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Exclusão de ilicitude Conceito Nem sempre o fato típico, ou seja, a ação ou omissão descrita no tipo penal previsto na lei será considerado antijurídico. Já sabemos que a ilicitude da conduta é o antecedente da culpabilidade. Em face disso, existe, na for- mação da culpabilidade, um fato negativo: o antijurídico, ou seja, o contrário ao direito, o contra o senso jurídico. Para que um fato seja considerado como típico, portanto, ele tem que ser contra a lei. Mas nem sempre um fato típico será considerado contra a lei. É necessário que o fato típico seja, também, antijurídico. Portanto, é a antijuridicidade o segundo elemento do crime, em regra, de- monstrada pelo fato. A morte de um homem, provocada por outro homem, em regra, será considerada crime. Porém, excepcionalmente, a lei retira o caráter de antijuridicidade da conduta, permitindo que o sacrifício da vida humana seja possível diante de determinadas causas, muito específicas, pre- vistas na própria legislação penal. Essas causas de exclusão da antijuridicidade recebem diversos nomes: exclusão de ilicitude (assim está no Código Penal), ou tipo descriminan- te; exclusão de antijuridicidade, causas excludentes de antijuridicidade, causas justificativas, causas descriminantes, causas de justificação da anti- juridicidade ou causas de exclusão do crime etc. Todas essas terminologias servem para demonstrar que não existirá o crime. Logo, aquele fato típico inicialmente demonstrado com a conduta (ação ou omissão) deixará de ser crime, pois existem as normas permissivas ou, mais propriamente dito, os tipos permissivos de conduta. Os tipos permissivos de conduta estão catalogados, genericamente, nos artigos 23 ao 25 do Código Penal, mas outras normas permissivas existem na Parte Especial do Código Penal como, por exemplo, o artigo 128, quando trata do aborto proveniente de estupro; o artigo 142 que prevê a hipótese de ine- xistência de crime na ofensa irrogada em juízo, quando da discussão de uma causa; ou, ainda, que não existirá o crime de injúria ou difamação no caso de 81 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 82 Exclusão de ilicitude uma testemunha vir a ofender uma das partes, eis que a lei a obriga a dizer a verdade; também inexiste crime na hipótese do funcionário público emitir conceito desfavorável, quando de seu dever de ofício (CP, art. 142, III) etc. Não há lei autorizando, mas existe a possibilidade doutrinária e jurispru- dencial de causas supralegais de exclusão da antijuridicidade. São causas legais de exclusão de ilicitude, explícitas no artigo 23 do Código Penal: o estado de necessidade; a legítima defesa; o estrito cumpri- mento do dever legal e o exercício regular de direito. Estado de necessidade O estado de necessidade está previsto no artigo 24 do Código Penal1. Destaca-se que, se o agente agir premido por esse estado de necessida- de, não haverá crime, muito embora, não obstante alguns pensarem que se trata de um direito, não o é, mas sim uma faculdade dada à pessoa para agir sacrificando um direito alheio em prejuízo do direito do autor do fato, desde que o autor do fato não tenha provocado a ação ou omissão. Acaso tenha o autor provocado o fato, não existirá a faculdade de sacrifi- car o direito alheio, posto que, nesse caso, nos termos do artigo 13, §2.º, “c” do Código Penal, deverá responder pela conduta, eis que, “com seu compor- tamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado”. Teorias do estado de necessidade Duas posições teóricas surgiram sobre o estado de necessidade. Teoria � unitária: tal teoria surgiu no Direito alemão e diz que somente poderia existir o estado de necessidade quando se tratava de interesse jurídico de valoração desigual; quando igual, excluía a culpabilidade. Teoria diferenciadora ou da discriminação � : também surgida no Di- reito alemão, durante um julgamento de aborto em 1927, que estabe- leceu uma causa geral de estado de necessidade justificante supralegal (causa geral da antijuridicidade), eis que havia conflito entre os bens a se proteger, sem necessidade de se estabelecer uma preponderância de valores. 1 Art. 24. Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sa- crifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. §1.º Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. §2.