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A História do Comércio Internacional

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compl to ultimo I nyn1111 1110• 111 
Reinaldo Gon�alves • Renato Baumann 
Otaviano Canuto • Luiz Carlos Delorme Prado 
A Nova Economia 
Internacional 
Uma Perspectiva Brasileira 
129- Tiragem 
papel <lo Esta<lo, a ind ustriali zac;:ao l' <> t 01111 11111 111111 11 1111111;11 Sao :1inda 
temas deste capitulo a liberalizac;:ao comcrctal, a 1111 111.1 ,111 d1· hlocos ·cont> 
micos e a politica comercial brasileira recente. 
CAPiTULO 
1 
Teoria do 
comercio internacional 
S111tC.IMENTO DE UMA ECONOMIA MUNDIAL 
\ 1rlac;:iies economicas entre povos distintos antecedeu 0 estabelecimento 
. 11 1 1·L1c;:ocs politicas e culturais padficas entre eles. Comercio e saque, di-
1•l11111.111a c conquista nao eram ac;:oes opostas, mas complementares. A trans-
1111 111.1<.;;10 <las relac;:oes economicas internacionais de uma atividade muito 
1"' 1 1111;1 ao conflito armado em uma atividade relativamente pad fie a e or-
11 11 1d.1 por um sistema juridico internacional, aceito tacita ou explicitamen-
1• p111 1odos os paises, tern sido um processo lento e, ainda, inacabado. 
I > I :,st ado nacional moderno e a economia internacional moderna surgi­
' 1111 11nultaneamente. 0 processo de integrac;:ao de regioes e cidades semi-
1111111u1111as em um Estado nacional foi um processo ao mesmo tempo poli-
1 , 11 1 1·ron6mico. Em sua dimensao politica este processo deu origem ao 
I 1 1d11 a bsolutista, e em sua dimensao economica levou ao surgimento do 
1 l• 111.1 11uc ficou conhecido como mercantilismo. Foi a expansao comercial 
11 I I ;1dos nacionais modernos que criou as condic;:oes institucionais para 
1 1 1.1� .111 de uma economia mundial e a base economica para o desenvolvi­
" 11111 do capitalismo industrial. Foi tambem essa expansao economica que 
1111 .1 a vcntura comercial e imperial dos paises da peninsula Iberica, a con-
1 1 1 1 rn ropeia do continente americano e a colonizac;:ao do Brasil. 
1 111110 pais somos herdeiros dessa estranha mistura de tradicionalismo, 
I 111 111111111alismo e dinamismo comercial que foi o Portugal renascentista. 
11 I ii1st{>ria e ainda testemunha e produtO do a)vorecer do capita[isrno 
11111111 1 110. A transformac;:ao do comercio internacional de atividade econo-
1 11 1 111.1rginal - em uma sociedade essencialmente agraria e autarquica -
111 11111.1 .1 t ivi c.lade econ6mica central no processo de desenvolvimento eco-
11111 "• 1· motor do crescimento de algumas importantes economias nacio­
' I ,I r:1zao da viabi\idade eCOl10ffiiCa e po[frica para que nOS tornaSSC­
fl 11111.1 nai;:ao. 
m uma socic<la<lc tra<li ional, os t<>llH'ltt.11111· d1\ 1d1.1111 'l' 1·nt r · os yuc 
atuavam no comercio de longa distancia, yuc normalm1:1111· dl'p1·ndia <le trans­
porte por via maritima, e os que atuavam no merca<lo local. 0 comercio de 
longa distancia dependia essencialmente de uma rede de feitorias, de cida­
des e mercados, onde fosse possivel comprar e vender produtos. Esse co­
mercio era garantido pela capacidade belica das comunidades de comerci­
antes ou dos soberanos que os apoiavam de prover a autodefesa de seu ne­
g6cio ou a abertura de mercados. A distribuis;ilo dos produtos do comercio 
no interior de estados territoriais, no entanto, dependia do custo do trans­
porte, que por sua vez era funs;ilo da existencia de infra-estrutura de estra­
das e da segurans;a dessas. Por outro !ado, a substituis;ilo da comercializas;ilo 
de mercadorias ex6ticas de alto pres;o por produtos de grande consumo a 
pres;os moderados nilo seria possivel sem a monetizas;ilo da economia ·e a 
previsibilidade das instituis;oes - isto e, da existencia de regras conhecidas, 
direito de propriedade e prote<;ilo legal. Esses foram os bens sociais forne­
cidos pelos nascentes Estados nacionais que permitiram o desenvolvimento 
do comercio internacional. 
Apesar do vasto esfors;o de investiga<;ilo dos historiadores econ6micos, 
podemos apenas ter uma vaga ideia do volume e do valor do comercio in­
ternacional antes do seculo XIX. Mas sabemos que entre 1 750 e 1 9 1 4 o 
valor do comercio mundial aumentou mais de cinquenta vezes. 1 A Revolu­
<;ilo Industrial dependeu de produtos vindos de diversas partes do mundo 
para que o salto econ6mico que acarretou nilo se extinguisse rapidamente 
por falta de materias-primas, de alimentos e, em menor medida, de mercados. 
Entre 1 750 e 1 850 a importas;ilo de algodilo da Gril-Bretanha multipli­
cou-se varias vezes. Quantidades cada vez maiores de pluma de algodilo 
foram compradas, primeiro da India e do Brasil e depois dos EUA, para 
alimentar a demanda crescente das fias;oes e dos teares bricanicos. A produ­
<;ilo norte-americana chegou a crescer sessenta vezes entre 1 790 e 1 8 1 0, isto 
e, no curto periodo de vinte anos. Entre 1 800 e 1 850 as importa<;oes totais 
bricanicas, de longe o maior pais mercantil do mundo, cresceram mais de 
quatro vezes, e entre 1 850 e 1 9 1 3 cresceram oito vezes. 
Mas nilo foi s6 esse pais que obteve do exterior uma crescente quantida­
de de produtos basicos para sua economia. V arios es ta dos germanicos, e 
posteriormente a Alemanha unificada, passaram a depender de forma signifi­
cativa nilo apenas de materias-primas do exterior, mas de alimentos para sua 
crescente populas;ilo urbana. Este fen6meno repetiu-se em todas as nas;oes 
europeias, grandes e pequenas. Se as maiores importas;oes de paises como a 
Holanda, Belgica e Suis;a foram de alimentos durante a segunda metade do 
seculo XIX, em 1 9 1 3 todos estes tinham nas materias-primas industriais Oil, 
algodilo, ferro, carviio, aluminio) os principais produtos de importa<;ilo. 
