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Falência, Recuperação de Empresas e Títulos de Crédito 4º Bimestre

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FALÊNCIA, RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS E TÍTULOS DE CRÉDITO
4º BIMESTRE
Data: 04/10/2017
FALÊNCIA
Conceito
O art. 75, da Lei n. 11.101/2005, ensina que a falência visa preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa, promovendo, para isso, o afastamento do devedor de suas atividades. Para alcançar esses objetivos, e considerando que o devedor empresário foi afastado definitivamente da administração da empresa falida, o processo de falência deverá atender aos princípios da celeridade e da economia processual. Tratando-se de uma execução coletiva, primeiro identificará credores e bens do falido, depois promoverá a venda dos bens e o pagamento dos credores, encerrando-se em seguida
Caracterização da falência.
A falência, no Brasil, é um estado jurídico, e não econômico. É um estado de direito, e não de fato. Diferentemente do que ocorre no processo de insolvência civil, que é regulado pelo CPC e atinge devedores não empresários, o déficit patrimonial (patrimônio inferior às dívidas) não é o fator a determina.: a decretação de uma falência e o reconhecimento de um estado de insolvabilidade do devedor empresário.
A falência é o processo de execução coletiva contra o devedor empresário que esteja enquadrado em uma das quinze hipóteses legais de crise econômico-financeira definidas em lei. É a crise econômico-financeira que autorizará a decretação da falência, sendo essa crise a estampada nas 15 hipóteses legais, e não em um estado patrimonial específico. Crise econômico-financeira é o que a lei definir como tal.
As quinze hipóteses mencionadas darão ensejo a três distintas formas de caracterização da falência. Depois de decretada a falência. a execução coletiva dar-se-á de forma idêntica para todas as hipóteses de caracterização dela. Todavia, na primeira fase do processo, aquela em que o estado falimentar é detectado, três são os caminhos procedimentais que autorizarão a decretação da quebra. Essas formas procedimentais distinguirão a falência em litigiosa (nove hipóteses), voluntária (uma hipótese) e incidental (cinco hipóteses).
Espécies de falência
Falência litigiosa: a falência litigiosa é a única que admitirá o contraditório. Nela, os legitimados a figurarem no polo ativo de um processo falimentar darão início à primeira fase do referido procedimento, seguindo-se o devido processo legal, com direito a ampla defesa e demais garantias processuais. É a falência contenciosa.
Assim como em toda demanda, o legitimado ativo, um credor, por exemplo, apresentará uma petição inicial, na qual demonstrará sua legitimidade, seu crédito e a prova de uma das hipóteses de falência previstas no art. 94, da Lei n. 11.101/2005, além da legitimidade passiva do devedor empresário. O devedor empresário será citado para defender-se em dez dias. Será possibilitado o contraditório, portanto. As partes poderão produzir provas e, ao final, obterão uma sentença.
Falência voluntária: o art. 105, da Lei n. 11.101/2005, prevê a possibilidade de o devedor empresário requerer a própria falência. Trata-se da denominada autofalência. Verificando que seu estado de crise econômico-financeira não lhe permite requerer a recuperação judicial, deverá o empresário requerer seja decretada sua falência. O art. 97, da Lei Recuperacional, já define o próprio devedor empresário como o primeiro legitimado ativo a iniciar o processo de falência. Uma leitura estrutural da referida lei permite a interpretação de que a vontade do legislador é de que, estando um empresário em crise patrimonial, ele mesmo deve dar início a um processo de soerguimento empresarial ou de encerramento de suas atividades.
Havendo possibilidade de restauração patrimonial deve o empresário requerer sua recuperação, seja judicial, seja extrajudicial, caso já esteja registrado há mais de dois anos. Caso não tenha registro há mais de dois anos, ou verificando ser impossível sua recuperação, deve pedir a autofalência.
Falência incidental: existem, por fim, hipóteses de caracterização de falência decorrentes da convolação da recuperação judicial em falência. Tais situações podem ser consideradas acidentes de percurso na tentativa de recuperação judicial pelo devedor empresário. Recebem a designação de falência incidental, pois ocorrem incidentalmente no processo de recuperação judicial.
Procedimento para a decretação da falência
A Lei n. 11.101/2005 prevê um procedimento especial para decretação da falência. Os prazos são curtos e os atos concentrados, visando dar agilidade à tramitação e à decisão sobre o requerimento de falência, para evitar que eventual improcedência do pedido seja reconhecida somente após os agentes de mercado (Estado, trabalhadores, consumidores e demais empresas) terem perdido a confiança no devedor empresário, a quem se imputou estado falimentar.
As hipóteses de falência voluntária e incidental não têm um procedimento prévio de caracterização. O pedido de autofalência, devidamente instruído (art. 105), leva à imediata decretação da falência, sem que se estabeleça qualquer contraditório. Já a incidental é inesperada, pois o devedor empresário está em recuperação judicial e, de repente, tem sua falência decretada, por convolação da recuperação judicial. Não há procedimento contraditório, mas decretação incidental da falência.
O procedimento falimentar especial previsto na lei refere-se à falência litigiosa. Verdadeiro processo falimentar contraditório. Basicamente, o processo terá apenas quatro etapas, distintas e rápidas:
Fase postulatória: quando o requerimento de falência deverá ser realizado a partir da configuração de uma das nove hipóteses do art. 94, da Lei 11.101/05.
Fase de defesa: momento em que o devedor poderá utilizar uma das quatro estratégias previstas nos arts. 95, 96 e 98, da Lei 11.101/05, ou seja, poderá requerer recuperação judicial, contestar de forma limitada ou ampla, ou, ainda, realizar depósito elisivo.
Fase instrutória: dependerá do tipo de falência requerida e dos fatos alegados contra o devedor. Normalmente, as falências baseadas em impontualidade demandam apenas prova documentada. Aquelas com base em atos de falência poderão exigir prova oral. Caso constate a necessidade de outras provas, além daquelas juntadas na petição inicial e na contestação, o juiz determinará a instrução do feito, inclusive podendo designar audiência de instrução.
Fase decisória: o juiz decidirá, quanto antes, o feito, podendo decretar a falência ou denegá-la.
Uma vez decretada a falência, independentemente de ser ela voluntária, incidental ou litigiosa, instaura-se o processo de execução coletiva contra o devedor empresário, com diversos efeitos e particularidades.
Pedido e fundamentos
A falência litigiosa seguirá o procedimento dos arts. 94, 98, 99 e 101, da Lei 11.101/2005, com recurso cabível previsto no art. 100. O art. 94 define os fundamentos da petição inicial da falência; o art. 98 determina o prazo de dez dias para a defesa do devedor empresário citado; o art. 94, §5°, permite seja determinada a fase de instrução, logo a seguir; o art. 99 descreve os diversos elementos que devem estar contidos na sentença que decreta a falência; o art. 101 delineia a sentença que denega a falência, destacando a necessidade de o juiz avaliar eventuais perdas e danos causados ao devedor empresário requerido; o art. 101 prevê o recurso de agravo, para a sentença que decreta, e de apelação, para a que denega a falência.
