Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
XIX CURSO DE EMERGÊNCIAS Liga Acadêmica do Trauma Hospital do Trabalhador Universidade Federal do Paraná Liga Acadêmica do Trauma HT-UFPR Orientadores: Dr. Adonis Nasr Dr. Flavio Daniel Saavedra Tomasich Dr. Iwan Augusto Collaço Diretoria 2017: Coordenadoras Ana Luísa Bettega – 11o Período UFPR Camila Guetter – 10o Período UFPR Secretário Breno Lopes Porto - 10º Período UFPR Tesoureira Geovanna Labbres de Souza - 10º Período PUCPR Diretor Científico Thamyle Moda - 8º Período UFPR Diretor de Comunicação e Marketing Marcelo Yamane - 8º Período FPP Chefe dos VTs Maria Alice Zarate - 10º Período UFPR Chefe dos Acadêmicos do PS Camila Guetter - 10º Período UFPR MATERIAL DE APOIO DO XV CURSO DE EMERGÊNCIAS DA LIGA ACADÊMICA DO TRAUMA HT-UFPR ÍNDICE: 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 4 2. BIOMECÂNICA DO TRAUMA. .................................................................... 5 3. ABORDAGEM INICIAL AO PACIENTE TRAUMATIZADO ......................... 8 4. ABORDAGEM DAS VIAS AÉREAS E APARELHO RESPIRATÓRIO ...... 13 5. CHOQUE. .................................................................................................. 17 6. REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR ....................................................... 23 7. TRAUMA TORÁCICO E DRENO DE TÓRAX. .......................................... 26 8. TRAUMA ABDOMINAL .............................................................................. 35 9. TRAUMA CRANIOENCEFÁLICO .............................................................. 40 10. TRAUMA RAQUIMEDULAR .................................................................... 46 11. TRAUMA MUSCULOESQUELÉTICO ..................................................... 52 12. ATENDIMENTO AO PACIENTE QUEIMADO ......................................... 56 13. TRAUMA PEDIÁTRICO ........................................................................... 60 14. TRAUMA NA GESTANTE E NO IDOSO ................................................. 65 15. EMERGÊNCIAS CLÍNICAS I - IAM, EAP E EP. ...................................... 72 16. EMERGÊNCIAS CLÍNICAS II - AVE E CRISE CONVULSIVA. ............... 79 17. TABELA PARA ATENDIMENTO INICIAL AO TRAUMATIZADO ............ 86 1. INTRODUÇÃO A Liga Acadêmica do Trauma, da Universidade Federal do Paraná - Hospital do Trabalhador (LiAT HT-UFPR) foi fundada em 29 de maio de 1999, sob a orientação do Dr. Iwan Collaço, professor Coordenador da Disciplina do Trauma e chefe do serviço de Cirurgia Geral do Hospital do Trabalhador (HT). Acadêmicos do curso de Medicina da UFPR e Cirurgiões Gerais do HT iniciaram as atividades da Liga com reuniões e palestras sobre diversos tópicos em Trauma. Em 2009 foi implantado um projeto de Extensão, que funciona paralelamente às demais atividades. Nesses 14 anos mais de 600 acadêmicos tiveram a oportunidade de participar ativamente da liga. Em 2014, a apostila da LiAT, a qual você tem em mãos, foi totalmente reformulada, a partir das mais recentes publicações científicas. A LiAT organiza e certifica os acadêmicos dentro de dois estágios voluntários. O estágio de acadêmicos do Pronto Socorro (PS) é voltado para atividades de urgência e emergência em cirurgia geral e ortopedia. Para ingressar neste estágio, o acadêmico deve estar cursando ou ter cursado o 5º período do curso de medicina, além de ter realizado o curso preparatório e atingido meta pré-determinada em prova classificatória. O segundo estágio do qual a Liga dispõe é o Acadêmico Voluntário do Trauma (VT). O VT realiza atendimento no S.A.V. (Suporte Avançado à Vida), procedimentos de maior complexidade no PS, auxilia em cirurgias da Cirurgia Geral, além de adquirir mais experiência neste serviço. A entrada dos acadêmicos no VT se dá através de uma prova classificatória, somada a 2 pré-requisitos: o acadêmico deve estar cursando ou ter cursado a disciplina do Trauma e possuir certificado de pelo menos 500 horas de PS cirúrgico, das quais no mínimo 250 horas realizadas no HT. 1.1 Atividades realizadas pela Liga: • Organização de cursos e congressos; • Programas e campanhas de orientação junto à comunidade; • Publicação de trabalhos científicos em revistas, periódicos e congressos; • Aulas quinzenais sobre diversos assuntos relacionados ao trauma 1.2 Objetivos da Liga: • Complementar o aprendizado dando suporte teórico e prático aos acadêmicos em atividades de pronto socorro; • Vivência em pronto-socorro (relação médico-paciente, seguimento do paciente, realização de procedimentos, prescrição) Para fazer parte da LiAT basta participar do Curso Anual de Emergências e ser aprovado na prova de admissão. 2. BIOMECÂNICA DO TRAUMA As características do evento traumático podem oferecer pistas para a identificação de 90% das lesões sofridas pela vítima. Deve-se dar atenção ao que pode tê-lo precedido, como uma convulsão, uso de drogas / álcool, perda da consciência antes do impacto, etc. A história sobre essa fase deve conter: • O tipo de evento traumático, por exemplo, colisão entre veículos, quedas, ferimentos penetrantes, etc. • Estimativa da quantidade de transferência de energia que ocorreu, por exemplo, velocidade do veículo no instante do impacto, altura da queda, calibre da arma. • Tipo de colisão ou impacto do paciente com o objeto, por exemplo, automóvel, árvore, faca, projétil. Os mecanismos de trauma podem ser classificados como contusões, lesões penetrantes, queimaduras e explosões. Em todos estes casos existe uma transferência de energia para os tecidos. COLISÃO AUTOMOBILÍSTICA: Podem ser subdivididas em: 1) colisões entre a vítima e o veículo ou entre a vítima e algum objeto fora do veículo quando a vítima é ejetada, e 2) colisões entre os órgãos da vítima e a estrutura externa do seu corpo (compressão dos órgãos). Impacto Frontal É a colisão contra um objeto que se encontra em frente ao veículo. Ocorre redução súbita da velocidade, e o ocupante que não esteja devidamente contido continua a se movimentar para frente. Caso se choque contra alguma parte da cabine, sua velocidade irá ser reduzida; caso contrário ele poderá ser ejetado do veículo. Dentre as causas de lesão que podem ocorrer, as mais comuns são: colisão da cabeça contra o pára-brisa, do tórax anterior contra o volante, dos joelhos contra o painel inferior e dos pés contra o fundo do painel. O paciente pode apresentar, então, feridas de partes moles em face e tórax, compressão de caixa torácica com contusão pulmonar ou até mesmo pneumotórax, fratura de arcos costais e esterno, contusão abdominal e compressão de vísceras, fratura de fêmur, luxações, etc. É o tipo de impacto que mais causa lesões e mortes em acidentes de trânsito. Impacto Lateral Este tipo de colisão só perde para impactos frontais em causa de morte e lesões. Deve- se dar importância ao lado do veículo que recebeu a colisão e à posição que o paciente ocupava, além do grau de deformidade do veículo. A maioria das lesões ocorre por compressão de pelve e tronco, do lado acometido (direito pulmão e fígado e esquerdo pulmão e baço). Impacto Traseiro Esse tipo de colisão geralmente ocorre quando um veículo está parado e outro o atinge por trás. Os ocupantes são arremessados para frente e, pela posição dos assentos, o tronco sofre aceleração para adiante. A cabeça dos ocupantes frequentemente não acompanha essa aceleração, pois o encosto da cabeça não está devidamente posicionado. Como resultado, ocorpo acelera e a cabeça não acompanha, ficando o pescoço hiperextendido para trás. Tal mecanismo estira as estruturas de sustentação do pescoço, produzindo lesão por mecanismo de chicote (whiplash). Podem ocorrer fraturas de lâminas, dos pedículos e dos processos espinhosos das vértebras e fraturas em vários outros locais, devido ao contato direto entre os ossos. Capotamento Nesse caso, o ocupante que não esteja contido pode chocar-se contra qualquer parte do interior da cabine. As lesões podem ser deduzidas a partir da observação das áreas de impacto na pele do paciente. Admite-se que esse tipo de colisão produza lesões mais graves por causa dos deslocamentos múltiplos que ocorrem durante a capotagem. Ejeção de dentro do veículo As lesões decorrentes da ejeção de dentro do veículo podem ser maiores do que aquelas devidas ao impacto com o solo, em si. A probabilidade de lesões nessa forma de acidente aumenta em 300%. Deve-se estar atento às lesões ocultas. 