Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Introdução à psicologia do esporte Dietmar Samulski INTRODUÇÃO Já ao final do século XIX, existiam estudos e pesquisas relativas a questões psi- cofisiológicas no esporte. Na década de 1920 surgiram os primeiros laboratórios e institutos de psicologia do esporte: na antiga União Soviética (Rudik, Puni), nos Es- tados Unidos (Griffith), no Japão (Matsui) e na Alemanha (Schulte, Sippel). Por conseguinte, a psicologia do esporte ainda é uma ciência muito recente, que precisa se desenvolver em muitas áreas. No ano de 1965, foi fundada em Roma a Sociedade Internacional de Psicolo- gia do Esporte (International Society of Sport Psychology- ISSP). Seu primeiro presidente foi eleito: F. Antonelli, da Itália. Em toda a sua história, a ISSP realizou 11 congressos mundiais em diferentes países e continentes. Atualmente a ISSP tem 2.500 filiados de 100 países diferentes (Salmela, 1991). O número de psicólogos do esporte no mundo é estimado, hoje, em aproxima- damente 5 mil pessoas. A ISSP possui um órgão oficial de publicação, o Internatio- nal J ournal o f Sport Psychology and Exercise, no qual os psicólogos do esporte de todo o mundo podem publicar os resultados de suas pesquisas. O desenvolvimento da psicologia do esporte na América Latina teve início na década de 1970. No ano de 1979, foi fundada a Sociedade Brasileira de Psicologia do 2 Esporte, da Atividade Física e da Recreação (SOBRAPE), e, em 1986, foi criada a So- ciedade Sul-Americana de Psicologia do Esporte, da Atividade Física e da Recreação (SOSUPE). O primeiro presidente eleito no Brasil foi B. Becker. J. Palacio (1991) na Colômbia, B. Becker (1991, 2000) no Brasil, e G. Dellamary e R. Balboa (1991) no México traçaram um bom panorama sobre o desenvolvimento e a situação atual da psicologia do esporte· na América Latina. O Brasil ocupa uma posição de liderança na América Latina, na área da psicologia do esporte, o que pode ser comprovado com base no grande volume de publicações, no número dos congressos realizados, bem como na quantidade de laboratórios de psicologia do esporte existentes. No Brasil foram realizados doze congressos brasileiros, três congressos sul-americanos e cinco simpósios internacionais. Na área de psicologia do esporte existem tantas teorias, definições e interpre- tações quantos são os psicólogos do esporte no mundo. Muitos desses profissionais entendem a psicologia do esporte como uma subárea da psicologia aplicada (psico- logia no esporte), e outros a entendem como uma disciplina das ciências do esporte. Nos últimos anos, a psicologia do esporte pôde se emancipar da sua "ciência-mãe", a psicologia. Atualmente, ela é uma disciplina científica independente, com suas próprias teorias, seus métodos e programas de treinamento. Tabela 1.1. Congressos mundiais e brasileiros de psicologia do esporte Congressos brasileiros de psicologia do esporte Ano Local 1981 Porto Alegre 1983 Rio de Janeiro 1985 Recife 1987 Tramandaí 1990 Belo Horizonte 1993 . Novo Hamburgo 1998 Tubarão (SC) 2001 Belo Horizonte 2002 Rio Claro (SP) 2003 Rio de Janeiro 2004 Curitiba 2006 São Paulo 2008 Belo Horizonte - - - ~- -- ~ - - - - - Congressos mundiais de psicologia do esporte Anõ local 1965 Roma (Itália) 1968 Washington (Estados Unidos) 1973 Madri (Espanha) 1977 Praga(Rep. Tcheca) 1981 Ottawa (Canadá) 1985 Copenhague (Dinamârca) 1989 Singapura 1993 Lisboa(Portugal) 1997 Tei-Aviv (Israel) 2001 Skiathos (Grécia) 2005 Sydney (Austrália) 2009 Marrakéch.(Marrocos) ---------· A psicologia do esporte se ocupa da análise e modificação de processos psíqui- cos e de ações esportivas. Muitos autores partem do princípio de que a ação esporti- va representa um comportamento intencional e psiquicamente regulado. O presente livro baseia-se também nos princípios da teoria da ação (action-theory). As tarefas dos psicólogos do esporte nas diferentes áreas de atuação são muito exigentes e variadas. Concluindo, deve ser enfatizado que o psicólogo do esporte deve se orientar por princípios éticos básicos no exercício de sua profissão. DEFINIÇÃO DA PSICOLOGIA DO ESPORTE A psicologia do esporte representà uma das disciplinas da ciência do esporte e constitui um campo da psicologia aplicada. Segundo Nitsch (1989b:29), "a psicologia do esporte analisa as bases e os efei- tos psíquicos das ações esportivas, considerando por um lado a análise de processos psíquicos básicos (cognição, motivação, emoção) e, por outro, a realização de tarefas práticas do diagnóstico e da intervenção". "A função da psicologia do esporte consiste na descrição, na explicação e no prognóstico de ações esportivas, com o fim de desenvolver e aplicar programas, cien- tificamente fundamentados, de intervenção, levando em consideração os princípios éticos" (Nitsch, 1986:189). A psicologia do esporte, segundo a Federação Européia de Associações de Psi- cologia do Esporte - FEPSAC (1996), refere-se aos fundamentos psicológicos, pro- cessos e conseqüências da regulação psicológica das atividades relacionadas ao es- porte, de uma ou mais pessoas praticantes dos mesmos. O foco desse estudo está nas diferentes dimensões psicológicas da conduta humana, ou seja, afetiva, cogniti- va, motivadora ou sensório-motora. Os sujeitos investigados são os envolvidos nos esportes ou exercícios, como atletas, treinadores, árbitros, professores, psicólogos, médicos, fisioterapeutas, espectadores, pais. (Becker, 2000: 19) A psicologia do esporte e do exercício é o estudo científico de pessoas e seus comportamentos no contexto do esporte e dos exercícios físicos e a aplicação desses conhecimentos. Segundo Weinberg & Gould (1999), os psicólogos do esporte precisam enten- der e ajudar os atletas de elite, crianças, atletas jovens, atletas portadores de limita- ções físicas e mentais, pessoas de terceira idade e pessoas que praticam atividades es- portivas no seu tempo livre, com a finalidade de desenvolver uma boa performance, uma satisfação pessoal e um bom desenvolvimento da personalidade por meio da participação. 