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Internacional – Lex mecatoria

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INTRODUÇÃO
Para analisarmos as relações do comércio internacional é necessário considerar que, em geral, inexiste, nesta área, uma autoridade legislativa superior, a elaborar normas de observância geral e obrigatória, e, por outro lado, as partes em conflito são oriundas de sociedades que possuem modos diferentes de pensar o Direito, a organização da vida social.
A regulamentação dessas relações pode ser alcançada por meio do emprego de diversas vias, outras técnicas de solução de controvérsias e, especialmente, deve-se ter em conta os interesses do comércio internacional, as vicissitudes dos mecanismos.
A relação supranacional, estabelecida na sociedade dos comerciantes internacionais, busca uniformizar as regras jurídicas e contratuais de sua atividade específica, harmonizando as práticas comercias, e por conseguinte agilizar e facilitar o sistema mercantil.
Verifica-se a existência de diversas entidades privadas que, ao lado das convenções internacionais, objetiva unificar as regras do comércio internacional, como ocorre com a UNIDROIT e a CCI.
Com uma sociedade autônoma de comerciantes, em que se constata reiterada prática de atos e contratos, aliada a uma vontade específica para a criação de regras próprias para a atividade, pretende-se a concepção e vigência de uma nova Lex Mercatoria.
A Lex Mercatoria teve origem na Idade Média, em resposta aos direitos feudais, plenos de privilégios, que entravavam as relações de comércio. Surgida nas Feiras, como ordenamento a reger as relações entre os comerciantes, de modo uniforme, através da aplicação obrigatória dos usos e costumes comerciais.
O ius mercatorum, nascido no século XI, na esteira dos costumes comerciais, caracterizava-se por jurisdição especial, baseado na autonomia corporativa e sem intervenção do Estado.
Várias manifestações jurídicas nesse sentido podem ser mencionadas, tais como as regras de direito marítimo desenvolvidas pelo Imperador Basílio I, séc. IX; as tábuas de Amalfi, séc. XI; as leis de Wisby, sendo que a violação das práticas comerciais implicava a exclusão do comerciante do respectivo mercado.
Após o século XIV, com a decadência das sociedades corporativas, ganha força o Estado Nacional, resultando que o direito comercial desse Estado assuma o papel até então exercido pelo ius mercatorum.
Assim, em certo desuso no período das grandes codificações, a nova Lex Mercatoria emerge na atualidade como um corpo de normas jurídicas escritas ou não, ainda incompleto, que visa à regência das relações internacionais do comércio, como um poder normativo independente do direito positivo dos Estados. Isso porque para o comércio internacional, a utilização do método conflitual como meio de solução dos litígios apresenta características de incerteza e imprevisibilidade inaceitáveis para a sua dinâmica. Desta forma, sua vocação universalista, leva em conta as necessidades do comércio internacional, suas relações, e não as legislações estatais internas.
Em 1964 surge o movimento doutrinário para uma nova e moderna Lex Mercatoria, através de um artigo publicado por Berthold Goldman, “Frontiéres du droit et Lex Mercatoria”, considerado como um marco na evolução do conceito.
Para Godman a Lex Mercatoria pode ser entendida como “um conjunto de princípios gerais e de regras costumeiras aplicadas espontaneamente ou elaboradas para o comércio internacional, sem se referir a um específico sistema de direito nacional”.
Em seu trabalho, Goldman faz uma divisão em três setores quanto as operações do comércio internacional : - operações de venda, onde ocorre a elaboração de contratos-tipo por profissionais do comércio internacional, fundamentais para uniformização das regras nessa atividade; - operações de crédito, ressaltando o crédito documentário, cuja origem está na prática e nos usos e costumes, e não em alguma legislação nacional; - operações de transporte, em que se verifica regras uniformizadas em virtude de sua natureza eminentemente internacional.
A Lex Mercatoria é vista por Langen como “regras do jogo do comércio internacional” e, Schmithoff a conceitua como sendo “princípios comuns do direito relativo às transações comerciais internacionais”.