2.1.6. Lesões de órgãos A. Lesões por compressão Ocorrem quando a parte do anterior do tronco deixa de se deslocar para frente e a parte posterior continua o deslocamento. As vísceras ficam aprisionadas entre a parede tóraco- abdominal e a coluna vertebral. São exemplos as contusões miocárdicas, pulmonares e de vísceras abdominais. Em uma situação de colisão, é instintivo que a vítima puxe e segure o fôlego, fechando a glote. A compressão da caixa torácica produz, então, a ruptura dos alvéolos que resulta em pneumotórax simples ou hipertensivo. Na cavidade abdominal, o mesmo mecanismo leva à ruptura de diafragma e o deslocamento de seu conteúdo para a caixa torácica. A compressão do conteúdo craniano pode sofrer efeito de ossos fraturados penetrando-o ou ser devida à compressão das porções anteriores do parênquima contra a parede do crânio pelas porções posteriores do próprio cérebro. B. Lesões por desaceleração Essas lesões ocorrem quando a parte responsável pela estabilização do órgão, por exemplo, o pedículo renal ou a aorta descendente cessam seu deslocamento anterior acompanhando o tronco, ao mesmo tempo em que a parte móvel de seu corpo, por exemplo o rim, ou o coração com o arco aórtico, continuam deslocando-se para a frente. As lesões nesses dois órgãos são as mais comuns de ocorrer por ação das forças de cisalhamento. C. Lesões por meios de contenção Os cintos de segurança de três pontos, se usados de forma apropriada, resultam em redução das mortes em 65 a 70%, além de reduzirem em cerca de 10 vezes a ocorrência de lesões traumáticas graves. A disponibilidade crescente do air bag pode reduzir, de forma significativa, algumas lesões que resultam de impactos frontais. Entretanto, os air bags funcionam somente em 70% das colisões, não devendo, portanto, ser encarados como substitutos do cinto de segurança mas apenas como dispositivos complementares de proteção. O uso incorreto do cinto de segurança – por exemplo, quando este está colocado acima das cristas ilíacas ântero-superiores – causa a movimentação para frente da parede abdominal posterior e da coluna vertebral, comprimindo o pâncreas, o fígado, o baço, o intestino delgado, o duodeno e o rim contra o cinto frontal. Ruptura e lacerações destes órgãos podem ocorrer. A hiperflexão contra um cinto mal posicionado pode ocasionar fraturas por compressão anterior da coluna lombar (fratura de Chance). 2.2 ATROPELAMENTO: Entre as lesões sofridas por pedestres vítimas de atropelamento, as mais comuns são: torácicas, cranioencefálicas e de extremidades inferiores (nesta ordem). O atropelamento segue três fases de impacto: 1) Impacto contra o pára-choque dianteiro, geralmente atingindo pernas e pelve no adulto e lesões torácicas e abdominais nas crianças; 2) Impacto contra o capô e o pára-brisa, geralmente afetando tronco e cabeça; 3) Impacto contra o solo, geralmente afetando cabeça, coluna e vísceras. 2.3 COLISÃO DE MOTOCICLETA E DE BICICLETA: As lesões do condutor e eventuais passageiros devem-se por aceleração/desaceleração, compressão e cisalhamento. A forma como sofrem as lesões é diferente, pois tais vítimas não são protegidas pela estrutura dos veículos, nem por dispositivos de segurança. Eles são protegidos apenas pela roupa, o capacete e as botas, sendo de fundamental importância a observação da indumentária dessas vítimas. Somente o capacete tem a capacidade de redistribuir a transmissão de energia e reduzir sua intensidade, e mesmo esta capacidade é limitada. A maior parte das lesões ocorre por: impacto frontal/ejeção, impacto lateral/ejeção e derrapada lateral. 2.4. QUEDA: As lesões devidas às quedas ocorrem por desaceleração. A gravidade é determinada pela cinemática da desaceleração vertical, combinada com a propriedade coesiva do corpo e a consistência da superfície de impacto. A gravidade aumenta à medida que se eleva a velocidade de desaceleração e diminui a distância ao longo da qual o corpo é desacelerado. No impacto, o deslocamento diferenciado dos tecidos dentro do organismo causa sua laceração. 2.5. EXPLOSÕES: São resultados da transformação química rápida de produtos sólidos, semi-sólidos, líquidos e gasosos em produtos gasosos que ocupam volumes maiores do que os ocupados antes da detonação. À medida que a onda avança, o meio por onde ela passa sofre oscilação. As lesões pelo mecanismo de explosão podem ser: • Primárias: pelo efeito direto da onda de pressão, sendo mais nocivas aos órgãos que contém gás. Ocorrem lesões como rotura de tímpano, contusão pulmonar, pneumotórax, rotura de alvéolos podendo formar embolia gasosa, hemorragia intra-ocular, descolamento de retina e roturas intestinais. • Secundárias: Resultam de objetos arremessados à distância que atingem indivíduos circunstantes. • Terciárias: Quando o indivíduo é arremessado contra objeto sólido ou solo. • Quaternárias: Incluem queimadura, esmagamento, problemas respiratórios decorrentes da inalação de pó, fumaça, gases tóxicos e exacerbações ou complicações de doenças preexistentes (p. ex. angina, hipertensão). 2.6. FERIMENTOS PENETRANTES: Nessa classificação estão os ferimentos por arma de fogo e os ferimentos por arma branca. O trauma penetrante produz solução de continuidade entre o meio externo e o meio interno do corpo. Produzem cavitação, que é o resultado da permuta de energia entre o objeto em movimento e os tecidos. A identificação dos orifícios de entrada e de saída (quando existir) são importantes para o reconhecimento de estruturas anatômicas que possam ter sido lesadas nesse trajeto. 3. ABORDAGEM INICIAL AO PACIENTE TRAUMATIZADO Bruno Bertoni Ferraz No ano de 1976, o ortopedista James Styner, juntamente com sua esposa e seus 4 filhos, caiu com seu avião em uma plantação de milho na zona rural de Nebraska. Sua esposa faleceu instantaneamente, três de seus filhos sofreram traumatismos graves e o próprio Styner também se feriu. Reconhecendo que o atendimento de emergência recebido por ele e sua família no acidente fora inadequado, o ortopedista afirmou: "a partir do momento em que o atendimento oferecido no local do acidente e com recursos limitados é melhor do que aquele que eu e minhas crianças recebemos no hospital de atendimento primário, existe alguma coisa errada com o sistema, e este deve ser modificado". Surgia, então, a iniciativa para desenvolver o Advanced Trauma Life Support (ATLS) ou Suporte de Vida Avançado no Trauma (SAV). Estatisticamente, as mortes no trauma ocorrem em 3 momentos (picos), os quais também representam, de maneira decrescente, a quantidade de óbitos: 1. Segundos a minutos após o trauma: são causadas por apneia, devido a lesões cerebraisou medulares graves, ou por lacerações cardíacas, aórticas e de outros grandes vasos. Poucas vítimas podem ser salvas nesse momento, o que torna esse período o principal responsável pelas mortes no trauma. A única forma de reduzir a mortalidade é a prevenção; 2. Minutos a horas após o trauma: os óbitos decorrem de hematomas subdural/epidural, hemo/pneumotórax e, principalmente, fenômenos hemorrágicos (ruptura de baço, laceração de fígado, fraturas de pelve). É fundamentalmente nesse momento em que os preceitos do ATLS tornam-se ativos, pois há grande chance de evitar as denominadas mortes precoces. Por isso, a primeira hora de atendimento ao politraumatizado é chamada de "hora de ouro"; 3. Dias a semanas após o trauma: as mortes ocorrem por sepse e falência de múltiplos órgãos ou sistemas, e têm ligação direta com as condutas tomadas nas fases anteriores. Sendo assim, tanto a primeira quanto a última pessoa responsável pelo atendimento à vítima influenciam nessa mortalidade, que pode ser reduzida pelo bom exercício da medicina. O atendimento inicial ao trauma inicia-se ainda no local do acidente, a denominada fase pré-hospitalar, que deve priorizar a manutenção das vias aéreas, estabilização de coluna cervical, controle de hemorragias externas e imobilização do paciente em tábua rígida. Então, deve ser feito o contato com a equipe hospitalar, preferencialmente do centro especializado em trauma mais próximo, repassando informações a respeito da vítima, mecanismo do trauma e ambiente, para otimizar o atendimento médico. A triagem é responsabilidade da equipe pré-hospitalar, e envolve aspectos como análise do tipo de acidente, classificação dos pacientes no local e escolha do hospital apropriado para encaminhamento. Classicamente, há duas situações da triagem: a) Múltiplas vítimas: refere-se a situações em que o número de doentes e a gravidade de suas lesões NÃO EXCEDEM a capacidade de atendimento do hospital, como um atropelamento ou uma colisão entre um automóvel e um anteparo. Assim, é priorizado o atendimento de vítimas com risco de morte iminente e traumatismos multissistêmicos; b) Vítimas em massa: também denominada catástrofe, é a situação em que o número de doentes e a gravidade das lesões EXCEDEM a capacidade de atendimento da equipe e da instituição, como acidentes de avião e colisão entre dois ônibus. Ao contrário do que ocorre com múltiplas vítimas, é priorizado o atendimento de vítimas com maior possibilidade de sobrevida, os quais exigirão menor tempo e recursos. Avaliação Primária Na abordagem inicial do politraumatizado, uma sequência rápida de atendimento, que vise ao reconhecimento e tratamento concomitantes de lesões com risco imediato de morte, é essencial. A avaliação primária pode ser realizada em segundos, caso o paciente encontre-se alerta, comunicativo, lúcido e orientado; ou em minutos, se houver necessidade de medidas intervencionistas como o estabelecimento de uma via aérea definitiva ou uma drenagem torácica, por exemplo. O ATLS recomenda a clássica escala mnemônica ABCDE, que avalia os sistemas de maneira seriada e decrescente em relação ao potencial risco de morte gerado por uma lesão. Pacientes admitidos em centros de trauma, como o Hospital do Trabalhador, têm seus parâmetros avaliados de forma simultânea. O ABCDE do trauma é uma abreviatura de: Como será abordado em outros capítulos, a abordagem ao trauma em crianças, gestantes e idosos segue o mesmo protocolo para os adultos. A - Manutenção da via aérea com proteção da coluna cervical Em todo paciente vítima de trauma, a via aérea (VA) é a prioridade absoluta e sua avaliação deve ser a primeira a ser realizada, buscando manter sua permeabilidade. A avaliação rápida permite identificar obstruções, presença de corpos estranhos, fraturas mandibulares ou traqueolaríngeas. É importante frisar que todas