Assim, o pedido de falência litigiosa será formalizado em petição inicial que descreva a falência pela impontualidade extrajudicial (título executivo que supere 40 salários mínimos + protesto), pela impontualidade judicial (título executivo de qualquer valor + certidão de execução frustrada), ou pelos atos temerários (7 atos de falência, previstos no inc. III, do art. 94, da Lei n. 11.101/2005). Os fundamentos do pedido serão a prova documental que caracteriza as duas modalidades de impontualidade e os atos de falência, e, para estesúltimos, a prova indicada à produção, conforme autoriza o art. 94, § 5", da Lei n. 11.101/2005, nos seguintes termos: “Na hipótese do inciso III do caput deste artigo, o pedido de falência descreverá os fatos que a caracterizam, juntando-se as
provas que houver e especificando-se as que serão produzidas”.
Defesa
Quando citado, o devedor poderá apresentar defesa no prazo de 10 dias. Além das preliminares processuais atinentes às condições da ação, pressupostos processuais e questões prejudiciais, comuns a todo processo civil, o devedor empresário requerido poderá adotar diferentes estratégias de resistência ao pedido de falência. As formas de defesa, apresentadas pela Lei, podem ser a recuperação judicial incidental, contestação e o depósito elisivo.
Instrução
A instrução do processo falimentar será feita essencialmente por prova documental A impontualidade, por exemplo, tem de ser demonstrada na petição inicial, pela juntada do título executivo original (salvo se apreendido em outros autos), do instrumento do protesto ou da certidão de execução frustrada. Não há como admitir o processamento do referido pedido de falência se não instruída documentalmente.
A falência litigiosa, decorrente dos atos temerários, entretanto, dependerá de comprovação de outras provas, além da documental. O mesmo ocorrerá com as possíveis teses defensivas trazidas pelo devedor empresário, inclusive aquelas do art. 96, da Lei n, 11.101/2005.
Sentença
O ato final da fase de conhecimento do procedimento falimentar litigioso é denominado sentença. Ocorre que, se o juiz denega a falência, haverá uma típica decisão final, que põe termo ao processo, isto é, um ato judicial com conteúdo e efeito de sentença. Já se o juiz decreta a falência, tal ato judicial inaugurará o processo de execução coletiva, de modo que, apesar de resolver o mérito, atendendo ao pedido de decretação da falência, não porá fim ao processo, mas, sim, iniciará sua principal etapa.
Desse modo, é de se concluir que o referido ato judicial tem conteúdo de sentença e efeito de decisão interlocutória, pois impulsiona o feito para a fase de execução coletiva, no lugar de encerrá-lo. Apesar de a diferença parecer mera questão de teoria processual, ela influenciará o sistema recursal aplicável, pois a sentença que denegar a falência desafiará apelação, enquanto a que a decretar desafiará agravo.
Recursos
O art. 100, da Lei n. 11.101/2005, dispõe que: "Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a improcedência do pedido cabe apelação". O sistema recursal adotado para as referidas decisões é coerente com a natureza delas.
Como já visto, a decisão que denega a falência põe fim ao processo, resolvendo o mérito e impondo o fim do litígio. Verdadeira sentença, portanto.
Já a decisão que decreta a falência, apesar de acatar o pedido, julgando-o procedente, apenas admite o processamento da execução coletiva contra o devedor empresário, equivalendo, quanto aos seus efeitos, a uma decisão interlocutória. Seu conteúdo é de sentença, tanto que o art. 99, da Lei n. 11.101/2005, nomina-a de sentença. O art. 100, que trata do recurso cabível, nomina-a de decisão. Com conteúdo de sentença e efeito de decisão, trata-se de decisão interlocutória mista.
Por tratar-se de sentença, em conteúdo e efeito, a decisão que denega a falência desafiará apelação. Enquanto a decisão que decreta a falência desafiará agravo, pois com conteúdo de sentença e efeito de decisão. A apelação levará os autos ao segundo grau de jurisdição, enquanto o agravo deverá ser feito por instrumento, já que a execução coletiva será iniciada imediatamente após a decretação da falência, nos autos principais, os quais continuarão tramitando na primeira instância.
A suspensão do processo de falência, após a sua decretação, somente será cabível se o relator do agravo de instrumento conferir-lhe efeito suspensivo, o que não é recomendável, ante os urgentes e necessários efeitos dela decorrentes. 
A sentença que denega a falência não faz coisa julgada material, pois apenas impede a instauração do processo de execução coletiva em razão daquele crédito que instruiu o pedido, de modo que outros títulos, ou fundamentos diferentes, autorizam a renovação do pedido. Em face dos títulos e fundamentos que embasaram o pedido denegado, não pode haver renovação do feito falimentar.
Da ineficácia e revogação de atos praticados antes da falência
A primeira pessoa a tomar conhecimento do estado falimentar é o próprio devedor empresário. A crise econômico-financeira é percebida e vivenciada por ele antes mesmo de ser percebida por qualquer outra pessoa. Desse modo, não é surpreendido pelo pedido de falência, nem pela decretação dela, uma vez que conhece as próprias finanças e operações monetárias, bem corno os resultados presentes e futuros do empreendimento.
Justamente por ter a noção de sua situação real é que o empresário em crise econômico-financeira desperta a desconfiança sobre os negócios praticados antes da decretação da falência. Assim, a iminência de decretação da falência pode provocar o esvaziamento do patrimônio empresarial por meios fraudulentos, frustrando mais ainda o pagamento à massa de credores.
Diante dessa possibilidade, o legislador lançou uma espécie de suspeição sobre os atos praticados pelo falido antes da decretação da quebra. Em razão disso, os credores, o Ministério Público e o administrador judicial, além do próprio juiz, poderão promover a revogação de atos praticados com fraude demonstrada, ou com fraude presumida.
No caso da fraude demonstrada, por meio da ação revocatória será perseguida a invalidação dos atos fraudulentos. No caso da fraude presumida, será declarada a ineficácia do ato em relação à massa falida, trazendo-se os bens de volta ao patrimônio empresarial, o que se obterá por meio de ação própria, incidentalmente, por meio de defesa, ou de ofício pelo juiz.
A ação revocatória, na qual deverá ser demonstrada a ocorrência de fraude, poderá ser proposta até três anos após a decretação da falência e poderá incidir sobre qualquer ato praticado antes da decretação da falência, não importando há quanto tempo tenha ocorrido. Eventual prazo prescricional estará suspenso pela decretação da falência. Ademais, a nulidade decorrente da fraude poderá ser declarada a qualquer tempo.
Já os atos ineficazes, nos quais a fraude é presumida, são elencados no art. 129, da Lei n. 11.10112005. Ali constam sete hipóteses de ineficácia. Três delas somente estarão caracterizadas se ocorridas dentro do termo legal da falência. Duas delas, apenas se ocorridas dentro do período suspeito. As duas últimas serão ineficazes independentemente de quando tenham ocorrido. Tais hipóteses de ineficácia poderão ser perseguidas por meio de ação própria, incidentalmente; por meio de defesa, ou de ofício pelo juiz.
Da ineficácia
O art. 129 considera alguns atos ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar credores. Esses atos, para que sejam considerados ineficazes, devem ter sido praticados dentro de certo lapso temporal. Esse lapso pode ser o “termo legal da falência” — que tem uma duração variável de acordo com a decisão do juiz que decreta a quebra — ou outros estabelecidos especificamente na lei.
