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4. LAVAGEM DE DINHEIRO

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Por Fernanda Evlaine
ATUALIZADO EM 26/10/2016
LAVAGEM DE CAPITAIS – Lei nº 9613/98.
1. INTRODUÇÃO E ASPECTOS GERAIS
A Lei 9.613/98 foi criada a partir do compromisso assumido pelo Brasil no tocante à repressão do tráfico ilícito de entorpecentes, mediante a ratificação da Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes em 26 de junho de 1991 (Decreto 154/91). Tendo em vista a debilidade da Lei, objetivando tornar mais eficiente a persecução penal em relação a esses delitos, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei 12.683/12, que representou um novo marco legal no combate à lavagem de capitais. 
	Que tal um pouco de criminologia?
Os crimes de lavagem de capitais integram a chamada “cifra dourada”, que são as infrações penais praticadas pela elite e que não são reveladas ou apuradas, envolvendo delitos tipicamente do “colarinho branco” (sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, crimes eleitorais, etc)
Foram 3 as principais mudanças produzidas pela Lei 12.683/12: (i) supressão do rol taxativo de crimes antecedentes; (ii) fortalecimento do controle administrativo sobre setores sensíveis à reciclagem; (iii) ampliação das medidas cautelares patrimoniais incidentes sobre a lavagem de capitais e sobre as infrações antecedentes, além da regulamentação expressa da alienação antecipada, que tem o objetivo precípuo de assegurar a preservação do valor dos bens constritos.
A Lei 12.683/12 também acrescentou outros diplomas legais, como:[1: É importante a leitura de tais dispositivos diretamente no texto da Lei. ]
a) a alienação antecipada de direitos, bens ou valores objeto de medidas cautelares; 
b) a possibilidade de a autoridade policial e o Ministério Público obterem acesso a dados cadastrais do investigado; 
c) disciplinou a forma de encaminhamento pelas instituições financeiras e tributárias dos dados solicitados por ordem judicial;
d) o afastamento automático das funções do servidor público (sem prejuízo de sua remuneração e demais direitos previstos em lei), em razão de seu indiciamento pela autoridade policial; e por fim,
e) estabeleceu o prazo que a Secretaria da Receita Federal deverá conservar os dados fiscais dos contribuintes.
Conceito: A lavagem de dinheiro consiste num complexo de operações, composto de três fases (ocultação, dissimulação, integração), realizados com a finalidade específica de mascarar a origem ilícita de determinados bens, tornando-os aparentemente lícitos. 
As três fases não são independentes. Há uma interpenetração entre elas, de modo que um único ato pode caracterizar tanto ocultação quanto dissimulação ou integração, por exemplo. Nem sempre os contornos de cada uma dessas fases podem ser reconhecidos de forma precisa. Ainda que as fases se confundam, a divisão em fases é útil para compreender o fenômeno. O STF assim definiu as três fases da lavagem de dinheiro, in verbis: 
“A lavagem de dinheiro é entendida como a prática de conversão dos proveitos do delito em bens que não podem ser rastreados pela sua origem criminosa. A dissimulação ou ocultação da natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade dos proveitos criminosos desafia censura penal autônoma, para além daquela incidente sobre o delito antecedente. O delito de lavagem de dinheiro, consoante assente na doutrina norte-americana (money laundering), caracteriza-se em três fases, a saber: 
A primeira é a da “colocação” (placement) dos recursos derivados de uma atividade ilegal em um mecanismo de dissimulação da sua origem, que pode ser realizado por instituições financeiras, casas de câmbio, leilões de obras de arte, entre outros negócios aparentemente lícitos. Após, inicia-se a segunda fase, de “encobrimento”, “circulação” ou “transformação” (layering), cujo objetivo é tornar mais difícil a detecção da manobra dissimuladora e o descobrimento da lavagem. Por fim, dá-se a ‘integração‘ (integration) dos recursos a uma economia onde pareçam legítimos.” (AP 470-EI-décimos segundos, rel. min. Luiz Fux, julgamento em 13-3-2014, Plenário, DJE de 2-5-2014.)
OBS: Para o STF, NÃO É NECESSÁRIA a ocorrência destas três fases para que o delito de lavagem esteja consumado (RHC 80.816/SP do STF, pertinente à MÁFIA DOS FISCAIS). Para STF as três fases traduzem um modelo ideal, mas não precisa estar completo para punição.
O seguinte quadro sintetiza o assunto:
	Fase
	Descrição
	Exemplos
	1ª Colocação (placement)
	Separação física do dinheiro dos autores do crime.
É antecedida pela captação e concentração do dinheiro.
	Aplicação no mercado formal, mediante depósito em banco, troca por moeda estrangeira, remessa ao exterior através de mulas, transferência eletrônica ou física para paraísos fiscais, importação subfaturada; aquisição de imóveis; obras de arte; joias; etc.
	2ª Dissimulação
(layering)
	Nessa fase, multiplicam-se as transações anteriores, através de muitas empresas e contas, de modo que se perca a trilha do dinheiro (paper trail), constituindo-se na lavagem propriamente dita, que tem por objetivo fazer com que não se possa identificar a origem ilícita dos valores ou bens.
