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A sociologia das Relações Internacionais

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
IFCH - Relações Internacionais
Sociologia das Relações Internacionais
Luano Rodrigues Silva
A sociologia das Relações internacionais
Rio de Janeiro
Junho-2014
	
Comentários iniciais
O presente trabalho versa sobre a primeira parte do primeiro capítulo do livro Sociologia das Relações Internacionais, escrito pelo francês Merle Marcel.
Antes de entrar na introdução e logo depois no livro propriamente dito, acho interessante ressaltar, antes de tudo, o motivo pelo qual o título do livro foi escolhido. Por que a Sociologia e não outra disciplina para tentar fornecer um entendimento mais consistente sobre as Relações Internacionais? Para responder tal pergunta nada melhor do que Weber e Durkheim para emprestar-nos, de forma breve, seus conceitos de ação social e fato social respectivamente.
A primeira é a ação racional: ações tomadas com base nos valores do indivíduo, o ator age racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado exterior, mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, à sua crença consciente no valor, por exemplo, em uma guerra, o soldado esta consciente de que no campo de batalha, a probabilidade de morte é considerável. No entanto, pelo valor, pelo legado que lhe é deixado de que, se preciso for terá que morrer pela pátria, sendo ela mais importante que sua própria vida, ele permanece sabendo das consequências, motivado por valores.
 A segunda é a ação social instrumental ou ação por fins: ações planejadas e tomadas depois de avaliado o fim em relação a outros fins, e após a consideração de vários meios e consequências para atingi-los. Na crise dos mísseis em 1962 é demonstrada essa ação. Os Estados unidos por meio de deterrence (ameaça nuclear) exige a retirada de mísseis da ilha de Cuba, colocadas pelos soviéticos. A ação foi feita com um objetivo, e conhecimento das consequências.
A terceira é a ação social afetiva, em que a conduta é movida por sentimentos, tais como orgulho, vingança, ódio entre outros. Como exemplo, temos o revanchismo intransigente entre a França e a Alemanha, principalmente na unificação alemã (1871), quando esta aconteceu formalmente dentro do Palácio de Versalhes, tendo como consequência a humilhação Alemã ao fim da primeira Guerra, depois da derrota, sendo obrigada a arcar com todos os prejuízos. Sendo visível o caráter sentimental das relações entre esses Estados, motivando suas ações através de ódio, vingança, humilhação e etc.
E, por ultima a ação social tradicional: que tem como fonte motivadora os costumes ou hábitos arraigados, sendo aquela que não é motivada nem pela emoção, valor e nem por um fim especifico e sim pela inércia.
Através destas quatro ações (duas primeiras racionais, duas ultimas irracionais) nos é fornecido a ferramenta necessária para estipular um padrão de como as ações na sociedade são produzidas. De tal modo, é possível distinguir as maneiras possíveis de ação entre dois ou mais indivíduos.
Já os fatos sociais, podemos classificá-los como regras jurídicas, morais, dogmas religiosos, sistemas financeiros, etc., enfim, todo um conjunto de “coisas”, exteriores ao indivíduo e aplicáveis a toda a sociedade, que são capazes de condicionar ou até determinar suas ações. Porém estes fatos devem ter três características: coercitividade, característica relacionada com o poder, ou a força, com a qual os padrões culturais de uma sociedade se impõem aos indivíduos que a integram, obrigando esses indivíduos a cumpri-los; exterioridade relaciona-se ao fato de esses padrões culturais serem exteriores ao indivíduo e independentes de sua consciência e generalidade, em que os fatos sociais são coletivos, ou seja, eles não existem para um único indivíduo, mas para todo um grupo, ou sociedade. 
O conceito de fato social nos permite determinar um objeto de estudo. Em meio a tantas ações sociais, sem dúvida, aquela mais relevante para coletividade será caracterizada como um fato social.
Juntando os dois conceitos, podemos estender seus significados não somente para as relações sociais internas, mas para sociedade internacional. Por isso, fiz questão de ao definir ação social, exemplificar com acontecimentos do palco internacional. De fato, os países que se relacionam são, no final das contas, pessoas com sentimentos diversos e que agem em função e através destes, de forma racional ou irracional e que muitas das vezes influenciam de forma direta na coletividade de maneira coercitiva, geral e exterior ao indivíduo.