Como já mencionado, o termo legal é fixado pela sentença que decreta a falência e não pode exceder a 90 dias contados retroativamente do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do primeiro protesto por falta de pagamento lavrado contra o devedor, excluindo-se aqueles que foram cancelados (art. 99, II). O lapso fixado pelo juiz como termo legal pode ser inferior a 90 dias, pois, nos termos da lei, este é o período máximo.
O art. 129 diz que são considerados ineficazes perante a massa falida os seguintes atos realizados dentro do termo legal:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor, por qualquer meio extintivodo direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada; o art. 129, em seus demais incisos, determina a ineficácia de outros atos realizados em prazos diferenciados;
IV – prática de atos a título gratuito, desde 2 anos antes da decretação da falência;
V – renúncia à herança ou a legado, até 2 anos antes da decretação da falência (aplicável ao falido que seja empresário individual ou sócio solidariamente responsável);
VI – venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 dias, não houver oposição dos credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do Registro de Títulos e Documentos (hipótese de trespasse irregular);
VII – registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou averbação relativa a imóveis realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.
Importante frisar que, se os itens I, II, III e VI tiverem sido aprovados no plano de recuperação judicial ou de recuperação extrajudicial, não serão declarados ineficazes.
A ineficácia dos atos enumerados poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo falimentar.
Da revogação (ação revocatória)
O art. 130, por sua vez, dispõe que são revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar credores, desde que se prove o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.
Veja-se que em se tratando de atos ineficazes com relação à massa falida a lei impõe um período determinado de tempo e dispensa prova do intuito fraudulento contra seus credores. Por outro lado, quanto aos atos revogáveis, não existe uma delimitação de tempo, mas há exigência de prova do elemento subjetivo — conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele contratou — e do elemento objetivo — efetivo prejuízo sofrido pela massa falida em razão do ato praticado.
A ação que visa revogar referidos atos recebeu o nome de ação revocatória. Trata-se de ação típica do procedimento falimentar que busca revogar atos lesivos aos credores, reunindo bens indevidamente dissipados, impedindo desfalques no ativo.
A ação revocatória deverá ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 anos contados da decretação da falência (art. 132). Ela pode ser promovida:
I – contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito
dele foram pagos, garantidos ou beneficiados;
II – contra os terceiros adquirentes, se tiveram
conhecimento, ao se criar o direito, da intenção do devedor de
prejudicar os credores;
III – contra os herdeiros ou legatários das pessoas indicadas
nos incisos I e II.
A ação revocatória correrá perante o juízo da falência e obedecerá ao procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil (art. 134). A sentença que julgar procedente a ação revocatória determinará o retorno dos bens à massa falida em espécie, com todos os acessórios, ou o valor de mercado, acrescidos das perdas e danos. Contra ela cabe apelação.
O juiz poderá, a requerimento do autor da ação revocatória, ordenar, como medida preventiva, na forma da lei processual civil, o sequestro dos bens retirados do patrimônio do devedor que estejam em poder de terceiros (art. 137).
Algumas diferenças importantes podem ser notadas entre os atos ineficazes mencionados no art. 129 e os revogáveis tratados no art. 130 da lei. Os ineficazes são enumerados expressamente no texto legal; os revogáveis não. Os ineficazes devem ter sido realizados dentro de certos prazos também estabelecidos na lei, enquanto os revogáveis podem ter sido cometidos a qualquer tempo. Nos atos ineficazes não é exigido intuito fraudulento e a lei presume o prejuízo aos credores. Nos atos revogáveis é necessária prova do conluio fraudulento e do efetivo prejuízo acarretado à massa. Os atos ineficazes podem ser declarados de ofício pelo juiz, enquanto os revogáveis dependem da propositura da ação revocatória.
Reconhecida a ineficácia ou julgada procedente a ação revocatória, as partes retornarão ao estado anterior, e o contratante de boa-fé terá direito à restituição dos bens ou valores entregues ao devedor. Na hipótese de securitização de créditos do devedor, não será declarada a ineficácia ou revogado o ato de cessão em prejuízo dos direitos dos portadores de valores mobiliários emitidos pelo securitizador. É garantido ao terceiro de boa-fé, a qualquer tempo, propor ação por perdas e danos contra o devedor ou seus garantes (art. 136).
O ato pode ser declarado ineficaz ou revogado, ainda que praticado com base em decisão judicial, exceto se resultou de medida aprovada em plano de recuperação judicial. Revogado o ato ou declarada sua ineficácia, ficará rescindida a sentença que o motivou.
Efeitos da sentença constitutiva de falência
A sentença que decreta a falência, constitutiva positiva que é, provocará diversos efeitos em relação ao falido, seus bens, contratos e obrigações. Na prática, é como se um novo ordenamento jurídico fosse imposto a quem era, antes, devedor empresário e, agora, figura como falido. Mudanças drásticas atingirão a gestão econômica e jurídica da empresa, a situação dos credores, o comportamento do fisco, entre outras fórmulas que existem somente no processo falimentar. Surgirá o status jurídico do falido.
Como visto no tópico anterior, atos praticados pelo falido antes da decretação da quebra poderão ser declarados ineficazes ou revogados. Todavia, é para o futuro que se voltam os mais contundentes efeitos da decretação da falência. Para melhor sistematizar os efeitos da decretação da falência, a doutrina classificou-os em quatro grupos, assim distribuídos:
I – Efeitos da falência quanto à pessoa do falido: são efeitos que importarão em alguma restrição à atuação do falido, ou que exigirão dele algumas atitudes. Impõem, portanto, alguma atuação ou abstenção do falido.
II – Efeitos da falência quanto aos bens do falido: são efeitos que permitirão a formação da massa falida objetiva, que é o conjunto de bens que compõem o acervo do falido e que servirão ao pagamento do passivo falimentar. Esses efeitos trarão bens e valores para a massa falida, mas também permitirão a restituição de alguns bens e até a dação em pagamento, eventualmente.
III – Efeitos da falência quanto às obrigações do falido: são efeitos que permitirão que todos os credores do falido participem da execução coletiva, propiciando a recuperação de ativos para a massa e garantindo a igualdade de tratamento a todos eles, respeitada a ordem legal de preferência.
IV – Efeitos da falência quanto aos contratos do falido: são efeitos que buscarão dar aos contratos do falido a maior efetividade possível, seja determinando o cumprimento dele em favor do credor da massa, seja determinando sua revogação, ou, ainda, atribuindo discricionariedade ao administrador judicial para definir o que fazer.
Quanto à pessoa do falido
Inabilitação civil: proibição para o exercício de atividade empresarial, desde a decretação da falência até a sentença de extinção das obrigações;
Perda da capacidade de disposição patrimonial: impossibilidade de administração, pelo falido, do patrimônio que seja do interesse da massa falida. A prática de ato de disposição patrimonial após a decretação da falência, levará à nulidade do ato;
Restrição à capacidadeprocessual: nos processos em que há interesse da massa falida, o administrador judicial é que figurará em algum dos polos da demanda. O falido perde o direito de estar em juízo, de figurar como parte em ações que versem sobre os interesses da massa, e, por isso, todas as ações de suspendem, para permitir a habilitação do administrador judicial em lugar dele.
