G. _ Teoria Econ6mica e Regiões Subdesenvolvidas. cap, lH. Economia Política da Urbanização .37 faz com que participem do processo de acumula - beneficiar-se dos seus frutos A f çao sem que possam d . orma concreta com que t cesso e esvaziamento se manifesta de vari es e pro- circunstâncias locais e regionai E pOl e vayar, de acordo <com as especializa na produção d s. m a guns ugares, a economia see uma ou algumas po ' . . reproduzindo dentro dos países a dicotomia "d ucas mla:denas-pnmas, senvolvidos" que se nota n 1 . :senvo VI os x subde- matérias-primas se destinam ,o i Pd~no . Inter~aclOna}. Quando estas de "colonialismo interno" Ea n ustna l nacional, e costume falar-se tra à d di . _ .' m outros ugares, a economia se encon . margem a rvisao interregional do trabalho fechand b - SI mesma na base da r d _ . A '. • o-se so re medíocre anima uma de?bI·ol~çdao PbaarasulbsIstencIa, cUJO excedenteVI a ur na ocal. Em qualquer circunstância o ' I d .d d ~a~dcd baixo, ?S ~orizontes cul;urai~I~~ m:n;;m ace:r;dO!u~a~ãO per- l~~~rr: àess~~~~~Ç~~~a~ã;u~teeànexistem. Os fatores de expu1s~oo~c:~ decorrem da introdução de rel:s _ordens: fator~s 'de .mu.dança, que áreas, a qual acarreta a exp ~oe: ddeproduçao capitalistas nestas a re d -. ropnaçao e camponeses, a expulsão de p~r gobj~~iv;a~ce~~~e~t~u~:osp:;~~Ct~~i~:~e n;o fr~;~tários, tendo quente redução do nível de e "o ra a o e a conse- o dese?volvimento da criação ~~:~~ci~l ed~losu;es" na plnglaterra, Argentina a expro . - d ga o nos ampas da "p~rfiriat~" nM p:Jaçao )as terras comunais indígenas durante o festam sob a forn~:l~e etc. ; e fatores de estagnação, que se mani- uma disponibilidade de á~:a c~í~~c;nt.e pressãod popul~ci?nal sobrepela insuficiência fí.; d avers .q~e po e ser limitada tanto zação de grande p:'Cte~ de terra aproveitável como pela monopoli- , , a mesma pelos gr d . »Ó» Agreste no Nordeste brasileiro as comunid d an .ed,propnetanos (o peruanos e colombianos).' a es in igenas nos Andes Do ponto de vista econômico f d s,entido o~osto ao de estagnação. Os ~:to::~r~;Se IU e dmudanfça têm um dO própr d . u ança azem parte . 10 processo e Industrialização na medid atmge a agricultura trazend . rud 1 a em que este, o consloo mu ança d ' . conseqüência, aumento da produtividade do t s e tecmca e, em de estagnação resultam da inc p .d d d dabalho. Os fatores de subsistência de elevarem aap:~du~i:id:d/~o utores em economia mudança provocam um fl . d a terra. Os. fatores dauxo maCIço e emi - conseqüência reduzir o tamanho absolu graçao 9ue tem por fatores de estagnação I... ' . _to da populaçao rural. Os b' . !.\ .Im a emlgraçao de . t d lid do acréscimo populacion.il d .d '. __. par e ou a. to ta 1 ade puluçâo rural, cujo tama~bo ~b~olu~~ s~t~clI~c;nto vegetadtlvo da po- apenas vagarosainente. an em estagna o ou cresce 39 Paul Slnqer - A primeira vista, os fatores de mudança e de estagnação podem 1'111' cer análogos aos efeitos "propulsores" (spread effects) e "re- 1',1 .ssivos" (back\vash effects) de Myrdal (op. cit.). Na verdade, são 1\llalmente diferentes. Myrdal considera os efeitos que a concentra- ~:\ industrial em determinadas áreas têm sobre as demais. Os efeitos pl' pulsores irradiam o progresso para novas áreas, tornando-as áreas de imigração e não de emigração. Os efeitos 'regressivos esvaziam ns áreas que atingem, tornando-as economicamente decadentes. Os .Icitos de Myrdal explicam os desníveis regionais em ampla escala, no plano nacional (o exemplo por ele citado é o contraste entre o ul e o Norte da Itália), Os fatores de expulsão aqui analisados se referem especificamente às áreas rurais, que originam correntes migratórias mesmo quando são atingidas por efeitos propulsores. A utilidade dos conceitos de fatores de mudança e de estagnação está em mostrar que os efeitos propulsores tendem efetivamente a criar novos pólos de expansão que acarretam, não obstante, uma intensificação da migração do campo à cidade, ao passo que os efeitos regressivos, ao limitar a expansão da demanda por força de trabalho, dão lugar também a migrações, mas de tipo distinto, por razões e com conseqüências completamente diferentes, Em suma, os efeitos de Myrdal se referem ao movimento das atividades produtivas, ao passo que os fatores de expulsão se referem ao movimento de seres humanos. . A distinção entre áreas de emigração sujeitas a fatores de mu- dança e áreas sujeitas a fatores de estagnação permite v~sualizar melhor as conseqüências da emigração. As primeiras perdem popu- lação mas a produtividade aumenta, o que permite, em princípio, uma melhora nas condições de vida locais, dependendo do sistema de forças sociais e políticas que condicionam a repartição da renda. Já as segundas apresentam estagnação ou mesmo deterioração das condições de vida, funcionando às vezes como "viveiros de mão-de- -obra" para os latifundiários e grandes explorações agrícolas capita- listas. É sabido que as áreas de minifúndios, onde atuam tipica- mente os fatores sedimentares de estagnação, são muitas vezes a origem de importantes fluxos migratórios sazonais: numerosos tra- balhadores se deslocam para outras áreas agrícolas, onde participam dascolheitas e depois retomam à própria gleba. As regiões de emigração provocada pelos fatores de estagnação . soem ter elevadas densidades demográficas e, por isso, dispõem de considerável potencial de mobilização política. Quando este po- tencial é ativado, a reivindicação do "desenvolvimento regional" ganha expressão e tem, nas últimas décadas, levado numerosos go- vernos nacionais ao desenvolvimento de esforços deliberados no Economia política da Urbanização 39 sentido de encaminhar recursos úblic o oalgumas destas áreas De un f p os .l invesnmentos privados a 1 . o la orma gera os d " \iO V .mento regional" , .' programas e desen- d nos palses capital" t ' d d ' esenvolvirnento da infra-estr t d ISoas tem a o enfase aoLU ura e serVIço ' '. _ transporte energia com . _ s nas areas estagnadas . . ' ,umcaçoes etc Iereci incentivos econômicos ger 1 d ; - oe o o erecimento de empresas que se fixa~ ema tm.en~e e cara ter fiscal ou creditício, às . " aIS areas. Deste d dro Insti tucional e mais uma vez alt _ d . mo o, o qua ro msn- desequilíbrio criado pelo ,el~ o na tentatlv~ de se eliminar um tucionalmente condicio dPropno processo de industrialização insti- na 00 s=0~o a concentração espacial d . od ddustrialização capitalista e' o d e atrvi a ~s que resulta da in-. id ,Via e regra muit . d eXlW a pela tecnologia industrial ' o maior o que a volvimento regional" são ' . os, ~sforços em prol do "desen- Reproduz-se no entanto ' em pnnclplO, economicamente viáveis , , neste caso nas ireas f o . ~esmo fenômeno de concentra ã' .novas areas avorecidas, o industrialização capitalista lÇo esp~Clal urbana acarretado pela novas atividades produtiva no p an? ndaclOnal. A grande maioria das 1 o s, suscita as pelas m did d "d vo vimento rezional" acab 1 l' e 1. as e esen- ba o" a se oca izando em d' ur nas, desviando para estas os fl~x o ,~ma ou uas areas fatores de estagnação que antes se d~~~grator~os provocados por ~tapas, aos. grandes centros nacionais o ~\~~m, odiretamente ou por desenvolvimento regional" f '10 dISSO, é comum que oo 1 aCI ite a penetr - d . l' agncu tura das áreas a serem d lvid açao o capita ismo na, d esenvo VI as o q d cara ter os fatores de ex ulsão . '. ue ten e a mudar o e~tagnação, passam a ser ctnse üê;~~' originalmente cau~ados pela sideravelmente tais fluxos A 9- o d da mudança, avolumando con- d o irorua a sit - , feste modo o "desenvol . . uaçao esta no ato de que bidocom vimento rezional" 'o . 