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Empirismo exegético
	A ciência do direito, no século XIX, encontra sua expressão mais característica no exegetismo. Para a escola da exegese, a totalidade do direito positivo se identifica por completo com a lei escrito; com isso a ciência jurídica se apegou à tese de que a função específica do jurista era ater-se com rigor absoluto ao texto legal e revelar seu sentido. Todavia, não negou o direito natural, pois chegou a admitir que os códigos elaborados de modo racional eram expressão humana do direito natural, por isso o estudo do direito deveria reduzir-se a mera exegese dos códigos.
	A lei e o direito constituem uma mesma realidade, pois a única fonte do direito é a lei e tudo o que estiver estabelecido na lei é direito.
	A escola reuniu a quase totalidade dos juristas franceses durante a época da codificação do direito civil francês e o tempo que se sucedeu à promulgação do célebre Código de Napoleão. Como esse código unificou o direito civil francês, os juristas entenderam que deviam fazer apenas a exegese do texto legal, ficando, assim, a ciência do direito reduzida a mera tarefa de exegetas. O racionalismo buscava a simetria, a construção lógica perfeita, o que o levou à utopia.
	Laurent, apesar de considerar necessária a interpretação, não admitia qualquer oposição entre a vontade do intérprete e a do legislador, de modo que o jurista devia tão-somente explicar a lei e não reforma-la, devendo aceitar todos os seus defeitos.
	Inicialmente, os sequazes da escola se atinham à interpretação literal. Ante a ineficiência desse processo, tiveram de recorrer às fontes, a fim de conhecer não apenas a letra da lei, mas também seu espírito. Com isso passou-se a admitir a interpretação histórica, isto é, o exame das circunstâncias que antecederam a lei. Posteriormente, essa escola veio a utilizar a interpretação lógico-sistemática, que consistia em descobrir o sentido da lei, tendo por base o lugar que ela ocupa dentro do sistema legislativo.
	Todavia, qualquer um desses processos era empregado com muita prudência. Só havia um objetivo: entender os textos, tendo por fim a descoberta da intenção do legislador.
	Consequentemente, essa doutrina ultralegalista proclamou que a lei deve ser a única fonte das decisões jurídicas, logo toda solução jurídica não pode ser mais do que a conclusão de um silogismo, em que a premissa maior é a lei e a menor, o enunciado de um fato concreto. De maneira que a função do aplicador não era senão a de subsumir os fatos concretos à determinação abstrata da lei. 
	Este positivismo legal, estatista e avalorativo é o traço dominante dessa escola, que se encontrava em condição mais propícia do que a jusnaturalista para fundamental uma ciência neutral do direito.
	Tal postura exegética não é idêntica à dos glosadores. O jurista, na ideia glosadora, na leitura e aplicação dos textos antigos, procurava uma harmonização, sanando contradições. Com isso, através dos glosadores, surge a ciência do direito, com caráter dogmático. Mas esse pensamento jurídico pecava pela falta de sistematicidade. 
	A escola da exegese correspondeu ao pandectismo, da Alemanha, e à escola analítica de Austin, da Inglaterra.
	A escola da exegese e o pandectismo desembocaram num sistema rígido de fetichismo pelos textos e de construção sistemática, apregoando o uso do método dedutivo, exigindo a aplicação das leis de acordo com um processo rigorosamente silogístico. Porém, para o pandectismo só importava os textos do direito romano. 
	O exegetismo também apareceu nos países do common law. O common law é um corpo que contém em si normas para solucionar qualquer caso. É o direito elaborado por juízes. Os países do common law sofreram influência da escola histórica, mas também vieram a admitir o fetichismo dos textos e da função mecânica da atividade judicial.
	O ponto de vista convencional que prevalecia no common law, em meados do século XIX, eera o de que o direito constituía-se por um conjunto de normas permanentes, que só podiam ser modificiadas pelo legislador. Os juízes não podiam anterá-las, mas apenas aplica-las. 
	John Austin, ao criticar o casuísmo do common law, recomendou a adoção de processor lógico-analíticos na interpretação e aplicação do direito costumeiro e do derivado das decisões da Corte da Chancelaria. A ciência do direito deveria estudar apenas a legislação vigente, isto é, o direito positivo emanado do soberano.
	A simbiose entre o dogmatismo exegético e o historicismo do common law, ao consagrar como absoluto o velho direito, fez resultar, nesses países, a petrificação do direito.
	A escola analítica representou uma tentativa de sistematização, estabelecendo a coerência entre uma mentalidade que exigia um sistema de direito positivo e acabado e perfeito e uma ordem jurídica que, construída sobre a tradição, os costumes, os precedentes e a atividade diuturna dos tribunais, não comportava aquela mentalidade.