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- Francisco Cavalcante de Alcântara EDUCAÇÃO FÍSICA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 2 Francisco Cavalcante de Alcântara EDUCAÇÃO FÍSICA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 1ª Edição Sobral/2017 3 Sumário Palavra do professor autor Sobre o autor Ambientação à disciplina Trocando ideias com os autores Problematizando UNIDADE I: CARACTERIZAÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO FÍSICA. ........................................................................................ 10 Valorização e conquista das diferenças nos dias de hoje. Tipos de Deficiências. As Deficiências e a Educação. Atividades adequadas para cada tipo de Deficiência; Legislação Vigente acerca da Inclusão de Pessoas com Deficiências nas Aulas de Educação Física. UNIDADE II: ADAPTAÇÃO DE ATIVIDADES MOTORAS ORIENTADAS PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA............................................................................45 Teorias e Metodologias adequadas para as aulas de Educação Física para pessoas com deficiência. Tipos de Deficiências mais comuns nas escolas e como podemos incluir os estudantes nas aulas de Educação Física. UNIDADE III: INTERVENÇÃO PROFISSIONAL NO CAMPO DA EDUCAÇÃO FÍSICA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.......................................................51 Aspectos técnicos e metodológicos do ensino da Educação Física para Pessoas com Deficiência. Potencialidades Técnicas dos estudantes em modalidades e práticas esportivas nas aulas de Educação Física praticadas na Escola. 4 Explicando melhor com a pesquisa Leitura Obrigatória Pesquisando na Internet Saiba mais Vendo com os olhos de ver Revisando Autoavaliação Bibliografia Bibliografia Web Vídeos 5 Palavra do professor autor Prezados estudantes! Essa disciplina apresenta um estudo das abordagens históricas e das teorias que caracterizam as Deficiências no âmbito da Educação Física Escolar. Propõe-se apresentar uma análise do propósito da Educação Física para Pessoas com Deficiência, observando os aspectos, teóricos e metodológicos no ajustamento de atividades motoras orientadas para Pessoas com Deficiência, bem como as perspectivas de intervenção profissional no campo da Educação Física para Pessoas com Deficiência. Sabe-se o quanto a atividade física é importante para a população de forma geral. Portanto, tais pessoas estão muito mais suscetíveis a ter outras doenças por causa da inatividade, pelo fato de sua vida de movimento ser drasticamente alterada. O que dizer então de quem vive assim desde que nasceu, tendo que conviver com tantas dificuldades, preconceitos e discriminações. Um posicionamento muito sábio que se pode dar a respeito é que muitas escolas conseguem sim, fazer um processo de inserção, ou seja, o estudante é inserido dentro de uma sala de aula somente, mas na grande maioria dos casos, não acontece à inclusão com todo o peso que esta palavra pode ter. Muitas reflexões podem ser feitas a partir de indagações do tipo: quais as estratégias necessárias para o Profissional de Educação Física atuar com crianças com deficiências durante as suas aulas? A resposta para esta pergunta se dá com base em muitos fatores. Um dos maiores fatores para a falta de inclusão é que nem sempre isso é possível pela nossa falta de tempo para planejar e para entender a situação do estudante, ou por nossa falta de especialidade mesmo. E também, nem sempre, podemos fazer tudo de forma adaptada à necessidade de um ou dois estudantes. E os outros como ficam? E as suas expectativas de aprendizagem que são diferentes? Não basta querer. É preciso ser especialista naquele caso específico ou estudar muito para conseguir compreender isso. Nem todas as atividades serão 6 possíveis, desse modo através desse estudo procura-se mostrar como o esporte pode estar fazendo isso. O autor! Sobre o autor Francisco Cavalcante de Alcântara. Doutor em Ciências da Educação (UNIVERSIDAD SAN LORENZO - UNISAL/2014). Mestre em Ciências da Educação (UNIVERSIDAD SAN LORENZO – UNISAL 2011); Especialista em Gestão de Instituição de Ensino Superior e Didática do Ensino Superior (FACULDADE EVOLUÇÃO - 2012). Especialista com Caráter de Residência em Saúde da Família (UVA - 2003); Especialista em Educação Física Escolar (UVA- 1996); Licenciado e Bacharelado em Educação Física (UVA - 1995). 7 Ambientação Seja bem-vindo à disciplina de Educação Física para Pessoas com Deficiência. A prática de atividade física para pessoas com deficiência já é uma constante há bastante tempo, ainda na Grécia Antiga, mas somente depois da segunda guerra mundial é que sua prática começou a ser cada vez mais sistematizada. Isso ocorreu por conta de que ficaram muitos soldados, inclusive atletas amputados ou com sérias limitações nos movimentos que não lhes permitiam mais praticar exercícios físicos e esportes como antes. Essa questão foi motivando muitos estudiosos e interessados a investir no esporte para essas pessoas. Ainda na Grécia, o ser humano “normal” era tão valorizado em relação ao físico que muitas crianças eram mortas assim que nasciam se não fossem perfeitas. Como era um povo muito guerreiro e almejava ter grandes exércitos, crianças deficientes teriam duas grandes implicações: se fosse mulher, talvez não pudesse gerar filhos perfeitos para serem guerreiros; se fosse homem, não poderia ser soldado. Com o surgimento de vários tipos de Deficiências, o convívio com estudantes com alguma deficiência é um processo constante, como os Profissionais de Educação Física devem agir de acordo com esta realidade? A partir da necessidade de movimentar-se não só por aquisição de capacidades e qualidades físicas, mas em busca de uma melhor saúde e qualidade de vida, para tornar-se saudável, por isso o corpo promove interações cognitivas, motoras e afetivas sociais. Este material foi construído para servir de instrumento orientador aos acadêmicos e profissionais do campo da atividade motora aplicada. Como suporte teórico e prático, pretende oferecer subsídios para um maior conhecimento desta área ainda nova e pouco explorada. Desejo que o conteúdo deste livro possa auxiliar na qualidade das aulas de educação física adaptada ou orientar profissionais quanto a situações de inclusão. Divide-se com o leitor o propósito de desenhar o “rosto do futuro sem lágrimas em seus olhos" e traçar caminhos para um mundo mais solidário e capaz para todos, crianças, jovens e adultos com deficiência ou não. 8 Trocando ideias com os autores Propomos a você a leitura da obra: Educação Física e Esportes Adaptados. Esse livro é totalmente ampliado e atualizado, oferece uma introdução completa para aqueles que estão se preparando para trabalhar com portadores de deficiência em uma área de ambientes e situações. É um recurso fundamental de extrema abrangência e de fácil leitura com o intuito de preparar indivíduos e equipes para fornecer boas experiências em educação física e esportes para jovens portadores de deficiência. WINNICK, Joseph (Org.) Educação Física e Esportes Adaptados. São Paulo: Manole, 2004. Sugerimos também a obra: construindo uma sociedade para todos. Este livro aborda a questão da inclusão social de pessoas que em caráter temporário, intermitente ou permanente possuem necessidades especiais decorrentes de sua condição atípica e que, por essa razão, estão enfrentando barreiras para tomar parte ativa na sociedade com oportunidades iguais às da maioria da população. Além de necessidades especiais,estas pessoas têm as necessidades comuns a todo ser humano. SASSAKI, Romeu K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1999. Guia de estudo: Após a leitura das obras, escolha uma e faça uma resenha. Em seguida poste no ambiente virtual. 9 Problematizando Consideramos ser de grande importância à compreensão dos objetivos e competências deste módulo de ensino refletindo sobre o processo de evolução da Educação Física, do surgimento de vários tipos de Deficiências, como desenvolver adaptações para que as práticas corporais tenham uma maior eficácia para as Pessoas com Deficiências durante as aulas práticas de Educação Física na escola. Vamos analisar a seguinte situação: Você professor de Educação Física, como poderá trabalhar com seus estudantes as possibilidades de Inclusão de Pessoas com Deficiências nas aulas Práticas de Educação Física na Escola? Apropriar-se da especificidade deste estudo é de competência do profissional de Educação Física que está inserido em diferentes segmentos da sociedade, promovendo o reconhecimento e potencialidade do movimento nas trocas de interações e aprendizagem acerca das Atividades Físicas para Pessoas com Deficiência. Não basta entender sobre o processo de ensino-aprendizagem teórico ou técnico de alguma modalidade esportiva ou um programa de treinamento fitness, é preciso ir além e mostrar ao praticante e a sociedade que além do benefício físico e bem-estar às atividades leva o indivíduo a uma abordagem global e a uma sensibilização sobre a manifestação de conhecimento, experiências e valores que o ato esportivo ou atividade física promove além das ações motoras. Guia de Estudo - Baseado nessa situação reflita e comente com seus colegas. Faça uma postagem na sala virtual. video de apresentação: https://vimeo.com/295194497 10 CARACTERIZAÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS NO ÂMBITO DA EDUCAÇÃO FÍSICA 1 CONHECIMENTOS Conhecer os tipos de deficiências e sua relação com as aulas de Educação Física na Escola. HABILIDADES Relacionar as distintas características das deficiências e sua evolução para construção de conhecimentos promovendo uma melhoria na Saúde. ATITUDES Refletir sobre a importância da prática de Atividades da Educação Física, os cuidados e os riscos de lesões durante as práticas. 