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Bioética Eutanásia e testamento vital Ana Paula de Ma+os Arêas Dau e-mail: ana.areas@ufabc.edu.br 23/07/2018 Vontade do paciente • Relação paternalista vs relação equânime • Respeito à dignidade humana • Beneficência vs autonomia 2 de 29 Origem da eutanásia • O termo foi cunhado por Francis Bacon (1561-1626) e significa boa morte. • A práUca é muito mais anUga, remonta à Roma e Grécia anUga. • A rejeição à práUca da eutanásia veio com a popularização do judaísmo e do crisUanismo. • Centros de “eutanásia” nazistas eliminaram 100 mil prisioneiros. Por isso, houve deturpação do termo. • Discussão sobre a eutanásia só voltou a ser feita nos anos 60. • Desenvolvimento das técnicas de manutenção da vida torna ainda mais urgente essa discussão. 3 de 29 Decisões do tratamento • Eutanásia: ação leva ao término da condição vital do paciente; • A1va • Passiva • Ortotanásia: restringir o tratamento para miUgar a dor e o sofrimento. Para alguns autores, ortotanásia é a eutanásia passiva. Para outros é a mesma coisa que a sedação paliaUva; • Distanásia: manter o paciente vivo a qualquer custo. 4 de 29 Tratamento fútil É aquele que não gera qualquer benebcio para o paciente, mas o preserva vivo por moUvos imperiosos, por exemplo, até aguardar a chegada de um familiar; Tratamento fúUl para pacientes terminais é o que atende o melhor para o paciente? Distanásia. • Leitos limitados em UTIs – uUlitarismo; • Princípio de autonomia do paciente; • Princípio de beneficência duvidoso. 5 de 29 Motivações do paciente pra querer o término da vida • Sofrimento ou dor intensas, frequentes, por vezes, próximo do insuportável fruto de doença incurável; • Condição bsica praUcamente incapacitante, perda significaUva de qualidade de vida e autonomia para funções do coUdiano; • Falta de esperança na vida, sem indícios de depressão. 6 de 29 Eutanásia vs suicídio assistido • Ambos tem a finalidade de abreviar a vida do paciente; • No suicídio assisUdo, é o próprio paciente que atua na morte, tomando um medicamento, por exemplo, enquanto na eutanásia há a intervenção direta de um profissional de saúde. 7 de 29 Eutanásia e o consentimento • Voluntária: o paciente é um adulto competente no senUdo cogniUvo e psíquico. • Involuntária ou não-voluntária: Involuntária – contra a vontade do paciente. Não-voluntária – procedimento executado independente da manifestação do paciente. Exemplo de eutanásia não-voluntária: Pacientes idosos com capacidade cogniUva ou psíquica compromeUda; crianças. 8 de 29 Percepção sobre eutanásia e suicídio assistido no mundo • Uruguai: leis (anos 1930) permitem ao juiz isentar de culpa médico que faça eutanásia em condições especiais, mas facilitar suicídio assisUdo é crime; • Holanda: primeiro país a legalizar e regulamentar a eutanásia e o suicídio assisUdo, inclusive em menores de idade com autorização dos pais - 2002; • Bélgica: Como a Holanda, permite eutanásia e suicídio assisUdo desde 2002. Antes não permiUa eutanásia em pacientes menores, mas permiUa a práUca em pacientes sem estar em estado terminal. Desde 2014, permite-se eutanásia em pacientes de qualquer idade, mas somente em estado terminal. • Luxemburgo: Desde 2009 as duas práUcas são permiUdas. 9 de 29 Percepção sobre eutanásia e suicídio assistido no mundo • Canadá: Desde 2016, os dois procedimentos são permiUdos. • Colômbia: 1997 - a Corte ConsUtucional Colombiana decidiu pela isenção de responsabilidade penal daquele que cometesse o chamado homicídio piedoso, desde que houvesse consenUmento prévio e inequívoco do paciente em estado terminal. Entretanto, pela ConsUtuição, homicídio piedoso era crime, até 2015. • EUA: a eutanásia propriamente dita não é permiUda, mas sim o suicídio assisUdo em alguns estados, como o Oregon, onde Bri+any Maynard morreu. Suicídio assisUdo é permiUdo desde novembro de 2016 na Califórnia. Eutanásia passiva é permiUda no Texas. • França e Alemanha: França permite os dois procedimentos. Na Alemanha, a legislação é mais obscura. As práUcas não consUtuem crime, a não ser por moUvação comercial. O código de éUca alemão rechaça as duas práUcas. 10 de 29 O Caso da Suíça A eutanásia é proibida sob qualquer circunstância. Possui duas associações locais para morte assisUda (suicídio assisUdo): Dignitas e Exit Dignitas atende pacientes estrangeiros. Exit atende somente cidadãos suíços ou estrangeiros residentes na Suíça. 