'ce 1 o com o objetivo d d o b .' que e originalmente con- o ifi , e re UZlr as migraçõ .mtensi icá-las, Cada nov " '1 d d b oe.s Internas, acaba por e~c~rta a distância perco~rid~o p~lo~ m~senvolvlmento" assim criado dições, acorreriam aos centro o ~rantes, que, em outras con- ib o s nacionais macontn UI para a concentraçã .' 1 d' .s, ao mesmo tempo.. , . ao reglOna e t .d d ' quencia, para a multiplicação do' d a IV~ a es e, em conse-numero e migrantes. 5. ~i~~~~1.r~~S INTERNAS FACE AO MERCADO Os f.atores de expulsão definem as árfluxos migratórios mas - f eas de onde se originam os. ,sao os atores de t -a orientação destes fluxos e ' , a raçao que determinam r < as areas as quai destios nr res de atração o o uais se estinarn. Entre t rnbnlho, ntendida est. m~ls Importante é a demanda por força de a nao apenas como da gera a pelas empresas 40 Paul Slngor industriais mas também a que resulta da expansão dos serviços, tanto dos que são executados por empresas capitalistas como os que são prestados por repartições governamentais, empresas pú- blicas e por indivíduos autônomos. De uma forma geral, interpreta- -se esta demanda por força de trabalho como proporcionando "opor- tunidades econômicas", que constituem um fator de atração na medida em que oferecem uma remuneração mais elevada que a que o migrante poderia perceber na área de onde provém. Há, naturalmente, uma série de obstáculos que se interpõem entre o migrante e a "oportunidade econômica". que, em tese, a cidade industrial lhe oferece: de um lado, nem sempre o migrante possui as qualificações necessárias nem a bagagem cultural exigida pelos novos empreendimentos; por outro lado, a insuficiência de recursos impede a determinado número de migrantes de alcançar êxito na luta competitiva que se trava dentro do mercado urbano de trabalho. Não é incomum, por exemplo, que migrantes já cheguem endividados, sendo obrigados a trabalhar durante certos períodos por baixo salário para pagar os custos da viagem. A questão que se coloca é saber se o fato de numerosos rni- grantes não serem absorvidos pelo mercado de trabalho se explica pela sua inferioridade econômica ou desajustamento face às condições requeridas pela economia industrial, ou se os fluxos migratórios suscitados pela industrialização capitalista tendem inerentemente a produzir, nas áreas urbanas, uma oferta de força de trabalho su- perior à demanda. Se a primeira hipótese for verdadeira, então o desequilíbrio entre oferta e procura de força de trabalho pode ser considerado transitório, pois os obstáculos que se antepõem à inte- gração do migrante no processo produtivo capitalista tendem a ser superados com o tempo, na medida em que o migrante passa por um período de aprendizado e aculturação no meio urbano. As pesquisas feitas em Monterrey e Cidade do México, por exemplo, mostram que o nível ocupacional e o de renda aumentam proporcionalmente ao período de permanência do migrante na cidade. 5 Se a segunda hipótese for verdadeira, no entanto, a "marginalização"do migrante (ou de grande parte deles) passa a ser um resultado necessário do processo de individualização capitalista. Na verdade, a economia capitalista não dispõe de mecanismos que assegurem proporcionalidade entre o número de pessoas aptas 5 GARCIA, Humberto Mu fioz, OLIVEIRA, Orlandina c STERN, Cláu· dio. Categorias de Migrantes Y NativOS y algunas de sus Caracteristicas 50- cioeconomicas: Comparaciones entre Ias Ciudades de Monterrey y Mexico (mimeografado ) o Economia política da Urbanh;(1ção 41 para o trabalho, que os fluxos mi ' . número de lugares de trabalho . d gratonos trazem_à cidade, e o tadas no meio urbano O ' cria ode pe~as novas atividades implan- di . numero e migrant . . expan Ir a oferta de força de t b lh . b es quecontribuí para temente, dos fatores de expuls.:a. a °f ur ano depende, predorninan- ,. d d ao. os atores de d .especie e esemprego tecn ló . , mu ança erram uma d d o OglCOna are a rural d di este esemprego uma fu - d ' sen o a imensão balho agrícola e da sua ensçpao. 01,au~ento da produtividade do tra-_ ecia rzaçao ao p f estagnaçao produzem um fI d ~ asso que os atores de d uxo e ernigraçã . 1 a taxa de crescimento v tati d ao cUJO vo ume depende bsi A • ege atrvo a popul - .su srstencia em confronto . açao em econorrua de demanda de força de trab lchoma ~uaddisponibilidade de terra. A b a o suscita a pela - d ur ana, por sua vez depend d expansao a economia 1 ,e a estrutura d d d . a~ue a economia e das técnicas a licad a eman a atendida por mma~ a produtividade física do fr b ~s em cadda r~mo, que deter- cadoria, a a o na pro uçao de cada rner- De acordo com a teoria econômi .. trabalho teria meios de equilib d ca cJnvenclOnaI, o mercado de balho mediante a variação d rar eman. a e oferta de força de tra- Assim, na hipótese de h o seu preço, isto é, do nível de salários. aver um excesso d f com a procura de força de traba ' ~ o er~a e:n comparação o custo do fator trabalh lho, os sal~nos baixariam, reduzindo . 1 o em comparaçaocapita , o que induziria as e . .. com o custo do fator. mpresas a utili ,. intensamente mão-de-obr· d d .. zar tecnicas que usam mais de força de trabalho torna~ndo q~e a ~1t1a uma elevação da procura no .entanto, geralm~nte não o~d~ual a of~rta. Este _tipo de solução, muito limitado devido aos bPt' tr. apl~cado, a nao ser de modoinden~zação ao~ despedidoso e~ca)u os, mst:tu~io~ais (salário mínimo, organizados. Concluem disso . e a. r~s.lstenCla dos trabalhadores que a "rigidez" do nível d °Is,~art1~anos da teoria convencionale sa anos e a . . 1 prego e subemprego que se manif pnncipa causa do desern-. am esta nas áre b ' nos quais ocorrem fortes mi - d as ur anas em países L . igraçoes o c "d d eWIS, por exemplo conclui to" ampo a C1 a e. Arthur. dú . ' que em suma lã . 1m ustrias modernas le .. ., sa anos e evados em d vam o setor tradicion 1 - . o exce ente de força de trabalho ., a a nao. mais preservar cado de trabalho' ao m e a jogá-Io abertamente no mero . ,esmo tempo o t dantes Importando máquin d ,se or mo erno se expande de gente. Este é provave::'~nt~ oque. eI?prlefgando mais uma porção prego ... " 6 pnncipa ator do crescente de sem- 6 L~WIS, W. Arthur - Un I . ture to Mld West Research Confcr::~ °'67tenbt 1n19D64evelofing Countries, Lec-, o er (mimeogr.). 