Entendido que a Sociologia possui mais ferramentas para tentar explicar, estudar e conhecer as relações internacionais do que outras, pois a sua visão mais abrangente do assunto lhe permite um distanciamento de extrema importância, buscando um conhecimento epistemológico e não uma mera interpretação dos fatos internacionais. Sendo assim, avancemos à introdução.
Introdução
É dito na introdução do texto sobre a renovação profunda do conhecimento dos fatos sociais. Por conseguinte, isso gerou uma “conurbação” parcial das disciplinas, isto é, à medida que elas cresciam, seus assuntos iam se encontrando. Como seria o estudo das Ciências Sociais sem a História? da Ciência Política sem a Filosofia? Assim, elas iam contribuindo entre si como é o caso da ciência Administrativa e o direito administrativo. De fato, esta evolução não aconteceu somente com fatos sociais internos, mas também em âmbito internacional. De maneira diretamente proporcional a complexibilidade dos fatos internacionais, foi à necessidade do seu estudo em separado, não atrelado formalmente com outras disciplinas, embora as Relações Internacionais de forma material careçam de um grande número de disciplinas, caracterizando-a como multidisciplinar.
Por ser ela, uma disciplina em desenvolvimento, muitas disciplinas reservaram-se e reservam-se ao seu estudo como qualquer outro assunto a ser estudado dentro de sua grade e não como algo específico e cada vez mais essencial para a saúde dos Estados, pois, indivíduos. Temos como exemplo o direito internacional, história das relações internacionais, economia internacional dentre outras. De maneira que estudantes destas áreas depois de formados, dificilmente têm o interesse de dar continuidade nos estudos de relações internacionais, poucos são aqueles que diante das opções de promotor, juiz, advogado delegado entre outras, escolhem após formação em direito, Relações Internacionais. É bem verdade que ainda assim, tal tema não venha sendo desprezado, mas é bem verdade também que um estudo mais direcionado, poderia render mais frutos do que contribuições que dependessem de outras disciplinas. Dessa forma, o livro tem como função nortear o estudo das Relações Internacionais, eixos que possam balizar o estudo, logo, o conhecimento da mesma pelo autor acreditar que haja a necessidade de criar-se uma disciplina autônoma, assim como vinha sendo feito nos Estados Unidos e Grã-Bretanha.
A similaridade entre a Ciência Política e as Relações Internacionais não são poucas, mas convém ressaltar aqui que, se a Ciência Política trata da coisa pública, da forma organizacional de que indivíduos se dispõem numa sociedade para que de forma harmônica sua interação aconteça; é vista, ainda, como a ciência do Estado, logo, cabe a ela também o estudo dos assuntos entre os Estados. Todavia este estudo não deve ter precedência sobre os assuntos internos, servindo-os como suporte. Já as Relações Internacionais trabalham de forma inversa, os assuntos internos são importantes, mas não tão quanto os externos. O autor chega a mencionar que se pode dizer que a disciplina “Relações Internacionais é o ramo da Ciência Política, dedicado ao estudo dos problemas internacionais” (pag.8). Ademais, ambas apresentam a dificuldade de obter-se uma metodologia única e universal, em função do caráter multidisciplinar no qual as duas estão circunscritas, pois como avaliar os acontecimentos internacionais em uma esfera restrita? A crise de 1929 noperíodo entre guerras, que por via econômica impactou substancialmente a Europa destruída pela Primeira Guerra Mundial, em especial a Alemanha humilhada pelo Tratado de Versalhes, tentando reconstruir-se e passando por uma séria crise, de fato não pode estar desvinculada com a ascensão de Hitler em 1932, ocasionando outra guerra sete anos depois. Nesse caso, o Direito, a Economia, a Ciência Política, a História torna-se essenciais para análise do sistema e da ordem internacional, inviabilizando métodos universais.
Há ainda a dificuldade de juntar fatos referentes à relação entre Estados por sua diversidade e abundância. De uma perspectiva do direito constitucional, a Constituição brasileira é classificada como analítica, enquanto Estados unidos, sintética. Ela também é classificada como eclética, enquanto China, dogmática. Embora haja a existência de um direito internacional que, teria como função trazer para um lugar comum o Direito dos países, seria superficial o estudo internacional sem uma base das Constituições dos países integrantes do sistema internacional. Mesmo porque tais Constituições são inúmeras e retratam, inevitavelmente, a postura destes países no tocante aos assuntos internacionais. Ademais, há ainda necessidade deste conhecimento a fim da ciência das consequências dos seus cidadãos em relação à estadia em outro pais soberano que, possa extraditá-lo, expulsá-lo ou deportá-lo, podendo influenciar certamente na diplomacia dos países envolvidos, enfim, exemplos não faltam. Temos, ainda, países autocráticos, democráticos, capitalistas ou não, em união aduaneira ou não, laicos ou não. Dentro de tantos detalhes, como teorizar, explicar e analisar as relações internacionais? Eis a principal dificuldade de avaliar os fatos internacionais.