3 4 Os mesmos autores destacam diferenças entre a psicologia do esporte orientada, a psicologia clínica e a psicologia educacional. Os psicólogos com orientação clíni- ca são responsáveis pelo tratamento de atletas com sérios problemas emocionais; os psicólogos com orientação educacional (mental coach) ajudam os atletas e técnicos a desenvolver e treinar suas capacidades e habilidades psicológicas (psychological skill). RELAÇÕES FUNDAMENTAIS Psicologia do esporte e psicologia A psicologia do esporte não deve ser interpretada somente como uma matéria especial da psicologia aplicada. O esporte e as ações esportivas têm suas regras pró- prias, suas estruturas e seus princípios. Como conseqüência, surge a necessidade de a psicologia do esporte recorrer a teorias e métodos psicofisiológicos que melhor se adaptam a situações esportivas específicas. O desenvolvimento de teorias da psicologia do esporte e de métodos especifi- camente esportivos pode contribuir para o desenvolvimento da psicologia, pois as duas são intrinsecamente relacionadas. Psicologia do esporte e ciência do esporte Como ciência "jovem'', a ciência do esporte abrange um grande número de di- versas teorias e conceitos nas áreas de educação física e esporte. A psicologia do es- porte, entretanto, é um componente integrado à ciência do esporte, estabelecendo uma relação interdisciplinar com as disciplinas científicas apresentadas a seguir. Medicina do esporte- fisiologia do esporte Temas interdisciplinares: Relação entre atividade física, saúde e qualidade de vida; esporte na terceira idade; diagnóstico do rendimento esportivo; diagnóstico de talentos; diagnóstico e controle do estresse psicofísico; análise da fadiga física e men- tal;análise da sobrecarga (overtraining); prevenção de lesões esportivas; controle da dor de atletas; aclimatação de atletas; doping e abuso de drogas; princípios éticos no esporte; preparação de atletas olímpicos e paraolímpicos. Sociologia do esporte Temas interdisciplinares: Interação e comunicação de grandes grupos; análise de instituições e organizações esportivas; comportamento agressivo e violência na torcida; socialização por meio do esporte; importância e significado de valores; nor- mas e regras do esporte; moral e ética no esporte; influências dos meios de comuni- cação; influências dos pais sobre seus filhos atletas; influências sociais no desenvol- vimento da carreira esportiva; causas sociais do doping e consumo de drogas. Teoria do treinamento Temas interdisciplinares: Diagnóstico e controle da carga no treinamento; pre- venção de sobrecarga (overtraining); treinamento técnico-tático; treinamento mental; treinamento de···atletas jovens; diagnóstico de talentos esportivos; interação e comuni- cação entre técnicos e atletas; periodização e controle do treinamento; planejamento de uma carreira esportiva; treinamento de mulheres; técnicas de recupe.r:ação. .. ,. ~r I Psicologia ..... I Subdisciplinas I • Psicologia geral, desenvolvimento, social • Personalidade • Psicologia educacional, clínica, industrial • Metodologia Psicologia do esporte • Pesquisa • Ensino • Aplicação "' ...... ,,.. I Áreas de pesquisa I Áreas de aplicação no esporte • Regulação do movimento • Esporte na escola • Controle do treinamento • Esporte no rendimento • Estresse e regeneração • Esporte na recreação • Prevenção e reabilitação • Esporte na reabilitação I Outras ciências do esporte I I Atividade esportiva Figura 1.1. Psicologia do esporte e suas inter-relações com a psicologia, com outras ciências do esporte e com a atividade esportiva (Nitsch, 1989b:31 ). 5 ; 6 Fsíc Aprendizagem motora Temas interdisciplinares: Atenção e percepção no esporte; tomada de decisão; processamento de informações e memória; técnicas de feedback; influência da moti- vação no processo de aprendizagem; importância da coordenação psicomotora; trei- namento da coordenação; treinamento técnico; influências sociais na aprendizagem motora; aprendizagem social. Psicologia do esporte e prática esportiva Pode-se afirmar com segurança que uma das tarefas da psicologia do esporte é a aplicação das suas teorias e métodos na prática do desporto e a comprovação de sua utilidade nessa prática. Porém não significa que a psicologia do esporte esteja reduzi- da a uma simples função de serviço. A psicologia do esporte não foi concebida para prescrever aos praticantes receitas ou patentes, como alguns treinadores desejam. - ··-··- ·--··-- --···- - ·-·····--·······- ·-·······-·--····-·-·- ·- ·- ·-- -···---·--·----- -----·-···-··--··-····-- ·-·-··-----··--····-·-········- -···········--- ········-· A psicologia do esporte também se desenvolve como ciência. Porém, devemos trabalhar com atenção e exatidão científica na prática esportiva para não convertê-la em uma psicologia que simplifica todos os fenômenos. Outro aspecto é que a prática esportiva é um campo ideal de investigação para a psicologia do esporte. Ela necessita do esporte para comprovar suas teorias e para poder aplicar seus métodos. O problema apresenta-se no fato de que os psicólogos esportivos e os que se ocu- pam da parte prática possuem conceitos e compreensões diferentes sobre o que é ciên- cia e o que é prática. Nesse caso, cada parte deve aprender com a outra, ou seja, as pes- soas que se ocupam da parte prática, como o treinamento, devem se aprimorar com a ajuda dos psicólogos desportivos, tanto no campo teórico como no metodológico; os psicólogos desportivos devem aprender e compreender a realidade e os problemas da prática esportiva com a ajuda das pessoas que se ocupam da parte prática. Com base nessa interação, pode-se desenvolver uma boa cooperação que ajuda- rá tanto a psicologia do esporte como a prática esportiva. TAREFAS E FUNÇÕES DO PSICÓLOGO DO ESPORTE Segundo Singer (1989), o psicólogo do' esporte tem as seguintes tarefas: • Cientista/pesquisador, o qual contribui na produção de conhecimento; • Docente, o qual transmite