11 Valorização e conquista das diferenças nos dias de hoje. A Educação Física para Pessoas com Deficiências é distinguida por uma história de descaso das vítimas portadoras dessas condições. Práticas como de crianças largadas nas ruas, conventos e igrejas eram comuns na Europa no século XVII e espontaneamente copiadas no Brasil. Estas crianças abandonadas dificilmente resistiam por causa da fome, sede e frio, além desses fatores fisiológicos também permaneciam sujeitas aos fatores ambientais, exemplo comum relatado em notas históricas eram de que bebês apareciam geralmente engolidos por cães famintos, degradando ainda mais a história desse acolhimento no Brasil. No entanto, logo no século seguinte o país principiou a se sensibilizar pelas questões referentes à mobilização e direitos com a criação da “roda dos expostos” em suas principais capitais na época: inicialmente em Salvador, e mais adiante, no Rio de Janeiro, onde também no século XIX houve a mesma mobilização em São Paulo (RODRIGUES, 2008). A repercussão foi tão positiva que se apoiava na ideia de que foi a partir destes eventos que seria dado início a institucionalização dos cuidados dos deficientes que até o período era somente de responsabilidade dos religiosos. “O Hospital Juliano Moreira em Salvador, Bahia, fundado em 1874 é considerado como a elementar instituição para atendimento às pessoas com deficiência mental”. Apesar dos avanços, esse prestígio no Brasil veio de forma tardia em relação aos demais países do mundo, quem sabe seja por conta desse atraso que a conjuntura atual no país ainda não esteja sendo conduzida de forma paralelamente eficaz em relação às necessidades reais desse público. A confirmação do descaso se torna maior porque mesmo após o surgimento desse atendimento, aproveita o escrito na Constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I, a privação do direito político do incapacitado físico ou 12 moral, especificando legitimamente sua desigualdade em relação às pessoas normais em seu artigo 8º, item um (RODRIGUES, 2008, p. 16). Direito este que se contraria em relação aos interesses populares que estavam germinando na época. Até por volta de 1930, atrelada aos pressupostos higienistas, a administração exigiu que todas as crianças tivessem nas suas escolas e moradas orientações quanto à higienização pessoal. Tais atuações aconteciam nos grandes núcleos, onde Ulysses Pernambucano de Melo Sobrinho foi um dos primeiros a estudar essa área “criando um à equipe multidisciplinar para trabalhar com as crianças com deficiência” (RODRIGUES, 2008, p.16) que manifesta seu interesse em enfatizar a importância da obrigação do atendimento médico pedagógico nessas instituições. Por conta desses ideais foi criado em 1903 o Pavilhão Bourneville, principal escola de atendimento a estudantes considerados anormais e mais tarde a construção de outro pavilhão no Hospício de Juquery (RODRIGUES, 2008). A educação que até a ocasião era envolvida com a medicina foi sendo trocada por outras áreas como a da psicologia e pedagogia. Era o início do fim da relação da medicina com a política educacional no país. No início da República, o país passou por um procedimento de popularização das escolas primarias, trocando a Educação Tradicional pela “Escola Nova”. A nova concepção tinha como propósitos a modificação social por meio da pesquisa e do estímulo ao pensamento, onde a criança podia livremente procurar o conhecimento através das experimentações. Esse ideal consentiu avanços no campo da Psicologia da Educação, por meio de avaliações onde eram mensurados os níveis do quociente de inteligência (Q.I) para identificar as crianças que tinham algum tipo de deficiência. Esse movimento “escola novista” na educação brasileira acabou estimulando não somente a busca do conhecimento, mas também a eliminação dos deficientes ao acesso a essa nova tendência, pois muitas escolas públicas da rede regular não apresentavam suporte qualificado para esse tipo de atendimento. Até a metade do século XX, o acolhimento educacional voltada para a pessoa com deficiência se restringia apenas as escolas especiais sustentadas pela própria sociedade ou em salas especiais com diferentes graus de deficiência mental nas escolas públicas, sem nenhuma avaliação clara que classificasse os graus da deficiência ou mesmo particularização das necessidades individuais. Essas escolas tinham critérios de seleção precários, tendo como único pretexto de justificação para 13 a separação de estudantes normais dos deficientes, o desempenho escolar ruim destes em relação aqueles. Os critérios de seleção eram indefinidos, baseados em execução escolar ruim. Para exemplificar o texto acima: em 1949, havia cerca de 40 estabelecimentos de ensino para pessoas com deficiência mental no país. Desses serviços, 27 estavam nas escolas públicas e os demais eram instituições particulares ou beneficentes. Em 1959, o número de instituições para pessoas com deficiência era de 190 e, destas, 77% eram públicas (RODRIGUES, 2008, p. 17). Em 1960, com o aumento da obrigação de atendimento para crianças com deficiência, acresceu também o número de instituições filantrópicas que cuidavam desse tipode população, pois os estabelecimentos do sistema público não davam conta de tanta pendência. A APAE é um exemplo dessas instituições. Por “volta da mesma década, cria-se o movimento sobre educação popular ou educação para todos”, (Rodrigues, 2008, p. 15) expandindo o direito dos estudantes deficientes a se matricular nas salas populares. Essa nova tendência acarretou um cenário de fracasso e egressão escolar em todo o sistema, pois não havia tido uma estruturação do ensino para a nova realidade. Esse fato fez com que a educação brasileira protegesse seus fracassos, culpando as crianças pelas repetências, distinguindo, assim, a deficiência mental escolar, ou seja, a incapacidade das escolas brasileiras de alargarem seu ensino e reconhecer suas falhas. Foi por essa razão que começou a surgir à ideia de classes especiais nas escolas públicas como meio para resolver esse problema. Esse quadro acabou referendando que “a consequência do fracasso escolar estava na criança, uma vez que o grande número de repetências não significava que o indivíduo adulto era improdutivo”. (RODRIGUES, 2008, p. 18). Ainda que fossem incompetentes para aprender o que a escola tentava ensinar, trabalhavam, casavam-se etc. Caracterizava-se, então, como deficiência mental escolar. Em 1970 havia cerca de 800 estabelecimentos de ensino especial no Brasil e logo depois, em 1973, é criado o Centro Nacional de Educação Especial (RODRIGUES, 2008, p. 19). Em junho de 1973, é criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), o primeiro órgão oficial para definir a política de Educação Especial no país, ainda que houvesse nos seus planos uma tendência em privilegiar a iniciativa privada, marcadamente 14 assistencialista, em detrimento dos serviços públicos de ensino especial. (RODRIGUES, 2008, p. 19). Mais adiante, em 1986, é criada a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE) que traz como desígnio coordenar as ações em Educação Especial. Em 1987, no Estado de São Paulo, as Diretrizes da Educação Especial da Secretaria de Educação sugeria que “[...] o estudante excepcional deve ser agregado no processo educacional comum para que possa aproveitar, da melhor maneira possível, das oportunidades educacionais apresentadas aos estudantes em geral” (RODRIGUES, 2008, p. 28). O que se desejava era a transferência da criança especial das salas do ensino comum para as salas do ensino especial, diferenciando, assim, a atuação do sistema como segregativa e exclusiva. Em meio a essa segregação existia alguns meios de avaliação pouco eficazes para detectar se a criança continuava no ensino regular ou iria para o ensino especial. Segundo Rodrigues (2008), a forma de isolamento era baseada primeiramente pela avaliação docente, ou seja, restrição da criança pelo professor durante os primeiros meses. Depois de detectada sua inabilidade em relação ao aprendizado era dirigida para a avaliação médica e só assim, atestada sua deficiência, era colocada em salas especiais com oportunidades mínimas de retorno para a sua sala anterior. O que era observado, no entanto, era a retirada de crianças do ensino regular, encaminhando-as para o ensino especial. Nessa época, a condução da escola comum para os serviços especiais decidia o azimute para a segregação e a exclusão do sistema regular: a) Durante os primeiros meses, o professor faz a identificação daquelas crianças que, segundo