Possibilidade de dissolução da sociedade falida: a falência apresenta-se como fundamento para a dissolução, porém esta somente se opera se algum dos sócios promover o processo de dissolução da sociedade. Para tanto, o sócio deverá aguardar a sentença de extinção das obrigações do falido, para então poder dissolvê-la;
Diversas obrigações do art. 104: são diversas obrigações elencadas no referido artigo, e caso o falido não cumpra qualquer das disposições deste artigo, será intimado a fazê-lo, pelo juiz. Mantendo a sua omissão, incorrerá em crime de desobediência.
Inabilitação empresarial: a inabilitação empresarial consiste na proibição para o exercício de atividade empresarial, desde a decretação da falência até a sentença de extinção das obrigações, ou até a reabilitação criminal.
Extinção das obrigações do falido (art. 158): ordinariamente, a extinção de uma obrigação está vinculada ao seu pagamento, ou a outra forma equivalente de quitação (transação, dação em pagamento, confusão, novação e outros). No processo falimentar, todos os meios convencionais de extinção das obrigações serão admitidos, podendo as obrigações. extraordinariamente, ser declaradas extintas, mesmo sem que haja o pagamento de 100% delas. O objetivo é permitir que o empresário falido consiga voltar a exercer a atividade empresarial, algum dia. Tem relação com o princípio da preservação da empresa, da manutenção da fonte produtora e da geração de empregos.
Inabilitação criminal: a condenação por crime falimentar poderá impor ao falido a pena acessória de inabilitação para o exercício de atividade empresarial. A pena acessória não é mais automática, como na legislação anterior. O juiz deverá fundamentar a imposição da inabilitação, motivando sua decisão com elementos do caso concreto. É recomendável a aplicação da referida pena acessória naquelas hipóteses em que se verificar que o devedor empresário falido, ou seus equiparados, tenha agido com a intenção de prejudicar credores, ou tenha atuado de forma temerária, sem as cautelas mínimas na condução da empresa, impondo grave prejuízo aos credores, ao fisco e aos trabalhadores. Se a falência decorreu de situações corriqueiras do mercado ou de mera inabilidade com a gestão daquele tipo de negócio, não se recomenda a condenação à pena acessória de inabilitação.
Direitos e deveres do falido: os deveres já foram descritos, quando tratado do art. 104 da Lei. Agora, são direitos do falido, de acordo com a Lei 11.101/05: (I) requerer a anotação de sua reabilitação civil; (II) atuar no processo falimentar, fiscalizando, intervindo, requerendo medidas; (III) acompanhar a arrecadação e avaliação dos bens; (IV) requerer a extinção das suas obrigações; (V) requerer e manifestar-se sobre a venda antecipada dos bens da massa; (VI) receber eventual saldo remanescente, após o pagamento de todos os credores; (VII) depositar valor complementar para obtenção da sentença de extinção das obrigações; (VIII) impugnar a relação de credores consolidada pelo administrador judicial; (IX) manifestar-se em todas as habilitações retardatárias, impugnações de crédito e nos pedidos de restituição.
Quanto aos bens do falido
São efeitos da sentença que decreta a falência, quanto aos bens do falido:
Lacração do estabelecimento ou continuação do negócio: ao decretar a falência, o juiz deverá, na própria sentença, estabelecer a possibilidade de continuação da atividade empresarial ou seu imediato encerramento, com a lacração dos estabelecimentos do falido. Na prática, o que ocorre com mais frequência é a lacração dos estabelecimentos, com o objetivo de preservar o acervo empresarial, para permitir sua venda futura.
Arrecadação de todos os bens do falido: a arrecadação corresponde a uma espécie de penhora ampla, total e irrestrita dos bens do falido. Considerando que a falência é uma execução coletiva, processo para o qual serão atraídos todos os credores do falido, deverá abranger todos os bens dele, inclusive aqueles já penhorados ou, de alguma forma, apreendidos em outros autos.
Venda antecipada de bens: é o art. 113, da Lei n. 11.101/2005, que estabelece a necessidade de venda antecipada de alguns bens. Dispõe o artigo que “os bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que sejam de conservação arriscada ou dispendiosa, poderão ser vendidos antecipadamente, após a arrecadação e a avaliação, mediante autorização judicial, ouvidos o Comitê e o falido no prazo de 48 (quarenta e oito) horas”. A venda antecipada, antes de ser uma faculdade, é uma obrigação do administrador judicial que venha a constatar eventual risco que ameace o patrimônio da massa.
Suspensão do direito de retenção: o direito de retenção consiste na faculdade de manter-se o credor na posse de um bem até que seja satisfeita a obrigação do devedor perante ele. As hipóteses mais comuns de retenção são: a) por benfeitorias, na reintegração de posse; b) do mandatário, para ressarcir-se das despesas; c) da coisa empenhada; e d) do hospedeiro, sobre a bagagem do hóspede. Há possibilidade de convenção de outras modalidades de retenção. Decretada a falência, todos os credores que estiverem exercendo direito de retenção em desfavor do falido terão referido direito suspenso. Em razão disso, seja a retenção decorrente de contrato, de lei ou de decisão judicial, o credor deverá entregar os bens que esteja retendo para a massa falida.
Arrecadação dos bens do falido em outras sociedades: as cotas sociais e as ações são bens patrimoniais e, por isso, também são arrecadadas pela massa falida, em razão da decretação da falência do seu titular. Todavia, não entrarão para a massa as cotas e as ações, mas sim os haveres a elas correspondentes, em caso de dissolução parcial ou de liquidação total da sociedade.
Extinção do condomínio do qual o falido seja coproprietário: o administrador judicial deverá arrecadar o quinhão do bem condominial de que participe o falido, isto é, decretada a falência, extingue-se o condomínio de que participe o falido e, sendo ele indivisível, o bem deverá ser alienado para que se apure e arrecade o valor devido à massa. Se for divisível. a parte que couber ao falido entrará para a massa falida e será alienada nos autos da falência. Deverá ser concedido direito de preferência, na aquisição, a quem já seja condômino.
Aluguel ou outras formas de utilização dos bens dos bens da massa falida: O administrador judicial poderá alugar ou celebrar contratos que tenham por objeto os bens da massa falida. O objetivo será o de produzir renda para a massa. Deverá o administrador judicial obter autorização do Comitê de Credores, se estiver instalado. A autorização para a contratação que tenha por objeto bens da massa falida está no art. 114, da Lei n. 11.101/2005, o qual veda a disposição total ou parcial do bem por meio do referido contrato. Assim, poderá ser contratada a utilização dos bens por terceiros, mas não poderá haver a transferência total nem parcial do patrimônio objeto do contrato.
Aquisição e adjudicação de bens por credores: buscando o melhor interesse da massa falida, o art. 111, da Lei n. 11.10112005, autoriza a aquisição ou adjudicação de bens da massa pelos credores. Determina o referido artigo: “O juiz poderá autorizar os credores, de forma individual ou coletiva, em razão dos custos e no interesse da massa falida, a adquirir ou adjudicar, de imediato, os bens arrecadados, pelo valor da avaliação, atendida a regra de classificação e preferência entre eles, ouvido o Comitê”.
