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TCC Luiz Fernando Geronymo Direito do Trabalho 2018

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ESCOLA SUPERIOR DA ADVOCACIA 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – SECÇÃO DE SÃO PAULO 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITODO TRABALHO E 
PREVIDENCIÁRIO MATERIAL E PROCESSUAL 
 
 
 
 
 
 
Luiz Fernando Geronymo 
 
 
 
 
UNICIDADE SINDICAL NO BRASIL 
 MONOGRAFIA DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2018 
ESCOLA SUPERIOR DA ADVOCACIA 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – SECÇÃO DE SÃO PAULO 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITODO TRABALHO E 
PREVIDENCIÁRIO MATERIAL E PROCESSUAL 
 
 
 
 
 
Luiz Fernando Geronymo 
 
 
 
 
 
UNICIDADE SINDICAL NO BRASIL 
 
 
 
 
 Trabalho de Conclusão de Curso de Pós 
 Graduação da Escola Superior de Advocacia – 
 Processual Trabalhista e Previdenciário. 
 Orientador: Profº. Drº Edson Gramuglia 
 Araujo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo 
2018 
ESCOLA SUPERIOR DA ADVOCACIA 
ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – SECÇÃO DE SÃO PAULO 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITODO TRABALHO E 
PREVIDENCIÁRIO MATERIAL E PROCESSUAL 
 
 
A Comissão Julgadora dos trabalhos de conclusão de curso, “Intitulado tribunal 
do Júri”, em sessão pública, considerou o candidato Luiz Fernando Geronymo, 
____________. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMISSÃO EXAMINADORA: 
___________________________________________________________
___________________________________________________________
___________________________________________________________ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
São Paulo, 15 Junho, 2018. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Dedico esta conquista aos meus filhos, Ana 
 Giulia Laurentina Geronymo e Luiz Felipe 
 Laurentino Geronymo, pelo carinho e 
 compreensão, por terem tornado a minha 
 existência completa e principalmente pela 
 oportunidade de experimentar a mais pura 
 forma de amor. Ainda dedico a minha esposa, 
 Claudia Laurentina Geronymo que está sempre 
 ao meu lado, me incentivando nos momentos 
 mais difíceis, sem a qual nada disso seria 
 possível. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Agradeço primeiramente a Deus, por me 
 permitir alcançar esta conquista, fazendo-se 
 presente em todos os momentos. Aos meus 
 queridos pais, Archimedes Geronymo e 
 Conceição Aparecida Pequeno Geronymo, por 
 me darem a vida e me ensinarem a vivê-la com 
 dignidade. Agradeço também ao nobre 
 orientador, Professor Doutor Edson Gramuglia 
 Araújo, pelas orientações, conselhos e 
 principalmente paciência, tornando possível a 
 conclusão desta monografia. Aos nobres 
 professores que nos acolheram com muito selo 
 e dedicação. Por fim, agradeço a todos que, 
 diretamente ou indiretamente, contribuíram 
 para a elaboração e construção deste trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia 
 encontrares o Direito em conflito com a Justiça, 
 luta pela Justiça” 
 
 Eduardo Juan Couture 
 
 
SUMÁRIO 
 
RESUMO......................................................................................................................08 
 
ABSTRACT..................................................................................................................09 
 
INTRODUÇÃO.............................................................................................................10 
 
1-DEFINIÇÃO DE SINDICATO....................................................................................11 
 
 1.1-FONTES DO DIREITO SINDICAL...............................................................12 
 
2-EVOLUÇÃO SINDICAL NO BRASIL.......................................................................16 
 
 2.1-PRINCIPIOS QUE REGEM O DIREITO SINDICAL....................................21 
 
 2.2-FUNÇÕES DO SINDICATO........................................................................30 
 
 2.3-NATUREZA JURÍDICA................................................................................32 
 
3-UNICIDADE E PLURALIDADE SINDICAL..............................................................33 
 
 3.1-UNICIDADE SINDICAL...............................................................................34 
 
 3.2-LIBERDADE SINDICAL...............................................................................36 
 
 3.3-UNICIDADE VERSUS PLURALIDADE.......................................................38 
 
4-NORMAS SINDICAIS NA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO...41 
 
CONCLUSÃO..............................................................................................................46 
 
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................48 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
 O presente trabalho analisa a questão da unicidade sindical no Brasil, com 
ênfase na pluralidade sindical. Abordaremos a relação sindical sob seus aspectos 
mais importante, apresentando seu conceito geral e um breve histórico sobre o 
assunto. Entende-se como sindicato associação de pessoas físicas ou jurídicas, que 
tem atividade econômica ou profissionais. A principal função do sindicato é a defesa 
dos interesses coletivos e individuais de seus membros ou de determinada categoria. 
 Abordaremos como ênfase principal, a divergência que existe entre unicidade 
sindical e pluralidade sindical, sendo que a Constituição Federal em seu artigo 8º 
estabelece a livre associação, mas não possibilita a criação de mais um sindicato da 
mesma categoria na mesma base territorial. A questão central é esta, tal imposição é 
o contraponto, uma vez que, conforme determina o artigo constitucional, facultando a 
livre associação profissional ou sindical. 
 Contudo, há uma vedação concernente a criação de mais uma organização 
sindical em qualquer grau, representativa a categoria profissional ou econômica, na 
mesma base territorial. Esta posição é de tamanha relevância, uma vez que esbarra 
na soberania e sobrevivência sindical. 
 Dentro do contexto histórico mundial, é possível verificar a modificação dos 
modelos de representatividade sindical. Ora, em determinado país era adotada a 
unicidade, ora era adotada a pluralidade, tudo com a devida proteção da legislação 
visando maior abrangência protetiva para trabalhadores e empregadores. 
 Existe a necessidade de uma reforma sindical, buscando os verdadeiros 
interesses do mundo do trabalho, bem como uma adequação legislativa que 
realmente imponha aos sindicatos a busca pelos interessados de sua categoria, para 
que haja verdadeira justiça. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 This paper analyzes the issue of union unity in Brazil, with emphasis on trade 
union plurality. We will obey the union relation under its most important aspects, 
presenting its general concept and a brief history on the subject. It is understood as 
union association of natural or legal persons, who has economic or professional 
activity. The main function of the union is the defense of the collective and individual 
interests of its members or of a certain category. 
 The main emphasis is on the divergence between union unity and union 
plurality. The Federal Constitution, in its article 8, establishes free association, but 
does not allow the creation of another union of the same category in the same 
territorial base. The central issue is this, such imposition is the counterpoint, since, as 
determined by the constitutional article, allowing the free professional association or 
union. 
 However, there is a fence concerning the creation of another trade union 
organization in any degree, representative of the professional or economic category, 
on the same territorial basis. Thisposition is of such relevance, since it runs into union 
sovereignty and survival. 
 Within the world historical context, it is possible to verify the modification of the 
models of union representation. In one country, however, uniqueness was adopted, 
and plurality was adopted, all with due protection of the legislation, aiming at a greater 
protection for workers and employers. 
 There is a need for a trade union reform, seeking the real interests of the world 
of work, as well as a legislative adequacy that really forces trade unions to search for 
their category for real justification. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
INTRODUÇÃO 
 
 O presente trabalho de conclusão de curso vem esboçar o inicio da relação 
sindical no Brasil, apontado os avanços e retrocesso e perspectivas atuais com 
relação a unicidade e pluralidade sindical. 
 Buscando conceitos, princípios constitucionais relevantes e aspectos 
doutrinários. 
 O tema é passivo de reflexões, principalmente no que se refere à relação 
construída entre empregados e empregadores. 
 A questão da unicidade sindical, objeto central deste estudo, tem como escopo 
a limitação da categoria sindical por município, sendo isto um paradoxo em relação à 
posição dominante no mundo. O Brasil é um dos poucos países que não adotam a 
Convenção 87, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que garante aos 
empregados e empregadores o livre exercício de sindicalizar em sindicatos de sua 
conveniência e interesses políticos. 
 Esse tema, transformado em bandeira política, sempre foi suscitado pelo 
movimento sindical nos tempos da ditadura militar (1964-1984), como uma forma de 
exigir o direito de livre organização dos trabalhadores e o fim da intervenção do 
governo militar na vida sindical. Atualmente, tal concepção encontra-se em 
consonância com a vigente Constituição Federal de 1988 (Artigo 8º, II). 
 Há ainda há quem defenda que a liberdade sindical foi garantida apenas com a 
exigência da unicidade sindical. Em sentido contrário, de forma muito próxima de ser 
majoritárias. Alguns doutrinadores entendem que a unicidade sindical, além de outros 
entraves constitucionais maculam fundamentalmente a liberdade e autonomia 
sindical, confundindo, questões como unidade e pluralidade se confundem com 
conceito de unicidade. 
 Estas questões conjunturais imediatas que produzem efeitos no movimento 
sindical brasileiro têm como apoio, um sistema baseado na liberdade sindical, 
rompendo com o sistema atual. 
 É possível ainda a interpretação de que a liberdade nada mais é do que a 
possibilidade, de livrar-se do incomodo de um sindicalismo reivindicatório e divergente 
aos interesses dos trabalhadores, que, ao longo dos anos, acabou por sepultar 
inúmeras possibilidades históricas de avanços. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
1) DEFINIÇÃO DE SINDICATO 
 