1 A fonte dos dados hist6ricos sobre comercio rnternacional desta sec;ao e Woodruff, 1975. 
N11 l-111111 ·1 · .1 11.111111·z,1 1· 11 11111111.11111· d,1, 1 p111 L1<,<11·s 11vnam, tam 
111 111, 11111 p:qwl 1k gra1Hk 1mpo1 ta1H i:1 1111 111·s1111H·11to (0L1 na estagna<;:iio) <le 
1 111111111\la� pn1fn1ras. Canad:\, \uslr:ilia 1· \rgt·ntina foram casos <le suces-
11 1·111 um modclo de crcs imento dcrivado das cxportas;oes, caracteristico 
11 1 p.riM·s de oloniza<;:iio rcccntc. Paiscs como o Brasil, o Chile e a Africa do 
1rl , i 1 am suas cconomias se expandirem dado o dinamismo das exporta-
111 1k afc, salitre e cobre e metais preciosos. 
11s I 50 anos compreendidos entre a Revolus;ilo Industrial e a Primeira 
1, u1 1.1 Mun<lial o mundo se transformou em uma economia que, embora 
11 1d1d;t l'l11 algumas dezenas de Estados nacionais, caracterizava-se por eleva-
111 1 �" ,111 de intcgras;iio. 0 processo de globalizas;iio que se seguiu ao fim das 
111 11,1' 11apole6nicas em 1 8 1 5, no periodo que foi chamado de cem anos de 
I H 1 5 1 9 1 4) , fez com que nenhum pais do mundo pudesse ignorar seu 
I" I 11;1 ·omplexa rede de relas;oes comerciais internacion
ais. Por essa raziio 
1 11 111.1 1omcrcio internacional foi progressivamente adquirindo uma gran-
1111pll l t :incia no debate politico e intelectual do mundo contempod.neo
. 
11 1 1 11 da economia politica tal tema es ta na pr6pria origem dessa disciplin
a. 
1 111lq111vo da pr6xima ses;ilo e mostrar como surgiu e evoluiu o debate sobre 
11 . 11dH1s do comercio exterior no pensamento econ6mico, na visiio dos 
1 11 11 1111il1stas e dos economistas classicos. 
11 It< NTILISMO: A ECONOMIA POLITICA DO ESTADO ABSOLUTISTA 
, , 1111111111:1 politica, que surge na Europa ocidental no seculo XVIII, faz 
111 1 d1 11111:1 revolus;ao cultural que criou a visilo moderna de mundo. Esta 
11111 1 do lluminismo e, na Gra-Bretanha, esta estreitamente ligada a cor-
11 tilm1'>fi
a que ficou conhecida como empirismo ingles. Esta e, sobre-
1 1 11 JI 111d111 o <las mudans;as culturais, intelectuais e institucionais que cria­
t 1 1 1111di <)es para o surgimento do capitalismo industrial. A Revolu
s;iio 
I 1 111.rl, a rapida formas;ao de uma economia mundial, o surgimento da 
I 1 1 .11 l•:, tado nacional e, portanto, uma visao contratual de governo, silo 
1 Iii I lllll'lllOS COntemporaneos, OU muito pouCO anteriores, a publica<;ilo 
p111111·11 os livros de economia politica. 
I I II 111:1rco inicial do surgimento de ideias modernas, isto e, p6s-medie­
l11 I ,11l1p0 do penSaffieOtO eCOOOffiiCO, e 0 COnjuntO de doutrinaS de 
1 1 1 11111"imica que acompanharam a consolidas;ilo do absolutismo e dos 
11111 1111 1· 1ados-nas;oes europeus, conjunto este que ficou conhecido como 
1111111 1110. 
'" 11 dadc medieval, construida sobre as ruinas do imperio universal 
11111, 1.11artcrizava-se por uma dualidade peculiar. A vida econ6mica era 
ii Ir id,1 11:1 ·conomia natural; as estruturas juridicas, regulamentac;:ao e 
d1 prsos e medidas eram essencialmente locais e consuetudinarios. 
I ' d1 1 1.1 de fato exercido pelo nobre local, ou, nas cidades 
livres, por 
\ N< l\ \ It t lNt l�ll \ IN 11 l\N \< I< >N \I (> 
um governo municipal. Entretanto, essa mesma sociedade sentia-se unida, 
em toda a extensao da Europa ocidental e grande parte da Europa central, 
por fazer parte da cristandade, sob a lideranc;:a espiritual e, em alguns casos, 
temporal da Igreja cat61ica romana. 0 absoluto predominio ideol6gico e 
religioso do catolicismo impunha uma visao do mundo como um sistema 
organizado, segundo uma ordem divina, imutavel, onde as visoes de pro­
gresso e mudanc;:a tecnica e/ ou social eram completamente estranhas. 
0 mundo medieval era ao mesmo tempo particularista, ou seja, baseado 
no poder local, e universalista, baseado na hegemonia cultural e religiosa Ja 
Igreja, que impunha imensas barreiras a mudanc;:as no status quo. 0 mercan­
tilismo como sistema economico e uma reac;:ao a ordem medieval, opondo­
se simultaneamente ao poder local do nobre rural ou da cidade livre e ao 
poder universal, supranacional da Igreja cat6lica e seu aliado temporal, o 
imperador do Sacro Imperio Romano-Germanico. 
Nes se sentido, a politica comercial mercantilista, reforc;:ando o poder do 
monarca absoluto, defende a unificac;:ao econ6mica, juddica c administrati­
va nacional e sustenta a nccessidade de se reforc;ar o poder nacional para 
permitir a sobrevivencia do Estado-nac;:ao contra ameac;:as extcrnas. Nacio­
nali smo e absolutismo s ao, portanto, as contrapartidas politicas do 
mercan tilismo. 
0 mercantilismo implica a formulac;:ao Je politicas nacionais, c cssc.: con­
junto de doutrinas vislumbra a pos sibilidade e a neces sidade do progres s<> 
econ6mico, que e criado pela ac;:ao politica do Estado, como fundamento da 
consolidac;:ao do podcr nacional. 
A riqueza, para o mercantil ismo, s6 interessa como fonte de poder do 
Estado. Mas, diferentemente do pc.:nsamento medieval, a investigac;ao sobre 
a origem da riqueza e as formas de incrementa-la sao as principais <..Juest<)es 
no campo da teoria e da politica. Nesse sentido, o mercantilismo c o ponto 
de partida de uma agenda de pesquisa que culminaria no pensamento clas sico. 
() nucleo da visao econclmica mercantilista sao suas concep<;<Jes sobre () 
p.1prl da moeda e sobre a origem da riqueza <las nac;:<)es. A conexao entre 
I" ii 111< .1 monetaria e politica comercial e central em seu sis tern a, deter mi-
ll 111 11.1111 r ·za das politicas econ6micas mercantilis tas . Para el es o di-
11111:1 tcrminologia moderna, um fator de produc;:ao. Sob esse 
< 11.1 urna "riqueza artificial'' , em oposic;:ao a terra, que 
\ taxa de juros seria, portanto, uma renda ba-
' 111111> .1 renda da terra era baseada na segunda. 
