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METODOLOGIA DA ALFABETIZAÇÃO


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3 
 
Harley Gomes de Sousa 
 
 
 
 
 
 
 
 
METODOLOGIA DA 
ALFABETIZAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1ª Edição 
Sobral/ 2017 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Apresentação do Professor 
Sobre o autor 
 
UNIDADE DE ESTUDO I: LER E ESCREVER: A HISTORICIDADE DA LÍNGUA 
Viajando pelas cartilhas do ABC: e aprendia? 
Alfabetização, alfabetizado, analfabeto, alfabeto 
Alfabetização e a construção de homens de consciência 
Alfabetização na pré-escola. 
Alfabetismo e Letramento: a gênese e caminhos no Brasil 
Letramento ou Alfabetismo? A cultura escrita da alfabetização 
 
UNIDADE DE ESTUDO II: A PEDAGOGIA DA LEITURA E DA ESCRITA NO 
PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO 
As diferentes maneiras de pensar a leitura e a escrita 
A geração Y e o conhecimento tecnológico da língua escrita 
Os domínios da linguagem e os contextos sociais de letramento 
Práticas Pedagógicas de Alfabetização e Letramento 
Ler para aprender a escrever 
Que escrita cabe à escola ensinar? 
Gêneros literais: lendo o mundo de formas diferente. 
Bibliografia 
Bibliografia web 
 
6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Apresentação do Professor 
 
 
Prezado Estudante, 
 
O material didático sempre foi considerado um valioso instrumento de 
transmissão de conhecimento. Mas hoje, com a facilidade de acesso à 
informação pelos meios midiáticos, ampliando à comunicação e criando um 
conceito novo sobre a arte de escrever através do suporte tecnológico, é 
possível dar aos materiais didáticos maior qualidade, eficácia e estética para 
atender o leitor do mundo virtual. É para você, estudante do curso em EAD, 
que oferecemos este livro, com intuito de dialogar sobre Fundamentos 
Metodológicos e Práticas da Alfabetização. 
 
Os conteúdos de aprendizagem propõem que você seja o construtor do 
seu conhecimento. Para atender este objetivo, organizamos o livro em diversas 
etapas de aprendizagem, cuja condução será feita através dos ícones que 
criamos para serem as setas que guiarão você no processo de aquisição do 
conhecimento. 
 
Ressalta-se que as leituras não se tratam de modelos, regras ou 
formas de como ensinar a ler e escrever, ou de como executar o letramento. 
Espera-se que todos sejam capazes de realizar uma metacognição e contribuir 
com a alfabetização e letramentos de muitas crianças. 
 
O autor! 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
Sobre o autor 
 
 Harley Gomes de Sousa, mestre em Políticas Públicas e 
Sociedade pela Universidade Estadual do Ceará – UECE. 
Pedagogo, Psicopedagogo, Sócio e Conselheiro da Associação 
Brasileira de Psicopedagogia – Seção Ceará, registro 847. Tem 
experiência na área da educação, onde atua como 
Psicopedagogo Institucional, Professor de Ensino Superior e 
Palestrante, ministrando cursos, oficinas e workshops. Ex-Bolsista de 
Iniciação Científica da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento 
Cientifico e Tecnológico-FUNCAP. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
 
 
 
 
Ler e escrever: a 
historicidade da língua 
1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
Viajando pelas cartilhas do ABC: e aprendia? 
 
O processo histórico do ensino e da aprendizagem da leitura e da 
escrita tem como principio o aparelhamento do trabalho pedagógico sugerido 
por Comenius, que sistematizou a aquisição da leitura e da escrita através da 
cartilha, um método que perpassou gerações, principalmente nos longos anos 
da escola tradicional. Atualmente, devido as tecnologias da informação e da 
comunicação, fruto de um processo de expansão e globalização do 
capitalismo, as cartilhas foram extintas e substituídas por livros didáticos, 
cadernos de atividades e até livros eletrônicos. 
 
Comenius: Um bispo protestante da Igreja Moraviana, educador, cientista e 
escritor checo. Como pedagogo, é considerado o fundador da didática 
moderna. Seu nome era Jan Amos Komenský (em latim, lohannes Amos 
Comenius, em português, Comênio; (nasceu em Novnice, 28 de março de 
1592 e morreu em Amesterdão, 15 de novembro de 1670). 
 
 
Mas conhecer um pouco da história desse instrumento de alfabetização 
é importante para contextualizar as práticas pedagógicas de ensino e 
aprendizagem da linguagem escrita. Em plena ascensão do capitalismo 
comercial ou mercantilismo entre o século XV e XVIII, o trabalho manufatureiro 
ditava a nova ordem social da burguesia europeia. Foi nesse período que era 
preconizado pelos reformadores protestantes a importância da aquisição da 
leitura para conhecer a Bíblia. Dessa forma, Comenius, enquanto pastor 
protestante e burguês, cria no século XVII os fundamentos da escola moderna, 
cuja prática pedagógica se baseava em alguns princípios do capitalismo. Sua 
ideia foi substituir as grandes obras científicas e reduzir o trabalho docente num 
compêndio (livro didático), por isso criou-se a cartilha para ensinar a ler. 
 
Para Cagliari (1988), as cartilhas surgiram muito antes das salas de 
alfabetização nas escolas, pois elas serviam de apoio impresso para quem 
queria aprender a ler e escrever em casa. Somente após a Revolução 
 
12 
 
Francesa, com o surgimento das escolas, as cartilhas foram se transformando 
e se adaptando as mudanças. Inicialmente, o alfabeto, as letras e as sílabas 
eram estruturados em tabelas, depois veio exemplos de palavras e desenhos 
como suporte de leitura. Com o tempo surgiram pequenos textos, e consigo 
exercícios estruturais de configuração das palavras. O autor critica que as 
cartilhas não dispunham de exercícios de produção textual, pois era tão forte o 
foco na avaliação e na fixação de aprendizagem, que elas não priorizavam o 
que os estudantes precisavam de fato aprender, por exemplo, ler. Era mais 
fácil o estudante decorar do que descobrir a magia e o caminho para a leitura. 
E quando os estudantes surpreendiam a professora, a mesma não sabia agir, 
pois estava presa a método cartilhesco. 
 
Reforça o autor, que as cartilhas inicialmente foram criadas para 
colaborar com a leitura, no entanto, passou a ser um instrumento de ensino de 
escrita, onde a leitura ficou em segundo plano em decorrência das atividades 
de escrita como: ditados, cópias, exercícios de análise fonética e roteiros de 
compreensão textual. 
 
É óbvio que sua organização estava estruturada de tal forma que 
levasse o aprendiz a conhecer as palavras com apoio de gravuras, bem como, 
as sílabas e as letras do alfabeto. Além disso, a escola definida por Comenius 
era uma escola que usava o lema “ensinar a todos”, ou seja, ao mesmo tempo, 
com o mesmo método, desrespeitando a individualidade e as diferentes formas 
de aprender. 
 
Basicamente, o método cartilhesco de fazer com que as crianças 
aprendessem a ler, não cabe a nós o mérito de avaliação. No entanto, é 
preciso ressaltar que, as técnicas e os métodos de ensino e aprendizagem da 
leitura e da escrita tiveram cada uma em seu tempo sua utilidade, finalidade e 
objetivo, comotem hoje os livros didáticos. A primeira cartilha que se tem 
notícia foi publicada em 1853, em Lisboa Portugal, pela Imprensa Nacional, 
denominado “Método Castilho” criado por Antônio Feliciano de Castilho. Esse 
método de alfabetização era considerado rápido e aprazível (agradável) de 
leitura, onde a cartilha tanto era usada pelas escolas como pelas famílias. 
 
13 
 
Passados dois anos, Antônio Feliciano veio ao Brasil para divulgar seu método 
de alfabetização. Vejamos abaixo algumas imagens. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Pressupomos que uma das últimas obras do ensino cartilhesco, foi a 
cartilha “Casinha Feliz” de 1987 das autoras Iracema e Eloisa Meirelles, cujo 
método adotado é a concepção fônica do ensino da leitura, de forma efetiva, 
lúdica e criativa de alfabetizar. Mas, foi a Cartilha da Ana e do Zé, que alguns 
de nós, ou alguns de seus pais, na década de 1980, aprenderam a ler e a 
escrever (imaginemos que sua publicação se deu em 1985). Se o interessou 
parte dessa história do ensino das cartilhas, recomendamos a visualizar 
algumas imagens (em anexo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CARTILHA CASTILHO-1853 
 
CENA DE SALA DE AULA - 1853 
 
CARTILHA DA ANA E DO ZÉ 
1985 
 
CARTILHA A CASA FELIZ 
IRACEMA E ELOIA MEIRELES 
1987 
 
 
14 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia sobre as Cartilhas de Alfabetização antigas. Acesse: 
http://www.espacoeducar.net/2009/02/historia-das-cartilhas-de-
alfabetizacao.html 
 
 
Quando discutimos os instrumentos de alfabetização, paralelamente 
debatemos os seus métodos. Segundo Ferreiro (2010), há uma tradição 
polêmica sobre qual prática metodológica de alfabetização seria mais eficaz: 
analítico ou sintético, fonético ou global. 
 
Mas o que seria esses métodos: analítico ou sintético, fonético ou 
global? 
 
Com o método sintético/fonético a criança aprenderá a fazer uma 
correspondência entre o som e a grafia, ou seja, entre o que se fala e o que se 
escreve (fonemas x grafemas), onde vai numa direção das partes para o todo: 
letra por letra, sílaba por sílaba e palavra por palavra, até chegar as frases e 
por fim ao texto. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia a obra Reflexões sobre alfabetização de Emília Ferreiro, onde a 
autora faz uma reflexão sobre a alfabetização para auxiliar os docentes na sua 
prática escolar. 
 