11 de 29 Stephen Hawking (1942-2018): eutanásia não-voluntária negada pela esposa 12 de 29 Caso de Brittany Maynard (1984-2014) 13 de 29 Mensagem Uinal de Brittany Maynard – 29 anos "Adeus a todos os meus queridos amigos e parentes que amo. Hoje é o dia que escolhi parUr com dignidade diante de minha doença terminal, este terrível câncer cerebral que Urou tanto de mim ... mas que poderia ter tomado muito mais... O mundo é um lugar bonito, viajar foi meu melhor professor, meus amigos próximos e meus pais são os maiores doadores. Tenho inclusive um círculo de apoio ao redor da minha cama enquanto escrevo ... Adeus mundo. Espalhem boa energia. Vale a pena!” 14 de 29 Eutanásia e ortotanásia no Brasil • No Brasil a eutanásia é Upificada como homicídio privilegiado pelo Código Penal: “Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. • Caso de diminuição de pena: • § 1º Se o agente comete o crime impelido por moUvo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da víUma, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.” 15 de 29 Eutanásia e ortotanásia no Brasil • A própria exposição de moUvos do Código Penal elenca, dentre os exemplos de homicídio privilegiado, a práUca de suicídio assisUdo: A morte assisUda, por sua vez, é considerada crime de indução, insUgação ou auxílio a suicídio: “Art. 122 - Induzir ou insUgar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se da tentaUva de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.” • § 1º Se o agente comete o crime impelido por moUvo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da víUma, ou juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.” 16 de 29 Eutanásia, ortotanásia e distanásia no Brasil • O Código de ÉUca Médica de 1988, por fim, estabelece o seguinte: • “Art. 6º. Art. 6 - O médico guardará absoluto respeito pelo ser humano e atuará sempre em seu benebcio. Jamais uUlizará seus conhecimentos para causar sofrimento bsico ou moral, para o extermínio do ser humano ou para permiUr e acobertar tentaUva contra sua dignidade e integridade. • Art. 66. UUlizar, em qualquer caso, meios desUnados a abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu responsável legal.” • Percebe-se, assim, que a legislação brasileira não admite a eutanásia, legislação esta que é considerada retrógrada por muitos juristas, tendo em vista a legislação de outros países. 17 de 29 Eutanásia,ortotanásia e distanásia no Brasil • O Código de ÉUca Médica de 2010, estabelece o seguinte: • No seu Capítulo I, que cuida dos Princípios Fundamentais, proclamou o seguinte: • "XXII Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósUcos e terapêuUcos desnecessários e propiciará sob sua atenção todos os cuidados apropriados ". • No Capítulo V, que trata da relação com pacientes e familiares, ficou estabelecido o seguinte: É vedado ao médico (art. 41) "abreviar a vida do paciente, ainda que a pedido deste ou de seu representante legal". 18 de 29 Eutanásia, ortotanásia e distanásia no Brasil • No parágrafo único do Código de ÉUca médica de 2010 se lê: "Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cu idados pa l i aUvos d i spon í ve i s sem empreender ações diagnósUcas ou terapêuUcas inúteis ou obsUnadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal". 19 de 29 Críticos da legislação brasileira • Autores como Luis Flávio Gomes defendem que o legislador deveria dar mais atenção ao assunto. Considera ele a eutanásia e a morte assis1da condutas não criminosas, pois não existe o resultado “desvalioso” ou arbitrário. Pelo contrário, o agente atua imbuído em sen1mento da mais absoluta nobreza, em prol da dignidade humana. Não se trata, portanto, de morte arbitrária. 20 de 29 Eutanásia criminosa 21 de 29 Testamento vital ou Declaração prévia de vontade para o Uim da vida • Documento no qual se esUpula que certos procedimentos médicos não devem ser uUlizados para manter o signatário vivo em circunstâncias específicas ou as “procurações para a tomada de decisões em questões médicas”. Ou seja, documento que indica outras pessoas para tomar decisões de vida e de morte em nome do signatário quando este já não Uver condições de tomá-las. • Adotado em muitos países, ele tenta mostrar a vontade antecipada do paciente em algumas situações. 