A Lex Mercatoria apresenta-se através das seguintes manifestações :
Usos e costumes do comércio internacional, é compreendido como a lei que o uso estabeleceu, e que se conserva, sem ser escrita, por uma longa tradição, Na prática comercial, revelam-se, sobretudo, na interpretação de contratos, segundo a tradição de negociantes.
Contratos-tipo, são fórmulas contratuais padrão elaboradas por organismos que lidam com o comércio internacional, e que, embora facultativas, pelo seu alto grau de especialidade, constituem um verdadeiro direito formulário, contendo regras materiais e normas de interpretação, ex. : Incoterms, Regras da London Corn Trade Association.
Condições gerais de venda são fórmulas elaboradas pela Comissão Econômica para a Europa, da ONU, e, de forma semelhante, pelo Comecon, para os países de economia planificada.
Princípio da autonomia da vontade das partes, em matéria contratual;
Decisões arbitrais
Tavares guerreiro resume o pensamento atual em relação a Lex Mercatoria “a característica do comércio internacional hoje a regulação de relações econômicas por meio de um processo normativo desencadeado na própria classe dos comerciantes ou agentes do comércio internacional”.
Há, ainda, uma questão relevante a ser considerada que é o processo de globalização, que vem ocorrendo nos últimos tempos, impulsionado pela revolução da informática e das telecomunicações.
As economias dos países tornaram-se mundial e cada uma delas encontra-se inserida numa rede de relações em escala mundial, propiciando uma rede de dependências e solidariedade entre os diferentes países.
Nos últimos vinte cinco anos, essa internacionalização das economias acelerou-se, particularmente sob o efeito dos investimentos internacionais, da internacionalização da produção e do fenômeno das multinacionais.
O elevado grau de internacionalização das economias nacionais explica a importância, o interesse e a complexidade do comércio internacional. Por uma razão muito simples, é o comércio internacional que possibilita as múltiplas trocas operadas entre os países, resultando na prática de usos e regras próprios, relacionados a esse ramo, que ultrapassa as fronteiras nacionais e, que dão maior praticidade e eficiência ao negócio no âmbito internacional. 
Desta forma passaremos a analisar todas as variantes da Lex Mercatoria, a possibilidade e os confrontos de sua aplicação junto a soberania nacional e quanto a arbitragem de forma clara e objetiva.
 
1.Leis e Jurisprudências
Analisados, no curso deste trabalho, questões iniciais e conceituais sobre Lex Mercatoria e suas relações com os direitos nacionais e a soberania dos Estados, cabe-nos, agora, discorrer acerca de suas manifestações “legais” e acerca doas entendimentos jurisprudenciais sobre a matéria.
Como é sabido, o mercado não opera no vazio, necessitando não apenas criar, mas também constantemente aperfeiçoar suas instituições jurídicas, assim, face às transformações políticas e econômicas que se impõem juntamente com o mundo globalizado no campo das relações internacionais privadas, cabe não apenas a juristas, mas também aos organismos que lidam com o comércio exterior um papel fundamental no aperfeiçoamento e desenvolvimento de um novo direito internacional privado que leve em consideração os interesses do comércio internacional.
Contudo, e tendo em vista que o comerciante está sempre estabelecido sobre determinado território, ou seja, está inexoravelmente vinculado à soberania de determinado território, as relações jurídicas, no âmbito do Direito do Comércio Internacional, mesmo exigindo uma regulamentação autenticamente internacional, eventualmente,poderão ser remetidas a um dado ordenamento jurídico, guardando, todavia, a legitimidade de sua aplicação no direito internacional.
Destarte, o direito que rege as relações do comércio internacional, assim como as relações entre os Estados nacionais, por sua natureza e tendo em vista a sua função, não pode, segundo a lógica, emanar de autoridades estatais, rogando por regras e soluções emanadas da comunidade e/ou organismos internacionais. Tal entendimento torna-se evidente, especialmente, quando se tem em conta que, em geral, inexiste, nesta área, uma autoridade legislativa superior a elaborar normas de observância geral e obrigatória, além disso, deve-se sempre levar em consideração que as partes em conflito são oriundas de sociedades que possuem modos diferentes de pensar o Direito. Portanto, torna-se mais fácil e pragmático, imaginar e pôr em prática mecanismos que permitam a resolução dos conflitos na área do comércio internacional à vista das circunstâncias particulares de cada litígio.