Arrecadação e custódia dos bens: todos os bens, créditos e valores do falido deverão ser trazidos para a massa. Uma vez arrecadados, os bensficarão sob a custódia do administrador judicial, o qual providenciará, quanto antes, sua alienação, visando quitar as dívidas do falido. Os autos de arrecadação serão acompanhados do inventário dos bens e dos laudos de avaliação. Isso permitirá a contratação de bens do falido, sua adjudicação ou aquisição por credores, a exata avaliação do bem, para o fim de definição do valor do crédito com garantia real, a efetiva fiscalização pelos credores, MP e falido, enfim total publicidade e transparência do processo de apreensão e guarda dos bens do falido.
Quanto às obrigações do falido
Vencimento antecipado das dívidas: o vencimento antecipado das dívidas do falido tem por objetivo permitir que todos os credores possam habilitar seus créditos no processo falimentar, em razão da exigibilidade conferida a todos os créditos existentes contra o falido, na data da decretação da falência.
Conversão da dívida em moeda estrangeira para moeda nacional, pelo câmbio da data de decretação: havendo dinheiro suficiente para quitar todas as dívidas do falido, seria juridicamente po'Ssível o pagamento da diferença da conversão entre o câmbio do dia da decretação e aquele do dia do efetivo pagamento.
Sujeição de todos os credores ao juízo falimentar: quando tratamos da vis atractiva, a força de atração do juízo falimentar, precisamos, inicialmente, distinguir os dois aspectos dessa universalização. O art. 115, da Lei n. 11.101/2005, determina a sujeição de todos os credores do falido ao juízo universal da falência, ao afirmar o seguinte: “A decretação da falência sujeita todos os credores, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente responsável na forma que esta Lei prescrever”. A sujeição imposta pelo legislador é tanto de ordem material (obrigações do falido) quanto de ordem processual (ações e execuções contra o falido).
Decretação de falência dos sócios de responsabilidade ilimitada: se existe sócio de responsabilidade ilimitada compondo o grupo de sócios da sociedade empresarial, deverá ser citado, para compor o polo passivo da lide, e terá sua falência decretada com a da sociedade de que faz parte. Este é o teor do art. 81.
Propositura de ação de responsabilização contra os sócios de responsabilidade limitada, os administradores e controladores: a ação de responsabilização, na forma com que a regula a Lei n. 11.10112005, apresenta-se como uma especial inovação, pois permite, desde a decretação da falência, e independentemente de qualquer prova da situação das dívidas e do patrimônio do falido, que se busque a responsabilidade solidária dos sócios pelo passivo que for identificado na massa.
Compensação das obrigações do falido: a compensação é uma das formas de extinção de obrigações prevista no ordenamento jurídico brasileiro e ocorre quando duas pessoas são reciprocamente credoras e devedoras. O que ocorre é a coincidência de obrigações entre duas pessoas, sendo elas titulares de créditos e débitos uma em face da outra, de modo que, na proporção desse encontro de dívidas, elas serão extintas.
Suspensão das ações e execuções contra o falido: decretada a falência, a universalização do juízo falimentar recomenda a gestão de todos os créditos do falido pela vara judicial falimentar.
Suspensão do direito de retirada: o direito de retirada, ou de recesso, é o direto do sócio que discordou dos demais, em deliberação sobre algum tema de interesse societário, de retirar-se da sociedade, levando consigo seu respectivo quinhão no patrimônio social. Essa retirada decorre, então, de deliberação em que o sócio retirante foi voto vencido. Decretada a falência, o sócio dissidente da deliberação da maioria dos sócios não poderá exercer o seu direito de retirada. A suspensão do referido direito impede tanto a saída quanto a apuração e o pagamento dos seus haveres.
Suspensão de cobrança de juros: decretada a falência, o pagamento dos juros devidos em razão da lei ou do contrato não poderá ser exigido da massa falida, salvo algumas escassas exceções.
Suspensão do inventário: o processo de inventário deverá aguardar a apuração de todas as dívidas do falido. Após tal apuração, os bens e valores arrolados no espólio serão utilizados para pagamento dos credores da massa falida. Quitados todos eles, o inventário voltará a tramitar, caso tenha sobrado algum bem ou valor a partilhar. Se não sobrar algum bem, o inventário será encerrado.
Suspensão da prescrição até o encerramento da falência: a prescrição ficará suspensa na falência, desde a sentença que a decreta até o trânsito em julgado da sentença de encerramento dela.
Quanto aos contratos do falido
Contratos unilaterais: neste primeiro momento, cabe uma análise do caso dos contratos unilaterais, ou seja, que geram obrigação à apenas uma das partes. Nesse caso, é possível dividi-los de duas formas: contrato unilateral favorável ao falido e contrato unilateral desfavorável ao falido. É válido lembrar que a decretação da falência não desfaz, de imediato, os contratos unilaterais e bilaterais. Porém, a lei traz alguns tratamentos diferenciados quanto ao tratamento dos contratos unilaterais e os bilaterais. No que diz respeito aos contratos unilaterais favoráveis ao falido, ou seja, o cumprimento da obrigação recai exclusivamente sobre o outro contratante, seguem mantidas as relações contratuais. A diferença é que, ao invés do contratante dirigir o cumprimento ao falido, este dirigir-se-á ao administrador judicial, estando legitimado, temporariamente, para dar quitação ou promover execução forçada. Já nos contratos que geram obrigações exclusivamente sobre a massa, o art. 118 da LRE diz que é possível dar cumprimento a estes. Porém, é necessário que ocorra uma autorização do comitê. Do contrário, estes credores estão sujeitos ao rito da falência. Sendo que é necessário que ocorra a habilitação do crédito no processo falimentar. O art. 83, §3º da Lei 11.101/05 diz que não serão habilitadas as cláusulas penais dos contratos vencidos em decorrência da falência.
Contratos bilaterais: já nos contratos bilaterais, a lei opta por um tratamento especial a esta espécie contratual. No art. 117 da LRE diz que “os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê”, ou seja, poderão ser cumpridos desde que interesse da massa, com autorização do comitê e de iniciativa do administrador judicial. Cabe ao administrador a análise dos contratos relevantes à massa falida. Do contrário, se o administrador optar pela rescisão contratual, cabe ao credor habilitar e buscar a validação do seu direito diante da massa. Nos contratos de natureza bilateral, quando uma das partes já cumpriu as obrigações contraídas, aplicam-se as normas dos contratos unilaterais.
Da responsabilização decorrente de dolo ou culpa
Dispõe o art. 82 que a responsabilidade pessoal dos sócios de responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida, estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência, independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil.
