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MEDIDAS DE SEGURANÇA - PENAL

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Direito Penal
Professor Hélbertt
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DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA
DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA EM GERAL
I – CONCEITO – a medida de segurança é uma espécie de sanção penal, destinada àqueles desprovidos de discernimento mental, ou seja, os inimputáveis e os semi-imputáveis (art. 26 e § único do CP). Assim, a medida de segurança é aplicada não em virtude da culpabilidade do agente, mas em função de sua periculosidade. Frise-se, a medida de segurança não é pena, mas sim sanção penal, sendo que a medida diferencia-se da pena, basicamente por quatro fatores: 
1- As penas têm caráter retributivo e preventivo, as medidas de segurança têm natureza eminentemente preventiva;
2- O fundamento da aplicação da pena é a culpabilidade, a medida de segurança fundamenta-se exclusivamente na periculosidade;
3- As penas são determinadas, as medidas de segurança são por tempo indeterminado. Só findam quando cessar a periculosidade do agente.
4- As penas são aplicáveis aos imputáveis e semi-imputáveis, as medidas de segurança são aplicáveis aos inimputáveis e, excepcionalmente, aos semi-imputáveis, quando estes necessitarem de especial tratamento curativo. 
 
II – FINALIDADE – é exclusivamente preventiva, visando a tratar o inimputável e o semi-imputável, nos termos descritos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal, que demonstraram, pela prática de algum fato definido como crime, potencialidade danosa, não somente para o crime já cometido, mas também para novas ações criminosas. 
III – SISTEMAS – há dois tipos de sistemas que poderiam ser adotados: o vicariante, onde nunca se aplica cumulativamente a pena e a medida de segurança, ou seja, aplica-se um ou outro. E o sistema duplo binário, onde além da pena, aplica-se também a medida de segurança sobre o agente que praticou o crime e demonstrou ser inimputável ou semi-imputável. 
IV – SISTEMA ADOTADO NO BRASIL – adotou-se no Brasil o sistema vicariante, sendo, por isso, impossível a aplicação cumulativa de pena e medida de segurança. Aos imputáveis, pena; aos inimputáveis, medida de segurança; aos semi-imputáves, uma ou outra, conforme recomendação do perito. 
V – PRESSUPOSTOS
1. O RECONHECIMENTO DA PRÁTICA DE FATO PREVISTO COMO CRIME – é vedada, portanto, a aplicação da medida de segurança quando não houver provas de que o réu cometeu a infração penal ou quando estiver extinta a punibilidade, ainda que reconhecida a inimputabilidade por doença mental. 
2. PERICULOSIDADE DO AGENTE – configura-se tal periculosidade, quando é verificada a probabilidade ou potencialidade de vir o agente novamente a delinquir. 
VI – EXISTÊNCIA DE CRIME – não é qualquer enfermo mental que recebe a aplicação de uma medida de segurança, deve ficar comprovado, após processo penal, submetido à ampla defesa e contraditório, que o inimputável por enfermidade mental praticou fato típico e ilícito – crime. 
1. SE NÃO HOUVER PROVA DA AUTORIA – o crime ocorreu, entretanto, não restou provado que foi o acusado inimputável quem o praticou, neste caso, assim como não se aplicaria pena em não se provando a autoria, do mesmo modo não se aplica a medida de segurança. 
2. SE ESTIVER PRESENTE CAUSA DE EXCLUSÃO DA ILICITUDE – se o crime foi cometido em estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de um direito, não há que se falar em crime, pois a ilicitude está excluída, assim, não deve ser aplicada sanção penal, neste caso, a medida de segurança. 
3. SE OCORREU A PRESCRIÇÃO OU OUTRA CAUSA EXTINTIVA DA PUNIBILIDADE – nestes casos o Estado perde o seu ius puniendi, ou seja, a possibilidade de aplicar sanção penal, da qual a Medida de Segurança é espécie. 
VII – SENTENÇA ABSOLUTÓRIA IMPRÓPRIA – é a sentença que absolve o réu por reconhecer ser o réu inimputável por doença mental, mas em virtude de sua periculosidade, lhe é imposta uma medida de segurança. Assim, como é declarada a isenção de pena, entretanto é aplicada outra sanção penal (a medida de segurança), tal sentença é chamada de absolutória imprópria. 
VIII – APLICAÇÃO – há duas possibilidades de aplicação da Medida de Segurança, uma para o inimputável e outro para o semi-imputável. 
4. APLICAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA PARA ININPUTÁVEL – na hipótese de ser o réu inimputável em razão de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto, ou retardado, nos termos do artigo 26 caput do CP, o juiz determinará sua internação, caso o crime seja apenado com reclusão. Sendo o crime apenado com detenção, o juiz poderá aplicar o tratamento ambulatorial, mas em qualquer fase do tratamento poderá determinar sua internação, caso a providência se mostre necessária para fins curativos. 
5. APLICAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA PARA O SEMI-IMPUTÁVEL, ART. 98 DO CP – nas hipóteses de semi-imputabilidades, (artigo 26, § único do, CP), o juiz, ao invés de diminuir a pena privativa de liberdade de 1/3 a 2/3, pode optar por substituí-la por internação ou tratamento ambulatorial, caso fique constatado que o condenado necessita de especial tratamento. 
IX – PERICULOSIDADE – é a potencialidade para praticar ações lesivas existente na pessoa portadora de doença mental. Assim, tecnicamente, se a pessoa não tem qualquer problema mental, ele pode ser perigoso para a sociedade, entretanto, não tem a “periculosidade” exigida para a aplicação da medida de segurança. 
1. INIMPUTABILIDADE – a periculosidade é presumida quanto ao inimputável, ou seja, aquele que, nos termos do artigo 26 do CP, tem doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado e era, ao tempo da ação ou da omissão criminosa, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Basta o laudo apontar a perturbação mental para que a medida de segurança seja obrigatoriamente imposta. 
2. SEMI-IMPUTABILIDADE – precisa ser constatada pelo juiz a periculosidade no caso de semi-imputabilidade. Assim, se o laudo concluir pela semi-imputabilidade, a periculosidade não se presume como no caso da inimputabilidade. Pelo contrário, a periculosidade deverá ser investigada no caso concreto por profissionais técnicos. Aqui a periculosidade é real. 
X – PRAZO – em qualquer caso, a internação ou tratamento ambulatorial são decretados por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação da periculosidade. O juiz, entretanto, deve fixar um prazo mínimo para a elaboração da primeira perícia, que ficará entre os limites de 1 a 3 anos (art. 97, § 1º, CP). Se não constatada a cessação de periculosidade, o condenado será mantido em tratamento, devendo ser realizada anualmente nova perícia, ou a qualquer tempo, quando assim determinar o juiz da execução (art. 97, § 2º). Há muito tempo alguns doutrinadores entendem que esta regulamentação é inconstitucional, pois no caso do inimputável, que a periculosidade se presume, esta também não cessará, levando o condenado a uma verdadeira prisão perpétua, proibida pela Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso XLII, alínea b. O Entendimento do STF se pacificou, com base nos princípios da isonomia e da proporcionalidade, fazendo aplicar, por analogia, o artigo 75 do Código Penal, que limita a aplicação da pena a 30 (trinta) anos, limitando pelo mesmo período a aplicação da medida de segurança, que, conforme a pena, é uma espécie de sanção penal. 
MEDIDAS DE SEGURANÇA EM ESPÉCIE
I - MEDIDA DE SEGURANÇA DETENTIVA – é a internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, CP, art. 97. 
1. CARACTERÍSTICAS: 
a) é obrigatória quando a pena imposta for a de reclusão. 
b) será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação da periculosidade. 
c) a cessação da periculosidade será averiguada após um prazo mínimo variável entre um e três anos. 
d) a averiguação pode ocorrer a qualquertempo, mesmo antes do término do prazo mínimo, se o juiz da execução determinar (art. 176 da LEP). 
2. DESINTERNAÇÃO – prevê o artigo 97, § 3º do CP que a desinternação será sempre condicional, ou seja, o agente será desinternado mas deverá obedecer algumas condições. Tal situação consiste em não praticar qualquer fato (não necessariamente crime, qualquer fato) que demonstre ser ainda perigoso no prazo de um ano após a desinternação. Caso o agente pratique tal ato indicativo de periculosidade, será restabelecida situação anterior, ou seja, tornará a ser internado. 
3. LOCAL DE INTERNAÇÃO – o agente será recolhido a estabelecimento dotado de características hospitalares (art. 99 do CP e art. 99 da LEP). Na falta de vaga, a internação pode dar-se em hospital comum ou particular, mas nunca em cadeia pública. Dessa forma, constitui constrangimento ilegal a manutenção de réu destinatário da medida de segurança em estabelecimento inadequado por inexistência de vaga em hospital. 