suas crenças ou expectativas, iriam fracassar; b) Já que eram impossibilitadas, eram encaminhadas para avaliação psicológica ou médica que validava o rótulo estabelecido previamente pelo professor; c) Eram, então, colocadas nas categorias especiais, com a chance mínima de regresso ao sistema escolar regular (RODRIGUES, 2008, p. 25). O estudante, então, era visto como culpado pelo problema que era do próprio sistema de ensino, e não sendo o satisfatório, as avaliações médicas eram muitas vezes feitas por profissionais fora da norma educacional, não levando em consideração o histórico escolar do estudante (avaliação descontextualizada). Esse método era frequente como forma de disfarçar o ensino precário do sistema regular que não conseguia lidar com as diferenças. Havia ainda outro fator que 15 entusiasmava nos resultados negativos, o baixo nível socioeconômico dessas crianças (RODRIGUES, 2008, p. 25). Em 1988, com promulgação da nova Constituição e, consequente, o princípio da democracia, a educação brasileira teve amplos avanços constitucionais em relação a essa área da educação especial. Nela é delimitado que “a educação é direito de todos, garantindo atendimento educacional particularizado aos portadores de deficiência, preferencialmente na escola regular”. (RODRIGUES, 2008, p. 19). Um ano depois, em 1989, com a Lei Federal 7853 – que institui a tutela jurisdicional de empenhos coletivos ou difusos das pessoas com deficiência, disciplina mediante a ação do Ministério Público e define crimes em seu item que fala sobre Educação, decide por lei que a criança deficiente terá o direito a oferta de ensino obrigatório e gratuito em estabelecimentos públicos e privados, sendo estimado um crime sem justa causa a recusa ou suspensão dessa criança no ato da matricula ou durante o ano letivo. Apesar da grande conquista constitucional, em 1990, com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o avanço da defesa dos direitos das crianças com deficiência ficaram mais visíveis na sociedade, como por exemplo, a garantia do atendimento especial nas redes de ensino regular junto com as diferentes crianças normais (RODRIGUES, 2008, p. 28). Com a aprovação de mais uma lei em 1994, conhecida como a Declaração de Salamanca, 80 países, inclusive o Brasil, se empenharam em garantir meios de combate à discriminação por meio do amparo das crianças na rede regular de ensino, tornando assim, a escola, um ambiente mais inclusivo (RODRIGUES, 2008, p. 29). De acordo com Rodrigues (2008, p. 12): Em 1994, dirigentes de mais de oitenta países se reuniram na Espanha, inclusive do Brasil, e assinaram a Declaração de Salamanca, um dos mais importantes documentos de compromisso de garantia de direitos educacionais. Ela proclama as escolas regulares inclusivas como o meio mais eficaz de combate à discriminação, determinando que as escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais e emocionais. Em 1996, a Lei Federal 9394/96 que estabelece as diretrizes educacionais existentes no país fortalece a ideia do atendimento específico nas escolas da rede regular de ensino. (RODRIGUES, 2008, p. 29) 16 Em 1988, o Ministério da Educação (MEC) lança adaptações aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), com intenção de pôr em prática muitas das leis anteriormente publicadas. Mas foi em 2001 que o MEC publica os (PCN’s) específicos para os deficientes na Educação Básica. Ultimamente, o atendimento das pessoas deficientes não é suficiente para a pendência, no máximo 40% dessa população têm direito a um atendimento especializado, o remanescente ainda se encontra a mercê de uma legislação falha e sem amplos projetos. Conforme o Censo escolar do ano de 2006, a locação de estudantes deficientes nas escolas da rede regular aumentou de 13% no ano de 1988 para 46,6% no ano de 2006. Devido a esse aumento as instituições filantrópicas passaram de comunitárias para terem alcance nas esferas municipais, estaduais e até federais, beneficiando mais ainda a questão do acolhimento especial e contribuindo de forma relevantepara a inclusão dos deficientes no sistema regular de ensino, ou seja, essa nova realidade desenvolveu parâmetros que auxiliaram no progresso do atendimento especial dentro das escolas regulares. Rodrigues, (2008, p. 27) assevera que: A situação atual da Educação Especial dirige para a inclusão como um avanço, pois em vez de focalizar a deficiência na pessoa, ressalta o ensino e a escola; busca formas e qualidades de aprendizagem, em vez de procurar no estudante a origem do problema. E o resultado desta nova visão é: A escola deve municiar recursos e apoios pedagógicos para que o estudante obtenha sucesso escolar; ao invés do estudante ajustar-se aos padrões de “normalidade” para aprender, a escola deve ajustar-se à “diversidade” dos seus estudantes. No mesmo ano, mais uma pesquisa em relação à Educação Básica evidencia que os deficientes trouxeram um crescimento satisfatório em relação à participação das matriculas nas escolas regulares. Desse conjunto foram 375.488 matriculas para escolas especiais para 325.136 em escolas comuns, confirmando de fato esse progresso na educação especial brasileira. Houve ainda nessa mesma época 100% da inclusão de estudantes superdotados no sistema regular de ensino. A situação da Educação Especial no Brasil é quase sempre inclusiva, pois ao invés de focar a deficiência na pessoa, destaca o ensino e a escola, busca novos meios de aprendizado em vez de procurar no estudante a origem do problema. 17 A implicação desta nova visão é de que a escola deve prover recursos e apoios pedagógicos para que o estudante obtenha sucesso escolar, ou seja, ao invés do estudante adequar-se aos padrões de “normalidade” para estudar, a escola deve ajustar-se à “diversidade” dos seus estudantes, porque o compromisso da escola inclusiva é promover mudança de atitudes discriminatórias, no qual ela precisará incentivar a superação desses preconceitos que levam as pessoas a apresentarem atitudes negativas em relação aos seus estudantes com deficiência. Outro ponto importante levado em importância segundo Rodrigues (2008), é a visão docente em relação aos estudantes deficientes e a sua forma de ensino. Valorizar as diferenças, ser diferente e único é uma qualidade de todo ser humano. Abaixo alguns exemplos para facilitar a melhor compreensão segundo as ideias de (RODRIGUES, 2008): Descobrir e valorizar as potencialidades, pois cada um tem capacidades próprias e estas devem ser descobertas, proclamadas, cultivadas e exploradas; Valorizar o cooperativismo, promovendo a solidariedade entre crianças com deficiência e seus colegas. O estudante sem deficiência aprende a auxiliar alguém em suas reais necessidades e isto diminui tabus, mitos e preconceitos; Mudar sua metodologia, individualizar o ensino, trabalhar de forma diversificada, avaliar permanente e qualitativamente; oferecer, quando necessário, serviços de apoio para superar as dificuldades individuais para estudantes que necessitam de utilizar outras modalidades de serviços tais como: reforço, professor itinerante, sala de recursos, desde que associados ao que está aprendendo na sala regular. Tipos de Deficiências A terminologia “deficiência” vem da lesão ou anormalidade de alguma estrutura que compõe o conjunto de funções fisiológicas, intelectuais e anatômicas do ser humano. Segundo o Relatório Mundial Sobre a Deficiência (2012, p. 4) trata-se de uma condição “complexa, dinâmica, multidimensional e 18 questionada”. Por vários anos milhares de deficientes e pesquisadores pesquisaram os meios que pudessem melhor amenizar esse problema. A procura por uma qualidade melhor de vida fez com que os estudos transitassem de uma realidade individual e médica para uma realidade estrutural e social. Esse saldo influenciou bastante no surgimento do termo “acessibilidade”, importante instrumento de integração e universalização dos direitos civis e constitucionais. A “incapacidade” é outro termo bastante usado quando se fala em deficiência, pois se trata de limitações ou restrições para se realizar alguma atividade, conglomerando, assim, tanto os aspectos negativos como também os fatores contextuais que dificultam sua interação ambiental e social (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A DEFICIÊNCA, 2014). Quanto ao espaço, este deve ser acessível em relação às deficiências predominantes no meio que se encontram. Trata-se de demolir as barreiras que impedem a inclusão e bloqueiam o progresso da integração. (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A DEFICIÊNCIA, 2012). Vejamos alguns exemplos: Falta de intérprete de língua dos sinais para os deficientes auditivos; Ausência de elevador ou banheiros acessíveis para os deficientes físicos cadeirantes; Carência de computadores com softwares de leitura de tela para os deficientes visuais. Umas das causas das deficiências, segundo a Organização Mundial de Saúde são as disparidades sociais e a extrema pobreza. A falta de água potável, saneamento, nutrição, trabalho e atendimento à saúde são fatores que cooperam para o surgimento de mais casos. A necessidade de políticas públicas que acolham as necessidades básicas de moradia, trabalho