Além disso, existem entraves tangentes à publicação e acesso ao material de estudo. Ora, políticos, sindicatos, partidos, governos não irão fornecer materiais para que possam servir de estudo de forma fácil, mesmo porque nem todos os materiais são de caráter ostensivo. E, os que estão disponíveis, não são totalmente seguros. Diante das notícias lançadas pela mídia que, demasiadamente, cegam a todos, não se pode confiar sem o risco de conclusões equivocadas. Num pronunciamento feito por um ministro estadunidense depois que a Rússia anexou a Crimeia, comparando Vladimir Putin a Lênin, não pode ser visto de forma leviana. O trabalho deve ser feito com um olhar mais crítico, questionando sobre a intenção que ele tinha realmente ao fazer o pronunciamento. Esta ação era afetiva, irracional, movida por ódio ou medo? Ou racional, com intenção de promover um impacto à opinião pública e/ou intimidar Putin? Decerto, as perguntas são infinitas, assim como suas respostas, e a certeza muito improvável. A consequência da gigantesca quantidade de fatos adjacente ao pouco material para apreciação dos mesmos fatos, faz com que o analista recorra, muitas vezes, a visão pessoal do assunto. Antes do início do capítulo o autor ressalta que essa exposição e variedade dos fatos internacionais são suscetíveis de relativismo, mas não devem ser vistos de forma simplista. Usando um termo da filosofia, mas usualmente usado na disciplina de Guerra e Paz como “a forma de interpretar o conhecimento”, sintetizo a introdução como a necessidade de aplicar o conhecimento ontológico para entender as relações entre Estado de forma não simplista. Por isso, da sua apresentação em três partes do primeiro capítulo: clássica, marxista e por fim, sociológica com inspiração anglo-saxônica.
Conceito Clássico
É apresentado no conceito clássico a sua coincidência com a formação do Estado-nacão no século XVII. Sendo elaborado por filósofos, pelo fato do direito natural não mais atender às necessidades daquela sociedade, faz-se primordial a explicação das relações da coletividade, de como ela se organiza, já que nesse momento os “pedaços de terra” tornam-se grandes Estados.
Nessa perspectiva Thomas Hobbes constrói uma lógica chamada de Estado de Natureza. Na sua tese, ele defende a ideia de que homem em Estado Natural é antissocial por natureza e só se move por desejo ou medo. Se ele vivesse extremamente afastado de toda coletividade, usando a terra somente para produzir para sua subsistência, não existiria problema algum. Todavia, vivendo em conjunto e sob o princípio da autopreservação, seria induzido a impor-se sobre os demais, semelhante a um animal feroz – “o homem é o lobo do homem”- estabelecendo, assim, um convívio caótico, vivendo num período permanente de uma guerra de todos contra todos.
Em resposta, haveria a necessidade de um poder organizado para impedir esta guerra de todos contra todos dentro da República, poder este que seria dado do povo para um soberano. Que por sua vez com todo o poder em suas mãos, teria que, pela regra da maioria, sintetizar todos os desejos e anseios do povo em uma só vontade. Além disso, o Soberano teria acesso ao uso legítimo da força. Mesmo que a minoria não concordasse com ação tomada pelo Soberano e quisesse de alguma forma sabotá-lo, ele poderia reprimir violentamente, se fosse para manter a segurança e paz da República. Esta relação entre povo e Soberano seria caracterizada como um contrato. Ambos assinariam de maneira que, enquanto o povo abre mão da sua liberdade e o poder de se autogovernar, o Soberano assegura a convivência harmonia entre o povo. 