O Código Civil, assim como a Lei de Sociedades Anônimas, elenca uma série de hipóteses em que os sócios das sociedades por quotas de responsabilidade limitada, os controladores das sociedades anônimas, assim como os administradores de sociedades empresárias, respondem pelos atos lesivos à empresa. Hipóteses em que ocorre essa responsabilização podem ser encontradas nos arts. 1.013, § 2º, 1.016 e 1.017 do Código Civil, bem como nos arts. 117 e 158 da Lei de Sociedades Anônimas (Lei n. 6.404/76). Deve ficar claro que essa responsabilização sempre dependerá de prova de dolo ou culpa do sócio, controlador ou administrador,e que a ação visando à sua responsabilização poderá ser ajuizada no próprio juízo falimentar, independentemente da realização do ativo e da prova de sua insuficiência para cobrir o passivo, observando-se o procedimento ordinário previsto do Código de Processo Civil (art. 82, caput). O juiz poderá, de ofício ou mediante requerimento das partes interessadas, ordenar a indisponibilidade de bens particulares dos réus, em quantidade compatível com o dano provocado, até o julgamento da ação (art. 82, § 2º). Essa medida, todavia, somente poderá ser adotada se houver fundado receio de frustração da execução da sentença e seu limite é o valor da indenização. Essa ação de responsabilização prescreve no prazo de 2 anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência (§ 1º).
Coobrigados
O credor de coobrigados solidários cujas falências sejam decretadas tem o direito de concorrer, em cada uma delas, pela totalidade do seu crédito, até recebê-lo por inteiro, quando então comunicará esse fato ao juízo (art. 127, caput). Nesse caso, se o credor ficar integralmente pago por uma ou por parte das massas coobrigadas, as que pagaram terão direito regressivo contra as demais, em relação à diferença entre o valor por ela efetivamente devido e o valor pago (art. 127, § 2º).
Se a soma dos valores pagos ao credor em todas as massas coobrigadas exceder o total do crédito, o valor será devolvido às massas, de forma proporcional (art. 127, § 3º).
Os coobrigados solventes e os garantes do devedor ou dos sócios ilimitadamente responsáveis podem habilitar o crédito correspondente às quantias pagas ou devidas, se o credor não se habilitar no prazo legal (art. 128).
Massa falida
A expressão "massa falida" indica, em sentido amplo, o conjunto de bens e credores do falido. É tratada pelo direito como um ente personificado, consistente em uma universalidade de fato que durará desde a decretação da falência até o seu encerramento. Esse ente personificado assume todos os bens e credores do falido e é administrado e representado pelo administrador judicial.
Assim, a massa falida, ente personificado, sucede o falido e, gerida pelo administrador judicial, reúne bens e credores do falido, com o fim de uma vez vendidos os bens e pagos os credores, encerrar o ciclo de uma empresa.
Realização do ativo
A realização do ativo será iniciada logo após a arrecadação dos bens. com a juntada do respectivo auto de arrecadação ao processo de falência, conforme determina o art. 139. da Lei n. 11.101/2005. O início da venda dos bens ocorrerá independentemente da formação do quadro geral de credores. Assim, a massa falida objetiva será alienada imediatamente, antes mesmo da identificação da massa falida subjetiva, para garantir a continuidade da empresa, que poderá ser transferida rapidamente para outro empresário, que seja capaz de manter a empresa ativa, iniciando-se um novo ciclo dela.
Ordem de preferência na alienação do ativo
A Lei n. 11.101/2005 estabelece umàordem de preferência da venda do ativo. A alienação dos bens que compõem a'massa falida objetiva, segundo o art. 140, será realizada de urna das seguintes formas, observada a ordem de preferência a seguir: (I) Alienação da empresa completa, com a venda de todos os seus estabelecimentos em bloco; (II) Alienação da empresa parcelada, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas isoladamente; (III) Alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor; (IV) Alienação dos bens individualmente considerados, separadamente.
Modalidades de alienação do ativo
A Lei n. 11.101/2005 estabelece cinco modalidades de alienação do ativo da massa falida, previstas nos arts. 142, 144 e 145. A lei determina, ainda, ao juiz, sejam ouvidos o administrador judicial e o Comitê de Credores, se houver antes de ordenar a referida alienação, adotando uma das seguintes modalidades, portanto: (I) leilão; (II) propostas fechadas; (III) pregão; (IV) forma livre.
Classificação dos créditos
Salários atrasados (prioritários): os salários atrasados e as despesas indispensáveis à administração da falência ou para a continuação do negócio do falido serão os primeiros créditos a serem pagos com o primeiro dinheiro que estiver à disposição do caixa do falido. São chamados de créditos prioritários.
Créditos extraconcursais: os credores extraconcursais são os credores da massa falida, isto é, são credores que tiveram seu crédito gerado após a decretação da falência ou do deferimento da recuperação judicial convolada em falência. Tais credores não firmaram vínculo obrigacional com o devedor empresário que faliu, mas sim com a massa falida, com o administrador judicial, ou por fato posterior à decretação da quebra. Estão elencados no art. 84.
Quadro geral de credores: logo após a quitação dos créditos extraconcursais, inicia-se o pagamento dos créditos concursais do quadro geral de credores. Mais uma vez, os credores estarão ordenados segundo a preferência estabelecida na Lei n. 11.10112005. O pagamento de um credor de uma classe pressupõe a quitação de toda a classe anterior, sob pena de nulidade. A classificação do crédito refere-se à posição que ele ocupará na ordem preferencial de pagamentos estabelecida pela Lei n. 11.101/2005, ou em que classe de credores exercerá seu direito a voto na assembleia geral de credores. As espécies de crédito estão bem definidas no art. 83, da Lei n. 11.101/2005.
Pedido de restituição
Os arts. 85 e 86, da Lei n. 11.101/2005, estabelecem a possibilidade de pedido de restituição, efetivado pelo terceiro prejudicado, em razão de arrecadação indevida do seu dinheiro ou dos seus bens na falência.
O pedido de restituição poderá recair sobre bens ou sobre dinheiro indevidamente arrecadados pelo administrador judicial, ou sobre bens que deverão ser devolvidos aos interessados, por força de lei. Assim, o art. 85 refere-se à restituição de bens. enquanto o art. 86 refere-se à restituição de dinheiro.
Pagamento aos credores
A efetivação do pagamento aos credores deverá ser iniciada logo que entrar dinheiro no caixa da massa falida. Toda a massa de credores estará aguardando o pagamento de seus créditos. A Lei n. 11.10112005 define claramente a ordem de preferência dos pagamentos. A finalidade dessa definição objetiva é promover o rápido pagamento das classes de credores.
O pagamento respeitará estritamente a ordem de preferência dos grupos e classes de credores. Deste modo, o pagamento do segundo grupo somente se dará após a quitação do primeiro. O pagamento da terceira classe somente será realizado após a quitação da segunda. Todos os credores de cada classe receberão, em conjunto, todo o seu crédito ou o rateio proporcional. É necessário que o credor que intente receber o seu crédito já esteja habilitado para que possa recebê-lo. Se não estiver habilitado perderá a chance de receber seu crédito na classe própria, salvo se requerer a reserva de importância nos autos da falência.
A única forma de não perder rateios é promover a reserva de importância (reserva de valores) na classe em que o credor deva se habilitar. Tal hipótese ocorre quando o credor ainda está litigando com o falido e, por isso, não possui título executivo ainda. Realizada a reserva de importância, a categoria seguinte àquela em que se fez a reserva somente será paga depois de aberta conta individual em favor do credor que reservou valores, na qual será depositada a importância que se busca na ação contra o falido.