as manobras para permeabilizar a VA devem ser realizadas com a estabilização da coluna cervical, seja por meio do colar cervical ou pela imobilização manual. Tais manobras serão melhor explicadas no capítulo de Abordagem de Vias Aéreas e Aparelho Respiratório. Pacientes capazes de comunicação verbal dificilmente apresentarão obstrução de VA, mas mesmo assim é fundamental sua avaliação. Por outro lado, vítimas de trauma cranioencefálico (TCE) grave com rebaixamento de nível de consciência ou Glasgow inferior a 8 exigem o estabelecimento de uma via aérea definitiva, ou seja, um tubo localizado na traqueia, com balonete insuflado abaixo das pregas vocais, conectado a uma fonte de O2 e fixada ao paciente. Todos os pacientes politraumatizados, até prova contrária, devem ser considerados portadores de lesão cervical, principalmente aqueles que apresentam rebaixamento do nível de consciência e traumatismo acima das clavículas. Caso os pacientes cheguem ao Pronto- Socorro com esse tipo de história sem imobilização, estes devem ser prontamente imobilizados. Sendo assim, a cabeça e o pescoço do doente não devem ser hiperestendidos, hiperflexionados ou rodados até que se exclua uma lesão cervical. A proteção da medula espinhal é feita por meio de dispositivos próprios (colar cervical) ou da imobilização manual. Se for necessário, o colar cervical pode ser retirado para que se acesse a VA do paciente, desde que mantenha-se a imobilização manual. B - Ventilação e respiração Uma via aérea permeável não é sinônimo de ventilação adequada, a qual exige um bom funcionamento de pulmões, parede torácica e diafragma. Dessa forma, o tórax do paciente deve ser exposto para que seja feita a inspeção e a avaliação dos movimentos respiratórios, buscando uma provável assimetria da parede. Logo após é feita a palpação ativa do tórax, a qual busca fraturas de arcos costais e crepitação da pele, um sinal sugestivo de pneumotórax (escape de ar na cavidade pleural) e subsequente enfisema subcutâneo. A percussão torácica segue o padrão normal da semiologia, porém geralmente não é realizada em dorso. A ausculta é feita em bases, polos médios e ápices de ambos os pulmões, também na face anterior. De maneira geral, há dois padrões de lesão que podem e devem ser identificados nessa fase: • Hemotórax: é a presença de sangue em cavidade torácica, geralmente proveniente de lesões penetrantes. De maneira geral, costuma manifestar-se como choque hipovolêmico. No exame pulmonar, há macicez à percussão de base pulmonar e diminuição do murmúrio vesicular. Em alguns casos pode haver estertores; • Pneumotórax: extravasamento de ar, por mecanismo de válvula unidirecional, para a cavidade pleural. Manifesta-se clássicamente por crepitação à palpação, indicando enfisema subcutâneo, hipertimpanismo em ápice pulmonar e diminuição do murmúrio vesicular. O diagnóstico semiológico e radiográfico, bem como os demais padrões destas e de outras lesões torácicas e seus tratamentos serão abordados em capítulos específicos. C - Circulação com controle de hemorragia Estatisticamente falando, a hemorragia é a principal causa de mortes pós- traumáticas evitáveis. Sendo assim, a hipotensão em vítimas de trauma deve ser considerada hipovolêmica até prova contrária. A avaliação rápida do estado hemodinâmico em um paciente politraumatizado é feita por observação do nível de consciência, que costuma estar rebaixado; cor da pele, que apresenta-se acinzentada em face e esbranquiçada em extremidades; e pulso, frequentemente rápido e filiforme. A medida inicial na reposição volêmica dos politraumatizados é a obtenção de dois acessos venosos periféricos calibrosos, utilizando-se um Abbocath 14 ou 16 (quanto menor o número, maior o calibre), e a infusão rápida de 1 a 2 litros de soluçãofisiológica isotônica aquecida. Opta-se preferencialmente por acessos periféricos em veias do membro superior, mas também pode-se recorrer a acessos venosos centrais, dissecções venosas e acessos intraósseos (mais utilizados em crianças). Nessa etapa, é feita a coleta de sangue para tipagem, avaliação dos níveis de hemoglobina, hematócrito, prova cruzada e dosagem de β- hCG em mulheres. De maneira simplificada, a avaliação da circulação obedece uma ordem crânio-caudal. A ausculta cardíaca é realizada de maneira ágil em suas 4 áreas (pulmonar, aórtica, tricúspide e mitral), identificando a frequência cardíaca e a fonese das bulhas. Os pulsos periféricos e centrais também são avaliados nessa fase. Embora altere-se tardiamente com a hipovolemia (perda de cerca de 30% do volume), a pressão arterial deve ser aferida. É importante ressaltar que a taquicardia e a vasoconstrição periférica, representada por tempo de enchimento capilar prolongado (superior a 2 segundos), são os sinais mais precoces do choque hipovolêmico. O exame do abdome faz parte dessa etapa da avaliação inicial, seguindo basicamente a mesma ordem do tórax. A inspeção fornece pistas para o tipo de lesão subjacente, como ferimentos penetrantes ou "tatuagens" de cinto de segurança. A palpação abdominal costuma ser difusamente dolorosa em pacientes politraumatizados, porém se houver sinais de irritação peritoneal, como dor à descompressão brusca, rigidez e defesa abdominal, a laparotomia exploratória está indicada, sem a necessidade de exames de imagem. A ausculta abdominal tem pouco valor diagnóstico no trauma. O próximo passo é o exame da pelve do paciente, que consiste basicamente de inspeção e palpação. Com uma mão em cada crista ilíaca do paciente, é feita uma pressão leve, empurrando a pelve no sentido ântero-posterior. Com isso, busca-se identificar instabilidade ou crepitação em pelve. Se for diagnosticada uma fratura pélvica, sua imobilização deve ser instituída rapidamente, pois, apesar de geralmente possuir padrão venoso, sangramentos pélvicos podem corresponder a toda a volemia do paciente. Por fim, deve-se buscar alguma fonte de sangramento ativo externo no paciente. Independente do local, se ocorrer uma hemorragia em atividade, esta deverá ser solucionada ainda na fase C do atendimento inicial. A principal maneira de se controlar uma hemorragia é a compressão direta do ferimento. Torniquetes e pinças hemostáticas "às cegas" não são indicados nesse momento. D - Disfunção Neurológica A avaliação neurológica é realizada rápida e diretamente, buscando principalmente estabelecer o nível de consciência, o tamanho e a reação das pupilas do paciente, e eventualmente sinais de lateralização e o nível uma lesão em medula espinhal. O nível de consciência é objetivamente avaliado pela Escala de Coma de Glasgow (ECG ou GCS), que baseia-se nas respostas motora (6 pontos), verbal (5 pontos) e ocular (4 pontos), tendo resultados sempre entre 3 e 15 pontos. É importante lembrar que um trauma cranioencefálico grave, caracterizado por um Glasgow < 8, é indicação absoluta de via aérea definitiva. O rebaixamento do nível de consciência pode ser tanto devido à diminuição em oxigenação e/ou perfusão cerebral quanto a um trauma direto ao cérebro. Se forem excluídas situações como hipoglicemia, etilismo e uso de drogas, qualquer alteração do nível de consciência deve ser atribuída a um trauma no sistema nervoso central. O exame das pupilas avalia os reflexos fotomotor e consensual, além de sua dilatação. A anisocoria (diferença de dilatação das pupilas) é um dos sinais da síndrome da herniação da tenda do cerebelo, juntamente com a midríase (dilatação pupilar) ipsilateral à lesão, indicando compressão do nervo óculo-motor. E - Exposição com controle do ambiente É fundamental, após a avaliação dos quatro itens anteriores, despir completamente o doente buscando outras lesões não diagnosticadas. As roupas geralmente são cortadas e é mandatório realizar o rolamento em bloco de todo paciente politraumatizado. Tal técnica é feita com auxílio de 3 ou mais pessoas, devendo haver imobilização de coluna cervical, tórax/abdome e membros inferiores, permitindo a rotação do paciente para avaliação do dorso. Essa manobra é especialmente recomendada em vítimas de ferimentos penetrantes, seja por arma branca (FAB) ou arma de fogo (FAF). Nessa etapa, é fundamental proteger o paciente da hipotermia, por meio da infusão de líquidos aquecidos, uso de cobertores e dispositivos de aquecimento externo. A prioridade é manter a temperatura corporal do paciente, e não o conforto da equipe. Medidas Auxiliares Fazem parte da avaliação primária algumas medidas terapêuticas e diagnósticas, que auxiliam no acompanhamento do paciente. São exemplos: Monitorização eletrocardiográfica Sondagem urinária Frequência respiratória Sondagem gástrica Gasometria arterial Oximetria de pulso Dentre os procedimentos diagnósticos da avaliação primária, devem sempre ser realizadas, em todo paciente politraumatizado, radiografias de cervical em perfil, tórax ântero- posterior e pelve ântero-posterior, denominada sequência do trauma, além de radiografias específicas de acordo com cada caso. Em caso de suspeita de sangramento oculto em abdome, o lavado peritoneal diagnóstico (LPD) e a ultrassonografia abdominal (Focus Assessment with Sonography in Trauma - FAST) são exames que podem ser realizados mesmo em um paciente em instabilidade hemodinâmica. Em alguns casos, será necessária a realização de uma tomografia computadorizada (crânio, tórax, abdome, pelve), a qual só pode ser realizada em pacientes que obtiveram estabilização hemodinâmica. Se forem considerados essenciais, os estudos radiológicos não devem ser evitados em gestantes. Exame Secundário Após adequadamente realizada a avaliação primária e tendência normalização das funções vitais do paciente após as medidas de reanimação, deve ser iniciada a avaliação secundária, a qual é mais completa do que o ABCDE do trauma. De maneira didática, a investigação da história do paciente é feito por um outro mnemônico, a denominada anamnese AMPLA: O exame físico deve ser completo e abrangente, investigando cabeça, pescoço, tórax, abdome, pelve, períneo, sistema musculoesquelético, nervoso e vascular, sempre em busca de lesões ainda não diagnosticadas. Instituiu-se a frase "dedos e tubos em todos os orifícios" para explicitar a complexidade da avaliação secundária. Após a estabilização do paciente e tratamento definitivo de suas lesões, é feita a sua reavaliação seriada e, se assim ficar estabelecido, o paciente pode ser liberado do hospital. 