 A palavra sindicato nos remete a palavra síndico, que é encontrada no direito 
Romano e designada á alguém que recebe poderes para representar uma 
coletividade. No Grego a expressão aparece como sundike, e na França a expressão 
sindicato (syndic) é sinônimo de sujeito diretivo de grupos profissionais. 
 Para Quijano, sindicato é a defesa da causa de alguém em algo, expressão 
utilizada na Grécia e em Roma. 
 O Trade Unions Act da Inglaterra, de 29 de junho de 1871, art.23, dispõe que 
os sindicatos são associações temporais ou permanentes, surgidas para regular as 
relações entre trabalhadores e empresários e para impor condições que se referem 
ao exercício profissional. Na Lei Waldeck-Rousseau, da França, de 1884, “os 
sindicatos profissionais têm por finalidade exclusivamente a defesa dos interesses 
“econômicos, industriais e agrícolas e estão formados por pessoas que exercem a 
mesma profissão, ofícios similares ou profissões conexas”. 
 Para o jurista francês Paul Durand, sindicato “é um agrupamento no qual várias 
pessoas que exercem uma atividade profissional convencionam pôr em comum, de 
uma maneira durável e mediante uma organização interior, suas atividades e uma 
parte dos seus recursos para assegurar a defesa e representação da sua profissão e 
melhorar suas condições de existência”. 
 Segundo Botija, sindicato “é uma associação, de tendência institucional que 
reúne as pessoas de um mesmo ofício para a defesa dos seus interesses 
profissionais”. 
 A doutrina tem apresentado uma série de conceitos sobre sindicatos, no 
entanto, em sentido estrito, sindicato é definindo como associação que tem por objeto 
representar e defender os interesses gerais de relativa categoria profissional, bem 
como, determinada categoria empresarial. Nesse sentido, supletivamente dos 
interesses individuais dos seus membros. A necessidade de associação esta 
investida nos poderes de representação dos interesses gerais da categoria de 
empregados ou de empregadores. Apenas de forma supletiva é que se admite que 
essa representação se estenda aos interesses individuais dos seus membros. 
 Segundo Amauri Mascaro Nascimento o fim do sindicato é a ”defesa da classe, 
a reivindicação de melhores condições de trabalho, a negociação coletiva e a 
condução do processo deflagrado com os conflitos coletivos ¹”. 
 Ainda para Mascaro, “Sindicato é uma organização social constituída para, 
segundo um princípio de autonomia privada coletiva, defender os interesses 
trabalhistas e econômicos nas relações coletivas entre os grupos sociais ²”. 
 A Sua Natureza jurídica depende do depende do sistema jurídico em que se 
encontra, havendo três posições fundamentais. A primeira define o sindicato como 
ente de direito privado, disciplinado, como as demais associações, pelas regras 
pertinentes a esse setor do direito. Subdivide-se com a posição de doutrinadores que 
sustentam a sua natureza privada, porém com o exercício de funções públicas. A 
segunda inclui os sindicatos entre as pessoas jurídicas de direito público, órgãos 
pertencentes ao Estado, como no Leste Europeu e no corporativismo italiano e de 
outros países. O sindicato é mero apêndice do Estado. A terceira vê no sindicato uma 
pessoa jurídica de direito social. 
 
 
____________________________ 
¹ NASCIMENTO, Amauri Mascaro – Curso de Direito do Trabalho – 26º Edição – São Paulo – Saraiva, 2011, p.1303, 
² NASCIMENTO, Amauri Mascaro – Curso de Direito do Trabalho – 26º Edição – São Paulo – Saraiva, 2011, p.1303, 
12 
 
 No Brasil, na constitucional de 1937 e mesmo depois, o sindicato apresentou 
características que embora o conserve como pessoa jurídica de direito privado, o 
cercavam de fortes conotações publicísticas, como é possível concluir pelas suas 
atribuições legais. Nesse período, o exercício de funções delegadas de Poder Público 
após a Constituição de 1988 desvinculou efetivamente rompendo com a autonomia de 
organização e de administração, realçando a natureza privada dos sindicatos e a sua 
defesa aos interesses coletivos e individuais dos seus representados. 
 
 1.1- Fontes do Direito Sindical 
 
 
 Tomando a expressão fonte do direito não apenas no sentido técnico do 
conjunto de pressupostos de validade que devem ser obedecidos para que as normas 
jurídicas possam ser consideradas obrigatórias (Miguel Reale) mas, também, com 
maior amplitude, como correlação das estruturas normativas com os seus elementos 
constitutivos que se desenvolvem na história, será possível dar ao tema dimensão 
mais abrangente, como convém ao direito sindical, para alguns tema 
predominantemente sociológico e não jurídico. 
 O liberalismo da Revolução Francesa de 1789 suprimiu as corporações de 
ofício, entre outras causas por sustentar que a liberdade individual não se 
compatibiliza com a existência de corpos intermediários entre o indivíduo e o Estado. 
Para ser livre, o homem não pode estar subordinado à associação, porque esta 
suprime a sua livre e plena manifestação, submetido que fica aopredomínio da 
vontade grupal. Essa posição doutrinária, que serviu de suporte para a extinção das 
corporações de ofício, de longo desenvolvimento histórico, viria a provocar, com a 
efetivação dos seus objetivos, a interrupção de um procedimento associativo e a 
dissociação dos mestres, companheiros e aprendizes. Criou-se uma lacuna na ordem 
jurídica, uma vez que as pessoas que até então podiam pertencer a uma união não 
mais puderam fazê-lo, com o que se dispersaram, exatamente como pretendia a ideia 
liberal. 
 O direito individualista da Revolução Francesa se opõe à coalizão trabalhista e, 
nesse ponto, deixou um vazio nas organizações sociais e em sua ação coletiva. Com 
isso,separaram-se as primeiras uniões e os seus membros. Esse divórcio prejudicou 
o instinto de associação. As corporações, porém, uniam empregadores (mestres) e 
trabalhadores (companheiros). A renovação da atmosfera associativa, que na França 
se intensificou somente com a Segunda República, caracterizou-se com a associação 
de assalariados entre si, traço que marcou a evolução do sindicalismo até hoje, 
quebrado, raramente, por sindicatos denominados mistos, existentes só por exceção. 
 É correto identificar, como Ojeda Avilés1, a fase da proibição, a fase da 
tolerância e a fase do reconhecimento do direito sindical, esta última subdividindo-se 
em reconhecimento sob controle do Estado, como no corporativismo e no sistema 
soviético, e em reconhecimento com liberdade caracterizada pela desvinculação entre 
a organização sindical e o Estado, em maior ou menor grau. 
 É possível considerar, como primeira manifestação proibitiva da associação 
dos trabalhadores, a Revolução Francesa de 1789 e o Liberalismo, enquanto 
consideraram a associação incompatível com a liberdade do homem. Nesse sentido, 
a Lei Le Chapelier (1791) inequivocamente exemplifica a fase de proibição das 
coalizões dos trabalhadores. 
 Outras manifestações ocorreram no mesmo sentido. Na Grã-Bretanha uma 
antiga elaboração jurisprudencial da common law, como cita Antonio Ojeda Avilés, 
considera contrário ao interesse público todo pacto limitativo da liberdade de comércio 
13 
 
individual, seguindo as teorias econômicas que exaltam a livre iniciativa mas vedam 
as uniões, com o que as leis sobre coalizões (1799 e 1800) proíbem as 
organizações ou reuniões de trabalhadores enquanto tiverem a finalidade de obter 
melhores salários ou influir sobre as condições de trabalho. 
 Em diversos países, na mesma época, os sindicatos foram proibidos, 
considerados como conspiração delitiva, inclusive em países que haviam reconhecido 
o direito de associação, como a Bélgica. 
 O Código Penal de Napoleão (1810) pune a associação de trabalhadores, 
expressando a tendência de caracterizar como delito a organização sindical, como se 
a questão social fosse uma questão policial. 
 O direito de associação reaparecia, de modo tênue, com a Lei Waldeck- 
-Rousseau. De nada adiantaram as medidas restritivas contra o sindicalismo, as 
greves e a coalizão. A organização dos trabalhadores prosseguiu desafiando as leis e 
as sanções aplicadas pelo Estado. Aos poucos, as ideias foram-se modificando, por 
força da ação direta dos operários e das doutrinas sociais, que começavam a ter 
aceitação. 
 As leis sobre conspiração, vigentes na Grã-Bretanha, foram revogadas (1824), 
retirando-se assim o caráter delituoso das coalizões. 
 Como afirma Antonio Ojeda Avilés, o exemplo foi seguido por diversos países, 
que, embora não admitindo expressamente o direito de sindicalização, passaram a 
tolerar a existência de sindicatos: França (1864), Confederação da Alemanha do 
Norte (1864), Holanda (1872), Itália (1890), Estados Unidos da América do Norte, 
conforme jurisprudência do Tribunal Supremo de Massachusetts no caso 
Commonwealth versus Hunt e outros. Duas vertentes intervencionistas, e o 
intervencionismo estatal é incompatível com a liberdade sindical, desenvolveram-se 
como experiências que tiveram a sua razão de ser mas que na atualidade pouco 
representam, o sindicalismo socialista e o corporativismo. 
 O sistema político adotado na Rússia levou o sindicato a um impasse teórico, 
com as suas funções de certo modo comprometidas perante o Estado, a menos que 
se entenda normal um sindicato reivindicativo diante de uma “ditadura do 
proletariado”. Falou-se, com alguma propriedade, que na Rússia o sindicato não luta 
contra algo, mas por algo, com o que se quer dizer que, cabendo ao Estado promover 
a supressão da luta de classes e estando o poder político teoricamente nas mãos dos 
próprios trabalhadores, naturalmente inibiram-se as iniciativas espontâneas. 
 Os sindicatos desempenharam um papel educativo e político de defesa dos 
princípios fundamentais em que se baseia o Estado. Foram unidades de realização do 
desenvolvimento econômico, e também de uma função relevante na prestação de 
serviços assistenciais, fazendo parte da própria estrutura da empresa, na qual se 
interpenetravam. 
 Conforme o preâmbulo dos seus estatutos, desenvolviam todas as suas 
atividades sob a direção do Partido Comunista da União Soviética, força organizadora 
e diretriz da sociedade soviética. 
 A Confederação Internacional das Organizações Sindicais Livres questionou o 
problema perante o Comitê de Liberdade Sindical da Organização Internacional do 
Trabalho. 
 O governo da URSS respondeu que não havia controle sobre os sindicatos e 
que os membros do partido eram também membros do sindicato, com o que as 
deliberações eram tomadas de comum acordo entre os dois órgãos, dando a entender 
que os sindicatos aceitavam voluntariamente essa submissão. 
 Em consequência, o Comitê de Liberdade Sindical recomendou que os 
governos deveriam evitar que o movimento sindical se transformasse em instrumento 
político e deviam, também, evitar interferências nas funções normais do sindicato, a 
14 
 