	Várias transferências por cabo (wire transfer) ou sucessivos empréstimos.
	3 ª Integração (integration ou recycling)
	O dinheiro é empregado em negócios ilícitos ou compra de bens, dificultando ainda mais a investigação, já que o criminoso assume ares de respeitável investidor, atuando conforme as regras do sistema.
	Compra de uma empresa já existente e em funcionamento, aquisição de um empreendimento imobiliário, simulação de obtenção em pagamento por serviços de difícil mensuração, como consultoria, por exemplo.
A lavagem também pode ser dividida em 03 (três) tipos principais, vejamos:
a) Lavagem elementar: Envolvem valores pequenos, em suma o dinheiro branqueado será utilizado para despesas de consumo corrente ou investimentos de pouco valor. Ex: Falsos ganhos em cassinos.
b) Lavagem elaborada: As operações visam possibilitar reinvestimento do dinheiro criminoso em atividades legais. Os valores a serem reciclados são mais elevados. Ex: especulação imobiliária simulada e falsa especulação com obras de arte de elevado valor (essas obras serão adquiridas por um cúmplice a quem antecipadamente foi entregue o dinheiro com esse propósito e receberá uma comissão).
c) Lavagem sofisticada: Quando se acumula em curto espaço de tempo elevado volume de dinheiro. É quase impossível justificar essas somas pelos meios da economia lícita. Nessas hipóteses têm especial importância os mercados financeiros. Uma das práticas conhecidas nesses casos é a especulação financeira cruzada. 
	JUSTA CAUSA DUPLICADA E CRIME ANTECEDENTE
Em se tratando de lavagem de capitais, uma das informações mais importantes que se deve ter é sobre a justa causa duplicada. EITA! Mas, o que é isso, coach?
Significa que não basta demonstrar a presença de lastro probatório quanto à ocultação de bens, direitos ou valores, sendo indispensável que a denúncia também seja instruída com suporte probatório demonstrando que tais valores são provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal (art. 1º, caput, da Lei 9.613/98, com redação dada pela Lei 12.683/12). Cuida-se da justa causa duplicada, ou seja, lastro probatório mínimo quanto à lavagem e quanto à infração precedente. 
Exemplo: Raul é traficante e se utiliza da lavagem de capitais para mascarar os valores oriundos do tráfico, nesse caso, a denúncia deverá trazer lastro probatório mínimo tanto da lavagem de dinheiro quanto do crime antecedente que lhe deu origem (tráfico).
IMPORTANTE: É punível a lavagem ainda que desconhecido ou isento de pena, ou extinta a punibilidade do autor do crime antecedente. Não há necessidade de juízo de certeza. Não é necessário descrever minuciosamente a conduta, entretanto, também não pode ser uma narrativa vaga, de forma a não individualizar as condutas, sob pena de concessão de HC ou inépcia da inicial. 
O crime antecedente pode ser até mesmo tentado (excetonos casos de contravenção, afinal, como sabemos, contravenção não admite tentativa). Somente aqueles crimes que não geram absolutamente nenhum proveito econômico é que não poderão configurar a infração antecedente do crime de lavagem de dinheiro. 
OBS: Em razão da autonomia do delito não que se falar em absorção da infração penal antecedente.
Bem jurídico tutelado: Existem 4 correntes na Doutrina (caiu 2 vezes nas provas no MPF):
1ª corrente: o bem jurídico tutelado é o mesmo bem jurídico tutelado pelo crime antecedente. Minoritária. Esta corrente até fazia sentido quando tivéssemos apenas as leis de 1ª geração, a exemplo, do crime de tráfico. Logo, diante da diversidade de bens jurídicos tutelados (saúde pública, patrimônio público, administração da justiça) não se apresenta razoável esta corrente doutrinária.
2ª corrente: Rodolfo Tigre Maia: o bem jurídico tutelado seria a “administração da justiça”, pois o cometimento da lavagem torna difícil a recuperação do produto do crime. Os doutrinadores que adotam a tese defendem que a lavagem seria semelhante ao favorecimento real, art. 349 do CP, que é um crime contra a administração da justiça. 
3ª corrente: Majoritária na doutrina: O bem jurídico tutelado é a “ORDEM-ECONÔMICO-FINANCEIRA”. 
4ª corrente: Pluriofensividade: ofende mais de um bem jurídico. Há quem entenda que os bens jurídicos tutelados são: (i) “ORDEM-ECONÔMICO-FINANCEIRA” e “o mesmo bem jurídico tutelado pela infração penal antecedente”; (ii) “ORDEM-ECONÔMICO-FINANCEIRA” e a administração da justiça (Este entendimento, inclusive, foi ratificado na AP 470, julgada pelo STF); (iii) a “ORDEM-ECONÔMICO-FINANCEIRA” e o mesmo bem jurídico tutelado pela infração antecedente. É nesse sentido a lição de Alberto Silva Franco. 
Outras informações:
a) Não se aplica a suspensão condicional do processo aos crimes de lavagem de capitais! Tendo em vista a expressa disposição do código nesse sentido.
§ 2º No processo por crime previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de defensor dativo.
b) Admite delação premiada, nos termos do art. 1º, §5º.