e saúde são importantes para a diminuição de incidentes. Países com extrema pobreza como a Índia e China são mais propícios ao aparecimento de anomalias genéticas, fato este comprovado por sua situação socioeconômica e política. A prevenção dos problemas de saúde associadas à deficiência é uma questão de desenvolvimento. A atenção a fatores ambientais – incluindo 19 nutrição, doenças passíveis de prevenção, água potável e saneamento, segurança nas estradas e nos locais de trabalho – podem reduzir enormemente a incidência dos problemas de saúde que geram deficiência. (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A DEFICIENCIA, 2012, p. 8). Enfim, a deficiência é uma questão de desenvolvimento, devido à sua afinidade bidirecional com a pobreza: a deficiência pode somar o risco de pobreza, e a pobreza pode aumentar o risco de deficiência (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A DEFICIENCIA, 2012, p. 10). A ampliação dos índices pode levar a piorar a condição socioeconômica do país por meio de despesas para o tratamento das pessoas vítimas desse problema. Um estudo realizado em 56 países em desenvolvimento revelou que os mais pobres exibiam um quadro de saúde pior do que os mais ricos (82). A pobreza pode levar ao surgimento de problemas de saúde associados a deficiência, inclusive através de: baixo peso ao nascimento, desnutrição (83,84), falta de água potável ou saneamento adequado, condições inseguras de trabalho e de vida, e lesões (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A DEFICIÊNCIA, 2012, p. 11). A deficiência não precisa ser vista como algo homogêneo, pois “as pessoas com deficiência são distintas e heterogêneas”. As generalizações sobre “incapacidades” ou sobre “pessoas com deficiência” devem ser banidas do pensamento humano, pois cada um, independente da categoria em que se encontre, tem diferenças de gênero, idade, status socioeconômico, sexualidade, etnia, ou herança cultural. (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A DEFICIENCIA, 2012). Um enfoque de saúde pública distingue três tipos de prevenção que ajudam na redução e até erradicação de alguns casos de doenças que originam a deficiência, exemplo de doença desse tipo foi a poliomielite, erradicada nas Américas em 1994, tendo seu último caso no Brasil no ano de 1990. Poliomielite: é uma doença viral que pode afetar os nervos e levar à paralisia parcial ou total. Prevenção Primária: dispõe deações que evitem o problema do meio antes do seu surgimento. Incluindo educação para a saúde e proteção específica; 20 Prevenção Secundária: Depois de detectado o problema ainda em estágio inicial, faz-se necessário tratamento específico dos casos detectados e a conscientização dos demais para que não haja a difusão de novos casos; Prevenção Terciária: Ações que buscam diminuir impactos mais agravantes de doenças já detectadas no meio, reduzindo suas complicações. A pessoa pode ser portadora de uma única deficiência ou de deficiência múltipla (duas ou mais deficiências). Todavia, essas deficiências são divididas em cinco conjuntos distintos: deficiência visual; deficiência mental; deficiência física; deficiência auditiva; deficiência múltipla. Segundo o Decreto nº 3.298 (BRASIL, 1999), deficiência visual pode ser qualquer problema que afete a região da visão, desde uma baixa visão até mesmo uma cegueira. A baixa visão é a acuidade visual que fica entre 0,03 e 0,05, já a cegueira é a acuidade visual que não ultrapassa a 0,05 no menor olho em sua melhor visão. Ela pode ser caracterizada pela perda parcial ou total da capacidade de enxergar, na qual afeta funções como possibilidade de perceber a cor, tamanho, distância, forma, posição ou movimento. Pode incidir no nascimento ou adquirida no decorrer da vida, onde muitas vezes devido ao problema ocorre extirpação do globo ocular e a necessidade do uso de prótese em um ou ambos os olhos. Entende-se que por a visão ser um dos órgãos dos sentidos, ela nos ajuda a compreender o mundo a nossa volta por meio das imagens e elementos visuais que dão uma definição através da chamada “comunicação visual”. Sobre isto Bruno e Da Mota, (2001, p.29) esclarecem que: A formação da imagem visual depende de uma rede integrada, de estrutura complexa, da qual os olhos são apenas uma parte desse sistema, envolvendo aspectos fisiológicos, função sensório-motora, perceptiva e psicológica. A capacidade de ver e interpretar as imagens visuais depende fundamentalmente da função cerebral de receber, codificar, selecionar, armazenar e associar essas imagens a outras experiências anteriores. (BRUNO & DA MOTA, 2001, p. 29). As perdas funcionais da visão alteram muito em relação ao seu grau de 21 deficiência podendo ser classificado desde uma visão baixa até mesmo uma cegueira. Baixa Visão... [...] baixa acuidade visual significativa, redução importante do campo visual, alterações corticais e/ou de sensibilidade aos contrastes que interferem ou limitam o desempenho visual do indivíduo. A perda da função visual pode ser em nível severo, moderado ou leve, podendo ser influenciada também por fatores ambientais inadequados... [...] Cegueira... [...] (acuidade visual igual ou menor que 20/200 ou campo visual inferior a 20° no menor olho), utilizada apenas para fins sociais, pois não revelam o potencial visual útil para execução de tarefas (BRUNO & DA MOTA, 2001, p.. 33). A deficiência visual conceituada por meio da abordagem educacional mostra que a mesma proporciona diferentes respostas quanto ao rendimento, por isso os especialistas destacam a necessidade de uma avaliação funcional para uma criteriosa observação das capacidades de cada estudante pertencente a esse grupo. Em suma tendo como embasamento nesses critérios avaliativos mais uma vez o grupo se divide em duas gravidades: pessoas com baixa visão e cegas (BRUNO & DA MOTA, 2001). Pessoas com baixa visão – aquelas que apresentam “desde condições de indicar projeção de luz até o grau em que a redução da acuidade visual interfere ou limita seu desempenho”. Seu processo educativo se desenvolverá, principalmente, por meios visuais, ainda que com a utilização de recursos específicos. Cegas – pessoas que apresentam “desde ausência total de visão até a perda da projeção de luz”. O processo de aprendizagem se fará através dos sentidos remanescentes (tato, audição, olfato, paladar), utilizando o Sistema Braille, como principal meio de comunicação escrita. (BRUNO & DA MOTA, 2001, p. 34-35). Em relação às causas da deficiência ela pode ser dividida como congênitas ou adquiridas. As causas congênitas geram malformações oculares, glaucoma congênita, catarata congênita e amaurose congênita de Leber. As causas obtidas provocam traumas oculares, catarata, degeneração senil de mácula, glaucoma e alterações relacionadas à hipertensão arterial ou diabetes. Essa variedade de causas faz com que o grupo se evidência por possuir diferentes graus de perda da acuidade visual, ou seja, se distinguem por constituir um grupo não homogêneo. As patologias também podem acarretar a baixa visão, como: a atrofia do nervo óptico, alta miopia, degeneração macular, Síndrome de URSHER, doença de Stargardt e outras retinopatias. De acordo com os autores (Bruno & da Mota, 2001) seus sintomas mais comuns são: tonturas, náuseas, dor de cabeça, sensibilidade excessiva à luz (fotofobia), visão dupla e embaçada (p. 38). Doença de Stargardt: é a forma mais comum de degeneração macular juvenil. 22 Diante desses vários fatores é de responsabilidade da escola: Aplicar testes para triagem de acuidade visual de pré-escolares para verificação da acuidade visual; Encaminhar a criança com urgência ao oftalmologista, quando imprescindível; Adequar orientação quanto à higiene e à precaução dos problemas oculares; Buscar junto aos pais e ou comunidade soluções para o melhor atendimento da criança. (BRUNO & DA MOTA, 2001, p. 42). Os testes mais usados na avaliação da acuidade visual nas escolas são bem simples e eficazes, conhecidos como teste da “Escala Optométrica de Snellen” ou “teste do E”. O emprego de recursos ópticos também ajuda na melhoria da nitidez das imagens promovendo o processo de ensino – aprendizagem do estudante acometido pela deficiência visual, basta apenas saber qual é a deficiência visual específica para, de tal modo, detectar qual o melhor recurso óptico a ser utilizado. O Programa de Habilitação de Recursos Humanos do Ensino Fundamental para Deficientes Visual confeccionado pelo Ministério da Educação solicita estratégias pedagógicas, recursos didáticos e orientações que auxiliam os professores na questão do acolhimento especializado para esse tipo de deficiência. (BRUNO & DA MOTA, 2001, p. 9). Deficiência Auditiva A deficiência auditiva é qualificada pela perda da audição. A ausência dessa função desampara a capacidade de aprendizado do indivíduo, pois os estímulos auditivos são imprescindíveis para o desenvolvimento do potencial cognitivo, linguístico, sócio afetivo e político cultural. Ela consiste na perda parcial ou total da capacidade de ouvir e se diferencia da surdez por não ser congênita, ou seja, não ser uma deficiência adquirida por meio de lesões ou doenças. Dependendo do nível da deficiência