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Dermatologia – S7 Acd.: Isabelle Furquim Guimarães ECZEMAS Definição: São um grupo de dermatoses inflamatórias, pruriginosas, com características clinicas e histopatológicas comuns e muito bem definidas. Na prática, pode ser chamado de dermatite, apesar da diferença conceitual entre tais termos. As lesões elementares presentes são: eritema, edema, vesículas, crostas e descamação Podem se apresentar em quadros agudos (erupção eritematovesiculosa ou eritematopapulovesiculosa), subagudos (eritematocrosta) e crônicos (eritematoescamosa). Ou seja, a lesão inicialmente pode conter exsudação, que com o tempo irá secar, formando crostas e depois descamando. Vale lembrar que, com a cronicidade do processo, pode ocorrer liquenificação Epidemiologia: as mais comuns são, em ordem decrescente – eczema de contato, atópico e seborreico Etiologia: - Eczema exógeno: Dermatite de contato por irritante primário e Dermatite de contato alérgica (DCA) - Eczema endógeno: Dermatite atópica e Dermatite seborreica 1. Dermatite de contato por irritante primário (DCIP) Surge do efeito tóxico e pró-inflamatório de algumas substancias alcalinas ou ácidas fracas, que não causam queimaduras ou necrose, mas causam irritação cutânea, que pode ocorrer horas depois do contato (caso seja um irritante forte), ou semanas de contato contínuo com agentes irritantes mais fracos. O prurido, em geral, é discreto ou ausente. ➔ Produtos químicos vão causar danos em qualquer pessoa, a depender do ambiente. Não precisa de um primeiro contato antes, por isso o nome Dermatite de contato por irritante primário. Não é alergia, é reação ao contato. Já a dermatite alérgica, tem que ter o primeiro contato, para estimular a resposta imunológica, para depois ter alergia. Então, por exemplo, é diferente a dermatite quando se tem contato com agua sanitária, e a do plástico (alérgica). Existe variação na susceptibilidade de cada individuo e também da região do corpo exposta, uma vez que a presença de irritação depende da espessura da camada córnea, sendo mais comum quando há o contato de locais de pele mais fina com o irritante. Além disso, o contato crônico e gradativo ao irritante é capaz de promover um espessamento epidérmico (forma de se proteger) É frequente surgir DCIP como dermatose de caráter ocupacional. Como ex.: dermatite das mãos de dona de casa por detergentes e sabões alcalinos *Ex.:Fitodermatose: dermatose causada pelo contato com plantas. Ex.: limão oxidado pelo sol Quadro clínico: ➔ É restrita ao local aonde teve CONTATO! - Prurido, sensação de dor, sensação de queimação - Não necessita de contato prévio - Não cria memória Tratamento - Identificação e eliminação do irritante - Uso de corticoide é controverso, mas pode ser útil como anti-inflamatório - Pimecrolimus: alternativa ao corticóide tópico de baixa potencia - Emolientes na liquenificação - Casos crônicos ou graves: fototerapia (diminuir reação inflamatória em casos crônicos, que persistem mesmo após diminuir exposição ao agente) ➔ Para o tratamento, importa mais a FASE da doença, do que a ETIOLOGIA! Outro exemplo é a dermatite de contato com irritante primário das fraldas: A dermatite das fraldas é uma reação inflamatória que acomete as regiões cobertas pela fralda, sendo mais intensa nas superfícies convexas. Sua etiopatogenia envolve vários fatores. A princípio, o uso continuo e direto da fralda causa oclusão constante da pele, tornando a epiderme úmida. Esta, por sua vez, é mais susceptível ao dano friccional da fralda, tornando-se mais permeável aos irritantes da urina e fezes (ureia+amônia). Além de se tornar propensa a infecções secundárias. Quadro clínico: Caracteristicamente, a lesão inicial é eritematosa e brilhosa, que pode evoluir para edema, pápulas, vesiculação, erosões e até mesmo ulcerações. Como diferenciar da fungos? Na dermatite da fralda, em geral, POUPA AS DOBRAS. Ocorre apenas onde tem o contato. Já fungos acometem as dobras. Em casos em que ocorre a dermatite das fraldas repetidamente e sem tratamento adequado, pode surgir sua manifestação mais avançada denominada Dermatite das fraldas erosiva de Jacquet, com nódulos e pápulas, simulando condiloma sifilítico ou com erosões e ulcerações arredondadas. Tratamento: Uso de emolientes espessos (barreira contra urina e fezes) com óxido de zinco. Recomendar a troca de fraldas mais frequentes ou a redução do uso das mesmas. Cetoconazol