pretexto de manter com eles relações livres.Para Antonio Ojeda Avilés, os três traços 
estruturais que caracterizaram esse sistema foram baseados nas ideias de ausência 
de classes antagônicas, no pleno emprego e no plano central, no qual os empresários 
privados foram substituídos por funcionários públicos na direção das empresas, que 
se consideravam tão trabalhadores como os demais, 
ainda quando funcionavam como interlocutores dos comitês de empresas. 
 O sindicalismo nos países de economia socialista, portanto, apresentou-se 
como “único e pseudovoluntário”; único, em contraposição ao pluralismo sindical; 
pseudovoluntário, de acordo com a concepção do sindical socialista. 
 A segunda manifestação do sindicalismo sob intervenção é o corporativismo, 
significando a intervenção e a interferência do Estado no movimento sindical, que 
invalida, também, a sua naturalidade, na medida em que o submete aos modelos 
estabelecidos pelo Estado em detrimento da sua livre organização e ação. 
 O padrão básico foi o da Itália, da Carta del Lavoro (1927), considerando o 
processo de produção uma função de interesse nacional compreendida como um 
complexo unitário que vincula capital e trabalho sob o manto protetor do Estado, a 
este competindo a organização das categorias dos trabalhadores. Igual experiência 
político-econômico-sindical é a da Espanha com o Código do Trabalho (1926), que, 
segundo Montoya Melgar2, significava a “máxima realização alcançada pelas velhas 
aspirações harmonicistas, desejosas de substituir o dogma marxista da luta de 
classes pelo princípio da pacífica colaboração entre estas”. Na era franquista coube 
ao Fuero del Trabajo (1938) exercer funções estatais de natureza fiscalizadora e 
normativa; a organização estatal dos sindicatos se fez segundo o princípio do 
sindicato único, a exemplo da Itália, estruturada de modo hierárquico com a 
subordinação dos sindicatos ao Estado, a proibição das greves e as regulamentações 
coletivas corporativas no lugar dos contratos coletivos. 
 Portugaltambém alicerçou o seu sistema de relações de trabalho, com a 
Constituição Política e o Estatuto do Trabalho Nacional (1933), segundo os mesmos 
princípios, e, para Cunha Gonçalves, em Princípios de direito corporativo (Lisboa, 
1935), observados três princípios: o nacionalismo, significando um sentimento de 
solidariedade nacional contra o egoísmo estrangeiro; a necessidade de organização, 
condição de superioridade evolutiva impondo a organização do trabalho pelo 
Estado; e a pacificação social, implementando, por meio do Estado, a harmonia entre 
as classes segundo uma ideia de cooperação entre o capital e o trabalho, o anti-
individualismo e o antissocialismo. 
 No nacional-socialismo da Alemanha, hiato na vida sindical daquele país, os 
trabalhadores foram agrupados na Frente de Trabalho Alemã para a consecução dos 
objetivos do nazismo, eliminada, assim, a liberdade de organização, a exemplo do 
corporativismo e do socialismo, sendo a principal fonte normativa a Lei de Ordenação 
do Trabalho Nacional (AIG-1934). Com o fim da Guerra Mundial, o movimento sindical 
cindiu-se em dois, nas duas Alemanhas, unificado, novamente, com a queda do muro 
de Berlim, com base num princípio de organização espontânea, que leva a uma 
unidade natural, não imposta pelo Estado, num sistema cogestionário de relações de 
trabalho. 
 Paralelamente, desenvolveu-se o modelo sindical desatrelado do Estado, de 
que é maior exemplo o dos Estados Unidos, segundo uma concepção política liberal, 
de não intervenção do Estado nas relações coletivas de trabalho, para que estas se 
desenvolvessem espontaneamente e não pela mão do Estado, portanto a auto-
organização do trabalho por meio dos critérios de agrupamento e formas jurídicas de 
estruturação julgadas adequadas pelos próprios atores sociais e não pelo Governo, 
com amplos poderes de negociação coletiva apoiada pelo direito de greve, tudo como 
15 
 
expressão de um sistema de economia de mercado e de organização política 
democrática. 
 No entanto, não foi o sindicalismo norte-americano, mas o tradeunionismo da 
Inglaterra, o mais antigo sindicalismo do mundo, encontrado já em 1720, com uniões 
de trabalhadores em Londres que reivindicavam salários e limitação da jornada de 
trabalho, e que adquiriu liberdade com as leis de 1824 e 1871, do qual nos dão uma 
visão S. e B. Webb, em The history of unionism: 1866-1920 (Londres, 1920). 
 Dólleans, em Histoire du mouvement ouvrier: 1830-1920 (Paris, 1936), diz-nos 
que foi nos jornais de 1830 que apareceu pela primeira vez a expressão Trade 
Unions, associação de todos os trabalhadores do mesmo ofício, sendo pioneiros os 
trabalhadores da tecelagem e construção de Lancashire e Yorkshire. A obra clássica 
do direito inglês é, na atualidade, Labour and the law, de Otto Kahn-Freund. Na 
França formou-se a partir de 1884 um sindicalismo confederado com organismos 
centrais, como a Fédérations des Bourses du Travail, agrupando as Bolsas de 
Trabalho, entes em torno dos quais se concentrou uma vida sindical para incrementar 
a oferta e a procura de mão de obra. Surgiu a Confédération Générale du Travail em 
decorrência de congressos sindicais como o de Limoges (1895) e Montpellier (1902) e 
desenvolveram-se centrais sindicais como a CGTU — Confédération Générale du 
Travail Unitaire e a CGT-FO — Confédération Générale du Travail — Force Ouvrière, 
como decorrência da cisão da CGT; e foi criada a CFTC — Confédération Française 
des Travailleurs Chrétiens. Destaquem-se, na França, dois grandes pactos, o acordo 
de Matignon (1936), após um período conturbado por invasões de fábricas 1235 pelos 
operários e que permitiu o reconhecimento dos princípios da liberdade sindical, das 
convenções coletivas e dos delegados sindicais, e o acordo de Grenelle (1968), 
resultante de discussões entre Estado e sindicatos, com quinze pontos que serviram 
de base consensual para elaboração da legislação trabalhista. 
 Passando-se, agora, às fontes formais ou normas jurídicas que constituem o 
ordenamento jurídico, há que se examinar, sucintamente, os tipos de normas que 
constituem as fontes do direito sindical. As fontes internacionais são as Convenções 
da Organização Internacional do Trabalho, entre as quais as seguintes, de acordo 
com os respectivos números e temas: n. 11 (1921), sobre direito de associação na 
agricultura; n. 84 (1947), sobre direito de associação em territórios metropolitanos; n. 
87 (1947), sobre liberdade sindical; n. 98 (1949), sobre direito de sindicalização e 
negociação coletiva; n. 91 (1951), sobre convenções coletivas; n. 92 (1952), sobre 
conciliação e arbitragem; n. 94 (1952), sobre colaboração no âmbito da empresa; 
n.113 (1960), sobre consulta às organizações de empregadores e trabalhadores pelas 
autoridades públicas; n. 130 (1967), sobre exame de reclamações dos trabalhadores 
na empresa; n. 135 (1971), sobre representantes dos trabalhadores; n. 143 (1971), 
sobre revisão da Convenção n. 135; n. 141 (1975), sobre organizações de 
trabalhadores rurais; n. 149 (1975), sobre revisão da Convenção n. 141; n. 144 
(1976), sobre consulta tripartite; n. 151 (1978), sobre proteção do direito de 
sindicalização e procedimentos para determinar condições de emprego na 
Administração Pública; n. 159 (1978), sobre revisão da Convenção n. 151; n. 154 
(1981), sobre desenvolvimento da negociação coletiva; n. 163 (1981), sobre revisão 
da Convenção n. 154. Entre as declarações programáticas destaque-se a Declaração 
Universal dos Direitos do Homem (1948), da Organização das Nações Unidas. No 
plano do direito comunitário, o Tratado de Roma (1957), que fundou a Comunidade 
Econômica Europeia, hoje União Europeia, o Tratado de Maastricht (1992) e, no 
âmbito do MERCOSUL, a Declaração Sociolaboral do MERCOSUL. No MERCOSUL 
há comissões estudando a possibilidade da harmonização das leis nos países que o 
integram. Outros tipos de normas jurídicas do direito sindical são as leis 
constitucionais e infraconstitucionais; as disposições da Administração. 
16 
 
2) EVOLUÇÃO SINDICAL NO BRASIL 
 
 Os dois marcos principais da evolução sindical no Brasil é os mesmos do 
Direito do Trabalho: 1930 e 1988. 
 
A) Período Inicial do Sindicalismo Brasileiro — Antes de 1930, o ramo jus 
trabalhista ainda se encontrava em fase de manifestações incipientes e esparsas, 
sem alcançar a complexidade de regras, práticas, institutos e princípios aptos a lhe 
conferirem autonomia no plano do Direito. Isso era compreensível, uma vez que o 
país mal extirpara a escravatura como principal relação de produção em sua 
economia (o que ocorreria apenas em 1888), deixando de tornar hegemônica a 
relação de emprego (base do Direito do Trabalho e do sindicalismo) no conjunto de 
seus vínculos sócio econômico. 
 