conhecimentos; • Intermediário entre técnico e atleta; • Especialista em psicodiagnóstico, o qual mede o potencial do atleta; • Especialista em análise das condições do treino; • Especialista para otimizar o desempenho; • Conselheiro para solucionar conflitos; • Consultor-especialista em consultoria de programas psicológicos; • Responsável pela saúde e pelo bem-estar dos atletas. Nitsch (1986) destaca funções e tarefas do psicólogo do esporte, apresentadas a ··' seguu. Ensino Os professores de educação física e técnicos esportivos, além de transmitir co- nhecimentos e habilidades téalicas esportivas, precisam de conhecimentos e capaci- dades psicológicas específicas para melhor compreender o comportamento humano no âmbito do esporte. Os cursos e seminários psicológicos são realizados tendo em vista, principal- mente, as seguintes metas: 1. Transmissão de princípios e fundamentos psicológicos dos processos de apren- dizagem e de ensino. 2. Transmissão de conhecimentos e capacidades psicológicas para a educação prá- tica nos diversos setores de aplicação no esporte: 3. Transmissão de conhecimentos e técnicas em metodologia da pesquisa psicológica. 4. Transmissão de técnicas para aquisição e desenvolvimento próprio dos conteú- dos citados na futura prática profissional. Pesquisa De modo geral, a pesquisa psicológica no esporte é voltada para as seguintes tarefas: 1. Desenvolver uma teoria de ação esportiva como base para a explicação e o prog- nóstico de fenômenos psicológicos no esporte, no sentido de que nada é mais prático do que uma boa teoria. 2. Desenvolver procedimentos diagnósticos para medir características psicológi- cas de pessoas, de situações e de atividades esportivas (por exemplo, motivação para o rendimento, medo e agressão no esporte, coordenação psicomotora, per- sonalidade de atletas e treinadores). 3. Desenvolver medidas de intervenção psicológica para ensino, treinamento, competição e terapia (preparação e assessoria psicológica). 7 8 Intervenção A intervenção psicológica na prática esportiva (por exemplo, no esporte escolar e de rendimento) pode ser realizada por meio de determinados programas psicológicos de treinamento, assim como por medidas psicológicas de aconselhamento e acompa- nhamento. A seguir, serão esclarecidas as formas de intervenção, treinamento, acom- panhamento psicológico (coaching) e aconselhamento psicológico (counselling). Acompanhamento psicológico ( coaching) Segundo Gabler ( 1979), a meta principal do coaching psicológico é "influenciar atletas como indivíduos e equipes, como grupos sociais, de tal fonna que possam realizar suas possibilidades máximas de rendimento na competição. Nesse contexto, as metas específicas do rendimento esportivo devem orientar e direcionar a regula- ção psíquica na competição". As principais tarefas do coaching psicológico são, sobretudo, a preparação psi- cológica em função do adversário, o desenvolvimento da autoconfiança e da força de vontade, assim como a aplicação de medidas de motivação e orientação tática an- tes, durante e depois da competição. No caso do coaching, o trabalho do psicólogo esportivo está diretamente ligado. a situações concretas. Conceito de mental coaching (Nitsch, 1999) O objetivo do mental coaching, segundo Nitsch (1999), é o desenvolvimento das capacidades de auto-regulação e auto-administração (self management) de técnicos, atletas, dirigentes e árbitros esportivos por meio de assessoria psicológicaprofissional. O modelo do mental coaching implica os seguintes métodos e programas psico- lógicos (Nitsch, 1999, 61): 1. Diagnóstico da personalidade e análise de sistemas esportivos e sociais; 2. Treinamento psicológico com o objetivo de desenvolver e treinar a competên- cia psicossocial (cognitiva, emocional, volitiva-motivacional, social); 3. Assessoria e assistência psicológica e social (social support); 4. Intervenção psicológica em situações de crises emocionais. Aconselhamento psicológico (counselling) O aconselhamento psicológico tem co1no meta ajudar os técnicos e desportistas a entender e solucionar, da 1nelhor maneira possível, os seus problemas psicológicos e sociais. Uma tarefa específica do psicólogo é ajudar emocionalmente as pessoas nas fases de insegurança, a fin1 de que elas possam encontrar rapidamente sua segurança e autoconfiança. Na aplicação de medidas de aconselhamento psicológico enfatiza-se o desenvol- vimento da auto-responsabilidade. As diferentes formas de intervenção psicológica não devem ser analisadas isoladamente, porém aplicadas em conjunto, segundo o problema psicológico existente. T REINAMENTQ··-PSICOLÓGICO Objetivos e princípios éticos do treinamento psicológico Segundo Nitsch (1985:150), ''o objetivo e a meta do treinamento psicológico é a modificação dos processos e estado~ psíquicos (percepção, pensamento, motivação), ou seja, as bases psíquicas da regulação do movimento. Essa modificação será alcan- çada com a ajuda de procedimentos psicológicos". Os objetivos principais podem ser alcançados com medidas psicológicas de trei- namento: • Melhoria planejada e sistemática das capacidades e habilidades psíquicas indivi- duais do rendimento. • Estabilização e otimização do comportamento na competição. • Aceleração e otimização de processos de recuperação e. regeneração psicológica. • Otimização dos processos de comunicação social. No treinamento psicológico, devem ser considerados os seguintes princípios éticos (Becker Jr. & Samulski, 1998): • A participação no treinamento psicológico deve acontecer por interesse próprio e sem pressão externa. • Antes de aplicar o treinamento psicológico, deve-se informar os atletas sobre seus objetivos, métodos, indicações e efeitos. • Os métodos aplicados no treinamento psicológico devem ser cientificamente aprovados. • O treinamento psicológico deve contribuir para o desenvolvimento da perso- nalidade e desenvolver saúde, bem-estar, autodeterminação e responsabilidade social. Princípios do treinamento psicológico Os princípios do treinamento, relacionados a seguir, são considerados o funda- mento para a aplicação do treinamento psicológico (ver Seiler & Stock, 1994). 