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:I I I I I \ I. ~ t I' I Kalnia Maria Costa Neiva jetos e tomar uma decisao. Os conflitos sao c!:_TtJ:t;ivalentese combivalentes. Sao ambivalentes quando se ama e se odeia o que se abandona e combivalentes quando se passa a inte- grar ess~ objeto, que ja nao se ama nem odeia, mas que se reconhece. Nessa situac;ao podem ocorrer r:.~gt~_ssoes esporadicas. 0 adolescente, sentindo a responsabilidade da decisaoe sua solidao diante da escolha de seu futuro, aban- dona momentaneamente a escolha ja elaborada. Pode-se observar tambem a expressao da onipotencia na ideia de querer seguir vari;;ls c:arreiras, uma depois da outra, ou ain- da a esquiva das carreiras abandonadas, do colegio aban- donado. Tais comportamentos sao defesas que 0 adolescente utiliza para lidar com a ansiedade provocada pela situaC;ao. Assim, para escolher uma profissao, 0 adolescente passa por diferentes eta pas, diferentes situac;oes e diferentes pro- cessos. No proximo capitulo serao discutidos os distintos aspectos que devem ser C'onhecidos. analisados e integra- dos pelo adolescente durante 0 processo de escolha profis- sional. A escolha profissional: aspectos a conhecer, analisar e integrar Uma escolha profissional madura, consciente e ajustada requer adquirir, analisar e integ:r:ar conh~cim~ntos, desen- volvendo atitude§ ~h(lbilidades mentais que p~xmitCl.Illapren- der a decidir. Dois tipos de conhecimento sao importantes: 0 que se re- fere aos aspectos internos e pessoais de quem escolhe (quem eu sou), e 0 que se refere aos aspectos externos a quem esco- Ihe (como e a realidaae educativa e socioprofissionall. Conhecimento de aspectos internos C2J:!b~~:r_:§~ ~._~~S~~!:l~iill.p(:i!:il_~~scoI:Q§)rum<!_p_[QD_ss<ioou ocupac;~. Saber quem eu sou e como sou e que permite es- colher o'que {azer e como {ozer. E com 0 processo de autoco- nh~c_iIllento que se constroi uma a~tQ'-_!Ill.ag~In__il.1l1~llti_~(:i, isenta de distorc;oes. Super (1957) enfatiza a importancia do d~_S~Jlvgh:_irllento.do al,ltQcQJ),,Qe,it..QPO p.r:Qc~sso.da .~sco- 111.G!_p_r:.Qf.!.B_siQ.!:l_Cil.A medida que 0 adolescente desenvolve esse 48 Kathia Maria Costa Neiva Processos de Escoiha e Orienta~ao Profiss;cnai autoconceito e alcan<;a a integra<;ao de sua personalidade, ele vai formulando a$piL~ profis.siQnais_f_e_alistaseCQrn- p[!tfyeis com a iI11ag~_m_(L@_temde si mesmo. Para tanto, e imprescindivel 0 conhecimento das caracteristicas pes- soais (positivas e negativas), das motiva<;6es e interesses, das potencialidades e habilidades, dos valores e aspira<;6es, dos conflitos, dos medos e das ansiedades vinculados ao pro- cesso de escolha, das expectativas com rela<;ao ao futuro profissional. Esses pontos serao analisados a seguir. ideia a sua auto-imagem. ~ilu~~-tIl1Eig~me estabelecida a partir __<:lCl:~ r:~troalimenta~iS~sgll~ 0 adolescente recebe das fi~ra~_gl1~ 0 rodeiam. Por isso e muito importante distinguir a fantasia da rea- Jidade. Muitas vezes 0 adolescente imagina ter caracteris- ticas que na realidade nao possui, ou vice-versa. Uma a1!t_Q::i!!!ageIll_r~aL_g_al1t~_!ljjcapermite 0 desenvolvimento de um nivel de aspira<;ao profissional coerente com a mes- rna. a adolescente que tern consciencia de suas possibilida- des e tambem de suas limita<;6es as levani em conta ao estabelecer seu projeto profissional.~ Algumas vezes 0 adolescente considera como negativas caracteristicas que, vistas de outr~ angulo, sao tidas como positivas, ou vice-versa. Por exemplo, muitos adolescentes se consideram tfmidos e veem essa caracteristica como ne- gativa. E importante que eles percebam 0 lade positivo da timidez e que esta e muito frequente no periodo da adoles- c€mcia. E ela que permite re~Q[l§trllir a individllalidaJi~ e uniclag~.n~~e_§sJ~.ria$_~:pr_Q_C;e.s_sode identidade. a isolamento buscado pelos adolescentes propicia 0 processo de reflexao, reconhecimento e integra<;ao de sua nova identidade. Per- ceber os a§I2~£lQ~_:positiyos.clCl§carCl:_c;:Erist~Cl:§__I.1eg§,tiyas, ou 0~asp~ct()Q_l}e@J,iv9_s_c:lealgumas cCl:r~~te!,isticaspositi- vas, facilita a ~ceitCl:~_g_iPJ~gr:.'