15 
 
Já com o método analítico ou global, popularmente conhecido como 
método “olhar-e-dizer”, a criança aprenderá a ler de maneira global ou 
audiovisual (vendo o todo), na qual vai numa direção do todo para as partes, a 
partir de unidades complexas (maiores) da linguagem, para depois decompor 
em unidades simples (menores): textos, palavras, frases sílabas e letras. 
 
O uso das cartilhas como ferramenta de alfabetização inclui-se no 
método sintético ou fonético. No entanto, seu método é particular, foi e é 
considerado um dos mais antigos sistemas de alfabetização, denominado de 
“método alfabético” ou “método de soletração”, onde as crianças decoravam as 
letras do alfabeto, suas combinações silábicas, e por fim as palavras, 
sentenças curtas (frases) e depois textos (historinhas). 
 
Seria, digamos um passo-a-passo (soletrar sílabas) até decodificar 
palavras, por exemplo, a palavras BOLA, b-o, bo, l-a, la = bola. 
 
 
“A cartilha mais do que qualquer outro tipo de livro didático, por ser 
uma obra simplificada e esquemática, pressupõe, por 
parte de quem a usa, um conhecimento profundo do 
conteúdo da obra e das técnicas de ensino e 
aprendizagem” (CAGLIARI, 1998, p.24). Depois das 
cartilhas vieram os livrinhos que pouco contribuiu com o 
processo de aprendizagem das crianças. Este instrumento segundo o autor foi 
confeccionado para leitores com noções básicas de decifração da escrita, e aí 
está uma das grandes dificuldades dos estudantes. 
 
Todo esse debate acerca dos métodos ou concepções ao longo dos 
anos, segundo Ferreiro (2010), não levou em conta as concepções das 
crianças sobre o sistema de escrita. É certo dizer segundo a autora que 
nenhuma prática pedagógica é neutra, umas vão levar a criança acreditar que 
o conhecimento está nos outros e deles vão receber algo; há outras em que o 
conhecimento já está estabelecido, fechado, imutável; e umas em que a 
criança será mero espectador do conhecimento, sem se quer questionar os 
 
16 
 
seus porquês. Os métodos apresentados são formas como os 
estudiosos/autores conceberam o processo e o objeto da aprendizagem, se 
normais ou anormais, certas ou erradas, eles existiram, tiveram sua 
funcionalidade e, hoje servem de reflexões epistemológicas para novas 
construções. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia a obra Alfabetização e Letramento de Magda Soares. O 
analfabetismo no Brasil permanece na atualidade. A autora especialista 
brasileira em alfabetização nos propõe algumas possibilidades de respostas 
para algumas perguntas pertinentes em relação às verdadeiras causas do 
fracasso do processo de alfabetização no Brasil. 
 
 
 
Alfabetização, alfabetizado, analfabeto, alfabeto 
 
“A escrita não é um produto escolar, mas sim um objeto cultural, 
resultado do esforço coletivo da humanidade. [...] existe um processo de 
aquisição da linguagem escrita que precede e excede os 
limites escolares” (FERREIRO e TEBEROSKY, 2010, 
p.44-45). Iniciamos esta sessão com a fala dessas 
renomadas estudiosas da psicolinguística, apenas para 
fazer referência que a alfabetização como um processo de 
aquisição (acesso) da leitura e da escrita, existe muito 
antes da criação das escolas. Significa dizer que o local 
de aprender não é privilégio apenas de um espaço 
instituído para tal fim (a escola), mas que em casa, na rua 
e em quaisquer outros espaços se aprende, como foi 
assim a concepção inicial quando as primeiras cartilhas foram criadas (se 
alfabetizava em casa) como instrumento de alfabetização. 
 
 
17 
 
A alfabetização é a aquisição da linguagem oral ou escrita através do 
conhecimento e reconhecimento do código escrito, o alfabeto. Quando um 
sujeito em idade escolar consegue codificar (transferir a oralidade para a 
escrita – ato de escrever) e decodificar (ler o que está escrito), ele está 
alfabetizado. Para Soares (2011, p.16) “a alfabetização seria um processo de 
representação de fonemas em grafemas (escrever) e de grafemas em fonemas 
(ler) [...]”. 
 
Sabendo disso, cabe destacar segundo a autora que a escrita não é 
uma mera reprodução da fala, mesmo que em alguns casos esta 
correspondência faça valer esta prerrogativa. Ler e escrever, para além da 
codificação e decodificação também significam apreensão e compreensão de 
significados expressos na leitura e na escrita. 
 
 
Em seu sentido pleno, o processo de alfabetização deve levar 
à aprendizagem não de uma mera tradução do oral para o 
escrito, e deste para aquele, mas à aprendizagem de uma 
peculiar e muitas vezes idiossincrática relação fonemas-
grafemas, de um outro código, que tem, em relação ao código 
oral, especificidade morfológica e sintática, autonomia de 
recursos de articulação do texto e estratégias próprias de 
expressão/compreensão (SOARES, 2011, p.17). 
 
Desse modo, o processo de alfabetização em termos técnicos deve se 
dá quando um sujeito aprende o alfabeto e se torna autônomo e usa 
estratégias próprias de leitura, expressão e compreensão. Além disso, para 
compreender como o alfabeto funciona é preciso conviver com textos e analisar 
a composição das palavras, ou seja, fazer uma análise metalinguística, com um 
olhar criterioso para o som das palavras. 
 
O debateacerca do conceito de alfabetização ultrapassa a técnica 
mecânica da língua escrita e a compreensão/expressão de significados, pois 
esses aspectos consideram a alfabetização como processo individual, como 
ressaltou a autora. Soares (2011) aponta um aspecto social do conceito, que 
depende também de predicados culturais, econômicos e tecnológicos. 
 
18 
 
A alfabetização tem muito mais haver com um processo de pensar 
sobre a linguagem. “Mais que uma aprendizagem de habilidades, conceitos ou 
regras, o alfabetizando deve conquistar uma consciência metalinguística [...] e 
construir uma nova relação com a fala interior de modo a conciliar seus 
processos mentais às exigências da escrita [...] (COLELLO, 2004, p.24). Como 
o autor coloca, se passarmos a dar prioridade a escrita como elemento de 
expressão de ideias e a leitura como forma de compreensão do mundo, não há 
como recusar a necessidade de sintonia entre o pensamento e a linguagem, 
nem tampouco a mediação entre o falar e o escrever. 
 
Segundo ainda Colello (ibidem), “a capacidade de ler e escrever não 
depende exclusivamente da habilidade do 
sujeito em “somar pedaços de escrita”, mas, 
de compreender como funciona a estrutura da 
língua e o modo como é usada em nossa 
sociedade”. Compreendendo que a evolução 
no sentido de desenvolver-se bem a leitura e 
a escrita depende exclusivamente do sujeito, 
mas, quando se domina os caminhos da 
leitura e da escrita, o sujeito lê para aprender, pois é lendo que se aprende e é 
escrevendo que se evidencia o aprendizado. 
 
 Como já foi dito, a construção da escrita está absolutamente atrelada à 
linguagem oral, apesar de Ferreiro e Teberosky (1985, p.24) apontarem “[...] 
que nenhuma escrita constitui uma transcrição fonética da língua oral”. Para as 
autoras, o ato de escrever conecta-se a pensar sobre a escrita e não simples 
representação da fala. Essa afinidade escrita – fala é um recorte da teoria de 
Piaget, que as autoras empregaram para assegurar que o estudante aprende 
sobremaneira agindo sobre as coisas do mundo, construindo suas categorias 
de pensamento e organizando seu próprio mundo. 
 
Sabendo que Ferreiro (2010) reforça a ideia de que a escrita é um 
sistema de representação da linguagem e não uma transcrição gráfica das 
unidades sonoras, ela aponta que a escrita espontânea é o que há de mais 
 
19 
 
belo e produtivo, porque se deve considerar mais os aspectos construtivos da 
escrita (o que se pensa quando se escreve) do que os aspectos gráficos 
(qualidade do traço, espaço, forma, orientação etc). 
 
Apontando que do ponto de vista construtivo a escrita infantil segue 
uma linha de evolução regular, Ferreiro (2010) distingue três grandes períodos 
do pensamento da criança ao refletir sobre a escrita. O primeiro seria o ato da 
criança em distinguir o que é desenho (representação icônica) e o que é 
escrita/letras (representação não icônica); o segundo período (intrafigural), a 
criança busca diferenciar a quantidade mínima de letra por palavra (três) para 
ser lida, bem como a qualidade da escrita para ser interpretada (se as palavras 
têm as mesmas letras não é interpretável); o terceiro período, diz respeito à 
diferenciação interfigural, ou seja, o que a criança irá escrever na sequência 
precisa ser diferente do que aquilo que ela escreveu anteriormente. 
 