9 10 Iniciativa própria Os próprios atletas devem tomar a decisão de participar de um programa de treinamento psicológico. O treinamento psicológico não deve ser imposto por ter- ceiros, sejam eles treinadores, psicólogos do esporte ou qualquer outra pessoa. A própria vontade ou iniciativa de participar de um programa de treinamento psico- lógico prepara o caminho que leva ao desenvolvimento do potencial individual do atleta. Somente a decisão própria possibilita o surgimento da confiança no método e na pessoa responsável pela condução dos exercícios. Compreensão Um atleta que tenha se decidido por algum dos diferentes métodos de treina- mento psicológico deverá, primeiramente, fazer um exercício geral do método para melhor compreendê-lo. Só se deve dar início ao treinamento quando a técnica e a estrutura básica dos exercícios forem compreendidas. Para isso, recomenda-se que se observem não somente as instruções para os exercícios, mas também a forma pela qual o exercício alcança seu efeito, o local onde eles deverão ser realizados, seu tem- po de duração e a repetição. Quem entende o sentido e o objetivo de um exercício pode criar uma necessária relação pessoal e individual com a aplicação prática do treinamento. Confiança A compreensão de um exercício leva à confiança da sua utilidade e prática. Dú- vida e insegurança predispõe o treinamento psicológico ao fracasso, ao mesmo tem- po em que a confiança no sentido e no objetivo dos exercícios constitui a base para o sucesso. A confiança intuitiva gera maior concentração de forças na busca de um objetivo. Individualidade Um método de treinamento psicológico deve estar adaptado às necessidades pessoais dos atletas ou das atletas. Nenhum exercício é, em si, bom ou ruim. Ele deve ser adequado à personalidade e ao posicionamento pessoal e à condição atual dos atletas. Os métodos de treinamento devem, portanto, ser concebidos de forma individual. Disciplina O treinamento está submetido a um sistema organizado. Isso é válido tanto para o treinamento físico quanto para o treinamento psicológico. Se o objetivo do treinamento psicológico for levar ao sucesso, este deverá, então, ser aplicado e con- duzido a longo prazo, para assim se tornar um hábito. A disciplina representa uma espécie de fundamento do treinamento psicológico, incluindo aspectos como regu- laridade, continuidade e conseqüência. Método O método de ação de uma forma específica de treinamento psicológico baseia- se no seu exercício até o domínio seguro da técnica em questão. Somente com o surgimento dos primeiros efeitos dos exercícios é que se dá início à fase de utilização da técnica em competição. Economia--- O princípio da economia preconiza a crença de «quanto menos melhor': ou "tanto quanto for necessário': O efeito de economia é tanto maior quanto melhor um exercício ou uma técnica são dominados, pois com isso o dispêndio de tempo é menor até que o efeito desejado seja alcançado. Integração O treinamento psicológico e o treinamento físico devem andar de mãos dadas. Isso significa desenvolver-se até a formação de uma unidade. Psicologia demais se transforma em exercícios <<secos demais"; treinamento físico em excesso, sem emba- samento mental, torna-se nada mais que trabalho braçal sem sentido. Os programas de treinamento dos atletas devem levar em conta esses dois aspectos e integrá-los às formas de treinamento de maneira bem distribuída. Aconselhamento O objetivo do treinamento psicológico é fazer co~ que os atletas possam utilizar sozinhos os métodos e técnicas escolhidas. É vantagem, no entanto, durante a escolha e a adaptação individual, que a orientação seja dada por uma pessoa com formação em psicologia do esporte. Esse profissional também estaria à disposição dos atletas, em caso de necessidade. A pré-condição mais importante para a qualidade do trabalho conjunto é, no entanto, a confiança mútua entre ambas as partes: atleta e orientador. Sucesso O uso bem-sucedido do treinamento psicológico pode se manifestar tanto na esta- bilização do estado mental do atleta como também na melhoria do rendimento espor- tivo. Entretanto, o bom condicionamento físico é sempre uma condição básica para o sucesso. O treinamento psicológico sozinho é insuficiente. Não se deve esquecer de que a utilização de um programa de treinamento psicológico não é garantia de sucesso. Transferência A maioria dos métodos de treinamento citados pode ser transferida para aspectos da vida alheios ao esporte. Eles auxiliam também na superação de outras situações di- fíceis, tais como exames, entrevistas de apresentação ou reuniões importantes. Assim como no esporte, tais métodos valem também para a vida. Em cada um de nós está um grande potencial, que deve ser explorado. Por meio do uso sistemático do treinamento psicológico, cada um pode aprender a desenvolver e aplicar o seu próprio potencial. 11 12 Formas de treinamento psicológico Segundo Nitsch (1986:153) e Samulski (1988:36), distinguem-se algumas for- mas psicológicas de treinamento apresentadasa seguir. A meta do treinamento das capacidades psicológicas é desenvolver, estabilizar e aplicar as capacidades e habilidades psíquicas em diferentes situações, de forma variada e flexível. Com o treinamento de autocontrole o atleta deve aprender a se controlar (sem ajuda externa) nas situações extremas e difíceis de treinamento e de competição, a fim de evitar reações psicofísicas exageradas (por exemplo, ansiedade e raiva) e com- portamento social inadequado (por exemplo, conduta agressiva). Treinamento psicológico I Treinamento de Treinamento capacidades psíquicas de autocontrole I I I I I Treinamento Treinamento de Treinamento de Treinamento de mental concentração a utomotiva ç ão psico-regulação ~ 1_ •• '"'"' .,._,,.,.,.,,,,4H_..,,, ~. •n•o•'<"'"'''" "'..,"'""'.,....._ , _,..,_ , ~,._.,, .. ,_.,_,.-,..-,, ;·~· ..,,.,,..,,.""