!&iiodas mesmas em uma a_!!_t()_-_i_I_!l_agem_<:t_ll_!&~~ica. Caracteristicas pessoais Conhecer as caracteristicas da personalidade, ou seJa, os as~c:1_os_IlositiV'o~e_llegativos, as qualidades e defeitos, e fundamental para a forma<;ao da auto-imagem. E impor- tante distinguir tres diferentes percep<;6es: 0 que eu penso qlle sou, 0 qLle_e_':Lpen~Q_gg_eos outros pensam que sou e 0 que 9_s_()lltros1~~?II!:lep.t~.R.ensamde mim. Muitas vezes e dificil perceber ou reconhecer algumas caracteristicas, prin- cipalmente as negativas. E muito comum urn adolescente se descrever como organizado ou alegre, porem, ao refletir sobre como seus pais 0 veem, comentar: "Me acham bagun- 9ado porqlle nllnca arrumo 0 quarto." au: "Dizem que estoZi sempre de mall humor." Se vaGmais longe e buscam a ver- dadeira percep<;aodos pais, podem encontrar respostas dis- tintas. A percep<;ao,real ou fantasiada pelo adolescente, de como os familiares, professores e amigos 0 veem, contribui significativamente para a forma~ao de sua auto-imagem. a adolescente que, desde crian~a, percebe pOl'meio dos comentarios de seus pais ou de seus professores, que estes o consideram pouco capaz, pouco habil, independentemen- te de que esse fato seja verdadeiro ou nao, incorporara essa fP Motivar;oes e interesses A motiva<;ao e 0 elemento que C:Qloca__Q__o_r:.@nismQ_e.rn movim~Tl~o.E ela que leva 0 individuo a fixar objetivos, cQ_!ll'trIDrQr()j_et9El~ I'Elaliza-los.Ela se origina das necessi- Kathia Maria Costa Neiva dades .QQ _inglVJciuo e se diferencia por meio da relaC;ao dina- rni_ca_~ __~l~_~~t9:belece com () meio em que vive. MotivaC;ao e interesse estao relacionados e sao muitas vezes confundidos. A mQ_tiv9:C;?:()_~_.()p_orq~_cJ:i.l <;oIl<il,lta,en- quanta 0 !!l_t~_r:~ssee a tra(:h~~§.o da _motiv(l~ao emMm objeto GQJ:}cretQ.0 interesse designa uma "correspondencia entre certos objetos e tendencias peculiares do indivfduo interes- sado por esses objetos, os quais, desse modo, the atraem a atenc;ao e orientam sua atividade" (PIERON, 1993, p. 292). Q§ _r_notiyQs__lTgJ.itas_y~~e_§_.§~9jp_C:;_QQsc_i.enj:es,enquanto os interesses geralmente sao conhecid?s pelo sujeito. Os int~l~~§s~S oC1,ll?~c;i()!l~!§E:)VQJl,l~~mcom a idade. Ja se observam nas crianc;as preferencias por determinados jo- gos e atividades. AIg:tl!1~QQ_~__i!lt~.r_l?~i')e§_infantis se mantem e_§~g!2_s~_l}volvem, outros sao abandonados. Em geral eles se tornam mais claros por volta dos 14-15 anos e se estabi- lizam urn pouco mais tarde. Em alguns casos eles podem manifestar-se muito cedo, como os interesses artisticos. E muito importante que 0 adolescente conhec;a e dife- rencie as atividades que Ihe intereasam das que nao des- pertam seu interesse. Procurar compreender por que algumas atividades Ihe dao prazer e outras nao, e essencial. Tam- bem e importante distinguir os interesses centra is dos i:g_te!:_~§_s~scomplementares. Muitos adolescentes que se interessam por uma atividade artistica ou esportiva questionam se que rem realizar essa atividade profissio- nalmente ou de forma paralela. Examinar a profundidade dos interesses e fundamental para estabelecer priorida- des. E muito comum encontrar pessoas que, ap6s a dedi- caC;ao plena a uma atividade profissional, realizam com intensidade uma atividade que por muito tempo foi consi- derada complementar. 52 Processos de Escolha e Orienia~ao Pror;ssionai E_ im_QQ_rta_~t~.~()!l§_ider<1r:_qlle_OS interesses nao SaO esta- tic:;os. Os interesses estao associados a objetos que podem ser conhecidos ou nao, percebidos ou nao, pelo sujeito. Ao longo da vida podemos descobrir novos interesses e inte- gra-los aos ja existentes. Potencialidades e habilidades E importante distinguir esses dois termos. Um indivi- duo nasce com potencialid~~§_q1!_e_I?