§ 5o  A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores objeto do crime
Permite a realização de delação premiada a qualquer tempo, mesmo após a sentença penal condenatória, inclusive na fase da execução penal provisória. A delação premiada pode beneficiar de três formas: a) diminuição da pena e fixação do regime inicial aberto; b) substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos; c) perdão judicial, com a consequente extinção da punibilidade.
c) Aplicam-se subsidiariamente as disposições do Código de Processo Penal;
d) Aplicação do princípio da insignificância: Tema pouco explorado, porém, Renato Brasileiro entende que devem ser levadas em conta as mesmas regras da aplicação do princípio da insignificância previsto nos crimes contra a ordem tributária. [2: Ver material de crimes contra a ordem tributária]
	Pode-se punir a autolavagem?
Há posição interessante no sentido de que o ordenamento jurídico-penal brasileiro não pune a chamada “autolavagem” (selflaundering). Ou seja, qualquer pessoa pode ser autora do crime de lavagem com exceção do autor do crime antecedente, pois, para este, a utilização do produto do crime representaria exaurimento daquele crime (o antecedente). 
Contudo, este entendimento não é acolhido pela maioria da doutrina e jurisprudência nacionais. Prevalece o entendimento segundo o qual os crimes podem ser punidos autonomamente, já que eles lesam bens jurídicos distintos. A forma de desvinculação do produto do crime pode ter uma lesividade tal que justifique sua punição como crime autônomo. Isso foi debatido no STF, onde ficou decidido que a selflaundering é passível de punição, não constituindo bis in idem ou qualquer ofensa a princípios do Direito Penal. Essa é a principal distinção entre os crimes de lavagem e os de receptação e favorecimento real. Nestes tipos há a ressalva expressa de que o sujeito ativo não pode ter participado do crime antecedente. O sujeito passivo, devido ao bem jurídico tutelado, é o Estado. 
*#OUSESABER: Para configurar o crime de lavagem de capitais, não é necessário que seja “lavado” dinheiro de terceiros. Segundo o Superior Tribunal de Justiça, é possível que o autor da infração antecedente responda por lavagem de dinheiro, dada à diversidade dos bens jurídicos atingidos e à autonomia deste delito. Na mesma linha, o Supremo Tribunal Federal afirma que o crime de lavagem de capitais não funciona como mero exaurimento da infração antecedente, já que a Lei n. 9.613/98 não exclui a possibilidade de que o ilícito penal antecedente e a lavagem de capitais subsequente tenha a mesma autoria, sendo aquele independente desta.
	Políticas internacionais de combate à lavagem e gerações de leis de lavagem
A Convenção de Viena (20.12.88) inaugura a previsão da lavagem de dinheiro em documentos do gênero, porém o único crime antecedente capaz de gerar a condenação por lavagem é o tráfico de drogas.
Por sua vez, a Convenção de Palermo (15.11.2000) traz um conjunto de regras para o combate mais efetivo ao crime organizado, sendo incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto Presidencial 5.015 em março de 2004. A Convenção vai além da de Viena ao indicar que diversos crimes, além do tráfico de drogas, podem figurar como crime antecedente. 
Por fim, a Convenção de Mérida, promulgada pelo Brasil em janeiro de 2006, tem por objetivo o combate à corrupção, dedicando o seu art. 14 ao crime de lavagem de dinheiro.
Gerações de leis de lavagem de capitais: Tendo por base os diplomas internacionais sobre o tema, a doutrina trabalha com 3 gerações de leis de lavagem de capitais:
(1) Leis de 1ª geração. APENAS O TRÁFICO DE DROGAS poderia configurar infração antecedente.
(2) Leis de 2ª geração: há um rol taxativo de crimes antecedentes, ou seja, o tráfico deixa de ser o único crime antecedente.
O legislador percebe que não é somente o tráfico de drogas que gera enorme quantia em dinheiro oriundo de ilícitos. Assim, no Brasil, a Lei 9.613/98 surgiu como uma lei de 2ª geração, como se depreende da leitura de seu artigo 1º (revogado). 
(3) Leis de 3ª geração: qualquer infração penal pode ser antecedente da lavagem. Ex.: Espanha e na Argentina e Brasil. Hoje, a Lei 9.613/98 integra a 3ª geração das leis, em face das alterações produzidas pela Lei nº 12.683/12.
	Você sabia? #VEMPROVAORAL
Até 2013, com o advento da Lei 12.850/2013, o Brasil não possuía qualquer Lei que tipificasse como crime as ações de organizações criminosas, pois as Leis 9.034/95 e 12.694/12 falavam do tema, mas não previam como crime ante a ausência de preceito incriminador. 
Por conta disso, em um caso emblemático, o MP de SP se utilizou do conceito de crime organizado da Convenção de Palermo para tipificar tais ações como se crimes fossem, a fim de constituir o crime organizado como infração penal antecedente para a caracterização do crime de lavagem de dinheiro.
O STJ corroborou a tese (HC 77.771-SP). Entretanto, o STF, em julgamento marcante (HC 96.007-SP), rechaçou a tese com base em três argumentos: 
O conceito de crime organizado da Convenção de Palermo seria demasiadamente amplo e genérico, ferindo assim o princípio da legalidade;
A definição da convenção de Palermo dizia respeito mais precisamente aos crimes organizados transacionais;
E por fim,o argumento mais importante, somente lei interna pode se configurar como norma penal incriminadora. 