º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Exclusão de ilicitude 83 A questão é muito mais teórica, principalmente porque, desde o Código de 1940, mantida na íntegra a mesma sentença quando da reforma da Parte Geral de 1984, não existe mais espaço para a divagação sobre a diferencia- ção de valores ou preponderância de um sobre outro, como bem colocado na Exposição de Motivos do Código Penal. Porém, haverá necessidade de se preencher os requisitos exigidos pela norma justificadora. Exemplo clássico é do náufrago que se prende a uma tábua de salvação, sendo que a ela se junta outra pessoa. Ora, pressentindo o primeiro náufrago que os dois poderão morrer afogados, não lhe restará outra alternativa a não ser salvar sua vida, afogando o outro náufrago. Assim, mesmo que o outro morra, não existirá crime. Requisitos do estado de necessidade A doutrina não é unânime sobre a questão, mas são requisitos básicos do estado de necessidade ou elementos imprescindíveis: perigo atual, não provocado voluntariamente pelo agente; � salvamento de direito do próprio agente ou de outrem; � impossibilidade de evitar por outro modo o perigo; � razoável inexigibilidade de sacrifício do direito ameaçado. � Assim como na legítima defesa, há alguns pontos de afinidade com o estado de necessidade. Exige a lei que se pratique o ato para procurar afastar um perigo, ou seja, aquele perigo em que o agente deve agir, para evitar um mal maior à sua pessoa ou aos seus bens. Mas, o perigo tem que ser atual (que está aconte- cendo ou acabou de acontecer) descartando a hipótese de perigo iminente (que poderá vir a acontecer). Há a necessidade de que o perigo seja um perigo concreto. E que o perigo seja a um direito, ou seja, a qualquer direito do autor do fato: integridade física, saúde, patrimônio, honra etc. É necessário que o agente atue para a salvaguar- da desse direito próprio ou, como denominado no texto legal, “alheio”. Porém, o fato tem que ser defensivo, e não pode ter sido provocado pelo agente. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 84 Exclusão de ilicitude Dever legal de enfrentar o perigo Conforme disposto no §1.º, do artigo 24 do Código Penal, há a hipótese em que o agente não poderá, de forma alguma, invocar a excludente da an- tijuridicidade, nestes termos: Art. 24. [...] §1.º Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. Dever legal é o dever decorrente da obrigação jurídica entre o autor e o ofendido, decorrente de relações contratuais, legais e proveniente da conduta anterior do agente, causadora da situação perigosa, não podendo o agente invocar a excludente. Ex.: em situações de risco o bombeiro tem que enfrentar o incêndio; o capitão do navio que, para salvar-se, sacrifica a vida de um passa- geiro (vale lembrar o dito popular: o capitão afundará com seu navio) etc. Inevitabilidade do comportamento lesivo Por essa condição essencial, somente será considerado como excluído o crime praticado pelo agente quando, entre asvárias opções de que dispu- nha o agente, a única seria a lesão ao direito alheio. Trata-se de uma forma de inexigibilidade de conduta diversa. Se houver outro meio de evitar o resulta- do, mas o agente prefere sacrificar um bem jurídico, responde pela conduta, pois estará excluída a antijuridicidade. Causa justificativa de diminuição de pena Por vezes, o agente acaba por aquilatar valores, pesando-os isoladamen- te e chegando a uma conclusão sobre o seu modo de agir. Nessas condições, o legislador abriu uma opção aos aplicadores da lei no sentido de permitir que o crime praticado pelo agente não fique impune, nos termos do artigo 24, §2.º do Código Penal2. Dentro das condições fatuais ali existentes, o agente praticou a conduta, mas melhor analisando e vendo que as condições em que a ação ou omissão foi praticada eram, de alguma forma, razoáveis. Porém, dada a maior rele- vância do bem violado em relação ao bem protegido pelo agente, a pena deveria ser aplicada com uma redução de um a dois terços. Exemplificando, 2 Art. 24, §2.º Embora seja razoável exigir-se o sacrifí- cio do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Exclusão de ilicitude 85 seria a morte de uma pessoa porque esta queria matar o cachorro que ladra- va; a lesão corporal gravíssima na pessoa porque esta exigiu que o vizinho diminuísse a música em sua residência etc. Elemento subjetivo O móvel propulsor da conduta, o elemento subjetivo necessário ao de- senrolar da conduta há que ser impregnado da intenção de necessidade. Faltando esse elemento, estará desfigurado o estado de necessidade. Não é suficiente apenas arguir o estado de necessidade. É preciso ser comprovado e bem demonstrado pelo autor do fato o animus do agente. Legítima defesa No artigo 25 do Código Penal estão previstos os elementos caracterizado- res da legítima defesa3. Para se caracterizar a legítima defesa é preciso que todos esses requisitos estejam presentes. Faltando um, não há que se falar em legítima defesa. Primeiramente, é preciso que o agente tenha a intenção de repelir agres- são, o que nos dá a noção exata do conceito de perigo que o agente pode agir para evitar um mal maior à sua pessoa ou aos seus bens. E deve