._. ,,,_ . o.f4-...._'""""''"" ' ,_,.,.,..,,.,..,...n•••,..•••< ... .., .. ~~-- ~ • .,..,. .. , ..,L,t"'"''"•·' ·~ o•~· · ,., ... ,,""'"'"' ' .,." ,,, ,. , ., ·r··~· ·•• '"·-·•• ,, ·· • ">'H""" .•.• ,.. .-. .. , -•••·~·-.,, ... • Figura 1.2. Modelo das diferentes formas do treinamento psicológico no esporte (Nitsch, 1986:153) No treinamento de capacidades psíquicas, distinguem-se o treinamento mental e o treinamento de concentração. Por treinamento mental, entende-se a imaginação de forma planejada, repetida ,, e consciente das habilidades motoras e técnicas esportivas. O treinamento da con- centração constitui a melhoria da capacidade de focalizar a atenção em um ponto específico do campo da percepção e a capacidade de manter um bom nível de con- centração durante um longo período de tempo (resistência de concentração). <'Por técnicas de automotivação compreendem-se todas aquelas medidas que uma pessoa aplica, assumindo o controle sobre seu próprio comportamento, para regular seu nível de motivação., ( Samulski, 1986: 14) Com o treinamento da motivação, pretende-se alcançar as seguintes metas: • Alcance do melhor nível possível de ativação. • Desenvolvimento da motivação do rendimento e da força de vontade. • Fixação de metas exigentes e reais. • Atribuição das causas de sucesso e de fracasso de forma adequada. • Desenvolvimento da automotivação e da auto-responsabilidade. A meta do treinamento da psicorregulação é a estabilização e a re~stabilização de um bom nível das funções psicovegetativas. Dependendo do tipo de problema psicorregulativo existente, aplica-se uma das seguintes técnicas: de relaxamento, de ativação ou de estabilização. Recomendações para o treinamento psicológico Os principais objetivos do treinamento psicológico são desenvolver as capaci- dades psíquicas do rendimento, criar um bom estado emocional durante os treinos e as competições e, finalmente, desenvolver uma boa qualidade de vida dos atletas, técnicos e outras pessoas envolvidas no esporte. O treinamento psicológico precisa ser considerado como um elemento do trei- namento diário do atleta e do técnico. Antes de aplicar um treinamento psicológico, é necessário um diagnóstico pre- ciso das condições psíquicas iniciais do atleta. O treinamento psicológico deve ser realizado com avaliação e acompanhamen- to permanentes para analisar e controlar seus processos e efeitos. O treinamento psicológico deve ser aplicado por profissionais bem qualificados nos diferentes métodos e programas. O treinamento psicológico deve ser aplicado aos atletas, técnicos, dirigentes, ár- bitros, pais de atletas, jornalistas esportivos e outras pessoas vinculadas ao meio do esporte competitivo. c ~ c -ãl-l~'tfe ~ .. · ·- . re~mentQ. . ' . r Esporte·. · _ recreativo I t . • • 1 . . ~ EsPQfte . ! . . · escolar I Espmta de reabilitação Figura 1.3. Áreas de aplicação da psicologia do esporte. 13 14 , AREAS DE APLICAÇÃO Esporte de rendimento Trata-se, sobretudo, da análise e da modificação dos fatores psíquicos determinan- tes do rendimento no esporte com a finalidade de melhorá-lo e otimizar o processo de recuperação. Pesquisa-se, em primeiro lugar, os seguintes fatores: esporte e perso- nalidade, agressão no esporte, interação entre treinador e atleta, estresse psíquico na competição, treinamento psicológico (treinamento mental, de concentração, motiva- ção e controle do estresse), assessoria psicológica para atletas e treinadores, diagnóstico psicológico do rendimento esportivo, coaching, excelência esportiva, planejamento da carreira esportiva, influência da família na carreira do atleta, doping psicológico. Esporte escolar Parte do princípio de que se analisa, por um lado, os processos de ensino e aprendizagem e, por outro, processos de educação e socialização. Os principais te- mas de pesquisa neste campo são análise da interação entre professor e alunos, per- sonalidade do professor, estresse na aula de educação física, comportamento agres- sivo e social dos alunos, imp~rtância dos processos de socialização e motivação para aprendizagem e rendimento~ · Esporte recreativo Trata-se da análise do comportamento recreativo de grupos de diferentes faixas etárias, classes socioeconômicas e atuações profissionais em relação a diferentes mo- tivos, interesses e atitudes. Nos últimos anos, tem sido pesquisado o fenômeno da animação nos esportes de tempo livre. Prevenção, saúde e reabilitação São pesquisadas as possibilidades preventivas e terapêuticas do esporte, bem como o sentido da regulação psíquica por meio da conduta esportiva (terapia pelo movimento, jogos e dança). Nesse contexto, são desenvolvidos e aplicados progra- mas psicológicos de prevenção, terapia e reabilitação para pessoas portadoras de li- mitações físicas, mentais e soCiais. CONTRIBUIÇÕES DA PSJCOLOGIA DO ESPORTE PARA O DESENVOLVIMENTO DO DESPORTO PARAOLÍMPICO De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confor- me o censo brasileiro, no ano de 2000, cerca de 24.600.256 pessoas apresentavam algum tipo de deficiência no país (IBGE, 2004). Este dado pode variar devido ao número de pessoas que são diariamente acometidas por alguma defiCiência. Conhecendo-se a importância do processo de reabilitação, que leva em conta a ati- vidade física como meio favorecedor e eficaz de reinserção, socialização, melhoria da qualidade de vida, lazer e superação de limites da pessoa com deficiência, muitas insti- tuições desenvolvem trabalhos focando a atividade física e o esporte de alto rendimento. No Brasil, o desporto paraolímpico é uma das mais bem sucedidas propostas voltadas para essa população, no sentido de desenvolver as pessoas nos seus diferen- tes aspectos dá vida, por meio da participação nos mais diversos esportes adaptados. As ações das instituições de pessoas com deficiências (PCD) e do Comitê Paraolímpi- co Brasileiro ( CPB) são primordiais para que isso seja uma realidade nos dias atuais. Nessa perspectiva, a psicologia do esporte (PE) inicia sua efetiva atuação