4. ABORDAGEM DAS VIAS AÉREAS E APARELHO RESPIRATÓRIO Guilherme Amando de Carvalho A oferta inadequada de sangue oxigenada ao cérebro e outros órgãos vitais é a causa de morte mais rápida em politraumatizados. A proteção da hipoxemia requer uma via aérea protegida, desobstruída e com ventilação adequada, o que tem prioridade sobre as demais condições, logo após a estabilização da coluna cervical. Dessa forma, ao iniciar o exame primário, devemos inicialmente garantir a estabilidade da coluna cervical através do uso de colar cervical e, logo em seguida, as vias aéreas devem ser abordadas. Durante essa abordagem inicial, o simples fato de o paciente conseguir falar garante, pelo menos momentaneamente, que a via aérea está pérvia, a ventilação está intacta e a perfusão cerebral é adequada. Pacientes que não falam ou apresentam uma fonação inadequada, sugerem um rebaixamento de consciência, comprometimento da via aérea e ventilação ou ambos. Pacientes com rebaixamento do nívelde consciência estão sob risco de comprometimento da via aérea, sendo muitas vezes necessário garantir uma via aérea definitiva. Os sinais objetivos de comprometimento da via aérea e ventilação são: • Agitação (sugere hipóxia) • Torpor (sugere hipercapnia) • Cianose (observada através dos leitos ungueais, pele e mucosas) • Alteração da saturação de O2 (verificada através da oximetria de pulso) • Tiragem e uso de musculatura respiratória acessória • Presença de roncos, gorgolejos e estridores durante a respiração • Rouquidão (indica obstrução funcional da laringe) • Desvio da traqueia da linha média • Assimetria torácica (sugere fraturas ou tórax instável) • Murmúrio vesicular abolido ou diminuído uni ou bilateral (lesão torácica) • Hipertimpanismo ou macicez à percussão dos espaços intercostais • Taquipneia Se algum problema for identificado ou suspeitado durante essa avaliação inicial, medidas devem ser tomadas imediatamente. Essas medidas incluem técnicas de manutenção de vias aéreas, obtenção de vias aéreas definitivas e instituição de ventilação suplementar. Como todas essas medidas envolvem a movimentação cervical, a estabilidade da coluna cervical deve ser garantida antes do início dessas manobras. Um alto fluxo de oxigênio é importante antes e depois dessas medidas de manutenção das vias aéreas, assim como um dispositivo de sucção deve estar disponível com facilidade. Técnicas de manutenção das vias aéreas: • Elevação do mento: os dedos de uma das mãos são colocados abaixo da mandíbula, que é então suavemente elevada para trazer o mento anteriormente. O 1º dedo da mesma mão pode ser usado para abaixar o lábio inferior e abrir a boca. Não se deve fazer hiperextensão cervical. • Tração da mandíbula: Cada mão deve ser colocada em um dos ângulos da mandíbula, deslocando-a para frente. • Cânula Nasofaríngea: Uma cânula é inserida através de uma narina e passa através da orofaringe posterior. Essa técnica não pode ser usada em pacientes com suspeita de fraturas de lâmina cribriforme (trauma facial extenso, suspeita de fratura de base de crânio) • Dispositivos supra ou extra glóticos: Esses dispositivos, como o Combitubo ou a Máscara Laríngea, podem ser usados em pacientes que necessitam de uma via aérea definitiva, porém ela não foi bem sucedida. Obtenção de Via Aérea Definitiva: As indicações para obtenção de uma via aérea definitiva são: • Inabilidade em manter a via aérea pérvia através de outros métodos (incluindo as manobras descritas acima), com comprometimento potencial ou iminente da via aérea • Inabilidade em manter uma oxigenação adequada com suplementação de oxigênio por máscara facial • Presença de apneia • Rebaixamento de nível do consciência com pontuação na Escala de Coma de Glasgow menor ou igual a 8 • Comprometimento iminente ou potencial da via aérea, como por exemplo, em lesões por inalação, fraturas faciais, hematoma retrofaríngeo ou convulsões persistentes • Necessidade de proteger a via aérea inferior contra a aspiração de sangue ou de vômitos Existem três tipos de via aérea definitiva: intubação orotraqueal, intubação nasotraqueal e via aérea cirúrgica (cricotireoidostomia ou traqueostomia). A urgência da situação e as circunstâncias envolvendo a necessidade de intervenção determinam a via e o método a serem adotados. Durante a obtenção de uma via aérea definitiva não-cirúrgica, o uso de sedação suplementar, analgésicos e relaxantes musculares tem um importante papel ao facilitar e tornar o processo mais rápido. Uma Sequência Rápida da Intubação inclui: • Estar preparado para cirurgia de emergência • Hiperventilar com oxigênio a 100% • Comprimir cartilagem cricóide (manobra de Sellick) • Administrar um sedativo (como Etomidato 0,3 mg/Kg EV) • Administrar um bloqueador neuromuscular (como Succinilcolina 1 a 2 mg/Kg EV) • Fazer a laringoscopia e intubar • Insuflar balonete e auscultar tórax e abdome para conferir posicionamento da cânula • Interromper a manobra de Sellick • Ventilar Algumas situações são emergências identificadas na avaliação do aparelho respiratório e da ventilação e devem ser conhecidas: Pneumotórax aberto: causado por uma lesão da parede torácica com o diâmetro de cerca de 2/3 do diâmetro da traqueia ou mais. Nesse caso, o ar tende a entrar pelo ferimento durante a inspiração pois há menor resistência, impedindo uma ventilação efetiva e causando hipóxia e hipercapnia. O tratamento é feito com curativo quadrangular estéril preso em apenas 3 pontas e drenagem torácica fechada em selo d’água com sutura do ferimento assim que possível. Pneumotórax hipertensivo: pneumotórax hipertensivo é uma verdadeira emergência cirúrgica que requer diagnóstico e tratamento imediatos. Ele se desenvolve quando o ar entra no espaço pleural por mecanismo de válvula unidirecional que impede sua saída. Dessa forma, a pressão intrapleural aumenta, causando colapso pulmonar total e balanço do mediastino para o lado oposto com consequente redução do retorno venoso e queda do débito cardíaco. O diagnóstico é clínico e se baseia na presença de dor torácica, dispneia importante, desconforto respiratório agudo, enfisema subcutâneo, taquicardia, hipotensão, desvio da traqueia, murmúrio vesicular ausente, ingurgitamento jugular e tardiamente cianose. Faz diagnóstico diferencial com tamponamento cardíaco. O tratamento deve ser instituído imediatamente com a toracocentese feita com a inserção de agulha de grosso calibre no 2º espaço intercostal (EIC), na linha hemiclavicular, o que o transforma em um pneumotórax aberto. Em seguida, deve-se proceder a toracostomia com drenagem fechada em selo d’água em 5º EIC, entre as linhas anterior e média. Tórax instável e Contusão pulmonar: tórax instável é a lesão causada pela fratura de duas ou mais costelas consecutivas em dois ou mais pontos, fazendo com que esse segmento da parede torácica não tenha continuidade óssea com o resto da parede torácica. Dessa forma, ocorre movimento paradoxal da parede torácica acometida, o que não causa hipóxia isoladamente. No entanto, a contusão pulmonar subjacente e a dor durante a respiração podem levar a um quadro de hipóxia. O tratamento inicial deve ser feito com ventilação adequada, administração de oxigênio úmido e reposição volêmica (cuidado com hiperidratação). Pode-se utilizar no tratamento analgesia, tanto com narcóticos quanto com bloqueio dos nervos intercostais. Em casos de hipóxia grave, intubação e ventilação mecânica deve ser considerada. Hemotórax maçico: acúmulo de mais de 1500 mL de sangue (ou mais de 1/3 da volemia) na cavidade torácica, o que compromete a respiração por comprimir o pulmão e impedir ventilação adequada. É usualmente causado por ferimentos penetrantes que atingem vasos sistêmicos ou hilares. Podem ser encontradas jugulares baixas, causadas pela hipovolemia severa. Dificilmente ocorre balanço mediastinal capaz de gerar diminuição do retorno venoso e ingurgitamento jugular. O quadro clínico é caracterizado por choque associado ausência de murmúrios vesiculares e macicez à percussão de um hemitórax. O tratamento deve ser feito imediatamente com reposição volêmica e descompressão do hemitórax por toracostomia com drenagem fechada em selo d’água. A toracotomia de emergência é indicada se houver drenagem inicial de 1500 mL ou mais de sangue ou de 200 mL/h nas primeiras 2 a 4 horas, queda do estado geral, necessidade de muitas bolsas de sangue ou se houver ferimento penetrante anterior medial à linha dos mamilos ou posterior medial às escápulas. Tamponamento cardíaco: lesão que pode ser causada por ferimentospenetrantes em região medial do tórax ou por trauma contuso e que faz diagnóstico diferencial com pneumotórax hipertensivo. O tamponamento cardíaco ocorre pela compressão do coração devido ao acúmulo de sangue no saco pericárdico, proveniente do próprio coração, dos grandes vasos ou dos vasos pericárdicos. Como o saco pericárdico é uma estrutura fibrosa fixa, um pequeno volume de líquido pode restringir e impedir o enchimento cardíaco. O diagnóstico é baseado na presença da Tríade de Beck (elevação da pressão venosa - ingurgitamento jugular-, queda da pressão arterial e abafamento de bulhas cardíacas), além de pulso paradoxal, sinal de Kussmaul (aumento da pressão venosa na inspiração durante respiração espontânea). O tratamento emergencial inicial deve ser feito com pericardiocentese sub-xifoidiana. 