repelir um perigo, exatamente como anteriormente colocado no estado de necessidade, que é um mal próximo, quase iminente, pois o que está muito afastado não inspira temor. A agressão deverá sempre ser seguida ou contemporânea a uma injusta agressão, que é aquela contrária ao ordenamento jurídico, avaliada segundo o padrão médio de comportamento, objetivamente analisada, não se po- dendo exigir esforço descomunal daquele que se defende nem, também, benevolência extremada com aquele que invoca a excludente. A agressão deve ser atual, que é aquela que está acontecendo ou que acabou de acontecer ou iminente, ou seja, que ainda não se concretizou, não ocorreu, mas está para acontecer, quase próximo. Se a agressão é passada, finda ou encerrada, não haverá legítima defesa, eis que já consumado o perigo ou já concretizado o dano. Ao agredido, só resta buscar o socorro da autoridade pública. 3 Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direi- to seu ou de outrem. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 86 Exclusão de ilicitude De outro lado, a própria lei exige que a defesa legítima se dê na forma de agir, ou seja, que exista uso moderado dos meios necessários. Meio necessário deve ser entendido como aquele indispensável para se defender no momento da agressão, ou seja, aquilo que está disponível para repelir a agressão. Não há possibilidade do agente escolher qual maneira ou qual arma utilizará para tal. É a necessidade do momento que diz qual será o melhor caminho, mas tudo com o intuito de se defender, sempre. Já o uso moderado do meio necessário tem a significação de necessida- de, não podendo o defendente extrapolar ou ultrapassar os limites suficien- tes para a proteção do direito atacado, pois o extravasamento é ilícito. Se o agente inicialmente age em defesa própria, não pode, após neutralizar o perigo, continuar a agressão, usando de violência contínua. A lei determina a moderação, sem culpa, devendo esta causar o menor dano possível. Estrito cumprimento do dever legal Pelo artigo 23, inciso III, 1.ª parte, do Código Penal, podemos afirmar que há casos em que a lei impõe certo comportamento do sujeito, obrigando o mesmo a atuar. Como a pessoa atua em razão e por determinação de uma sanção legal, sua atividade não pode ser, ao mesmo tempo, dentro e fora da lei; autorizada e proibida, legal e ilegal. Seria ilógico. Assim, não comete o crime, embora o fato seja juridicamente punível, acaso não estivesse o agente amparado pela própria lei penal, descriminan- do sua conduta, justificando sua ação ou omissão, aquele que pratica o fato amparado pelo estrito cumprimento do dever legal. Logo, os funcionários ou agentes públicos, que agem por ordem da lei, estão abrigados pela causa de justificação. Ex.: o policial que cumpre um mandado de prisão, ou o meirinho que executa uma ordem de despejo. No entanto, para que exista a exclusão da antijuridicidade, há necessida- de que o agente tenha agido dentro dos rigorosos critérios estabelecidos na lei ou outra norma jurídica que regulamenta a questão, como o decreto, decreto-lei, decreto legislativo etc., preexistente ao ato. Porém, não existirá proteção às ações meramente morais, sociais ou reli- giosas. Ex.: um policial que obriga um passageiro do ônibus a ceder seu lugar Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Exclusão de ilicitude 87 para outra pessoa, mais velha; ou, o padre que resolve ingressar à força, sem autorização, na residência de alguém, para orar. Em relação aos crimes culposos a lei não admite que o agente fique am- parado nos delitos culposos, pois o agente tem que ter plena consciência do que faz. Exercício regular de direito Previsto no artigo 23, inciso III, 2.ª parte, do Código Penal, deve-se enten- der o exercício regular de direito como toda e qualquer atitude autorizada pelas normas jurídicas. No artigo 5.º, inciso II, da Constituição Federal, está previsto que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. Logo, o primeiro parâmetro encontra-se na Cons- tituição Federal. Abaixo dela estão os demais permissivos legais que descri- minam a conduta, justificando a ação ou omissão, daquele que pratica o fato amparado em lei, inicialmente considerado, só na aparência, como ilícito. Pode-se justificar a conduta dos pais no direito de correção dos filhos; na defesa de um esbulho possessório recente, expulsando os invasores, ainda que usando a força etc. Ainda há no próprio Código Penal situações que per- mitem o regular exercício de direito como a imunidade judiciária (art. 142, I); o direito de crítica (art. 142, II); a coação para evitar suicídio ou para a prática de intervenção cirúrgica (art. 146, §3.