_o<i~!p-\,irou nao a se- rem desenvolvidas ao longo da, vid(3_. As h?bilidades sao potencialidades desenvolvidas ou que passaram pOl' algum tr:ein(lrn~nto. Elas resultam de uma complexa interac;ao entre a her_9:Yl~Cl.<1Cljndividuo e a estimul(ic;IiQ_d_Q.(iIllbiente. Muitas potencialidades sao desenvolvidas desde a infan- cia, enquanto outras podem ficar latentes, em forma potencial, ate que 0 individuo tenha a oportunidade de esti- mula-las e desenvolve-las. Muitas pessoas, em urn dado mo- mento da vida, descobrem uma potencialidade para pintar, escrever ou praticar um esporte e decidem desenvolve-la. Claro que nao podemos negar a parte hereditaria das habi- lidades, tampouco podemos ignorar a importante influen- cia do ambiente no desenvolvimento destas. As habilidades devem ser consideradas no processo de escolha profissional e constituem urn dado I?!-,ogIlosticador para 0 desempenho na profissao. E muito importante que 0 adolescente reflita sobre quais sao as suas habilidades mais fortes, medias e deficientes. Alem disso, ele deve ter cons- ciencia da PQs~ib.ilidade de ..d_e_l'?~nYQl\T_e.::lase da importan- cia de seu eSf'()rc;o nesse sentido. Aqui entra em aC;ao 0 fator i:Qte:re~~e. Urn forte interesse por uma area, que exija uma determinada habilidade eventualmente deficiente no ado- 53 Kathiz r.1ari2 Cos:a Neiva lescente, pode impulsiona-lo a fazer um esfon;o para desen- volve-la, ate 0 ponto maximo permitido pelo seu potencial. Bonelli (1989), examinando a re1a9ao entre interesses e habilidades, considera os seguintes casos: • 1. Boa relar;[w entre interesses e habilidades especificas. Por exemplo, um jovem interessado em seguir Engenharia Mecanica e que possui uma forte habilidade mecanica. 2. Interesse alto em Ulna area para a qual nao existe habili- dade especifica. Esses interesses .gera1mente tem cara- ter compensatorio. POl' exemp1o, ul1l\ovem com interesse em Comunica<;ao, mas com forte inibi<;ao nessa area. 3. Habilidade superior em atividades que nao sao objeto de interesse. POI' exemplo, um jovem com grande facilidade para desenho, mas sem interesse por profissoes que re- queiram essa habilidade. E muito malS facil escolher uma ~profissa%cupa<;ao quando existe boa integra<;ao entre esses dois aspectos, mas nem sempre eo que sucede. Nesse caso e necessario avaliar, dentro do processo de decisao, qlJ.:alcie~s~s aSR~ct()S e .prio- rj_tftriQ_tl<;l.r_a~o~a~lQ~©,§.~ente..Alem disso, deve-se ter conscien- - -------_--_ .. -- ---_ - cia de que as habilidades podem ser desenvolvidas mediante treinamento, quando 0 individuo se sente motivado 0 sufi- ciente para realizar um esfor<;o nesse sentido. \ Valores e aspLrac;;oes Ao escolher uma profissao e muito importante pergun- tar-se: "0 que quero da vida? 0 que quero da minha futura ) J .l ProcessoS de Escolha e Or;enta~ao Proflssionai profissao?" Aqui entra outro fator de influencia: 0 sistema de valores d() individu9: 0 ambiente em que vivemos con- tribui substancialmente para a constru<;ao cle_:Q()~.~_()p_.valQ: res. Eles sao incorporados a partir da sociedade, da ~l~s.se social, da _~~cola,dos qffiigQs e, principalmente, da familia da qual fazemos parte. Serao apresentadas, em seguida, algumas categorias de va1ores: • valores morais e intelectuais: realiza<;ao pessoal, de- senvolvimento pessoal, realizac,rao profissional, apren- dizagem, cultura, etc.; • valores a1truistas: ajuda, cura, amor ao proximo, etc.; • va10res materiais e financeiros: dinheiro, estabi1ida- de financeira, conforto material, etc.; • valores sociais: status social, prestigio, poder, reco- nhecimento publico, etc.; va10res espirituais: felicidade, amor, paz, libel'dade, justi<;a, etc.; • valores esteticos: beleza, harmonia estetica, e1egan- cia, etc. Mais uma vez cabe enfatizar que a esco1ha pro fissional implica a escol.pa de Ul!l ..e.§E1Q..cl~..yida. E importante que a profissao escolhida propicie 0 que buscamos na vida, 0 que aspiramos. Para isso te_mos de ?_?jJ~!,0 q~e buscalllos. 