5. CHOQUE Mariane Christina Savio Choque hipovolêmico é uma anormalidade do sistema circulatório que resulta em perfusão orgânica e oxigenação tecidual inadequadas. É causado por perdas sanguíneas, sangramentos internos ou externos e constitui a principal forma de choque no paciente traumatizado. Sendo assim, todo paciente politraumatizado em choque, até que se prove o contrário, é considerado em choque hipovolêmico. Hemorragia é também a principal causa de morte evitável após o trauma. Por isso, no atendimento inicial, é responsabilidade do médico reconhecer o estado de choque e iniciar o tratamento simultaneamente ao diagnóstico. A resposta ao tratamento inicial, os achados dos exames primário e secundário fornecerão informações para determinar a etiologia do choque. Outros tipos de choque que podem ocorrer no trauma são: cardiogênico, obstrutivo, neurogênico e séptico. Outros tipos de choque que podem ocorrer no trauma: Choque cardiogênico: pode ocorrer por contusão cardíaca em traumas frontais, nos casos de tamponamento cardíaco, dissecções de aorta, tromboembolismo pulmonar e doença isquêmica cardíaca (infarto associado ao trauma). A conduta deve ser monitorização com ECG contínuo para verificar arritmias, monitorização precoce da pressão venosa central - PVC (orienta reposição volêmica), ecocardiografia (pode diagnosticar tamponamento e ruptura de válvulas) e pericardiocentese de alívio nos casos de tamponamento cardíaco (manobra de alívio, a definitiva é uma toracotomia). O “FAST” pode ser usado na sala de emergência para identificar líquido no pericárdio. Obstrutivo: causado por pneumotórax hipertensivo, que é aquele que impede o retorno venoso por comprimir estruturas mediastinais. O pneumotórax hipertensivo advém de um mecanismo valvular, que permite a entrada de ar no espaço pleural e não permite sua saída. Assim, o pulmão ipsilateral colaba e há desvio do mediastino para o lado oposto. Clinicamente, veremos redução do MV, timpanismo à percussão do lado afetado, possível presença de enfisema subcutâneo, desvio da traquéia, além da clínica de choque. É uma emergência cirúrgica, que deve ser imediatamente tratada com inserção de abocath no 2ºEIC para descompressão torácica (é uma manobra de alívio, a definitiva é uma toracostomia, drenagem de tórax fechada). Neurogênico: decorrente de lesão extensa do sistema nervoso central ou da medula. Deve-se suspeitar nos casos de TCE isolado com clínica de choque, pois uma lesão intracraniana isolada não tem como causar choque hipovolêmico. Ocorre por perda do tônus vagal, ou seja, uma plegia vascular por lesão simpática. Há uma vasodilatação e hipovolemia relativa. Portanto o doente fica hipotenso, mas com pele quente, pois não ocorre vasoconstrição cutânea (no hemorrágico a pele fica fria). Pode ou não ocorrer taquicardia e esse doente não responde à reposição volêmica. Deve-se monitorar a PVC, que auxilia no reestabelecimento da perfusão orgânica. Séptico: trata-se de um tipo de choque infrequente no atendimento inicial do politrauma, mas deve ser considerado em pacientes com traumas penetrantes que demoraram muito para chegar à sala de emergência. Gera a mesma clínica de um choque hipovolêmico devido à vasodilatação periférica e central. A febre pode estar ausente, dificultando o diagnóstico. O diagnóstico diferencial entre choque hemorrágico e não hemorrágico será feito a partir de uma história clínica, exame físico e exames complementares. Além disso, a resposta à reposição volêmica pode dar pistas sobre a etiologia. E mesmo que haja suspeita de que o choque não seja hipovolêmico, deve iniciar repondo volemia (lembrando que a maioria dos choques não-hemorrágicos respondem parcial ou transitoriamente à reposição volêmica). Fisiologia cardíaca básica O débito cardíaco é o volume de sangue bombeado pelo coração por minuto. DC = FC x Volume Sistólico O volume sistólico, por sua vez, está diretamente relacionado à pré-carga, contratilidade miocárdica e pós-carga. Ou seja, quanto sangue chega ao coração, quanto o coração consegue bombear e a resistência vascular periférica. Na perda sanguínea reduz-se o débito cardíaco, pois cai o volume sistólico (menos sangue circulante, menos pré- carga). Perda sanguínea Em um estado de hipovolemia, o organismo tenta realizar uma compensação, preservando os órgãos essenciais do nosso corpo. Portanto, ocorre uma ativação dos sistemas nervoso simpático e parassimpático levando à vasoconstrição da pele, músculos lisos e trato gastrointestinal (esplâncnica) e preservação do fluxo em rins, coração e cérebro. A frequência cardíaca também aumenta na tentativa de manter o débito cardíaco (pela fórmula, há menos volume sistólico, então teremos que aumentar a FC para tentar manter o DC). Ocorre liberação de catecolaminas endógenas que aumentam a resistência vascular periférica. Isso gera uma maior pressão diastólica e redução da pressão de pulso (que é a diferença entre pressão arterial sistótila e diastólica). Histamina, bradicinina, beta-endorfinas, citocinas e outros hormônios com propriedades vasoativas são liberados e geram alterações na permeabilidade vascular e na microcirculação. Em nível celular, passa a ocorrer metabolismo anaeróbio, que forma ácido lático e predispõe à acidose metabólica. A hipóxia celular gera lesão progressiva, edema tecidual e morte. Esse processo é combatido pela administração de soluções eletrolíticas isotônicas. Reconhecendo os sinais de choque: O atendimento deve sempre respeitar a sequência ABCDE. Com A e B controlados, no C avaliaremos sinais de choque. O primeiro passo é reconhecer o choque pelos sinais clínicos. São eles: • Taquicardia, vasoconstrição cutânea: são os sinais mais precoces de choque. O doente se apresenta frio e taquicárdico. Considera-se taquicardia uma frequência cardíaca superior a 160 no lactente, a 140 na criança em idade pré-escolar, a 120 até a puberdade e acima de 100 no adulto. • Taquipnéia • Queda da pressão de pulso. • Alteração da pressão sistólica (PAS): ocorre apenas quando ocorre perda igual ou superior a 30% da volemia, devido aos mecanismos de compensação do sistema circulatório. Confiar exclusivamente na pressão sistólica resulta em reconhecimento tardio do estado de choque. • Enchimento capilar deficiente: deve ser avaliado nas extremidades, que devem voltar à coloração normal no máximo 2 segundos após a sua compressão. • Alteração do nível de consciência: é avaliado no D do ATLS e no choque não implica necessariamente em lesão intracraniana, podendo refletir apenas perfusão inadequada do cérebro. O exame clínico do abdome e a verificação da estabilidade da pelve entram no C do ATLS, pois podem indicar fontes ocultas de sangramento em um paciente em choque. ATENÇÃO: pacientes idosos, usuários de beta-bloqueadores, atletas, gestantes,pacientes hipotérmicos e usuários de marca-passo podem não ter taquicardia, mascarando o choque (pois tem reduzida capacidade em aumentar sua FC). O volume globular (VG) e a concentração de hemoglobina (Hb) não são confiáveis para diagnosticar choque ou estimar a perda sanguínea aguda, pois demoram a se alterar. Os parâmetros utilizados para diagnosticar o choque devem ser clínicos. Medidas auxiliares à avaliação primária: No atendimento inicial ao paciente politraumatizado, devem ser usadas medidas auxiliares, que serão: • Acesso EV: deve ser obtido rapidamente, com a inserção de dois cateteres intravenosos periféricos abocath 14 ou 16, preferencialmente em veias do antebraço ou antecubitais (veia cefálica). O objetivo desses cateteres será infundir líquidos para repor a volemia. Pela lei de Poiseuille sabemos que a velocidade do fluxo é maior quando o comprimento do cateter é menor e o diâmetro maior, por isso queremos um cateter curto e calibroso, que infunde muito volume rapidamente. • Amostras de sangue: devem ser obtidas assim que tenha sido obtido o acesso venoso. Os exames a serem solicitados são a tipagem sanguínea e a prova cruzada e teste de gravidez para mulheres entre 10 e 50 anos (beta-HCG). • Sonda nasogástrica: permite a descompressão gástrica, que ocorre devido ao ar engolido. A distensão gástrica pode causar hipotensão, arritmias cardíacas e até bradicardia pelo estímulo vagal. Além disso, acarreta risco de aspiração e dificulta o tratamento do choque. • Sonda vesical: essencial no paciente com sinais de choque, pois permite monitorar a reposição volêmica (fornece uma estimativa fiel da perfusão renal) e ainda avalia a presença de hematúria. Não deve ser utilizada em caso de suspeita de lesão de uretra. • Monitorização cardíaca e oximetria de pulso. Classificação do choque A