	Cooperação privada no combate à lavagem
A lei de lavagem de dinheiro brasileira estabeleceu regras de cooperação privada para o combate ao crime em análise. As pessoas e instituições que atuam em setores considerados sensíveis ao crime, mais utilizados nos processos de reciclagem, têm obrigação de guardar e sistematizar informações sobre usuários de seus serviços, de informar às autoridades de atividades suspeitas de lavagem de dinheiro efetuadas através de suas instituições. 
Uma das mais importantes alterações trazidas pela Lei n. 12.68312 foi a ampliação do rol de entidades que são obrigadas a cooperar. Antes, apenas pessoas jurídicas eram obrigadas a prestar informações e cadastrar clientes. Hoje, todas as pessoas físicas que atuem em qualquer dos setores sensíveis devem observar as normas de vigilância e comunicação previstas nos art. 10 e 11. Talvez o dispositivo mais polêmico seja o novo inciso XIV do art. 9º: pois uma interpretação ampla permite sua incidência sobre atividades nas quais o dever de sigilo sobre informações obtidas no exercício profissional é previsto e exigido em lei, como no caso da advocacia. Vejamos:
Art. 9º Sujeitam-se às obrigações referidas nos arts. 10 e 11 as pessoas físicas e jurídicas que tenham, em caráter permanente ou eventual, como atividade principal ou acessória, cumulativamente ou não:
XIV - as pessoas físicas ou jurídicas que prestem, mesmo que eventualmente, serviços de assessoria, consultoria, contadoria, auditoria, aconselhamento ou assistência, de qualquer natureza, em operações:
	Conselho de controle de atividades financeiras (coaf)
É a unidade de inteligência brasileira de combate à lavagem de dinheiro. Ela tem natureza administrativa, o que impede que o órgão promova medidas cautelares, quebras de sigilo, ou mesmo requeira a instauração de processo penal. Cabe à instituição receber, armazenar e sistematizar informações, elaborar relatórios e contribuir através do planejamento estratégico, de ações de inteligência e de gestão de dados. Além disso, o COAF detém atribuições de supervisão administrativa de setores sensíveis e de formulação de políticas para o setor.
O COAF possui competência residual na fiscalização das operações econômicas que possam camuflar a infração penal de lavagem de capitais (art. 14, § 1º). Outras entidades também possuem essa competência, tais como o BACEN, CVM, PREVIC e o SUSEP.
*#OUSESABER: No contexto do Combate à Lavagem de Dinheiro, foi criado, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de atividades financeiras (COAF), que controla movimentos financeiros médios e altos que indiquem atividades suspeitas, no Art. 10 da Lei 9.613, que cria o COAF, resta consagrada a política do "know your costumer", ou seja, conheça seu cliente. Isso significa que as instituições financeiras têm a obrigação de conhecer seus correntistas e seus padrões de atividades financeiras e, existindo incompatibilidade de tais movimentações com seus padrões atuais, deve a instituição comunicar à autoridade financeira responsável para investigações!
	2. CONDUTAS TIPIFICADAS
Competência: Em regra, a competência é estadual, salvo quando praticados contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira, ou em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas; ou quando a infração penal antecedente for de competência da Justiça Federal
	Crimes em espécie 
Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)[3: A lei utilizada o termo infração penal, assim, compreende tanto crimes quanto contravenções penais!]
Pena: reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa.
Tipo objetivo: Os verbos deste delito são: (i) Ocultar: significa esconder a origem da coisa. A ocultação, de per si, não é apta a configurar o crime de lavagem. Deve ela se dar sempre num contexto de reciclagem (ligado ao dolo do crime de lavagem de dinheiro) e (ii) Dissimular: deve ser interpretado como ocultação com fraude. Para caracterização da lavagem de dinheiro, não é necessária nenhuma operação de engenharia financeira ou algo mais sofisticado do que a mera fraude. O STF tem vários precedentes nesse sentido, como o RHC 80.816/SP. Ademais, é tipo misto alternativo.
Na modalidade ocultar é crime permanente, ou seja, crime cuja consumação se prolonga no tempo. Portanto, mesmo que o agente tenha dado início à ocultação em momento anterior à entrada em vigor da lei, responderá normalmente pelo delito se mantiver os depósitos após a vigência da lei (Súmula 711, STF). O crime de lavagem é formal, não dependendo, para sua consumação, da ocorrência de resultado material. Admitem tentativa. Também é crime de perigo concreto.[4: SÚMULA 711 STF: A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA.]
Objeto material: O objeto material do crime de lavagem de dinheiro são bens, direitos ou valores, abrangidos aí quaisquer benefícios de natureza econômica material ou imaterial. 
Consumação: É crime formal, assim, basta a prática da ação típica para a sua consumação. O crime se perfaz com a simples realização das ações de ocultar ou de dissimular determinados atributos (“natureza” etc.) dos objetos materiais envolvidos (produtos das infrações antecedentes).