Contudo, com um olhar das Relações Internacionais, este contrato é possível de acontecer entre povo e Estado, mas não é verdadeira a mesma afirmação entre as Repúblicas. Pelo fato de não existir um poder “suprarrepublicano”, a relação vigente entre elas ainda é do Estado de natureza, e por isso, Hobbes afirma não existir justiça fora das Repúblicas. Ora, se não há leis que regulem o comportamento das mesmas, como seria possível puni-las, sobretudo, taxá-las como justas ou injustas? Dessa forma, faz-se nítida a diferença de dois mundos: da anarquia (externo) e das Repúblicas (interno).
Herança
Diante de inúmeros pensadores que aceitaram a tese de Hobbes, acreditavam que o sistema internacional só poderia ser baseado no Estado de natureza. Para ilustrar, o autor faz alusão a alguns como: Jonh Locke (“os príncipes e os magistrados dos governos que existem no universo encontram-se no estado de natureza”), Kant (“o estado de paz entre os homens que vivem lado a lado não é um estado de natureza, é, antes, um estado de guerra nem sempre declarado, mas sempre ameaçadora”), mas ele destaca ainda a contribuição significativa do pensamento de Raymond para as Relações Internacionais. Raymond acreditava numa extrema diferença entre política externa e interna, pela desordem da primeira, falta de regras e pluralidades de soberanos, enquanto a segunda exerce um monopólio legitimo da força, estipulando normas e regras e submetendo seus cidadãos a obedecê-las de forma ordenada. Ele ainda acreditava, que tal disparidade só seria sanada se ocorresse a implementação de um Estado universal, isto é, não mais divisões entre interno e externo. Na ratificação do seu pensamento, Raymond chega a mencionar o termo “sociedade asocial”, ou seja, as relações em âmbito internacional são tão desordenadas, tão autônomas, desprovidas de uma fidelidade de linha de raciocínio, que não podem ser nomeadas como uma sociedade social.
Portanto, a teoria do Estado de Natureza é suscetível de singulares interpretações, não por um conjunto restrito de pensadores, e sim pelos mais variados pensadores, em que suas ideias não necessariamente completam-se entre si, muitas vezes sendo antagônicas. Eis os dois exemplos bem interessantes acerca do antagonismo formado entre si, mas sobre a mesma base que é o Estado de Natureza. 
O primeiro, sob uma postura realista, acredita ser importante a evolução de tratados e acordos feitos entre Estados, porém não se deve deixar-se iludir, sua importância é secundária nas relações internacionais, pois o essencial é a figura do Estado. Na verdade, os tratados e convenções seriam nada menos do que reflexosdos Estados, que só acontecem pela vontade dos mesmos. A Política de Poder seria a base das relações entre os Estados, na qual aquele que possui mais poder dita as regras sobre os demais. Assim, o Estado de Natureza teria um caráter permanente, porque ao final das contas, todos fariam de tudo para ganhar poder, preconizando seus próprios interesses, muitas vezes em detrimento de outros Estados.
Podemos ver facilmente esta visão com os acontecimentos de 1939, Hitler quebra o Tratado de Versalhes invadindo e dividindo a Polônia pelo Pacto Molotov-Ribbentrop, feito com a União Soviética, invadindo esta, posteriormente, quebrando também o Pacto Molotov. Hitler, só respeitou os tratados, quando lhe era conveniente, a partir do momento que seus interesses veem os tratados como entraves para o seu sucesso, sem hesitar, quebra-os. Desta forma, é possível perceber que os interesses dos Estados estão num patamar muito superior dos tratados feitos por eles.
O segundo, sob uma postura mais idealista, afirma ser essencial a existência de instituições e organizações internacionais para manter a ordem do sistema internacional. Elas seriam atores assim como o Estado, exercendo uma grande influência nas ações dele. Referente ao Estado de Natureza, a postura idealista o veria como transitório nas relações humanas, a evolução da humanidade faria com que, assim como foi feito o pacto, tratado entre o povo e a República, far-se-ia entre Repúblicas. Porque da mesma forma que na explicação de Hobbes o homem era movido pelo medo e autopreservação, assim seriam os Estados. Eles não cessariam a guerra uns com os outros se não fosse aderido esse pacto.
Foi sob este raciocínio que foi criada a Sociedade Das Nações depois da Primeira Guerra Mundial e a Organização Das Nações Unidas (ONU), depois da Segunda. Não se extinguindo de forma total a questão da anarquia nas relações entre os Estados, mas pelo menos, estabelecendo-se uma governança, isto é, regras e normas a serem obedecidas, mesmo sem uma autoridade suprema. Essa visão de que os Estados devem estipular o mínimo de regras para se relacionarem entre si (direito internacional), é defendida principalmente por juristas, já que a intitulação de um poder acima dos Estados faz-se utópica.
