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NEGOCIAÇÃO AUTORES: ADALBERTO BRANDÃO ANA TEREZA SPINOLA YANN DUZERT ROTEIRO DE CURSO 2010.1 3ª EDIÇÃO Sumário negociação I. InTRODUçãO ...............................................................................................................................................................................4 1.1 Visão Geral .............................................................................................................................. 4 1.2 Objetivos Gerais ...................................................................................................................... 4 1.3 Metodologia............................................................................................................................. 4 1.4 Desafios e Dificuldades ............................................................................................................ 4 1.5 Métodos de Avaliação............................................................................................................... 5 II. PlanO DE aUlaS ........................................................................................................................................................................6 1. BlOCO 1: InTRODUçãO à nEgOCIaçãO .........................................................................................................................................7 Introdução ..................................................................................................................................... 7 Objetivo......................................................................................................................................... 7 1.1. Negociação: Apresentação ....................................................................................................... 7 1.1.1. Introdução ........................................................................................................................... 7 1.1.2. Identificando o Problema: Percepções e Emoções ................................................................. 9 1.1.3. Conceitos Básicos............................................................................................................... 11 2. BlOCO 2: MaTRIz DE nEgOCIaçõES COMPlExaS .......................................................................................................................... 13 Introdução ................................................................................................................................... 13 Objetivo....................................................................................................................................... 13 2.1. Etapas da Negociação ............................................................................................................ 14 2.1.1. Preparação ......................................................................................................................... 15 2.1.2. Criação de Valor ................................................................................................................ 16 2.1.3. Distribuição de Valor ......................................................................................................... 16 2.1.4. Implementação e Monitoramento ...................................................................................... 17 2.2. Os 10 Elementos da Negociação ........................................................................................... 17 2.2.1. Contexto ............................................................................................................................ 18 2.2.2. Interesses ............................................................................................................................ 19 2.2.3. Opções ............................................................................................................................... 20 2.2.4. Relacionamento ................................................................................................................. 21 2.2.5. Alternativas ........................................................................................................................ 22 2.2.6. Comunicação ..................................................................................................................... 22 2.2.7. Tempo ............................................................................................................................... 23 2.2.8. Legitimidade ...................................................................................................................... 25 2.2.9. Concessões / Compromissos .............................................................................................. 27 2.2.10. Conformidade ................................................................................................................. 30 2.3. Formas de Negociação .......................................................................................................... 32 2.3.1. Negociações Diretas ........................................................................................................... 33 2.3.2. Negociações Informais Paralelas (PIN) ............................................................................... 33 2.3.3. Diálogo entre Multistakeholders (MSD) ............................................................................ 39 2.3.4. Negociação com utilização de Agentes ............................................................................... 40 2.3.5. Negociação por meio de Facilitador ................................................................................... 40 2.3.6. Mediação ........................................................................................................................... 40 2.3.7. Meta-Mediação .................................................................................................................. 41 2.3.8. Arbitragem ......................................................................................................................... 41 2.3.9. Juiz: Utilização do Poder Legal ........................................................................................... 41 2.3.10. Polícia e Força Militar ...................................................................................................... 42 2.4. Indicadores de Avaliação da Negociação ................................................................................ 42 2.4.1. Avaliação da Satisfação e Racionalidade .............................................................................. 42 2.4.2. Avaliação através de Controles ............................................................................................ 43 2.4.3. Avaliação de Riscos ............................................................................................................ 43 2.4.4. Avaliação Sobre a Otimização Econômica .......................................................................... 44 2.4.5. Avaliação da Ética .............................................................................................................. 45 2.4.6. Avaliação de Justiça e Equidade .......................................................................................... 45 2.4.7. Avaliação de Impactos e Sustentabilidade (SAI) .........................................................................45 2.4.8. Avaliação da Produtividade ................................................................................................ 46 2.4.9. Avaliação das Emoções ....................................................................................................... 46 2.4.9. Avaliação do Sistema Autopoiético ..................................................................................... 47 III. BIBlIOgRafIa .........................................................................................................................................................................51 4FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO i. introdução 1.1 Visão Geral Este curso permitirá ao aluno aprender e aplicar a metodologia desenvolvida pelo Pro- grama de Negociação (PON) da Harvard Law School e pelo Programa de Negociações Complexas baseado na FGV EBAPE. Além dos conceitos da área de negociação, serão utilizados exemplos, casos e simulações desenvolvidas diretamente pelo Programa de Nego- ciação de Harvard. 1.2 objetiVos Gerais A finalidade desta disciplina é tornar o aluno apto a: – Utilizar o modelo da abordagem de ganhos mútuos na negociação, em diferentes contextos de uma organização; – Preparar-se, efetivamente, para uma negociação; – Maximizar o seu potencial e os resultados da negociação, a partir da exploração de interesses e desenvolvendo substantivas opções; – Construir acordos mais estáveis utilizando estratégias que possuam critérios objeti- vos para distribuição de valores; – Construir acordos que possam ser verdadeiramente implementados a partir da ante- cipação de contingências e alinhando capacidades organizacionais; – Proporcionar mudanças com os parceiros da negociação que não estão familiariza- dos com a abordagem de ganhos mútuos. 1.3 MetodoloGia O conteúdo programático terá como base a Matriz de Negociações Complexas, desen- volvida a partir de pesquisas realizadas pela FGV, Harvard Law School e IRENE/;ESSEC Paris. A Matriz de Negociações Complexas será apresentada por meio da exposição te- órica, da aplicação conceitual de seus elementos, formas de negociação e indicadores de avaliação dos resultados. A aplicação dos conceitos será realizada a partir dos casos de nego- ciação desenvolvidos pela Harvard Law School e facilitará a discussão em grupo e a troca de experiências, fatores fundamentais para o aprendizado da Negociação. 