Assim, após os comentários acima expostos, e levando-se em consideração que Estado e Lex Mercatoria são conceitos (e realidades jurídico-políticas) quase excludentes, e certamente conflitantes, é admissível que o comerciante, além dos vínculos que mantenha com o Estado de onde parte sua atividade, possa assumir com seus parceiros estrangeiros, estabelecidos em outros Estados soberanos, uma relação de natureza corporativa supranacional, que, estabelecida no seio da grande sociedade dos comerciantes internacionais, busca uniformizar as regras jurídicas e contratuais de sua própria e específica atividade, harmonizando suas práticas de comércio, simplificando e agilizando o sistema mercantil transfronteiras�.
Essa sociedade autônoma de comerciantes, pela reiterada prática de atos e contratos, aliada a uma vontade específica para a criação de regras próprias à sua atividade, gerando um direito distinto dos direitos nacionais, se convencionou chamar de uma nova Lex Mercatoria.
Desse modo, os contratos-tipo definidos como “fórmulas contratuais padrão elaboradas por organismos que lidam com o comércio internacional, constituem um verdadeiro direito formulário, contendo claras regras materiais e também normas sobre a sua interpretação”. Como exemplos dessas regras uniformizadas, podemos citar:
INCOTERMS da CCI: estabelecem as obrigações e direitos do vendedor e do comprador, sua responsabilidade, através das cláusulas CIF, FOB, EX WORKS, etc;
Práticas e usos uniformes para créditos documentários da CCI: aplicáveis aos créditos documentários, adotadas por Associações Bancárias ou Bancos Individuais em 175 países;
Regras da London Corn Trade Association: para o comércio de grãos, possui 60 fórmulas-tipo, possuindo-as também para o comércio de seda, para produtos florestais e minerais, etc;
Condições Gerais de Venda: são fórmulas elaboradas pela Comissão Econômica para a Europa, da ONU, e, de forma semelhante, pelo COMECON, para os países de economia planificada.
A despeito dos comentários supramencionados, bem como das citadas regras de uniformização do comércio extrafronteiras, segundo o posicionamento da melhor doutrina, deve-se reconhecer que a Lex Mercatoria não logrou atingir a condição de um direito transnacional, autônomo e positivado, pois ainda resta um trabalho muito grande e imensas conquistas devem ser feitas sobre as soberanias nacionais para que se possa admitir um contrato regido apenas por estas regras uniformizadas, no entanto, de acordo com Hermes Marcelo Huck, a proposta de uma nova Lex Mercatoria tem inegavelmente um objetivo prático de valor considerável, buscando dar maior eficiência ao comércio internacional e, principalmente, solucionar com rapidez as pendências nele surgidas�.
No que tange à jurisprudência sobre a Lex Mercatoria, torna-se mister ressaltar que a ausência de verdadeiras jurisdições internacionais de direito traz, como maior conseqüência, o pouco número d decisões proferidas acerca da matéria.
Além disso, é importante observar também que a arbitragem, como meio de solução dos litígios oriundos das relações comerciais internacionais, configura instituto de larga aplicação, pois os comerciantes internacionais, há vários séculos, tendem a evitar que suas questões sejam submetidas jurisdições estatais, em razão de muitos fatores, dentre eles, a preocupação em aplicar-se a essas questões um direito verdadeiramente aplicado às suas relações.
No entanto, como bem lembra Hermes Marcelo Huck, a arbitragem internacional, consagrada como artífice maior da propagação da Lex Mercatoria, é por sua própria natureza, falha nessa tarefa, haja vista que, o progresso da uniformização e mesmo a consagração de um sistema desnacionalizado, autônomo e autocontido em busca de um direito do comércio internacional choca-se com o sigilo e a confidencialidade que, muitas vezes, cercam os laudos arbitrais, além do enfoque casuístico que os árbitros usualmente procuram imprimir na solução de pendências . Assim, para este autor, falar em jurisprudência arbitral, não é tarefa fácil�.