auditiva há a necessidade da cirurgia ou de uso de aparelhos com intuito de minimizar ou até mesmo corrigir o problema. De acordo com o manual de orientação de práticas interventivas no contexto educacional para professores do ensino fundamental “existem dois tipos de problemas auditivos, a primeira afeta o ouvido externo ou médio e provoca 23 dificuldades auditivas condutivas, normalmente tratáveis e curáveis. O outro tipo envolve o ouvido interno ou o nervo auditivo e chama-se surdez neurossensorial” (Da Silva, 2008, p. 5), ou seja, o surdo é o indivíduo cuja audição não funciona, enquanto o parcialmente surdo é aquele que a audição, ainda que deficiente, é funcional. Tudo que cause a surdez,segundo Maspetiol (apud Costa, 1994) podem ser hereditárias ou adquiridas. As adquiridas podem surgir antes (pré-natal), durante (perinatal) e após a gestação (pós-natal). Diferentes fatores, como o ambiente, contribuem ainda para a proliferação dessa deficiência, por meio das “infecções, drogas e traumatismos cranianos” ((DA SILVA, 2008) p. 6). Diante disso, educandos surdos são diferenciados dos demais educandos com a mesma deficiência pelo motivo de nascerem com esse problema e sofrerem desde cedo com a dificuldade de integração nas escolas comuns. Essa realidade unida à falta de estímulos por parte dos professores influencia inteiramente no desenvolvimento contrário da criança em relação aos seus potenciais: cognitivos, linguísticos, político cultural e afetivo social, geralmente. A perda auditiva é mensurada por meio de uma unidade de medida sonora chamado decibel. Esse decibel pode classificar o grau da perda auditiva em leve, moderada ou severa. O portador de surdez leve se diferencia por ter uma perda auditiva de até 40 decibéis, a moderada a perda fica entre 40 a 60 decibéis, a severa entre setenta e noventa decibéis e a profunda por ter uma perda de mais de 90 decibéis. Quanto às convergências subjacentes o programa de formação continuada a distância de professores para o atendimento educacional especializado para pessoa com surdez “centram-se ora na inserção desses estudantes na escola comum e/ou em suas classes especiais, ora na escola especial de surdos” (DAMÁZIO, 2007, p. 19). Em meio a essa educação, tem três tendências educacionais que de alguma forma cogitam a questão da comunicação entre esses estudantes e o seu meio: a oralista, a comunicação total e o bilinguismo. Desses três métodos de ensino apenas a utilização da abordagem bilíngue foi considerada adequada para a ampliação da ação educacional das pessoas surdas, pois tende capacitá-los para a utilização de duas línguas, a Língua dos Sinais e a língua do grupo ouvinte, em seu cotidiano escolar e na vida social. Os outros 24 métodos, oralista e de comunicação visual, recusam a língua natural das pessoas surdas, interferindo espantosamente no desenvolvimento dos aspectos que contribuem para o seu aprendizado. A terapêutica dessa deficiência evolve desenvolvimento intelectual e a integração social do portador de deficiência, tendo em vista não a simples recuperação da audição por meio de equipamentos, entretanto, também toda uma técnica de ensino com professores, psicopedagogos e outros recursos que procuram o retorno paralelo dos sentidos entre linguagem e escrita. Distúrbios estes que arrebentam o retardo no aproveitamento escolar e a consequente desqualificação do ensino. Deficiência Física No Decreto nº 3.298 (Brasil, 1999), a deficiência física é a alteração em qualquer dos segmentos do corpo humano que contribui para a dificuldade funcional do ser humano. Essa alteração pode ser completa ou parcial, sendo também eliminado desse conceito deformidades que não comprometam a função física do indivíduo. No Art. 4º anuncia que: É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: deficiência física alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções” (BRASIL, 1999). Segundo o livro de “Formação Continuada a Distância de Professores para o Atendimento Educacional Especializado em Deficiência Física” (Schirmer; Browning & Bersch, 2007) cita em um dos seus capítulos um conceito tirado do mesmo Decreto especificado anteriormente: A deficiência física se refere ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema Osteoarticular, o Sistema Muscular e o Sistema Nervoso. As doenças ou lesões que afetam quaisquer desses sistemas, isoladamente ou em conjunto, podem produzir grandes limitações físicas de grau e gravidades variáveis, segundo os segmentos corporais afetados e o tipo de lesão ocorrida (BRASIL, 2006, p. 28 apud, SCHIRMER; BROWNING & BERSCH, 2007, p. 23). A deficiência física também pode ser avaliada como a perda das funções 25 motoras, onde muitas das vezes esta perca é relacionada com problemas pertinentes ao Sistema Nervoso (SN). Este, por sua vez, é responsável pelo desempenho motor do corpo em resposta aos estímulos vindos dos órgãos sensoriais. Dependendo da forma que os membros são afetados pela paralisia, a deficiência pode ser classificada (Teixeira, 2010): Paraplegia: Perda total das funções motoras dos membros inferiores; Paraparesia: Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores; Monoplegia: Perda total das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior); Monoparesia: Perda parcial das funções motoras de um só membro (inferior ou posterior); Tetraplegia: Perda total das funções motoras dos membros inferiores e superiores; Tetraparesia: Perca parcial das funções motoras, os membros inferiores e superiores; Triplegia: Perda total das funções motoras em três membros; Triparesia: Perda parcial das funções motoras em três membros; Hemiplegia: Perda total das funções motoras do corpo. (direito, esquerdo); Hemiparesia: Perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo. (direito e esquerdo); Amputação: Perda total ou parcial de um membro ou segmento de um membro; Paralisia Cerebral: Lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo como consequência alterações psicomotoras, podendo ou não causar deficiência mental. De acordo com Teixeira (2010), a deficiência física pode ser avaliada leve, moderada ou grave. Em relação a sua natureza ela pode ser considerada um distúrbio ortopédico (de origem muscular, óssea e/ou articular) ou um distúrbio neurológico (refere-se à deterioração ou lesão do sistema nervoso). Prosseguindo a classificação, ela pode ser dividida em congênita ou adquirida, aguda ou crônica, permanente ou temporária e progressiva ou não progressiva e suas causas são várias podendo ser ligadas a fatores genéticos ou acidentes. Os fatores genéticos são: Causas pré-natais, ou seja, problemas durante a gestação; 26 Perinatais, ou seja, problemas durante o parto relacionados à falta de oxigenação entre mãe e filho; Pós-natais, ou seja, problemas após o parto, relacionados a algum tipo de infecção. Entre os fatores de risco unidos ao ambiente está a “violência urbana, uso de drogas, incidentes desportivos, sedentarismo, acidentes de trabalho, epidemias/endemias, tabagismo, agentes tóxicos, maus hábitos alimentares e falta de saneamento básico” (TEIXEIRA, 2010, p.2). As mutilações e as sequelas causadas também são consideradas fatores acidentais do meio para o surgimento da deficiência física, caso atingirem regiões do encéfalo, da espinha ou do músculo. Existiu ainda outro fator ambiental que contribuiu para o aparecimento da deficiência física, sobretudo em países não desenvolvidos, como o Brasil. A poliomielite ou paralisia infantil é conhecida por atingir o sistema nervoso central, destruindo seus neurônios motores, induzindo a fraqueza muscular e a paralisia aguda. A paralisia da região vai depender dosneurônios que foram atingidos, mas habitualmente os casos mais frequentes foram em regiões que atingiam os membros inferiores. Recentemente erradicada por conta das campanhas de vacinação e a tomada de consciência da população em relação à vacina (TEIXEIRA, 2010). Deficiência Múltipla A deficiência múltipla é considerada pela presença de mais de uma deficiência no mesmo indivíduo. Esse tipo de deficiência por comprometer mais de uma funcionalidade solicita um trabalho de acompanhamento mais complexo e especializado, tendo assim que ser acompanhado por profissionais mais qualificados com o problema, preferencialmente em um estabelecimento onde haja mais aparelhamentos e serviços adequados a situação. No livro Saberes e Práticas da Inclusão: dificuldades acentuadas de aprendizagem – Deficiência múltipla (Godói, 2006), o termo deficiência múltipla tem permanecido e empregado, com frequência, para caracterizar o conjunto de duas ou mais deficiências associadas, de ordem física, sensorial, mental, emocional ou de 27 comportamento social. A mesma autora enfatiza que esse conceito não é assinalado pelo somatório das deficiências, mas pelo nível de desenvolvimento, de possibilidades funcionais, de comunicação, de interação social e de aprendizagem que eles ocasionam em relação à educação dessas pessoas. Nesse mesmo livro Godói (2006, p. 24) assegura ainda que: “as crianças com múltipla deficiência geralmente apresentam dificuldade de comunicar seus pensamentos, desejos, intenções”. A maior parte desses estudantes não apresenta