1.4 desafios e dificuldades Algumas dificuldades e atritos entre os alunos podem ocorrer ao longo dos estudos de caso e exercícios, tendo em vista que os mesmos são elaborados para gerar situações de conflitos a fim de que as técnicas possam ser aplicadas e aprimoradas ao longo do curso. Para atenuar os efeitos das possíveis desavenças geradas, será necessário administrar os ânimos ao longo das simulações e ter em mente a necessidade de permanecer duro com os interesses e suave com as pessoas. O Professor estará acompanhando a evolução do 5FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO exercício, o comportamento dos alunos e realizará uma análise final dos resultados das diversas negociações. 1.5 Métodos de aValiação A avaliação será feita por meio de prova e de trabalhos que serão desenvolvidos em sala de aula. Os casos desenvolvidos em sala de aula deverão ser entregues sob a forma de trabalho. A nota da primeira avaliação será calculada pela média aritmética dos trabalhos desenvolvidos ao longo do curso. A prova constituir-se-á na segunda nota. 6FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO ii. Plano de aulas curso de NeGociação – Graduação direito rio aulas assunto Professor 1ª aula abertura do Curso Yann duzert 2ª aula Conceito de negociação – percepções e emoções ana tereza spinola 3ª aula Matriz de negociações Complexas – conceitos de batna, zopa, preço reserva ana tereza spinola 4ª aula abordagem de Ganhos Mútuos – etapas de uma negociação ana tereza spinola 5ª aula abordagem de Ganhos Mútuos – etapas de uma negociação ana tereza spinola 6ª aula elementos – contexto, interesses, opções e relacionamento – Caso: parker Gibson ana tereza spinola 7ª aula elementos – alternativas, Comunicação e tempo – Caso: sally soprano ana tereza spinola 8ª aula elemento – concessões – Caso: Multimode ana tereza spinola 9ª aula elemento – legitimidade – Caso: termination tempest ana tereza spinola 10ª aula Formas de negociação Msd e pin ana tereza spinola 11ª aula Caso Cuba ana tereza spinola 12ª aula Critérios de avaliação da negociação ana tereza spinola 13ª aula Caso Harbocco ana tereza spinola 14ª aula Caso Harbocco ana tereza spinola 15ª aula encerramento do Curso Yann duzert 7FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO 1. Bloco 1: introdução à negociação iNtrodução Neste Bloco serão introduzidos os conceitos de conflitos, percepção, emoções e racio- nalidade limitada que servirão de base para o estudo de negociação. Serão utilizadas dinâ- micas específicas que ampliarão a visão do aluno preparando-o para o processo de tomada de decisão. objetiVo Este bloco objetiva: Compreender a questão de conflito x negociação; Trabalhar as percepções ; Desenvolver o pensamento crítico; Estimular o debate entre os alunos. 1.1. NeGociação: apreseNtação 1.1.1. introdução O conflito está presente em todos os relacionamentos humanos e em todas as sociedades. As disputas acontecem entre pessoas de uma mesma família, vizinhos, grupos religiosos e esportistas, organizações e governo, cidadãos, dentre outros. Podem ser das áreas trabalhista ou comercial, sendo constituídas por múltiplos participantes e múltiplos critérios. Devido aos altos custos físico, emocional e financeiro que resulta de uma situação conflituosa, os indivíduos têm buscado maneiras de resolver suas discordâncias e diferenças de pontos de vista. Ao buscar administrar e resolver as diferenças tem-se procurado estabelecer proce- dimentos que atendam aos interesses das partes envolvidas, minimizando o desgaste e os gastos desnecessários. Negociação é a possibilidade de se fazer algo melhor por meio de uma ação conjunta; por outro lado, não deverá ser surpresa caso as ações de não-negociação provem ser o meio superior de realizar algo(SEBENIUS E LAX, 1987). Negociação é um processo de atualização, revisão, realização de perguntas relevantes, proporcionando um aprendizado conjunto, com o objetivo de minimizar as diferenças na definição de valor. A negociação é ainda o modo mais eficiente de conseguir algo que se deseja. Negocia-se quando existem alternativas a serem escolhidas, e essas alternativas envolvem a própria pes- soa ou terceiros. Para ambos os lados, as diversas alternativas apresentam interesses comuns e interesses conflitantes, expressando a complexidade das relações. Por outro lado, a negociação possui um dilema fundamental, denominado o Dilema do Negociador: Para criar valor é preciso oferecer informações sobre os seus interesses, porém revelar seus interesses pode criar desvantagem. 8FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO exemplo 1: jogo da Queda de braço Proposta do jogo: Dividir os participantes em grupos de dois definindo duplas para a que- da de braço. Serão dados 15 segundos para que cada um maximize o número de pontos. exemplo 2: racionalidade limitada Cobrir todos os pontos com apenas 4 linhas • • • • • • • • • – Negociação Competitiva tem-se para cada ganho uma perda correspondente. É o jogo do ganha-perde (W-L). – Negociação Cooperativa tem-se que cada parte oferece um ponto para o oponente e vice-versa. É o jogo do ganha-ganha (W-W), corresponde a uma negociação que tem ga- nhos mútuos. Não adianta uma das partes ganhar sozinha. Assim, a negociação pode ser definida com base nas seguintes condições: Interdependência: não se consegue atingir plenamente um objetivo sem que haja uma ação ou uma decisão de uma outra pessoa ou de um grupo de pessoas. Capacidade para ganhos mútuos: cada pessoa possui algo que é desejado por outra pessoa. Entretanto, um acordo só é de mútuo interesse se as duas partes puderem ganhar com a troca. Se uma parte desejar algo que a outra parte possua, então essa parte deverá ofe- recer algo que deixe o outro bem, em situação melhor do que se encontrava antes da troca. Autoridade limitada: nenhuma parte pode dar ordens ou forçar a outra parte a dar o que se deseja. Entretanto, uma parte pode influenciar a outra parte oferecendo incentivos para alcançar o acordo, ou elevando o custoda posição de não-acordo. Negociação 9 Exercício 1: Jogo da Queda de Braço Proposta do jogo: Dividir os participantes em grupos de dois definindo várias duplas para o jogo da queda de braço. Serão dados 15 segundos para que cada pessoa maximize o número de pontos individuais. Análise do Exercício 1: Jogo da Quebra de Braço Resultados: 0 x 0; 1 x 0; 3 x 2; ........ Teria possibilidade de haver melhor resultado? Modificação da lógica competitiva para a lógica cooperativa O resultado poderia ser 15 x 15......., e assim por diante A negociação tem que ser cooperativa (Teoria dos Jogos) para criar valor, obter ganhos mútuos e assim aumentar o tamanho do bolo. Negociação Competitiva Negociação Cooperativa A B 1 2 3 6 3 2 6 Ótimo Negociador A Negociador B A B 1 2 3 6 3 2 6 Negociador A Negociador B Excluído: a Excluído: um 9FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO Comunicação: as partes têm que ser capazes de conversar ou de se corresponder de for- ma mutuamente inteligíveis. Entretanto, a comunicação pode ser imperfeita. Podem ocor- rer erros de interpretação e uma das partes ou as duas poderão, deliberadamente, trabalhar sobre suposições falsas. A forma de como expressamos nossas emoções e procedemos com as emoções dos outros podem, significativamente, afetar nossa comunicação. As grandes diferenças de língua, de experiências anteriores e de normas culturais são os maiores riscos para os problemas de comunicação. Relacionamento: todas as negociações criam relacionamentos. Se houver alguma de- savença anterior à negociação, com certeza isso irá afetar a forma de como negociar hoje. Caso se espere encontrar a outra parte em um futuro, nossas expectativas quanto a esse futuro também irão afetar a forma da negociação. Se cada um de nós achar que a forma de condução de uma negociação puder influenciar o olhar dos outros sobre nós então, tudo que for relativo à nossa reputação também influenciará a forma de conduzir com o outro a negociação. Quando todos esses elementos forem colocados, ao mesmo tempo, em uma negociação, significa que a mesma está inserida em uma situação complexa. Cada uma das partes possui metas e interesses para estar em uma negociação. Nenhuma parte conseguirá atingir seus objetivos sem a cooperação da outra. Cada uma das partes buscará ganhar o máximo possí- vel ao longo do processo negocial, mas deve equilibrar o desejo de ganhar o máximo possível e realizar o mínimo de concessões, com o risco de ter nossos interesses afetados, caso não seja alcançado o acordo. Cada uma das partes tem informações limitadas sobre os verdadeiros objetivos e inte- resses da outra parte, então não é óbvio saber o que se deve oferecer, como oferecer ou como encontrar o que mais poderá ser oferecido. A forma de comunicação entre as partes tem um significativo e involutário impacto sobre o resultado. Finalmente, o relacionamento que se cria e se desenvolve ao longo do processo de negociação pode ter um impacto muito grande, não só para a negociação como um todo como também sobre futuras negociações entre essas partes. 1.1.2. identificando o problema: percepções e emoções exemplo 3: entender as percepções e a proposta de Valor O milho é: 1- Grão; 2- Planta; 3- Leguminosa; 4- Fruto Para se negociar será necessário definir o problema. Se não existe uma concordância a respeito do que seja o milho, como se poderá negociar o tipo de transporte para milho? Diferentes percepções definem diferentes critérios. A definição do problema tem que ser incontestável, assim deve-se, inicialmente, definir conceitos. 10FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO exemplo 4: o que se vê nas imagens abaixo? Figura 1: Figura 2: A capacidade de Criação de Consenso leva as partes a uma definição mais adequada do problema, proporcionando conseqüentemente uma melhor execução. Nas negociações multipartidárias e organizacionais, a alternativa de um dos lados pode ser um conjunto de acordos a ser alcançado por uma potencial coalizão dos adversá- rios. Ameaças inequívocas para alterar a posição de não-acordo são comumente utilizadas por uma das partes, como pode ser observado pela posição dos países industrializados nas cinco Conferências Ministeriais da OMC, quando tentaram impedir que fossem levadas à discussão as questões agrícolas como é o desejo e a necessidade dos países em desenvol- vimento e, forçaram uma agenda para discussões das questões que atendessem aos seus interesses como os temas de Cingapura. Neste caso, além de buscar acordos, as partes en- volvidas se utilizam, freqüentemente, de negociações formais para fazer propaganda, reunir inteligências, influenciar terceiros ou outras audiências, manter contato, desviar a atenção dos outros jogadores sobre algo ou sobre a comunicação de algum assunto, e assim por diante (Sebenius e Lax, 1987). Negociação 13 Análise do Exercício 3: Entender as Percepções e a Proposta de Valor Respostas: x respondem grãos; y respondem planta; z respondem leguminosa; n respondem fruto. Qual será a verdade? O Ministério da Agricultura, a FDA - Food and Drugs Administration, a Associação de Bens Alimentares, o Departamento Estadual de Agricultura nos EUA oferecem quatro diferentes respostas. As diferentes respostas indicam que para negociar será necessário, inicialmente, definir o problema, uma vez que deve-se ter um entendimento completo do problema a ser resolvdo para que não se busque a solução de um problema errado. No exemplo acima, se não existe uma concordância a respeito do que seja o milho, como se poderá negociar o tipo de transporte para milho? Diferentes percepções definem diferentes critérios. A definição do problema tem que ser incontestável, assim, inicialmente, deve-se definir conceitos. Exercício 4: O que se vê nas imagens abaixo? Figura 1: Quantas pessoas perceberam:....... pato e ....... coelho? Excluído: Para se Excluído: . Excluído: S Excluído: , inicialmente, Excluído: Exemplo Negociação 14 Figura 2: Quantas pessoas perceberam:.......moça e .......velha? Exercício 5: Jogo da Cooperação e Coalizão Tripartite – Jogo de Poder Dividir a turma em grupos de três pessoas, cada uma classificada como A, B e C, respectivamente. O objetivo do jogo é negociar com os membros do grupo, buscando maximizar o retorno individual, atendendo a um limite máximo de pontos, conforme definido na tabela abaixo: Opções Partes Retornos Totais 1 A ou B ou C 0 ( zero) 2 A & B 118 3 A & C 84 4 B & C 50 5 A & B & C 121 Orientação para o desenvolvimento do problema: Excluído: A capacidade de Criação de Consenso leva as partes a uma definição mais adequada do problema, proporcionando conseqüentemente uma melhor execução.¶ ¶ Nas negociações multipartidárias e organizacionais, a alternativa de um dos lados pode ser um conjunto de acordos a ser alcançado por uma potencial coalizão dos adversários. Ameaças inequívocas para alterar a posição de não- acordo são comumente utilizadas por uma das partes, como pode ser observado pela posição dos países industrializados nas cinco Conferências Ministeriais da OMC, quando tentaram impedir que fossem levadas à discussão as questões agrícolas como é o desejo e a necessidade dos países em desenvolvimento e, forçaram uma agenda para discussões das questões que atendessem aos seus interesses como os temas de Cingapura. Neste caso, além de buscar acordos, as partes envolvidas se utilizam, freqüentemente, de negociações formais para fazer propaganda, reunir inteligências, influenciar terceiros ou outras audiências, manter contato, desviar a atenção dos outros jogadores sobre algo ousobre a comunicação de algum assunto, e assim por diante (Sebenius e Lax, 1987).¶ ¶ Excluído: xemplo Excluído: s Excluído: de forma a 11FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO exemplo 5: jogo da cooperação e coalizão tripartite Dividir a turma em grupos de três pessoas classificadas como A, B e C. O objetivo do jogo é negociar com os membros do grupo de forma a maximizar o re- torno individual, atendendo a um limite máximo de pontos, conforme definido na tabela abaixo: opções Partes retornos totais 1 a ou b ou C 0 (zero) 2 a & b 118 3 a & C 84 4 b & C 50 5 a & b & C 121 Orientação para o desenvolvimento do problema: 1. Leia o problema 2. Forme os grupos com trios de pessoas A, B e C, e negocie 3. Definir as partes que estão no acordo 4. Como será dividido o valor entre as partes? (divisão da torta) 5. Os acordos têm que apresentar números definidos 6. Maximize seu retorno 7. Não existem créditos para ajudar ou dificultar a(s) outra(s) parte(s) 8. Podem ocorrer dificuldades em se conversar a sós 9. Permite uma contra-oferta da coalizão 10. A parte que não participar do acordo somará zero pontos 1.1.3. conceitos básicos Qualquer negociação deve ter uma estrutura básica fundamentada no conhecimento das seguintes questões: – qual a alternativa à negociação – BATNA ou MAANA – qual o limite mínimo para um acordo negociado; – até que ponto (alvo) cada parte está disposta a ser flexível; e, – quais as concessões que as partes estão dispostas a fazer (intervalo de ZOPA ou ZAP). Para a definição desses fatores utilizam-se os seguintes conceitos: BATNA – Best Alter- native to a Negotiation Agreement ou MAAN – Melhor Alternativa à um Acordo Negocia- do; Preço de Reserva; e, ZOPA – Zone of Possibles Agreements ou ZAP – Zona de Acordo Possível.1 A MAAN corresponde à alternativa que será adotada caso não se alcance um acordo na negociação. Esta alternativa é definida antes do início de qualquer negociação para permitir ao negociador uma posição vantajosa em relação à outra parte, na medida em que ele conhe- ce e dispõe de uma referência (preço mínimo pelo qual está disposto a negociar), tanto para avaliação das propostas decorrentes do processo como para poder dizer não a uma proposta desfavorável. 1 Max Bazerman descreve a BaTna como sendo “ one piece of advice that negotiation ex- perts commonly offer is very simple: before you enter into any important negotiation, you should consider what you will do if no agreement is reached” extraído do artigo Is there help for the Big Ticket Buyer, publicado na Harvard Business Review em 17 set 2001. 12FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO Preço de Reserva é representa o valor mínimo em que o negociador fica indiferente entre um acordo negociado e o impasse. É o limite da BATNA, quando o valor negociado é igual à alternativa disponível fora da negociação. Para que seja interessante uma negociação, o valor negociado tem que ser acima do valor definido pela BATNA. ZAP é o conjunto de alternativas possíveis, para ambas as partes, definidas por limites superiores e inferiores, defindos pela BATNA, dentro das quais pode-se chegar a um con- senso que satisfaça ambas as partes. Esses limites são definidos pelo Preço de Reserva de cada uma das partes. As partes não alcançarão resultados enquanto existir espaço para negociação na região da ZAP [Mnookin, Peppet e Tolumelo:2000]. Preço Alvo é o preço que você deseja; preço limite é o seu preço máximo ou mínimo. alvo limite Vendedor zap limite alvo Comprador Em resumo, • Alternativa A zap preço de reserva preço de reserva do vendedor do comprador Exemplo: Um proprietário tem um apartamento em Copacabana e deseja alugá-lo a um preço de $ 4.000,00. Por outro lado, existe um interessado em alugá-lo, disposto a pagar, $ 2.000,00. A BATNA do proprietário é o interesse de um artista em alugar o imóvel a $ 4.000,00. O proprietário sente-se arriscado alugar o imóvel para o artista pois considera arriscado a garantia do pagamento do aluguel em dia, a possibilidade desse artista em sub-locar o imó- vel e trazer com isso problemas com o condomínio. A BATNA do interessado em alugar o imóvel é um apartamento velho situado em uma ladeira cujo edifício tem 10 apartamentos por andar. 1. Qual é a ZOPA do problema? 2. Quais as ações que poderiam ser tomadas para reduzir a ZOPA? Segundo Sebenius e Lax, as alternativas podem ser tão variáveis quanto as situações negociadas que elas circunscrevem. Podem ser corretas e ter um único atributo, como nas competições por preços de insumos para um produto idêntico; podem ser contingenciais e multi-atributos, como levar a questão a uma decisão judicial ao invés de aceitar um acordo, o que pode envolver incerteza, ansiedade, despesas com taxas legais e custo do tempo dis- pendidodispendido, dentre outros; e podem também variar ao longo do tempo a partir de ! ! 13FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO novas informações, interpretações, movimentos competitivos ou oportunidades (Sebenius e Lax,: 1987). Questões a serem levadas em consideração nas ofertas iniciais de uma negociação: (a) Quem deve ancorar primeiro? Quem ancora assume riscos, porém âncoras afetam as percepções das partes acerca do resultado final. (b) O Que Fazer? Não dar muito valor à oferta inicial; analisar a qualidade da âncora; formular objetivos ousados como âncoras; boa preparação. 14FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO 2. Bloco 2: Matriz de negociações coMPlexas iNtrodução Apresentamos neste Bloco a matriz de Negociações Complexas. A Matriz de Negocia- ções Complexas2 está estruturada a partir da abordagem de ganhos mútuos e reúne as quatro etapas do processo de negociação, os dez elementos, as dez formas e os dez métodos de avaliação. objetiVo Este bloco objetiva: Conduzir a Negociação ao longo de suas etapas; Identificar os elementos presentes na negociação; Desenvolver as formas de negociação; Acompanhar a performance da negociação através de seus indicadores e critérios de avaliação; Quadro 1: Matriz de Negociações complexas Fonte : Yann Duzert, Davis Fairman e Alain Lempereur 2 a Matriz de negociação complexa foi desenvol- vida pelos professores David Fairman, Yann Du- zert e alain Lempereur de Harvard-MIT, FGV/EBaPE e IREnE/ESSEc, respecti- vamente. Negociação 20 Quadro 1: Matriz de Negociações Complexas Fonte : Yann Duzert, Davis Fairman e Alain Lempereur A abordagem de Ganhos Mútuos difere das demais abordagens por ser um conjunto de princípios e estratégias que permitem (i) maximizar as chances para cada uma das partes encontrar seus interesses, e (ii) criar e manter um bom relacionamento entre as partes que estão na negociação. Essa abordagem garante que o processo seja eficiente, viabiliza a realização de ganhos mútuos e, caso os negociadores não alcancem o acordo, sairão menos desgastados. A Abordagem de Ganhos Mútuos tem o foco nos interesses, não em posições. Quatro Etapas da Negociação Dez Elementos da Negociação Dez Formas de Negociação Dez Indicadores de Avaliação Preparação Criação de Valor Distribuição de Valor Implementação/ Monitoramento Contexto Interesses Opções Alternativas Comunicação Relacionamento Concessões Conformidade Legitimidade Tempo Negociações Diretas Negociações Informais Paralelas (PIN) Diálogo entre Multi-Stakeholders (MSD) Agente Facilitação Mediação Meta-Mediação Arbitragem Juiz Polícia / Força Militar Satisfação e Racionalidade Controles Risco Otimização Econômica Ética Justiça e Equidade Impactos e Sustentabilidade Produtividade Emoções Sistema Autopoiético Quatro Etapas da NegociaçãoDez Elementos da Negociação Dez Formas de Negociação Dez Indicadores de Avaliação Preparação Criação de Valor Distribuição de Valor Implementação/ Monitoramento Contexto Interesses Opções Alternativas Comunicação Relacionamento Concessões Conformidade Legitimidade Tempo Negociações Diretas Negociações Informais Paralelas (PIN) Diálogo entre Multi-Stakeholders (MSD) Agente Facilitação Mediação Meta-Mediação Arbitragem Juiz Polícia / Força Militar Satisfação e Racionalidade Controles Risco Otimização Econômica Ética Justiça e Equidade Impactos e Sustentabilidade Produtividade Emoções Sistema Autopoiético Formatado: Francês (França) Excluído: . Excluído: de se encontrar seus interesses, ao mesmo tempo em que as outras partes também alcançam seus interesses, Excluído: O foco central Excluído: da a Excluído: é Excluído: A forma de condução da negociação nos dois focos pode ser verificada nos seguintes exemplos: 15FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO A abordagem de Ganhos Mútuos difere das demais abordagens por ser um conjunto de princípios e estratégias que permite (i) maximizar as chances de se encontrar seus interesses, ao mesmo tempo em que as outras partes também alcançam seus interesses, e (ii) criar e manter um bom relacionamento entre as partes que estão na negociação. Essa abordagem garante que o processo seja eficiente, viabiliza a realização de ganhos mútuos e, caso os ne- gociadores não alcancem o acordo, sairão menos desgastados. O foco central da abordagem de Ganhos Mútuos é o foco nos interesses, não em posi- ções. A forma de condução da negociação nos dois focos pode ser verificada nos seguintes exemplos: – Foco na posição: “Desejo obter a participação de 70% nos resultados alcançados”; – Foco no interesse: “Desejo uma participação nos resultados” Focar no interesse é melhor para uma negociação, pois interesses são objetivos que se desejam alcançar em uma negociação e oferece maior flexibilidade para se alcançar acordos. Existem mais de um caminho para se alcançar os interesses. Para que se possa melhor compreender as vantagens da estratégia de negociação de ga- nhos mútuos, comparemos com as demais abordagens, enunciadas a seguir: – Convencional – é uma estratégia de negociação dura, desenvolvida quando as partes acreditam que possuem interesses absolutamente incompatíveis. As partes assumem posições extremas, seguram informações e fazem concessões com má vontade; – Relacionamento – é uma estratégia de negociação leve que prioriza alcançar um acordo e mantém acima de tudo um bom relacionamento entre as partes; – Sensibilidade Cultural – é uma estratégia a ser utilizada, principalmente nas nego- ciações internacionais. Essa estratégia demanda muito tempo na preparação para que se possa conhecer as normas culturais, os sinais, estilos e símbolos das outras partes, de forma a não incorrer em indelicadezas com as outras partes.3 2.1. etapas da NeGociação São quatro as etapas do processo de negociação utilizadas na abordagem dos ganhos mútuos: preparação, criação de valor, distribuição de valor e implementação e avaliação. – Preparação: o que se faz antes de iniciar um processo de negociação – Criação de valor: o que se faz nos estágios iniciais da negociação – Distribuição de valor: o que se faz para alcançar um acordo – Implementação e Avaliação: o que se faz para implementar efetivamente um acordo. 3 Harvard-MIT-Tufts Program on negotiation 16FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO Quadro 2: estágios de processo de Negociação baseado em princípios PREPARANDO Deixe claro as suas atribuições e defina sua equipe CRIANDO VALOR Estime seu melhor MAANA assim como o dos outros par- ticipantes Explore os interesses de ambos os lados DISTRIBUINDO VALORES Aperfeiçoe o seu MAANA (se possível) Suspenda a crítica Comporte-se de maneira que crie confiança CONTINUANDO Identifique seus interesses Crie sem compromisso Discuta padrões e critérios para “dividir o bolo” Entre em acordo para o monitoramento das decisões adotadas Veja quais são os interesses dos outros Gere alternativas que “fa- çam o bolo aumentar” Use a neutralidade para sugerir possíveis formas de distribuição Facilite a sustentação dos compromissos Prepare sugestões de alternati- vas de ganhos mútuos Use a neutralidade para melhorar a situação Projete acordos próximos que se reforcem Alinhe os incentivos e controles organizacionais Continue trabalhando para mel- horar o relacionamento Use a neutralidade para re- solver desacordosFonte : Duzert, 2004 2.1.1. preparação A Preparação é a etapa mais importante do processo de negociação. Uma preparação cuidadosa oferece muitos dividendos para o processo de negociação. Quando um negocia- dor está bem preparado ele amplia consideravelmente a sua possibilidade de alcançar o que deseja na negociação. Durante o processo de negociação, um negociador bem preparado poderá estar calmo, criativo e afável aos parceiros da negociação, sem precisar estar em po- sições de muito favorecimento ou de excessiva rigidez. Para preparar uma negociação deve-se, inicialmente, esclarecer os interesses. Essa tarefa deverá ser discutida com os tomadores de decisão da sua organização, deverá incluir dis- cussões sobre interesses comuns e sobre quaisquer diferenças anteriores ao encontro com os negociadores externos. Deve-se considerar que um dos interesses será manter um efetivo relacionamento de trabalho com a(s) outra(s) parte(s). A preparação envolve estar apto para explicar seus interesses para a outra parte, e antecipar suas questões sobre porque você quer o que você quer. Dado seus interesses, deve-se pensar sobre o elenco de resultados possíveis, a partir das suas aspirações – o melhor resultado que satisfaça seus interesses, até suas exigências mí- nimas – o que seria o mínimo aceitável. Para se determinar as exigências mínimas deve-se examinar a BATNA, uma vez que é a melhor opção externa à mesa de negociação, ou seja, a melhor alternativa caso não se consiga alcançar um acordo. Coloque-se no lugar da(s) outra(s) parte(s), e imagine quais seriam seus interesses se estivesse no lugar dela. Utilize o recurso da pesquisa para aprender sobre os interesses, as- pirações e BATNA dos parceiros de negociação. Sua proposta causará um impacto sobre percepção do outro sobre a sua credibilidade e seu profissionalismo. 17FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO 2.1.2. criação de Valor Criar valor significa inventar soluções que sejam vantajosas e que permitam expandir o conjunto de opções de benefícios mútuos viáveis para ambas as partes. Para criar valor será necessário identificar as diferenças de valores entre os negociadores para em seguida, explo- rar as múltiplas opções para resolução ou colaboração. Para encontrar as áreas de ganhos mútuos é fundamental: Explorar os interesses das outras partes, muito mais do que se manter posicional. Ao invés de ficar discutindo as posições contra ou a favor, busque informações para construir o “se eu tento uma opção diferente que servirá para mim e se eu estiver compreendendo como seus interesses podem ir ao seu favor.” Buscar fazer a outra parte compreender as razões que estão por trás das coisas que você deseja. Tenho certeza de que só poderei conseguir alcançar meus interesses se eu permitir que você esteja informado sobre quais são esses interesses (Dilema do Negociador). Não se deve fazer julgamentos sobre as idéias que foram criadas, quan- tas mais idéias forem criadas, mais oportunidades para se criar novas opções que poderão auxiliar as partes em uma negociação. Caso as partes tenham dificuldade em conversar – por força de uma questão difícil,ou por uma estratégia de negociação frágil, ou por ambas – pode-se chamar uma terceira pessoa para interceder na comunicação (vide Formas de Negociação). 