Ainda sobre a visão de atores nas relações internacionais, visão mais realista: o Estado é nomeado como principal e único ator e a visão mais idealista: as instituições e organizações internacionais, também são nomeadas como atores, o autor fala ainda, da influência de atores que não são nem Estados, nem tampouco Instituições e Organizações Internacionais.
A partir do século XX, com a revolução técnico cientifica informacional, os países ficaram menos distantes uns dos outros. A autoimolação de Mohamed Bouzizi na Tunísia em 2010, servindo como estopim da Primavera Árabe, retrata esta aproximação entre os países. Quem poderia imaginar que a morte de um individuo comum na Tunísia poderia influenciar uma sucessão de manifestações, não só no mundo árabe, mas pode-se dizer por todo o globo, inclusive o próprio Brasil?
Portanto a tese de Hobbes serve de forma significativa como vértice, norte para assumir uma determinada visão das relações internacionais. Entretanto, as suas interpretações muitas vezes são contraditórias e excludentes entre si. De modo que ao escolher uma, automaticamente exclui-se a outra e ao certo não se sabe se este é um aspecto positivo ou negativo, prometendo o autor tratar deste assunto no terceiro capitulo do livro.
Menciona ainda, a posição de Raymond, defensor do modo clássico e de Clausewitz, que acredita sim numa posição notável do Estado, mas não única. Ela seria apenas um fragmento das relações internacionais. Dessa maneira seriam atores também: empresas privadas, ONGs, movimentos internacionais entre outros. Em adição, ele acredita ser o Estado subordinado ao individuo, de forma que se extinguindo o conceito de Estado, os indivíduos sobrevivem; o indivíduo que cria o Estado e não o contrário. Um remédio possível apresentado por Raymond para anarquia internacional seria a personificação do Estado. À medida que ele cativa o respeito e a confiança como soberano da sua população, os conflitos ideológicos regridem.
Ao olhar para trás, é notório este regresso. Antes de 1648, antiguidade, idade média, cruzadas e etc., a quantidade de conflitos era muito mais intensa que depois da formação do Estado-nação com a Paz de Westfalia. Foram centralizados os conflitos, pois não mais tribos, instituições religiosas poderiam fazer guerra e sim o Estado constituído por população, governo e território. A tendência deduzida é que quanto mais centralizado o poder estiver, menos caos o mundo terá, formando um mundo universal.
Juristas
A função do jurista é essencial para promover leis e fazer-se cumprir as mesmas, o direito possui um papel legitimador do uso ilimitado da força pelo Estado, formalizando o pacto que há entre sociedade e Estado. Porém apresenta dificuldades no tocante a relação que há entre fato jurídico e fato social. Já mencionado na introdução, o fato social de Durkheim, não necessariamente é um fato jurídico, mas todo fatos jurídico é social. Então, de forma não natural os juristas através de um poder normativo reduzem diversas relações, resumem diversas interações entre Estados em leis muito restritas, que sempre excluem algo, não podendo tratar do assunto de forma completa. Dessa forma, muitas das conclusões tomadas por estes, na esfera internacional, podem ser errôneas e incompletas por ter uma visão limitada sobre as relações entre pessoas, pois, Estados.
Como o internacionalista tem várias correntes, realista, marxista, construtivista, idealista, os juristas fazem o uso também das correntes como guia para determinados assuntos, interpretando-os baseados nos direitos.
A primeira interpretação dos juristas em relação ao ordenamento das relações sociais foi baseada no direito natural. Tal direito é fundamentado em aspectos essencialmente morais, almejando estabelecer um código de boa conduta para o uso dos Estados, ou seja, subordinar os Estados a leis universais, que foram difundidas a priori pela Igreja Católica e que até os dias de hoje, restam resquícios ou convém até dizer sequelas. Porém, devido a sua natureza subjetiva e sujeito às interpretações demasiadamente pessoais dos príncipes dos Estados, ele caiu em desuso por não conseguir explicar as relações entre os Estados nem mesmo regulamentá-las.