voltada às pessoas com deficiência (PCD), fundamentada em diferentes aspectos do conheci- mento científico. A aplicação da psicologia do esporte tem se tornado bastante rele- vante para os profissionais da área' esportiva, bem como, de maneira específica, para os atletas. W einberg & Gould ( 1999) ressaltam que os trabalhos da PE são utilizados desde o início do século XX, principalmente com atletas de elite, mas que só recentemente a atenção foi voltada para os grupos de crianças, idosos e atletas com deficiências. Dessa maneira, pode-se dizer que a PE não se limita a um tipo específico de atleta, podendo ser utilizada para qualquer interessado em desenvolver suas capacidades psicológicas e, assim, não se excluem os atletas paraolímpicos. Essa situação pode ser confirmada no Brasil ao se. analisar as ações adotadas pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro,que desde o ano ·de 2000, durante o período preparatório para as Paraolimpíadas de Sidney, passou a contar com profissionais da área da PE para desenvolver trabalhos voltados para essa população de atletas. Essa iniciativa causou repercussão positiva na área da psicologia do esporte, despertando o interesse dos estudiosos para essa área de atuação, além de mostrar ao paradesporto mundial a importância de um trabalho multidisciplinar que tenha um profissional da PE como membro da equipe esportiva, a qual atua com atletas que têm os mais variados tipos de deficiências. Visando as Paraolimpíadas de Atenas, em 2004, o volume de trabalho do CPB foi intensificado, contribuindo definitivamente para que os resultados fossem po- sitivos para os 97 atletas brasileiros participantes dos Jogos Paraolímpicos (Mello, 2004; Samulski et al., 2004). A formação de comissões de avaliação e de suporte da psicologia do esporte marcou o início desses trabalhos, os quais se concretizaram no período das competições. As pesquisas demonstram que é muito importante a participação efetiva dos atletas, da família e da comissão técnica para que um atleta apresente bom resultado esportivo. Essas pessoas envolvidas no processo de treinamento devem ter o mesmo objetivo, para atingir um aproveitamento completo das propostas do profissional da PE, de modo que os atletas alcancem seu rendimento máximo. 15 16 Certamente, a PE tem um papel fundamental a ser desenvolvido junto a esses atletas, pois os impactos causados pelas seqüelas da deficiência ou pelas incapaci- dades impostas a algum segmento corporal podem fazer com que eles apresentem níveis mais elevados de ansiedade e insegurança, diante de determinadas situações advindas tanto das condições de vida diária ou das exigências próprias do esporte (Robbins & Dummer, 200 1). A PE deve ser aplicada valendo-se dos mesmos parâmetros utilizados para pes- soas sem deficiências, observando se é necessária alguma adaptação das técnicas uti- lizadas para melhor concretização dos objetivos. Sendo assim, um trabalho voltado para atletas com deficiências deve ser pauta- do na aplicação de programas individuais e/ou em grupo, principalmente relativos à motivação, visando à permanência dos atletas no esporte e ao aumento de força de vontade e resistência a situações de estresse. Nesse sentido, é importante que o psicólogo do esporte atue conjuntamente a outros profissionais, na fase inicial do treinamento e também na fase de concretiza- ção do objetivo maior, que é a conquista de títulos em eventos como as Paraolimpía- das, levando o atleta a atingir seu ápice do rendimento ou da carreira esportiva. O acompanhamento sistemático da equipe brasileira que participou das Para- olimpíadas de Atenas possibilitou o desenvolvimento de um plano de trabalho que levou em consideração as necessidades individuais das pessoas envolvidas e traçou metas para serem atingidas em curto e longo prazo. Nas fases iniciais dos treinamentos, foram realizados diferentes testes psicológi- cos a fim de conhecer os atletas. Em seguida, foram formuladas ações direcionadas às necessidades de cada grupo. A aplicação de técnicas, tais como as cognitivas, pos- sibilitou modificar comportamentos indesejados, realizar relaxamento e visualização de sucesso, levando os atletas iniciantes a experimentarem conquistas importantes para seu crescimento pessoal e profissional após a utilização da PE. Além das ações diretas com os atletas, os profissionais da PE capacitaram e conscientizaram os demais membros da equipe técnica sobre as vantagens da PE em diferentes aspectos da vida esportiva das pessoas com deficiências e dos próprios técnicos. A cada nova situação que surgia durante os períodos de treinamento era proposta uma ação, e no período competitivo os resultados alcançados foram mui- to satisfatórios para o Brasil, confirmando que a PE tem pagel fundamental para o crescimento do desporto paraolímpi~o nacional. Como mencionado anteriormente, o planejamento geral foi fundamental para a resolução de questões diversas que podem influenciar negativamente o desempenho esportivo das pessoas. Dessa forma, a tarefa dos profissionais da área se deu tanto no acompanhamento dos atletas quanto no apoio aos técnicos e à comissão organiza- dora, dando-lhes suporte durante todo o evento e também nas decisões polêmicas que ocorrem em competições tão importantes como as Paraolimpíadas. As rotinas psicológicas foram incorporadas desde o início dos treinos e passa- ram a ser realizadas pela maioria dos atletas, pois como a PE teve uma aceitação sig- nificativa dentro da comissão de avaliação do CPB, o trabalho foi facilitado. Os re- sultados do trabalho realizado com cada grupo ou atleta era sempre analisado junto aos técnicos nacionais das equipes, visando a melhor conduta com os atletas. Para a concretização dos planos propostos, pode-se citar algumas ações realizadas, tais como reuniões' de grupos, assessoria aos técnicos, aplicação de testes psicológicos, sociometria para equipes, dinâmicas de grupo e acompanhamento individual. O papel da PE torna-se importante no