42 Paul Slnqer É duvidoso, no entanto, que os salários demasiadamente eleva- I\OS na cidade sejam a mais importante causa da insuficiente absor- ,li de migrantes pelo mercado de trabalho urbano. O nível de ',alários é um importante fator que influi sobre a repartição da I nda. Uma redução do nível de salários causaria uma redistribuição regressiva da renda, diminuindo a participação das camadas mais pobres na renda em favor das camadas mais ricas, que obtêm seus rendimentos da propriedade ou de conhecimentos especializados. orno é sabido, a propensão a consumir dos pobres é muito maior que a dos ricos, de modo que uma baixa dos salários pode muito bem acarretar uma redução de consumo e, portanto, da demanda efetiva. Se isto acontecesse, o aumento da demanda de força de tra- balho decorrente da adoção de técnicas que usam mais intensiva- mente mão-de-obra poderia ser mais do que compensado pela redu- ção da demanda de força de trabalho causada pela queda do nível de atividade, devido à menor demanda global. O que parece acontecer, mais freqüentemente, no decorrer da industrialização capitalista, é que o nível de salário real se mantém constante ou cresce vagarosamente, porém menos que a produtivi- dade. A taxa de salários, isto é, a participação dos assalariados no produto, decresce. Em .outros termos, a maior parte do acréscimo de renda que resulta do aumento de produtividade do trabalho é apropriado pelos detentores do capital. É isto o que torna a eco- nomia capitalista dinâmica, do ponto de vista tecnológico, pois as empresas são estimuladas a aplicar mudanças tecnológicas sempre que o custo do capital (geralmente subsidiado, como foi visto) o permite. Desta maneira, a demanda por força de trabalho cresce menos que o produto, sendo a diferença o resultado da mudança técnica e, em certas circunstâncias, da mudança da composição do produto. O ponto relevante, nesta discussão, é que a procura de força de trabalho, na cidade, dadas as mudanças técnicas decorrentes da industrialização, é uma função do tamanho e da composição do produto gerado pela economia urbana. Quando as migrações são causadas por fatores de mudança, há um nexo causal, embora indi- reto, entre o volume de força de trabalho liberado pela agricultura e a clemanda pelo produto urbano. Quando a agricultura se torna capitalista, ela expande fortemente sua demanda por mercadorias ,oriundas da economia urbana: instrumentos de trabalho, insumo s industriais (energia elétrica, combustíveis, adubos químicos, inseti- cidas, rações etc.), bens de consumo industrializados e serviços (de transporte, comerciais, financeiros etc.) produzidos a partir da ci- dade. Aprofunda-se a divisão de trabalho entre campo e cidade, Ec:onomlapolítlc:a da Urbanlsação 43 o que tem por conseqüência um .b . aumento da dern d 1ur ano por parte da agricultura _ an a pe o produto num crescimento da procura ,~ue na;; pode deixar de refletir claro que esse nexo causal en~or ~rça e trabalho na classe., É no campo e a criação de n e o esemprego tecnológico gerado , , 'ovo empreao na id d -por. SI so que o. volume de em re ,o. Cl a e nao assegura mtel~amente compensado pelo ~o!!OS e~mmados da ag.ricuItura seja norma urbana. Ele cria no me e empregos cnados na eco- d ' entanto as condi - d .e que essa compensação se dê.' Içoes e pOSSIbilidade . . O que vai decidir em última T tnalJzação capitalista cria ou não um analIse, se o processo de indus- alguma. correspondência com o. volu vo ume de_emprego que guarda (c~ncelto por si só algo ambíauo ~e de m.ao-de-obra disponível mals-valia que pode ser criada or ) e a destmação que é dada à do trabalho. Esta mais-valia ,g aças ao aU1~ento da produtividade apr . d 1 e, em sua maJOr . . .opna a pe as empresas que a distrih parte, IDlClalmentec d ,re istr: uem .re ores, governo etc Concorn ' aos seus 'propnetáriosd d d . L re o uso q ,a es erem ao acréscimo de re d d ue _estas pe~sonagens e enti. prego tecnológico será ou nã~n a e que sao beneflciárias, o desem- emprego. A divisão do acréscim~o~pensaJo pela criação de novo pança numa determinada propo _ e f ren a entre consumo e pou- consumo., assim Suscitado ro rçao az com que o acréscimo de capacidade de produção e' pumvoque um aumento da utilização da d - aumento da ,.p~o uçao mediante inversões de tal d' propna capacidade de cnado compensa o desemprego recnolo o~ em que o novo emprego A ·A. OgICO. expenenCla histórica da . d '. Guerra Mundial mostrou q 1D uds~rla.llZaçãocapitalista até a 2 a d ue as ten enClas A •governa as pelos mecanI'sm d espontaneas do sistema tur i . os e mercado I' ,uCJOnaIs, levavam a uma b '1' _ .e pe os estImulas insti-h· su utr rzaçao SI t ,. d .d um~nos dIsponíveis, cuja gravidade . s ~mat1ca os recursos ,o ciclo de conjuntura em vanava e acordo com a fase nados de industrialização m~rsei~~ encontra~a a economia. Nos pe- tuava a penetração do capitalism~nsa, n~ uropa,. em que se acen- d~semprego criado foi consider' 1 nas areas rurars, o volume de "lIgr~tórios para as Américas A~v~ "I? qUAef~rovocou fortes fluxos do século XIX e nas r' " s ra ra e rrca na segunda metade da depressão dos anos lo lmelras décadas do século XX. A partir d ' . , no entanto numera. a atar pOlItlcoS anti-cíclicas e d '1 osos governos passaram ~lVOdemonstrou que as variáveis ~ peno. e~prego, cujo êxito rela- o ?ese.mprego tecnológico pode~ as quais .. epende a compensação ra.njOS l~stitucionais: expa~são da ~~r condlClona.das mediante rear- trlbutaç.ao progressiva, investimento er~a .de meI?s. de pagamento, senvolvlmento. regional et E s publIcos, credito seletivo de-c. m suma a . A • , , expenencla recente dos ~4 Paul Slnqer países capitalistas desenvolvidos mostra que uma política econô- mica de cunho "keynesiano" é capaz de conciliar, durante períodos consideráveis, rápidas e profundas mudanças técnicas com níveis relativamente elevados de emprego. A situação dos países não de- senvolvidos, no entanto, é bem diferente. 6. MIGRAÇÕES E INDUSTRIALIZAÇÃO NOS PAíSES NÃO DESENVOLVIDOS O processo de mudança tecnológica nos países capitalistas de- senvolvidos difere consideravelmente da industrialização capitalista nos países não desenvolvidos. Em primeiro lugar, o ritmo de mu- dança tecnológica e seus efeitos sócio-econômicos é muito mais amplo nestes últimos em comparação com os primeiros. Enquanto nos países desenvolvidos a mudança se dá à medida que determinadas inovações "amadurecem", nos países não desenvolvidos ramos de produção inteiros são implantados de uma só vez, submetendo a estrutura. econômica a choques muito mais profundos. Em segundo lugar, desde que um país ultrapassa o umbral do desenvolvimento, ele deixa de ter um Setor de Subsistência ou este permanece apenas sob a forma de bolsões de atraso de pequena expressão. A regra geral é que, num país desenvolvido, o conjunto da população está integrado na economia de mercado. Obviamente a situaçãoé oposta nos países não desenvolvidos, em que boa parte da população ainda se encontra em economia de subsistência. Na medida em que o de senvolvimento se processa, parcelas crescentes da população vão se inserindo na economia de mercado. A proporção da força de tra- balho que permanece no Setor de Subsistência é, de certa forma, uma indicação do caminho que o país tem que percorrer ainda até . completar o seu desenvolvimento. Nestas condições, é fácil entender que o volume de migrações internas, provocado por mudanças estruturais e espaciais da econo- mia, é proporcionalmente muito maior nos países não desenvolvidos que estão se industrializando do que nos desenvolvidos. Naqueles, os fatores de mudança têm efeitos mais amplos e a eles se somam os fatores de estagnação, que nos· países desenvolvidos praticamente não se fazem mais sentir. É importante, neste contexto, analisar os efeitos das migrações provocadas pelos fatores de estagnação sobre a economia urbana. Na medida em que uma parte considerável da população permanece em economia de subsistência e na medida em que, graças à queda da mortalidade, o seu ritmo de crescimento vegetativo aumenta, os fatores de estagnação podem gerar um fluxo migratório considerável. Economia Política da Urbanlllação 45 A parte deste fluxo que se dirige às.cidades vai depender, natural- mente, da disponibilidade de novas terras que possam ser ocupadas pelo excedente populacional. Em países que possuem amplas re- servas de terra cultivável ou aproveitável como pasto, como o Brasil por exemplo, os fatores de estagnação podem gerar impor- tantes fluxos migratórios que se dirigem de zonas rurais mais antigas para outras mais novas. Nos países em que a disponibilidade de terras foi