2.1.3. distribuição de Valor Distribuir valor significa escolher os caminhos, de comum acordo entre as partes, para a escolha das opções. É o processo de escolha das opções identificadas na etapa da criação de valor. Quan- do existe confiança entre as partes é muito fácil distribuir valor. Quanto mais uma parte se coloca confiável em uma negociação, mais a outra parte se colocará disponí- vel para escutar as razões e os argumentos sobre como deverá ser “dividido o bolo”. No caso de existirem questões fortes individuais para a escolha de duas grandes questões, pode ser negociada uma opção para cada uma das partes ceder um pouco à outra (trade-off). Caso não haja possibilidade de se fazer diretamente uma composição de acordos entre as partes, um outro caminho para resolver essa disputa é o acordo contin- gencial. Um acordo contingencial permite que quando uma parte está em dúvida quanto à capacidade da outra parte cumprir o acordo, elabora-se um documento que vincula o cumprimento do acordo no futuro a uma alteração nos termos ini- ciais do acordo. Uma outra estratégia que facilita a distribuição de valor a partir de um conjunto de opções é a definição de critérios – princípios objetivos ou padrões – que levem as partes a realizarem as escolhas dentre as várias opções. Nesse contexto, objetivo não significa dizer “certo ou errado”, e sim alguma opção que seja aceitável para ambos e razoável para a tomada de decisão. Podem existir situações em que uma das partes percebe que tiraria mais vantagem se violasse o acordo. Nesses casos, se ambos violarem o acordo, ambos irão perder. Para que não haja esses problemas, arbitra-se uma multa para os casos do não- cumprimento do acordo. 18FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO 2.1.4. implementação e Monitoramento Essa etapa validará e acompanhará os acordos alcançados de forma que nenhuma das partes precise se preocupar na violação dos resultados alcançados. Uma vez alcançado o acordo, as partes deverão avaliar se os recursos, de ambas as partes, são adequados e se permitem a implementação do acordo. Sendo necessário, portanto disponibilizar os recursos. Se o acordo definir que deverão ocorrer mudanças tangíveis, deve-se acordar tam- bém uma forma de monitorar essas mudanças, criando indicadores que possam apresentar medidas de variação. Deve-se prever também no acordo, quais as iniciati- vas que deverão ser tomadas no caso do acordo não estiver alcançando os resultados esperados por ambas as partes. A etapa de implementação que acompanha os resultados acordados deve servir para a manutenção do relacionamento entre as partes. Se os resultados estiverem a contento ambas as partes estarão bem; caso haja dificuldades, a identificação do problema e a busca de soluções conjuntas proporcionarão uma aliança mais forte entre as partes. Caso existam divergências, deve-se solicitar auxílio a terceiros (vide Formas de Negociação). 2.2. os 10 eleMeNtos da NeGociação São dez os elementos da negociação: Interesses, Alternativas, Opções, Legitimidade, Compromissos, Relacionamentos, Comunicação, Tempo, Conformidade, Contexto. A definição desses elementos é importante para a preparação, para a compreensão de diferentes processos de escolhas, para o diagnóstico, para lidar com táticas difíceis e para organizar intuições, instrumentos e lições. A aplicação desses elementos pode ser observada da seguinte forma: • O QUE VOCÊ DESEJA – Interesses, inclusive; – Senso de legitimidade – responde a pergunta: “Qual é o critério?”. Define indica- dores para defender a proposta – Relacionamento para gerar confiança: identificação dos interesses dos outros. • OBTENDO O DESEJADO: – Alternativas – o que pode ser feito sem acordos para buscar uma saída. – Opções – possibilidades de acordos corresponde a criação de valor; facilita a “divisão do bolo”. • ACORDO/DECISÕES sobre PROCEDIMENTOS: – Compromissos a serem alcançados. – Contexto – melhor canal de negociação para se ter mais cooperação (Axelrod); ne- gociação mais produtiva; estabelecer confiança entre as partes com a oferta de ga- nhos mútuos (Equilíbrio Nash). • PROCESSO – Comunicação – ser o mais transparente possível para criar ganhos; debate de idéias livres; manter informação confidencial quando for estratégico. 19FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO – Tempo – o timing em todo o processo; contratos contingenciais; desbloqueador do conflito; deadline obriga a convergir para acordo; – Conformidade – conhecer e definir acordos que tenham base legal para que possam ser executados. O quadro a seguir, apresenta a relação existente entre os dez elementos e as quatro etapas da negociação, considerando as etapas em que cada elemento é mais utilizado. Quadro 3: elementos e etapas da Negociação Fonte: Brandão, 2005. A seguir, abordar-se-á cada um dos elementos. 2.2.1. contexto Contexto é representado pelo melhor canal de negociação de forma que se obtenha uma maior cooperação (Axelrod). Trata-se da identificação dos cenários político, econômico, social, ambiental, cultural, religioso, comercial, dentre outros, onde se desenvolve o processo negocial. A análise do contexto permite que o negociador obtenha uma visão holística do processo, facilitando e suportando o posicionamento a ser adotado, assim como permite uma observação com relação aos agentes envolvidos e suas inter-relações e dependências. Acompanhar o contexto de forma dinâmica configura-se como um diferencial, pois em qualquer etapa o negociador estará com a “fotografia” de todo ambiente disponível para alimentar as reflexões e facilitar a identificação de opções. São levados em consideração os diversos fatores externos que possam influenciar as qua- tro fases da negociação. É fundamental que a análise de contexto seja realizada no período de preparação, ten- do em vista que estas reflexões serão úteis para balizar posicionamentos e abordagens. Quando se trata de negociações entre países, principalmente quando se trata de estrei- tamento de laços comerciais de caráter governamental é importante que aspectos relativos à estabilidade política sejam considerados. No caso de acordos comerciais, como a soja e a carne brasileira, as empresas devem avaliar aspectos como: preços internacionais, público demandante, oferta, e outros que permitam o posicionamento adequado diante da outra parte. Negociação 27 • PROCESSO – Comunicação deve-se ser o mais transparente possível para criar ganhos; permitir o debate de idéias livres; manter a informação confidencial quando for estratégico. – Tempo deve ser utilizado como um elemento estratégico a favor da negociação. Utilizado em contratos contingenciais, para desbloquear conflito, e o deadline obriga os negociadores a convergirem para acordo ou para um impasse; – Conformidade deve-se definir acordos que tenham base legal para que possam ser executados. O quadro a seguir, apresenta a relação existente entre os dez elementos e as quatro etapas da negociação, considerando as etapas em que cada elemento é mais utilizado. Quadro 3: Elementos e Etapas da Negociação Preparação Criação de Valor Distribuição de Valor Implementação / Monitoramento Contexto X Interesses X X Opções X X Alternativas X X Comunicação X X X X Relacionamento X X X X Concessões/ Compromisso X Conformidade X X Legitimidade/ Padrões X X Tempo X X QUATRO ETAPAS D EZ E LE M EN TO S Fonte: Brandão, 2005. A seguir, abordar-se-á cada um dos elementos. 2.2.1. Contexto Trata-se da identificação dos cenários político, econômico, social, ambiental, cultural, religioso, comercial,dentre outros, onde se desenvolve o processo negocial. A análise do contexto permite Formatado: Fonte: Não Negrito Formatado: Fonte: Não Negrito Formatado: Fonte: Não Negrito Excluído: – Excluído: – Excluído: o timing em todo o processo; Excluído: ; desbloqueador do Excluído: ; Excluído: a Excluído: – conhecer e Excluído: Excluído: Contexto é representado pelo melhor canal de negociação de forma que se obtenha uma maior cooperação (Axelrod).¶ ¶ 20FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO As preocupações podem ser colocadas e respondidas por meio das seguintes questões: – Estamos estabelecendo com as pessoas envolvidas na negociação uma forma de ob- termos ganhos-mútuos? – Estamos dispostos a abrir mão de parte dos resultados desejados para que haja um acordo, mesmo que não seja com o resultado ótimo? – Vale mais a pena buscar resultados melhores de longo prazo, abrindo mão de resul- tados de curto prazo? Um bom resultado é alcançado no Equilíbrio Nash, posição em que ambas as partes ganham, mesmo que não seja a posição ótima. O resultado é W-W. Buscar nas outras partes uma melhor compreensão do problema, buscar em conjunto a exploração de opções, alternativas e dados para criar valor são algumas das ações específicas desse elemento. Quadro 4: contexto Fonte: Duzert, 2004. 2.2.2. interesses Interesses são preocupações, desejos, necessidades, receios, esperanças e temores mo- tivadores das posições das partes. São valores subjacentes das posições e constituem-se nas razões pelas quais são estabelecidas as posições e as exigências. O problema básico de uma negociação não está nas posições conflitantes, mas sim no conflito entre as necessidades, desejos, interesses e temores de cada um dos lados. É natural que as partes presumam que uma oposição na posição leva a uma oposição nos interesses. Entretanto, uma análise criteriosa dos interesses pode desvendar a existência de uma quantidade muito maior de interesses comuns ou compatíveis do que interesses antagônicos. Negociação 29 Um bom resultado é alcançado no Equilíbrio Nash, posição em que ambas as partes ganham, mesmo que não seja a posição ótima. O resultado é W-W. Quadro 4: Contexto Fonte: Duzert, 2004. 