	De olho na Jurisprudência
	
 (...) a simples movimentação de bens com o intuito de utilizá-los, mas sem o dolo de ocultá-los, não configuraria delito autônomo. O Ministro Marco Aurélio sublinhou que o tipo penal da lavagem de dinheiro não exigiria a simples ocultação de valor, mas também que se desse a esse produto criminoso a aparência de numerário legítimo.
(...) Anotavam que o tipo penal da lavagem de dinheiro não tutelaria apenas o bem jurídico atingido pelo crime antecedente, mas também a higidez do sistema econômico-financeiro e a credibilidade das instituições. Aduziam que a conduta caracterizada pelo recebimento de vantagem de forma dissimulada, máxime quando a prática ocorre por meio do sistema bancário, seria suscetível de censura penal autônoma.
(...) Prevaleceu o voto do Ministro Roberto Barroso, que reiterou o entendimento firmado nos embargos acima mencionados. Registrou não ter havido ato autônomo subsequente ao crime de corrupção passiva, sujeito a imputação como lavagem de capitais. Ademais, assinalou que o embargante não teria ciência de que os valores seriam produto de atos ilícitos, pois seria mero intermediário. (DPP - AP 470/MG: EMBARGOS INFRINGENTES - Informativo 738). 
Tipo subjetivo: Os crimes do art. 1º caput, art. 1º, §1º e art. 1º, §2º inc. I admitem tanto o dolo direto como o dolo eventual. No concernente ao dolo eventual, merece relevo a doutrina construída na jurisprudência norte-americana chamada de willfull blindness doctrin ou doutrina da cegueira deliberada. A teoria foi construída para viabilizar a punição de agentes financeiros que exerciam atividades aparentemente lícitas, alegando que não aderiam àquelas condutas ilícitas porque estavam atuando dentro da sua esfera normal de atribuições. 
Em resumo, são requisitos da willfull blindness doctrine: (i) Que o agente tenha agido com conhecimento da elevada probabilidade de que aqueles bens ou valores eram oriundos de atividade ilícita; (ii) Que tenha ele agido de forma indiferente a essa probabilidade e (iii) com essa quantidade de normativos no sistema de prevenção, não há como deixar de punir pessoas que se omitem dos seus deveres de fiscalização dessas condutas. A diferença dessa doutrina para o dolo eventual talvez resida no fato de que a pessoa tem condições (e obrigação) de aprofundar o seu conhecimento sobre os fatos, mas deixa de fazê-lodeliberadamente. 
Aprofundamento: Teoria da Cegueira Deliberada, Teoria do avestruz, Willful Blindness ou ainda Ostrich Instructions (atenção para os sinônimos!!)
Conceito: A teoria da cegueira deliberada, também denominada teoria do avestruz, de origem norte-americana, está no âmbito dos crimes de lavagem de capitais e visa tornar típica a conduta do agente que tem consciência sobre a possível origem ilícita dos bens ocultados por ele ou pela organização criminosa a qual integra, mas, mesmo assim, deliberadamente, cria mecanismos que o impedem de aperfeiçoar sua representação acerca dos fatos. Ao evitar a consciência quanto à origem ilícita dos valores, assume os riscos de produzir o resultado, daí porque responde pelo delito de lavagem de capitais a título de dolo eventual.
Origem do nome: O nome desta teoria provém de um mito: uma avestruz enterra sua cabeça na areia para que não veja ou escute más notícias, evitando assim, tomar conhecimento de fatos desagradáveis. É exatamente o que acontece com a pessoa que finge não saber que está praticando um ato ilícito; “enterra” a cabeça para não tomar conhecimento da natureza ou extensão deste ilícito.
A teoria da cegueira deliberada ou das instruções do avestruz tem exatamente por objetivo acabar com o “eu não sabia”; “eu não sei de nada”.
Essa teoria tem sido aplicada no Brasil nos crimes de lavagem de dinheiro, mas já ocorre a sua aplicação em determinados crimes eleitorais, quando, p. ex., o candidato presenteia eleitores para a obtenção de voto.
#Deolhonocasoconcreto: Um caso que ficou conhecido no Brasil, dando origem ao filme “Assalto ao Banco Central”, foi o furto no Banco Central em Fortaleza, em 6 de agosto de 2005, quando uma quadrilha furtou, através de um túnel, exatos R$ 164.755.150,00 (cento e sessenta e quatro milhões, setecentos e cinquenta e cinco mil, cento e cinquenta de reais), sendo 3.295.103 notas de cinquenta reais.
Após o furto, membros da quadrilha deslocaram-se a uma concessionária, na qual compraram 11 automóveis com R$ 1.000.000 (um milhão de reais) em espécie.
O juiz de primeira instância aplicou a teoria em análise, haja vista que pelas circunstâncias (um milhão de reais em espécie) para a compra de 11 carros, os responsáveis pela concessionária “fingiram de bobo” (passaram-se por cego) para não saber a origem ilícita do dinheiro utilizado na compra dos veículos. Em primeira instância foram condenados com fulcro no art. 1º, § 2º, inc. I da Lei 9.613/98 (lavagem de dinheiro).
Em segunda instância, os responsáveis pela venda dos veículos foram absolvidos, sob o fundamento de que a Lei de Lavagem de Capitais exige o dolo direto, e não o dolo eventual.