I I 1111111 .1�iio de dinheiro com capital . Nas pala-
1 (I <1%, p. 52): 
111111111'i10 lugar, o que permi-
l I 11111 ii, 1· 1s10 tern o mesmo 
< ll�ll IH ll >IN II l(N I< )11 \I 7 
<..Juanto o Jo Jinheiro se hama j uros Jo apital . .. Em segundo lu­
gar, o Jinheiro tern um valor quan<lo, por meio da troca, nos serve 
para satisfazer as necessidades e atender as comodidades do cor­
po, o qua! apresenta o caniter pr6prio de uma mercadoria. 2 
Locke, que foi tambem um importante pensador mercantilista, observava 
que s6 existiam dois meios para se aumentar a mas sa de dinheiro existente 
em um pais: extrai-lo das pr6prias minas ou obtendo-o por outros paises. A 
descoberta de minas depende da natureza, e essas es tao distribuidas irregular­
mente no mundo. Para obter dinheiro do estrangeiro, ha apenas tres caminhos, 
segundo Locke, "a forp, o empres6mo ou o comercio". (Locke, 1696, p. 71) 
Ou seja, a riqueza da sociedade cresceria com a mas sa de dinheiro exis­
tente, e o aumento dessa massa dependia essencialmente do comercio exte­
rior. Para que isso ocorresse, a balanc;:a comercial de um pais deveria ser 
superavitaria. Portanto, a discussao sobre o que faz um pais ser um grande 
exportador e as politicas necessarias para viabilizar o superavit comercial 
sao importantes para que () comercio cumpra seu papel de gerador de riqueza. 
A aquisic;ao de moeda e metais preciosos nao deveria, segundo a doutri­
na mercantilista, ser entesourada. Heckscher chama a importancia que os 
mercantilistas <lavam a circulac;:ao monetaria de postulado da circulac;:ao. Essa 
e uma diferenc;a fundamental em relac;:ao a economia medieval. A visao me­
dieval tambcm su stentava a ideia de acumulac;:ao de metais preciosos. Estes, 
no entanto, deveriam ser entesourados para uma emergencia nacional, nor­
malmente associada a guerra OU a fome, ocasionada pela quebra de colhei­
tas. Para os mercantilistas o papel da moeda era o de proceder a transfor­
mac;:ao de uma economia natural em uma economia monetaria: "pois ali onde 
falta dinheiro, o comercio decai, ainda que haja abundancia e mercadorias 
baratas ... ". 3 
A ideia (]lie OS mercantilistas tinham quanto a importancia do estoque de 
moeda para as relac;:oes de troca com o exterior era a razao principal da 
aspirac;:ao a acumulac;:ao de metais preciosos. O s paise� que tivessem relativa­
mente menos dinheiro que os outros teriam de "vender barato e comprar 
caro". 0 raciocinio para se chegar a essa conclusao era curio so. 
Na visao mercantilista, qualquer estoque de dinheiro seria suficiente para 
atender a qualquer volume, grande ou pequeno, de circulac;:ao. A neces sida­
de de aumentar o estoque de moeda decorria do fato de que a economia 
mundial e formada por varios paises, com diferentes estoques de moeda. 0 
2 Heckscher, 1943 (sua obra classica), foi o primeiro autor a observar esta caracteristica do 
mercantilismo de considerar o dinheiro um fator de produc;:ao. 
3 Malynes, 1622, citado por Heckscher, 1943, p. 660. 
estoque de moe<la <leterminaria o valor das mercado11as produzidas <lomcs­
ticamente. 0 valor de uma mercadoria, expresso cm moe<la metalica, deve­
ria ser igual em todo o mundo. Este, contudo, era determinado pelo nivel de 
pre<;:o do pais produtor. Portanto, um pais com pequeno estoque de metal 
precioso venderia seus produtos ao seu nivel de pre<;:o e compraria um pro­
duto do exterior ao nivel de pre<;:o do outro pais. Assim, segundo Locke 
(1696, p.19): 
Semelhante estado de pobreza (isto e, pobreza de dinheiro) ainda 
que nao determine uma escassez de nossas mercadorias nacionais, 
dentro de nosso pr6prio pais, acarretara, nao obstante, as seguin­
tes desditosas consequencias: Primeira, pre<;:os muito baixos para 
nossos pr6prios produtos; segunda, pre<;:os muito altos para todos 
os produtos estrangeiros; e ambas as coisas nos trariio a pobreza, 
ja que o comerciante quer obter por suas mercadorias, o mesmo 
aqui que em qualquer outra parte, o mesmo numero de ons;as de 
prata, e isto
nos obriga a pagar o dobro do valor dos demais pai­
ses, que dispoem de maior abundancia de dinheiro. 
Para os mercantilistas, portanto, o aumento do estoque de moeda tinha 
um efeito inverso a visao de todas as outras correntes economicas a partir 
de David Hume: uma varia<;:iio positiva dos es toques elevaria o valor da moeda 
nacional no exterior e produziria uma taxa de dmbio favoravel. Entretanto, 
os mais importantes autores mercantilistas argumentavam que a pratica 
medieval de proibir a exporta<;:iio de metais preciosos era impossivel de ser 
implementada. Os grandes exemplos dessa dificuldade eram os casos de 
Espanha e Portugal, cujo crime de exporta<;:ao ilegal de metais preciosos era 
punido com a morte e, no entanto, foram paises que transferiram a maior 
parte dos metais preciosos obtidos em suas colonias americanas para outros 
paises europeus.4 0 unico instrumento eficiente para garantir o aumento do 
estoque de moeda em um pais seria a gera<;:iio de um superavit na balan<;:a 
comercial. A variavel-chave a ser controlada niio seria o movimento de me­
tais preciosos, mas o movimento de mercadorias.5 
' Essa visao e defendida por Bodino, 1568; Petty, 1662 e Locke, 1691. 
5 Os mercantilistas consideravam a exporta<;ao e importa<;ao de moedas e metais preciosos 
diferentes da exporta<;ao e importa<;ao de mercadorias, sendo causadas por razoes distintas e 
atendendo a diferentes necessidades. A Inglaterra derrogou a proibi<;ao de exportar metais 
preciosos nao-amoedados e moedas estrangeiras muito cedo, em 1663. Na Fran<;a, embora 
fosse mantida a proibi<;ao de exporta<;ao de metais preciosos sem autoriza<;ao do governo, as 
licen<;as para faze-lo eram dadas com gran<le liberalidade. Na maioria dos outros paises eco­
nomicamente importantes procurava-se controlar o fluxo de metais preciosos apenas pelo 
controle da balan<;a comercial. Ver Heckscher, 1943, pp. 694-69 5. 