2.2.2. Interesses Inter-organização Domestica Acionista Comunidade Fornecedor Externo Cliente Externo Organização Time Interpessoal Individuo Fornecedor Interno Cliente Interno Chefe Subordinados Pares Pares Inter-organização Internacional Inter-organização Domestica Acionista Comunidade Fornecedor Externo Cliente Externo Organização Time Interpessoal Individuo Fornecedor Interno Cliente Interno Chefe Subordinados Pares Pares Inter-organização Internacional 21FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO A preparação de uma negociação exigirá que cada um dos atores formule, por exemplo, as seguintes questões: – Quais são os nossos interesses? Esclareça seus interesses. – Quais são os interesses da outra parte? Estime os interesses das outras partes – Como procederíamos se estivéssemos no lugar deles? – Existem stakeholders4 envolvidos? – Quais os interesses devem nos preocupar, quais os interesses são compartilhados, quais os interesses são diferentes e quais interesses são conflitantes? – O que você busca atingir nesta negociação? Essas questões deverão levar a uma satisfação dos interesses para que o acordo seja durá- vel.- Resultado desejado Para que os resultados sejam alcançados, deve-se proceder às seguintes ações especí- ficas: – Concentrar-se em interesses e não posições; – Comunicar nossos interesses (talvez não sua intensidade); – Perguntar sobre os interesses deles. 2.2.3. opções Opções são possíveis acordos ou partes de acordos que podem, criativamente, satisfazer ambos os lados. São também maneiras e formas de se utilizar os diferentes interesses para criar valor. Fischer et al (1994) apontam quatro obstáculos que inibem a criação de uma multiplici- dade de opções: (1) o julgamento prematuro; (2) a busca de uma resposta única; (3) a pres- suposição de um bolo fixo; e (4) pensar que “resolver o problema deles é problema deles”. Estes mesmos autores recomendam que para inventar opções criativas, portanto, é pre- ciso (1) separar o ato de criar opções do ato de julgá-las; (2) ampliar as opções a serem apre- sentadas, em vez de buscar uma resposta única; (3) buscar benefícios mútuos; e (4) inventar meios de facilitar as decisões do outro. Para que se possam identificar as diversas opções, colocam-se as seguintes questões: – Quais os modos criativos para harmonizar os interesses? – Que coisas eles valorizam, e que a outra parte não valoriza? Pode-se oferecer uma nova escolha – Que outras idéias poderiam ser buscadas? – Se as partes trabalhassem juntas, que idéias se teria para melhorar a negociação para as duas partes? – De que maneira pode-se lidar com esse problema? Um bom resultado será alcançado quando for definida a melhor dentre muitas opções, ou seja, aquela que tiver a menor perda, que seja elegante, e que ofereça um discurso ven- cedor para ambas as partes. Esse bom resultado dependerá de ações específicas, a saber: – Separar as diversas percepções sobre uma única realidade, da criação de opções. – Criar opções em conjunto, ou seja, todas as partes buscando diversas opções possí- veis a um acordo. 4 Stakeholder pode ser com- preendido como uma pessoa ou um grupo de pessoas afe- tadas por uma decisão ou que desejem fazer parte em uma tomada de decisão em qual- quer nível. (a Short Guide to consensus building – Robert´s Rules of Order. 22FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO 2.2.4. relacionamento Relacionamento corresponde ao padrão geral de como as partes se relacionam, dentro e fora da negociação. É imprescindível um levantamento sobre o histórico dos relacionamentos entre as partes e a preservação e manutenção de um bom relacionamento ao longo de todo o processo. Um bom relacionamento e a construção de um ambiente amistoso facilita a troca de informações, a identificação de interesses, as criações de valor, de opções e de alternativas. Durante a etapa da distribuição de valor as tensões costumam ser maiores e mais inten- sas, desgastando bastante o relacionamento e alterando o comportamento dos participantes. A conclusão dos acordos e a satisfação com os resultados obtidos podem estar diretamente ligadas à qualidade do relacionamento entre as partes. Para se identificar as questões relativas ao relacionamento, pode-se pensar sobre as se- guintes perguntas: – A relação envolve afeto? – Quais os valores são compartilhados? Quais as divergências existentes? Houve apro- vação mútua? – Como está o relacionamento nesse momento? Como você gostaria que estivesse? O que se pode fazer para reduzir a diferença (Gap) com o mínimo custo e risco? – Que tipo de relacionamento as partes desejam? Existe confusão entre problema e relacionamento? Como cada uma das partes vêem o relacionamento? – Você sente que o processo que está sendo utilizado faz sentido? – Fizemos algo ofensivo e/ou insultante? – Deveríamos nós resolver essa questão? – Como se sente o que está sendo negociado ou como as partes estão se sentindo? Em resposta às questões acima, deve-se adotar como ação específica o respeito pelo outro, que é incondicionalmente construtivo. Lide com o problema e o relacionamento se- paradamente, cada um por seus méritos e pense sobre o discurso vencedor da outra parte. Um bom resultado é alcançado com um relacionamento que lide bem com as diferen- ças, durante e após a negociação. Leitura Sugerida 1 : Salacuse, Jeswald W. Ten Ways that Culture Affects Negotia- ting Style; Some Surveys Results. Research Report in Negotiation Journal. Plenun Publishing Corp. Jul/1998Esse texto apresenta o resultado de uma pesquisa realizada em um universo de 370 pessoas de 12 países e com 8 tipos diferentes de ocupação, durante quatro anos. Foram pesquisados profissionais de diferentes áreas, advogados, militares, engenheiros, diplo- matas e pessoas do setor público, estudantes, financistas e contadores, professores e ad- ministradores e marketing, dos seguintes países: Espanha, França, Brasil, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Nigéria, Argentina, China, México e Índia. Constatou-se que a cultura pode influenciar a percepção das pessoas e a utilização de elementos-chave em um processo de negociação. A prática da negociação difere de cultura para cultura. O conhecimento sobre as diferentes culturas ajuda aos negociadores melhor conhecer e interpretar o comportamento de seus parceiros e encontrar atalhos para superar as diferenças existentes. 23FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO caso 1: parKer-GibsoN Informações gerais Os Parkers e os Gibsons são vizinhos. Um terreno desocupado, agora de propriedade dos Parkers, está entre os lotes das duas casas. A área desocupada é menor do que o mínimo exigido pelo regulamento de zoneamento para construção, mas tem valor potencial para os vizinhos adjacentes para “usos acessórios” ou simplesmente como uma área adicional. Os Parkers compraram o terreno alguns anos atrás por USD$ 20.000 pensando que poderiam construir uma quadra de tênis nele, mas nunca levaram adiante seu projeto. Como resultado, os Parkers procuraram os Gibsons para ver se eles gostariam de adquirir a área desocupada. Há muita margem de barganha neste caso. Os Parkers estão se mudando para outro estado e venderão com relutância o terreno por USD$ 15.000 para o comprador de sua casa, se os Gibsons não estiverem interessados. O que os vendedores não sabem é que os Gibsons estão muito interessados, pois recentemente receberam uma herança que plane- jam utilizar para expandir sua casa. 2.2.5. alternativas Alternativas são ações que podem ser realizadas por uma das partes independente dos interesses das outras partes. Negociadores mais habilidosos devem sempre entrar em um processo de negociação com um mapeamento completo sobre a sua melhor alternativa caso o acordo não ocorra. A melhor alternativa para um acordo não negociado – MAANA5 é o custo de ação decorrente de um eventual não-acordo. Segundo Fisher et al. (1994), quanto melhor a MAANA, maior o poder do negociador naquele processo de negociação. MAANA não é estática ou isolada, portanto, um negociador deve buscar, constantemente, a melhoria da sua MAANA e a piora da MAANA da outra parte. Para que se possam identificar as diversas alternativas, coloca-se as seguintes questões: – Qual é sua MAANA? Qual pode ser a MAANA deles? – Podemos melhorar a nossa MAANA? Piorar a deles? – Se nós desistirmos deste acordo para onde ambos iremos? – Você sente que devemos fazer um acordo aqui? – Eu prefiro trabalhar algo conjuntamente? E você? O objetivo é buscar um resultado ou acordo que seja melhor que a nossa MAANA - Re- sultados desejados. Para que os resultados sejam alcançados, deve-se proceder à seguinte ação específica: – Desenvolver nossa MAANA e piorar a MAANA deles, se for legítimo e caso não prejudique a negociação. 2.2.6. comunicação A comunicação é constituída por mensagens e por meios pelos quais as partes trocam informações entre si. Deve ser clara e eficiente. Existem dois fatores importantes e determinantes na qualidade da comunicação: – a eficiência do processo de comunicação e dos canais de comunicação utilizados; e, – o nível de relacionamento e compreensão entre as partes. 