linguagem verbal, porém podendo comunicar-se por gestos, olhar, movimentos corporais mínimos, sinais, objetos e símbolos. O autor ainda assevera que: Os estudantes com deficiência múltipla podem apresentar alterações expressivas no processo de desenvolvimento, da aprendizagem e adaptação social têm variadas potencialidades, possibilidades funcionais e necessidades sensíveis que precisam ser compreendidas e consideradas. (GODÓI, 2006, p. 13). Mas para Fenapaes (2007, p. 22 apud Silva, 2011) muitos aspectos influenciam direta e indiretamente o desenvolvimento da pessoa com deficiência múltipla, tais como: A atitude de aceitação por parte da família; A intervenção adequada para atuar nas causas e nos efeitos das deficiências; A oportunidade de participação e integração da pessoa ao ambiente físico e social; O apoio adequado, com a duração necessária, para melhorar o funcionamento da pessoa no ambiente; O incentivo à autonomia e à criatividade; as atitudes favoráveis à formação do autoconceito e da autoimagem positivos. Quanto à associação das deficiências em geral em relação à deficiência múltipla, segue-se (Silva, 2011): FÍSICA E PSÍQUICA – Deficiência física associada à deficiência intelectual e Deficiência física associada a transtorno mental; SENSORIAL E PSÍQUICA – Deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência intelectual, deficiência visual ou cegueira associada à deficiência intelectual e deficiência auditiva ou surdez associada a transtorno mental; 28 SENSORIAL E FÍSICA – Deficiência auditiva ou surdez associada à deficiência física e Deficiência visual ou cegueira associada à deficiência física; FÍSICA, PSÍQUICA E SENSORIAL – Deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência intelectual, deficiência física associada à deficiência auditiva ou surdez e à deficiência intelectual e deficiência física associada à deficiência visual ou cegueira e à deficiência auditiva ou surdez. Segundo a autora algumas doenças estão unidas a esse tipo de deficiência e estas acarretam impactos relevantes nas pessoas afetadas. Em relação a esses impactos, eles proporcionam uma problemática de caráter tanto funcional como social, interferindo diretamente na qualidade de vida das vítimas. Deficiência mental O Ministério da Educação (Gomes; Fernandes e Batista, 2007), diz em um de seus livros que trata do Atendimento Educacional Especializado que nesse tipo de deficiência reside “um impasse em relação a seu ensino na escola comum e para definição do seu atendimento especializado, pela complexidade do seu conceito e pela grande quantidade e variedades de abordagens do mesmo” (p. 14). O diagnóstico na deficiência mental não se esclarece por uma causa orgânica, nem tão pouco pela inteligência, sua quantidade, supostas categorias e tipos. Tanto as teorias psicológicas desenvolvimentistas, como as de caráter sociológico, antropológico têm posições assumidas diante da condição mental das pessoas, mas ainda assim, não se consegue fechar um conceito único que dê conta dessa intrincada condição (GOMES; FERNANDES & BATISTA, 2007, p. 14). No Decreto nº 3.298 (Brasil, 1999), a deficiência mental é considerada o funcionamento intelectual abaixo do normal, ou seja, inferior à média, afetando áreas responsáveis pelas diversas habilidades necessárias para o cotidiano pessoal e social. Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: IV - deficiência mental – funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tais como: a) comunicação; b) cuidado pessoal; c) habilidades sociais; d) utilização dos recursos da comunidade; (Redação dada 29 pelo Decreto nº 5.296, de 2004); e) saúde e segurança; f) habilidades acadêmicas; g) lazer; e h) trabalho (BRASIL, 1999). Assim sendo, Deficiência Mental é o significado que se dá aos problemas conexos com o cérebro e levam a pessoa a ter um baixo rendimento nos trabalhos cotidianos, entretanto, essa deficiência não afeta outras regiões do corpo ou áreas cerebrais. Conforme a OMS (Organização Mundial da Saúde) ao especificá-la, escolhe uma definição baseada no coeficiente de inteligência classificando-a entre leve, moderada e profunda, conforme o comprometimento. Perante desses critérios essas definições são assim, classificadas (GOMES; FERNANDES & BATISTA, 2007): Leve: são aquelas que já possuem a capacidade de realizar tarefas mais complexas e podem se integrar as classes comuns, porém com a supervisão de outra pessoa. Dificilmente dominam técnicas como a leitura, a escrita e o cálculo; Moderada: são aquelas capazes de adquirir hábitos de autonomia pessoal e social. Possuem a mesma situação de domínio dos deficientes em estágio leve, porém com mais dificuldade na expressão e na compreensão oral, dentre outras; Profunda: são aquelas que manifestam a incapacidade total de autonomia nos trabalhos cotidianos. Por estarem em situações de entendimento grave, excepcionalmente vão possuir as habilidades necessárias para responder a um treino simples de autoajuda. Devido a essas diferenças de diagnósticos muitos profissionais utilizam um teste conhecido como “teste do coeficiente de inteligência ou Q.I”, criado por Wilhelm Stern e aperfeiçoado por Lewis Madison Terman. Este exame ainda é usado como parâmetro de classificação de muitos casos, onde trata do resultado obtido pela divisão da idade mental (I.M) pela idade cronológica (I.C) multiplicada por 100 (porcentagem). A Psicanálise ainda contribui muito nos estudos voltados para a deficiência mental porque ela abrange a relação entre as diversas patologias e os processos psíquicos de maneira inconsciente. Para Freud a deficiência mental é a limitação das funções mentais ocasionadas por algum tipo de bloqueio do pensamento durante as atividades.Já para Lacan essa deficiência se caracteriza por uma condição reservada do indivíduo em não se preocupar em querer descobrir algo, ou seja, de total recusa de ampliar o aprendizado. Mesmo ante a todos esses conceitos 30 permanece um problema de diagnosticar “entre o que constitua “doença mental” e “deficiência mental”, sobretudo no caso de crianças pequenas que pertencem à idade escolar”. (GOMES; FERNANDES & BATISTA, 2007, p. 14). A razão da deficiência mental também precisa ser tratada e pode ser causada por fatores genéticos (genes anormais), perinatais (durante a gestação embrionária) e neonatais (durante a gestação fetal), pós-natais (após o parto) ou extrínsecos (fatores ambientais ou externos como doenças e acidentes). Em relação à Intervenção Pedagógica nos encontramos com as seguintes dificuldades no desenvolvimento: psicomotor, sensorial, autônomo e social. A necessidade de um programa ajustado a sua realidade condicional é importante para que favoreça suas potencialidades. Essa dificuldade de conceituar trouxe grandes problemas para a distinção e os processos que devem ser priorizados quando se trata de acolhimento ao público acometido. Uma das dificuldades mais vistas foi à questão do preconceito, pois a falta de instruções faz com que os problemas mentais, típicos dessa deficiência, não venham a se confundir no caso com incapacidade mental, ou seja, as pessoas antes de conhecer o problema mental já vão logo desaprovando o acometido de incapaz, independente do seu grau de deficiência. As Deficiências e a Educação. Crianças e adultos deficientes têm sido vítimas da história de sua própria condição humana. Na história da educação, observamos que ambos os públicos foram excluídos das oportunidades educacionais. Só após a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), organizado pelas Nações Unidas é que se principiou a conhecer de fato a importância da inclusão das pessoas com deficiência no ambiente escolar, dando-as iguais chances de crescimento e desenvolvimento, respeitando suas limitações e necessidades. Sabe-se que esse problema está ligado inteiramente com o desenvolvimento do país. De acordo com o Relatório Mundial sobre a deficiência (2012, p. 213), apontaremos quatro das principais contribuições de inclusão que se pode fazer para o deficiente e para a sociedade: 31 A educação contribui para a formação do capital humano, sendo determinante no bem-estar e riqueza pessoal; Excluir crianças com deficiência das oportunidades educacionais e de trabalho tem altos custos econômicos e sociais. Por exemplo: adultos com deficiência tendem a ser mais pobres que os sem deficiência, mas a educação equilibra a relação; Os países não poderão alcançar as metas de educação para todo ou metas de desenvolvimento do Milênio, de universalização da educação primaria, sem garantir o acesso à educação das crianças com deficiência; Nem todos os países signatários do CPPD são capazes de cumprir com suas responsabilidades. Enfim, a educação é fundamental para todas as crianças, especialmente as com algum tipo de deficiência, pois ela é um importante instrumento de participação social, inclusive integração para o emprego e outras atividades sociais. Sabendo que a escola é responsável pela formação, mas de uma forma parcial, ou seja, não forma completamente a pessoa, mas instrui através de seus conteúdos o desenvolvimento intelectual, capacitando indivíduos em cidadãos participativos e críticos. Já os valores e personalidade a criança vai desenvolvendo de acordo com a educação que vem recebendo de sua família ou no contexto social em que vive e as pessoas com quem convive. A partir dessa reflexão entende-se que o contato direto de crianças com deficiência com as crianças sem deficiência aumenta a familiaridade e diminui o preconceito, distendendo os laços de inclusão. A inclusão, no entanto, possui dois significados em relação ao seu modelo de ensino: amplo e restrito. O primeiro destaca-se por um padrão na qual a educação pode ocorrer numa gama de cenário – como escolas e centros e salas especiais em escolas integradas, ou classes regulares em escolas de ensino normais – seguindo os princípios do “ambiente menos limitativo” (RELATÓRIO MUNDIAL SOBRE A DEFICIENCIA, 2012, p. 217). 