§1o  Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal: (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
I - os converte em ativos lícitos;
II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere;
III - importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.	
A conduta não é mais ocultar o dissimular, mas sim as condutas previstas nos três incisos, que são movidas pelo especial fim de ocultar ou dissimular operação com bens provenientes de infração penal. A conversão dos ativos em ativos lícitos acontece, na maioria das vezes, com a aquisição de ações, de bens móveis, na realização de aplicações financeiras, ou seja, hipóteses em que se substitui o produto do crime por um ativo lícito. As condutas do inciso II são assemelhadas às previstas no crime de receptação. 
São condutas muito semelhantes entre si. Ressalte-se que as modalidades previstas nos incisos I e II têm uma relação muito próxima com a figura do caput. 
OBS: Algumas condutas (ter em depósito, receber, movimentar, transferir), por serem unissubsistentes, não admitiriam a tentativa. Entretanto, a regra geral é que admitem. Baltazar entende que nessa modalidade do §1º não admitem tentativa. 
 É comum observar superposição entre essas condutas. O mais importante neste parágrafo é o inciso III, que trata do subfaturamento e do superfaturamento de importações ou exportações, uma das tipologias mais clássicas dos crimes de lavagem de dinheiro. Importante distinguir essa operação de uma efetiva operação de lavagem, pois o superfaturamento (ou subfaturamento) pode ser praticado exclusivamente com o fim de ilidir o pagamento de tributos, por exemplo. Nestes casos, importante observar a origem dos produtos/valores. Diverge a doutrina acerca da possibilidade de cometimento deste crime com dolo eventual. A alteração da redação atualmente permite afirmar que esta conduta também admite dolo eventual. 
§ 2o  Incorre, ainda, na mesma pena quem:  (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
I - utiliza, na atividade econômica ou financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal;  (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei.
No que tange ao inciso I, importante frisar que não há neste parágrafo menção à ocultação ou dissimulação. A mera utilização destes recursos na atividade financeira já caracteriza o crime. Duas correntes doutrinárias divergem acerca da tipificação deste crime:
 1° Corrente – Houve um lapso do legislador. Na realidade, é inerente ao tipo de lavagem a presença da intenção de ocultar ou dissimular e, portanto, também aqui, a utilização dos recursos não é a mera utilização por si só, devendo ser acrescida do elemento subjetivo (intenção de ocultar ou dissimular).
 2° Corrente – Trata-se de tipo subsidiário que não exige a intenção de ocultar ou dissimular. O emprego dos ativos oriundos de infração penal (branqueados ou não) na atividade econômico-financeira gera uma situação de concorrência desleal que justifica o apenamento. Esta é a posição prevalecente. Exige a lei que o emprego do bem se dê em atividade econômica (empresarial) ou financeira (atuação no mercado financeiro, depósito em bancos e etc.). Nesta hipótese também cabe o dolo eventual, ou seja, não se exige que a pessoa saiba expressamente (dolo direto) da proveniência ilícita dos recursos. 
O inciso II traz um dos crimes mais criticados da lei de lavagem de capitais. Critica a doutrina que esta lei elegeu como crime autônomo a mera conduta de participar exigindo como elemento subjetivo apenas o conhecimento de que aquele grupo ou escritório se presta a atividades de lavagem. Isso permitiria, se não fosse exigido um elemento subjetivo, que a secretária, a servente ou o faxineiro que trabalham nesses locais fossem punidos, já que, do ponto de vista objetivo, preenchem os elementos do tipo. O tipo ainda deixa de mencionar a forma de participação punível. Em resumo, este tipo penal puniria a associação criminosa que tem por finalidade específica a prática de crimes de lavagem de dinheiro (principal ou secundária). 
Este dispositivo se destina àquelas pessoas que se prestam à atividade profissional de lavagem: escritórios de blindagem patrimonial, grupos ou acessórias nesse sentido, e etc. 
Causa de aumento de pena:
Causa de aumento de pena:
§ 4o A pena será aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa. (Lei nº 12.683/12)
Essa causa de aumento sempre existiu na lei. A lei atual apenas alterou a redação do artigo, que tratava anteriormente dessa questão de forma imprópria, indicando que o aumento se daria caso os crimes fossem cometidos de forma habitual (e não reiterada). Assim, são dois os fundamentos para o aumento da pena: (i) reiteração ou (ii) prática de crime por intermédio de organização criminosa. 
* Reiteração: O dispositivo da lei especial trata da lavagem praticada de maneira recorrente, o que não exclui a possibilidade de este crime ser praticado em continuidade delitiva. O art. 71 temum elemento especializante: além de a pessoa praticar a conduta reiteradamente, ela o faz nas mesmas circunstâncias de modo, tempo, lugar e etc. Caso esses requisitos não estiverem presentes, mas houver a prática de atos reiterados de lavagem, será aplicada a causa de aumento do §4° do art. 1° da Lei 9.613/98. Este foi o entendimento adotado na AP 470. No caso da reiteração o critério é o mesmo utilizado na continuidade delitiva, qual seja, o número de atos de lavagem. Assim, quanto maior o número de atos de lavagem, maior estará o aumento do percentual máximo. 