5 Melhor alternativa à negocia- ção de um acordo. (FISHER et al. 1994: 17) 24FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO Para um melhor posicionamento do negociador é importante que o mesmo compreenda o estilo de comunicação, direto ou indireto, predominante da cultura na qual a negociação será conduzida, avaliando como as outras partes transmitem as mensagens entre si, por meio de formas complexas ou de canais não convencionais de comunicação. È possível estabele- cer regras e padrões para a comunicação quando percebido o alto grau de animosidade entre as partes ou até mesmo para manter a ordem e garantir a clareza na transmissão de informa- ções. Sem comunicação não há negociação. A negociação é um processo de comunicação bilateral com o objetivo de se chegar a uma decisão conjunta (FISHER et al., 1994:50). Pode-se observar a importância da comunicação entre empresários e negociadores bra- sileiros e chineses que necessitam de um tradutor, imerso no contexto da negociação, que não só traduzirá o conteúdo transmitido pela comunicação direta, como também deverá interpretar a linguagem não falada, transmitindo o significado da comunicação indireta. As mensagens contém fatos (são inquestionáveis); opiniões (deve-se evitar discutií-las); sentimentos (que devem ser levados em consideração); e, negociação não-verbalizada (deve-se aprender com ela e ganhar inteligência. Pode constituir-se em uma fonte de mal entendidos e susceptibilidade). Associadas a comunicação deve-se que observar as seguintes questões: – Estamos ouvindo ativamente o outro? – Entendemos as percepções deles? Como fazê-los entender as nossas percepções? – O que queremos aprender com eles? Como podemos escutar/ouvir melhor? – O que queremos comunicar? O que será persuasivo para eles? Como construir men- sagens sem ambigüidades? – Qual a nossa agenda e plano para negociações? Como começaremos? – Como lidar com desentendimentos? – Se eu entendi você disse…..? – O que você me ouviu dizer? – O que os outros nos escutam falando sobre isso? – Você poderia me ajudar explicando mais sobre como concluiu isso? – Você se importaria de me descrever seu pensamento passo-a-passo? Para que um bom resultado seja obtido, deve-se ouvir antes de falar, mostrar que se ouviu, se entendeu, expor o raciocínio antes das conclusões e falar por nós mesmos não por eles. 2.2.7. tempo Tempo, utilizado como uma variável estratégica, é o tempo necessário para o desenvol- vimento das negociações. O tempo é considerado um fator de muita importância ao longo da negociação, apre- sentando grande valor percebido pelas diversas culturas, independente dos objetivos esta- belecidos pelas partes. Pode ser manipulado estrategicamente, acelerando ou retardando as ações e reações durante o processo, afetando emoções, expectativas e até mesmo a conquista dos interesses e da satisfação como um todo. Conforme apresentado por Fisher et al (1994: 24), “Quanto mais extremadas as posições iniciais e menores as concessões, maiores serão o tempo e o esforço dispendidos para descobrir se o acordo é ou não possível”. Tem-se como exemplo no caso das relações Brasil-China, que os brasileiros se caracte- rizam por uma abordagem mais pragmática, voltada para o problema e visando resultados rápidos, enquanto os chineses se preocupam bastante com o aspecto do relacionamento entre as partes, de adquirir confiança e de um estudo prévio do caso negociado. Portanto, os 25FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO brasileiros devem se preparar para despender mais tempo na etapa de preparo e criação de valor, analisando interesses, e desenvolvendo opções. Questões que devem ser perguntadas pelas partes a fim de dimensionar o planejamento e desenvolvimento das negociações: – Quanto tempo se dispõe para preparar uma negociação e para negociar? – O tempo que uma das partes dispõe é semelhante ao tempo disponível pela outra parte?: – A falta de tempo pode facilitar a quebra de um impasse? ou poderia invia- bilizar o melhor resultado de uma negociação? Um bom resultado pode ser alcançado por meio de: – Contratos contingenciais vinculando uma ação à uma outra ação; – Avaliação da produtividade das negociações que representa tempo e dinheiro;– A demora no julgamento das ações junto ao judiciário tem um custo muito alto;6 – Percepção de risco (atritos, pânico e impressão negativa) difere quando as partes dispõem de diferentes tempos; A definição de um tempo limite (deadline) obriga as partes a convergirem a um resultado de acordo. Riscos: atritos, pânico e impressão negativa. caso 2: sallY sopraNo Informações gerais Sally é uma distinta e experiente soprano que há dois anos não consegue um papel princi- pal. A companhia de ópera, Lírica, vai estrear a peça Norma em três semanas. A soprano selecionada para o papel principal ficou doente e precisará de uma cirurgia, e não há condições para se recuperar a tempo. A Lírica está ansiosa para contratar Sally, e os patro- cinadores autorizaram o gerente da Lírica a oferecer até $45.000 pelo contrato com Sally. Naturalmente a Lírica, uma organização sem fins lucrativos, gostaria de pagar menos, se possível. A soprano originalmente selecionada para o papel principal foi contratada por $30.000 e o papel secundário recebeu $ 14.000 (é prática corrente no mercado remune- rar as cantoras secundárias com a metade da remuneração das principais). Quatro anos atrás, no auge de sua carreira, Sally recebeu $22.000 pelo papel principal, porém, desde então, a inflação e os aumentos na ópera quase duplicaram as escalas de salários. Sally desesperadamente quer esse papel, pois poderia lhe dar a chance de participar de um especial na TV. Ela estaria disposta até a cantar parte da ópera de graça, a não ser pelos impactos e implicações futuras que isso poderia provocar na sua reputação. Seus salários, para papéis secundários, nos últimos dois anos, foram entre $10.000 e $18.000. Há um ano atrás, ela recebeu $12.500 por um papel secundário, na peça Norma pela Companhia Lírica. Há rumores de que no ano passado uma inexperiente soprano, repre- sentando o papel principal, recebeu acima de $24.000. 6 “Justiça é cara para ações de menor valor: estudo mostra que a causa de menos de R$ 500 traz perda financeira para o autor, mesmo que seja vito- rioso, levando-se em conta as custas processuais cobradas, o gasto com advogados e o tempo em que o processo tra- mita até que seja fixada uma sentença. no caso de uma ação de R$ 50 mil, quase 76% desse valor se perderiam ao longo do processo judicial. (Estudo realizado pelo Ministério da Fazenda). OGlobo em 4 dezem- bro 2005. 26FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO 2.2.8. legitimidade Legitimidade refere-se à percepção de quão justo é o acordo ou a proposta realizada. Envolvendo conceitos de justiça e eqüidade os assuntos em discussão serão avaliados e cri- térios eqüitativos devem ser utilizados para análise dos acordos. Alguns instrumentos como princípios, regulamentos, políticas e leis poderão ser utilizados como balizadores e suportes para a avaliação. Dixit e Nalebuff (1994) oferecem mecanismos para tornar crível um compromisso. Por trás destes mecanismos há três princípios subjacentes: o primeiro refere-se à mudança dos retornos do jogo. A idéia é fazer com que o cumprimento do seu compromisso até o fim seja vantajoso para você, transformando uma ameaça em um aviso e uma promessa em uma garantia, que pode ser garantido por meio do estabelecimento de uma reputação e de con- tratos. Isso fará com que seja mais oneroso não cumprir o compromisso do que cumprir. O segundo princípio refere-se em uma modificação do jogo de modo a inibir o desvio a um compromisso anteriormente agendado. Pode-se utilizar os seguintes estratagemas: cortar as linhas de comunicação, destruir as pontes que permitem um recuo e, deixar o resultado ao acaso. O terceiro princípio refere-se à manutenção do compromisso. Uma equipe pode alcan- çar uma maior credibilidade que um indivíduo, para isso construa credibilidade através do trabalho em equipe. É possível também, contratar outras pessoas para agirem em seu nome, assim, empregue agentes negociadores com poderes delegados. O negociador deve se preocupar com a conformidade e legitimidade, buscando infor- mações e apoio de profissionais que conheçam o ambiente em que o negócio estará sendo desenvolvido. Deve-se considerar para a avaliação, as seguintes questões: – São utilizados critérios objetivos e persuasivos? – Os atores estão abertos à persuasão? Identificar os temores e buscar soluções de como lidar com eles. – Que padrões aplicaria um juiz / árbitro? – O que “DEVE” dirigir um acordo? – O que eles argumentarão e quais as nossas melhores respostas? – Porque você acha que devemos fazer isso? – Que benchmarks você possui que o faz pensar que isso é correto? – Se você fosse eu como você justificaria isso para os outros? – De onde vêm estes números? Um bom resultado será alcançado quando as partes não se sentem roubadas, tratadas injustamente, e mantém sua credibilidade sempre protegida. Esses resultados dependerão de ações específicas com critérios objetivos para: – Persuadi-los de que estão sendo tratados com justiça; – Proteger-se de tratamento injusto. Estar aberto a argumentos racionais, sem ceder à pressões 27FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO caso 3: terMiNatioN teMpest Informações Gerais: Paulo Antunes trabalhou 15 anos na Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. e foi desligado em junho passado, um ano e meio depois de completar 65 anos. Entrou com uma ação com base na Lei Federal de Discriminação a Idosos, alegando que seu desliga- mento seguiu a política ilegal de aposentadoria compulsória da Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. e que o seu território de vendas foi entregue a um vendedor mais jovem, de 35 anos. A reclamação e os meios de provas até o presente indicam que os seguintes fatos são incon- testes: Paulo Antunes veio trabalhar na Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. depois que deixou sua principal concorrente, que faliu depois de uma aquisição alavancada7 mal-suce- dida. Naquela época, tinha 51 anos e deu graças a Deus de poder encontrar um emprego no setor de equipamentos e suprimentos para restaurantes. Antunes começou a trabalhar num projeto, desenvolvendo pequenos trabalhos de marketing, levantamentos junto a