II – TRATAMENTO AMBULATORIAL – é aquele destinado à medida de segurança restritiva, ou seja, não é detentiva, visa o tratamento do inimputável, sem que este tenha que ser internado em um hospital. Está prevista no artigo 96, II e 97, segunda parte, do Código Penal e artigo 101, da LEP - Lei de Execução Penal. 
III – APLICAÇÃO – aplica-se o tratamento ambulatorial no caso do crime praticado pelo inimputável ou semi-imputável, ser apenado com detenção.
IV – APLICAÇÃO FACULTATIVA – nos termos do art. 97, pode, conforme o caso, o juiz aplicar a medida de segurança detentiva, mesmo que o crime seja apenado com detenção, assim sendo, o tratamento ambulatorial é facultativo, enquanto que a internação é obrigatória no caso de crime apenado com reclusão. 
V – CONVERSÃO DO TRATAMENTO AMBULATORIAL EM INTERNAÇÃO – o § 4º do art. 97 prevê que poderá o juiz, em qualquer fase do tratamento ambulatorial, determinar a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos. 
VI – CONVERSÃO DA INTERNAÇÃO EM TRATAMENTO AMBULATORIAL – a lei não previu esta possibilidade de o juiz converter a medida de internação em tratamento ambulatorial, sendo, por isso, juridicamente impossível. 
VII – LEI DE DROGAS E INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 97 DO CP – a Lei de Drogas (Lei nº 11.343/2006) deixa a cargo do juiz a avaliação quanto à necessidade ou não de internação, independentemente da natureza da pena privativa de liberdade imposta, ou seja, se o crime relacionado a drogas for apenado com reclusão, tanto poderá o inimputável ser submetido a internação ou tratamento ambulatorial. Se o crime for apenado com detenção, da mesma forma (Artigos 45 a 47 da Lei 11.343/2006). 
VIII – SEMI-IMPUTÁVEL E O SISTEMA VICARIANTE, ART. 98 DO CP – se a o agente que cometeu o crime for semi-imputável, nos termos do parágrafo único do artigo 26 do CP, o juiz poderá substituir a pena privativa de liberdade, por medida de segurança. Nisto constitui o sistema vicariante (vicariante quer dizer substituição). Ou seja, substitui-se a pena privativa de liberdade por medida de segurança. Esta substituição não constitui direito subjetivo do agente, o juiz deve, pois, determiná-la, somente se entendê-la cabível. 
IX – O MENOR DE 18 ANOS - os menores de 18 anos também são inimputáveis, nos termos do artigo 28 do CP. Entretanto, não se submetem às medidas de segurança, uma vez que regula seu comportamento a Lei 8.069/1990, Estatuto da Criança e do Adolescente. 
X – APLICAÇÃO PROVISÓRIA DA MEDIDA DE SEGURANÇA – nos termos do artigo 319 do Código de Processo Penal, inciso VII, há a possibilidade da aplicação provisória da medida de segurança. Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (...) VII- internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração. Assim, no caso do uma pessoa inimputável ou semi-imputável praticar um crime, necessariamente mediante violência ou grave ameaça, antes da sentença final, poderá, se for necessário, determinar a internação provisória. 
XI – MEDIDA DE SEGURANÇA E DETRAÇÃO – o juiz deve fixar na sentença um prazo mínimo de duração da medida de segurança, entre um e três anos. Computa-se nesse prazo mínimo, pela detração, o tempo de prisão provisória e o de internação em hospital de custódia e tratamento. O tempo de internação a que se refere o art. 42, é aquele que se dá quando o agente é condenado, e nos termos do artigo 41 do CP, lhe sobrevém doença mental, ele é recolhido a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou estabelecimento adequado, cessa a enfermidade, e passa a cumprir a pena privativa de liberdade. Assim, o artigo 42 não faz referência a medida de segurança provisória. 
XII – PRESCRIÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA – não há regulamentação específica. Entende-se na doutrina que deve ser considerado para o cálculo prescricional o mínimo em abstrato da pena imposta ao crime praticado. 
XIII – CONVERSÃO DA PENA EM MEDIDA DE SEGURANÇA – é possível que no curso da execução da pena privativa de liberdade sobrevenha doença mental ou perturbação da saúde mental ao condenado. Nesses casos a LEP autoriza ao juiz de ofício, a requerimento do Ministério Público ou da autoridade administrativa, a conversão da pena privativa de liberdade em medida de segurança (art. 183). Neste caso, a medida de segurança deverá durar, no máximo, até o tempo determinado na sentença para o cumprimento da pena privativa de liberdade. Se cessar a doença mental, deverá voltar o condenado a cumprir o restante da pena. 
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