Quando Ferreiro e Teberosky (1985) realizaram o estudo da 
Psicogênese da Língua Escrita em Buenos Aires entre 1974-1976, 
concluíram que, quando as crianças estão no processo de aquisição da língua 
escrita, elas pensam e notam o código, suas características formais gráficas e 
suas interpretações, principalmente no que tange: a quantidade mínima e 
variedade de caracteres aceita pelo sujeito; a relação entre desenho e texto; o 
reconhecimento e nomeação das letras; a distinção entre letras e outros sinais 
gráficos e a orientação espacial da leitura e da escrita etc; e dessa pesquisa 
resultou na definição pelas autoras dos cinco níveis sucessivos e hipotéticos da 
escrita: grafismo; pré-silábico; silábico; silábico-alfabético; alfabético. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia a crônica “O que é escrever” O autor relata que escrever é uma das 
formas mais bonitas de expressão que o homem já criou. Com a escrita podemos 
abraçar um amigo, podemos lutar contra um sistema corrupto, denunciar atitudes 
erradas, proteger os animais, ajudar quem precisa, e podemos levar a paz para 
alguém. Acesse: 
https://www20.opovo.com.br/app/jornaldoleitor/noticiassecundarias/cronicas/2014/07/0
7/noticiajornaldoleitorcronicas,3278443/o-que-e-escrever.shtml 
 
20 
 
 Abaixo, observemos as descrições e alguns exemplos: 
Quadro 1 – NÍVEIS PSICOGENÉTICOS DA ESCRITA. 
 
NÍVEIS CONCEITOS EXEMPLOS 
1. GRAFISMO 
 
Reprodução de modelo do que a 
criança identifica da forma 
básica. 
 
 
 de escrita – se imprensa ou 
cursiva; correspondência 
figurativa entre escrita e o 
objetivo referido (desenho x 
escrita, escrita x tamanho). 
 
 
2. PRÉ-SILÁBICA 
Escrita se aproxima de letras; 
hipótese de quantidade mínima 
de letras e da variedade 
posicional. 
 (permuta da ordem linear). 
 
 
 
 
 
3. SILÁBICA 
Hipótese da tentativa de 
sonorização das letras; cada 
letra vale uma sílaba. Escrita ora 
distante das letras, ora 
diferenciadas. 
 
 
 
 
 
4.SILÁBICO-
ALFABÉTICA 
 
Hipótese de transição entre 
cada letra que vale uma sílaba e 
a sonorização das letras 
(conflito interno conceitual e a 
realidade exterior do sujeito). 
 
 
 
 
 
 
 
5. ALFABÉTICA 
 
Hipótese de correspondência da 
escrita e valores sonoros (menor 
que a sílaba). Exigi análise 
fonética antes de grafar. 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Figura 3-Hipósteses de Escrita (CARNEIRO, 2014, p.10). 
 
 
21 
 
Analisando o quadro acima percebemos que a capacidade de ler e 
escrever não depende exclusivamente da habilidade do sujeito em “somar 
pedaços de escrita”, mas, antes disso, de compreender como funciona a 
estrutura da língua e o modo como é usada em nossa sociedade (COLELLO, 
2004, p.24). 
 
Neste sentido, “etimologicamente, o termo alfabetização quer dizer 
levar à aquisição do alfabeto, ensinar as habilidades de ler e escrever, 
processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita” 
(SIMONETTI, 2007, p.17). E, observando o quadro 1, pode-se apregoar que 
um sujeito cognoscente (aquele que tem a capacidade de conhecer) para ser 
considerado alfabetizado, ele deve no mínimo se enquadrar no nível 
psicogenético 5, onde pensar sobre a escrita é refletir sobre sua própria escrita 
e analisar foneticamente cada articulação antes de escrever. Dessa mesma 
forma, não se pode apontar que um sujeito alfabetizado é aquele que sabe 
decodificar sílabas ou palavras isoladas, além daquele que não teria 
capacidade de redigir um texto adequado ortograficamente. 
 
A alfabetização tornou-se ao longo dos anos até sua atualidade, um 
processo de aquisição de ensino e aprendizagem do alfabeto, cuja técnica de 
ler, escrever, expressar e compreender a língua escrita e oral dará autonomia 
ao sujeito frente às práticas sociais de leitura e escrita. 
 
Longe de pensar que ler e escrever são apenas processos mecânicos, 
ou simplesmente técnicas, Colello (2004) traz uma importante discussão sobre 
a relação entre o que ela chamou de “educação do corpo inteiro” e o processo 
de aquisição da leitura e da escrita. O que ela denomina de “corpo inteiro” diz 
respeito à integração imprescindível de três dimensões (psicomotora, cognitiva 
e socioafeitva)para a aprendizagem da linguagem oral e escrita. 
 
Uma criança em idade escolar que frequenta a escola traz consigo não 
só a fala, mas seu corpo, que é uma parte de sua linguagem, de sua 
comunicação. Referente à alfabetização, quando há uma educação do corpo, 
esse aspecto influencia positivamente na aprendizagem da leitura e da escrita, 
 
22 
 
tanto em termos figurativos (escrita propriamente dita) como no significado e 
compreensão da ação de escrever, principalmente quando se registra a visão 
de mundo e o modo de ser das pessoas. 
 
Segundo Soares (2011), as discussões epistemológicas em torno do 
conceito de alfabetização não podem deixar de considerar algumas 
perspectivas que delimitam a natureza do processo da aquisição da leitura e da 
escrita, por ser um processo múltiplo, complexo, com diferentes facetas. Para 
ela, as perspectivas são: psicológicas, psicolinguísticas, sociolinguísticas e 
linguísticas. No quadro 2, discorremos informações sobre cada perspectivas. 
 
Quadro 2 – PERSPECTIVAS DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO 
 
PERSPECTIVAS ÊNFASE 
PSICOLÓGICAS 
 Relação entre inteligência (QI) e alfabetização; 
 Relação entre aspectos fisiológicos, neurológicos 
e psicológicos da alfabetização; 
 Ideologia do dom (sucesso/fracasso na 
aprendizagem da leitura e escrita); 
 Disfunções psiconeurológicas da leitura e da 
escrita. (afasia, dislexia, disgrafia, disortografia, 
disfunção cerebral mínima etc.). 
 Abordagens cognitivas (Psicologia Genética de 
Piaget); 
 Desenvolvimento da “lecto-escrita” na criança 
(Psicogênese da língua escrita de Emília 
Ferreiro); 
 
PSICOLINGUÍSTICAS 
 Abordagens cognitivas; 
 Análise dos problemas linguísticos (maturidade 
linguística para aprender, as relações entre 
linguagem e memória, a interação entre a 
informação visual e não visual no processo de 
leitura etc). 
 
 
23 
 
SOCIOLINGUÍSTICAS 
 Usos sociais da língua; 
 Problema dos diferentes dialetos (orais e 
escritos); 
 Problema das diferentes funções de 
comunicação, usadas em diferentes situações 
sociais e com diferentes objetivos. 
 
LINGUÍSTICAS 
 Progressivo domínio de regularidades e 
irregularidades (relação entre sons e símbolos 
gráficos/fonemas-grafemas). 
 
 Fonte: Elaboração Própria 
 
Enfim, o processo de alfabetização é complexo e multifacetado, por 
isso, quando uma criança se encontra alfabetizada, ela não faz uso apenas de 
letras, sons e escritas, mas de muitos aspectos que compõem um conjunto de 
habilidades em linguagem. E uma das principais habilidades é a capacidade de 
ser sujeito de sua própria educação, de ser capaz de conscientizar-se da 
importância de sua autonomia para sua formação cidadã. A seguir discutiremos 
a luz de Paulo Freire, a relação indissociável entre educação e transformação 
social. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia o livro Fundamentos Teóricos e Metodológicos da 
Alfabetização. As autoras explicitam as etapas pelas quais as crianças 
passam pensando sobre a língua escrita, até chegar a nível mais elevado para 
que uma criança se considere alfabetizada, o nível alfabético. Acesse no 
google books. 
 
 
 
 
 
 
24 
 
Alfabetização e a construção de homens de 
consciência. 
 
No inicio do século XX, por volta de 1932 no Brasil, os educadores 
Fernando de Azevedo, Anízio Teixeira, Lourenço Filho e outros intelectuais 
lideraram o movimento da Escola Nova, que consistia romper com uma escola 
de relações unilaterais, onde o ensino era baseado na transmissão do 
conhecimento e o professor era o centro do processo de ensino e 
aprendizagem. Na escola o estudante aprendia de forma tradicional e por muito 
tempo se alfabetizava com cartilhas do ABC. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A modernidade é palco de grandes mudanças e perspectivas. Surgem 
então, as teorias construtivistas e sociointeracionistas de Piaget, Vygotsky e 
Henri Wallon, que definiram em seus postulados como se dá o 
desenvolvimento cognitivo do sujeito, num constante movimento de interações 
e construções, entre o sujeito e o objeto do conhecimento dentro de um 
contexto histórico da busca pela autonomia e liberdade. Podemos citar Paulo 
Freire, um grande educador brasileiro, quando disse que a alfabetização é a 
forma de consciência política. 
 
Seu método de alfabetizar tornou-se mundialmente conhecido por ter 
uma carga ideológica e conscientização dialógica. Seu fundamento era a 
liberdade das massas de um estado ou condição de ingenuidade para um 
Escola Nova: Foi um movimento de mudança do ensino iniciado na 
Europa, América e Brasil por volta da metade do século XX. No Brasil, o 
Movimento Pioneiro da Escola Nova de 1932, teve seu desenvolvimento 
em decorrência das transformações econômicas, politicas e sociais pelas 
quais passavam o país, num contexto da crescente urbanização, 
ampliação da cultura do café, da industrialização e progresso econômico. 
Em virtude disso, surgiram contradições e desordens político-sociais e 
consigo uma mudança na visão intelectual brasileira. 
 
25 
 
estágio de criticidade, cujo instrumento era o diálogo. Jamais reduziu a 
alfabetização ao “puro aprendizado mecânico da leitura e da escrita, mas como 
ato político, [...] ao projeto global de sociedade a ser concretizado [...]” 
(FREIRE, 1978, p. 14). 
 