esgotada, seja por estarem todas as áreas sendo efetiva- mente utilizadas, seja por já estarem monopolizadas por latifundiá- rios, os fatores de estagnação acabam gerando fluxos migratórios que se dirigem quase exclusivamente às cidades, podendo estas inclusive se situar no exterior, como é o caso dos migrantes de Porto Rico e Jamaica, que se dirigem a Nova York e Londres. A chegada à cidade de migrantes que provêm de áreas em economia de subsistência, debilmente ligadas à divisão nacional do trabalho, não provoca qualquer elevação da demanda pelo produto da economia urbana. Antespelo contrário, o afluxo destes migrantes tem um' efeito depressivo sobre esta demanda, por vários motivos: 1. certo número de migrantes, que consegue se inserir no processo de produção urbano, remete parte de seus ganhos aos parentes que permanecem nas áreas em economia de subsistência, reduzindo o volume da demanda efetiva na cidade. Se os que recebem estas remessas as gastam comprando produtos oriundos da cidade, este efeito se anula; porém, na medida em que aqueles recursos são gastos na compra de produtos da economia local, eles são subtraídos da economia urbana. O mesmo se dá quando migrantes retomam, com certo pecúlio amealhado na cidade, às áreas de subsistência; 2. parte dos migrantes que não conseguem se integrar na economia urbana reproduz na cidade certos traços da economia de subsis- tência sob a forma de atividades autônomas, geralmente serviços: vendedores ambulantes, carregadores, serviços de reparação etc. Em- bora tais atividades sejam desenvolvidas no âmbito espacial da ci- dade, elas não se acham integradas na economia urbana capitalista. Na medida em que, devido aos baixíssimos níveis de remuneração que seus executantes são obrigados a aceitar, elas conseguem com- petir com empresas capitalistas, seu efeito é realizar a demanda pelo produto da economia capitalista da cidade e, portanto, sua procura por força de trabalho: o comércio de ambulantes limita a atividade e o emprego no comércio organizado em moldes capitalistas, os lavadores de carros reduzem a clientela dos postos de serviços e assim por diante; 3. em boa medida, a oferta de força de trabalho conseqüente da migração à cidade é absorvida pelo serviço domés- tico, cujo significado é nulo do ponto de vista da produção social 46 Paul SInCjJer d mo um "falso emprego". Em- npitalista, 7 podendo ~er encara o COntribua para a geração do pro- hora o serviço doméstico em nada co t deste produto é negativo duto ur?ano, seu efe~to st~~t~i ~~~~~meentos que fazem par;e ?a- na medida em que e e su d 'tica dispensa o uso da maquma quele produto: a empre~adla omes. t à família prescindir de um de lavar, o chofer parncu ar perm1 e . segundo carro etc. . d Ieit da migração à cidade, d Junto os e elOS . A •Toman o-se o con economia de SUbs1stenc1a, d á e permanecem em .oriunda e reas qu é fácil ver que ele é neutro c:u negat1~o, sobre o produto urbano, d t migrantes não sela absorvida o que explica que grande pa~te 1 es es do ponto de vista do lugar pela economia de mercado. c;.ro. qu~~ os migrantes conforme os de destino, parece irrelevant~ .lstmguTanto os que vieram de áreas d l-que os atingiram- - tfatores e expu sao A d áreas em estagnaçao ten am em mudança como os que l:od~~rabalho urbano. O caráter dos penetrar no mes~o mer.ca ortância na determinação do grau ger~l fatores de expulsao tem 1m~ . t é absorvida pela economia em que a força de trabalho os mlgran es um país em que toda T d como caso extremo, . .urbana. oman o-se, S d Subsistênc1a e que untca- população não urbana pertence ao _et~r r:a parte do acréscimo desta mente devido a fatores de estagnaç.ao ut vegetativo migra à cidade,- d t do seu creSClmen o '- bpopulaçao, ecorren e . b na em lenta expansao, a sorva é de se esperar que "<1.econom1a .ur ate; permanecendo a maioria à uma proporç~o. :eduzI~al ~~s t~~~Th.~ u~ufruindo parte do exced~nte margem da d1v1sao socla. b 'diante a prestação de serv1ÇOS produzido pela ~c~no:rl1a ur A ana :x;eetc No outro extremo, pode-se domésticos ou ativida es au1tonom 'de terras em que todo exce- , m amp as reservas b 1 . conceber um p~~s co S de Subsistência pode-se esta e ecer; dente demogra~lco _do, ~~ord 'provocada unicamente por fator~s 'neste país, a mlgraçaO a C1 a e e , m economia de subsistênc1"<1 did em que areas e de mudança, na ~e 1 a. italista. Nestas condições, a econo- são incorporadas a economia ca~ i or e apresenta melhores pos- mia urbana se expande com d ~a10r v ~ a força de trabalho trazida sibilid"<1desde absorver pro utlvamen e pela migração. _ - do sistema como tal. O ser- 7 Do ponto de vista da produçao, mas bnalohadoresautônomos) integra o d odo que os tra a d f - oViço doméstico ( o mesmo m á adiante desempenhan o unça. 1 d erva como se ver , exército industna e res , a economia capitalista. de estoque de mão·de·obra pa~a _ h' penetração do capitalismo na 8 Isto significa que pratlcamente nao . all'zaç-aoda agricultura e nem o .." em a espeCla d - d área rural e, em c~n~eqduendCla,nb lho agrícola levam à liberação e mao- e- aumento da prodUtlVlda e o tra a -obra. Economia política da Urbcmla<Jção 47 A grande maioria dos países nã d - id entre os dois extremos, Em I ao esenvolví os se encontra tência é proporcionalmente gargudns, no dentanto, ,o Setor de Subsis-, " , an e, sen o a malOr part d fImlgratotlo a área urbana produzid f e o u_xo Nestes, é de se es erar o por atores de estagnaçao, grante sejam partifularm~~~e os problemas ,de marginalização do rni- Peru da Colômbl'a e d N dgravesd' PossIvelmente é a situação do , o or este o Brasil H' , -volvidos no entanto . ,a países nao desen- zido ou ~stá sendo r~p~:~~~t o Setor de Subsistên~a já está redu- capitalista, Nestes países o fI~:oe:~rad~,~or relaçloes de produção fatores de mudança e os probI dlgraOtl~ rel~u ta sobretudo de 'd ernas e margrna Ização d ' na c ade apresentam caráter mais bem . , . o ~Igrante a Argentina e o centro-sul do B '1 tranSItotlo. É possível que rasi se encontram neste caso, 7. MIGRAÇOES INTERNAS E DESENVOLVIMENTO Pelas idéias expostas até aqui dI' , que decorremda industrialização ;tu:l~~~ ~~~~e~I~:~::e:Igla~~es constl~uem um fenômeno historicamente condicion d . VOVI ~s festaçoes concretas resultam das condiçõe ,;. o, cujas rnam- dá. aquela industrialização, Analisar as mi sraespecI icas em _que sed .nstrumenml teórico desenvolvido a parti; dzo~bs:~ q~estao c~m d:sp:~raç~es ~nternas dos países desenvolvidos faz :~çr:~r eoes:~c~ er e vista aspectos essenciais do fenômeno. _ Gra~de par~dedos estudos correntes é motivada pela preocupa- çao com incapacr ade da economia urbana de b 1~~~~~af:~~:i~e trabalho dos migrantes, .0 suarg~~:~~~ ~~ :~;~~ "callampas~' "ba~r~~odams~n~~do r:odntdod~)vIsta da moradia (favelas, .' , vencin a es em pr ti dA ~ldadeJ important.e: da América Latina (sem faI:r 1~:A~:i~a t~ dS s~a, on e )s condIçoes de marginalidade urbana ainda soem a ;:~~e~r:~%a' ~~m Ie~ado muit~s investigadores a encararas ~~~ ciso reduzir de mo~~nomeno ~ocIal nefasto, cujas dimensões é pre- tica que elas suscitam a ~~!O er começar ? solucionar a problemá- cure no plano social e~ prim ~ o .des~nv?lvIme?to econômico reper. de transformações demo ráfi~a~a~sta?CIa prec.Isamente sob a. forma d aceleração do crescimen~ populacio:~rrd~~~d I~ternad u~bamz.açã~, ade - ruja intensificação "parece" o .