 Ao lado disso, seu processo industrial, embora crescente, era também 
relativamente limitado, expandindo-se nas brechas e limites conferidos pela 
dominante economia agroexportadora. 
 Do mesmo modo que as regras e instituições trabalhistas eram esparsas e 
incipientes (sequer havia a competência exclusiva da União para legislar sobre o 
ramo jurídico, o que somente surgiu com a Emenda Constitucional de 1926), assim 
também era o próprio sindicalismo. As primeiras associações de trabalhadores livres 
surgiram nas décadas finais do século XIX, ampliando-se a experiência associativa ao 
longo do inicio do século XX. Tratava-se de ligas operarias, sociedades de socorro 
mutuo, sociedades cooperativas de obreiros, enfim, diversos tipos de entidades 
associativas que agregavam trabalhadores por critérios diferenciados(4). 
 Na formação e desenvolvimento dessas entidades coletivas teve importância 
crucial à presença da imigração europeia, que trouxe ideias e concepções plasmadas 
nas lutas operarias do velho continente. A ordem jurídica regulatória do Sindicalismo, 
na época, não era do tipo interventivo, inexistindo modelo oficialde sindicato a ser 
implementado (ao contrario do que ocorreriam tempos depois, a contar de 1930). De 
fato, ainda em 1890, o Decreto n. 1.162 derrogou a tipificacao da greve como ilicito 
penal, mantendo como crime apenas os atos de violência praticados no desenrolar do 
movimento (4). 
 Logo em seguida, a Constituição Republicana de 1891 iria assegurar os 
direitos de reunião e associação (art. 72, § 8a). Algum tempo depois, o Decreto n. 
979, de 1903, facultaria a criação de sindicatos rurais (onde se situava, na época, a 
parte mais significativa da forca de trabalho do país) (5), ao passo que, em 1907, o 
Decreto Legislativo n. 1.637 estenderia a vantagem a área urbana, facultando a 
criação de sindicatos profissionais e sociedades cooperativas (6). 
 
 
 
 
 
 
 
 
_______________________ 
4 VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e Sindicato no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. p. 46. 
5 PINTO, Jose Augusto Rodrigues, ob. cit., p. 57. 
6 PINTO, José Augusto Rodrigues, ob. cit. e FAUSTO, Boris. Trabalho Urbano e Conflito Social — 1890-1920. São Paulo: Difel, 
1976. p. 223-224. 
17 
 
 Os historiadores explicam que o sindicalismo pré-30 tornou-se relativamente 
estruturado em alguns específicos segmentos, em particular atados a dinâmica 
central da economia da época. Nesse quadro, os setores de ferrovias e portos, 
vinculados a agroexportacão de café, apresentaram evolução organizativa 
consistente. Boris Fausto, a esse respeito, expõe: “As docas de Santos reuniram o 
primeiro grupo importante de trabalhadores em todo o Estado, cujas lutas se iniciaram 
em fins do século e permaneceram constantes no correr dos anos”. (7) Completa o 
mesmo autor: “O setor serviços (ferrovias e portos) e estrategicamente o mais 
relevante, dele dependendo o funcionamento básico da economia agroexportadora, 
assim como o que representa o maior grau de concentração de trabalhadores”. 
 Ao lado desse sindicalismo mais proeminente, surgem também entidades 
sindicais em torno do parque industrial que se forma entre 1890 e 1930 no pais, 
principalmente em São Paulo. No conjunto, esse incipiente movimento sindical teve 
participação eventualmente importante em certos períodos da Republica Velha. Os 
autores, por exemplo, apontam a greve pelas oito horas de trabalho, abrangendo São 
Paulo, Santos, Ribeirão Preto e Campinas, em 1907, e a conjuntura de intensos 
movimentos trabalhistas passada de 1917 a 1920 como alguns dos pontos mais 
significativos da atuação coletiva obreira nessa fase inicial do sindicalismo e do ramo 
justrabalhista. (9) 
 Como exposto por este autor em outra oportunidade, a característica desse 
período a presença de um movimento operário ainda sem profunda e constante 
capacidade de organização e pressão, quer pela incipiência de seu surgimento e 
dimensão no quadro econômico-social da época, quer pela forte influencia anarquista 
hegemônica no segmento mais mobilizado de suas lideranças próprias. Nesse 
contexto, as manifestações autonomistas e de negociação privada vivenciadas no 
novo plano industrial não tem ainda a suficiente consistência para firmarem um 
conjunto diversificado e duradouro de praticas e resultados normativos, oscilando em 
ciclos esparsos de avanços e refluxos (10). 
 
 B) 1930: implantação e reprodução de modelo sindical — O modelo trabalhista 
brasileiro preponderante no século XX construiu-se, como se sabe, nas décadas de 
1930 e 40, no desenrolar do Governo Getulio Vargas. O mais importante pilar desse 
modelo era o sistema sindical, que se entrelaçava com seus demais sustentáculos. 
 Essa fase de construção institucional, ja iniciada em 1930, consubstancia, em 
seus primeiros treze a quinze anos (ou pelo menos ate 1943, com a Consolidação das 
Leis do Trabalho), intensa atividade do Estado, em consonância com o novo padrão 
de gestão sociopolítico que se instaura no país com a derrocada, em 1930, da 
hegemonia exclusivista do segmento agroexportador de café. 
 O Estado largamente intervencionista que se forma estende sua atuação 
também a área da chamada questão social. Nesta área implementa vasto e profundo 
conjunto de ações diversificadas mas nitidamente combinadas: de um lado, através 
de profunda repressão sobre quaisquer manifestações autonomistas do movimento 
operário; de outro lado, por meio de minuciosa 
legislação instaurando um abrangente novo modelo de organização do sistema jus 
trabalhista, estreitamente controlado pelo Estado (11). 
 
 
__________________________ 
7 FAUSTO, Boris, ob. cit., p. 13. Curso de Direito do Trabalho – Mauricio Mascaro Goldinho,p.1376 
8 FAUSTO, Boris, ob. cit., p. 122 –Curso de Direito do Trabalho – Mauricio Mascaro Goldinho,p.1376 
9 FAUSTO, Boris, ob. cit., p. 146-150 e 157-217. 
10 DELGADO, Mauricio Goldinho. Introdução ao Direito do Trabalho, 3. ed. São Paulo: LTr, 
em seu Capitulo II, item 2.A. 
11 DELGADO, Mauricio Goldinho. Curso de Direito do Trabalho, 11º ed,São Paulo, p,1377 
18 
 
 Essa evolução em um interregno de menos de dois anos, entre 1934 e 1935, 
com a Constituição de 1934, quando voltou a florescer maior liberdade e autonomia 
sindicais (a própria pluralidade sindical foi acolhida por esta Constituição). 
 Entretanto, logo imediatamente o governo federal retomou seu controle pleno 
sobre as ações trabalhistas, através do estado de sitio de 1935, dirigido 
preferencialmente às lideranças políticas e operarias adversárias da política oficial. 
 Mais que isso, com o estado de sitio de 1935, continuado pela ditadura aberta 
de 1937, pode o governo federal eliminar qualquer foco de resistência a sua 
estratégia política-juridica, firmando solidamente a larga estrutura do modelo 
justrabalhista, cujas bases iniciara logo após o movimento de outubro de 1930. 
 O modelo justrabalhista mencionado forma-se a partir de políticas integradas, 
administrativamente dirigidas em pelo menos em seis direções. 
 Todas essas políticas mostraram-se coerentemente lançadas e estruturadas 
nos quinze anos do governo instalado em 1930. 
 A primeira área contemplada pela ação governamental seria a própria 
administração federal, de modo a viabilizar a coordenação das ações institucionais a 
serem desenvolvidas nos anos seguintes. Criou-se, assim, o Ministério do Trabalho, 
Indústria e Comercio pelo Decreto n. 19.443, de 26.11.1930. 
 Meses após, em 4.2.1931, instituiu-se o Departamento Nacional do Trabalho 
(Decreto n. 19.671-A)(12). 
 A área sindical seria também imediatamente objeto de normatização federal, 
através do Decreto n. 19.770, de 19.3.1931, que cria uma estrutura sindical oficial, 
baseada no sindicato único (embora ainda não obrigatório), submetido ao 
reconhecimento pelo Estado e compreendido como órgão colaborador deste(13). 
Passado o interregno da Constituição de 1934, aprofundou-se o modelo sindical 
oficial corporativista, através da Carta de 1937 e do Decreto n. 1.402, de 5.7.1939. A 
essa altura ja se tomara juridicamente explicito o que fora pratica institucional desde 
1935: a inviabilidade de coexistência de qualquer outro sindicato com o sindicalismo 
oficial. 
 Como terceira área de desenvolvimento da política trabalhista oficial, criou-se 
um sistema de solução judicial de conflitos trabalhistas. Esse sistema seria 
instaurado, inicialmente, mediante a criação das Comissões Mistas de Conciliação e 
Julgamento (Decreto n. 21.396, de 21.3.1932), em que so poderiam demandar os 
empregados integrantes do sindicalismo oficial (Decreto n. 22.132, de 25.11.1932). 
 A Carta de 1937 (não aplicada, e verdade), referindo-se a uma Justiça do 
Trabalho, induziria, alguns anos após, ao aperfeiçoamento do sistema, na medida em 
que elevava seu patamar institucional. 
 A Justiça do Trabalho seria, por fim, efetivamente regulamentada pelo 
Decreto-Lei n. 1.237, de 1.5.1939(14) 
 O sistema previdenciário, também de formação corporativa, vinculado as 
respectivas áreas profissionaise aos correspondentes sindicatos oficiais, do mesmo 
modo que as demais instituições do modelo justrabalhista, começou a ser estruturado 
logo após 1930. Nesse caso, a estruturação procedeu-se a partir da ampliação e 
reformulação das antigas Caixas de Aposentadoria e Pensões, vindas da época 
precedente e ainda organizadas essencialmente por empresas. 
 