* Prática de crime por intermédio de organização criminosa: No caso das organizações criminosas, a causa tem um elemento puramente objetivo (ou o crime é praticado por organização criminosa ou não).
	3. OUTRAS INFORMAÇÕES
		
Art. 2º O processo e julgamento dos crimes previstos nesta Lei:
I – obedecem às disposições relativas ao procedimento comum dos crimes punidos com reclusão, da competência do juiz singular;
II - independem do processo e julgamento das infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e julgamento; (Lei nº 12.683/12)
Apesar de trata-se de crime parasitário – DE OLHO NA NOMENCLARURA - (depende da existência de outro crime para sua configuração), o crime de lavagem guarda certa autonomia com relação ao crime antecedente, podendo ser punido independente deste. Essa autonomia se expõe em dois aspectos: (i) aspecto processual – é referente à tramitação do processo, que se dará de forma independente do processo referente ao crime anterior e (ii) aspecto material – O crime de lavagem pode se consubstanciar ainda que não haja prova plena ou condenação do crime antecedente. O crime de lavagem de dinheiro se desgarra do crime antecedente, exigindo para sua configuração apenas indícios da infração anterior. 
OBS: Conforme o Art. 2º, inciso II, primeira parte, os processos criminais pelo delito de lavagem de capitais e pelo crime antecedente, não necessariamente precisam tramitar juntos, o que, no entanto, não impede a reunião das ações penais em virtude de conexão probatória ou instrumental (STJ HC 59663).
Necessário ressaltar a relatividade desta autonomia. Os fundamentos da absolvição do crime antecedente suficientes para afastar o crime de lavagem são aqueles que afastam os elementos tipicidade e antijuridicidade. Posso condenar alguém por lavagem, sem antes ter havido condenação pelo crime antecedente? Sim.
	Infração penal antecedente:
	Lavagem de capitais:
	Basta que seja demonstrada a prática de uma conduta típica e ilícita.
	Passará a ser punido o crime de lavagem de capitais.
	Absolvição com base na atipicidade ou licitude
	Não será punível o crime de lavagem de capitais
	Absolvição com base em causa excludente da culpabilidade
	Será punível o crime de lavagem de capitais
	Extinção da punibilidade
	Não impede a condenação quanto ao crime de lavagem de capitais, salvo em se tratando da anistia e da abolitio criminis, hipóteses em que o fato antecedente deixa de ser considerado infração penal.
OBS: Inimputável - absolvição imprópria - persiste o crime de lavagem. 
OBS: Crimes Contra a Ordem Tributária. Pagamento até o recebimento da denúncia, extingue a punibilidade quanto ao crime tributário, mas subsiste a possibilidade de condenação do crime de lavagem de capitais, uma vez que a conduta continua sendo TÍPICA E ILÍCITA.
RESUMO: SENDO TÍPICO E ILÍCITO O ANTECEDENTE = RESPONDE PELO CRIME DE LAVAGEM. ACESSORIDADE LIMITADA.
	Lavagem de capitais vs Outros tipos penais
 
1. Lavagem de dinheiro x receptação. 
A – Limitações da receptação quanto à autoria. Há um consenso na doutrina de que o autor do crime antecedente não pode responder por receptação, já que, por exemplo, a venda do bem furtado seria mero exaurimento. 
B – Objeto material. O bem imóvel não pode ser objeto do crime de receptação (doutrina majoritária), pois se entende que o tipo penal pressupõe atos de movimentação. Isso não ocorre na lavagem de dinheiro. Ao contrário da lavagem, o crime de receptação só incide sobre o próprio objeto do crime anterior. 
C – Limitação quanto ao interesse protegido. A finalidade da receptação é outorgar uma proteção maior à vítima que teve o patrimônio anteriormente violado. Não é por outra razão que é crime contra o patrimônio (mas isso não quer dizer que o crime anterior deva ser um crime contra o patrimônio – ex: peculato – tecnicamente não é crime contra o patrimônio, embora atinja o patrimônio do ente público). Na lavagem de dinheiro, podem ser afetados inúmeros outros interesses além do patrimônio: atinge-se a higidez do sistema financeiro do país (ex: dissimulação – grandes recursos retirados e colocados), a concorrência (ex: utilização de recursos ilícitos em determinada atividade) e até o sistema democrático (financiamento de campanha eleitoral, corrupção ativa de agentes públicos). 
Receptação: O autor do crime antecedente não responde (mero exaurimento). Não atinge bens imóveis – pressupõe movimentação. Só incide sobre o próprio objeto do crime antecedente anterior. O interesse protegido é o patrimônio da vítima (ainda que, tecnicamente, o crime anterior possa não ser contra o patrimônio – ex: peculato). 
Lavagem De Dinheiro. O autor do crime antecedente responde – engenharia de operações para mascarar o ilícito. Atinge bens imóveis. Incide sobre todas as derivações do produto do crime. Há múltiplos interesses protegidos: sistema financeiro, concorrência e até o sistema democrático.
2. Lavagem de dinheiro X art. 91, II, b, do CP. 
O art. 91 estabelece a perda do produto do crime. O problema é que se trata de efeito da condenação criminal, ou seja, pressupõe a condenação. Ocorre que, na lavagem, muitas vezes não se consegue identificar os autores do crime antecedente. Logo, o art. 91 seria insuficiente. 