classificação do choque a partir de parâmetros clínicos permite estimar a perda sanguínea. A classificação também é útil para determinar o tipo de reposição volêmica a ser feita inicialmente. Entretanto, a reposição volêmica subsequente deve ser mais orientada pela resposta individual ao tratamento inicial do que simplesmente pela classificação. Para cálculo da porcentagem da volemia perdida, é útil saber que a volemia corresponde a aproximadamente 7% do peso ideal de um adulto (não do peso real, no caso de obesos) e 8- 9% do peso de crianças. Classe I Classe II Classe III Classe IV Perda sanguínea Até 750ml 750-1500ml 1500-2000ml >2000ml % de volume sanguíneo perdida Até 15% 15-30% 30-40% >40% FC <100 100-120 120-140 >140 PA Normal Normal Diminuída Diminuída Pressão de pulso Normal Diminuída Diminuída Diminuída FR 14-20 20-30 30-40 >35 Diurese >30ml/h 20-30ml/h 5-15ml Desprezível Estado mental Levemente ansioso/Normal Moderadamente ansioso Ansioso, confuso Confuso, letárgico Reposição volêmica Cristalóide Cristalóide Cristalóide e sangue* Cristalóide e sangue necessariamente *No choque classe III a decisão de transfusão sanguínea vai se basear na resposta à reposição líquida inicial e no estado de perfusão e oxigenação tecidual. A tendência atual é indicar hemotransfusão mais precocemente. Outra forma de estimar perdas sanguíneas em um paciente politraumatizado é avaliando as lesões presentes e considerando perdas de sangue na forma de hematomas. Por exemplo: • Fratura fechada de úmero/tíbia – pode sangrar até 750ml • Fratura fechada de fêmur – pode sangrar até 1500ml • Fraturas de pelve – podem sangrar toda a volemia para o retroperitôneo. É importante lembrar que o edema das partes moles traumatizadas também gera perda adicional de líquido, depletando ainda mais o volume intravascular. Manejo do paciente em choque Após o diagnóstico do estado de choque pelos sinais clínicos, teremos duas prioridades: parar o sangramento e repor a volemia. Essas medidas serão realizadas dentro do C do ATLS. Devemos primeiramente atentar para a etiologia do choque, ou seja, identificar a fonte do sangramento. A prioridade deve ser parar o sangramento. O paciente deve ser completamente exposto e qualquer ferimento externo deve ser imediatamente comprimido (os torniquetes nunca deve ser utilizados). Deve-se procurar, além de sangramentos externos, hemorragias ocultas em tórax, pelve, abdome e membros (especialmente na coxa). Se houver instabilidade na pelve, ela deve ser estabilizada utilizando um lençol apertado em torno do quadril (reduz a perda volêmica até a fixação cirúrgica). Se necessário, lançar mão de ferramentas diagnósticas como o FAST, LPD, RX e TAC ou exploração cirúrgica imediata (dependendo das condições clínicas). A reposição volêmica deve ser iniciada imediatamente como se o doente estivesse hipovolêmico, visando restaurar a perfusão orgânica. É hora de instalar os 2 acessos venosos calibrosos Abbocath 14 ou 16 infundindo Ringer Lactato. No manejo do paciente, é importantíssima a prevenção da hipotermia (estado que agrava o quadro de choque). Todos os fluidos infundidos devem ser aquecidos a 39ºC. Resposta à reposição volêmica: A resposta do doente à reposição volêmica inicial é a chave para determinar a terapêutica subseqüente. Para essa avaliação, precisamos entender que hemodinamicamente estável é diferente de hemodinamicamente normal. O doente estável persiste com o quadro prévio (se permanecer estável em choque, então a reposição volêmica não está efetiva!), enquanto o doente hemodinamicamente normal é aquele que não tem sinais de perfusão orgânica inadequada, está com sinais vitais normais. Queremos que nosso paciente fique normal, não estável! Neste contexto deve-se monitorar fluidoterapia com controle dos dados vitais, débito urinário (o principal parâmetro, pois reflete com fidelidade a perfusão renal), nível de consciência (escala de coma de Glasgow) e perfusão periférica. Além disso, oximetria de pulso e cateter de Swan-Ganz (afere a pressão venosa central – reflete a função das câmaras cardíacas direitas e deve ser instalado em casos complexos, pois gera riscos ao paciente) também são úteis na monitorização. Débito urinário: A reposição será considerada efetiva se o débito urinário for de: • ADULTO – 50 ml/h ou (0,5ml/kg/h) • CRIANÇA – 1ml/kg/h • BEBÊ - 2ml/kg/h Débito urinário insuficiente indica ressuscitação inadequada. Equilíbrio ácido-básico: o paciente em choque apresenta inicialmente alcalose respiratória pela taquipnéia, seguida acidose metabólica (pela produção de ácido lático pelo metabolismo anaeróbio). A persistência de acidose indica reposição volêmica inadequada ou perdas sanguíneas continuadas. Na gasometria teremos: déficit de bases e lactato elevado. O tratamento é a correção da hipovolemia repondo perdas e parando o sangramento. Deve-se atentar que o paciente hemodiluído e politransfundido terá mais acidose. Classificação da resposta volêmica: A reposta à reposição pode ser dividida em 3 categorias • Resposta rápida/mantida: os sinais vitais voltam ao normal com a reposição de fluidos, indicando que houve perda sanguínea <20% da volemia. Deve continuar monitorando o doente, mas é baixa a necessidade de mais cristaloides ou de sangue. Mesmo assim o sangue com tipagem e prova cruzada (esta última demora 1 hora) deve estar disponível. Ainda é considerada possível a necessidade de cirurgia. • Resposta transitória: há melhora transitória dos sinais vitais, mas há recidiva de hipotensão e taquicardia. Indica que houve perda de 20-40% da volemia. A conduta é continuar fluidos e iniciar transfusão de sangue tipo-específico (tipagem sanguínea demora em torno de 10 minutos no laboratório). É provável a necessidade de cirurgia. • Resposta mínima: não há melhorados sinais vitais com a reposição, indicando hemorragia exsanguinante (>40% de perda volêmica). Há necessidade de intervenção definitiva imediata (ou seja, que controle a hemorragia), infusão de mais cristaloides e sangue (sem tipagem, utiliza-se O- para mulheres em idade fértil e O+ para os demais). Nestes casos, deve também ser realizado diagnóstico diferencial com outros tipos de choque. Resposta rápida Resposta transitória Resposta mínima Sinais vitais Retorno ao normal Melhora transitória Sem melhora Perda sanguínea Mínima – 10-20% Moderada– 20 – 40% Grave - >40% Necessidade de mais cristaloides Baixa Alta Alta Necessidade de sangue Baixa Moderada ou alta Imediata Preparo do sangue Tipado e com prova cruzada Tipo-específico Liberado em caráter de emergência Necessidade de cirurgia Possível Provável Muito provável Presença precoce do cirurgião Sim Sim Sim 6. REANIMAÇÃO CARDIOPULMONAR Guilherme Damaceno Pereira A reanimação cardiopulmonar consiste de medidas para identificar o paciente em parada cardiorrespiratória (PCR) e reestabelecer a vida e consciência. O primeiro passo é a identificação das primeiras manifestações de PCR no paciente. O operador deve perguntar sobre a capacidade de resposta da vítima, se a vítima está respirando e se a respiração está normal, para diferenciar a vítima que está com “gasp” agônico (necessita de RCP) daquela que respira normalmente. A RCP é indicada quando a vítima não estiver respirando ou com respiração anormal. Logo, é de suma importância a rápida verificação do padrão respiratório para saber se há uma PCR, para que o serviço de emergência/urgência seja acionado e para que o desfibrilador (DAE/DEA) seja levado para o local onde está a vítima. A RCP pode ser resumida em 8 passos: 1. Determinar a inconsciência da vítima - tocando nos ombros - chamando a vítima (“Você está bem?”) - chamar ajuda (SAMU 192) - ficar ao lado da vítima 2. Verificar se a vítima respira - se não respira ou respiração ineficaz à considera parada cardíaca - SAMU 192 - procurar por desfibrilador (DAE/DEA) 3. Posicionar a vítima - evitar dano à coluna cervical (se suspeita de trauma) - colocar vítima em decúbito dorsal em superfície dura 4. Detectar pulso - palpar o pulso carotídeo (o coração está batendo?) - em até 10 segundos decidir se há pulso ou não 5. Compressão torácica externa - 100 compressões/min - movimentos com força e rapidez - interromper por no máximo 10 segundos 6. Desfibrilação com DEA - buscar DEA (se em local próximo) - ligar e colocar eletrodos - retomar compressões após choque - ritmos chocáveis (FV/TVSP) - checar ritmo e repetir a cada 2 minutos 7. Abrir as vias aéreas - extensão do pescoço - elevação do mento - levantamento da mandíbula (se suspeita de trauma) 8. Respiração artificial - 2 ventilações para ver tórax da vítima elevar - cada ventilação em 1 segundo Enquanto o desfibrilador não chega ou caso não esteja disponível no local, a reanimação deve iniciar o mais rápido possível. A American Heart Association (AHA) criou um algoritmo para facilitar o manejo desses pacientes. Ele consiste em C-A-B. • C = compressão torácica externa • A = abertura das vias aéreas • B = respiração artificial COMPRESSÃO TORÁCICA Essas três medidas estão organizadas em ordem de prioridade. Portanto, inicia-se a RCP com as compressões torácicas. Elas devem ser feitas com força e rapidez, com uma frequência mínima de 100 compressões por minuto. Deve ser permitido o retorno total da parede torácica entre as compressões, minimizar interrupções entre as compressões e alternar as pessoas que aplicam a RCP a cada dois minutos. Interrupções podem ocorrer por no máximo 10 segundos, para verificar pulso ou