C 01111> o d111h ·irn, na ro11 l"p<;ao 11wrc1111ilis1a, nao era produzi<lo pelo 
1.1do, m;1s na uma d{1d1va da 11a turt·za, a L111ica estratcgia compativel com 
" 1111m·1110 do estoyu' d · mo •da <l • um pals <.Jue niio tinha minas era uma 
p11lllH .1 comer ial yuc promovesse o aumento da exporta<;:iio e a redu<;:iio da 
1111111111:11,ao. Nessa visiio o protecionismo e um instrumento que visa prote-
1 1 .1 rircula<yao monetaria domestica, e niio a produ<;:iio domestica. 
l·111:tlm ·nte, o concep<;:iio mercantilista defendia a unifica<;:iio economica 
1 l11111i' �11 ·a · a liberdade de comercio no interior do territ6rio nacional. N esse 
1 1111110, sua a<;:ao restringiu as aduanas e pedagios impastos por nobres feu­
l 11 , 1 arionalizou os sistemas de pesos e medidas, unificou o regime moneta-
1111 1 ,1 kgisla<;:ao nacional, aumentou a confiabilidade no sistema legal e na 
I I 1 ,1 da propriedade privada, reduziu o poder <las guildas e promoveu a 
I ii 11 1 dadl' <la industria. 0 mercantilismo criou as condi<;:oes materiais para a 
11111111·11:.-a<;iio da economia e para a consolida<;:iio do Estado moderno.6 Sem 
1 111111tl'tiza<;:iio da economia e sem o Estado moderno, niio haveria capita-
11 11111 111d11strial. Foram, portanto, as mudan<;:as institucionais feitas por influ-
111 1 1 d.1� roncep<;:oes mercantilistas que permitiram o capitalismo moderno. 
I I 1111\ln<lo: 0 mercantilismo e um sistema economico caracterizado pelas 
1111111' proposis:oes basicas: 
1 •PH'Za <la sociedade cresce com o crescimento do estoque de meios de 
I' 1r.1111t·nto. 
I >11d11•1rn ; uma dadiva da natureza, e niio um bem produzido pelo Estado. 
I l11il11 110 c igual a capital, isto e, e um fator de produ<;:iio. 
I I lllllll'lllO da produ<;:aO e comfacio domestico depende, alem do estoque 
do llll'IOS c.Je pagamentOS, da unifica<;:ao economica e liberdade de comer­
' 111 1111 interior <las fronteiras nacionais. 
1 1 1 1 1•11mento do estoque de meios de pagamento de um pais depende da 
111•11I111, ao das min as nacionais ou do superavit na balanya comercial. Por-
111111, para um pais sem minas, uma politica comercial baseada no prote-
1 111111 1110 c na promo<;:iio de exporta<;:iio e a unic_a estrategia compativel 
11111 11 aumento do poder nacional. 
1 11«1 :1firma que a premissa mais geral para a existencia do capitalismo moderno e a 
l1il1d.1d1· rncional do capital como norma para todas as grandes empresas lucrativas, que 
1 "I' 1111 d.1 satisfai;:ao <las necessidades cotidianas. Para ser passive! ta! contabilidade racio­
" 11 .. ino, segundo esse autor, (1) a apropria<;ao de todos os bens materiais de produ­
'' 11 1 , 111strumentos, maquinas etc.) como propriedade de livre disposi<;ao pelas empre -
1"1 11\,IS aut6nomas; (2) liber<lade mercantil, isto e, liberdade de comercio contra toda 
11 1 '" 11 1.1 10nal desse, como proibis:ao ao exercicio profissional por monop6lio gremial, 
I 1 1111.1 de mercado livre de trabalho ou de produtos etc.; (3) tecnica racional; (4) direito 
'"ii (�) trabalho livre; (6) comercializai;:ao da economia. Isto e, para Max Weber o 
'"" 11111 do capitalismo moderno pressupoe a possibilidade de uma orientai;:iio exclusiva, 
•II l.l�ao <las necessidades, em um sentido mercantil e de renrabilidade. Ver Weber, 
l'I' '17 238. Esses pressupostos foram plenamente atendidos dencro dos principios 
• • d11 111crcantilismo. 
\ N!I\ \I! t >N!l�ll \IN 11 RN\! ltlN \l 10 
A teoria do comercio internacional do mercantilismo e, por um lado, um 
aspecto fundamental de seu sistema e, por outro, o ponto de partida para o 
debate te6rico nessa disciplina ate os dias de hoje. Os temas introduzidos 
pelo mercantilismo que vao permear OS debates futuros sao: (i) Qual e a 
relac;:ao entre comercio exterior e riqueza nacional, ou, em uma terminolo­
gia moderna, entre comercio internacional e desenvolvimento economico? 
(ii) 0 comercio exterior deve ser livre, como o comercio domestico, ou este 
deve ser administrado, em beneficio dos interesses nacionais? 
TEORIAS CLASSICAS DO COMERCIO INTERNACIONAL 
David Hume 
No campo da economia internacional David Hume e, sem duvida, o primei­
ro economista moderno. Embora a influencia de Hume como fil6sofo te­
nha ofuscado o brilhantismo de seu trabalho como economista, e de sua 
autoria uma hip6tese que suplantaria os argumentos mcrcantilistas em defe­
sa do superavit comercial. Essa tese, conhecida pelo seu nome cm ingles, 
specie flow-price hJ'pothesis (hip6tese do prec;o-fluxo de metais preciosos), 
propoe que um superavit comercial continuado nao e possivel, nem desejavcl. 
Hume, tal como os mercantilistas, acreditava quc um supcravit comercial 
levaria ncccssariamcnte a transferencia de 1nctais preciosos ou mocdas me­
talicas do pais deficitario para o pais superavitario. Mas, difcrentemcnte dcles, 
acreditava que tal transferencia levaria nao ao crescimenlo da riqucza de um 
pais, e sim ao crescimento dos prec;os dos produtos produzidos domestica­
mente. Esse aumento do nivel domestico de prec;:o teria como conseqC1encia 
fazer com que as exportac;:<>es desse pais ficasscm rclativamentc mais caras 
no resto do mundo, reduzindo a procura delas no exterior. 
Da mesma forma, o pais deficitario perderia mctais preciosos. lsto rcdu­
ziria o nivel de prec;:os domestico, aumentando a procura de seus produtos 
no exterior. Desse modo, o pais superavitario tenderia a exportar menos e 
importar mais, e o pais deficitario a exportar mais e importar menos, e em 
ambos os casos a balanc;:a comercial tenderia para o equilibrio. 
Mas o ponto central do pensamento econc">mico de Hume e a visao de 
que fatores reais,_e nao o aumento do meio circulante, determinavam a pros­
peridade de uma nac;:ao. E que ta! prosperidade, e nao o acumulo de metais 
preciosos, era o unico fundamento confiavel para a seguranc;:a de uma na­
�·�o. Por sua vez, o aumento dos mercados que o comercio exterior promo-
1·, 1 n :itl·ndimento das necessidades internas que
ele possibilita fazem com 
" ll111nrimcnto deste beneficie todas as nac;:oes mercantis. Em uma 
111111 .. d1111,1 n t omercio nao seria, como pensavam os mercantilistas, 
1 111, 1n 1 �im um jogo de soma positiva. 
d1 t cm paginas sobre assuntos econc">micos. 