O lugar da escola precisa ser um espaço que valoriza o processo de 
alfabetização como um ato de formar pessoas, conscientes de sua condição de 
seu poder de transformação. A escola precisa para além da leitura e da escrita, 
atuar como um agente de transformação, pois a alfabetização não é uma 
aprendizagem neutra, é um ato ideológico, político e social. Na realidade a 
escola age na alfabetização como se ela fosse um aprendizado neutro, sem 
relação com caráter político. O ato de ler e escrever para a escola não passa 
do ato instrumental para ter conhecimento, ou seja, a escola não reconhece na 
alfabetização um processo de construção de saberes e uma forma de 
conquista do poder político. 
 
O processo de transformação social passa necessariamente pela 
escola. O vínculo entre educação e a mudança social tem sua gênese histórica 
na Revolução Francesa (1789-1799), início basicamente na era moderna, cujos 
ideais de liberdade e democracia deram também a escola um ar iluminista. “O 
homem deve ser sujeito de sua própria educação. Não objeto dela. Por isso, 
ninguém educa ninguém” (FREIRE, 1979, p.28). 
 
Para isso é necessário que a educação e o processo de alfabetização 
deem suporte ao homem para que ele mesmo se torne sujeito de sua própria 
história, como forma de participar ativamente da vida em sociedade. A sua 
consciência linguística mantém uma forte ligação com a consciência social, por 
isso “o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena 
participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem 
acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói 
visões de mundo, produz conhecimento” (BRASIL, 1997, p.21). 
 
“A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não 
educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas 
 
26 
 
estes não são absolutos. O homem, por ser inacabado, incompleto, não sabe 
de maneira absoluta” (ibidem). Com isso, o professor exerce sobre o estudante 
uma influência motivadora para que o alfabetizando torne-se sujeito de sua 
alfabetização, que o permita passar por caminhos e meios que o leve a 
conhecer o conhecimento, isto é, o papel do professor não é apresentar o 
objeto ao alfabetizando pronto eacabado, mas proporcionar meios, o acesso, a 
motivação para curiosidade e o esforço da busca, pois só assim o ato de 
conhecer/aprender torna-se valoroso. 
 
Soares (2011) traz uma relevante contribuição acerca da relação entre 
alfabetização e cidade, que inclusive escreveu em seu livro “Alfabetização e 
Letramento”, um capítulo para desmistificar o lado negativo e positivo dessa 
relação. O fato é que a alfabetização (o acesso a leitura e a escrita) não será 
condição única para o exercício da cidadania, uma vez que a conquista deste 
direito, requer uma série de outros como : políticos, econômicos, sociais, 
culturais etc. 
 
No entanto, em uma sociedade como a nossa: moderna, grafocêntrica 
(sociedade que é centrada na escrita), tecnológica, informativa e comunicativa, 
segundo a autora, enquanto uns tem posse total desses domínios linguísticos e 
sendo privilégios de determinadas classes sociais, assumindo com mais poder 
postos de trabalho, áreas sociais, recreativas e culturais, por vezes, a leitura e 
a escrita torna-se um instrumento de discriminação social. Por isso, que o 
acesso a todos a leitura e a escrita, indiscriminadamente, como ferramenta 
indispensável à vida política, social, profissional, econômica e cultural é 
condição necessária à cidadania, ultrapassando a mera técnica mecânica de 
ler e escrever. Educação, leitura e escrita é direito de todos, como arma de luta 
pela conquista da cidadania, e elemento imprescindível ao exercício da 
cidadania. 
 
A natureza da alfabetização supracitada anteriormente revela que sua 
complexidade e múltiplas concepções (perspectivas) têm origem e 
condicionantes diversos, bem como implicações na educação, como 
preconizou Soares (2011). A autora nos mostra que tais implicações vão desde 
 
27 
 
os métodos, passando pelo material didático, até chegar à formação do 
alfabetizador. Atualmente o sistema brasileiro de educação tem investido 
maciçamente na formação de professores, especialmente da educação infantil 
ao ensino fundamental menor, onde está localizada a alfabetização. 
 
Essas questões acerca de métodos, materiais didáticos e práticas 
pedagógicas serão tratadas na próxima unidade de estudo. Por hora, a 
alfabetização sinônimo de leitura e escrita, mas também de conscientização 
social, é um estado ou condição que está no mundo, não somente inserido 
num status de leitor ou escritor, mas de ser gente, agente transformador social. 
Para tanto, é preciso que o sujeito seja capaz de fazer uso de seu saber 
linguístico nas práticas sociais de leitura e escrita, fundindo numa relação entre 
alfabetização e letramento, assunto do nosso próximo tópico. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia o artigo “A importância do letramento na alfabetização”. Os 
autores propõe uma reflexão sobre o processo de alfabetização e letramento. 
Explica a diferença de ambos, mas que devem ser trabalhados juntos, para que 
tenha sucesso na formação inicial dos estudantes. Acesse: 
http://www.opet.com.br/faculdade/revistapedagogia/pdf/n3/6%20ARTIGO%20L
UANA.pdf 
 
 
Alfabetização na pré-escola 
 
Em nossa literatura brasileira ou na nossa legislação não há nenhum 
indicativo, pelos menos a que temos acesso, que indica – criança na pré-escola 
é para aprender a ler e escrever aos cinco anos de idade. Ferreiro (2010) 
aborda esta discussão e busca desmistificar essa obrigatoriedade ou não. 
 
A autora aponta para o fato que as escolas quando diz que criança 
nessa idade não é pra ler e escrever ainda, ela incumbe-se de vasculhar e dar 
descaminho de tudo que está na sala de aula que acesse os pensamentos das 
 
28 
 
crianças para a leitura e a escrita, é sumariamente escondido. Mas, há escolas 
que apoia esta campanha de que criança aos cinco anos de idade é para 
aprender a ler e escrever. Dessa forma, ela mesma cuida para que o ambiente 
escolar e a sala de aula seja repleto de textos, cartazes, desenhos, números, 
etc. 
 Mesmo que esta decisão fique por conta da escola e da coordenação, 
as crianças só aprenderão quando lhes é ensinado. Contudo uma situação é 
certa – as crianças aprendem antes mesmo de chegar à escola. Assim, a 
autora conclui: “Com base nas investigações realizadas podemos afirmar que 
nenhuma criança urbana de seis ou sete anos de idade começa o primário com 
total ignorância da língua escrita” (FERREIRO, 2010, p. 97). 
 
Portanto, a autora complementa, a sala da pré-escola deveria permitir a 
liberdade de experimentar os sinais escritos aos estudantes. E no lugar de 
estarmos preocupados com a questão se pode ou não crianças de cinco anos 
aprender a ler e a escrever na pré-escola, deveríamos dar a elas condições 
necessárias para aprender. 
 
Alfabetização e Letramento: a gênese e caminhos no 
Brasil 
 
Alfabetização ou Letramento? Qual a melhor forma de usar o binômio 
no que se refere os atos de ler e escrever? 
 
Há uma diferença conceitual no uso dos conectivos entre as duas 
palavras, nos dois usos. Ora, eles parecem indicar alternativa e 
incompatibilidade, ou, complementaridade. Bem, Colello (2004) nos traz a fala 
de Ferreiro (2003) quando ela se refere ao termo Letramento, usado no Brasil, 
que a deixou surpresa, pois começou a usar o termo como substituto da 
alfabetização, virando sinônimo de decodificação, como sendo uma ação de 
contato com diferentes tipos de textos, para se chegar a uma compreensão do 
que se lê. Para a autora, isso seria um retrocesso na história da linguagem. Ela 
nega-se a aceitar que haja um momento para decodificação anterior a 
 
29 
 
percepção da função social do texto. Por fim, aceitar tal argumentação é apoiar 
a velha razão da consciência fonológica. 
 
Abrimos esta sessão com a discussão, não desprezando o trabalho de 
Kato (1986) quando fez referência ao termo no seu livro - No mundo da 
escrita: uma perspectiva psicolinguística, mas, apenas para delinear que 
ela foi uma das primeiras a usar o termo no Brasil nesse período, e como disse: 
o uso do termo. 
 
Emília Ferreiro refere-se à utilização do vocábulo letramento se 
dirigindo a uso como retrocesso, uma vez que, como os textos até hoje trazem, 
alfabetização em inglês é literacy, e letramento em inglês é literacy. A 
funcionalidade de ambos os termos é a mesma: acesso a leitura e a escrita. 
Colello (2004) faz referência a Magna Soares, como uma das autoras da área 
que defende a complementaridade e o equilíbrio entre Alfabetização e 
Letramento. 
 
Quanto ao primeiro uso do termo “letramento” apresentamos que, a 
escola tem o papel de colocar a criança frente a frente com o mundo da escrita, 
fazendo com que o sujeito torna-se funcionalmente letrado, ou seja, capaz de 
usar a linguagem escrita para crescer e aprender individual e coletivamente. 
Podemos dizer que a norma culta da língua surge do letramento, pois é função 
da escola desenvolver no estudante a competência de dominar a linguagem 
falada, que é aceita pelas instituições. 
 
A autora apresenta o termo letramento como consequência da 
aprendizagem individual da leitura e da escrita para uso social, ou seja, o uso 
da norma culta da língua. A autora não explica o uso do termo e nem tampouco 
busca expor o conceito do termo. Ela, apenas se refere que é função da escola 
inserir o sujeito no mundo da escrita para que se torne letrado e 
consequentemente capaz de usar a linguagem para comunicação. 
 