O valor fícará reservado até o deslinde da demanda contra o falido. Caso o credor seja vitorioso, receberá o valor que lhe foi reservado. Se perder a demanda ou obtiver ganho parcial, o valor reservado, ou parte dele, será devolvido para a conta da massa e será utilizado nos pagamentos remanescentes, em rateios suplementares. Tal previsão está no,§ 1', do art. 149, da Lei n. 11.101/2005, nos seguintes termos: “Havendo reserva de importâncias, os valores a ela relativos ficarão depositados até o julgamento definitivo do crédito e,no caso de não ser este finalmente reconhecido, no todo ou em parte, os recursos depositados serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes”.
Determinado o pagamento de uma classe, o juiz fixará um prazo para que os credores procedam ao levantamento dos alvarás. Caso alguns credores não promovam o levantamento dos valores que lhes são devidos, serão intimados a fazê-lo em um prazo de 60 dias. Se ainda assim restarem alvarás sem levantamento, findo o prazo, o valor não levantado será devolvido para a conta da massa e será utilizado nos pagamentos remanescentes, em rateios suplementares. Esta é a previsão do §2º, do art. 149, da Lei n. 11.101/2005, nos seguintes termos: “Os credores que não procederem, no prazo fixado pelo juiz, ao levantamento dos valores que lhes couberam em rateio serão intimados a fazê-lo no prazo de 60 (sessenta) dias, após o qual os recursos serão objeto de rateio suplementar entre os credores remanescentes”.
O art. 149, caput, da Lei n. 11.101/2005, disciplina, sinteticamente, o procedimento de pagamento dos credores do falido. Assim dispõe: “Realizadas as restituições, pagos os créditos extraconcursais, na forma do art. 84 desta Lei, e consolidado o quadro geral de credores, as importâncias recebidas com a realização do ativo serão destinadas ao pagamento dos credores, atendendo à classificação prevista no art. 83 desta Lei, respeitados os demais dispositivos desta Lei e as decisões judiciais que determinam reserva de importâncias”.
Para atender ao que dispõe o referido artigo, serão pagos os grupos de credores na seguinte ordem: 1°) restituição de bens; 2°) créditos prioritários; 3°) restituição de dinheiro; 4°) credores extraconcursais; 5°) credores concursais - quadro geral de credores; 6°) credores subconcursais. C'1da um dos grupos está subdividido em classes, em ordem de preferência. Depois de quitados todos os credores, serão pagos dois créditos que denominamos subconcursais: a) juros posteriores à decretação da falência, nos termos do art. 124, da Lei n. 11.101/2005; b) eventual saldo final, o qual será entregue ao falido, conforme o art. 153, da Lei n. 11.!01/2005. 
O pagamento do passivo poderá ser interrompido em qualquer das classes de credores, desde que se esgote o ativo. Geralmente, na falência, o ativo não é suficiente para a quitação do passivo, por isso o pagamento cessará em alguma das classes de credores, sendo insuficiente para quitá-la. Surgem, então, os credores concorrentes, que são aqueles credores, da mesma classe, que concorrerão ao rateio do valor remanescente insuficiente para quitação total de seus créditos. Assim, teremos diversos credores que serão satisfeitos na falência, e diversos outros que não o serão. Além deles, teremos os credores que serão satisfeitos parcialmente, os quais são denominados credores concorrentes, justamente por concorrerem ao rateio do saldo remanescente da massa falida objetiva, sendo eles os últimos credores a receberem antes do encerramento da falência.
Por fim, caso algum credor tenha constituído seu crédito, ou eventual garantia, com dolo ou má-fé, deverá restituir em dobro as quantias recebidas, à massa falida, acrescidas da correção monetária e dos juros legais, nos termos do art. 152, da Lei n. 11.101/2005. Nesse caso, os valores serão depositados na conta da massa e serão utilizados nos pagamentos remanescentes, em rateios suplementares.
Prestação de contas
Cessados os pagamentos, após a realização de todo o ativo e distribuição do seu produto entre os credores, respeitada a ordem de preferência, o administrador judicial que tiver movimentado valores pertencentes à massa falida apresentará sua prestação de contas ao juiz, no prazo de 30 dias. É o que prevê o art. 154, da Lei n. 11.10112005. Caso o administrador judicial não tenha movimentado dinheiro da massa falida, o juiz poderá dispensar a apresentação de contas.
A prestação de contas será apresentada em autos apartados do processo falimentar, bem como acompanhada dos documentos comprobatórios das despesas realizadas pelo administrador judicial durante o processo de falência. Apresentadas as contas, o juiz ordenará a publicação de edital avisando que as contas foram entregues e que estão à disposição dos interessados, os quais poderão impugná-las no prazo de 10 dias.
Após o esgotamento do prazo de 10 dias, contados da publicação do aviso, o juiz determinará a realização das diligências eventualmente necessárias à apuração de fatos constantes das contas apresentadas. Realizadas as diligências, o Ministério Público será intimado para manifestar-se em 5 dias. Esgotado este último prazo, caso haja alguma impugnação de interessados ou parecer contrário do Ministério Público, o administrador judicial será ouvido.
Cumpridos os procedimentos constantes dos parágrafos anteriores, o processo será concluso para sentença. A sentença poderá: a) aprovar as contas, o que levará à apresentação do relatório final pelo administrador judicial e o encerramento da falência; b) rejeitar as contas, situação em que o juiz fixará as responsabilidades do administrador judicial, podendo determinar a indisponibilidade ou o sequestro de bens dele, e a sentença servirá como título executivo para indenização da massa. Seja qual for a definição da sentença, o recurso cabível será o de apelação.
Caso as contas sejam rejeitadas, o administrador judicial não terá direito à remuneração (art. 24, § 4°, da Lei n. 11.10112005), devendo devolver à massa os valores que lhe foram antecipados e o que estiver depositado em conta judicial a seu favor, os 40% que ficam bloqueados para serem liberados após o relatório final (art. 24, § zo, da Lei n. 11.101/2005). Além disso, na sentença que rejeitar as contas, o juiz condenará o administrador judicial a ressarcir a massa falida dos danos causados, fixando as suas responsabilidades, podendo bloquear os seus bens. Tais medidas trarão novos valores para a massa falida objetiva, valores que serão utilizados para remunerar o novo administrador judicial, e o restante será devolvido para a conta da massa e será utilizado nos pagamentos remanescentes, em rateios suplementares.
O administrador judicial que teve suas contas rejeitadas será destituído e substituído por outro. A necessidade de indicação de novo administrador judicial para elaborar o relatório final e tomar as medidas últimas do processo falimentar, está disciplinada no art. 23, parágrafo único, da Lei n. 11.101/2005, que dispõe: “O administrador judicial que não apresentar, no prazo estabelecido, suas contas ou qualquer dos relatórios previstos nesta Lei será intimado pessoalmente a fazê-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de desobediência. Parágrafo único. Decorrido o prazo do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador judicial e nomeará substituto para elaborar relatórios ou organizar as contas, explicitando as responsabilidades de seu antecessor”.
Deverá ocorrer prestação de contas, também, nas hipóteses do art. 22, III, r, da Lei n. 11.101/2005, isto é, o administrador judicial deverá “prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo”.
Durante todo o processo de falência, caso o administrador precise movimentar dinheiro pertencente à massa falida, poderá ele apresentar prestações de contas parciais. Assim, à medida que for utilizando recursos da massa, já poderá comprovar o destino do dinheiro paulatinamente, o que facilitará a prestação final de contas, especialmente naquelas falências que duram décadas. Tal alternativa também servirá para o momento em que o administrador judicial verificar que não mais utilizará recursos da massa falida.