 
 
 
______________________ 
12 MORAES FILHO, Evaristo de. Tratado Elementar de Direito do Trabalho. V. I. Rio de janeiro: Freitas Bastos, 1960. p. 316. 
13 VIANNA, Luiz Werneck. Liberalismo e Sindicato no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. p. 146-147. 
14 Apenas em 1946, pela Constituição daquele ano, e que a Justiça do Trabalho passou a integrar, contudo, o Poder Judiciário 
19 
 
 Já em 1931, pelo Decreto n. 20.465, de 1.10.31, o novo governo promoveu a 
primeira reforma ampliativa do anterior sistema previdenciário, firmando, contudo, a 
categoria profissional como parâmetro (15). O núcleo essencial do novo sistema 
reformulado e ampliado seriam os diversos Institutos de Aposentadorias e Pensões, 
abrangendo categorias especificas e tendo âmbito nacional. Com essa nova 
denominação, o primeiro desses órgãos a ser instaurado foi o Instituto de 
Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), mediante o Decreto n. 22.872, de 
29.6.1933. Inúmeros outros órgãos semelhantes seguiram-se nos anos 
subsequentes. 
 A legislação profissional minuciosa desponta por toda essa época, como mais 
uma área de atuação da política trabalhista do novo governo. Citem-se, 
ilustrativamente, alguns dos inúmeros diplomas justrabalhistas: Decreto n. 21.471, de 
17.5.1932, regulamentando o trabalho feminino; Decreto n. 21.186, de 22.3.1932, 
fixando a jornada de oito horas para os comerciários, preceito que seria, em seguida, 
estendido aos industriários (Decreto n. 21.364, de 4.5.1932); Decreto n. 21.175, de 
21.3.1932, criando as carteiras profissionais; Decreto n. 23.103, de 19.8.1933, 
estabelecendo ferias para os bancários, e diversos outros diplomas que se 
sucederam ao longo da década de 30 ate 1943. 
 A última das direções seguidas pela política oficial tendente a implantar o 
modelo trabalhista corporativista e autocrático da época traduzia-se nas distintas 
ações voltadas a sufocar manifestações políticas ou operarias autonomistas ou 
simplesmente adversas a estratégia oficial concebida. O primeiro marco dessas ações 
combinadas residiria na Lei de Nacionalização do Trabalho, reduzindo a participação 
de imigrantes no segmento obreiro do país (Decreto n. 19.482, de 12.12.1930, 
estabelecendo um mínimo de 2/3 de trabalhadores nacionais no conjunto de 
assalariados de cada empresa). A essa medida estrutural seguiram-se os diversos 
incentivos ao sindicalismo oficial (monopólio de ação junto as Comissões Mistas de 
Conciliação; exclusivismo de participação nos Institutos de Aposentadorias e 
Pensões, etc.), incentivos que seriam transformados, logo após, em expresso 
monopólio jurídico de organização, atuação e representação sindical. Finalmente, por 
quase todo o período getulista, uma continua e perseverante repressão estatal sobre 
as lideranças e organizações autonomistas ou adversas obreiras. 
 O modelo justrabalhista então estruturado reuniu-se, anos após, em um único 
diploma normativo, a Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto-Lei n. 5.452, de 
1.5.1943). Embora o nome reverenciasse a obra legislativa anterior (consolidação), a 
CLT, na verdade, também alterou e ampliou a legislação trabalhista existente, 
assumindo, desse modo, a natureza própria de um código do trabalho. 
 
 C) Continuidade do Modelo nas Décadas Subsequentes — O modelo 
justrabalhista construído entre 1930 e 1945 manteve-se quase intocado nas longas 
décadas posteriores. A fase de oficialização autoritária e corporativista do Direito do 
Trabalho brasileiro e de seu modelo sindical estende-se, assim, de 1930 ate pelo 
menos a Constituição de 1988. 
 Sobre essa continuidade comenta o cientista político Leoncio Martins 
Rodrigues: "Um dos fatos que chamam a atenção na historia do sindicalismo 
brasileiro e a extraordinária persistência do tipo de sindicato esboçado após a vitoria 
de Vargas e completado durante o Estado Novo. Atribuiu-se sua criação a influencia 
das doutrinas fascistas então em moda, principalmente a Carta do Trabalho italiana. 
No entanto, depois de 1945, com a chamada redemocratização do pais, o modelo de 
organização sindical que parecia ter sido uma imposição artificial da ditadura 
varguista (sob influencia fascista) não sofreu alterações que afetassem sua 
essência.”(16) 
20 
 
 Na verdade, o conjunto do modelo justrabalhista oriundo entre 1930 e 1945 e 
que se manteve quase intocado. A exceção do sistema previdenciário que, na década 
de 1960, foi afastado da estrutura corporativa sindical e dissociado desse tradicional 
modelo justrabalhista, não se assiste, quer na fase democrático-desenvolvimentista 
de 1945-1964(61>, quer na fase do regime militar implantado em 1964, a 
implementação de modificações substantivas no modelo justrabalhista imperante no 
pais. 
 
 D) Constituição de 1988: mudança e continuidade — A Constituição de 1988 e 
o mais relevante ponto de mudança no modelo trabalhista e sindical brasileiros, desde 
1930/45, embora seja também, ao mesmo tempo, um elemento assecuratório de sua 
continuidade. (17) 
 Não se pode negar, e verdade, os claros pontos de avanço democrático na 
Constituição brasileira: a nova Constituição confirma em seu texto o primeiro 
momento na historia brasileira após 1930 em que se afasta, estruturalmente, a 
possibilidade jurídica de intervenção do Estado — através do Ministério do Trabalho 
sobre as entidades sindicais. Rompe-se, assim, na Constituição, com um dos pilares 
do velho modelo: o controle político-administrativo do Estado sobre a estrutura 
sindical. 
 Ao lado disso, a nova Constituição, pela primeira vez em seis décadas, fixa 
reconhecimento e incentivos jurídicos efetivos ao processo negocial coletivo 
autônomo, no seio da sociedade civil. (18) 
 Entretanto, contraditoriamente, a mesma Constituição preserva institutos e 
mecanismos autoritário corporativos oriundos das bases do velho modelo 
justrabalhista, como, ilustrativamente, a antiga estrutura sindical corporativista. 
 Por essas contradições e que se pode considerar mera transição a fase 
inaugurada no Direito do Trabalho do pais pela Constituição de 1988, ao menos no 
tocante ao Direito Coletivo do Trabalho. 
 a) Avanços Democráticos — Do ponto de vista da criação de condições 
favoráveis a mais ampla participação dos grupos sociais na geração de normas 
jurídicas a comporem o universo normativo do pais, democratizando o sistema de 
gestão trabalhista vigorante, parece claro que a nova Lei Maior teve flagrante intenção 
de colocar a sociedade brasileira nesse caminho. Já em seu Preâmbulo, a 
Constituição fala em exercício de direitos sociais e individuais, faz menção a uma 
sociedade pluralista e defende a solução pacifica de conflitos. Nos Princípios 
Fundamentais, refere-se a valores sociais do trabalho e da livre-iniciativa, a uma 
sociedade livre, justa e solidaria, reiterando a noção de solução pacifica de conflitos. 
Mais que isso, a Constituição de 1988 inova — de modo muito destacado — perante 
todos os Textos Constitucionais anteriores ao estatuir que todo o poder emana do 
povo, que o exercera por meio de seus representantes ou diretamente. 
 
 
 
 
 
 
___________________ 
15 GODINHO Mauricio Delgado – Curso de Direito do Trabalho p. 1379 11º Ed. 
Apenas em 1946, pela Constituição daquele ano, e que a Justiça do Trabalho passou a integrar, contudo, o Poder Judiciário. 
16 RODRIGUES, Leoncio Martins. Trabalhadores, Sindicatos e industrialização. São Paulo: 
Brasiliense, 1974, p. 94. A observação em parênteses esta no original. 
17 GODINHO Mauricio Delgado – Curso de Direito do Trabalho p. 138111º Ed. 
18 No período da Republica Democrático - Desenvolvimentista (1945-1964), esse modelo viu-se acrescentar de uma instituição 
de nítido caráter politico-eleitoral, o Partido Trabalhista Brasileiro. A respeito, ver DELGADO, Lucila de Almeida Neves. PTB: do 
Getulismo ao Reformismo — 1945-1964. Sao Paulo: Marco Zero, 1989. 
21 
 
 Ora, na medida em que se sabe que a norma jurídica e a consumação de um 
processo político bem-sucedido, pode-se concluir que pretendeu também a 
Constituição valorizar formas autônomas de exercício do poder, não apenas através 
de instrumentos políticos clássicos (ainda que raramente utilizados na historia 
brasileira, como o plebiscito e o referendum — art. 14, CF/88), como ainda mediante 
mecanismos de produção autônoma do Direito — que traduzem um meio notável de 
exercício direto do poder. A Constituição confirmara essa intenção, ao acentuar a 
importância das convenções e acordos coletivos contidas no (arts. 7° XXVI e 8S, VI, 
CF/88)(19) 
 
 
2.1) PRINCIPIOS QUE REGEM O DIREITO SINDICAL 
 
1. Princípio da liberdade associativa e sindical: 
 
 O primeiro desses princípios postula pela ampla prerrogativa obreira de 
associação e, por consequência, sindicalização. 
 O princípio pode ser desdobrado em dois: liberdade de associação, mais 
abrangente; e liberdade sindical. 
 O princípio da liberdade de associação assegura consequência jurídico-
institucional a qualquer iniciativa de agregação estável e pacífica entre pessoas, 
independentemente de seu segmento social ou dos temas causadores da 
aproximação. Não se restringe, portanto, à área e temáticas econômico-profissionais 
(onde se situa a ideia de liberdade sindical). 
 O princípio associativo envolve as noções conexas de reunião e associação. 
Por reunião entende-se a agregação episódica de pessoas em face de problemas e 
objetivos comuns; por associação, a agregação permanente (ou, pelo menos, de largo 
prazo) de pessoas em face de problemas e objetivos comuns. 
 Noções interligadas, a liberdade de reunião sempre foi pressuposto importante 
à consecução da liberdade de associação - trata-se daquilo que José Afonso da Silva 
chama de “liberdade-condição, porque, sendo um direito em si, constitui também 
condição para o exercício de outras liberdades” (19) As duas ideias e dinâmicas têm 
lastro na própria matriz social do ser humano, sendo também fundamentais à 
estruturação e desenvolvimento da democracia. São, ao mesmo tempo, uma 
afirmação da essência humana dos indivíduos e uma seiva oxigenadora da 
convivência democrática no plano social. 
 O direito de reunião pacífica e de associação sem caráter paramilitar está 
assegurado na Carta Magna (art. 5o, XVI e XVII), estando, de certo modo, 
referenciado nas constituições brasileiras desde o primeiro texto republicano (art. 72, 
§8°, CR/1891). A liberdade associativista tem uma dimensão positiva (prerrogativa de 
livre criação e/ou vinculação a uma entidade associativa) ao lado de uma dimensão 
negativa (prerrogativa de livre desfiliação da mesma entidade). Ambas estão 
mencionadas no texto magno (“ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a 
permanecer associado” - art. 5º, XX, CF/88). 
 Tal liberdade, é claro, envolve outras garantias da ordem jurídica: livre 
estruturação interna, livre atuação externa, auto-sustentação, direito à auto-extinção 
 