desfibrilar. Crianças e adultos possuem manejos diferentes em certos pontos da compressão. Compressão torácica no adulto O paciente deve estar em posição supina sobre uma superfície firme. A compressão deve ser realizada com a região hipotênar de uma das mãos a aproximadamente dois dedos acima do processo xifoide, com os braços estendidos projetando o peso do corpo sobre a mão através de movimentos de flexão do quadril. A pressão deve ser suficiente para abaixar o esterno no mínimo em 2 polegadas (5 centímetros) em movimentos rítmicos e suaves, nos quais o tempo de compressão deverá ser igual ao de descompressão. A frequência deve ser de pelo menos 100/min. Compressão torácica no lactente e na criança No lactente como o coração está mais alto que no adulto, a compressão deve ser realizada no cruzamento entre a linha mamilar e o esterno da criança, utilizando de 2 a 3 polpas digitais de uma única mão. A profundidade deve ser no mínimo de 1/3 do diâmetro AP do tórax, ou cerca de ½ polegada (4 centímetros). Na criança a massagem deve ser realizada com apenas uma das mãos. O esterno deve ser comprimido por 1/3 do diâmetro AP do tórax, ou 2 polegadas (5 centímetros). Abertura das vias aéreas A via aérea deve ser aberta com inclinação da cabeça associada à elevação do mento. Se houver suspeita de trauma em região em cervical, realizar anteriorização da mandíbula. RESPIRAÇÃO ARTIFICIAL Após a abertura das vias aéreas, deve-se dar início à respiração artificial. A relação compressão ventilação-ventilação deve ser na proporção de 30 compressões para cada 2 ventilações (30:2) até a colocação de via aérea avançada. Respiração artificial no adulto Obtida a abertura da via aérea, deve ser feito o pinçamento das asas do nariz e posteriormente duas insuflações seguidas (chamadas “ventilações de resgate”, que expandem os pulmões). Após esse procedimento, passa-se a realizar movimentos de inspiração. Cada movimento deve durar 1 segundo. Cuidar com ventilações rápidas, já que podem fazer distensão gástrica. Também evitar ventilações superpostas. Para verificar eficiência da respiração deve-se observar: • Elevação e abaixamento do tórax • Sentir na sua própria via aérea a resistência e elasticidade dos pulmões da vítima quando se expandem • Ouvir e sentir a exalação do ar na expiração Respiração artificial em crianças e lactentes Fazer duas insuflações iniciais o suficiente para expandir os pulmões. Usar respirações mais curtas que as usadas em adultos. Em recém-natos e crianças pré-escolares pode ser feita a respiração boca a boca e nariz. 7. TRAUMA TORÁCICO E DRENO DE TÓRAX Ana Cláudia Marchi Barros e Karla Schoen O trauma torácico é uma importante causa de mortalidade, sendo que muitas destas podem ser evitadas com medidas diagnósticas e terapêuticas imediatas. Menos de 10% dos traumas contusos e somente 15 a 30% dos penetrantes exigem a realização de toracotomia, a maioria dos casos necessita somente de procedimentos técnicos simples para a resolução do quadro. O paciente vítima deste tipo de trauma, frequentemente, apresenta alterações metabólicas: hipóxia, que ocorre como consequência da alteração na ventilação/perfusão pulmonar por lesões diretas no pulmão (contusão, hematoma, colapso alveolar, etc), por alterações pressóricas intratorácicas (pneumotórax aberto, pneumotórax hipertensivo) e por hipovolemia; hipercapnia, que decorre de ventilação inadequada e rebaixamento do nível de consciência; e também acidose metabólica, que tem como causa a hipoperfusão tecidual (choque). O atendimento inicial do paciente com trauma em tórax consisteem: • Avaliação primária • Normalização dos sinais vitais • Avaliação secundária pormenorizada • Tratamento definitivo AVALIAÇÃO PRIMÁRIA: LESÕES TORÁCICAS COM RISCO DE MORTE: O exame do paciente com trauma torácico segue a ordem normal de atendimento ao paciente politraumatizado, e os problemas críticos devem ser corrigidos à medida que são identificados. As lesões que devem ser tratadas neste momento são: 1) Obstrução de vias aéreas 2) Pneumotórax hipertensivo 3) Pneumotórax aberto 4) Tórax instável e contusão pulmonar 5) Hemotórax maciço 6) Tamponamento cardíaco OBSTRUÇÃO DE VIAS AÉREAS Para analisar a permeabilidade da via aérea e o fluxo de ar, deve-se ouvir os movimentos do ar do nariz, da boca e dos campos pulmonares, inspecionar a orofaringe à procura de corpos estranhos e observar a presença de tiragem intercostal e/ou supraclavicular. Grandes traumas de tórax podem ocasionar lesões de laringe, o que pode levar à obstrução aguda de vias aéreas, quadro este potencialmente fatal. Lesões traumáticas na parte superior do tórax, algumas vezes, ocasionam luxação posterior da cabeça da clavícula, causando obstrução de via aérea superior, tal situação deve ser suspeitada quando o paciente apresenta estridor ou pela modificação acentuada de sua voz (quando este é capaz de verbalizar). O tratamento consiste em reestabelecer a permeabilidade da via aérea, através da intubação orotraqueal ou, quando esta não é possível de imediato por compressão importante da traquéia, redução incruenta da luxação que está ocasionando o quadro obstrutivo. Para a avaliação da ventilação, deve-se expor completamente pescoço e tórax do paciente para que se avalie a respiração, as veias do pescoço e a posição da traquéia. Os movimentos respiratórios e a ventilação devem ser avaliados por observação, palpação e ausculta. Alterações no padrão respiratório como aumento da frequência e superficialidade são evidências de lesões torácicas ou de hipóxia. A cianose é um sinal tardio, portanto, não é um bom parâmetro a ser seguido no exame imediato do paciente. PNEUMOTORAX HIPERTENSIVO O pneumotórax hipertensivo ocorre quando existe um vazamento de ar, por mecanismo de “válvula unidirecional”, para o espaço pleural, tanto do pulmão como da parede torácica. O ar entra, mas não consegue sair, aumentando cada vez mais a pressão intratorácica. Assim, o pulmão do lado acometido acaba colapsando e o mediastino é deslocado para o lado oposto, o que diminui o retorno venoso e comprime o pulmão contralateral. A causa mais comum de pneumotórax hipertensivo é a ventilação mecânica com pressão positiva em pacientes com lesão de pleura visceral. Além disso, pode ocorrer: como complicação de um pneumotórax simples decorrente de lesão torácica no qual não ocorreu o fechamento da lesão do parênquima pulmonar; após tentativas mal direcionadas de obtenção de acesso venoso central; em conseqüência de lesões traumáticas de parede torácica ou fraturas com grande desvio da coluna torácica. O diagnóstico de pneumotórax hipertensivo é clínico e seu tratamento deve ser imediato, não se deve esperar a confirmação radiológica. Os sinais clínicos são dor torácica, dispnéia importante, taquicardia, hipotensão, desvio da traquéia, ausência unilateral de murmúrio vesicular, distensão das veias do pescoço e cianose como manifestação tardia. O pneumotórax hipertensivo pode ser confundido com o tamponamento cardíaco pela semelhança entre os quadros clínicos. Para diferenciá-los há o hipertimpanismo à percussão e a ausência do murmúrio vesicular no hemitórax afetado, presentes no pneumotórax hipertensivo. O tratamento é a descompressão imediata por meio da inserção de uma agulha de grosso calibre no segundo espaço intercostal na linha hemiclavicular do hemitórax afetado (toracocentese com agulha). Tal manobra transforma o pneumotórax hipertensivo em pneumotórax simples. O tratamento definitivo geralmente consiste apenas na inserção de um dreno de tórax. Fonte: http://nonaenfermaria.blogspot.com/2009_05_01_archive.html PNEUMOTÓRAX ABERTO (FERIDA TORÁCICA ASPIRATIVA) Ferimentos penetrantes em tórax, principalmente aqueles em que o calibre da ferida é de aproximadamente dois terços do calibre da traquéia, ocasionam um equilíbrio da pressão intratorácica com a pressão atmosférica, com isto, o ar passa preferencialmente pela lesão na parede torácica pois há menor resistência, prejudicando a ventilação efetiva e resultando em hipóxia e hipercapnia. O tratamento inicial deste tipo de lesão deve ser feito de imediato, com o uso de um curativo quadrangular estéril, grande o suficiente, que cubra toda a extensão do ferimento fixado por fita adesiva em três dos seus lados. Quando o paciente inspirar o curativo ocluirá o ferimento e quando expirar o ar da cavidade pleural sairá pelo lado aberto do curativo fazendo assim um mecanismo de válvula unidirecional. O curativo não deve ser ocluído nas 4 pontas, pois causará um pneumotórax hipertensivo. Assim que possível, deve ser realizada a drenagem de tórax deste paciente inserindo o tubo longe do ferimento, o qual deve ser fechado cirurgicamente. TÓRAX INSTÁVEL O tórax instável, retalho costal móvel, ocorre quando há múltiplas fraturas de costelas (duas ou mais em dois ou mais lugares) e consequente perda da continuidade óssea deste segmento com o resto do tórax. As maiores repercussões do tórax instável decorrem da contusão pulmonar subjacente. A hipóxia ocorre pela dor associada à lesão do parênquima pulmonar e à restrição dos movimentos da caixa torácica. Suspeita-se de tórax instável quando o paciente apresenta dificuldade respiratória, movimentos torácicos assimétricos e descoordenados e crepitação em costelas. Uma radiografia de tórax e uma gasometria arterial podem ajudar no diagnóstico. O tratamento inicial consiste em: correção da hipoventilação, administração de oxigênio umidificado e