É oportuno lembrar que, se não houver movimentação de dinheiro da massa pelo administrador judicial, não será necessária a prestação de contas, situação em que, após declarada pelo juiz a desnecessidade da prestação de contas, o administrador judicial apresentará, de pronto, o seu relatório final.
Relatório final do administrador judicial
Julgadas boas as suascontas, o administrador judicial apresentará o relatório final da falência, no prazo de 10 dias, devendo:
Indicar o valor do ativo e o do produto de sua realização;
Indicar o valor do passivo e o dos pagamentos feitos aos credores;
Especificar justificadamente as responsabilidades civis com que continuará o falido;
Reafirmar a responsabilidade penal dos envolvidos na falência, atendendo ao que determina o art. 187, § 2°, da Lei n. 11.101/2005, que determina: “Em qualquer fase processual, surgindo indícios da prática dos crimes previstos nesta Lei, o juiz da falência ou da recuperação judicial ou da recuperação extrajudicial cientificará o Ministério Público”.
A informação mais importante do relatório final do administrador judicial é a que se refere às responsabilidades civis com que continuará o falido. Tal informação permitirá que as execuções suspensas e não pagas na falência voltem a correr, bem como que novas execuções sejam propostas, na busca de bens futuros que venham a surgir no patrimônio do falido. Os credores remanescentes deverão atentar para o prazo prescricional, o qual volta a correr, após o trânsito em julgado da sentença de encerramento.
Encerramento da falência
Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença.
A sentença de encerramento da falência não se confunde com a de extinção das obrigações. Ao declarar o encerramento da falência, o juiz apenas reconhecerá um estado de fato, o qual impede a continuidade da execução coletiva, por absoluta falta de condições materiais para tal. Já a sentença de extinção das obrigações declarará a quitação de todas as obrigações do falido, como já estudado.
Assim, o juiz proferirá a sentença de encerramento da falência em duas hipóteses:
Pelo esvaziamento da massa falida subjetiva, massa de credores: tal fenômeno é raro e ocorre quando todos os credores do falido têm seus créditos satisfeitos durante a execução coletiva falimentar. Nessa hipótese, a alienação do ativo gerou valores suficientes à quitação de todas as dívidas. Verificando o administrador judicial a inexistência de credores a receber, deve apresentar sua prestação de contas, seguida do relatório final, para embasar a sentença de encerramento
Pelo esvaziamento da massa falida objetiva, massa de bens: esta hipótese, a mais comum nas falências, é caracterizada pelo esgotamento dos bens do falido, isto é, todos os bens e valores foram utilizados para pagar credores, na ordem legal, não havendo mais bens a serem arrecadados e sem que os valores arrecadados tenham sido suficientes para quitar todas as dívidas. Verificando o administrador judicial a inexistência de bel1s passíveis de arrecadação ou alienação, deve apresentar sua prestação de contas, seguida do relatório final, para embasar a sentença de encerramento.
Considerando serem estes os fundamentos do encerramento do processo falimentar, possível cogitar do encerramento antecipado da falência, nos casos em que ela for frustrada pela absoluta ausência de bens. A Lei n. 11.10112005 não regulou a denominada falência frustrada, como o fazia o Decreto-lei n. 7.661145. Todavia, por analogia, cabível o procedimento de falência frustrada, mesmo na vigência da lei atual, pois a falência não pode esperar indefinidamente o surgimento de bens no patrimônio do falido.
O procedimento de falência frustrada inicia-se com a constatação de que não existem bens no ativo da massa falida, ou são eles de valor irrisório. Diante disso, o administrador judicial requer a adoção do rito de falência frustrada, seguindo-se ao seu deferimento a publicação de Edital convocando credores e interessados a indicarem bens ou direitos do falido que justifiquem a continuidade do feito falimentar. Vencido o prazo do Edital, caso tenha sido indicado algum bem, o administrador judicial verificará a possibilidade, conveniência e oportunidade de sua arrecadação. Se não for indicado algum bem, ou aquele indicado não puder ser arrecadado, o administrador judicial apresentará o relatório final da falência e o juiz a encerrará, passando a quem de direito certidões dos créditos não quitados na falência.
Sentença
A sentença de encerramento da falência tem natureza declaratória, pois ela afirmará o esvaziamento de uma das massas falidas: a objetiva (bens do falido); ou a subjetiva (credores do falido). Ao reconhecer tal situação, o juiz não constituirá direito novo, nem eliminará direitos, apenas atestará que não há mais bens a alienar, ou credores a receber.
A sentença de encerramento será publicada por edital, possibilitando a qualquer interessado impugná-la.
A referida sentença deverá determinar sua comunicação à Junta Comercial, bem como autorizar o administrador judicial a levantar o saldo remanescente dos seus honorários, nos termos do art. 24, §2º, da Lei n. 11.101/2005, que diz: “Será reservado 40% (quarenta por cento) do montante devido ao administrador judicial para pagamento após atendimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei”.
Recurso
O recurso cabível da sentença que encerra a falência é o de apelação. O prazo prescricional relativo às obrigações do falido recomeça a correr a partir do dia em que transitar em julgado a sentença do encerramento da falência.
Extinção das obrigações do falido
Se, por ocasião da sentença que encerra a falência, as dívidas do falido já haviam sido pagas, o juiz, concomitantemente, declara a extinção de suas obrigações. Havendo, porém, créditos remanescentes, a sentença de encerramento da falência não extingue as obrigações do devedor. Nesse caso, os credores remanescentes poderão executar individualmente o devedor, servindo a certidão do juízo falimentar como título executório.
De acordo com o art. 158, a extinção das obrigações do devedor ocorrerá:
(1º) Pelo pagamento de todos os créditos remanescentes;
(2º) Pelo pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% dos créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem se para tanto não bastou a integral liquidação do ativo;
(3º) Pelo decurso do prazo de 5 anos, contado do encerramento da falência, se o falido não tiver sido condenado por prática de crime previsto na lei;
(4º) Pelo decurso do prazo de 10 anos, contado do encerramento da falência, se o falido tiver sido condenado por prática de crime previsto na lei.
Configurada qualquer dessas hipóteses, o falido poderá requerer ao juízo da falência que suas obrigações sejam declaradas extintas por sentença (art. 159). O requerimento será autuado em apartado com os respectivos documentos e publicado por edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação (§ 1º), sendo que, no prazo de 30 dias, qualquer credor poderá opor-se ao pedido do falido (§ 2º). Findo o prazo, o juiz, em 5 dias, proferirá sentença e, se o requerimento for anterior ao encerramento da falência, declarará extintas as obrigações na sentença de encerramento (§ 3º). A sentença que declarar extintas as obrigações, será comunicada a todas as pessoas e entidades informadas da decretação da falência (§ 4º). Da sentença cabe apelação (§ 5º) e, após seu trânsito em julgado, os autos serão apensados aos da falência (§ 6º). 
Verificada a prescrição ou extintas as obrigações, o sócio de responsabilidade ilimitada também poderá requerer que seja declarada por sentença a extinção de suas obrigações na falência (art. 160).

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