Outro ponto importante a ser abordado sobre a matéria é que, como o Estado é fonte e origem da lei, torna-ser fundamental que, através de seu poder jurisdicional ou legislativo, reconheça a Lex Mercatoria, pois caso contrário, não haverá forma de se impor a efetividade da mesma dentro de seus limites territoriais. Tal vinculação de reconhecimento pelos tribunais estatais torna-se operável, principalmente, através da aceitação e execução de laudos arbitrais prolatados e fundamentados na Lex Mercatoria.
Segundo Hermes Marcelo Huck, um tribunal nacional pode aceitar como válido, em determinadas (e raras) circunstâncias um contrato fundado na Lex Mercatoria desde que compatível com o disposto na lei nacional interna; para tanto, busca exemplos em casos julgados pela Suprema Corte da Áustria e pela Corte de Cassação Francesa na década de 80, pois aquela primeira Corte reconheceu a viabilidade da Lex Mercatoria no caso Palback Ticaret Sirkety (Turquia) v. Noslov S.A. (França), tendo o mesmo caso sido apresentado à esta segunda Corte, que, igualmente, reconheceu a mesma lex mecatoria aplicável; ou mesmo, na London Court of Appeals, que, em 1987, julgou no mesmo sentido o caso Deutsche Schachtbau und Tiefbohrgesellschaft m.b.h v Ras Al Khaimah Oil Co.
Assim, observa-se que um laudo arbitral ou mesmo uma sentença, mesmo que processados e obtidos segundo os ditames da Lex Mercatoria, pouca ou nenhuma utilidade terão se não encontrarem respaldo no Poder Judiciário onde eventualmente buscarem reconhecimento. Entretanto, cumpre observar, ainda, que as publicações de tais julgados – quer sejam favoráveis ou não – permite aos estudiosos do Direito Comercial Internacional avaliar o atual estágio de desenvolvimento da Lex Mercatoria.
2. Direitos Nacionais e Soberania 
“A soberania é una e indivisível, não se delega a soberania, a soberania é irrevogável, a soberania é perpétua, a soberania é uma poder supremo, eis os principais pontos de caracterização com que Bodin fez da soberania no século XVII um elemento essencial do Estado” (BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 10ª ed. São Paulo: Editora Malheiros. 1996, p. 126).
O conceito clássico acima exposto, mostra que a soberania no campo jurídico, o próprio autor da norma (Estado) é o seu destinatário, ou seja, produz as normas para si mesmo não tendo nenhum órgão superior a ele (Estado).
Com este conceito clássico de soberania não existe a idéia de um bem comum da sociedade, só existindo o interesse nacional.
Mas após a 2ª (segunda) Guerra Mundial, o conceito clássico de soberania vem sofrendo profundas mudanças, pois o grupo social, formado por Estado e Organismos Internacionais, passou a reconhecer os valores coletivos em relação ao interesse nacional.
Um marco em relação ao novo conceito de soberania teve o seu início a cerca de 50 (cinqüenta) anos atrás, com o Tratado de Paris, que constituiu a Comunidade do Carvão e do Ação(CECA), este tratado estabeleceu instituições independentes dos respectivos Estados membros que passaram a ser responsáveis pela gerência do carvão e do ação dos mesmos.
Outro passo importante foi dado em 1957, com o tratado de Roma, que criou a Comunidade Européia de Energia Atômica (CEEA ou EURATOM) e a Comunidade Econômica Européia (CEE).
Assim, com o desenvolvimento ao longo dos anos, das relações entre os Estados e com as semelhanças dos dirigentes das 3 (três) comunidades, descritas acima, em 1992, assinou-se o Tratado de Maastricht, que criou a União Européia.
Então podemos perceber que se conceito clássico de soberania o próprio autor da norma (Estado) é o seu destinatário, no conceito clássico os atores passam a ser múltiplos para atender a um bem comum da coletividade.
Um ponto de grande relevância da criação da União Européia foi a mudança de visão, seja da população seja dos mandatários políticos, e, sobretudo, uma mudança na Constituição de cada Estado, em que admitiu que normas de direito internacional possam ser hierarquicamente superiores às normas constitucionais, existindo inclusive órgãos, como o Tribunal de Justiça, localizado em Luxemburgo, responsável pela interpretação do Direito Comunitário em detrimento da própria soberania do Estado.