0 que e mais importante: ter dinheiro, tel' poder, ser cu1to? Cada pessoa, alem de tel' valores distintos, atribui diferente im- portancia a eles. Um adolescente, cujo valor principal e 0 dinheiro, provavelmente escolhera uma carreira que seja bem remunerada. Outro, que tenha fortes val ores altruis- tas, e bem possivel que escolha uma profissao que 1he per- mita ajudar, cuidar ou curar 0 proximo. 55 Kathiz ~12.1iaCos:a Neiva Outro aspecto a ser considerado e 0 nivel de aspirac;ao que cada urn estabelece em sua vida pessoal e profissio- na1. Esse nivel se baseia nas possibilidades e limitac;oes do individuo. Conhecer as caracteristicas pessoais, inte- resses, habilidades e valores permite 0 estabele~mento de urn nivel de Q:'i12!rac;ao.<:ompativel GOl1l._arealidade. As pes- soas que tern urn nivel de aspirac;ao muito alto para suas habilidades certamente passarao sua vida insatisfeitas e frust1'adas pOl' nao alcanc;arem as metas a que se propoem. As que estabelecem urn nivel de aspirac;ao inferior as suas possibilidades provavelmente se verao acomodadas, estagna- '\ .•,_ das e muitas vezes insatisfeitas. Esse tipo de pessoa, geral- mente, tern pouca confianc;a em si mesmo, 0 que 0 impede de aspirar mais alto. o desenvolvimento de uma auto-imagem autentica e imprescindiveJ para 0 estabelecimento de urn niveJ de as- pirac;ao compativel com ela. Fontes de anslcdade: conflitos e m~dos Pieron (1993, p. 106) define coI1flito como "estado do 0.1'- ganismo submetido a ac;:ao de motiva<_;oes incompativeis". Durante 0 processo de escolha profissional e desenvolvi- mento da identidade vocacional-ocupacionaL 0 individuo enfrenta a resoluc;ao de conflitos mms ou menos graves. Os conflitos existentes na aquisic.;ao da identidade pessoal re- percutirao na aquisic;ao da identidade vocacional-ocupa- cional. A resoluc;ao desses conflitos e condic;:ao swe qua non para uma identidade sa e, conseqiientemente, uma escolha profissional madura. 06 P'ocessos de Esco!ha e Onenta<;ao Profisslona[ Eis, a seguir, alguns tipos de conflito observados freqiien- temente no processo de escolha pro fissional e que dizem respeito a identidade vocacional-ocupacional: • entre interesses distintos: quando urn jovem se inte- ressa pOl' atividades profissionais distintas; • entre interesses e habihdades: quando urn jovem se interessa por uma profissao, mas nao tern desenvol- vidas as habilidades necessarias; • entre interesses e valores: quando, pOl' exemplo, 0 p1'in- . cipal valor de urn jovem eo econ6mico e ele se interes- sa por uma profissao cuja remuneraC;ao e baixa; • entre a escclha do adolescente e os desejos da familia: quando urn jovem se intere~sa por uma profissao que e desvalorizada ou nao aceita pela familia; • entre a imagem idealizada que 0 adolescente tem de si mesmo e a imagem reaL quando a imagem ideal i- zada que 0 adolescente tem de si mesmo e muito dis- tinta da realidade, como no caso de um adolescente que se ve em condi<;6es de passar no vestibular para Medicina e ter exito nesse curso, mas 0 seu histo1'i- co academico mostra dificuldades importantes na area escolar. Todo conflito gera ansiedade e nem sempre se consegue resolve-Io sozinho. Frequentemente e preciso ajuda profis- sional para soluciona-Io. o adolescente pode apresentar. no decorrer do processo de escolha profissional, varias fantasias e te~ores Ql1l' cons- tituem fonte;3 de ansiedade (DUARTE apud BOHOSLA VSKY. 1998, p. 80-81): 57 r I 11 I !. I ~' 1 Kathie t~ari2 Costa Neiva referentes a auto-imagem: sentimentos de impot€mcia, onipotencia, dependencia, desvalorizaC;ao, inseguran- c;a, etc.; • referentes a escola de ensino medio: dificuldade em discriminar materia-professor, materia-prdfissao ou materias de que mais gosta das materias que tern mais facilidade, medo de naopoder suportar a separaC;ao dos colegas, medo do despreparo academico, etc.; referentes a vida universitaria: medo de nao passar no vestibular, de ser cobrado em excesso, de nao ter urn desempenho academico s~tisfat6rio, de nao se adaptar ao ambiente universita§io, de nao se