• que ~ a rnortali- níveis econômicos e das tensõe arece. ,ser a caus~ principal dos des- dade urbana passa-se a conclui: SOCIaIS~ue conftguram a marginaIí- ~o progressd técnico deve ser mi~~;ador~mo dJ dese~vol.vime.nto e sidade das transformações demogr ífi e mo o a re UZIr a mten- a rcas, que aparentemente "ultra- 48· Paul S1nqef I nssarn" o ritmo de crescimento econômico ou, mais especificamente, rlu criação de empregos na economia capitalista urbana. Pelo que foi visto, efetivamente o desenvolvimento, ao criar Intores de mudança em áreas rurais, avoluma os fluxos de migração interna, embora tais fluxos estejam presentes mesmo quando não há desenvolvimento. O que importa considerar, porém, é que só o desenvolvimento cria as condições que permitem uma expansão vigo- r sa da economia urbana da qual pode resultar a absorção produtiva, .mbora com retardo, da mão-de-obra trazida à cidade pelas migrações, É verdade que em muitos países não desenvolvidos a economia urbana tem sido animada pelo comércio exterior. Nestes casos, a expansão da economia urbana tem dependido principalmente do cres- cimento da demanda externa pelos produtos destes países, incluindo- -se nes tes a venda de serviços sob a forma de turismo). Embora as relações econômicas com o "resto do mundo", o que significa praticamente os países capitalistas desenvolvidos, não possam ser ignoradas na análise da problemática que concerneà integração dos migrantes na economia de mercado, a experiência das últimas décadas da maioria dos países não desenvolvidos indica que aquelas relações tampouco apresentam perspectivas de solução para. tal problemática. Em termos muito simples, o ritmo de crescimento da demanda exter- na pelos produtos dos países não desenvolvidos foi muito inferior ao afluxo humano às áreas urbanas destes países, Foi exatamente porque o comércio externo deixou de representar, na industrialização dos países não desenvolvidos, o papel dinâmico que ele de fato desempenhou na industrialização dos países hoje desenvolvidos, é que os países que atualmente almejam se industrializar tiveram que se voltar para o mercado interno e lançar-se na via do desenvolvi- mento "para dentro". Sem negar que uma eventual expansão da demanda externa possa constituir um estímulo adicional para o cres- 'cimento da economia urbana dos países não desenvolvidos, não há dúvida que a mola fundamental deste crescimento é constituída pela expansão e aprofundamento da divisão social do trabalho dentro do país. A única ressalva é que países muito pequenos, cuja população diminuta proporciona um mercado interno demasiadamente restrito, têm como melhor perspectiva a integração de suas economias em áreas de livre comércio, mercados comuns etc, com outros países de características semelhantes, Desta maneira, a solução da problemática não parece estar numa limitação do ritmo de desenvolvimento (aqui entendido como resul- tante do avanço tecnológico) com o fito de reduzir a intensidade das migrações internas, mas antes numa aceleração daquele ritmo, ainda que isto acarrete fluxos migratórios ainda maiores, Nada (a Economia PoHUca da Urbanlsaçáo 49 não ~;r as aparências) justifica a no _ . . dade urbana decorre principalmenteÇ:t SU?püsta que a "marginali_ grantes que se fixem n ·d d É o .numero "excessivo" de ._ A a C1a e prec1.d nu que pos em movimento os fIu~os . s? .consl erar o mecanismo para a economia urbana. Soment m1gr~torlos e Suas conseqüências nem sempre as cidades que cresce~ ass~m pode-se explicar porque sentam maiores proporções d ul m~ls depressa são as que apre- . a pop açao marginalizada. 8. PROPOSIÇOES PARA . INTERNAS O ESTUDO DAS MIGRAÇOES Considerando-se as linhas teóri . que procuram determinar as ca~,?esenvolvldas até este ponto fenômeno da migração int caracterlStlcas históricas específicas d; ?,ode~sesugerir algumas pro~~~ ~o contexto do desenvolvimento, ja ,eXIsta um volume consideráv~l~e para f\1turos estudos. Embora parses não desenvolvidos. . pesqUIsas sobre migrações em t ' . di , a maIor parte b· .eotlcos lferentes dos no»: se aseia em fundamentos. - aqUI expostos T· funda d asmlgraçoes essencialmente como .. aIS mentos encaram : m~ernização, 9 o que le . t:tarte lUtegran~e de um processo rater hIstórico do fenômeno .nem e . oques que. t.tao iluminam o ea- A.s proposições que se se uem os seus condlClonantes de classes. dlferent~ cujo mérito seri/ o de ~;~~~ndem.ap:~sentar um enfoque na ~onstJtUIçãode uma economia ca .ali o slgmflCado das migrações estI~tura de classes nos países prta sta com sua corresponden.te volvlmento. que passam atualmente pelo desen- A. CAUSAS E MOTIVOS DAS MIGRAÇOES . A, maior parte das informações dis ,. mlgratotlOs é proveniente d 1 pomvelS sobre movimentos t~ais etc.) em que a unidade: evantamentos (censitários, amos. vfduo ou na melhor da hi que se referem os dados é o indi-. d ' s lp6teses a f 'li Nrica estas informaçoe- .' amí a. a elaboração teõ-. s, a sua orIgem ., . . atuan.te no processo migrat6rio' . . J~ tnsrnua que a unidade maneira, sob o título de " e dOlUdl.Vlduoou a família. Desta c t b causas as mlgraç- " 1u em as ver alizações d· oes se arro am e dís- os 1l'l1grantesquanto aos motivos que os 9 I -. _ sso nao contradiz a atitud - .. XIgrfioes, cuja função modernizante e s!ri° freJtdntemente pessimista face às os uxos que chegam às áreas urban a an a a pelo tamanho "excessivo"as. 50 Paul SlnqeJ" iftm levado a migrar. O exame crítico deste material empírico ntra-se, quase sempre, na indagação da fidedignidade das res- I tas: em que medida é o informante capaz de reproduzir os mo- tivos que o levaram a adotar a decisão de migrar? quanto há de cionalização ou de estereótipo nas respostas? É mister, no entanto, submeter este tipo de procedimento a lima crítica mais radical. O mais provável é que a migração seja 11m processo social, cuja unidade atuante não é o indivíduo mas o rupo. Quando se deseja investigar processos sociais, as informações olhidas numa base individual conduzem, na maioria das vezes, a análises psicologizantes, em que as principais condicionantes macro- -sociais são desfiguradas quando não omitidas. No caso específico das migrações internas, o caráter coletivo do processo é tão pronun- ciado que quase sempre as respostas da maioria dos migrantes caem em apenas duas categorias: 1. motivação econômica (procura de -tra- balho, melhora das condições de vida etc.) e 2. para acompanhar o esposo, a família ou algo deste estilo. A forma estereotipada das respostas indica que 11 indagação não foi dirigida a quem possa oferecer uma resposta capaz de determinar os fatores que condicio-nam o fenômeno. Se se admite que a migração interna é um processo social, deve-se supor que ele tenha causas estruturais que impelem determi- nados grupos a se pôr em movimento. Estas causas são quase sem- pre de fundo econômico - deslocamento de atividades no espaço, crescimento diferencial da atividade em lugares distintos e assim por diante - e atingem os grupos que compõem a estrutura social do lugar de origem de um modo diferenciado. Assim, se numa deter- minada área a mecanização da agricultura reduz a sua demanda por mão-de-obra, os desempregados têm que migrar para outra área em busca de meios de vida. Estes desempregados que migram são,em sua grande maioria, ex-assalariados, diaristas, peões, isto é, consti- uem um grupo que não possui direitos de propriedades sobre o eolo. Os proprietários e arrendatários não são forçados a migrar, *('..JlIl primeiro momento, embora alguns possam ser induzidos a íazê-lo mais tarde, por não possuírem os recursos necessários para acompanhar a mudança da técnica de produção. É de se esperar que haja aumento da produção e