22 de 29 Testamento vital no Brasil • No arUgo 15 do Código Civil, o legislador consagrou o princípio da liberdade de escolha do indivíduo, podendo este recusar a se submeter a certos tratamentos, beneficiando tão somente os pacientes em estado terminal, onde diz que “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”. 23 de 29 Resolução do CFM (1995/2012) sobre testamento vital Art. 1º Definir direUvas antecipadas de vontade como o conjunto de desejos, prévia e expressamente manifestados pelo paciente, sobre cuidados e tratamentos que quer, ou não, receber no momento em que esUver incapacitado de expressar, livre e autonomamente, sua vontade. 24 de 29 Resolução do CFM (1995/2012) sobre testamento vital Art. 2º Nas decisões sobre cuidados e tratamentos de pacientes que se encontram incapazes de comunicar-se, ou de expressar de maneira livre e independente suas vontades, o médico levará em consideração suas direUvas antecipadas de vontade. § 1º Caso o paciente tenha designado um representante para tal fim, suas informações serão levadas em consideração pelo médico. § 2º O médico deixará de levar em consideração as dire1vas antecipadas de vontade do paciente ou representante que, em sua análise, es1verem em desacordo com os preceitos ditados pelo Código de É1ca Médica. § 3º As dire1vas antecipadas do paciente prevalecerão sobre qualquer outro parecer não médico, inclusive sobre os desejos dos familiares. 25 de 29 Resolução do CFM (1995/2012) sobre testamento vital § 4º O médico registrará, no prontuário, as direUvas antecipadas de vontade que lhes foram diretamente comunicadas pelo paciente. § 5º Não sendo conhecidas as direUvas antecipadas de vontade do paciente, nem havendo representante designado, familiares disponíveis ou falta de consenso entre estes, o médico recorrerá ao Comitê de BioéUca da insUtuição, caso exista, ou, na falta deste, à Comissão de ÉUca Médica do hospital ou ao Conselho Regional e Federal de Medicina para fundamentar sua decisão sobre conflitos éUcos, quando entender esta medida necessária e conveniente. 26 de 29 Exemplo de conteúdo do testamento vital • O oncologista Andrey Soares cita o que gostaria no seu próprio testamento vital: “Não quero ser submeUdo a nenhuma medida invasiva no fim de minha vida. Se precisar ir para UTI para ser entubado, por exemplo, prefiro ser sedado. Também não quero ser alimentado e hidratado, caso tais procedimentos sirvam apenas para postergar minha morte, de maneira sofrida. Além de conviver com frequência devido a minha especialidade, perdi minha mãe para uma doença que a fez sofrer por um longo período. Optamos, eu e minha família, por não submetê- la a terapias invasivas e desnecessárias. Minha mãe morreu no quarto, sedada, em paz”. 27 de 29 Outro exemplo de testamento vital “Eu, Ana Cláudia Arantes, diante de uma situação de doença grave e, progressão e fora de possibilidade de reversão, apresento minhas diretrizes antecipadas de cuidados à vida. Se chegar a padecer de alguma enfermidade manifestamente incurável, que me cause sofrimento ou me torne incapaz para uma vida racional e autônoma, faço constar, com base no princípio da dignidade da pessoa humana e da autonomia da vontade, que aceito a terminalidade da vida e repudio qualquer intervenção extraordinária, inúUl ou fúUl. Ou seja, qualquer ação médica pela qual os benebcios sejam nulos ou demasiadamente pequenos e não superem os seus potenciais metabsicos. As diretrizes incluem os seguintes cuidados: admito ir para UTI somente se Uver alguma chance de sair em menos de uma semana; não aceito que me alimentem à força. Se não puder demonstrar vontade de comer, recuso qualquer procedimento de suporte à alimentação; não quero ser reanimada no caso de parada respiratória ou cardíaca”. 28 de 29 Para fazer após a aula • Leiam o capítulo 6 do livro base da disciplina: Eutanásia e testamento vital • Assistam ao vídeo: • Eutanásia – do filme Menina de Ouro - na ferramenta Vídeos do Tidia ou no link: • h+ps://www.youtube.com/watch?v=5peafeHFSVY • Acessem a ferramenta A0vidades e façam a aUvidade referente a essa aula, seguindo as instruções. • Perguntas norteadoras da reflexão sobre a aula: Você considera adequada a legislação brasileira sobre eutanásia e suicídio assisUdo? Os dois procedimentos deveriam ser liberados? Quais os princípios bioéUcos envolvidos nessa questão? Sobre o testamento vital, você acha que a existência desse documento é bem divulgado para a população? 29 de 29
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