graduar, etc.; • referentes aa futuro profissional: medo de fracasso e erros no exercicio da profissao, medo de ser um pro- fissional mediocre, medo de aborrecer-se, frustrar-se, medo da rivalidade, da inveja, etc. Essa ultima fonte de ansiedade s~ni analisada com mais detalhes a seguir. Expectativas relacionadas ao luturo prolissional o futuro e incerto. Por mais que tentemos fazer previ- soes, a realidade nao nos da g_aral1tias. Nao podemos ga- rantir nem que seremos os mesmos nem que a realidade profissional 0 sera. N inguem pode saber exatarnente 0 que sucedera dentro de quatro, cinco anos, ou ate menos. 0 ado- lescente, ao escolher sua futura profissao, tern de conviver COIn ~ssa incerteza e aprender a suporta-1a. Ele constr6i uma serie de expectativas em re1a<;;aoao futuro profissio- Processos de Escolha e Orienta~ao Profissional nal, que podem ser, por exemplo, de exito, de sucesso, mas tam bern de fracasso e de dificuldades. Os medos e incerte- zas sao muitos e 0 levam a varios questionamentos: "Serei capaz de entrar neste curso universitario e de cursa-to?" "Encontrarei emprego facilmente?" "Serei um prolissional competente?" "Me realizarei nesta profissiio?" "Terei 0 re- torno linanceiro que desejo?" Conhecer as exp~ctativas e os medos, assim como proje- tar possiveis dificulqades e formas de soluciona-las, aj_llga <l__~~:l:I~Q_r:t~ra in~erteza e a ambigiiidade inerentes ao futuro. Outro aspecto relevante e 0 que diz respeito as fant~si~s dQ.9-_clQlescent~_e!ll.X.fJ?:~<iolis profiss5es de sua preferencia e a sua vida profissiona1 futura. A sociedade, a midia e as pessoas que nos circundam sao fontes de inforrnaC;ao sobre a realidade profissional. Essas informac;oes sao, muitas vezes, estereotipadas e distorcidas. A partir delas construf- mos nossas fant::l_s_i::l_s_s_obre as profissoes. sobre 0 mercado de trabalho e finalmente sobre 0 nosso futuro profissional. Tais fantasias sao tam bern fruto de nossas necessidades internas e de nossos desejos. E essencial examina-las e con- trasta-las com a realidade, para evitar distorc;oes e ilusoes falsas. Conhecer, organizar e integrar os varios elementos dis- cutidos anteriormente constitui uma etapa importante do processo de escolha profissional, que propicia 0 estabeleci- mento de crit~!:i<2_s_.p~ss9ais,par[l_(l_t.c.>.l1:!(l9.(u.ie__!ll_l1(l_.clg.cl~ffi.o. Para isso 0 adolescente cleve relacionar seus aspectos in- ternos (interesses, habilidades, va10res, etc.) com as concli- c;oes de trabalho 11.1,1!eaJid(l<:l~~Qllc!:~ta. Assim, e essencial que e1e defina seus criterios de escolha profissional taman. do como referencia os seguintes aspectos: 59 Katnia ""aria Costa Neiva 1. Aml}jt;TJtede trabalho Onde quer trabalhar: escola, hospital, empresa, fabri- ca, restaurante, hotel, etc. Com quem quer trabalhal': individualmEfute au em equipe; com que tipo de profissionais, etc. • Em que tipo de ambiente de tl'abalho: interno, exter- no, cooperativo, competitivo, formal, informal, etc. 2. Oqjf}toslconteudos de trabalho Com u que quer trabalhar: p~~soas, animais, objetos, maquinas, instrumentos ... matematica, quimica, bio- logia. historia, etc. 3. Atividades de trabalho Fazendo (I que e como: contatos, comercio, escrever, crial', desenhar, pesquisar ... co_mrisco, com autonomia, dirigindo, obedecendo a ordens, etc. 4. RoA17:~cietrabaLho Como quel' vwer a rotina de t"abalho em term os de: horario, ritmo, deslocamentos fisicos, viagens, etc. o que quer obter com a trabalho: realizac;ao profis- sionaL cultura, poder, prestigio, dinheiro, etc. Processos de Esco!ha e Or;enta~ao Prcfissionai o estabelecimento desses criterios e muito importante para a elaborac;ao de uma ef>.