desenvolvimento da auton9mia e da in- dependência desses atletas e pode proporcionar diversos benefícios, favorecendo a melhoria das capacidades cognitivas e a convivência sadia em grupo, além de contri- buir diretamente com o desenvolvi1pento do desporto paraolímpico no Brasil. Desta forma, fica evidenciado que a PE aplicada ao desporto paraolímpico possibili- ta resultados positivos, e que os profissionais da área devem sempre buscar novos conhe- cimentos, metodologias e instrumentos para desenvolver programas eficazes de atuação com as pessoas com deficiências, sejam elas atletas ou pessoas iniciantes na carreira espor- tiva, desempenhando assim os princípios propostos pela área da psicologia do esporte. Durante a preparação para os Jogos Parapanamericanos realizados em 2007, no Rio de Janeiro, foi executado um plano estratégico de avaliação e acompanhamento psicológico dos atletas, das equipes e das comissões técnicas da delegação brasileira. O Departamento de Apoio Psicológico do Comitê Paraolímpico Brasileiro foi coorde- nado pelo Prof. Dr. Dietmar Samulski, tendo como membros da Comissão de Apoio Psicológico o Pro f. Mr. Franco Noce e as psicólogas Mara Raboni e Dalila Ayala. O trabalho desenvolvido teve três etapas. A primeira foi de preparação pré-compe- tição. Durante esse período, foram realizadas palestras para atletas e treinadores sobre união, espírito de equipe, liderança e comunicação efetiva. Também foram realizadas dinâmicas com diversas equipes envolvendo habilidades mentais, tais como concentra- ção, rotinas competitivas, autoconfiança e visualização. A segunda etapa do trabalho foi de adaptação à Vila Parapanamericana. Nesse período, cada membro da comissão ficou responsável por determinadas equipes, sendo realizados atendimentos individualizados, dinâmicas e palestras, as quais focaram os últimos detalhes de preparação antes do iní- cio dos jogos. A terceira e última etapa foi o trabalho durante o período de competição. Nesse período, o trabalho consistiu em atendimento clínico, além da aplicação de téc- nicas de relaxamento, mentalização, visualização, autoverbalização positiva, motivação, controle do estresse, controle da dor e rotinas psicológicas. Foram feitas também dinâ- micas de grupo, análise do comportamento tático de esportes coletivos, acompanha- mento in loco durante as competições e apoio ao serviço médico e fisioterápico. O programa teve uma avaliação extremamente positiva por parte de atletas, treinadores e dirigentes, e serviu de base para a construção do plano de ação para as Paraolimpíadas de Pequim 2008. 17 ' 18 PRINCÍPIOS ÉTICOS DA PSICOLOGIA DO ESPORTE Manifesto da Sociedade Internacional de Psicologia doEsporte (ISSP) no ano de 1995 (Becker, 2000). Princípios gerais • Princípio A- Competência (competence): Os membros da ISSP lutarão para manter os mais altos padrões de competência em seu trabalho. Os membros de- vem oferecer os serviços para os quais estejam qualificados por meio de educação, treinamento ou experiência. • Princípio B- Consentimento e sigilo (consent and confidentiality): Os mem- bros da ISSP deverão obter a permissão dos participantes nas práticas profissio- nais e de pesquisa. Os membros da ISSP deverão esforçar-se para preservar o caráter confidencial das informações que obtiverem. • Princípio C- Integridade (integrity): Os membros da ISSP procurarão pro- mover a integridade na pesquisa, no ensino e na prática da psicologia esportiva. Em tais atividades, os psicólogos esportivos deverão ser honestos, justos e res- peitosos com os outros. • Princípio D- Conduta pessoal (personal conduct): Os membros da ISSP de- vem conduzir-se de um modo que favoreça o bem-estar dos seus clientes, de maneira a estabelecer credibilidade no campo da psicologia do esporte. • Princípio E- Responsabilidade profissional e científica (professional and scienti- fic responsibility): Os membros da ISSP são responsáveis pela proteção de sua clien- tela e da ISSP, com relação aos membros que não apresentem uma conduta ética. • Princípio F- Ética de pesquisa (research ethics): Os pesquisadores da psicolo- gia do esporte deverão defender os altos padrões de investigação para conduzir as pesqutsas. • Princípio G- Responsabilidade social (sociàl responsibility): Os membros da ISSP deverão estar conscientes de suas responsabilidades profissionais e científi- cas com a comunidade e a sociedade nas quais trabalham e vivem. Eles deverão aplicar e tornar público seu conhecimento em psicologia do esporte para con- tribuir com o bem-estar humano. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS Com base no exposto anteriormente, podem-se tirar as seguintes conclusões e perspectivas: • Torna-se importante a introdução de um currículo específico em psicologia does- porte para a formação de psicólogos do esporte, orientados pelas normas da ISSP. • Existe a necessidade de ampliar os conteúdos curriculares da psicologia do es- porte na formação de professores de educação física, psicólogos, treinadores, médicos do esporte e fisioterapeutas. • Pesquisas interdisciplinares devem ser incentivadas, especialmente nas seguintes áreas: saúde e qualidade de vida, estresse e recuperação psicofísica, diagnóstico de talentos, diagnóstico de atletas .portadores de deficiências, prevenção e reabi- litação de lesões esportivas, interação e comunicação social. • O psicólogo do esporte deve procurar integrar-se mais à prática esportiva, espe- cialmente no processo de treinamento esportivo. • Eventos científicos na área de psicologia do esporte devem ser promovidos para divulgar melhor os resultad_os de pesquisa nas diferentes áreas envolvidas. • Existe a necessidade de estabelecer e seguir diretrizes éticas para o esporte, espe- cialmente para o treinamento esportivo de atletas jovens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Allmer, H. (Ed.) 30 J ahre ASP. Schorndorf: Hofmann, 1999. Baumann, S. Praxis der Sportpsychologie. München: BLV-Verlag, 1986. Becker, B. Brazilian Sport Psychology. In: Salmela, ]. The World Sport Psychology Sourcebook. 