32 Essa explicação consiste em afirmar que todas as crianças, independente do ambiente ou adaptações, precisam ter acesso a um currículo relevante a sua necessidade. O segundo modelo demarca as chamadas escolas inclusivas, onde “todas as crianças com deficiência devem ser educadas em classes normais, com colegas de idade apropriada”, ou seja, determina modificação em todo o sistema escolar, extraindo barreiras e provendo instalações que permitam a participação e o progresso dos estudantes em cenários comuns. Atividades adequadas para cada tipo de Deficiência A Educação Física surgiu da necessidade de estabelecer a ordem política, ou seja, de acordo com cada período em que a história do país se desenvolveu ia se desenvolvendo uma nova tendência. A disciplina é componente da área de ciências da saúde e tem o objetivo de expandir o social dos indivíduos que participam do universo de seus conteúdos. Ela precisa trabalhar a compreensão de corpo e movimento amparada em seus aspectos técnicos e fisiológicos, pois apesar de todo o seu reconhecimento, a sua conquista não foi completa, porque em alguns casos a prática era facultativa nas escolas. Somente em 2003, com a lei 10.793 é que a disciplina foi um pouco mais valorizada e considerada no meio escolar, pois a não obrigatoriedade de sua prática estava vinculada apenas a alguns casos. Hoje a Educação Física faz parte do conteúdo disciplinar obrigatório das escolas em geral, salvo algumas exceções (BRASIL, 2003): Art. 26 § 3º - “A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao estudante: I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis horas; II – maior de trinta anos de idade; III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; IV – amparado pelo Decreto Lei no 1.044, de 21 de outubro de 1969; V (VETADO); VI – que tenha prole” (BRASIL, 2003). Refletindo essa relação de obrigatoriedade da prática na disciplina, consolida- se cada vez mais o surgimento de leis que obriga a escola a oferecer a prática de atividades para todos os seus estudantes matriculados, ou seja, a escola tem a obrigação de adaptar-se ao novo sistema e o dever de cumprir todos os requisitos legais para o seu funcionamento, solicitando a inclusão social e a integração de todos independentes de qualquer condição física, psicológica, moral ou social, em 33 alguns casos graves à parte, onde é indispensável um atestado médico mencionando as razões da isenção de suas práticas. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), em seu livro 07, essa inclusão é atestada por meio da análise crítica na busca de superação dessa concepção. Essa abrangência ainda evolve outras dimensões como a cultura, a política, o afetivo e o social, devido a isso sua sugestão se resume a distinção entre organismo e corpo, ou seja, a relação de um eixo fisiológico em torno de um contexto sociocultural, podendo por meio dessa relação abordar conteúdos historicamente acumulados e socialmente transmitidos. Atualmente, a análise crítica e a procura desuperação dessa compreensão apontam a necessidade de que, além daqueles se aprecie também as dimensões cultural, social, política e afetiva, presentes no corpo vivo, isto é, no corpo das pessoas, as quais interagem e se movimentam como sujeitos sociais e como cidadãos, onde buscam uma compreensão que venha melhorar a contemplação que envolve a complexidade da questão. A proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais abraçou a distinção entre organismo um sistema estritamente fisiológico - e corpo – o qual se relaciona dentro de uma conjuntura sociocultural - e abordam os teores da Educação Física como procedimento de produções culturais, como conhecimentos de acordo com a história acumulados e socialmente transmitidos. Por conseguinte, a proposta presente faz entender a Educação Física como uma cultura corporal (BRASIL, 1997, p. 22; 23). Ao mesmo tempo em que a Educação Física trabalha o corpo e a cultura conglomera outros conteúdos como “o jogo, o esporte, a ginástica, a dança, e a luta”, como uma representação lúdica da cultura corporal. Trata-se de conduzir através de cada uma dessas modalidades os seus benefícios fisiológicos e psicológicos levando em consideração suas possibilidades. Entretanto, essas possibilidades devem envolver também os aspectos comunicativos, expressivos, de lazer e culturais (BRASIL, 1997): [...] a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde (BRASIL, 1997, p. 23). 34 Além de afiançar o acesso às práticas da cultura corporal, de contribuir para a edificação do caráter e de oferecer meios para a formação crítica, a Educação Física garante a inclusão social, solicitando um espaço onde todos independente das condições físicas, psicológicas e sociais possam garantir sua participação nas atividades desenvolvidas (BRASIL, 1997, p. 24). A Educação Física escolar pode sistematizar situações de ensino e aprendizagem que garantam aos estudantes o acesso a conhecimentos práticos e conceituais. Para isso é necessário mudar a ênfase na aptidão física e no rendimento padronizado que caracterizava a Educação Física, para uma concepção mais abrangente, que contemple todas as dimensões envolvidas em cada prática corporal. É fundamental também que se faça uma clara distinção entre os objetivos da Educação Física escolar e os objetivos do esporte, da dança, da ginástica e da luta, pois, embora seja uma referência, o profissionalismo não pode ser a meta almejada pela escola. A Educação Física escolar deve dar oportunidades a todos os estudantes para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os estudantes portadores de deficiências físicas não podem ser privados das aulas de Educação Física (BRASIL, 1997, p. 24). A disciplina de Educação Física deve ter obrigação não só com o desenvolvimento prático dos conteúdos, mas também com as teorias, proferindo os mesmos a Temas ou Eixos Transversais (saúde, meio ambiente, trabalho e consumo, orientação sexual e ética), dirigidos de acordo com as características observadas nos estudantes. Os conteúdos devem levar em consideração as dimensões: “corporal, cognitiva, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social” para mais à frente das técnicas, regras e táticas de ensino das modalidades, sendo necessário que o professor realize uma abordagem teórica sobre os mesmos para que o estudante venha “apreciá-los criticamente, avaliar esteticamente, analisá-los eticamente, ressignificá-los e recriá-los” (BRASIL, 1997, p. 24). Independente de qual seja o conteúdo escolhido, os procedimentos de ensino e aprendizagem devem apreciar as qualidades dos estudantes em suas dimensões (cognitiva, afetiva, corporal, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social). Sobre a sua participação nos pequenos e grandes jogos tais como: a amarelinha, o voleibol ou a dança, o estudante deve receber as devidas informações para que venha a participar e consequentemente aprender além das técnicas de execução, apreciá-los criticamente, avaliá-los eticamente, analisá-los 35 esteticamente, discutir regras e estratégias, editar seus significados e recriá- los (BRASIL, 1997, p. 24). Além de toda essa probabilidade, o ensino da Educação Física busca em seus métodos o desenvolvimento da autonomia, da cooperatividade, da participação social e da afirmação de valores e princípios democráticos. Essa nova concepção é respeitável para que seja realizado um trabalho voltado para o aprofundamento de discussões éticas e sociais durante as aulas expositivas. A área também permite diferentes vivências, onde estas podem ser contextualizadas de acordo com a realidade habitual dos estudantes ou de algum grupo específico, bastando somente que o professor deixe explícito em suas aulas à importância da não discriminação diante das manifestações apresentadas. Como a pratica da atividade física, ela pode oferecer uma diversidade de benefícios ao corpo em relação a sua segurança e rendimentos (BRASIL, 1997): A prática na Educação Física na escola poderá favorecer a autonomia dos estudantes para monitorar as próprias atividades, regulando o esforço, traçando metas, conhecendo as potencialidades e limitações e sabendo distinguir situações de trabalho corporal que podem ser prejudiciais (BRASIL, 1997, p. 24). O lazer é um direito social causado pela Educação Física sendo de suma importância para o usufruto da cidadania. Ele admite que as pessoas possam ter o acesso gratuito a atividades lúdicas e esportivas tendo em vista sua fonte legal na constituição. Essa universalização, portanto, é de caráter obrigatório e ajuda as pessoas no seu processo de construção social: convívio coletivo, valorização espacial e cultural e o mais importante, manutenção da saúde. Por muitos anos esse acesso foi negado às pessoas de baixa renda ou com algum tipo de deficiência, mas com o crescimento da área e da importância de seus benefícios, surgiram políticas que resguardaram na questão da ampliação do atendimento e do reconhecimento desse direito por parte da sociedade. Porém, diversas vivências são importantes na construção do caráter do estudante, sua socialização e reconhecimento de direitos. A construção do “eu” é um dos assuntos a serem levados em consideração na disciplina de Educação Física como meio de compreensão da existência humana em sociedade (BRASIL, 1997). 