baixa dos preços, arruinando os pequenos estabelecimentos cujos custos de produção se mantêm mais elevados que os dos grandes que se mecanizam. Neste exemplo, a primeira onda de emigrantes é constituída por desempregados, a se- gunda por camponeses proletarizados. Embora um grupo social seja levado, por certas causas estru- turais, a migrar, é lógico que nem todos os seus membros o façam EconomIa Política da Urbanização 51 de imediato. No exemplo acima, a mecanização diminui a demanda por força de trabalho, mas não a reduz a zero. Um certo número de trabalhadores retém seu emprego. Também a ruína dos pequenos proprietários e arrendatários não atinge a todos 'ao mesmo tempo. Há, neste sentido, uma certa seletividade dos fatores de expulsão (os trabalhadores mais novos são despedidos antes, os proprietários que se endividaram mais são arruinados mais cedo) que pode ser assimilada a uma diversidade de motivos individuais que leva alguns a migrar e a outros não. Adicionam-se a esta seletividade objetiva motivações subjetivas: parte dos desempregados permanece no lugar, à espera de melhores dias, sustentados por membros da família que trabalham ou mediante a realização de serviços de ocasião; outros trabalhadores, embora não tenham sido despedidos, preferem emigrar porque esperam encontrar melhores oportunidades alhures. Convém sempre distinguir os motivos (individuais) para migrar das causas (estruturais) da migração. Os motivos se manifestam no quadro geral de condições sócio-econômicas que induzem a migrar. É óbvio que os motivos, embora subjetivos em parte. correspondem a características dos indivíduos: jovens podem ser mais propensos a migrar que velhos, alfabetizados mais que analfabetos, solteiros mais do que casados e assim por diante. O que importa é não esque- cer que a primeira determinação de quem vai e de quem fica é social ou, se se quiser, de classe. Dadas determinadas circunstâncias, uma classe social é posta em movimento. Num segundo momento, condições objetivas e subjetivas determinam que membros desta classe migrarão antes e quais ficarão para trás. B. O ESTUDO DA MIGRAÇAO COMO PROCESSO SOCIAL Se a unidade migratória deixa de ser o indivíduo para ser o grupo, também deixa de ter sentido investigar-se a migração como um movimento de indivíduos num dado período entre dois pontos, convencionalmente considerados como de origem e de destino. Quando uma classe social se põe em movimento, ela cria um fluxo migratório que pode ser de longa duração e que descreve um tra- jeto que pode englobar vários pontos de origem e de destino. É o fluxo migratório originado por determinados fatores estruturais, que determinam o seu desdobramento no espaço e no tempo, o primeiro objeto de estudo. Uma vez cOmpreendidos o fluxo, as suas causas e fatores condicionantes, determinados movimentos que o compõem podem ser investigados isoladamente. A hipótesf> bá- sica, no entanto, é que o fluxo determina os movimentos unitários e estes só podem Ser compreendidos no quadro mais geral daquele. 52 Paul Slnqer , 10 ue numa determinada área Admitamos, a título de exdemp á'teqr comercial 'entre em deca- . 'd d r' cola e car , d .. principal. ativi a e ag 1 'da fertilidade do solo. A pro utrvi- d ncia devido ao esgotan:e~to. reduzindo a rentabilidade dos _esta- dade física do trabalho dlmlDUl,. á' abandonam as plantaçoes e O des propnet nos . id dI) lecimentos. s gran 'sl'lvl'cultura atrvi II es que' pastagens ou '. _ dpassam a usar a te:ra para ue vai determinar aerrugraçao os requerem menos mao-de-obra, o q estes emigrantes possuem pou- trabalhadores sem terra. D?do que lt ral mui limitado, eles tendem horizonte cu u bé táquíssimos recursos e um. 6' cuja economia tam em es a 11 se dirigir às cidades mais pr dXIma~,id de produtiva principal da d id ã d adência a atrvr a baiestagnada evr o a ec .' m roletariado de ixa qua- região. Ali, os migrantes .constItuem!, ~10Sdos trabalhadores urbanos, . fI deprime os sa ar . d .lificação, cujo a uxo. d . r para cida es rnaiores. . é ISSO leva a a migra ibilid dparte dos quais , por " ibilit d pela maior disponi 11 a e Este segundo movimen:o é pOSSl \1 ad~s trabalhadores que já po~- de recursos e informaçoes por parÉe , I que sucessivos mout- iênci bana possive ,suem certa experr nC1~ ur . d d das cidades menores as. 6' ejarn desenca ea os, , d mentos mtgrat nos s d igrantesalcance as areas o~ e maiores, até que grande par:e. os tm industrial mais intenso, CUJos se esteja dando um desenvo vlmen.o um aumento da demanda efeitos diretos e indiretos det~rn:ll:::es oportunidades de integra- de mão-de-obra que oferecÉeaos 1;J1lg1 esmo que esta industrialização. b pOSSlve m, d .ção na economia ur. ana. ' bstituir importações, que eixaram responda à necess!~ade, dde sUd' cia da atividade agrícola de expor-' . d Ido a eca en . 6 . Éde ser acessrveis ev . I ... I do processo migrat no.o Impu so lmcla ._ tação, que provocou im começar a investigação por u~ fácil de ver que, nu~ c~s.o ass '. d de já a uma compreensao elo da cadeia apenas significa renunciar es global do processo. . _ exemplificadas acima, pode-se Explorando ainda ~s condlçdoes M do Externo está em deca- ' Setor e erca conceber que, na are a cUJo. ural constituída por pequ~nos p:o- dência a pequena burguesla b r, 'd"'I'o a um fluxo rmgratono,' d ,. t m em a lDIC dprietários e arren atános, a _ diferentes. Os migrantes a ' . entanto serao 1 d 'cujas caractenst1~as, _no z: '0 os trabalhadores, expulsos a are a Pequena burguesia rrao sao, com . de vida. Eles fogem da "1 t de seus meIOS bTdevido ao amq~l a:n en o . I da falta de perspectivas de mo I .1- estagnação economtca e sO~la, horizonte cultural mars . d lS recursos e um .dade social. POSSUlDo ma , 1 d . diato a cidades maiores.. ,. derá leva- os e lme á .amplo sua trajetória po _. solteiros (ao contr no '. d t rupo serao Jovens , . _Muitos mrgrantes es e g. , ticas demográficas serao1 ,. jas caractens 1dos migrantes pro etanos,. eu ula ão de origem), que ten- mais próximas das do conJunbto da POpParadÇospela família que per- eio ur ano amtarão sua sorte no m EçODOmlC PolítJc;ada l1rbcmlsação 53 r ""t1 ~IIIIII. Pllllt I I 1'\" I (k' odg .ru, 1 ssibil!dnd. I' I 11 1111 IIIH I 11111 I' I )I'J1nrii de c J1diç~o pr letária, ql é 1l111;( 111 'IlOI' P 11'1\ "migrantes . As considerações acima são '. a Importância de se considerar o h~~amet;tte hIP?tétlcas, mas ilustram expl.Ica, mas não é explicado elos o mlg:atótlO como um todo que O tipo de abordagem. ' P mOVImentos que o compõem, . aqur proposto suger . propnn determinação do fl . ó e como questão inicial a q 1 - uxo mIgrat rio no tue. eva a uma revisão dos con . empC; e no espaço, o destIno. A área de origem nest~eItos. de áz:.eade origem e área de de on?e provém determinado ru sentI~o,.nao é obviamente o lúgar cessatlamente) o lugar ond g IX??e ImIgrantes, nem mesmo (ne- s 1 d' e se OtlgInOU sua movi -.eu ugar e naSCImento A á d' oVlmentaçao Isto éé 1 . rea e Otlgem d fI ' ,aque a onde se deram transform _ ,. e um uxo migratório ~m ou vários grupos SOCiaI'sa . açoes soclo-econômicas que levaram ,- . rnrgrar desde .Ja nao sejam o resultado d '. que tais transformações ir e outros movimenr . .rnr antes ou anteriores. os mlgratótlOS conco. Do mesmo modo n d . 'f determinada área como' se;d~ á~s~ IC~ considerar "a priori" uma M SIllOque a área tenha saldo . estIn?, como usualmente se faz 1l1~~1t el~ pode ser apenas uma :Igratórlo posi~ivo, muito possivel~ 'Ól/os. 1" I J' iso disti' ap~ de determInados fluxos rni () (fI' . nguir, no conjunto do . Igra- " s vãríos fluxos por crité . . ~ mlgrantes que afluem pnrn qual d 1 s esta área é o ~~~s ~oclOlógICOS~recisos e verificar ~l.ub r~l1~determinada cidade fndust;:~a1. .