 Segundo Silva (2011), dois anos depois, Leda V. Tfouni distingue 
alfabetização e letramento, dizendo que o primeiro se refere a um processo 
 
30 
 
individual de aquisição de leitura e escrita (está alfabetizado), enquanto o 
segundo refere-se aoâmbito social da aquisição da escrita. No que diz respeito 
essa questão dual “a oposição feita entre a “alfabetização” e “letramento” será 
tanto mais rica quanto ela puder subsidiar o abandono de certas práticas 
pedagógicas que, durante anos, têm abafado a criatividade e a comunicação 
infantil” (COLELLO, 2004, p.122). 
 
Para concluir incialmente essa garimpagem pelo o uso do termo 
letramento, Silva (2011) nos apresenta o conceito de Kleiman (1995) 
 
Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de 
práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema 
simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, 
para objetivos específicos [...]. As práticas específicas da 
escola, que forneciam o parâmetro de prática social segundo a 
qual o letramento era definido, e segundo a qual os sujeitos 
eram classificados ao longo da dicotomia alfabetizado ou não 
alfabetizado, passam a ser, em função dessa definição, apenas 
um tipo de prática – de fato, dominante – que desenvolve 
alguns tipos de habilidades, mas não outros, e que determina 
uma forma de utilizar o conhecimento sobre a escrita. 
(KLEIMAN, 1995, p. 19, apud SILVA, 2011, p.23-24) 
 
De posse do conhecimento da leitura e da escrita, um sujeito pode-se 
considerar apto ou competente para se comunicar com o mundo, ser 
interlocutor e receptor de informações e comunicações. Segundo Cavazotti 
(2004), até certo período escolar do ensino tradicional os métodos de ensino e 
o material utilizado (a cartilha) deram conta das condições históricas próprias 
do aprendizado naquele período. Hoje, com a globalização, as tecnologias e a 
rapidez das informações, o mundo exige das pessoas e da escola novos 
métodos, recursos e patamares de leitura e escrita, por isso que surge o termo 
letramento. 
 
A apropriação das competências de leitura e escrita pelo sujeito para 
agir no mundo, concorre para o conceito de letramento. Conforme Soares 
(2010), o termo Letramento (o verbete apareceu pela primeira vez no Dicionário 
Houaiss no Brasil em 2001), surgiu no Brasil na década de 80, usado pela 
 
31 
 
primeira vez por Mary Kato em seu livro No mundo da escrita – uma 
perspectiva psicolinguística, como uma versão portuguesa da palavra 
literacy da língua inglesa (traduzida para o português como alfabetização), que 
significa: situação ou qualidade daquele que aprende a ler e escrever, que num 
plano individual seria estar alfabetizado e utilizar tal tecnologia (ler e escrever) 
e envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita. 
 
Para a autora, o mundo está se tornando cada vez mais grafocêntrico, 
ou seja, uma sociedade centrada na escrita, exigindo das pessoas que sabem 
ler e escrever práticas sociais que modifiquem seu estado ou condição de estar 
no mundo, inclusive os aspectos linguísticos. 
 
A alfabetização de um lado se encarrega de ensinar/aprender a ler e a 
escrever, e por outro lado, o letramento dedica-se não somente em saber ler e 
escrever, mas mobilizar o cultivo da leitura e da escrita que privilegiem as 
demandas sociais de exercício dessas práticas. Embora, essas duas ações 
pedagógicas se distinguem no seu fazer, elas se completam, de modo que 
ensinam a ler e escrever em situações das práticas de leitura e escrita, 
tornando o estudante, tanto alfabetizado quanto letrado. 
 
Ficam evidentes as principais características que diferencia o 
letramento da alfabetização, especialmente o uso das competências de ler e 
escrever em contextos sociais de leitura e escrita. Por isso, se pressupõe que 
os termos não são consequentes, isto é, mesmo sendo alfabetizado um sujeito 
não estará letrado se este não fizer uso de sua capacidade de leitor e escritor, 
e assim, vice e versa. 
 
O letramento, ou ser letrado, ou estar letrado é muito mais complexo do 
que se imagina (apenas dizer que o letramento é uso da leitura e da escrita). É 
mais que isso, pois envolve uma complexa rede de significados de discursos, 
seja ele oral ou escrito. Segundo Cavazotti (2004), estar letrado é necessário o 
leitor ser capaz de apreender o sentido dos discursos, interpretando os 
elementos históricos, científicos e ideológicos que o instituem. Dominar os 
 
32 
 
elementos da textualidade que edificam o discurso oral e escrito, bem como os 
elementos materiais de sua decodificação (letras e sons). 
 
Neste sentido, junto à ideia de Soares (2010), afirma Rojo (1998), que 
o processo de letramento tem indissociável ligação com a construção do 
discurso oral, e optar por uma visão socioconstrutivista do letramento e da 
escrita, constitui re- (pensar) às relações entre a linguagem oral e a escrita, 
porque “[...] o desenvolvimento da linguagem escrita ou do processo de 
letramento da criança é dependente, por um lado, do grau de letramento da 
instituição familiar [...], em seu cotidiano, de prática de leitura e de escrita” 
(ROJO, 1998, p.123). 
 
“Com maior ou menor intensidade, o processo de letramento 
geralmente tem início muito antes do ingresso na escola e configura-se como 
saber fundamental no processo de alfabetização, explicando muitas vezes as 
diferenças no ritmo de aprendizagem dos alunos” (COLELLO, 2004, p.121). 
Ou seja, as práticas sociais de leitura e escrita antes do contato com elas nos 
muros da escola, dão condições e habilidades específicas aos estudantes que 
facilita sobremaneira o aprendizado da linguagem em termos do processo de 
aquisição da leitura e da escrita (alfabetização). 
 
Você sabe por que o letramento é um processo que se inicia antes da 
escolarização e da alfabetização? 
 
Porque a linguagem sendo uma forma comunicativa pessoal sua 
orientação se dá e se realiza num processo de prática social em distintos 
grupos sociais, como preconizou os estudiosos e professores que redigiram os 
Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa. 
 
A linguagem é uma forma de ação interindividual orientada por 
uma finalidade específica; um processo de interlocução que se 
realiza nas práticas sociais existentes nos diferentes grupos de 
uma sociedade, nos distintos momentos da sua história. Dessa 
forma, se produz linguagem tanto numa conversa de bar, entre 
amigos, quanto ao escrever uma lista de compras, ou ao redigir 
 
33 
 
uma carta — diferentes práticas sociais das quais se pode 
participar [...] (BRASIL, 1997, p.22). 
 
 
Para Angela Kleiman (1995), o termo letramento se constituiu e é 
usado pelos motivos que seguem: sua essência acompanha o desenvolvimento 
do uso da escrita desde o século XVI; ampliou-se o poder de uso da escrita 
pelos grupos minoritários em detrimentos dos majoritários; substituir a 
tradicional alfabetização para explicar estratégias orais letradas de crianças 
que não são alfabetizadas, mas são consideradas letradas. Por isso, segundo 
a autora, as práticas sociais que se utilizam da escrita, como símbolo e 
tecnologia, especialmente na escola, como principal agência de letramento, ela 
volta-se não para ação de letrar (prática social), mas como uma prática de 
alfabetizar, enquanto processo de aquisição de códigos. 
 
As práticas sociais de que fala a autora, é uma ação de participação 
integral das pessoas que sabe ler e escrever na sociedade contemporânea, 
como reforça Brito (2005). Para ele, saber ler e escrever é condição necessária 
para o letramento. A participação para o autor é a capacidade de agir com 
autonomia intelectual, ou seja, ser capaz de “[...] decidir, calcular, planejar, 
intervir, criticar, transformar, solucionar, criar” (idem, p. 23). Essa capacidade 
tem um condicionante, ou mais de um – a aprendizagem da língua escrita e 
oral. Por isso, letramentoé um ato resultado de quem aprende a ler e escrever. 
 
Letramento é o resultado da ação de ensinar e aprender a ler e 
escrever. O estado ou a condição que adquire um grupo social 
ou um individuo como consequência de ter-se apropriado da 
escrita. (...) Já alfabetizado nomeia aquele que apenas 
aprendeu a ler e escrever, não aquele que adquiriu o estado ou 
a condição de quem se apropriou da escrita, incorporando as 
práticas sociais que as demandam (BRITO 2005, p.30, apud, 
SOARES, 1998, p. 20). 
 
Como diz a autora, citando Soares (1998) não basta saber ler e 
escrever para ser letrado, é preciso fazer uso dessas habilidades, responder as 
demandas sociais diariamente. Brito (2005) indica que após a década de 1980 
houve uma utilização indiscriminada com o conceito de letramento e 
 
34 
 
semelhantes, que têm causado conflitos conceituais nas pesquisas e estudos. 
Por isso, a autora diz existir quatro termos conceituais em uso: letramento, 
alfabetismo, alfabetização e cultura escrita, que são análogos na forma e no 
conteúdo, principalmente no que equivalem no uso e na prática. Esclarece 
ainda que, o uso dos termos pode ser feito de modo complementar, o que leva 
a compreensão do significado da alfabetização em sua plenitude. 
 
Atualmente, embora haja inúmeras definições para o binômio 
alfabetização e letramento, seja como aspecto de oposição ou de 
complementaridade, o que nos interessa aqui é configurar a nova tendência 
das práticas pedagógicas, usando a junção dos termos, como sugere Colello 
(2004) com o Modelo Ideológico de Alfabetização (opondo-se ao Modelo 
Autônomo), que chamou essa tendência de Alfabetizar Letrando. 
 