A segunda é o direito positivo que, caracterizado como uma adaptação das necessidades da sociedade internacional, ou seja, à medida que os Estados carecem de segurança para tomarem determinadas ações sem serem pegos de surpresa, é assinado pactos, acordos e contratos, justamente para se ter uma certa previsibilidade, facilitando a vida dos próprios Estados. Positivistas acreditam que, através destes acordos, existe a possibilidade de policiar as relações entre Estados, tornando-os mais pacíficos. Contudo, surge um paradoxo: se não há um poder de enforcement (nomenclatura da disciplina Guerra e Paz), punição nas relações internacionais, os países teriam que obedecer aos acordos calcados no direito natural, quer dizer, de acordo com a moralidade de cada Estado. E, como o direito natural é incompleto -como já foi mencionado- o Estado de natureza subsiste ainda.
O ultimo é sobre a escola objetivista, que defende a instauração de um sistema jurídico global, no qual com o recurso federalista, dissolveria o Estado e formaria uma repartição organizacional equilibrada, detentora de uma hierarquia, revestindo indivíduos de mandatos. As relações não seriam mais ordenadas por tratados e compromissos entre os Estados, mas sim pelo respeito ao direito. Pela abordagem simplista e distante das relações internacionais, tal pensamento perdeu a credibilidade e extinguiu-se.
Dentro das ideias apresentadas da perspectiva do direito, percebem-se duas vertentes bem distintas, ora juristas são fieis a realidade com um pensamento clausewitziano, contribuindo para manutençãodo status quo (positivistas), ora são idealistas kantianos, sendo suas projeções incompatíveis com a realidade (direito objetivo, natural).
Há a questão ainda que, o processo decisório do direito é baseado em algumas variáveis, muitas vezes de forma discricionária, acaba-se acentuando a distância entre o fato e a norma. Por conseguinte, suas conclusões e vereditos tornam-se injustos, pois o direito internacional, embora tenha como alicerce o direito interno, que por si só já tem uma tradição em normas e a evolução das mesmas é retardada pela própria norma, é demasiadamente jovem, dificultando ao jurista fazer um prognóstico os fatos internacionais. 
Ademais, foi convencionado por ele, que os Estados são os únicos atores, tudo acontece por meio deles, tratados não são assinados por organizações, mas por estados soberanos. Todavia, já vimos que não é somente a sua presença que influencia o mundo. Logo, torna-se, no mínimo imprudente, julgar as relações entre Estados a partir do direito. De qualquer forma, sua contribuição é de grande importância pela abordagem técnica e pela difusão da ideia clássica dos filósofos.
Historiadores
Enquanto os juristas devem respeitar uma sequência de procedimentos para análise, estudando o fato de uma visão unicamente jurídica através do direito, o historiador não. Este tende a ser mais neutro nas relações interpessoais que ocorrem no passado, pelo menos para o acolhimento de fatos. Enquanto um jurista tem como fonte de objeto de estudo documentos oficiais, ou seja, documentos do governo, o historiador não tem fonte especifica, pelo fato de ter ocorrido uma evolução metodológica nas pesquisas dos historiadores, compreendendo que além dos governos, a opinião pública, jornais servem como grandes fontes de estudo. De fato se há uma guerra entre países, o jurista procurará entrar em contato com documento, pronunciamento oficial dos países conflitantes, a posição de cada um perante o conflito, diferente do historiador que não recusará fonte alguma, podendo ser oriunda de jornais, nativos da guerra e principalmente a própria historia, tudo para um melhor entendimento do conflito da guerra. Tal característica do historiador, o faz mais apto a tratar dos assuntos das relações internacionais com mais liberdade que os juristas.
Durante muito tempo, o estudo da diplomacia, política exterior e outros aspectos internacionais eram confundidos com as relações internacionais. Somente no início do século XX, as confusões foram cessadas, visto que o grau de complexibilidade e interação entre os países proporcionados pela I e II Guerras mundiais e ainda com a Guerra fria, destacou e definiu, realmente, as relações internacionais; mostrou que as relações internacionais eram tão vitais quanto à ciência política, porque no mundo globalizado que se vive, em que a conexão de uns com os outros é constante, seria impossível viver trancado em sua residência, sem a comunicação com o lado de fora, seja para negócios, seja para compra de produtos para sua sobrevivência, ou até para ter certeza que o seu sossego não vai ser perturbado por invasões de outrem, já que os vizinhos não precisam andar tanto para até você chegarem.