<;()Jh5..IIl(lcl~I::~_~_cgg~si~nte,mas nao e suficiente. Entra aqui urn .complemento importante do processo de escolha da profissao: 0 conhecimento da rea- Iidade educativa e socioprofissional. Conhecimento de aspectos externos: realidade educativa e socioprofissional Conhecimento da realidade educativa brasileira Com relac;ao a realidade educativa e importante que 0 adolescente conhec;a os varios l)iyeis d~ formaC;<,!Qgxjsten- tes. Sao tres niveis de educac;ao profissional, existentes na atual legislac;ao brasileira (BRASIL, 2004): l. Formac;ao inicial e continuada de trabalhadores Os cursos que se incluem nesta formac;ao objetivam a qualificac;ao para 0 trabalho e a elevac;ao do nivel de escola- ridade do trabalhador. 2. Educa<;ao pro fissional tecnica de nivel medio A articulac;ao entre a educa<;ao profissional tecnica de nive] medio e 0 ensino medio pode ocorrer de tres formas, de acordo com Resoluc;ao CNE/CEB nQ 112005 (BRASIL, 2005): a) integrada, ou seja, no mesma estabelecimento de ensino e com matricula (mica; 61 Kathia Maria Costa Neiva b) CQJ)'_<;:QIIlitq[lt~, no mesmo estabelecimento de ensino ou em institui<;ao de en sino distinta; c) s:t!_l:>§~q4.~nte,oferecida a quem ja tenha cursado 0 nivel m~~. ~ 3. Educacao profissi9n<;ll.t~.GnQl6gj.G_ad_~ gra._dJ.Hlc;§_Qe de p6s- gradJJ1!cao. A educa<;ao profissional tecnol6gica de gradua¢o esta divi- dida em: . -.;:.~ a) Cgr.~.§_§e~Ilciais: Os cursos s~i.i.enciais sao distintos dos cursos e programas tradicionais de gradua<;ao. Nes- sa modalidade de en sino superior 0 aluno amplia seus conhecimentos ou sua qualifica¢o profissional. Esses cur- sos sao definidos por "campo de saber" e duram, em me- dia, dois anos. Existem dois tipos de cursos seqi.i.enciais de acordo com 0 Ministerio da Educa¢o (BRASIL, 2006c). Cursos sequenciais de complementa<;ao de estudos: Esses cursos podem ser de destina<;ao individual ou coletiva. Devem estar vinculados a um ou mais cur- sos de gradua<;ao reconhecidos, ministrados por ins- titui<;ao de ensino superior credenciada, que incluam disciplinas afins aquelas que farao parte do progra- rna do curso sequencial. Esses curs os nao conduzem a diploma; conferem urn certificado que atesta que 0 individuo adquiriu conhecimentos em um determina- do campo de saber. Cursos sequenciais de forma<;ao especifica: Esses cur- sos sao de destina<;ao coletiva e conferem urn diplo- ma. Devem estar vinculados a um curso de gradua<;ao reconhecido pelo MEC. 52 Processos de Escolha e Orienta¢o Profissionai b) Cursossup~rior~~cl~ t~~!!ologia: Os cursos superiores de tecnologia abrangem diversos setores da economia, ofe- recendo uma forma<;ao direcioRada para a aplica¢o, de- senvolvimento e difusao de tecnologias e para a gestao de processos de produ<;ao de bens e servi<;os.0 MEC lan<;ou recentemente 0 Catruogo Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia que relaciona varios cursos trazendo infor- ma<;;6esessenciais sobre 0 perfil profissional do tecn6- logo. Esse catalogo orienta ainda a oferta de cursos nesta area e 0 acompanhamento da qualidade deles. Os cur- sos estao agrupados por areas: 1) Artes ~ Comunica<;;ao - Design; 2) Comercio - Gestao; 3) Constru<;ao Civil - Geomatica - Transportes; 4) Industria - Quimica - Minera<;;ao; 5) Informatica - Telecomunica<;6es; 6) Meio Ambiente - Tecnologia da Saude; 7) Turismo e Hospitali- dade - Lazer e Desenvolvimento Social (BRASIL, 2006b). c) Cursos de gradllCl<;;8.o:bacharelado, licenciatura e especi- ficos. Os cursos de gradua<;ao preparam para uma carrei- ra academica ou profissional podendo estar ou nao vinculados a conselhos especificos. Sao os mais tradicio- nais e conferem diploma com 0 grau de Bacharel (ex.: Ba- charel em Fisica), Licenciado (ex.: Licenciado em Educa<;;§.o Fisica), ou titulo especifico referente a profissao (ex.: Me- dico). 