 
____________________________ 
(19) Sobre esse caráter inovador da Constituição de 1988, no que tange a formas institucionais de participação direta da 
população no exercício do poder, ver BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A Cidadania Ativa — Referendo, Plebiscito e 
Iniciativa Popular. São Paulo: Atica, 1991 e, ainda, MOISES, Jose Álvaro. Cidadania e Participação — Ensaio sobre o Referendo, 
o Plebiscito e a Iniciativa Popular. São Paulo: Marco Zero, 1990. Rev. TST, Brasília, vol. 67, ns 2, abr/jun 2001 
 
22 
 
(ou garantia de extinção por causas ou agentes externos somente após regular 
processo judicial). 
 Direcionado ao universo do sindicalismo, o princípio mais amplo especifica-se 
na diretriz principio da liberdade sindical (ou da liberdade associativa e sindical). 
 Tal princípio engloba as mesmas dimensões positivas e negativas já referidas, 
concentradas no universo da realidade do sindicalismo. Abrange, desse modo, a 
liberdade de criação de sindicatos e de sua auto-extinção (com a garantia de extinção 
externa somente através de sentença judicial regularmente formulada). Abrange, 
ainda, a prerrogativa de livre vinculação a um sindicato assim como a livre desfiliação 
de seus quadros (o art. 8º, V, da Constituição especifica o comando já lançado 
genericamente em seu art. 5º, XX: “ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se 
filiado a sindicato”). 
 Registre-se que matérias relativas à estruturação interna dos sindicatos e suas 
relações com o Estado e, também, de certo modo, com os empregadores, têm sido 
englobadas em um princípio afim, o da autonomia sindical, a ser examinado no item 
a, à frente. 
 
a) Cláusulas de sindicalização forçada 
 
 Há sistemáticas de incentivos à sindicalização (apelidadas de cláusulas de 
segurança sindical ou de sindicalização forçada) que são controvertidas no que tange 
à sua compatibilidade com o princípio da liberdade sindical. 
 Trata-se, por exemplo, das cláusulas negociais coletivas denominadas closed 
shop, union shop, preferenciai shop e, por fim, maintenance o f membership. Pela 
closed shop (empresa fechada), o empregador se obriga perante o sindicato obreiro a 
somente contratar trabalhadores a este filiados. Nos EUA, tal dispositivo foi 
considerado ilegal pela Lei Taft-Hartley, de 1947.6 Pela union shop (empresa 
sindicalizada), o empregador se compromete a manter apenas empregados que, após 
prazo razoável de sua admissão, filiem-se ao respectivo sindicato operário. Não se 
obstrui o ingresso de trabalhador não sindicalizado, mas inviabiliza-se sua 
continuidade no emprego caso não proceda, em certo período, à sua filiação 
sindical.7 Próxima a esta, há a cláusula preferencial shop (empresa preferencial), que 
favorece a contratação de obreiros filiados ao respectivo sindicato.8 Neste rol 
destaca-se ainda a cláusula maintenance of membership (manutenção de filiação), 
pela qual o empregado inscrito em certo sindicato deve preservar sua filiação durante 
o prazo de vigência da respectiva convenção coletiva, sob pena de perda do 
emprego.9 Tais dispositivos de sindicalização forçada colocam em confronto, 
inegavelmente, liberdade individual obreira de filiação e/ou desfiliação e reforço da 
organização coletiva dos próprios trabalhadores - em suma, liberdade individual 
versus fortalecimento sindical. Neste embate há sistema jurídico-político de tradição 
democrática (como os anglo-americanos) que se mostraram mais tolerantes com a 
prevalência da “liberdade do grupo profissional” sobre a liberdade individual. Contudo, 
na tradição juspolítica latina, a começar pela França, a concepção dominante volta-se 
à direção de negar validade a tais cláusulas. No Brasil, tem prevalecido o 
entendimento denegatório de validade às citadas cláusulas de sindicalização forçada. 
 
b) Práticas anti-sindicais: 
 
 Há, por outro lado, sistemáticas de desestímulo à sindicalização e desgaste à 
atuação dos sindicatos (denominadas de práticas anti-sindicais) que entram em claro 
choque com o princípio da liberdade sindical. Trata-se, por exemplo, dos chamados 
yellow dog contracts, das company unions e, ainda, da prática mise à 1 'index. No 
23 
 
primeiro caso (contratos de cães amarelos) o trabalhador firma com seu empregador 
compromisso de não filiação a seu sindicato como critério de admissão e manutenção 
do emprego. 
 
 A expressão inglesa, entretanto (yellow dog contracts), sugere uma crítica ao 
trabalhador que subscreve essa cláusula de não filiação sindical. Na experiência 
histórica de outrospaíses, contudo (inclusive o Brasil), sabe-se que os fatos tendem a 
se passar de maneira diversa: é comum ouvir-se falar em práticas meramente 
informais, inviabilizando, pela pressão surda no ambiente laborativo, a efetiva 
possibilidade de adesão de empregados a seu respectivo sindicato. 
 No segundo caso (sindicatos de empresa - no Brasil, sindicatos amarelos), o 
próprio empregador estimula e controla (mesmo que indiretamente) a organização e 
ações do respectivo sindicato obreiro. 
 No terceiro caso (colocar no Index - no Brasil, lista negra), as empresas 
divulgariam entre si os nomes dos trabalhadores com significativa atuação sindical, de 
modo a praticamente excluí-los do respectivo mercado de trabalho. (20) 
Tais cláusulas ou práticas (e outras congêneres) são, sem dúvida, inválidas, por 
agredirem o princípio da liberdade sindical, constitucionalmente assegurado. 
 
c) Garantias à atuação sindical: 
 
 O princípio da liberdade associativa e sindical propugna pela franca 
prerrogativa de criação e desenvolvimento das entidades sindicais, para que se 
tomem efetivos sujeitos do Direito Coletivo do Trabalho. Como qualquer princípio, 
enquanto comando jurídico instigador, a presente diretriz também determina ao 
ordenamento jurídico que confira consistência ao conteúdo e objetivo normativos que 
enuncia. Ou seja, que estipule garantias mínimas à estruturação e atuação dos 
sindicatos, sob pena de não poderem cumprir seu papel de real expressão da vontade 
coletiva dos respectivos trabalhadores. (21) Algumas dessas garantias já estão 
normatizadas no Brasil. A principal delas é a vedação à dispensa sem justa causa do 
dirigente sindical, desde a data de sua inscrição eleitoral até um ano após o término 
do correspondente mandato (art. 8o, VIII, CF/88), Esta garantia conta, inclusive, com 
medida judicial eficaz do Juiz do Trabalho, mediante a qual se pode determinar, 
liminarmente, a reintegração obreira em contextos de afastamento, suspensão ou 
dispensa pelo empregador (art. 659, X, CLT, conforme Lei n° 9.270/1996). Conexa à 
presente garantia existe a intransferibilidade do dirigente sindical para fora da base 
territorial de seu sindicato (art. 543, CLT). 
 Diversas dessas relevantes garantias essenciais estão expressamente 
consignadas em textos normativos construídos ao longo de décadas pela 
Organização Internacional do Trabalho (Convenções n° 11,87,98,135,141 e 151, por 
exemplo). Além disso, têm sido inseridas, classicamente, em experiências 
democráticas consolidadas no mundo ocidental (ilustrativamente, Estatuto dos 
Trabalhadores da Itália - Lei n° 300, de 1970). 
 
 
 
___________________ 
(20) Gomes e Gottschalk informam que na França a prática mise à l’index também tornou-se conhecida como instrumento 
utilizado pelo próprio sindicalismo para desgaste ou pressão sobre trabalhadores não filiados: “o sindicato apela para os 
associados a fim de que não mantenham relações sociais, camaradagem, confraternização, com o empregado 
indigitado...(visando)... constranger o não sindicalizado à sindicalização..,”. In ob. cit., p. 481-482. 12. 
(21) A concepção de princípio como comando jurídico instigador encontra-se desenvolvida no capítulo I da recente obra deste 
autor, Princípios de Direito Individual e Coletivo do Trabalho, São Paulo: LTr, 2001 
https://juslaboris.tst.jus.br/bitstream/handle/20.500.12178/52335/007_delgado.pdf?sequence=1 
24 
 