2.ed. Champaign: Human Kinetics, 1991, p. 43-44. Becker, B. Manual de psicologia do esporte e exercício. Porto Alegre: Nova Prova, 2000. Becker, B. & Samulski, D. Manual de treinamento psicológico para o esporte. Porto Alegre: Edelbra, 1998. Comitê Paraolímpico Brasileiro- CPB, 2004. Disponível em: <www.brasilparaolimpico.org.br>. Cratty, B. Psychology in Contemporary Sport. Englewood Cliffs. New Jersey: Prentice-Hall, 1989. Cratty, B. Psicologia do Esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil, 1984. Cratty, B. Psychology in comtemporary sport. 3.ed.New Jersey: Prentice-Hall, 1989. Eberspacher, H. Mentale Trainingsformen in der Praxis. Oberaching: Sportinform Verlag, 1990. Eberspiicher, H. Entrenamiento mental. Zaragoza: INDE Publicaciones, 1995. FEPSAC. Position statement ofFepsac: Definition of sport psychology. ISSP Newsletter, outubro de 1996. Gabler, H. et ai. Praxis der Psychologie im Leistungssport. Berlin: Bartels & Wernitz, 1979. Gabler, H., Nitsch, ]. & Singer, R. Einführung in die Sportpsychologie. Tomo 1. Grundthemen. Schorndorf: Hofmann, 1986. Hackfort, D., Duda ]. & Lidar, R. (Eds.) Handbook of research in applied sport and exercise psychology: international perspectives. Morgantown, WV:FIT, 2005. Hahn, E. Psychologisches Training im Wettkampfsport. Schorndorf: Hofmann, 1996. ISSP. Ethical Principies. ISSP Newsletter, outubro de 1995. IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas. Disponível em: <www.ibge.gov.br/home/es- tatisticalpopulacao/censo2000/populacao>, 2004. Mello, M. T. (Org.) Avaliação clínica e da aptidão dos atletas paraolímpicos brasileiros: conceitos, métodos e resultados. São Paulo: Atheneu, 2004. Mello, M. T. (Org.) Paraolimpíadas de Sidney 2000: avaliação e prescrição do treinamento dos atle- tas brasileiros. São Paulo: Atheneu, 2002, p. 99-133. Nitsch, J. Psychoregulatives Training im Leistungssport. In: Gabler, H. et ai. Psychologie, Diagnos- tik und Beratung im Leistungssport. Frankfurt: Deutscher Sportbund, 1985, p. 145-17 4. Nitsch, ]. Anwendungsfelder in der Sportpsychologie. Kõln: Bps-Verlag, 1986. 19 20 ' ··· : .'; ; ;,,: ., Nitsch, J. Future trends in Sport Psychology and Sport Ciencies. Proceedings ofthe 71h World Con- gress of Sport Psychology in Singapore, 07/08-12/08/1989, 1989a, p. 200-205. Nitsch, J. Zur Lage der Sportpsychologie in der Bundesrepublik Deutschland. In: Eberspacher, H. & Hackfort, D. Entwicklungsfelder der Sportpsychologie. Koln: Bps-Verlag, 1989b. Nitsch, J. Sportpsychologie und Leistungssport: Perspektiven des Mentalen Coaching. In: Allmer, H. (Ed.) 3° Jahre ASP. Schorndorf: Hofmann, 1999, p. 38-69. Nitsch, J. & Hackfort, D. Stress in Schule und Hochschule. In: Nitsch, J. Stress: Theorien, Untersu- chungen, Massnahmen. Bem, Stuttgart, Wien: Verlag Hans Huber, 1981, p. 41-52. Orlick, T. In Pursuit o f Excellence. 3.ed. Champaign: Human Kinetics, 2000. Papaioannov, A., Goudas, M. & Theodorakis, Y. (Eds.) Proceedings of the l01h World Congress of Sport Psychologyin Skiathos (Greece), 28/05-02/06/2001. Christodoulidi Publications, 2001. Robbins, J. E. & Dummer, G. M. Using sport psychology with athletes with a disability: a call for coach education. Disability Sports. Web Si te. Michigan State U niversity. 2001. Rubio, K. Encontros e desencontros: descobrindo a psicologia do esporte. São Paulo, Casa do Psi- cólogo, 2000. Salmela, }. The World Sport Psychology Sourcebook. 2.ed. Champaign: Human Kinetics, 1991. Salmela, J. (Ed.) Great job coach. Ottawa: Potentium, 1996. Samulski, D. Psicologia do esporte: intervenção prática. Revista Paulista de Educação Física 1988, (3):35-37. Samulski, D. Psicologia do esporte na República Federal da Alemanha. Revista Brasileira de Ciência e Movimento 1989, 3(4):42-50. Samulski, D. Psicologia do esporte: teoria e aplicação prática. 2.ed. Belo Horizonte: Imprensa uni- versitária I UFMG, 1995. Samulski, D. Conceito do treinamento psicológico no esporte. UI Simpósio Mineiro de Psicologia do Esporte. Universidade de Juiz de Fora, 1997. Samulski, D. Novos conceitos em treinamento esportivo. Brasília: Série de Publicações Ciências do Esporte do INDESP, iooo. Samulski, D. & Noce, F. Perfil psicológico de atletas paraolímpicos brasileiros. Brazilian Journal of Sport Medicine 2002, 8( 4): 157-166. Samulski, D. Psicologia do Esporte. Barueri: Manole, 2002, 380 p. Samulski, D., Selbstmotivierung im Sportunterricht. Koln: Bps-Verlag, 1986. Samulski,D.; Noce, F.; Anjos, D. & Lopes, M. Avaliação psicológica. In: Mello, M. T. (Org.) Ava- liação clínica e da aptidão dos atletas paraolímpicos brasileiros: conceitos, métodos e resultados. São Paulo: Atheneu, 2004, p. 135-157. Samulski, D.; Noce, F. & Raboni, M. Apoio psicológico aos atletas brasileiros durante as Paraolim- píadas de Atenas 2004. In: Silami-Garcia, E. & Lemos, K. L. (Orgs.) Temas atuais: educação física e esportes. Belo Horizonte: Health, 2005, p. 233-246. Seiler, R. & Stock, A. Handbuch Psychotraining irn" Sport. Hamburg: Rowohlt, 1994. Sherrill, C. Disability sport and classification theory: a new era. Adapted Physical Activity Quarterly, v. 16, 1999,p.206-215. Singer, R. Psicologia do esporte: mitos e verdades. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1977. Singer, R. Future trends in sport psychology. Proceedings of the 71h World Congress of Sport Psychology in Singapura, 07/08-12/08/1989. Singer, R., Murphey, M. & Tennant L.K. .Handbook of research on sport psychology. Nova York: Macmilian publishing company, 1993. ,, Singer, R., Hausenblas, H. & Janelle, C. (Eds.) Handbook of research on sport psychology. Nova York: Wiley, 2001. Weinberg, R. & Gould, D. Foundations ofSport and Exercise Psychology. Champaign: Human Ki- netics, 1999. Weinberg, R. & Gould, D. Fundamentos da Psicologia do Esporte e do Exercício. Porto Alegre: Artmed, 2001. Williams, J. (Ed.) Applied Sport Psychology. 3.ed. Mountain View, LA: Mayfield, 2001 .
Compartilhar