0 grau de Bacharelou 0 titulo especifico referente a profissao habilitam 0 portador a exercer uma profissao de nivel superior; 0 de Licenciado habilita 0 portador para o magisterio no ensino fundamental e medio. A dura<;ao dos cursos varia de tres a seis anos (BRASIL, 2006a). A Resolu<;;aonQ 1 de 3 de abril de 2001 (BRASIL, 2001) estabelece as normas de funcionamento da educa<;ao pro- fissional de p6s-gradua<;ao, que e dividida em: 63 Kathia Maria Costa Neiva Cursos de p6s-graduagao lata sensu: Sao cursos de especializac;aoque tern como objetivo 0 aprimoramento academico e profissional, com duragao minima de 360 horas e maxima de dois anos, e caniter de educagao continuada. Nessa categoria se inserelUilos cursos de especializagao, de aperfeigoamento e aqueles designa- dos como MBA (Master Business Administration). Cursos de p6s-gradua<;;.aQ.strictosensu: Sao os cursos de mestrado, doutorado e p6s-doutorado, que se desti- nam aqueles profissionais interessados em atuar na area academica, no ensino superior e na pesquisa. Em seguida, apresenta-se 0 organograma da educagao profissional na atual realidade brasileira. OrganogrCU110do edllcar;iio profissional brasileira Prccessos de Escoina e Orientac;ao Prorissionai Conhecimento da realidade socioprofissional brasileira o numero de ocupagoes existentes alcanga cifras impor- tantes. A Classificagao Brasileira de Ocupagoes ~2002),do- cumento que reconhece, nomeia e codifica os titulos e conteudos das ocupagoes do mercado de trabalho brasilei- ro, contabiliza: §96 fagliJ.i(is9<::lltlacionais,em que se agru- pam 2.422 ocupagoes e de 7.258 titulos:sil1cmimos (BRASIL, 2006d). .Nao se pode escolher sem conhecer muito bern as possi- b_iliQ(i9,esde escolha que nos sao oferecidas. Em primeiro lugar e de extrema importancia saber qu~s prQfissOesexis- tern. Algumas publicagoes existentes no mercado trazem informagoes sobre cursos, profissoes e universidades. A Editora Abril publica periodicamente varios guias, en- tre eles: Guia do estudante: vestibular, que proporciona uma informac;ao breve sobre profissoes/cursos de nivel superior, existentes na realidade brasileira; Guia do estudante: pro- fi_ssoes,uma serie constituida de varios fasciculos sobre cur- sos, campos de atuagao e mercado de trabalho de areas profissionais especificas; Guia do estudante: melhores uni- versidades, que relaciona as melhores universidades e seus cursos; Guia do estudante: pos-graduw;iio & MBA, que in- forma sobre varios programas de p6s-graduagao. A Editora Segmento tambem publica guias de informa- gao profissional, como: Guia de Profissoes e Guia de p6s- graduar;iio & MBA. Recentemente foi lan<;ado0 livro Interesses e pro/lssoes: suporte informatwo C/O orientador profissional (LEVENFUS, 2005) que traz informagaoconcisa e atualizada sobre 210 pro- fissoes de nivel superior. Kathia Maria Costa Nelva Com relac;ao aos Cursos Superiores de Tecnologia, 0 MEC lanc;ou recentemente 0 Catalogo Nacional de Cursos Supe- rior~;; d~T~cnologia que relaciona os cursos por area e pode ser acessado via internet no portal do MEC (BRASIL, 2006b). # Ah~m disso, a internet permite 0 acesso a varios sites que disponibilizam informac;ao sobre profissoes, cursos e instituic;oes de ensino1: http://guiadoestudante.abril.com. br http://w''vw.oestudante.comJ~r http://www.guiadasprofissoes.~com.br http://www.liop.ufsc.br http://www.vestibularl.com.br/carreiras http://www.guiadeprofissoes.com.br http://www.oriente-se.comiprincipal.asp http:ww\v.portaldeensino.com.br Varias instituic;oes de en sino rp-edio e superior trazem, em suas home pages, guias de informac;ao pro fissional. N0- vos sites aparecerem a cada dia, enquanto outros sao des.ati- vados. Uma breve pesquisa com 0 termo "guia de profissoes" permite 0 acesso a lista de sites que contemplam informac;ao profissional. E importante que ° adolescente disponha de urn minimo de cQllh(:)~i_ll.1:~.IltosQPrE:)as, p~rofissoes existentes ou pelo menos saiba qual e a aJivid.a.de principa)_g(:)cada uma delas. Esse conhecimento minimo the permitira eliminar uma I Os site:,; apresentados tem-se mantido ativo,c ha a1b'Uns anos e foram acessados em 12 setembro de 2006. 65 j P·ocessos de Escolha e Orienta,ao Prof'ssio"ai grande parte de1as e motivar-se para aprofundar a infor- mac;ao sobre aquelas de maior interesse. 