 Podemos afirmar que o papel do historiador foi trazer à tona, colocar em evidência para todo mundo a eclosão desta disciplina. E, diante de tanto pioneirismo, por que não a História ser responsável pelo o estudo das relações internacionais? 
A função do historiador e o seu olhar para história, faz com que quanto mais contemporâneo o fato seja, mais distante o historiador o verá e fará juízo de valor sobre o mesmo. Sua postura é inversa da ciência política, enquanto uma infere no presente, a outra tira conclusões consistentes somente do passado.
Em 1937 foi instaurado o Estado Novo protagonizado por Getúlio Vargas. O motivo pelo qual Vargas alegou a necessidade de um Estado de Guerra	 foi à ameaça de um plano comunista ter sucesso no Brasil. O Plano Cohen, segundo Vargas, tinha sido arquitetado pelo partido comunista para consquitar o Brasil. o historiador na época, não poderia fazer juízo de valor sobre a autenticidade do plano Cohen ou não, pela proximidade que ele tinha do fato no momento ocorrido, depois de um distanciamento de alguns anos, ele pode inferir que o plano não passava de uma farsa, tempo esse que o cientista político não dispõe a sua disposição para a avaliação dos fatos. E, mesmo que o corpo docente de cientistas políticos estivesse presente em 1937 (pois não existia o estudo da Ciência Política propriamente dito na época), dificilmente eles conseguiriam descobrir a tempo o golpe que Vargas estava dando no seu próprio governo. 
É por isso, que a historia tem um lugar auxiliar nas relações internacionais e não pode somente ela dedicar-se ao estudo integral desta disciplina. As Relações Internacionais como a Ciência Política demanda uma intimidade com a atualidade, com acontecimentos que obriga o internacionalista tomar medidas no ato, com destreza e não cabe esperar que de acordo com o tempo a certeza apareça.
Conclusão
O trabalho virtuoso do Merle promove um debate e sublinha a formação de uma disciplina que, nos dias de hoje vê-se como nova, mas na conjuntura que o livro foi escrito, era muito mais novidade do que na atualidade, mostrando quão visionário e brilhante Marcel Merle era.
Nessa primeira parte do livro, ficou claro que a disciplina Relações Internacionais, é sustentada numa espécie de tripé: Ciência Política, Direito e Historia. Em suma, o papel da Ciência Política é do debate das escolhas e assuntos internacionais, já do Direito é normatizar os mesmos assuntos e tipificá-los, estabelecendo padrões, e por fim, a História fornece uma base para as ações, pois não se pode praticar nenhuma ação sem o mínimo de conhecimento prévio sobre a mesma. Estas disciplinas não podem trazer para si o estudo isolado por serem insuficientes quando sozinhas para o entendimento das relações entre os Estados. O Direito está muito preso à norma, o limitando ao estudo amplo, a Ciência Política aos assuntos mais internos do que externos, e por último, a História que se detém no passado. É claro também que, o tripé é só uma base, existem várias outras disciplinas que podem fazer parte das Relações Internacionais.
Foi mostrado também, o conceito Clássico. Tal qual orienta uma série de interpretações, pelas quais tanto realistas quanto idealistas fazem o seu uso. Demonstrando que, embora em desenvolvimento, a disciplina é muito promissora em função das necessidades entre os Estados. Porque o sistema internacional nos dias de hoje está muito mais conectado do que há trinta anos, e avaliando a visão do Merle no livro em comparação com os dias atuais, parece que a tendência é aumentar cada vez mais, numa visão para o futuro. 
Sendo interessante também chamar atenção à visão do autor, que eu particularmente concordo, da desvinculação da disciplina com qualquer outra. Decerto, os assuntos internacionais merecem mais atenção do que vinha sendo dado até então. Há uma lacuna nas diversas áreas internacionais, que podem ser preenchidas por esta disciplina. Sendo assim, nada mais prudente do que torná-la autônoma, embora no Brasil ela ainda esteja atrelada a Ciência Política.
Portando, a fim de escapar de um comentário demasiado sobre a obra, encerro o presente trabalho com uma visão sobre Relações Internacionais muito mais subjetiva e ampla do que tinha antes de lê-lo ; do caráter não taxativo, da incapacidade, por ser recente, da formação de uma teoria universal, pois existem mais variáveis do que constantes nessa equação, restando-nos fazer proposições a fim de prever, em suma, fatos que sabemos que são imprevisíveis.

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