._ ________ ..._"""'"..;.._.=-"'-...._;;..__:__:....:...:..:..:...:_.....:...:�"�' p,111lktos contra as ideias mercantilistas. 
I ()�II 1(1 II) IN 11 i!N \I 111 \I 11 
1\1 as sua in fl ucncia sobn: o pens, m ·1uo c ont>m1co, cm especial na area de 
n:onomia internacional, nao po<le ser subestimada. Hume foi o primeiro 
d ·fcnsor dc> livre comercio, como pode ser percebido por uma referencia 
l itada com frequencia: 
Deve-se ... considerar que, pelo crescimento da industria entre as 
nac;:oes vizinhas, o consumo de todas as diversas especies de mer­
cadorias tambem crescera; e embora manufaturas estrangeiras in­
terfiram com elas no mercado, a demanda por esses produtos po­
dem ainda manter-se ou crescer... Nos nao precisamos ficar apre­
ensivos, que todos os objetos de nossa industria irao acabar, ou 
que nossas manufaturas, enquanto elas se mantiverem no mesmo 
nivel de nossos vizinhos, corrcrao o risco de ficar ociosas. A emu­
lac;:ao pelas nai;:oes rivais serve principalmente para manter a in­
dustria viva em todas elas. E todos os povos serao mais felizes se 
possuirem uma variedade de manufaturas, que se tiverem uma uni­
ca grande manufatura ... Eu devo portanto ousar reconhecer que, 
nao apenas como um homem, mas coma um sudito britanico, eu 
rezo pelo florescimento do comercio da Alemanha, Espanha, Ita­
lia e mesmo da Franc;:a. Eu contudo tenho certeza de que a Gra­
Bretanha, e rodas essas nai;:oes, prosperarao mais se seus sobera­
nos e ministros adotarcm esses amplos e benevolentes sentimen­
tos uns para os outros.7 
A teoria de Hume foi a base do sistema monetario do padrao ouro. Os 
principios do livre-cambismo, posteriormente desenvolvidos por Smith e 
Ricardo, combinaram-se com a hip6tese de specie flow-price para a criac;:ao 
de uma nova ordem econc">mica internacional. Esta ordem pretendia ser libe­
ral, politicamente simetrica, impessoal, com mecanismo de ajuste automarico, 
dependendo ap�nas da flexibilidade dos prec;:os domesticos e do crescimento 
da produc;:ao internacional de ouro para determinar 0s niveis domesticos de 
prec;:o e o eguilibrio nas balanc;:as comerciais de todos os pafses mercantis. 
Adam Smith e a teoria <las vantagens absolutas 
Adam Smith, tal coma Hume, foi um fil6sofo na tradic;:ao do empirismo in­
gles. Entretanto, ao contrario de Hume, seus escritos filos6ficos, em especi­
al seu interessante tratado Teoria dos Sentimentos Morais, foram ofuscados 
por seu trabalho coma economista.8 Sua grande obra econc">mica foi Uma 
' Citado por Rostow, 1990, p. 30. 
8 As primeiras publicac;:oes de Smith foram dois artigos no Edinburg Review, sobre temas 
filos6ficos. Em 17.59 ele publicou sua Theory of Moral Sentiments. Dois anos depois incor-
Investigariio sobre a aturez.1 e .1s Cws.1,, cl.1 N11111c 1 ii.is N.u,:<3es. Ela c 
considerada a obra seminal da escola classica de econon11a politica. 
Seguindo a tradii;ao de David Hume, uma parte importante do trabalho 
de Smith e de questionamento das ideias mercantilistas.9 0 tema comercio 
internacional e um dos aspectos centrais de seu pensamento. A pergunta 
que d::\. nome ao livro, a natureza e as causas da riqueza das nai;oes, que, 
como j:i mencionamos, e uma questao essencial para os mercantilistas, e 
respondida de uma forma totalmente distinta destes. A riqueza das nai;oes e 
o resultado do aumento da produtividade do trabalho.10 Esta, por sua vez, e 
conseqiiencia da divisao do trabalho.11 A divisao do trabalho, e o resultado 
da propensao da natureza humana de trocar, negociar e vender um produto 
em troca de outro.12 A divisao do trabalho, no entanto, e limitada pela ex­
tensao do mercado.13 Uma vez que o comercio internacional aumenta o mer­
cado para os produtos produzidos domesticamente, ele permite o 
aprofundamento da divisao do trabalho, contribuindo para aumentar a ri­
queza das nai;oes. Por intermedio do comercio internacional um pais expor­
ta as mercadorias que consegue produzir mais barato que os demais, e im­
porta aquelas que produz mais caro, produzindo, desta forma, mais dos pro­
dutos que faz com maior eficiencia e consumindo mais produtos do que 
seria capaz na ausencia do comercio internacional. 
Nos livros-textos de economia internacional, Smith costuma ser citado, 
quase que exclusivamente, como autor da ideia de vantagens absolutas. Isto 
e, para Smith, o comercio internacional seria possivel tao-somente quando 
o tempo de trabalho necess::\.rio para produzir pelo menos um produto fosse 
inferior aquele do exterior.14 0 pensamento de Smith, no entanto, e muito 
ma1s nco e complexo que isto. Ele, por exemplo, observa que quando o 
produto de qualquer ramo da industria excede a demanda interna de um 
porou em uma nova ediyao de seu tratado filos6fico um apendice intitulado "Considerations 
Concerning the First Formation of Languages". Em 1776 ele publicou Inquiry into the Nature 
.wd Causes of the Wealth of Nations. Depois disso o unico trabalho publicado por Smith foi 
sua carta sobre a morte de Hume, em 1776. No final de sua vida Smith mandou destruir 
varios manuscritos, com exceyao de alguns poucos ensaios. Esse material provavelmente era 
de suas aulas sobre religiao natural, jurisprudencia e retorica. Uma copia das notas de estu­
dantes de seu curso sobre jurisprudencia foi posteriormente encontrada e publicada sob o 
dtulo de Lectures on justice, Police Revenue and Arms. Ver as notas de William Benton da 
ediyao da Encrclopaedia Britannica da Wealth of Nations. 
9 Smith (1776, p. 344) considerava Hume "de longe, o mais ilustre filosofo e historiador da 
atualidade". E em muitos sentidos foi um seguidor das ideias do pensador escoces. 
10 Smith, 1776, p. 3; ver tambem p. 183, onde Smith afirma que "a riqueza real ou a pobreza 
de um pais . . . depended. contudo da abundancia ou escassez dos bens de consumo". 
11 Ibid., p. 4 
" Ibid., p. 6 
13 Ibid., p. 8 
14 Isto e, a vantagem absoluta e a possibilida<le de um pais de produzir um bem com menor 
emprego de trabalho - o unico fator de produ<;ao para a economia politica cl:issica - do 
que no resto do mundo. 