 2. Princípio da autonomia sindical: 
 
 Os sindicatos/organizações sindicais devem ser livres, autônomas e 
independentes, em relação ao Estado e em relação a sua contraparte. Não se trata de 
soberania sindical, afinal os sindicatos se curvam à lei, ou seja, dentro da lei poderão 
atuar e defender os interesses dos trabalhadores, mas não se trata de algo ilimitado; 
sem a necessidade de pedir autorização. As associações tem o poder de realizar esta 
luta, mas os sindicatos tem o dever de proteger os direitos dos trabalhadores. Depois 
da instituição do sindicato, haverá autonomia deste. Ou seja, não é necessária e nem 
obrigatória a autorização do Estado para abrir sindicato, sendo necessário somente o 
seu registro no MTE. O registro é obrigatório e é com o registro que o sindicato ganha 
personalidade jurídica. 
 Tal princípio sustenta a garantia de autogestão às organizações associativas e 
sindicais dos trabalhadores, sem interferências empresariais ou interferência do 
Estado. Trata portanto, da livre estruturação interna do sindicato, sua livre atuação 
externa, sua sustentação econômico-financeira e sua desvinculação de controles 
administrativos estatais ou em face do empregador. 
 É verdade que quando se fala no princípio genérico da liberdade de associação 
nele se englobam, naturalmente, as matérias relativas à estruturação interna das 
entidades associativas e suas relações com o Estado. Entretanto, na história do 
Direito do Trabalho desdobrou-se o princípio geral em dois, conforme já sugerido: o 
da liberdade sindical e o da autonomia dos sindicatos. Reconheça-se que tal 
segmentação resulta de particularidades importantes da história do sindicalismo, que 
não se destacaram com tanta ênfase na história das demais associações civis, 
culturais, políticas, religiosas ou de outra natureza. É que além do problema da 
liberdade sindical no sentido estrito (isto é, liberdade de criação de entidades sindicais 
com a consequente dinâmica de filiação e des filiação de trabalhadores a tais 
entidades) sempre foi crucial à sorte do sindicalismo no Ocidente as lutas pela 
autonomia dos sindicatos perante o Estado (e, em certo grau, também perante os 
empregadores). O dilema da autonomia versus controle político-administrativo dos 
sindicatos sempre foi um dos problemas centrais da história do sindicalismo nos 
países ocidentais (no Brasil, inclusive, acentuadamente - como se sabe), razão por 
que o princípio maior da liberdade sindical se desdobrou em duas diretrizes 
correlatas: a da própria liberdade e a especificamente relacionada às questões da 
autonomia das entidades sindicais operárias. 
 O princípio da autonomia sindical sempre sofreu graves restrições na história 
jurídica e política brasileira. 
 Antes de 1930 o princípio padecia em meio às próprias debilidades de todo o 
Direito do Trabalho, que sequer se estruturava como um ramo jurídico próprio e 
complexo. Em sua fase inicial de manifestações incipientes e esparsas, o futuro ramo 
justrabalhista ainda não possuía um conjunto sistemático de regras, princípios e 
institutos que assegurassem plena cidadania à atuação coletiva dos trabalhadores no 
país. 
 Dominava a política institucional da República Velha, como se sabe, certa 
concepção liberal individualista que não encontrava justificativa para a regulação 
normativa do mercado de trabalho, nem espaço político para a absorção institucional 
dos movimentos sociais produzidos pelos trabalhadores dos incipientes segmentos 
industriais da época e de certos setores de serviços (ferroviário e portuário, 
principalmente). A inegável existência de sindicatos livres, no período, não chegou a 
formar uma tradição sólida de autonomia, seja pela incipiência do sistema industrial e 
do mercado de trabalho correspondente, seja pelo fato de que a autonomia fazia-se 
25 
 
fora do direito, não se institucionalizando em um modelo jurídico bem definido e 
estruturado. (22) 
 A década de 1930 vê instaurar-se no Brasil, como se conhece, um sistema 
justrabalhista de estrutura e dinâmica autoritárias, sob direto e minucioso controle 
político e administrativo do Estado, nos moldes corporativistas, embebido do modelo 
fascista importado da Itália da época. Neste sistema, falar-se em princípio de 
autonomia sindical é simplesmente um contrassenso, uma vez que o caráter 
publicista dos sindicatos colocava-os sob a égide do Ministério do Trabalho, com 
poderes incontrastáveis de criação, extinção e intervenção cotidianana vida de tais 
entidades. 
 Mesmo após o fim da ditadura Vargas (1930-1945), o princípio da autonomia 
sindical não chegou a ser efetivamente incorporado na ordem jurídica brasileira (aliás, 
esta foi um a das singularidades da democracia brasileira pós-1945: mecanismos 
democráticos formais no plano político-institucional e estrutura corporativista 
centralizadora e autoritária no plano do mercado de trabalho). Assim, não obstante o 
princípio formalmente constasse do texto da Constituição subseqüente à instauração 
do sistema trabalhista brasileiro tradicional (Carta de 1946) ele era inteiramente vazio 
de conteúdo já que esdruxulamente compatibilizado com as regras do corporativismo 
autoritário estabelecido. 
 Com o advento do regime militar a estrutura corporativista sindical ajustou-se 
como luva às pretensões antidemocráticas do novo regime, preservando-se intocado 
nas duas Cartas Constitucionais então editadas (1967 e 1969 - EC n° l) .(23) 
 Somente a partir da Carta Magna de 1988 é que teria sentido sustentar-se que 
o princípio autonomista ganhou corpo na ordem jurídica do país. De fato, a nova 
Constituição eliminou o controle político-administrativo do Estado sobre a estrutura 
dos sindicatos, quer quanto à sua criação, quer quanto à sua gestão (art. 8o, I). Além 
disso, alargou as prerrogativas de atuação dessas entidades, seja em questões 
judiciais e administrativas (art. 8o, III), seja na negociação coletiva (art. 8°, VI, e 7º, 
XXVI), seja pela amplitude assegurada ao direito de greve (art. 9º). 
 Entretanto, curiosamente, a mesma Constituição manteve traços relevantes do 
velho sistema corporativista do país. É o que se passa com a unicidade sindical (art. 
8o, II), com o sistema de financiamento compulsório e genérico de toda a estrutura, 
inclusive sua cúpula (art. 8º, IV), com o poder normativo dos tribunais trabalhistas e, 
finalmente, com os mecanismos de representação corporativa no seio do aparelho de 
Estado - no caso, através da chamada representação classista na Justiça do 
Trabalho. São estruturas e instrumentos que se chocam, afinal, de modo patente, 
segundo as experiências históricas vivenciadas por algumas das mais sedimentadas 
democracias ocidentais (como Itália e Alemanha, por exemplo), com o princípio da 
autonomia sindical. Embora um dos mais perversos desses traços tenha sido 
extirpado onze anos após a vigência da Carta Magna (a Emenda Constitucional n° 24, 
de dezembro de 1999, suprimiu a representação classista no corpo do Judiciário 
Trabalhista), as demais contradições permanecem, colocando em questão, mais uma 
vez, a plenitude do princípio da autonomia dos sindicatos na ordem jurídica e política 
do Brasil (24). 
_______________ 
(22) Relembre-se a famosa frase atribuída ao Presidente Washington Luiz de que “a questão operária é uma questão de polícia”. 
Para o exame da evolução do Direito do Trabalho no período, consultar a obra deste autor, Introdução ao Direito do Trabalho, 2. 
ed., São Paulo: LTr, 1999 (Capítulo II - O Direito do Trabalho no Brasil). 
 (23) Obviamente que em 1964 foram afastadas as lideranças sindicais mais combativas, promovendo-se centenas de 
intervenções nas entidades existentes; contudo, a estrutura institucional do sistema se manteve intocada, no quadro de asfixia 
política então inaugurado. Rev. T S T , Bras., vol. 67, ns 2, abr/jun2001 89 
(24) Sobre tais antinomias da Carta de 1988, consultar a obra deste autor, Introdução ao Direito do Trabalho, 2. ed., São Paulo: 
LTr, 1999, “A Carta Constitucional de 1988 e a Transição Democrática Justrabalhista”. Ver também Amauri Mascaro Nascimento, 
Compêndio de Direito Sindical, 2. ed., São Paulo: LTr, 2000, p. 162-168 (item 52, “O Sistema Brasileiro”). Consultar ainda José 
Francisco Siqueira Neto, Direito do Trabalho & Democracia - apontamentos e pareceres, São Paulo: LTr, 1996, especialmente 
em seus capítulos 6 e 7, p. 156-248. São Paulo: LTr, 1993 - Revista de Direito do Trabalho, 
26 
 
 3. Princípio da interveniência sindical na normatização coletiva: 
 
 Para que seja possível a criação de norma jurídica, é necessário que haja 
existência de um ente sindical. No Brasil, exige-se a presença do sindicato nas 
negociações (art. 8º, CF.). Quando for celebrado um acordo coletivo ou uma 
convenção coletiva de trabalho é OBRIGATÓRIA à participação/interveniência dos 
sindicatos com fundamento no art. 8º, inciso VI da CF/88. 
 Em face de tal princípio não constitui, para o direito, negociação coletiva 
trabalhista qualquer fórmula de tratamento direto entre o empregador e seus 
empregados, ainda que se trate de fórmula formalmente democrática (um plebiscito 
intra-empresarial, por exemplo). Os poderes da autonomia privada coletiva, no direito 
brasileiro, passam necessariamente pelas entidades sindicais obreiras. 
 Neste quadro, qualquer ajuste feito informalmente entre empregador e 
empregado terá caráter de mera cláusula contratual, sem o condão de instituir norma 
jurídica coletiva negociada. Na qualidade jurídica de mera cláusula contratual, este 
ajuste informal submete-se a todas as restrições postas pelo ramo justrabalhista às 
alterações do contrato de trabalho, inclusive o rigoroso princípio da inalterabilidade 
contratual lesiva. A presente diretriz atua, pois, como verdadeiro princípio de 
resistência trabalhista. E corretamente, pois não pode a ordem jurídica conferir a 
particulares o poderoso veículo de criação de normas jurídicas (e não simples 
cláusulas contratuais) sem uma consistente garantia de que os interesses sociais 
mais amplos não estejam sendo adequadamente resguardados. E a presença e a 
atuação dos sindicatos têm sido consideradas na história do Direito do Trabalho uma 
das mais significativas garantias alcançadas pelos trabalhadores em suas relações 
com o poder empresarial. 
 