É POISSIVel,por exemplo, 1:\ a a ores rurais que se inte seja o ugar de destino de que ~ pequena burguesia à pro gra~ no proletariado urbano mas s~?~nor e de trabalho es ecia1i~ra e ~portunidades de edu'cação clano'd esteja migrando de~ta cida1eo'e ma~~ fr:qüente no setor ter- ~an~s ~ntro e fora do país. Deste m ~ Ireçao a áreas metropoli_ e estrno para um fluxo migratório ~ t' u~a me~ma área é lugar Uma conseqüência metod Ió . ugar e Otlgem para outro de migração limitado a apena~ glca desta abordagem é que o estud; de otllgem é incapaz de desvenda~m pre~umfvel lugar de destino ou por e a transmitam o movImento global dos fI. uxos que C. CONSEQOENCIAS DAS MIGRAÇOES INTERNAS É sabido que dI'o esenvo Vlmento - estrutura econômica como t b' nao somente transforma a na estrutura social No aml em ocasiona mudanças profundas. . vas c asses sociai outras, mars antigas se atrofiam Alt _ s sdurgem ao passo que , ,eraçoes e mont 1 -a nas re açoes 54 Paul Slnc;rer I pIO luçl P dcm lev r l\ desaparição de certas classes (abolição 11\ ( crnvatura, por exemplo) e ao crescimento acelerado de outras 1111'.11 uu • 11 incorporação dos antigos membros da classe que foi eli- mluuda, As migrações internas desempenham papel de grande II lrv ncia nestas transformações das estruturas econômicas e sociais. A pnssagem de partes da população de uma classe a outra se dá multas vezes mediante movimentos no espaço. Assim, por exemplo, 11 proletarização dos ex-escravos, no Brasil, deu-se em boa medida 11\ xliante a sua migração às cidades. 10 . As pesquisas sobre migrações têm-se ocupado, em geral, com \) problema da absorção do migrante pela economia e sociedade do lugar de destino. Como, no entanto, em geral não se considera a situação de classe do rnígrante, a sua integração é analisada do ponto le vista individual, confrontando-se sua situação com a dos nativos m termos de ocupação, nível de renda .etc. Desta maneira, perde-se de vista a função do processo migratório na constituição da socie- dade de classes, produzida pelo desenvolvimento. A adaptação do migrante recém-chegado ao meio social se dá freqüentemente mediante mecanismos de ajuda mútua e de soli- dariedade de migrantes mais antigos. Isto significa que o lugar que o novo migrante irá ocupar na estrutura social já é, em boa medida, predeterminado pelo seu relacionamento social, isto é, por sua situação de classe anterior. O modo como o migrante se insere na sociedade de destino tem sido explicado por meio de suas carac- terísticas individuais; assim a proletarização dos migrantes de origem rural soe ser atribuída à ausência de qualificação profissional, anal- fabetismo etc. Seria importante considerar que laços de solidarie- dade familiar, de origem comum etc., que refletem situações de classe social, desempenham um papel de suma importância na inte- gração do migrante à economia e à sociedade do lugar de destino. Valeria a pena, também, investigar em que medida existem organi- zações formais e informais - desde agências de emprego até rodas de botequim - que encaminham os migrantes aos setores do mer- cado de trabalho em que há maior probabilidade de encontrarem compradores para sua força de trabalho. Neste contexto, é válido lembrar que nem todos os migrantes provêm do proletariado rural ou do campesinato. Bom número deles é de origem burguesa e a migração não faz com que percam Sua condição de classe. Mesmo que tais migrantes não venham ao lugar 10 O processo é minuciosamente analisado e discutido por Florestan Fer- nandes, A Integração do Negro à Sociedade de Classes, S. Paulo, 1964. Economia PolíUca da Urbanlzação 55 de destino munidos d soJ:dariedade de clas e almhpIos rec~rsos financeiros mec .: - se es permlt . ' anlsmos deposçao na estrutura social em: mUltas vezes, ocu ah~;:~~:~~n~:~r~s. Custa m~~~ a~:in;i~~ra~~ess:e cl~;.ses hferrar~"~:~ migração é um ai~I;~rt~~r;:e-á que concluir que :eri~~:r d~ue uesta csdtudo O scomparativo,;; entre m:;~~t de asce?são social, derivada ed~ ra a. estudo de mi es e natIVOS, é pelo m . que o nível d .grantes em Monterrey 11 enos exage· função da esco~a~~;~~a na força .de trabalh~ é, p~~ e;:a~~~o, mO~tf:l ~~~~a~ls'otnealdo dPai e pejaq~~~fa~fd:d: vJozpé~onddicionada peke~:~:i ,quan o a in . - ar e a mãe E ~orçõe~ de migrantes ~::tI~l:~:~sr~~~. a exisltência de eievaZsc;~~~ ?Carado ~omo prova suficien e Ia e a ta, isso não pode se slOna1, pOIS nem todos o . te de que houve mobilidade r ou d . s mIgrantes p , d ascen- s o campesmato arruinado como ' rov~m o proletariado rural uposto. ,e multas vezes ímplí . Q d Icltamenteuan o o lugar d d . metrópole em ex _ e estmo é uma cidade . . estrutura de 1 pansao acelerada e em m d· mdustrlal ou uma . c asses també' u ança e t 1 mIgração, tanto eco ' . rn esta em transforma _ s rut~ra, a sua destino, deveria sernomIco dcomo social e Po1ític~ao. bO Impacto da cesso de transforma _encara .0 como um dos ele' so re o lugar de ponesa via migraçã;ao. A~Im, a proletarização d~entos deste pro- aumenta a oferta d eXP:n e a classe· operária no uma massa carn. trabal1lO, reduz o ' e 1~ao-de-o~ra não qualific d lugar de destino, ganha da classe mve e organIzação e ort a a no mercado de de trabalho. D~~om repercussões sobre~!reanto, do _poder de bar- nã?,é <;liretamenteOai~t:dacumula.ção de capit~u:~r;:;ao e condiç?es qUlllbrlO entre de d a pela mIgração, como " f ',ga: de destInO resultado uma q mdan dae oferta de força de tr lba lhOIVIsto, o dese- , . ue a a corn . - a a o pode tem varro, ramos técni POslçao orgânica d . 1 er por por trabalhador pod cmcos que utilizam menor o laplta, ou seja.. e - por isso em-se tornar mais rendos vo ume de capital isto se dá, mi~r~~~~~ren: ~ ~e: mais aplicadas. aSN~ara ~. empresário de r('cursos limitad °drIgmarlOs da pequena bur ~e Ida em que d· Os e cap't 1 guesm pos ide se llltegrar b I a, encontram . ' SUl ores vamente a f na d urguesia do lugar de d ~alOres Possibilidades nativos é 6bovrI~a)e É traba1ho de outros. mel?tInOexplorado extensi_ , o. o grantes (e t b 'reparação em . que COstuma se ve T arn em de , servIÇOs pessoais e em Outra rr .I~ar em serviços de - _ s atIVIdades, organizadas s . 11 BALAN, r, BROWN octety, a Mexican case ( . ING, H. L. e JELIN E numeogr.), a ser Pub1icad~ ., Men in a deve/oPing 56 Paul SIn'18r .. tupr sarialmente mas que requerem reduzido volume de Capital. 