1 l' u·1k1111· dn1 �1·1 m•111d.1do 11.11.1 " ' 111101
 l' 11111adn pen al)!,Llll1:t 
p.d , < 
. P· ·I. " . 11 t·d n.po1 ta<;a<>
 uma partc 
'"' .11p11· 11·nha tkmanda 1·1111·a�a . . 11.1 i 
l, �11 , 
<l -. 1. . . . ... 11 • 0 valor de sua pro ui;ao .111 t1.t11:dho prodL1t1vo d1· Lll11 pal s ll\l ltss. ' , 
I 1· , " i� (Smith 1776 P· 161) l·'.k tambcm
 argumenta que o exce-
1111 i l im1nu1r . '. ' 
' 
. , cl' <lomestico pode ser \1 1111 do produto tmportado, pago com o exc
e ente . 
, 
cl t deman<lado domesucamente. 1111 1do mais uma vez por um pro u 0 1 �111it h afirmava gue os metais preciosos sao um produto como qua qu�r 
i 11111 Port an to, um pais grande produto
r de metais pre
d
c1osos sena na�:
t
:: 
d cl cl to porque 0 prei;o os 
outros pro 
111 1111 11111 cxporta or e
ste pro u ' . . , 
i 11 iii•' i·m ouro ou prata, no pais com mina
s, sena ma1s alto do que no pats 
111 i11111as. Esta seria a razao pela qua! ta
nto Portugal como Espanha, �:: 
11 '11111 �l'vcrissima legislai;ao contra export
ai;ao de meta1s p�ec1oso
d
s, e 
cl A nde oferta domesuca e ouro rx portadores desses pro utos. gra . 
' 11' '111 Portugal e Espanha teria, entao,
 como unico efe1to, fazer com 
I 
. I - de produtos agricolas e manufaturado
s ficasse desesumulada, 
1 111•11 u<;a<> . , 1 cl 
I d1, •1111 .1 cxportai;ao de metais pr_
eciosos, reduzm�o �6 nive e prei;os 
111 "' " ,nia favonivel e nao pernic10sa
 a esses pa1ses. 
d 
' 11 1111: Ille como born observador de seu tempo, Smith recod
me
d
n 
f
ava 
' ' . l 1 gran e e en­
l ti 11 i .tl1za<;ao do comercio extenor, <la qua e e e
ra um 
, 111 I 11· st' feita ai;odadamente. Para ele: 
f - d 
' ' 111pn·cnc.ledor de uma grande manufatu
ra, que, ei;n uni;ao a 
111111 ' ;lhertura do mercado domestico ao e
xtenor'. e ob
ngado a 
l I . . nego' cio ira sem duvida sofrer cons1d
eravelmente. 
1111111111:1r s eu , 
I' 11 11· dl' scu capital que era normalmente emprega
da na comp_ra 
111 1111 ia is e no pagamento dos empregados p
oder::\., sem mmt: 
II ' 11ld.1dl', talvez achar outro emprego. Mas aqu,
eh par _t� que esta 
I 11l 1tl1 .1da cm predios e instrumentos do come
rc10 dific1lmente 
I" 11 1.1, 1·1 aban<lonada sem conside
rivel perda. Um cu1dado JUSto, 
I 
l 111111, 10111 seu interesse requer que mudarn;:
as desse ttpo nunca 
. b. devagar gradualmente, I 1111 ,. , introduz1das su itamente, mas • ' 
' '':1 lo com muita antecedencia. (Smith, 1776, P· 
201) 
f cl.cl d 
· · e forte fun-
11111 h (.um pensador de grande pro un 1 a e te
onca 
I I.. Suas i·de'ias sao muitas vezes d1fund1
das de forma 
I (I ( ) I<. 0. .... 
I ti " ' " i·ndo incomum a referencia a elas por
 pessoas que nunca o 
) d Smith de que o comercio intemacional leva ao u
so de 
1 1, 11.i C argumenro e . l d ' . fi . . foi chamado por Myint de teona do cana 
e escoa-
' " ' ' d lo i1111a 1canam onosos - b , . desenvolvimento. 
• , r: 5 1 ) Ver a serao so re comercto e I l (t Ill lll)(lcs, � e n11or urp us. .,. . d ao 
'd1 11111 iroduto cuja grande procura internac1onal faz c�m. que a
 pro u<; 
I I II I 1q11r Jdc�estimuJada e conhecido na literatura de com
erCIO exterior COIDO 
l l .. ' • Y 1 I • • 'l .. • 4' 1 n I ... I I 1 '- 1 .. °" ' I \ ' I .. "'0 1 
leram. Sua contribui<;ao para a teoria do comercio e d e grande impord.ncia, 
nao apenas em decorrencia de s ua argumenta<;ao sobre os ganhos do co­
mercio, aspecto que seria mais apropriadamente tratado por Ricardo, mas 
por relacionar o comercio exterior a acumula<;ao de capital, ou, em uma 
l inguagem moderna, ao dese nvolvimento economico. 
David Ricardo e a teoria <las vantagens comparativas 
A teoria do comercio inte rnacional chega ao apogeu na economia politica 
classica com David Ricardo. A principal contribui<;: ao desse autor foi sua teo­
ria <las vantagens comparativas. A proposi<;:ao de que as vantagens comparati­
vas sao a causa ultima dos ganhos do comercio e uma ideia poderosa que 
sobreviveu a todo o debate academico ate os dias de hoje. A teoria neoclas sica 
do comercio internacional, que tern no modelo Heck scher-Ohlin-Samucl son 
sua principal contribui<;:ao, e, em ultima analise, uma elegante discus sao sobre 
os fundamentos do conceito de vantagens comparativas e os ganhos do co­
mercio exterior, dentro do universo conceitua) dessa Corrente de pensamento. 
A teoria ricardiana de vantagens comparativas po<lc scr resumida na se­
guinte proposi<; ao: 0 comercio bilate ral e sempre mais vanta joso lj Ue a 
autarquia para duas economias cujas estruturas de produ<;:ao nao sejam si­
milares. l sto e, s e duas economias , produzindo cada uma dois produto s, por 
exemplo vinho e tecidos, cmpregarem na pro<lu<;:ao <lesses pro<l uto s uma 
quantidade de trabalho Lv e Lt, no pa is S, e Lv* e Lt* , no pais N , e neccs sario 
e suficiente que Lv/ Lt :;t:Lv* / Lt*' para que o comercio e ntre el e s seja pos sivel. 
N ote - s e que para Ricardo os salarios w no interior de uma economia 
se riam sempre iguais. Levan<lo-se cm conta que o custo de se produzir uma 
unidade de vinho no pais S seria Lv.w e uma unidade de tecidos seria Lt.w, 
logo os pre<;:os relativos no interio r dessa economia depcndcriam apenas da 
c.1uantidade <le trabalho nece s saria para produzir cada bem, e nao do nivel 
de salario. Em paises distintos os salarios po<lem ser <liferentes, mas tam­
bem para o pais N o custo de produzir uma unidade de vinho seria Lv'w*, 
e um a unidade de tecido s e ria Lt* w ¥ , se ndo igualme nte apenas relevante as 
quantidades re lativas de trabalho para produzir vinho e tecido. N es s e mo­
delo e neces sario e suficiente que as quantida<le s relativas de trabalho para 
produzir vinho e tecidu em cada economia s ejam distintas para que o co­
mercio exterior s eja vantajoso para ambas. 