 
 
 
 
 
Este modelo vincula-se as diversas formas das práticas de letramento, 
onde valoriza a sua simbologia cultural e o contexto de produção, quebrando 
um paradigma entre o momento de aprender e o momento de fazer uso da 
aprendizagem. Vale salientar que, os estudos da linguagem propõem um 
dinamismo entre descobrir a escrita (funções e manifestações) aprender a 
escrita (compreensão de regras e seu funcionamento) e usar a escrita (cultivo 
de suas práticas a partir de um referencial significativo para o sujeito). O autor 
nos apresenta o Modelo Ideológico em um esquema gráfico, vejamos: 
 
 
 
 
 
 
 
DESCOBR
IR A 
ESCRITA 
USAR A 
ESCRITA 
 
APRENDE
R A 
ESCRITA Fonte: COLELLO (2004, 
p.113) 
ALFABETIZAR 
Modelo Autônomo: Modelo que prima pela a continuidade do uso da língua 
dominante, uma sociedade pauta no uso da norma culta da língua e prima 
pela assimilação do uso das normas linguísticas, desconsiderando o aluno e 
reforça o fracasso escolar. 
 
35 
 
Para o autor, o principio alfabetizar letrando está relacionada a uma 
nova condição cognitiva e cultural do processo de aquisição da língua escrita. 
Essa aquisição vem ampliando seu campo de atuação (pluralidade de práticas 
sociais), assim, vemos emergir letramentos, letramento social, escolar, 
científico, musical e informático etc. 
 
E esses letramentos são possíveis porque a nossa linguagem é 
histórica, é cultural e uma forma de estar no mundo. Segundo o PCNs de 
1997, a nossa língua por ser um sistema simbólico carrega consigo uma 
história, que possibilita a nós significar o mundo e a realidade. Dessa forma, 
aprender a língua não é tão somente aprender palavras, mas os seus sentidos 
culturais e com eles os modos pelos quais as pessoas compreendem e 
interpretam os fatos e a si mesmas. 
 
 Enfim, se considerarmos a posição das autoras, que avaliam que o 
principio básico da concepção de letramento é mais do que a simples aquisição 
da escrita e seu código (alfabetização), mas que mantém forte ligação e 
indissociável com o processo de alfabetização, estaremos admitindo que 
letramento de fato é uma prática social, do uso das habilidades e competências 
de ler e escrever em sociedade, para se comunicar e se informar, para ser 
alguém no mundo em que a língua escrita e falada em sua quase totalidade 
domina as relações entre homens e mulheres. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia a obra de Magda Soares, cujo tema é “Letramento: um tema em 
três gêneros”. Neste livro a autora trata da relação entre letramento e 
alfabetização, das habilidades e práticas sociais de leitura e escrita, bem como 
da análise discursiva das práticas de produção de texto e de leitura. 
 
 
 
 
36 
 
Letramento ou Alfabetismo? A cultura escrita da 
alfabetização 
 
Estar alfabetizado e letrado é uma condição inerente à pessoa que 
sabe ler e escrever com independência e faz uso social dessa condição para 
melhor participar de sua vida em sociedade, uma vez que, diariamente somos 
envolvidos mesmo que involuntariamente em contextos de letramento e de 
alfabetização. Desde os primeiros raios solares, já estamos vendo o horário do 
relógio, pegando nas embalagens para preparar o café da manhã, vendo 
letreiros, placas e sinais no percurso do trabalho. 
 
Um sujeito que é capaz de diferenciar o que são letras e símbolos, que 
sabe distinguir o que são formas de comunicação escrita e falada, que faz uso 
desses mecanismos da linguagem para se comunicar, é uma pessoa 
considerada alfabetizada, mesmo aquelas que sabem minimamente registrar 
ou reconhecer palavras, escrever seu nome ou se comunicar através de um 
bilhete, por pequeno que seja. 
 
A discussão chega num nível em que esse parâmetro de classificação 
a que nos referimos diz respeito ao que conhecemos como analfabetismo 
funcional, que consiste na condição daquele que consegue se comunicar muito 
pouco, segundo o padrão da norma para se considerar alfabetizada 
(alfabetizado pleno). Às vezes escreve apenas seu nome completo, lê palavras 
simples, sentenças curtas e pequenos textos, e algumas situações nem 
conseguem. 
 
Para o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) do Instituo Paulo 
Montenegro, é “considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo 
sabendo ler e escrever algo simples, não tem as competências necessárias 
para satisfazer as demandas do seu dia a dia e viabilizar o seu 
desenvolvimento pessoal e profissional”. Consideramos que essas pessoas 
que são classificadas nesse estágio de comunicação certamente “perderam” a 
oportunidade de serem alfabetizadas na hora certa, seja por questões 
 
37 
 
pessoais, ou até mesmo por questões metodológicas. E o tempo passou e não 
teve como recuperá-lo. 
 
Com isso, indica-se que o ensino da leitura e da escrita para os 
analfabetos funcionais pode ter sido levado em conta a escrita apenas como 
transcrição da fala, ou até mesmo apenas como um ato mecânico e motor, sem 
levar em conta o que eles pensavam sobre a escrita. Assim, [...] quando a 
escrita é considerada um ato prioritariamente motor [...], a maior preocupação 
dos alfabetizadores recai no treinamento das habilidades responsáveis pelos 
aspectos figurativos da escrita (coordenação motora, discriminação visual e 
organização espacial) [...] (COLELLO, 2004, p.17). Segundo o autor, nos 
parece bem claro, que ao conceber a alfabetização como um treinamento de 
habilidade (ler e escrever), o sujeito tem limitado sua capacidade de 
pensamento e da ação no mundo. 
 
Todos nós ao longo da vida aprendemos termos e palavras porque eles 
são passados de geração em geração, pois esse ato é cultural, isso é 
educação. Mas sobre alguns conceitos, precisamos nos aprimorar, 
especialmente quando muitos são desconhecidos. O termo analfabeto, 
segundo os dicionários portugueses é a pessoa que não sabe ler e nem 
escrever. Já o analfabetismo é o estado ou condição do analfabeto. 
 
E alfabetismo?Você sabe o que é? Qual a ideia você faz deste 
termo? Você já ouvir falar algo sobre ele? 
 
Bem, para responder a essas questões, primeiro tem-se que esclarecer 
um ponto: o verbete alfabetismo não é tão comum entre nós, mas ele é o 
oposto (positivo) do analfabetismo (negativo), que quer dizer estado ou 
condição de alfabetizado. Segundo Soares (2011) é aquele que aprende a ler e 
a escrever. O uso da palavra é bem recente, porque as mudanças que 
ocorreram continuamente, e a realidade linguística, como diz a autora, não é 
suficiente saber ler e escrever, além desse domínio se quer o uso dessas 
habilidades, incorporando-a a seu viver, modificando seu estado/condição de 
 
38 
 
Cultura escrita – modalidade de organização social de base escrita, com 
implicações nas formas de produzir, viver, conhecer, representar. 
Letramento – conjunto de práticas sociais de escrita e da leitura que 
definem os modos privilegiados de participar e produzir na sociedade de 
cultura escrita, tanto em ambientes escolares como em outros ambientes 
sociais. 
Alfabetismo – conjunto de habilidades individuais de uso da escrita. 
Alfabetização – processo de ensino e aprendizagem do sistema da escrita. 
sujeito numa sociedade alfabetizada e letrada, isso como decorrência desses 
saberes. 
 
É nesse sentido que o termo alfabetismo se aproxima do termo 
letramento, ou até mesmo se assemelha, pois o sentido dos dois consiste na 
essência do uso social da leitura e da escrita. Soares (2011) afirma que o 
alfabetismo admite duas dimensões: a individual e a social. A primeira diz 
respeito à habilidade de um sujeito ler e escrever, ou seja, a competência da 
pessoa com a leitura e a escrita. A segunda faz referência a “[...] um fenômeno 
cultural, referindo-se a um conjunto de atividades sociais, que envolvem a 
língua escrita, e a um conjunto de demandas sociais de uso da língua escrita” 
(SOARES, 2011, p.30). 
 
Britto (2005) nos alerta para o fato de que o termo letramento vem 
sendo acompanhado da palavra letrado denotando o sujeito que tem 
letramento, e não como uma pessoa culta, erudita como trazem alguns 
dicionários. Associar letramento a tais conceitos tem dificultado a 
compreensão, além do mais, tem causado confusão com vários termos como 
alfabetizado, escolarizado e culto. O autor no quadro abaixo faz uma diferença 
conceitual de cultura escrita, letramento, alfabetismo e alfabetização, 
justamente para organizar as nossas reflexões. Sua intenção foi sintetizar os 
termos para que os mesmos se tornem de fácil compreensão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: BRITTO, 2011, p. 32 
 
 
39 
 
Revisando algumas literaturas disponíveis nesse contexto de 
classificação – alfabetizado, não alfabetizado, alfabetizado pleno ou 
alfabetizado funcional, verificou-se que o mais importante é indicar as práticas 
sociais desses grupos. Por isso, Vera Masagão Ribeiro e Roberto Castelli 
Junior, que coordenam o Indicar de Alfabetismo Funcional, do Instituto 
Paulo Montenegro. Criado no ano 2001, pelo Instituto Paulo Montenegro em 
parceria com a ONG Ação Educativa, é uma pesquisa que permite estimar os 
níveis de alfabetismo da população entre 15 e 64 anos e compreender seus 
determinantes. Avaliando suas habilidade e práticas de leitura, de escrita e de 
matemática aplicadas ao cotidiano. 
 