1111 lugares de destino, no entanto, constituídos por cidades pequenas 1'1(' não possuam uma rigorosa economia urbana, os migrantes de IIllg m rural que se proletarízam tendem 'antes a exercer este mesmo IlpO de atividades, por conta própria. A diferença resulta do fato dI' que a organização capitalista da produção é requerida e vantajosa «unente quando a demanda é suficientemente concentrada e dotada dtO um certo poder aquisitivo. Para elucidar melhor este aspecto, conviria investigar que condições levam a que estas atividades sejam rxcrcidas predominantementeem empresas em certos lugares e indi- vidualmente em outros. Na medida em que empresas pressupõem .specializaçâo e, portanto, maior divisão social do trabalho, a clás- sica proposição de Adam Smith, de que "o grau de divisão de tra- balho é uma função do tamanho do mercado", possivelmente oferece a explicação para aquela diferença. Este aspecto da organização dos serviços em enexão com a absorção da força de trabalho dos mi- grantes pela economia urbana tem marcante significação econômica e social, pois dela depende o grau de produtividade do trabalho, da produção (ou não) de um excedente e de sua acumulação como capital. O estudo das migrações a partir de um ângulo de classe deve permitir portanto uma análise da contribuição das migrações para a formação de estruturas sociais diferentes e para a constituição de novos segmentos da economia capitalista. D. MIGRAÇAO E "MARGIN ALIDADE" Uma das proposições feitas com grande freqüência a respeito da migração na América Latina é que ela contribui para formação de população "marginal" nos lugares de destino. É preciso assi- nalar, desde já, que a "margínalidade" é, em geral, conceituada como não integração na economia capitalista e não participação em orga- nizações sociais e no usufruto de certos serviços urbanos. Nova- mente os critérios são individuais e escamoteiam a situação de classe dos assim chamados "marginais". Ora, é sabido que o capitalismo industrial, desde sua origem, requer e, por isso, constitui reservas de capacidade produtiva e de força de trabalho, que. somente são utilizadas nos momentos em que a economia se expande com maior vigor. Conviria examinar a "marginalização" sob este ângulo antes de se saltar à conclusão de: que uma parte da oferta de força de trabalho, constituída sobretudo por migrantes, simplesmente não é aproveitada pelo sistema. Economia Política da t1rbanlaa~, &7 o capitalismo mantém uma parte da força de trabalho eza estoque, constituindo um exército industrial de reserva. Manter significa aqui "preservar" e "sustentar". Uma parte do excedente é utilizada para satisfazer as necessidades de subsistência de pessoas que não contribuem para o produto. Nos países capitalistas desen- volvidos, esta parte do excedente é transferida aos trabalhadores em reserva sob a forma de um auxílio aos desempregados ou mediante subvenções da beneficência pública. Nos países capitalistas não desenvolvidos a transferência é feita individualmente, mediante com- pra de serviços produzidos por trabalhadores autônomos. Nestes países, portanto, o exército industrial de reserva é constituído menos por desempregados, em sendo estrito, mas por serviçais domésticos, trabalhadores de ocasião (biscateiros), ambulantes de todo tipo (vendedores, engraxates, reparadores) etc. Nem todos os que se acham à "margem" da economia capita- lista constituem, no entanto, parte do exército industrial de reserva. Para participar dela é preciso que as pessoas estejam fisicamente no mercado de trabalho, dispostas a oferecer sua força de trabalho pelo preço habitual. Seria sem sentido considerar como integrantes do exército industrial de reserva por exemplo os que, inseridos na economia de subsistência, possuem meios de produção próprios e oferecem, no máximo, um excedente de produção no mercado capi- talista. As migrações internas contribuem para trazer ao mercado de trabalho capitalista pessoas que estavam anteriormente integradas à economia de subsistência. Parte destas pessoas tem possibilidades de se inserir no processo de produção social, como empresários ou assalariados. Outros são forçados a exercer atividades que se encon- trem fora do âmbito da economia capitalista, porém, devido ao seu baixíssimo nível de rendimento, elas constituem um potencial de força de trabalho prontamente aproveitável, quando e onde convier ao sistema. A aspiração e um emprego estável e à proteção da legis- lação trabalhista torna-as parte integrante (como qualquer outro estoque) da oferta no mercado (de trabalho). Para não perder de vista o significado das migrações no pro- cesso de desenvolvimento, é preciso evitar o erro de considerar a migração como mera transferência de pessoas de setores não capita- listas rurais e outros setores não capitalistas urbanos. Tal transfe- rência constitui um estágio, necessário nas condições capitalistas, de integração da população à sociedade de classes. Como já foi visto acima, não possui o capitalismo nenhum mecanismo deliberado de ajustamento da demanda de mão-de-obra à oferta da mesma. Ele possui, em contrapartida, mecanismos de transferência do excedente que asseguram a sobrevivência (em condições miseráveis, é claro) 58 Paul SlDg-er da força de trabalho não aproveitada. Seria importante investigar estes mecanismos de transferência e sua interrelação com as mi- Hl'açÕes. Uma hipótese provável é que a chamada "terciarização" dns grandes cidades latino-americanas é a manifestação mais óbvia da expansão daqueles mecanismos. Muito possivelmente a difusão de certos tipos de consumo que requerem o uso complementar de serviços (o automóvel é um exemplo) seja um dos principais meios de expansão daqueles mecanismos de transferência .. É preciso não esquecer, por outro lado, que .os reduzidíssimos níveis de consumo das massas que constituem o exército industrial de reserva permitem a formação de comunidades economicamente fechadas no meio urba- no, que requerem apenas uma quantidade mínima de bens produ- zidos pela economia capitalista, satisfazendo a maior parte de suas necessidades mediante sua própria 'produção. O estudo da economia de tais comunidades (favelas, "callampas", vilas, miséria etc.) e suas relações com a economia capitalista poderá mostrar como uma pe- quena parcela de sua população participa diretamente da economia capitalista ou do seu excedente, sendo os recursos assim obtidos redistribuídos mediante extensa rede de trocas de bens e serviços dentro da comunidade. Deste modo, a forma peculiar de expansão do capitalismo nos países não desenvolvidos poderia explicar o apa- rente paradoxo de os serviços ocuparem um lugar proeminente na estrutura do consumo tanto das camadas mais ricas como das mais pobres da sociedade. Dentro desta linha de raciocínio, as migrações em direção aos grandes centros urbanos podem ser encaradas antes como produtos da "terciarização" do que como sua causa, na medida em que esta cria condições de sobrevivência no meio urbano aos que não con- seguem se integrar à economia capitalista. Conviria que as investi- gações sobre o destino dos migrantes no meio urbano e sua eventual "marginalização" da economia capitalista encarassem o fenômeno também do ângulo da formação do "exército industrial de reserva", dedicando certa atenção às relações econômicas e sociais a longo prazo entre a sociedade "marginal" e a inclusiva. Valeria a pena examinar, por exemplo, os modos de recrutamento de trabalhadores "marginais" pela economia capitálista nos seus momentos de ex- pansão. Convém, por outro lado, estudar com maior profundidade os fatores de atração do meio urbano sobre os migrantes. O estereó- tipo de que os migrantes vêm à cidade grande iludidos, com espe- ranças falsas de prontamente se [ntegrar à sociedade de consumo, está a merecer uma crítica bem fundamentada. Uma hipótese que valeria a pena ser verificada é que os principais fatores de atração Economia Política da Urbaulaczção 59 j da cidade são constituídos pelos laços SocIaIs, decorrentes de uma situação de classe comum, entre migrantes antigos e novos. Os primeiros migrantes, ao assegurarem seu sustento, mesmo que seja como servidores domésticos ou trabalhadores autônomos, "chamam" outros migrantes, geralmente parentes ou amigos, oferecendo-lhes não apenas o benefício de sua experiência mas também apoio ma- terial e, eventUalmente, oportunidades de trabalho~ Se esta hipótese se confirmar, o papel das
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