Ricardo apresenta sua teoria usando o exemplo do comercio e ntre Por­
tugal e I nglaterra, usado originalmente por Smith, para mostrar os ganhos 
do comerciu exterior. Afirma e s s e autor que S C Portugal nao tive sse rela­
<;:oes com o exterior, em vez de empregar a maior parte de seu capital na 
pro<lu<;:ao de vinhos, comprando tecidos para suas neces sidades domesticas 
na l nglaterra, ele teria que dividir seu capital para produzir tambem e stes 
produtos. N e s s e caso ele certamente obteria menos tecidos, e com qualida­
dc inferior, do que se recorre sse a importa<;ao destes. 
\ l j t 1 a n t 1dadl· dl· v 111 lw lJ UC scria dada p a 1 a a t roca por tccidos na l ngla-
1 1• 1 ra nao c dct crmin ada, segundo o modclo ricardiano, pelas quantidades 
1 hsolutas <le trabalho para pro<luzir os dois pro<lutos em ambos os paises. 
Pelo contrario: <lependeria ape nas da quantidade relativa de stes. A s s im, 
·mplifica Ricardo, suponha- se que na l nglaterra fossem necessarios 1 00 
l iomcns por um ano para produzir uma determinada quantidade de tecido; e 
' i ll · fossem nece s sarios 120 home ns pelo mesmo tempo para produzir uma 
1 k t crminada quantidade de vinho. Imagine ainda que em Portugal fossem 
m·cessarios 90 homens para produzir a mesma quantidade de tecido e 80 
p; 1ra produzir a mesma quantidade de vinho que na I nglaterra. N esse caso 
' nia do intere s s e da l nglaterra dedicar- se exclusivamente a produ<;ao de 
1 t·cidos e de Portugal exclusivamente a produ<;ao de vinho. As sim, embora a 
I nglaterra de sse em pagamento pelos vinhos, que custaram o trabalho de 80 
homens, tecidos que custaram o trabalho de 100, ela pode ria obte-los mais 
baratos do que s e produzisse domesticame nte. N e s s e ca so, a mesma quanti­
dade de vinho iria custar o equivalente ao trabalho de 1 20 homens por um 
a no. Por outro !ado, Portugal pagou por uma quantidade de tecidos que iria 
rustar o equivalente ao trabalho de 90 homens durante um ano uma quanti­
dade de vinho equivalente ao trabalho de 80 homens durante esse periodo. 
De sta forma, ambos lucraram com a opera<;ao. 
0 modelo ricardiano de comercio internacional implica, portanto, a espe­
( ializa<;ao de cada pais na exporta<;ao do produto do qua! tern vantagens com­
parativas. Quaisquer dois paises lucrarao no comercio bilateral, a nao ser na 
circunstancia altamente improvavel que a estrutura de custos relativos <lesses 
paises fosse i<lentica. 17 0 aumento da taxa de lucro da economia nao e neces­
sariamente um resultado do comercio exterior. A varia<;ao da taxa de lucro 
ocorre tao-somente no caso de varia<;:ao dos salarios reais. A taxa de lucro do 
omercio exterior sera necessariamente igual a taxa de lucro do resto da eco­
nomia. (Ricardo, 1 92 1 p. 129) Os salarios reais, por sua vez, sao determinados 
pelo custo dos produtos de sua cesta de consumo, em especial o custo do 
trigo. 0 custo do trigo, por sua vez, e determinado, entre outros fatores, pela 
renda <la tcrra. 0 comercio exterior, ao impedir o u;o da terra marginal que 
acarreta o aumento da renda da terra, permite assim a manuten<;ao da taxa de 
lucro, ou no caso de abandono de terras marginais, o aumento desta. 
Ricardo nem s empre explicitou as premis sas de seu modelo. A ate n <; ao a 
essas premis sas permite -nos compreender as limita<;oes na aplica<; ao des sa 
abordagem. 0 modelo ricardiano pressupoe o comercio de dois pais e s, com 
dois produtos. Essa premi ssa, no entanto, e facilmente descartavel.18 A S C -
, - Por essa razao a afirma�ao <l e que
u m pals muito pobre, como a Eti6pia, por exemplo, tern 
pouco comercio com um pals rico, como os EUA, digamos, porque nao tern vantagens compa­
rativas com este, e totalmente err6nea. 
18 Para um modelo classico generalizado ver o artigo de Dornbusch, Fischer & Samuelson 
( 1977) . 
guncJa premissa cJo moJclo C lj UC SO l' X 1 S l l' l l l l l l .1 1 ( 1 1 d e j l l 1 1d 1 t <; :t < >, 0 lrabaJho, e que e ste e perfeitamente ffiOveJ fl O interior d l' l l l 1 1 j l < I �. ( i l l l O \ l' J internacio­naJmente. A terceira premissa e que ha diferentes l l'C n o l ogt a s cm dife re ntes paises . Na verdade, o uso de diferentes tecnologias e uma explicas:ao pas sive! para diferentes e struturas de pres:os relativos em diferentes paises . A quarta premissa e que a balarn;:a comercial e sta s empre equilibrada e o custo dos transportes e igual a z e ro. Finalmente, ha rendimentos constantes de e scala. 0 conceito de vantagens comparativas e uma dessas ideias economicas que ultrapassam em muito o limite do debate academico, com fre quencia levando a uma confusiio entre a teoria e doutrina, isto e, e ntre um modelo explicativo de como o mundo funciona, e uma recomendas:ao de como o mun­do deveria funcionar. 0 conceito de vantagens comparativas pode ser apli­cado indistintamente em uma ordem internacional liberal ou em um mundo de economias planificadas. Por exemplo, o comercio exterior e ntre Cuba e a ex-Uniiio Sovietica, durante os anos de Guerra Fria, pautava-s e pela troca do as:ucar cubano pelos manufaturados sovieticos. Esta estrutura de comercio entre e s s e s dois paises, que niio se pautavam por sinais de mercado, pode ser perfeitamente explicada por vantagens comparativas, isto e, por custos diferenciados para produ<;:iio de m ercadorias distintas. 1 9 Ou seja, o que po­demos concluir do modelo ricardiano e que mais comercio e melhor que menos comercio, o que niio implica neces sariamente livre mercado.20 Por fim, o conceito de vantagens comparativas niio pode ser aplicado olhando­se apenas para um pais ; e ste e um conceito relativo e, portanto, s6 tern s entido considerando-se a e strutura de produs:ao de pelo menos dois pai s e s . Nosso desafio e, portanto, compree nder o significado de s s e conceito no momenta em que foi formulado, e ainda compreender suas limita<;:oes para aplica<;:iio ao mundo real. 