Mas, se por um lado, a nova tendência da soberania é viável na teoria e constatado na prática na União Européia, por outro lado, nos blocos formados por países subdesenvolvidos, como é o caso do Mercosul, percebe-se, como não poderia deixar de ser, as inúmeras diferenças com o bloco comunitário europeu, sendo então inviável na prática.
Uma das principais diferenças concerne às bases supranacionais sob as quais está formada a comunidade européia, o que dá outra dimensão jurídica, política e social a uma união de nações, ao contrário do Mercosul, que trabalha sobre estruturas intergovernamentais, isto para não dizer-se ainda que o nosso bloco preocupa-se preponderantemente com os temas econômicos, relegando o segundo plano outras questões de caráter social.
Por tal razão, em relação aos blocos dos países subdesenvolvidos, como é o caso do Mercosul, até que tenhamos uma solidez interna, de modo que não seja necessário a cada crise econômica ter-se que tomar medidas (unilaterais) protetoras da economia interna, em prejuízo dos demais países que formam o bloco integracionista, como a crise econômica recente da Argentina neste ano de 2001, ficará difícil, para não dizer quase impossível, formar-se uma comunidade de Estados onde todos, não apenas o Brasil, delegam parcela de sua soberania a um órgão internacional, inobstante ser um rumo natural a delegação da soberania.
Diante do contraste econômico entre os blocos formados, há divergência também, entre os doutrinadores na nova tendência de soberania, então vejamos:
“Francisco Rezek, Ministro do Supremo Tribunal Federal, ocupando o cargo de Ministro das Relações Exteriores do Brasil, em palestra proferida no Rio de Janeiro, em 1990, anotou com grande oportunidade que o enfraquecimento do conceito de soberania tem impacto negativo nos interesses de países de menor poder de barganha no cenário internacional, manifestando o seguinte: “A História ensina que, sempre que se enfraquecem conceitos como o de soberania, contrariam-se os interesses dos países com menor poder no cenário internacional. A preocupação brasileira é tanto mais procedente quando se recorda que, também no plano econômico e comercial, as extraordinárias mudanças no mundo não atingiram uniformemente a comunidade das nações, e seus benefícios de maneira alguma se deverão estender automaticamente a todos” (Francisco Rezek, Palestra proferida na Escola Superior de Guerra no Rio de janeiro, O Estado de S. Paulo, 29 de jul. 1990).
Tais países seriam profundamente afetados pela consagração de uma lei comercial criada e vigente acima dos direitos nacionais.
Contrariamente, Tavares Guerreiro bem resume o pensamento atual em favor da Lex Mercatoria, quando afirma que “a característica do comércio internacional hoje é a regulação de relações econômicas por meio de um processo normativo desencadeado na própria classe dos comerciantes ou agentes do comércio internacional.”�
Diante da fragilidade econômica dos blocos dos países subdesenvolvido, a problemática da eventual cessão de uma parcela da soberania interna que goza estes países, é apenas uma questão de tempo (muito embora devemos admitir que este tempo possa vir a ser bastante dilatado). Num mundo extremamente globalizado, onde a informação não tem mais dono e as tecnologias avançam e dissiminam-se (guardadas as devidas exceções) numa velocidade impressionante, estes países subdesenvolvidos fatalmente irão aderir a um modelo que vise a formação de uma comunidade de nações, não apenas em sua faceta econômica, como criticamente podemos dizer ser o caso do Mercosul, mas como exemplo de uma verdadeira Comunidade Européia.
Todavia, o grande empecilho que surge para tanto, e este não é de ordem jurídica e sim econômica, é a fragilidade da economia latino-americana. E quando diz-se economia leia-se também saúde, educação, enfim, questões estruturais nas quais os blocos os países de subdesenvolvidos estão atrasados. Assim, até que não haja harmonia interna dentro dos países é realmente difícil a consolidação do Mercosul, e mais ainda a construção de uma comunidade latino americana.
3. Lex Mercatoria X Arbitragem Internacional Comercial
	
	Atualmente, muito se tem discutido a respeito das formas de solução extrajudicial dos litígios oriundos do comércio internacional.