36 As informações sobre o corpo, durante seu crescimento e desenvolvimento, que são edificados concomitantemente com o desenvolvimento de atividades corporais, ao mesmo tempo em que dão elementos para o cultivo de bons hábitos de alimentação, higiene e atividade corporal e para o aumento das potencialidades corporais do indivíduo, permitem compreendê-los como direitos humanos fundamentais. A formação de hábitos de autocuidado e de construção de semelhanças interpessoais colabora para que a dimensão da sexualidade seja associada de maneira prazerosa e segura (BRASIL, 1997, p. 25). Junto com essa construção autônoma surge a obrigação de se trabalhar o problema da discriminação social. Essa conscientização tem a finalidade de não reproduzir na formação do educando relações sociais estereotipadas, procurando sempre o desenvolvimentode modelos não consumistas, não preconceituosos, não discriminatórios e de conscientização da ética democrática (BRASIL, 1997). Nos jogos, ao interagirem com os adversários, os educandos podem desenvolver o respeito mútuo, procurando participar de forma leal e não violenta (BRASIL, 1997, p. 25). Esse confronto de resultados permite a constituição do conhecimento para a capacidade de julgamento do que é certo e do que é errado, do que é justo, do que é injusto, do que deve ser feito e do que não deve ser feito, ou seja, a reflexão crítica dos acontecimentos. Finalizando, segundo os PCNs (BRASIL, 1997, p. 31) “a aula de Educação Física pode favorecer a construção de uma atitude digna e de respeito próprio por parte do deficiente e a convivência com ele pode possibilitar a construção de atitudes de solidariedade, de respeito, de aceitação, sem preconceitos”. Perante as modificações e adaptações necessárias para a prática de atividades da Educação Física na escola, Lieberman (citado por MUNSTER e ALMEIDA, 2006) indica alguns princípios que devam ser adotados pelos professores de Educação Física: incentivar que a pessoa com deficiência participe das tomadas de decisões com relação as adaptações, considerando a aceitação ou não das modificações por parte do estudante; permitir que o estudante com deficiência escolha as variáveis de adaptação e ajustes entre elas, selecionando o tipo de equipamento, estilo de ensino, as modificações de regras ou alterações no ambiente mais adequados as suas necessidades; garantir que o estudante com deficiência participe das atividades, mesmo que necessário assistência física, que pode ser 37 gradativamente retirada a medida que a necessidade for diminuindo; oferecer jogos, esportes e atividades recreativas diversificados, para crianças com ou sem deficiências; incentivar a prática de atividades coletivas sempre que possível. O professor necessita se sentir preparado, para realizar adaptações e modificações necessárias para incluir a pessoa com deficiência nas suas aulas de Educação Física. Só através do conhecimento o professor pode sentir-se preparado para tanto. Para Munster e Almeida (2006) tão importante quanto adaptar e modificar, é realizar constantes avaliações, pois, as necessidades dos estudantes podem se alterar pedindo novos ajustes. Ainda com relação às alterações, Lieberman (citado por MUNSTER e ALMEIDA, 2006) propõe quatro níveis de adaptações: instruções, espaço físico, materiais e regras: 1. Adaptações quanto às instruções: o professor dispõe de várias tecnologias e estratégias para adequar sua orientação com relação ao estudante e ao grupo. Em seguida expõe diferentes tipos de abordagem, do “menos invasivo” para o “mais invasivo”, podendo aplicar as técnicas de instrução unitariamente como modelo simples, em combinação ou associação. Oferecem como modelo, a orientação verbal (explicar verbalmente), demonstração (explicar por meio de modelos e ações demonstrativas), assistência física (assessorar ou guiar o movimento de acordo com a ação) e Brailling (conduzir o estudante a se integrar no movimento e perceber por meio do tato a execução do mesmo). 2. Adaptações quanto aos materiais: são ajustes e alterações realizadas nos materiais e equipamentos, para que possam atender as necessidades dos estudantes e deixar que tenham um melhor desempenho nas atividades propostas. Usando esses materiais adaptados para equilibrar eventuais limitações como diminuição da capacidade visual e auditiva, na mobilidade, dificuldade de preensão etc. 3. Adaptações ao espaço físico: determinadas variáveis no espaço físico podem intervir no processo de ensino-aprendizagem, essas adaptações são entendidas diante das necessidades apresentadas pelos estudantes. 4. Adaptações nas regras: diz respeito a qualquer alteração às regras originais já constituídas em uma atividade, jogo ou brincadeira, são necessárias para que os estudantes com deficiências sejam de forma efetiva incluídas nas atividades. 38 Munster (2004, citado por Munster e Almeida 2006), apresenta algumas sugestões de adaptações metodológicas quanto ao tipo de deficiência: Na deficiência visual Quanto às instruções, o professor deverá certificar-se de sempre se dirigir ao estudante chamando-o pelo nome, abreviando as ações verbalmente pra que não haja sustos, as instruções devem ser sempre verbalizadas e precisas e recorrer às demonstrações táteis, somente quando necessárias. Quanto aos materiais e equipamentos, as informações visuais devem ser trocadas por sinais auditivos como guizos, sinos ou aparelhos eletrônicos. Alvos bolas e demarcações devem ser ampliados e, no caso de baixa visão também observar diferença de cores, nitidez nos contornos e contrastes. Quanto ao espaço físico é importante que o estudante faça o reconhecimento espacial do local, diferenciação de pisos, objetos existentes no ambiente, bem como a mudança dos mesmos, cuidado com portas entreabertas e elementos suspensos ou pendurados. Demarcações táteis nos pisos devem ser incluídos, bem com sinais sonoros nos ambientes para facilitar orientação espacial. Quanto às regras o tempo de permanência com a retenção de bola deve ser aumentado, e necessariamente passar a bola para determinado número de participantes. Na deficiência auditiva Quanto às instruções, orienta-se para que as demonstrações sejam visuais durante a explicação, a conversação deve ser feita por gestos e linguagem de sinais, o professor deve sempre se atentar para seu posicionamento em relação ao estudante para com isso facilitar a leitura labial, porém, sem exageros na intensidade da voz e na articulação das palavras. Quanto aos materiais e implementos, os sinais sonoros devem ser substituídos por sinais visuais, como aceno de bandeira ou disparo de flash. 39 Quanto ao espaço físico, é importante que o estudante esteja informado dos vários tipos de ambientes existentes na escola. Quanto às regras, é necessário certificar se o estudante compreendeu as regras. Na deficiência mental Quanto a orientações, identificar o nível de apoio que o estudante precisa apresentar as informações em pequenas quantidades por vez, aumentar o grau de dificuldade e complexidade gradualmente, deve organizar e sistematizar o conteúdo de maneira que aconteça a transferência de aprendizagem a situações cotidianas e nunca infantilizar a linguagem. Quanto a materiais e equipamentos, o tamanho dos materiais como bolas, raquetes e outros devem ser aumentados, mais leves e com sua trajetória mais lenta, para um melhor reconhecimento dos papéis dentro das brincadeiras, podemos utilizar máscaras, chapéus e outros. Quanto ao espaço físico, deve-se ressaltar os cuidados com a segurança nos diferentes espaços da escola, como parque, piscina, quadra, etc. Quanto às regras, durante as atividades, deve-se acrescentar o tempo de permanência com a posse de bola, também permitir que a mesma toque o chão novamente de ser recebida e determinar que a bola passe por um número determinado de participantes. Cuidados especiais: solicitar um laudo médico para as crianças portadoras de síndrome de Down, para identificar a existência de Instabilidade Atlanto Axial (IAA). A Instabilidade Atlanto Axial, é descrita como uma instabilidade ou deslocamento da primeira e segunda vértebra cervicai (C1 e C2) a (IAA) é um fator que predispõe complicações neurológicas (Cidade e Freitas 2002). Se for diagnosticado, evite atividades como mergulho,
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