 4. Princípio da equivalência dos contratantes coletivos: 
 
 O princípio da equivalência dos contratantes coletivos postula pelo 
reconhecimento de um estatuto sócio-jurídico semelhante a ambos os contratantes 
coletivos (o obreiro e o empresarial). Tal equivalência resulta de dois aspectos 
fundamentais: a natureza e os processos característicos aos seres coletivos 
trabalhistas. Em primeiro lugar, de fato, os sujeitos do Direito Coletivo do Trabalho 
têm a mesma natureza, são todos seres coletivos. Há, como visto, o empregador que, 
isoladamente, já é um ser coletivo, por seu próprio caráter, independentemente de se 
agrupar em alguma associação sindical. É claro que pode também atuar através de 
sua entidade representativa; contudo, mesmo atuando de forma isolada, terá natureza 
e agirá como ser coletivo. 
 No que tange aos trabalhadores sua face coletiva institucionalizada surge 
através de seus entes associativos; no caso brasileiro, os sindicatos. 
 Os seres coletivos obreiros e empresariais têm, pois, a mesma natureza. 
 O segundo aspecto essencial a fundamentar o presente princípio é a 
circunstância de contarem os dois seres contrapostos (até mesmo o ser coletivo 
obreiro) com instrumentos eficazes de atuação e pressão (e, portanto, negociação). 
 Os instrumentos colocados à disposição do sujeito coletivo dos trabalhadores 
(garantias de emprego, prerrogativas de atuação sindical, possibilidades de 
mobilização e pressão sobre a sociedade civil e Estado, greve, etc.) reduziriam, no 
plano jus-coletivo, a disparidade lancinante que separa o trabalhador, como indivíduo, 
do empresário. Isso possibilitaria ao Direito Coletivo conferir tratamento jurídico mais 
equilibrado às partes nele envolvidas. Nessa linha, perderia sentido no Direito 
Coletivo do Trabalho a acentuada diretriz protecionista e intervencionista que tanto 
caracteriza o Direito Individual do Trabalho. 
27 
 
 É bem verdade que, no caso brasileiro, mais de dez anos após a Carta de 1988 
ainda não se completou a transição para um Direito Coletivo pleno, equânime e eficaz 
- assecuratóriode real equivalência entre os contratantes coletivos trabalhistas. E 
que, embora tenha a Constituição afirmada, pela primeira vez desde a década de 
1930, de modo transparente, algum dos princípios fundamentais do Direito Coletivo 
no país, não foi seguida, ainda, de uma Carta de Direitos Sindicais, que adequasse a 
velha legislação heterônoma às necessidades da real democratização do sistema 
trabalhista e da negociação coletiva. 
 Veja-se, ilustrativamente, a esse respeito, o debate sobre a extensão da 
garantia de emprego de dirigentes sindicais. A superação, pelo art. 8o, CF/88, do 
velho critério do art. 522, CLT (que confere garantia apenas ao máximo de sete 
diretores e três conselheiros fiscais eleitos, e respectivos suplentes) ainda não 
permitiu vislumbrar-se qual é, afinal, o novo critério protetivo surgido. É gritante a 
inadequação da tímida garantia do art. 522 ao largo espectro constitucional (e à 
sociedade complexa hoje existente no Brasil). Contudo, a ausência de um parâmetro 
alternativo claro (que evite também, ao reverso, o abuso do direito), tem inclinado os 
tribunais à acomodação com o velho texto da CLT - o que frustra, obviamente, o 
princípio da efetiva equivalência entre os seres coletivos trabalhistas. 
 Note-se, por outro lado, que ainda não se criaram fórmulas eficazes de 
representação obreira nas empresas, nem se estendeu, regra geral, a tais 
representantes ou delegados obreiros o manto protetivo da “estabilidade provisória”. 
Observe-se, por fim, a resistência do legislador executivo (através de medidas 
provisórias) em permitir o prevalecimento temporário das normas coletivas 
negociadas enquanto não celebrado novo acordo coletivo, convenção ou contrato 
coletivo do trabalho no contexto da respectiva categoria ou empresa. (25) 
 Todas essas (e outras) situações de lacunas ou imprecisões da legislação 
heterônoma trabalhista comprometem a real observância do princípio da equivalência 
dos contratantes coletivos trabalhistas. Contudo, é evidente que, tendo os princípios 
natureza de norma (ao menos, comando jurídico instigador concorrente), hão de ter 
também eficácia jurídica, isto é, aptidão para incidir, regendo, relações da vida 
humana - o que deverá ser apreendido pela evolução jurisprudencial ao longo do 
tempo. (26) 
 
 5. Princípio da lealdade e transparência na negociação coletiva: 
 
 O princípio da lealdade e transparência nas negociações coletivas vincula-se 
ao anteriormente examinado. Visa ele assegurar, inclusive, condições efetivas de 
concretização prática da equivalência teoricamente assumida entre os sujeitos do 
Direito Coletivo do Trabalho. Há duas faces no princípio: lealdade e transparência. 
Ambas são premissas essenciais ao desenvolvimento democrático e eficaz do próprio 
processo negocie coletivo. Afinal, o Direito Coletivo objetiva formular normas jurídicas 
- e não apenas cláusulas contratuais - , razão por que a lealdade e o acesso a 
informações inscrevem-se no núcleo de sua dinâmica de evolução. 
 
 
________________________ 
(25) Sobre este último problema, envolvente às relações temporais das normas coletivas negociadas com os contratos de 
trabalho, contrapondo três critérios distintos (o da aderência irrestrita, o da aderência li- 92 Rev. T S T, Brasília, vol. 67, ns 2, 
abr/jun2001. 
(26) A concepção normativista concorrente dos princípios, que se tem tornado dominante nos mais moderno Direito 
Constitucional e Filosofia do Direito, por obra de autores célebres como Norberto Bobbio, Vezio Crisafulli, Jean Boulanger, Robert 
Alexy, Gomes Canotilho, Ronald Dworkin, Paulo Bonavi-des, e outros, está estudada no capítulo I da obra deste autor, Princípios 
de Direito Individuale Coletivo do Trabalho, São Paulo: LTr, 2001. 
28 
 
 A lisura na conduta negociai atinge qualquer das duas partes coletivas 
envolvidas. Não se pode aqui, regra geral, invocar o princípio tutelar (próprio ao 
Direito Individual) para negar validade a certo dispositivo ou diploma anteriormente 
celebrado na negociação coletiva - as partes são teoricamente equivalentes (ao 
contrário do que ocorre no ramo justrabalhista individual). Em derivação ao princípio 
da lealdade e boa fé na negociação coletiva (outra denominação do princípio) não 
seria válida a greve em período de vigência de diploma coletivo negociado, em vista 
da pacificação traduzida por esse próprio diploma. E claro que uma mudança 
substantiva nas condições fáticas vivenciadas pela categoria poderia trazer a seu 
alcance a exceção da cláusula rebus sic stantibus. Porém o simples inadimplemento 
pelo empregador no tocante ao conteúdo do diploma coletivo negociado não justifica 
greve, por existir no ordenamento jurídico a correspondente ação judicial de 
cumprimento.21 A noção de transparência é também de grande importância no 
conteúdo desse princípio (podendo, inclusive, ser inferida da simples idéia de 
lealdade e boa fé). (27) 
 É evidente que a responsabilidade social de se produzirem normas (e não 
meras cláusulas) conduz à necessidade de clareza quanto às condições subjetivas e 
objetivas envolvidas na negociação. Não se trata aqui de singela pactuação de 
negócio jurídico entre indivíduos, onde a privacidade prepondera; trata-se de negócio 
jurídico coletivo, no exercício da chamada autonomia privada coletiva, dirigida a 
produzir universos normativos regentes de importantes comunidades humanas. A 
transparência aqui pertinente é, sem dúvida, maior do que a que cerca negócios 
jurídicos estritamente individuais. Por isso, aqui é mais largo o acesso a informações 
adequadas à formulação de normas compatíveis ao segmento social envolvido. 
 
 6. Princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva 
 
 O principio da criatividade jurídica da negociação coletiva traduz a noção de 
que as negociações coletivas e seus instrumentos (contrato coletivo, acordo coletivo e 
convenção coletiva do trabalho) têm real poder de criar norma jurídica (com 
qualidades, prerrogativas e efeitos próprios a estas), em harmonia com a 
normatividade heterônoma estatal. Tal princípio, na verdade, consubstancia a própria 
justificativa de existência do Direito Coletivo do Trabalho. A criação de normas 
jurídicas pelos atores coletivos componentes de uma dada comunidade econômico-
profissional, realiza o princípio democrático de descentralização política e de avanço 
da autogestão social pelas comunidades localizadas. A antítese ao Direito Coletivo é 
a inibição absoluta ao processo de negociação coletiva e à autonormatização social, 
conforme foi tão característico ao modelo de normatização subordinada estatal que 
prevaleceu nas experiências corporativistas e fascistas europeias da primeira metade 
do século XX.(28) 
 No Brasil, a tradição justrabalhista sempre tendeu a mitigar o papel do Direito 
Coletivo do Trabalho, denegando, inclusive, as prerrogativas mínimas de liberdade 
associativa e sindical e de autonomia sindical aos trabalhadores e suas organizações. 
Com a Carta de 1988 é que esse processo começou a se inverter, conforme se 
observam de distintos dispositivos da Constituição (ilustrativamente, art. 7º, VI e XIII; 
art. 8º, I, III, VI; art. 9º). 
 
 
_______________________ 
(27) Rev. TST, Brasília, vol. 67, n92, abr/jun200l 93 p.93 
(28) Um estudo sobre os padrões principais de sistemas trabalhistas no mundo ocidental desenvolvido encontra-se no primeiro 
capitulo da obra deste autor, Introdução ao Direito do Trabalho. 
29 
 
 Na análise desse princípio é pertinente retomar-se importante diferenciação - 
às vezes não suficientemente ponderada na doutrina: a que separa norma jurídica de 
cláusula contratual. 
 Em nossa obra Introdução ao Direito do Trabalho já ressaltávamos não ser 
meramente acadêmica a distinção, mas fundamental: “é que o direito confere efeitos 
distintos às normas (componentes das fontes jurídicas formais) e às cláusulas 
(componentes dos contratos).

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