	Três são os principais procedimentos aceitos pelos diversos sistemas jurídicos do mundo, a saber : Arbitragem, Autocomposição e a Mediação. Cumpre-se ressaltar que, em termos de comércio internacional, a Arbitragem tem alcançado um maior relevo. Estas três formas de solução de conflitos podem ocorrer dentro de um procedimento judicial, deixando de lado todo o caráter extrajudicial. Este procedimento é previsto na maioria dos sistemas jurídicos do mundo. 
	Arbitragem Internacional Comercial e Lex Mercatoria estão profundamente relacionadas pois ambas possuem o mesmo substrato material, o comércio internacional. Assim sendo, estão elas estreitamente interligadas, sendo alvo de constantes estudos.
	Muitos autores procuram definir o instituto da arbitragem. Dentre eles, cabe ressaltar os ensinamentos de Cretella Júnior�:
	“Arbitragem é o sistema especial de julgamento, com procedimento, técnica e princípios informativos próprios e com força executória reconhecida pelo direito comum, mas a este subtraído, mediante o qual duas ou mais pessoas físicas ou jurídicas, de direito privado ou de direito público em conflito de interesses, escolhem de comum acordo, contratualmente, uma terceira pessoa, o árbitro, a quem confiam o papel de resolver-lhes a pendência, anuindo os litigantes em aceitar a decisão proferida.”
	Candido Naves� é mais sintético em sua definição:
	“...A discussão e julgamento de uma controvérsia entre duas ou mais pessoas, sobre determinada relação de direito, perante árbitros.”
	No mesmo sentido, o eminente Irineu Strenger conceitua:
	“...arbitragem é instância jurisdicional, praticada em função de regime contratualmente estabelecido, para dirimir controvérsias entre pessoas de direito privado e/ou público, com procedimentos próprios, e força executória perante os tribunais estatais”.
	Historicamente, o instituto da Arbitragem vem desde a mitologia grega onde Páris exerceu as funções de árbitro entre Atena, Hera e Afrodite, que disputavam a maçã de ouro, prêmio destinado pelos deuses à mais bela.
	Somente a partir da Idade Média (século 12), na Europa, que o instituto ficou mais conhecido, principalmente através dos Repertórios Consuetudinários, que normatizava soluções arbitrais para as disputas familiares.
	A partir do final do século 19, o instituto foi melhor utilizado uma vez que ressurgia aidéia de Lex Mercatoria como um direito próprio do comércio internacional. Os comerciantes passaram a Ter uma alternativa bastante interessante para dirimir seus conflitos. Alternativa esta, vista como justa e na qual se aplicariam normas específicas do comércio internacional, através dos árbitros.
	Muitas são as motivações para a escolha da Arbitragem no comércio internacional. Dentre as principais, pode-se destacar a desconfiança quanto à imparcialidade dos Judiciários, principalmente quando uma das partes for estrangeira. A Arbitragem Internacional garantiria a imparcialidade tanto na decisão quanto no tratamento destinado as partes.
	Outro fator motivador da escolha da Arbitragem Internacional é a liberdade das partes para a criação do procedimento arbitral, desde que respeitados os limites legais dos ordenamentos jurídicos, garantia da ordem pública.
	Uma outra vantagem do procedimento arbitral seria a confidencialidade. Assim sendo, o litígio fica adstrito somente às partes e ao árbitro, não existindo a regra da publicidade.
	A idéia de decisão proferida por experts na matéria .Esta é uma vantagem considerável, dada a complexidade da matéria, principalmente nos dias de hoje, onde as relações comerciais internacionais se tonam cada vez mais diversificadas.
	Importa ressaltar que a Arbitragem tem caráter facultativo, podendo ser ou não convencionada pelas partes envolvidas em um contrato comercial internacional. Percebe-se, então, claramente a natureza contratual do instituto.
	Diferentemente do processo judicial de conhecimento, no procedimento arbitral as partes têm a faculdade de escolha dos árbitros, consensualmente .Isso favorece o cumprimento espontâneo da sentença arbitral, que poderá ser fundamentada tão somente em eqüidade, se as partes assim deliberarem em convenção arbitral própria (cláusula compromissória e/ou compromisso).