clientes e ao setor etc. A Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. era na época, e continua sendo, um negócio familiar. A empresa era pequena, menos de 10 pessoas trabalhavam lá, e vendia principalmente para os restaurantes da região Nordeste dos Estados Unidos. Antunes traba- lhou como “gerente de operações” interno durante alguns anos, tomando pedidos pelo te- lefone. Há onze anos (cinco anos depois de entrar na Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda.), concordou em passar a vendedor comissionado. Embora os territórios que lhe foram designados e as comissões acordadas tenham sofrido alguns ajustes, Antunes continuou em vendas comissionadas pelos próximos dez anos. A companhia agora emprega mais de 25 pessoas. Mais ou menos seis meses antes de completar 65 anos (em dezembro, há dois anos), Rober- to Kane chamou Antunes à sala da Presidência e lhe disse que segundo a política da com- panhia, os funcionários deviam aposentar-se aos 65 anos. Antunes ficou inconsolável. Ele sabia que o pai de Kane tinha trabalhado até os 80. Porém, ao objetar, Kane puxou o velho manual de políticas da companhia da prateleira e lhe mostrou o parágrafo que estabelecia que todos os funcionários deviam aposentar-se aos 65 anos. “É mais fácil e mais justo para todo mundo desta forma”, disse Kane. “Além disso, já é hora de você descansar, viajar um pouco”. Alguns dias depois, o território de Antunes foi reduzido e alguns dos principais clientes do resto de seu território foram “transferidos” para Marina Mascarenhas, uma jo- vem de 35 anos, que antes cobria a região do alto de Nova York e Connecticut. Durante a festa do Natal na Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda., os Kane patro- cinaram uma festa-surpresa de aposentadoriapara Paulo Antunes, em homenagem ao seu tempo de serviço. Fizeram discursos, elogiando sua lealdade e seu trabalho, e lhe presen- tearam com passagens para um cruzeiro ao redor do mundo com sua família. Antunes tirou duas semanas de férias e no início de janeiro voltou à Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda., entrou na sala de Kane e disse: “Quero meu emprego de volta”. Tinha consultado um advogado e este lhe afirmou que aquela política de aposentadoria compulsória era ilegal. Surpreso, Kane prometeu falar com Antunes depois de consultar o advogado da companhia. Quando o advogado confirmou o que dizia a lei, Kane ofere- ceu a Antunes o cargo de vendedor comissionado. “Espero que não haja ressentimentos”, disse Kane. “Eu não sabia que estava agindo ilegalmente. Porém, a essa altura, não seria justo para com Maureen ou para com os clientes se voltássemos atrás. Vamos fazer alguns ajustes razoáveis no território.” Antunes concordou, “desde que eu tenha uma chance justa de fazer o meu trabalho”. 7 LBO = Leveraged Buy-out 28FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO Um ano depois, a Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda. o demitiu, alegando baixo desempenho nas vendas. Antunes entrou com uma ação judicial, afirmando que as ale- gações eram falsas, que se houve queda de desempenho esta tinha sido orquestrada pela Kane Suprimentos para Restaurantes Ltda., através de ajustes propositados feitos nos territórios de vendas, no intuito final de defender uma política ilegal de aposentadoria. Antunes exige R$ 6.750.000 em danos, já que a Lei Federal de Discriminação a Idosos determina que a indenização seja triplicada. O caso está em andamento há aproximadamente um ano. Foram apresentadas provas substanciais, embora os advogados aleguem que ainda falta tomar uma série de depoi- mentos. Através do advogado, Kane sugeriu que as partes participem de uma conferência conciliatória para tentar resolver o litígio. Antunes e seu advogado concordaram. 2.2.9. concessões / compromissos Compromissos são declarações sobre as intenções do que as partes pretendem fazer no futuro. Dixit e Nalebuf (1994) acreditam que uma concessão hoje pode revelar-se uma estratégia melhor de longo prazo. Kahneman e Tversky (1982) demonstraram que surgem diferenças importantes nas reações de indivíduos à perguntas estruturadas, no que se refere à perdas e ganhos. Esta diferença é crítica para descrever o comportamento do negociador e para deter- minar sua disposição ou indisposição para realizar concessões. Para se preparar para a realização, recomendação ou indução de concessões é necessário compreender a importância da “estruturação” em negociações. O que determina se um negociador terá uma estrutura positiva ou negativa será a seleção de uma âncora perceptiva. Em negociação, ambos os lados falam, tipicamente, em termos de um certo preço ou meta que “tem de” conseguir – estabelecendo um ponto de referência alto contra o qual são me- didos ganhos e perdas. Quando isso acontece, qualquer acordo que fique longe do ponto de referência será visto como uma perda. Esta perda percebida leva os negociadores a adotarem uma estrutura negativa para todas as propostas de acordo a exibirem um comportamen- to de tolerância ao risco e a demonstrarem que há pouca probabilidade de chegar a um acordo. Para evitar esses efeitos adversos da estruturação, negociadores devem estar sempre conscientes de suas estruturas e considerar a possibilidade de adotar estruturas alternativas (BAZERMAN, 2004). Os efeitos da estruturação sugerem que para induzir um comportamento favorável a concessão em um oponente, um negociador deve sempre criar âncoras que direcionem a oposição para uma estrutura positiva. Isso significa que você estará negociando em termos do que o outro lado tem a ganhar, aumentando assim as oportunidades para trocas e com- prometimentos. E mais, quando reconhecer que seus oponentes têm uma estrutura negati- va, deve incentivá-los a reconhecer que adotaram uma estratégia arriscada em uma situação em que é possível um ganho certo (BAZERMAN, 2004). Para que compromissos sejam definidos, algumas questões devem ser colocadas: – Qual é a nossa autoridade? E a deles? – Você tem autoridade para decidir sobre isso? – Qual a autoridade que queremos ter? – O que seria um acordo equilibrado e bem construído? – Quais os mecanismos definidos para modificar os acordos durante o tempo? – Quais seriam os bons produtos desta reunião? – Os compromissos têm credibilidade? Há incentivos para cumpri-los? 29FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO – Há um contrato que define deveres e obrigações entre as partes? – Qual é o propósito desta reunião? – Outros precisam estar aqui para terminar? – Podemos listar possíveis tópicos em uma lista de um acordo final? – Deixando de lado os termos específicos, o que precisamos para uma cláusula como esta? – Podemos acordar que nada será finalmente fechado antes que tudo esteja terminado? Um bom resultado será alcançado quando bem planejado, que significa serem reais e operacionais. Para a que os compromissos sejam passíveis de realização, devem ser observadas as se- guintes ações específicas: – Comprometimento, das partes, com o processo; – Evitar definir compromissos até ter ouvido e aprendido o suficiente; – Formular compromissos em conjunto, simulando o compromisso e esclarecendo situações de compromisso – direitos e obrigações. 30FGV DIREITO RIO nEGOcIaçãO caso 4: MultiMode Informações Gerais J. Arnold é um dos três Vice-Presidentes da Multimode, empresa internacionalmente conhecida, sediada nos EUA, fabricando e distribuindo equipamentos de comunicação. Arnold está há sete anos na empresa – crescendo dentro de DRH e hoje ocupa a Vice- Presidência de Desenvolvimento de Recursos Humanos (DRH). Antes da Multimode, Arnold trabalhou dez anos em uma concorrente da Multimode. Multimode possui três diferentes divisões. A original e maior divisão é a divisão fabril da Multimode, com 8.000 funcionários e fábricas em oito cidades. A divisão Multimode - Serviços de Comunicação, a menor divisão, com 4.000 funcionários, está localizada em quatro cidades. A terceira divisão surgiu quando a Multimode adquiriu a subsidiária Tonepitch do Canadá. A Tonepitch tem 5.000 funcionários e opera completamente in- dependente da Multimode com sua própria gestão. T. Boyd é um dos Vice-Presidentes para orçamento e finanças na Multimode. Boyd é responsável pelo acompanhamento dos processos dos orçamentos anuais. Boyd está na Multimode há dez anos, ocupando várias funções antes de se tornar o VP de orçamento e finanças ano passado. Boyd tem a reputação, por toda a empresa, de ser um gerente duro e com ambição ilimitada. Boyd acabou de finalizar uma revisão detalhada do orçamento preliminar de cada de- partamento para o próximo ano fiscal. Boyd está se reunindo com as lideranças de cada departamento para comunicar as recomendações de J.James (CEO) sobre as recomenda- ções para os orçamentos do próximo ano. A Multimode tem obtido bons resultados nos últimos cinco anos, com a receita bruta crescendo a taxa média de 11% ao ano durante o período. Entretanto, os custos têm crescido a taxas equivalentes. Se não fosse pelos espetaculares lucros da divisão Tonepitch, a Multimode não se apresentaria, nem de perto, tão lucrativa quanto se mostra. James (CEO) solicitou a Boyd que os gastos para o próximo ano não pedem crescer acima de 5%. James também deseja que a produtividade geral cresça. Arnold e Boyd se reunirão para discutir a reação de Boyd ao orçamento para DRH requi- sitado por Arnold. A pesar das diretrizes informadas por Boyd, indicando que nenhum departamento deve ultrapassar os 5% de crescimento no orçamento, Arnold requisitou um aumento de 8% no orçamento para DRH. Arnold anexou uma incrível quanti- dade de informações suportando seu orçamento, incluindo gráficos demonstrando
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