0 conhecimento mais profundo deve abarcar os seguintes pontos: a) objetivos da profissao; b) objetos de traba1ho e atividades especificas lperma- nentes e ocasionais); I 11 c) ambiente e rotina de traba1ho; d) mercado de traba1ho: quem emprega, oferta x demanda de emprego, faixas salariais, etc.; e) formac;ao: nive1 da formac;ao, instituic;oes de ensino, cur- riculos, durac;ao, titulac;ao, honirios, ritmo, exigEmcias, areas de especializac;ao. Essa informac;ao especifica permitira ao adolescente identificar as profissoes que mais correspondem a seus cri- terios pessoais de escolha. Finalmente, 0 adolescente deve buscar urn nive1 ainda mais profundo de informac;ao sobre aquelas profissoes que mais 1he interessam por meio de entrevistas cO~_'profissio- l!~.i~.~~~.~~_4_9-nt~s,assim como visitas a lQ~c:g~gg.J;Iabalho e ip.§tituic;oes de ensino. Sao estes ultimos procedimentos que propiciam obter informac;oes especificas e respostas a ques- toes pessoais. Deve-se evitar entrevistar urn s6 pI'of'issio- nal de cada area ou visitar uma (mica instituic;ao. llecol hel' opinioe~ y~riadas, impressoes distintas e conhecer dif'cl'en- tes realidades profissionais e institucionais e que 1)(,I'mitl! 67 Kathia M2ria Costa Neiva formular uma opiniao propria sobre as profissoes e insti- tuic;oes educativas. A internet tambem e uma ferramenta que facilita enormemente essa tarefa. Pode-se buscar pro- fissionais, entrevista-los, participar de chats ou consultar a home page das instituic;oes educativas para ~nhecer os cursos oferecidos, 0 curriculo dos cursos e a proposta peda- gogica. Esse contato com a realidade permite corrigir informa- <;;Qe_s<ii_§tQrcidas. desmitificar as fantasias e estereotipos, P~l~~~Q~ limitac;6es e diflcllJQ?des, assim como vantagens e desv~n_tll.gg_nsdas profi$soes e, prin~ipalmente, tomar cons- ci€mcia de que nenhuma PIofissao 'preenche completamen- te no_ssoscrilenos e requisitos. Temos de ser reali_stas e cQ.D:;.cientespara encontrar a profissao que mais se adapte a nossa pessoa. a nossa forma de ser e ao que esperamos de nossa vida futura. Em geral us adolescentes tern muito pouca consclencia do que e importante conhecer, analisar, elaborar e integrar para chegar a uma decisao consc~ente e madura. Mesmo assim, a grande maioria, bern ou mal, acaba decidindo sozi- nha 0 futuro profissional. Muitos adolescentes, entretan.- to, enfrentam serias dificuldades para tomar uma decisao. As fortes ~t,ldanc;as na. situac;ao socioeconomica mundial, nos processos de industrializac;ao e globaliza<;ao tern pro- vocado urn aumento consideravel nas taxas de desemprego e, consequentemente. maior ipc:erteza quantgao futuro. Isso tem levado os jovens a se deparar com uma grande contradi- <;aoentre 0 sistema de valores que Ihes e transmitido pela gera<;ao adulta e a realidade socioprofissional que observam. De urn lado, absorvem dessa gera<;ao a ideia de que 0 diplo- ma universit::irio e muito importante e constitui a lmica 68 I Processos de Escoiha e Orienta~ac Profisslonai saida para competir na sociedade e de outr~ constatam a existencia de urn grande numero de profissionais com nivel superior, desempregados ou subempregados. Assirn, eles se perguntam se e realmente necessario ter urn diploma un i- versital'io e se este tern algum valor. Alem disso, os valores que costumavam ser atribuidos a determinadas profissoes estao sendo questionados. POI' exemplo, a Medicina, profissao tida como liberal, presti- giosa e bern remuneradapela gera<;ao adulta, esta sendo percebida hoje pelos jovens de forma distinta. 0 medico passou a ser urn empregado das institui<;6es, a ser mal-re- rnunerado e a tel' a necessidade de c~:)l1tarcom dois ou mais empregos para poder tel' urn salario razoavel. As frequentes mudan<;as no cenario socioeconomico tern dificultado cada vez mais 0 processo espontaneo de decisao profissional e levado os jovens a buscar ajuda em processos sistematicos de orientac;ao profissional. 0 papel da fami- 1ia' da escola e da sociedade na facilita<;ao desse processo sera discutido no proximo capitulo. II I I I 69
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