	Aliados a todos esses fatores descritos acima, pode-se levar em conta também a maior celeridade do procedimento arbitral em relação ao procedimento judicial estatal e custas previamente determinadas.
	Todos esse fatores associados fazem com que a Arbitragem tome grande importância no campo do direito comercial internacional e seja cada vez mais utilizada como forma de dirimir litígios comerciais de caráter internacional.
	Relevante é o papel da cláusula compromissória nos contratos internacionais comerciais. Essa cláusula tem caráter autônomo, prevendo litígios futuros por motivo de negócio jurídico, estipulando a arbitragem como forma de solucioná-los.
	Segundo ensina José Alexandre Tavares Guerreiro�,a cláusula compromissal poderá ser estruturada com os seguintes elementos :
	“a) número de árbitros e/ou o Tribunal arbitral responsável pela solução das disputas futuras;
	b)legislação material e processual aplicável;
	c)local da arbitragem;
	d)cláusula geral estipulando multas e perdas e danos;
	e)forma do rateio das custas e despesas com o processo arbitral;
	f)remuneração dos árbitros.”
	No direito brasileiro, com a vigência da lei n.º 9.307/96, a cláusula compromissória oriunda de contrato internacional comercial, poderá ser argüida, independentemente de qual for a parte, para excluir a apreciação do conflito por parte do órgão judicial estatal brasileiro. A única exceção fica a cargo do que diz o artigo 89 do Código de Processo Civil brasileiro que, diz respeito ao objeto do litígio ser contrário aos preceitos da ordem pública. Aqui, a competência é exclusiva da jurisdição estatal brasileira. 
Ressalte-se que o referido artigo do CPC, não prevê a competência exclusiva do Judiciário Brasileiro para dirimir controvérsias relativas às questões patrimoniais disponíveis, como as questões de natureza comercial, por exemplo.
A Arbitragem Internacional Comercial obedece regras procedimentais, mesmo que essas regras tenham sido consensualmente pactuadas pelas partes em foro específico, convenção arbitral. Deve haver uma conformidade com as noções básicas de justiça processual, bons costumes e adequação a ordem pública.
	Dentro do aspecto da justiça processual, alguns princípios devem ser respeitados, a saber:
	1-Disponibilidade;
	2-Imparcialidade do árbitro;
	3-Igualdade de tratamento para com as partes;
	4-Ampla defesa;
	5-Bilateralidade e contraditório.
	Além das regras de direito processual acima elencadas, as partes têm a faculdade de estabelecer o direito material aplicável. Isso se dá quando da pactuação da convenção arbitral. dentro dessa perspectiva, importante papel é dado à Lex Mercatoria, que sintetiza princípios gerais e regras costumeiras do comércio internacional.
	Dentro do procedimento arbitral, no qual se busca uma solução para conflitos advindos de relações comerciais internacionais, observa-se maior relevância no laudo arbitral,que põe fim ao litígio.
	Cézar Fiuza� define o laudo arbitral como “a decisão de mérito, proferida pelo árbitro, após a realização da instrução sobre litígio que lhe tenha sido submetido pelas partes.” Importante lembrar que o árbitro deve decidir a questão proposta a ele, dentro do prazo estabelecido pelas partes. A decisão, motivada durante a instrução processual, inclusive com a produção de provas, deve incidir apenas sobre os pontos controvertidos apresentados pela partes.	Proferido o laudo arbitral, passa-se à fase da homologação do mesmo para que se possa executá-lo. Dentro dos parâmetros estabelecidos pelas partes, o laudo arbitral deve estar em conformidade com o ordenamento jurídico do Estado - sede da Arbitragem e do Estado onde ele irá produzir efeitos.
	No Brasil, com base na lei nº9.307/96, delimita-se a competência do STF (Supremo Tribunal Federal) para a homologação do laudo arbitral estrangeiro, concedendo seu exequatur. Para que ocorra a homologação, alguns requisitos são exigidos pelo STF.O professor Irineu Strenger� define tais requisitos:
	“1-A sentença deve ter transitado em julgado e ser exeqüível no país de origem.