PARA SABER MAIS: 
Leia a entrevista da especialista em alfabetização Maria Mortatti, a 
professora fala sobre a pesquisa científica, carreira docente e qualidade da educação 
brasileira e ainda enfatiza que os desafios da educação vão além de iniciar as crianças 
na leitura e na escrita. Acesse: 
http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/precisamosderespostas/19,1430,3975873,Entrevi
sta-com-Maria-Mortatti-especialista-em-alfabetizacao. 
 
 
PARA SABER MAIS: 
Assista ao vídeo Alfabetismo e Letramento, Magda Soares fala a diferença 
entre letramento e alfabetização e enfatiza que estão articulados entre si e apresenta 
exemplos de trabalhos de crianças. Acesse: https://www.youtube.com/watch?v=-YP-
7l6oAZM 
 
Assista também aos vídeos da psicóloga Telma Weisz – Alfabetização Parte 
1 e Alfabetização Parte 2, ela aborda os processos da aquisição da leitura e da 
escrita. Acesse: Parte 1 - https://www.youtube.com/watch?v=2wK9lw2cehI. E Parte 2 - 
https://www.youtube.com/watch?v=RzR-ga8ke9U 
 
É apresentado os níveis de alfabetismo, sendo o primeiro o analfabeto 
(dividido em dois grupos), e os demais alfabetismo 1(elementar) , 2 
(intermediário) , 3 (proficiente), são eles: 
 
 
40 
 
Quadro 3 – NIVEIS DE ALFABETISMO DO INAF 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: sitio do Instituto Paulo Montenegro: http://www.ipm.org.br/ 
 
 
ANALFABETOS FUNCIONAIS 
 
 Analfabeto - Corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas 
simples que envolvem a leitura de palavras e frases ainda que, uma parcela 
destes consiga ler números familiares (números de telefone, preços etc.); 
 
 Rudimentar - Corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita 
em textos curtos e familiares (como um anúncio ou um bilhete), ler e escrever 
números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o 
pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a 
fita métrica; 
 
 
 
 FUNCIONALMENTE ALFABETIZADOS 
 
Até a edição de 2011, este grupo era subdividido nos níveis Básico e Pleno. 
A partir de 2015, buscando aprimorar a interpretação dos resultados, os respondentes 
passam a ser classificados em 3 níveis: 
 
 Elementar - As pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas 
funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média 
extensão, localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas 
inferências, resolvem problemas envolvendo operações na ordem dos milhares, 
resolvem problemas envolvendo uma sequência simples de operações e 
compreendem gráficos ou tabelas simples, em contextos usuais. Mostram, no 
entanto, limitações quando as operações requeridas envolvem maior número de 
elementos, etapas ou relações; 
 
 Intermediário – Localizam informações em diversos tipos de texto, resolvem 
problemas envolvendo percentagem ou proporções ou que requerem critérios 
de seleção de informações, elaboração e controle de etapas sucessivas para sua 
solução. As pessoas classificadas nesse nível interpretam e elaboram sínteses de 
textos diversos e reconhecem figuras de linguagem; no entanto, têm dificuldades 
para perceber e opinar sobre o posicionamento do autor de um texto; 
 
 Proficientes - Classificadas neste nível estão às pessoas cujas habilidades não 
mais impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações 
usuais: leem textos de maior complexidade, analisando e relacionando suas 
partes, comparam e avaliam informações e distinguem fato de opinião. Quanto à 
matemática, interpretam tabelas e gráficos com mais de duas variáveis, 
 
41 
 
O Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) divulgou o resultado da 
pesquisa de 2015, apontando uma reflexão sobre as relações entre o 
alfabetismo e o mundo do trabalho a partir de análises por setores da 
economia, níveis hierárquicos, tipo de relação de trabalho e para algumas 
funções específicas. Para entendermos melhor os resultados do INAF 2015 
(tabela 1) é preciso conhecer a escala de proficiência do estudo (quadro 4), no 
qual são divididos em grupos e seus intervalos de pontuação nos testes 
práticos. 
 
Quadro 4 – Cortes dos grupos de alfabetismo e intervalo na escola de 
proficiênciado estudo especial INAF-2015 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Relatório INAF/2015 
 
 
Tabela 1 – Distribuição da população pesquisada por grupo de 
alfabetismo 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Relatório INAF/2015 
 
 
Conclui-se que, no Brasil em pleno século XXI, ano de 2015, a 
população de 15 a 64 anos, 27% são analfabetos funcionais, numa amostra de 
 
42 
 
2002 participantes, 545 pessoas, mais de ¼ tem poucas habilidades de leitura 
e escrita. Além disso, quase 50% das pessoas pesquisadas estão no nível 
elementar de alfabetização, ou seja, são capazes de ler uma ou mais unidades 
de um texto médio, realizando pequenas inferências e resolvem problemas 
básicos das operações matemáticas. E o mais surpreendente resultado, no 
sentido de desfavorável, apenas 8% dos pesquisados (161 de um universo de 
1.457 alfabetizados) apresentou-se proficientes em compreender e interpretar 
textos em diversas situações cotidianas, e resolvem problemas com múltiplas 
etapas, operações e níveis de informações. 
 
Parece-nos óbvio que quanto mais elevado o nível de escolaridade 
certamente é maior o nível de alfabetismo. Engana-se. A pesquisa mostra 
ainda que a relação entre a escolaridade e a distribuição nos níveis de 
alfabetismo não foi linear. Observamos: dos 2002 participantes, 5% não 
frequentaram a escola, 16% pararam ou concluíram no ensino fundamental - 
anos iniciais, 23% pararam ou concluíram o ensino fundamental - anos finais, 
40% cursam ou concluíram o ensino médio, e 17% cursam ou concluíram a 
educação superior. Ou seja, mesmo com pessoas tendo chegado ao ensino 
médio ou a educação superior, elas não conseguem alcançar a escala de 
alfabetismo proficiente. 
 
Outros dados que faz toda diferença fazem-se necessário revelá-los. 
Dos 2002 participantes da pesquisa, 48% são homens e 52% são mulheres, 
sendo que, 54,5% dos analfabetos funcionais são do sexo masculino, mesmo 
as mulheres sendo maioria. Mas no que tange o nível mais alto da escala do 
alfabetismo – a proficiente, os homens ocupam o mesmo percentual – 54%. 
Sobre o quesito raça/cor, 46% dos entrevistados declaram-se pardos, e 
somente 13% disseram que eram negros, enquanto os brancos eram 38% e 
amarelos ou indígenas eram 2%. 
 
E no que tange o foco da pesquisa – a relação entre alfabetismo e o 
mundo do trabalho, 63% das pessoas pesquisadas estão trabalhando e, 
juntado os desempregados, os que procuram o primeiro emprego e os que não 
estão procurando, este percentual é de 18%. E como estudiosos indicam: 
 
43 
 
quem tem menor desempenho escolar, são necessariamente aqueles que 
estão desempregados, justamente por não atender as exigências linguísticas 
do mercado. No entanto, como já citado, a pesquisa em questão mostra o 
contrário, pois 1.267 pessoas estão trabalhando (67%). 
 
Enfim, sabe-se que o princípio fundamental do alfabetismo é a 
aquisição das habilidades de ler e escrever com eficiência e eficácia, o que 
torna o sujeito uma pessoa consciente de suas práticas sociais de letramento, 
ou seja, do uso da língua escrita e falada, da comunicação e expressão e 
informação, socialmente construída e culturalmente edificada. Dessa forma, a 
partir do momento que se está alfabetizado, de posse dos recursos 
comunicativos em pleno desenvolvimento, o sujeito precisa apenas usá-lo de 
forma autônoma, como uma possibilidade de compreender o mundo e estar no 
mundo e com as pessoas. Esse é o verdadeiro sentido do alfabetismo e do 
letramento, o uso contínuo dos meios sociais de comunicação e informação em 
sociedade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
45 
 
 
 
 
 
A PEDAGOGIA DA 
LEITURA E DA ESCRITA 
NO PROCESSO DE 
ALFABETIZAÇÃO E 
LETRAMENTO 
2 
 
 
 
 
 
 
46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
47 
 
As diferentes maneiras de pensar a leitura e a escrita. 
 
Quando algumas crianças começam a frequentar a escola a partir de 
dois e três anos de idade, elas têm os primeiros contatos com a cultura escrita: 
desenhos, letras, palavras e textos. A presença da escrita desde esse período 
até a fase da alfabetização (entre 6 a 8 anos) se apresenta de diferentes 
formas e finalidades. 
 
A “[...] escrita a mais adequada forma de expressão. O registro gráfico 
concretizado no ato de escrever é a extensão de outras possibilidades 
comunicativas (como, por exemplo, falar) que puderam ser adaptadas e 
organizadas numa nova linguagem” (COLELLO, 2004, p.11). O mundo é 
gráfico, isso não se pode negar. Seja sozinho, ou coletivo, as experiências com 
a escrita será particular para cada um de nós, mas a prática social é bem mais 
rica do que individualmente. Aqui não se quer negar os valores do 
conhecimento individual, mas de entendê-los nas práticas de uso sociais, como 
ressaltou Britto (2005). 
 
Por este entendimento, o autor nos apresenta as esferas de uso da 
leitura e da escrita, que nada mais é do que os contextos de inserção social 
correspondente as diferentes formas de utilização da linguagem, vinculados a 
cultura, a economia e a política. São sete esferas: da vida doméstica, da vida 
pessoal, da vida social, da informação e da participação, da vida 
profissional, da formação e instrução, e do lazer e entretenimento. 
 