Ainda sobre efeitos da condenação:
01. A Lei 9613/1998, com a redação da Lei n. 12683/12, tem nova redação quanto os efeitos da condenação. 02. No Código Penal, essas matérias são tratadas como efeitos secundários da sentença penal que precisam de motivação por parte do juiz sentenciante. 03. Na Lei de Lavagem de Capitais os efeitos são automáticos e mais abrangentes. Atingem os instrumentos (mesmo que lícitos) da infração penal, seus produtos e proveito. Também, implica na perda de cargos públicos e privados, inclusive impedindo a investidura em cargos futuros. 04. É de extrema importância a leitura do art. 7º da Lei 9.613/1998!
	Como o assunto foi cobrado em provas?
1. (MPE-SC – Promotor de Justiça/2016)
Julgue a seguinte assertiva: Nos crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores, previstos na Lei n. 9.613/98 (Lavagem de Dinheiro), incorre nas mesmas penas quem participa de escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou, até mesmo secundária, é dirigida à prática de crimes previstos na supramencionada legislação repressiva.
Gabarito:[5: Correto.]
2. (TRT-8ª Região – Analista Judiciário/2016)
A seguinte assertiva foi considerada incorreta: 
No crime de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, para se tipificar a conduta praticada, é necessário que os bens, direitos ou valores provenham de crime anterior e que o agente já tenha sido condenado judicialmente pelo crime previamente cometido.
3. (MPE-AM – Promotor de Justiça Substituto/2015)
Em relação ao bem jurídico tutelado no crime de lavagem de dinheiro, de acordo com o entendimento predominante no cenário jurídico brasileiro, à luz da doutrina e da jurisprudência, considere as seguintes assertivas:
I – O bem jurídico tutelado é a administração da justiça.
II – O bem jurídico tutelado é a ordem socioeconômica.
III – A objetividade jurídica é a mesma do crime antecedente.
Quais das assertivas acima estão correta(s)?[6: Somente a II, conforme explanado na parte referente ao bem jurídico tutelado.]
4. (TCE-RN – Auditor Fiscal/2015)A respeito dos crimes de lavagem de dinheiro e de abuso de autoridade, julgue o item subsequente:
“De acordo com a jurisprudência do STJ, o delito de lavagem de dinheiro absorve a infração penal antecedente.”
Gabarito:[7: Errado! Como estudamos anteriormente, a lavagem de dinheiro constitui crime acessório e derivado, mas autônomo em relação ao crime antecedente, não constituindo assim post factum impunível, nem dependendo da comprovação da participação do agente no crime antecedente para restar caracterizado.]
5. (MPE-AM – Promotor de Justiça Substituto/2015)
Considere as seguintes assertivas em relação ao crime de lavagem de dinheiro:
I – Não é cabível o concurso de infrações entre a lavagem de dinheiro e o ilícito típico antecedente.
II – O crime de corrupção fica absorvido pelo crime de lavagem de dinheiro, em razão do princípio da consunção, no concurso aparente de normas penais.
III – A Lei n.º 9.613/98 é considerada de segunda geração, estabelecendo uma lista de infrações penais antecedentes.
IV – A Lei n.º 9.613/98 admite a figura da autolavagem ou do autobranqueamento, podendo o autor da infração penal antecedente ser punido também pela prática de lavagem de dinheiro.
V – Tendo em vista a controvérsia jurisprudencial em torno do conceito de organização criminosa, a partir da definição típica promovida pela Lei n.º 12.850/2013, as infrações penais por ela praticadas podem ser consideradas subjacentes ao crime de lavagem de dinheiro.
Quais das assertivas acima estão corretas?[8: IV e IV. Lembre-se que a Lei 9.613/18 surgiu como uma Lei de segunda geração, mas hoje é inconteste a sua classificação como Lei de terceira geração!]
6. (PGR – Procurador Geral da República/2013)
Sobre o crime de lavagem de dinheiro assinale a assertiva correta:
a) O § 4º, do art. 1º, da Lei n. 9.613/1998, foi alterado pela Lei n. 12.683/2012, passando a prever a causa de aumento de pena de um a dois terços se os crimes definidos naquele diploma legal forem cometidos de forma reiterada ou por intermédio de organização criminosa.
b) O art. 1º, caput, da Lei n. 9.613/1998, foi alterado pela Lei n. 12.683/2012, que suprimiu o rol taxativo de crimes antecedentes pela referência genérica a infração penal, com exceção das contravenções e da sonegação fiscal.
c) O art. 7º, da Lei 9.613/1998, foi alterado pela Lei n. 12.683/2012, passando a prever, como efeito da condenação, a perda, tão somente em favor da União, de todos os ativos relacionados, direta ou indiretamente, à prática da lavagem, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé.
d) O art. 9º, XIV, da Lei 9.613/1998, foi alterado pela Lei n. 12.683/2012, passando a exigir do advogado atuante no contencioso judicial ou extrajudicial criminal o dever de comunicar as operações suspeitas de lavagem perpetradas por seus clientes.
Gabarito: [9: A. Letra pura e simples da Lei. ]

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