º) etc. Porém, é preciso que o agente atue dentro dos critérios estabelecidos na legislação. Assim, não existirá proteção às ações meramente morais, sociais ou religiosas, como exemplo, o marido exigir da mulher, à força, a conjun- ção carnal; ou o “trote acadêmico” como forma de integração do calouro. O agente deve agir amparado pelos critérios objetivos da excludente, tendo plena consciência que assim o faz. Ofendículos Os ofendículos (offendicula, ofensacula) são aparelhos ou equipamentos predispostos para a defesa da propriedade, como oscacos de vidro dispostos no muro, pontas de lança nos portões e grades etc. Há, também, os escondi- dos, que funcionam somente como meios mecânicos, necessitando da atu- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 88 Exclusão de ilicitude ação do eventual criminoso para que exista a “defesa”, como os fios de arma dispostos nas maçanetas das portas ou armas previamente colocadas para atingir intrusos etc. Alguns autores dizem que se trata de exercício regular de direito, enquanto outros dizem que se trata de legítima defesa preordenada, se atingem agressores, embora seja censurada quando atingem inocentes. Cremos ser uma legítima defesa preordenada quando o indivíduo arma, no interior de sua residência para evitar uma invasão, artefatos de defesa (arma, munição etc.), dentro de seus limites. No entanto, a situação é bem diversa quando o agente arma o muro com cacos de vidro, o portão com lanças e pontaletes, pregos, à vista e à mostra de quem quer que seja, aqui estará exercendo um regular direito. No entanto, é claro que o agente responderá pela conduta quando exce- der os limites de sua defesa, vindo a atingir pessoas que nada tinham de rou- badores ou invasores, não servindo a desculpa de legítima defesa putativa. Violência esportiva Há esportes que admitem e fazem parte da própria violência esportiva, como as lutas de boxe, lutas livres, nas entradas violentas dos jogadores de futebol, basquete etc. A doutrina é unânime em asseverar que, havendo vio- lência esportiva, dentro dos critérios que norteiam o esporte, não haverá crime. O excesso é punível, evidentemente. Assim, também a violência contra os árbitros é inadmissível. Causas supralegais de exclusão do crime Há outras exclusões de ilicitude da conduta que não estão devidamente catalogadas no ordenamento jurídico, mas que são plenamente aceitas pela doutrina e pela jurisprudência, consideradas supralegais, isto é, estão fora da legislação. Vejamos a seguir. Do consentimento do ofendido Não obstante não conste expressamente do Código Penal, é possível que o ofendido consinta em determinados casos com a prática de atos, que, iso- ladamente, constituíram crime. Ex.: na violação de domicílio, onde o ofendi- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Exclusão de ilicitude 89 do concorda com a permanência do agente que não foi convidado a entrar em sua residência. No aborto consentido etc. Quando o ofendido dispuser do direito protegido pela lei penal poderá haver uma causa de exclusão da antijuridicidade e em outros causa de exclu- são da tipicidade. Na causa de exclusão da tipicidade o ofendido permite que o possível delito se realize. Ex.: autorização para que alguém introduza animais em sua proprie- dade (CP, art. 164). A causa de exclusão da antijuridicidade existirá quando o ofendido concordar com o fato, sem se importar com o resultado. Ex.: a pros- tituta, que tem ciência de sua vida mundana e a admite publicamente, não poderá ofender-se de ser chamada de “fácil”, “oferecida”, “incorreta” etc. Inexigibilidade de conduta diversa Como o legislador não é onisciente, capaz de prever todas as situações possíveis e imagináveis, acabou por se optar pelo reconhecimento da ine- xigibilidade de conduta diversa quando ao agente não resta mais nenhuma alternativa, eis que preenchidos todos os requisitos básicos ordinários para não cometer um delito, mas, mesmo assim, acaba por fazê-lo. Para alguns doutrinadores são considerados como normas de cultura, onde, em deter- minado momento e lugar, se procede ordinariamente de uma forma, sendo que se alguém assim o fizer poderia arguir tal excludente supralegal. Excesso nas excludentes O excesso é válido para todas as causas de justificação ou descriminantes. Havendo excesso o agente responderá a título de dolo, culpa ou resultante de erro. O excesso pode ser doloso ou culposo. Haverá excesso doloso quando se age inicialmente dentro dos parâme- tros da excludente de ilicitude, mas, intencionalmente, extrapola os limites de sua conduta, desejando produzir um resultado maior do que o neces- sário para a conduta. Nesse caso, responde pela conduta dolosa, ficando excluída a descriminante. No excesso culposo o agente produz um resultado maior do que aquele inicialmente previsto, de maneira involuntária, não desejando produzir um