A primeira esfera trata de ações domésticas em que se usa a leitura 
para ler listas, catálogos, produtos, rótulos, receita, bula de remédios, manual 
de instalação de um aparelho, etc. Quanto à escrita, se faz elaboração de lista 
de compras, bilhetes, avisos, recados, copiar receitas, organizar pasta de 
contas a pagar e caixa de documentos etc. Brito (2005) ressalta que este uso 
quando não é feito pela própria pessoa, por vezes pode ser feito por um 
parente ou um vizinho. 
 
 
48 
 
Da vida pessoal, a leitura e a escrita se associa a produções 
individuais, como escrita de diários, cadernos de anotações, cartas, bilhetes, 
cópias de poemas, letras de músicas, fotografias e suas legendas. No que 
tange a leitura, os impressos são os mais diversos como: recortes de jornais, 
revistas, folhetos místicos, santinhos, poemas e mensagens. 
 
Britto (2005) comenta que na vida social, as atividades de leitura e 
escrita estão vinculadas com as relações que as pessoas mantêm socialmente, 
seja nos clubes, associações, círculos de amizade, igreja, sindicato etc. Dessa 
forma, as habilidades de ler e escrever estarão sempre relacionados com a 
dinâmica social de cada um. 
 
Na esfera da informação e da participação, o autor expõe que as 
formas como as pessoas se integram e se informam dos fatos do mundo são 
determinantes para suas ações de ler e escrever, seja pelos jornais impressos 
ou telejornais, rádio e revistas (leitura direta de textos escritos); seja através do 
diálogo com os familiares, amigos e colegas (leitura indireta). Na esfera 
profissional, os usos são diversos e referem-se à especificidade de cada 
trabalho. Porém, o autor ressalta que o uso da escrita é delimitado tendo em 
vista modelos e burocracia rigorosa. 
 
A esfera de formação e instrução, Britto (2005) diz que é pela 
educação escolar, como processo formal de formação que as pessoas têm 
acesso à leitura e a escrita, a uma diversidade de textos. Mas é nesta esferaque a formação também se dá pelo investimento pessoal de cada um na 
aquisição de impressos. 
 
Por fim, o autor nos fala sobre a esfera do lazer e entretenimento, em 
que se aprende também pela brincadeira, lendo revistas, jornais, história em 
quadrinhos, fazendo palavras cruzadas. Além disso, há pessoas que preferem 
ler um romance, poesia etc. De qualquer forma, a leitura como produção e 
circulação de conhecimento sempre será bem vinda, sendo ela um 
investimento pessoal, ou coletivo (num projeto escolar ou na comunidade). 
Falar sobre as formas de produção e circulação do conhecimento é para Britto 
 
49 
 
(2005) uma dinâmica desordenada, do ponto de vista que nem todo mundo 
produz conhecimento relevante, que vá ser admitida como interesse público e 
que mereça publicização e circulação. 
 
No entanto, o autor nos aponta algumas instâncias que privilegiam a 
produção e a circulação de conhecimento, como: as universidades, os centros 
de pesquisa, a escola, o poder público, as instituições sociais e a indústria da 
informação. Todos os espaços buscam priorizar a produção do conhecimento 
como mola propulsora para uma geração do futuro, a geração “Y”, a geração 
do milênio, que a cada dia produz e faz circular conhecimento através das 
redes sociais, dando-lhes autonomia e protagonismo. 
 
 
A geração Y e o conhecimento tecnológico da língua 
escrita 
 
“A língua escrita é um objeto de uso social, com uma existência social 
(e não apenas escolar)” (FERREIRO, 2010, p.38). Ela não é de domínio 
privado, e assim qualquer pessoa que seja alfabetizada pode escrever da 
forma que quiser, como quiser e onde quiser, pois o jeito como se comunica 
não importa, o relevante é a mensagem a ser transmitida, CERTO – ERRADO. 
Pois existem normas socialmente construídas e culturalmente aceitas e 
passadas de gerações em gerações porque se trata de um fato social – as 
regras da Norma Culta da Língua Portuguesa. 
 
 
Norma Culta da Língua Portuguesa: 
Entendida como um conjunto de padrões linguísticos rigorosos que definem o 
uso correto de uma língua, no nosso caso – a Portuguesa. O estudo da 
gramática torna-se imprescindível para domínio perfeito de uma língua, para 
falar e escrever de forma correta. 
 
 
50 
 
Quando nascemos não sabemos falar, aprende-se por meio do contato 
social com a língua falada dos pais, irmãos, tios etc. Quanto maior e melhor o 
nível de conversação no ambiente familiar, melhor será o desenvolvimento 
linguístico (oral) da criança. Para aprender a escrever, mesmo que cheguemos 
a idade escolar, algumas crianças tem acesso a escrita e a leitura antes 
mesmo de ingressar na escola. Mas é na escola, que aprendemos através de 
ensinamentos periódicos e sistemáticos a Norma Culta da fala e da escrita. 
 
O debate acerca da escrita nas redes sociais está presente em muitos 
artigos acadêmicos e trabalhos de conclusão de curso na atualidade, 
especialmente da área da linguística, por uma única razão, as pessoas que 
usam as tecnológias digitais e seus aplicativos estão desusando a Norma Culta 
da Língua Portuguesa. Diante dessa realidade real, alguns pontos podem ser 
abordados: o desuso é voluntário – porque os usuários não quererem perder 
tempo digitando longos textos e, por isso optam por abreviar as palavras; o 
desuso é involuntário – para aqueles que não querem ser classificados por 
analfabytes (analfabetos digitais) e serem ridicularizados em grupos nas redes 
sociais por escrever demais; ou o desuso é parasitário – para aqueles que vão 
de carona na moda da abreviação, mas na verdade não sabe escrever. 
 
De qualquer modo, o desuso da linguagem correta pela geração “Y” é 
um fato que não retrocederá. Mas, os tipos apresentados são bem reais se 
analisarmos os motivos pelos quais usamos as abreviaturas na comunicação 
dos aplicativos ou apps (applications). É fato que essa nova linguagem 
internauta já denominada de internetês ou netspeak – é uma linguagem 
simples e informal, tornando a comunicação mais rápida (uso de códigos, 
abreviaturas, estrangeirismos) até mesmo com o uso de carinhas como os 
emoticons e bordões. É fato que esta linguagem por essas características, 
nada tem haver com o comprimento da Norma Culta da Língua Portuguesa. No 
entanto, é preciso ressaltar que ainda há pessoas que usam a linguagem 
correta, com direito a acentos e pontuações, especialmente porque há 
smartphones que seus corretores são maravilhosos. Vejamos a figura abaixo, 
que mostra como os internautas estão se comunicando por meio das 
abreviações e ao lado a decifração (tradução) 
 
51 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: https://digartmedia.wordpress.com/2013/05/28/a-linguagem-dos-internautas/ 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Veja há uma clara diferença nas janelas que indicam a contagem das 
palavras na figura e na decifração, ainda que os caracteres sejam praticamente 
os mesmos. Mas, destacamos que a quantidade de palavras é a mesma, muito 
embora estejam abreviadas. Neste momento, o que nos preocupa é que essa 
nova modalidade de linguagem seja transferida para os meios formais de 
escrita, uma vez que, o hábito pode levar a uma rotina (de repente as pessoas 
esquecem que não estão no Facebook ou Messenger, Whatsapp ou Instagram 
e escrevam um texto oficial, trocando as palavras pelas abreviações), ou que a 
escrita formal seja de fato banalizada. 
 
Oi tudo bem? 
Estou com saudades demais de você! 
Quando você vem pra cá? 
Tem novidades? 
O Gustavo casou. Não consegui ir na 
festa. Qualquer dia vou te vê! Me 
adicione no Messenger ! Ou me segue 
no Twitter: @anapaula. Você tem 
Facebook? 
Beijos Renata 
 
 
52 
 
Vale destacar que, as pessoas que não são habituadas com esse tipo 
de linguagem internetês, acabam sendo vítima de intolerância, porque escreve 
de maneira correta como lhe foi ensinado. De maneira geral, o uso da 
linguagem pelos internautas não pode comprometer a função social da escrita, 
que é de inseri-los como um sujeito participativo em contextos sociais de leitura 
e escrita. E todos devem precisamente repensar o uso do “internetês”, pois a 
sua utilização como rotina pode causar prejuízos linguísticos e sociais. 
 
 
Os domínios da linguagem e os contextos sociais de 
letramento 
 
Como já vimos a escrita não é a transcrição real da fala, apenas alguns 
elementos representam a oralidade, portanto, a escrita por natureza é uma 
representação simbólica que se codifica através dos sons da fala. Essa relação 
de representação denomina-se de princípio alfabético, pois congrega as 
percepções dos sons da oralidade na escrita, por isso que é comum quando 
uma criança começa a escrever, ela confunde-se com a grafia das palavras por 
pensar que existe uma exata relação entre a fala e a escrita. 
 
Para Ferreiro (2010), uma prática que privilegia a escrita e coloca a 
criança frente ao seu pensamento, é a escrita espontânea, no entanto 
argumenta-se que poucos professores revelam-se aptos a trabalhar essas 
atividades, por considerar que as tentativas de escrever das crianças não 
passam de meras garatujas (rabiscos). A autora argumenta que, ao escrever 
espontaneamente as crianças acionam esquemas conceituais que não poderão 
ser vistos apenas como simples reprodução da escrita, mas como esquemas 
de um processo construtivo, em que elas consideram no pensamento às 
informações do meio, e suas próprias reflexões. 
 
Outro dado interessante sobre o princípio alfabético é que a escrita não 
pode dar conta de uma variedade linguística (dialetos), porque se não a escrita 
teria inúmeras formas