reposição volêmica. A terapia definitiva consiste em reexpandir o pulmão, garantir uma boa oxigenação, administração de líquido cautelosa para evitar hiper- hidratação e analgesia para melhorar a ventilação. O alívio da dor pode ser conseguido utilizando-se analgésicos potentes ou vários métodos de administração de anestésicos locais que incluem bloqueio intermitente do nervo intercostal, intra e extrapleurais ou anestesia peridural. Uma boa analgesia pode evitar a necessidade de intubação. Em alguns casos, no entanto, pode ser necessário intubação e ventilação, num primeiro momento, até que se complete o diagnóstico de todas as lesões. HEMOTÓRAX MACIÇO O hemotórax maciço resulta de um rápido acúmulo de grande quantidade de sangue livre, 1500 ml ou mais que 1/3 da volemia do paciente, na cavidade torácica. Os ferimentos penetrantes constituem a principal causa de hemotórax maciço pois lesionam vasos sistêmicos e/ou hílares. Traumas fechados também podem ser a causa, mas menos comumente. Em alguns casos, ao exame inicial do paciente, as veias do pescoço se encontram colapsadas decorrente da hipovolemia, porém, se houver um pneumotórax hipertensivo concomitante podem estar distendidas. O quadro clínico do hemotórax maciço consiste na presença de uma história compatível, presença de choque associado à ausência de murmúrio vesicular e/ou macicez à percussão do hemitórax afetado. O tratamento inicial é a reposição volêmica associada à descompressão da cavidade torácica através da realização da drenagem de tórax. Quando há disponibilidade no serviço, a coleta deste sangue retirado da cavidade pleural pode ser levada a um dispositivo que faça a autotransfusão para este paciente. Nos casos em que, imediatamente após a inserção do dreno, ocorrer a saídade aproximadamente 1500ml, muito provavelmente este doente necessitará de uma toracotomia de urgência. A decisão não é baseada no volume de sangue que continua drenando por hora (200ml/h nas primeiras 2 a 4 horas), mas sim no estado hemodinâmico do paciente. Os pacientes que tiverem necessidade de transfusões sanguíneas consecutivas também possuem indicação de toracotomia de urgência. A coloração do sangue que sai pelo dreno de tórax (arterial ou venoso) não é um bom parâmetro para indicar ou não a realização da toracotomia. Os ferimentos penetrantes anteriores e mediais às linhas dos mamilos ou posteriores e mediais às escápulas devem alertar o médico para a eventual necessidade de toracotomia, pela possível lesão dos grandes vasos, estruturas hilares e do coração, com risco potencial de tamponamento cardíaco. TAMPONAMENTO CARDÍACO O tamponamento cardíaco é o acúmulo de líquido (no caso do trauma, sangue) dentro do saco pericárdico que, por ser de consistência fibrosa inelástica, restringe a atividade cardíaca e interfere no enchimento cardíaco. É decorrente, mais comumente, de traumas penetrantes, mas também pode ser consequencia de um trauma fechado. O paciente com tamponamento cardíaco tem como sinal clínico clássico a Tríade de Beck que consiste em: elevação da pressão venosa (ingurgitamento de jugulares), queda da pressão arterial e abafamento de bulhas cardíacas. Pulso paradoxal e Sinal de Kussmaul (aumento da pressão venosa na inspiração durante a respiração espontânea) também podem sugerir tamponamento cardíaco. Os métodos diagnósticos incluem o ecocardiograma, o FAST e a janela pericárdica (pericadiotomia após toracotomia de emergência). O FAST (Focused assesment sonography in trauma) pode ser útil, quando feito por profissional com bom treinamento, para o diagnóstico da presença de líquido no saco pericárdico, mas só pode ser feito se não for implicar em atraso na reanimação do paciente. Quando não é possível realizar a toracotomia de emergência, a pericardiocentese é útil tanto para o diagnóstico quanto para estabilizar temporariamente estes pacientes antes do tratamento definitivo no centro cirúrgico. No entanto, ela perde seu valor quando o sangue no saco pericárdico estiver coagulado. Nos casos em que há suspeita de tamponamento cardíaco não é contraindicação a reposição volêmica, visto que tal medida melhora o débito cardíaco do paciente. TORACOTOMIA DE REANIMAÇÃO A massagem externa convencional em caso de parada cardíaca ou atividade elétrica sem pulso não é eficiente em doentes hipovolêmicos. Por isso, nos casos em que o paciente é vítima de traumatismo penetrante em tórax, está sem pulso, porém ainda mantém atividade elétrica miocárdica (AESP – atividade elétrica sem pulso), deve-se considerar a toracotomia na sala de emergência. O acesso usado para tal procedimento é anterior esquerdo. A restauração do volume intravascular deve ser continuada e é essencial que se proceda à intubação endotraqueal e à ventilação mecânica. Não se deve realizar qualquer esforço para a reanimação de pacientes que não apresentem nenhum sinal de vida e sem nenhuma atividade elétrica cardíaca. Pacientes vítimas de trauma fechado, que chegam sem pulso, mas com atividade elétrica miocárdica não são candidatos à toracotomia de reanimação. As manobras terapêuticas que podem ser efetuadas durante esse procedimento são: • Evacuação do sangue no saco pericárdico (causador do tamponamento cardíaco); • Controle de hemorragia intratorácica exsanguinante; • Massagem cardíaca aberta; • Clampeamento da aorta descendente para controle de sangramentos baixos. Raramente a toracorotomia na sala de emergência é eficiente em pacientes que sofreram trauma contuso e parada cardíaca. AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA: LESÕES COM RISCO DE VIDA Após a avaliação primária e realização das medidas necessárias para o tratamento das lesões previamente descritas ou de outras que impliquem em risco imediato para a vida, deve-se iniciar a avaliação secundária do paciente vítima de trauma torácico. A avaliação secundária inclui: exame físico adicional mais completo, radiografia de tórax antero-posterior (AP), gasometria arterial, oximetria de pulso e eletrocardiograma. Neste momento do atendimento ao paciente com trauma de tórax, deve-se ficar atento para lesões que frequentemente não são óbvias ao exame físico no exame primário, o diagnóstico requer alto índice de suspeita e a utilização de exames complementares. São elas: 1. Pneumotórax simples 2. Hemotórax 3. Contusão pulmonar 4. Lesões da árvore traqueobrônquica 5. Traumatismo cardíaco contuso 6. Ruptura traumática da aorta 7. Lesão traumática do diafragma 8. Ruptura esofágica no traumatismo fechado Pneumotórax simples O pneumotórax simples resulta do acúmulo de ar entre a pleura visceral e parietal, isso faz com que a adesão entre as pleuras visceral e parietal deixe de existir, permitindo o colapso pulmonar, o que resulta em alterações na ventilação/perfusão. Ele pode ser decorrente tanto de trauma fechado quanto penetrante. A laceração pulmonar e a fratura- luxação de coluna torácica podem desencadear tal quadro. Suspeita-se de pneumotórax quando o paciente possui história condizente, diminuição de murmúrio vesicular no lado afetado e hipertimpanismo à percussão. A radiografia de tórax AP pode auxiliar no diagnóstico. O tratamento é feito com drenagem torácica fechada em selo d’água do lado acometido. Feito o dreno, deve-se repetir o exame radiográfico de tórax para confirmar a posição do dreno e a reexpansão pulmonar. Deve-se sempre estar atento para que um pneumotórax simples não venha a se transformar em pneumotórax hipertensivo. Os doentes que necessitem de transporte e os que necessitam ser submetidos à anestesia geral ou ventilação com pressão positiva devem ser drenados previamente, pelo risco que apresentam de ocorrer esta transformação do quadro. Hemotórax O acúmulo de sangue na cavidade pleural (menos de 1500ml) pode ser causado por laceração pulmonar, ruptura de vaso intercostal ou ruptura da artéria mamária interna, os mecanismos podem ser tanto contuso quanto penetrante. As fraturas/luxações de coluna torácica também podem levar a hemotórax. Normalmente, esse tipo de sangramento tende a ser autolimitado e não necessita de tratamento cirúrgico, porém quando este é visível na radiografia de tórax deve ser tratado com drenagem torácica. Este dreno além de remover o sangue retido no espaço pleural e diminuir o risco de formação de coágulos, também serve para monitorar a hemorragia torácica. A exploração cirúrgica deve ser considerada sempre que a drenagem inicial for maior que 1500 ml de sangue, ocorra drenagem de mais de 200 ml/hora durante 2 a 4 horas ou quando se torne necessária a transfusão contínua de sangue. Deve-se atentar que um hemotórax simples, se não for evacuado adequadamente, pode se transformar em um hemotórax coagulado e retido resultando em encarceramento pulmonar ou, se infectado, em empiema. Contusão Pulmonar Dentre as lesões torácicas potencialmente letais, esta é a mais comum. Em jovens com as costelas completamente ossificadas, pode ocorrer contusão pulmonar sem fratura de costelas ou tórax instável. A insuficiência respiratória pode ocorrer progressivamente, por isso os doentes com contusão pulmonar apresentando hipóxia significativa (SaO2 <90% ou PaO2<65mmHg) ou com comorbidades associadas (DPOC, insuficiência renal, etc.) devem ser intubados e ventilados já na primeira hora após o trauma. Todos os doentes com este tipo de injúria devem ser monitorados com oximetria de pulso, gasometria arterial e eletrocardiograma. Lesão da árvore traqueobrônquica É a lesão
Compartilhar