resultado maior do que o necessário para a conduta. Nesse caso, havendo Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 90 Exclusão de ilicitude descrição de sua conduta, a título de culpa, responde pela conduta culposa, permanecendo a descriminante agravada a pena pelo excesso culposo. Da mesma forma se houver excesso por erro. Efeitos civis do reconhecimento da exclusão Havendo reconhecimento da exclusão da culpabilidade na área criminal automaticamente estará decidido na área civil, à luz do artigo 65 do Código de Processo Penal4. Destarte, se o réu for absolvido com fundamento nas causas do artigo 23 do CP, no juízo cível não poderá mais ser discutida a ma- téria, eis que a decisão criminal faz coisa julgada no cível. Questões para debates 1. Discrimine as causas de exclusão da ilicitude legal e da supralegal. 2. Como ficam as excludentes quando houver o reconhecimento do excesso? 3. Distinga o exercício regular do direito do estrito cumprimento do dever legal. 4. Quais os requisitos para o reconhecimento da legítima defesa? 5. Há diferença de tratamento nos excessos doloso e culposo? Atividades de aplicação 1. (Cespe) A legítima defesa putativa exclui a: a) punibilidade em abstrato. b) ilicitude. c) culpabilidade. d) tipicidade. e) punibilidade em concreto. 4 Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legí- tima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regu- lar de direito. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Exclusão de ilicitude 91 2. (Cespe) São causas que excluem a ilicitude do fato, não havendo crime em consequência, o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito. Em tais casos, se houver excesso, o sujeito ativo somente responderá a título de dolo. Dica de estudo Observar que as exclusões de ilicitude correspondem às permissões legais para que os delitos sejam praticados, constituindo-se em exceções à necessidade de punição dos crimes, devendo preencher sempre todos os requisitos de exclusão do crime. Referências FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal – Parte Geral. 10. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1986. GARCIA, Basileu. Instituições de Direito Penal. Volume 1, Tomo I. 4. ed. São Paulo: Ed. Max Limonad, 1958. HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. Volume 1, Tomo I. Rio de Ja- neiro: Forense, 1953. JESUS, Damasio Evangelista de. Direito Penal. Volume I, Parte Geral. 31. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. MAGALHÃES NORONHA, Edgard de. Direito Penal. Volume I. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1963. MARQUES, José Frederico. Tratado de Direito Penal. Campinas: Bookseller, 1997. MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2008. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume I, Parte Geral, arts. 1.º a 120. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Manual de Derecho Penal – Parte General. Buenos Aires: Ediar, 1977. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 92 Exclusão de ilicitude Gabarito – Questões para debates1. As causas de exclusão da ilicitude legal são aquelas descritas minuciosa- mente no Código Penal, como a legítima defesa, o estado de necessidade, o estrito cumprimento do dever legal, o exercício regular do direito, assim como outras situações específicas definidas ao longo da descrição dos crimes. Nas causas supralegais, embora não exista norma autorizando, existe a possibilidade de seu reconhecimento, como no caso de violên- cia esportiva, consentimento do ofendido e inexigibilidade de conduta diversa. 2. Se inicialmente for reconhecida uma das excludentes de ilicitude, mas, conjuntamente, houver o reconhecimento do excesso, o agente respon- derá pelo mesmo, a título de dolo ou culpa, se o tipo contiver uma norma- tividade culposa. 3. O exercício regular do direito é aquele em que o agente exerce uma fa- culdade descrita na norma, podendo atingir uma pessoa, como a inexis- tência de crime no cerne da discussão de uma causa judicial. No estrito cumprimento do dever legal, o agente age dentro das normas estabele- cidas pela lei para que o mesmo atue, como no caso do Oficial de Justiça que pode invadir licitamente uma residência. 4. Os requisitos para o reconhecimento da legítima defesa são exatamente aqueles previstos no artigo 25 do Código Penal. 5. Sim, há diferença de tratamento nos excessos doloso e culposo, pois, no primeiro caso, o agente responde como se tivesse cometido um crime, ao passo que no segundo caso o agente responderá somente pelo crime se este for descrito como culposo, havendo sensível diferença na fixação da pena. Gabarito – Atividades de aplicação 1. C 2. Errado Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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