A TEORIA NEOCLASSICA DO C OMERCIO INTERNACIONAL 
Origens 
Os prindpios basicos d a chamada teoria pura d o comercio internacional 
foram formulados por dois economistas suecos, Eli Heckscher e B erti! Ohlin. 
Mas foi o economista norte-americano Paul Samuel son que deu o formato 
analitico, com uso de argumentos baseados em linguagem matematica que, 
atualmente, caracteriza essa abordagem. 
Heckscher nasceu em E stocolmo, em 1879, e e studou hist6ria e econo­
mia na U niversidade de Upsalla nos ultimas anos do seculo X I X. E ste nota­
vel economista sueco especializ ou-se em hist6ria economica. Entre os 3 6 
19
_
Mucchielli, 1.99 1 , pp. 42-43 faz uma interessante discussao sobre algumas falsas inrerpreta­�oes do concetto de vantagens comparativas. 20 Ver, a respeito desse ponto, Samuelson, 1 939. 
I 1 7 1 . 1 1 t i p, 1 1 , (' I l l l l' V I S LI ;I ( adi' 1 1 1 1 1 .1 q 1 1 1 p 1 1 l 1 l 1 1 f l i t , , 1 1 1 1 , 1 i 1 1 1 1 1 .1 1 l l' ( l a 
1 > H' s ,1 r s]H' l l a l i d ; t d l' Sl' l l Ii 1 o s t 1 l i 1 t 1 1 1 1 1 1 . 1 1 1 1 t l 1 · 1 1 1 t 1 ( I krksl h l' I , I 'H I ) 
1 1 1 1 i i ) ) 1 1 1 , 1 1 s 1 1 1 1pm t a n t l' S 1 1 :1 l rn l hos d l' 1 1 1 > 1 1 1 1 i .1 t' l t 1 1 lomira da l i t l' r a t u ra 
' I S 1 1 1 1 i i 1 ,t l , l' 1ldn a t e: IH > J C a p 1 1 n c 1 p a l t · Cl' t l' I H l .l pa 1 a o l' S t udo do t cm a . · ua 
1 ( \ 1 1 1 1 1 1 , 1 l t 1 1 l' S S l' l1 C t :l l p a ra o crcs im · n t o lkssa a rc:a na Su '•cia, sc n <l o t) UC 
1 1 , 1· iH t a l m · n t c a ·le a cria<;:iio de curso s <le p6s gra<lua<;:iio cm his­
' 1 l l l l l 1 1 1 l l l :I t: Jn varias unive rsicJa<l e s SUCCaS. 
I ) ll 1 1 1 1 1 P C lJ UC110 artigo sob re teo ria <lo comercio internacional qu.
e 
.
() 
I 1 1 1 1 1 1 ) ) 1 1 :1 l itcra l ura economica ocidental. E ste artigo, publicado ong1 
1 1 1 1 s u l' 0 cm 19 1 9, foi traduzido para o ingles sob o titulo Effects 
, , 1 /1 J i.1dc: on Distribuition of Income (" E feitos do Comercio Exte 
1 1 1 1 1 t 1 n 1 1 c;ao <la Renda") .22 Este trabalho, posteriormente desenvol­
I ) \ ) I I I (' . a l u n o B erti! Ohlin, foi a origem da teoria do comercio i�1-
1 1 1 1 1 ti 1 1· n t ra <l a nas relas:oe s e ntre as dotas:o e s de fatores de produs:ao 
I 1 > I • di 1 t 1 1 1 1 e rcio internacional. 23 
1 1 1 1 1 1 di· pa rt icla <lo pensamento de Ohlin foi a versiio de Cas s e l �ara 
l 1 , 1 d 1 ,1 s 1 :1 n o <le equilibria geral. A determina<;:iio final das quantida­
' , 1 1 1 1. 1 ; 1 t rvos nesse modelo de equilibria geral dependia, em primeiro 
1, 1 1 . 1 1 . 1 0 d · fa tore s ; em s egundo, d a tecnologia, n a forma d e coe fi-
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 p ro<luto, e em terceiro, das pre ferencias dos consumidores. 
1 1 1 1 1d i l 11 m1 csse modelo, inspirando-se em Heckscher, para aplica-
1 t 1 1 1 t i n t nme rcio internacional e inter-regional. Dessa forma, par-
1 1 1 1 , 1 , > l l t 1 1 l 1 l a composta por regioe s onde a mobilidade dos fatores 
I c 1 1 1 1· 1 1 i n t e rior, mas imperfeita ou inexistente e ntre elas. E s sas 
1 i i 1 ' I" " . i s scriam um sistema em miniatura do modelo de Cas sel 
1 1 1 1 1 1 , I" 1.t l l'ITI economias fechadas. 0 pre<;:o relativo dos produtos 
1 l t 1 1 1 1 t t l l' cntre elas devido ao fato de possuirem distintas dota-
1 1 1 ' " d1 prod u<;:iio, distintas tecnologias e preferencias dos consu-
1 l i l 1 > i .i l l nnu sua abordagem, em uma segunda aproximas:iio, pos-
1 1 1 �', l < H' S diferiam apenas na dota<;:iio do s fatores de produs:iio, 
1 1 1 1 1 1 1 , 1 rn l ogia e preferencias similare s . E sta s eria a premissa 
1 1 1 1 1 1 1 .1 t ll' tla obra de H eckscher foi traduzida para linguas
. 
estrangeirns. 
1 1 1 , 1 1 1 , 1 1 1 .1 dt· l l eckscher foi publicada em 1 9 50 pelo Ekonom1sk-h1s1or1ska 
o 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1dt· rsse economista trabalhou por muito tempo. Entre suas obras 
1 1 1, I 1 1 1 1 1 1• de longos anos de pesquisa primaria consta uma Hist6ria Eco 
I . 1 1 " i t· 1 t 1;1tlo de Gustav Vasa, e o livro Jndustrialismo, seu Desen vofrt 
I / I 1 1 1 i 1 1 udo, rccomenda-se ao leitor interessado em historia ccon6mica 
1 1 1 1 1 1 1 p 1 1 h l > c atlos em ingles, H eckscher 1 929 e 1 939 . . 
Ii I 1 1 1 1 p1 1hl icada em 1 949, em um livro organizado por Ellis & Melzlcr, 
1 1 1 I H'l'I 1 Ill l\.hppan, Suecia, e estudou matematica, estatistica e economia 
I 1 1 I 1 • , . 1 r 1 1otmenre, graduou-se em economia na Escola de Adrrumstrac;:ao 
1 1 1 1 c l 1 l i 1 1 la seu mestrado em Harvard, obtendo seu Ph. D na U mversi 
1 1 ! 1 1 o 1 1 r 1 1 1 ,u;ao do grande economista sueco Gustav Cassel.

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