	2-Assim é necessário que a sentença tenha sido proferida por juiz competente, após a citação das partes ou verificação de sua revelia, consoante os preceitos legais; também, no caso destes requisitos, o que em princípio decide é o Direito do país de origem.
	3-A decisão não deve atentar contra a ordem pública brasileira; assume-se, entre outras coisas, tal violação, quando existe jurisdição exclusivamente brasileira, ou quando as formalidades da citação são incompatíveis com a lex fori brasileira.
	4-A sentença deve estar autenticada pelo Cônsul do Brasil e acompanhada de uma tradução juramentada oficial.”
	Diante do exposto, percebe-se, claramente, a importância da Arbitragem Internacional Comercial, como forma de solução dos conflitos oriundos das cada vez mais complexas relações de comércio internacional.Com a implementação dos mercados regionais, desenvolvidos a partir do processo de Integração Econômica, cresce a importância da Arbitragem como alternativa interessante para dirimir litígios de ordem comercial.
	Finalmente, deve-se fazer um alerta ao instituto, consagrado como propulsor maior da propagação da Lex Mercatoria. A Arbitragem, mesmo sendo aceita na quase totalidade dos sistemas jurídicos , ainda não conseguiu a uniformização e a harmonização da jurisprudência arbitral internacional, em termos comerciais.
Conclusão
O comércio internacional não mais limita-se à simples compra e venda transnacional. As novas negociações buscam, além da operação primária de importação e exportação, operações de transferência de tecnologia, desenho e construção de projetos, joint Venture outras inúmeras situações visando atender a grandes empreendimentos que envolvam personalidades jurídicas vinculadas a sistemas legais diversos.
Desta forma o comércio internacional vem elevando o grau de internacionalização das economias nacionais, e assim esta tenta adaptar sua soberania à novarealidade de Direito, dando a sua legislação local uma nova visão de globalização e comércio internacional, porém este processo é moroso e muitas vezes gera incertezas no âmbito comercial.
 Devido a esta incerteza mundial quanto a garantia dos contratos e após o estudo deste trabalho podemos concluir que a Lex Mercatoria e a melhor forma de ajustar os interesses e práticas dos comerciais aos interesses pessoais e nacionais, dando assim ao comerciante e ao comprador “certas garantias” da realização de um bom negócio e que este possa ser executado em âmbito mundial.
Procuramos demonstrar que a Lex Mercatoria vem sendo modificada face a globalização, assim como o pensamento dos comerciante. Sabemos também que a Lex Mercatoria não é a solução para todos as transações internacionais e seus conflitos, mas entendemos que enquanto não se processa uma lei uniforme, que traria mais garantias aos paises contratantes e ao comércio internacional, a Lex Mercatoria ainda é o pilar dos contratos internacionais e deve sempre ser usada por comerciantes e compradores que queiram se aventurar no comércio mundial. 
Bibliografia:
1-HUCK, Hermes Marcelo. Sentença estrangeira e Lex Mercatoria. São Paulo: Saraiva,1994.
2-SANTOS,Ricardo Soares dos.Mercosul e Arbitragem Internacional Comercial- Aspectos Gerais e algumas possibilidades. Belo Horizonte: Del Rey,1998.
Outras fontes-Material não impresso
SITES JURÍDICOS CONSULTADOS NA INTERNET
http:://www.jus.com.Br
http://www.pbh.gov.br/procon
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� Op.cit. p.115
� op. cit. p. 116-117
� CRETELLA JÚNIOR, José. Da arbitragem e seu conceito categorial. Revista de Informação Legislativa.Brasília,ª25,n.98,p.128,abr/jun1988.
� NAVES, Candido. Juízo arbitral. Belo Horizonte: Imprensa Oficial,1925,p.15.
� GUERREIRO, José Alexandre Tavares. Fundamentos da arbitragem do comércio internacional. São Paulo :Saraiva,1993,p.52
� Fiuza, Cézar.Teoria geral da arbitragem. Belo Horizonte: Del Rey,1995,p.150-152.
� STRENGER, Irineu. Contratos...cit.,,p.228.

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