ou nistatina tópicos se houver candidíase associada (quando surge o acometimento das dobras). Antibióticos tópicos se infecção bacteriana secundária. E hidrocortisona a 1% por curto período em casos mais avançados. Vale ressaltar que o uso de sabonete, antissépticos, loções higienizadoras e lavagens constantes exacerba a irritação e o processo inflamatório O granuloma glúteo infantil surge devido ao uso de corticoide por longo período ou de alta potencia no tratamento dessa dermatite. Caracteriza-se por nódulos acastanhados ou violáceos assintomáticos na região das fraldas. O tratamento é a suspensão do corticoide. OBS.: evitar corticoesteroides (CE) tópico prolongado, pois torna a pele mais fina, facilitando a sensibilidade 2. Dermatite de contato alérgica Definição: Dermatite que pode se apresentar de 3 maneiras, sempre com muito prurido. Alguns casos a evolução pode ser intermediaria (ex.: agudização de tipo crônico). É caracterizada pelo envolvimento do sistema imune, com hipersensibilidade do tipo IV (retardada ou mediada por células) Fisiopatogenia: Necessita de contato prévio, entretanto o tempo do processo de sensibilização depende do poder sensibilizante da substancia, podendo ser de poucos dias ou horas, até anos após o contato. Portanto, é esperado o paciente questionar o diagnóstico, pois sempre usou determinado produto e nunca teve aquela manifestação antes. A hipersensibilidade adquirida persiste por toda vida, mas alguns casos pode ocorrer tolerância à exposição continuada (cura). Pode ocorrer reação cruzada. Eventualmente, pode ocorrer lesões à distancia por disseminação do alergênico pelas mãos ao se coçar. Além disso, quadros avançados podem se manifestar como eritrodermia e, menos frequente, impetiginização. - Compostos sensibilizantes: elementos mineirais ou orgânicos, metais (níquel), antibióticos, cosméticos, borracha, plástico. Reação cruzada pode ocorrer. Quadro clínico: depende da fase em que a doença está: - Aguda: eritema, vesículas, exsudação e crostas - Subaguda: eritema, pápulas, escamas e crostas - Crônica: liquenificação O recall dermatitis se refere à reativação de lesões locais previas desencadeadas pela exposição sistêmica a determinado agente. Se o estimulo permanecer, pode evoluir para eritrodermia. A síndrome do babuíno (erupção medicamentosa simétrica exantemática intertriginosa e flexural) é uma reação do tipo IV que ocorre decorrente da ingestão de pacientes previamente sensibilizados, em especial, a medicamentos (amoxicilina, paracetamol, quinolonas, omeprazol) e outros. Trata-se de erupção eczematosa simétrica que acomete as axilas, cotovelos, pálpebras e região das nádegas. É uma espécie de recall dermatites. Diagnóstico: - Mapeamento topográfico: correlacionar o local do eczema com a exposição - Seletividade profissional: avaliar se a ocupação expõe a determinados antígenos - Seletividade utilitária: pela morfotopografia questiona-se os produtos deuso diário ou esporádico relacionados à aquele local - Correlação antígeno/utilidade: depois de determinar os antígenos que o pct é sensibilizado, procurar relacionar tal antígeno com objetos que o contenha e são usados pelo mesmo Teste de contato: deve-se ressaltar que algumas substancias positivas ao teste podem não estar relacionadas ao eczema, e substancias envolvidas podem não ter sido testadas. Existe a bateria padrão e pode-se adicionar elementos de acordo com a ocupação ou exposição do paciente. Para o teste, a doença deve estar em fase inativa (para não ter risco de reação cruzada) e não deve estar em uso de corticoides. Realiza-se a primeira leitura após 48h e a segunda após 96h: ( -) negativo ( +) discreto eritema com algumas pápulas ( ++) eritema, pápulas e vesículas ( +++) intenso eritema, pápulas e vesículas confluentes. Pode existir múltiplas positividades a diferentes grupos, com falsos positivos, caracterizando a síndrome da pele excitada. Além disso, em caso negativo, recomenda-se a exposição solar, pois esta pode potencializar algumas reações da DCA Diagnóstico diferencial: dermatofitoses, dermatofítides, psoríase, farmacodermias Tratamento e prevenção: ▪ Uso de EPI no trabalho ▪ Produtos hipoalergênicos ▪ Afastar o agente causal ▪ Tratar infecções secundárias A conduta da DCA depende da fase e extensão do quadro: ▪ Fase aguda (alívio): compressas úmidas com soluções antissépticas (permanganato de potássio 1:40.000 ou ácido bórico 1 a 2%) nas primeiras 24h para diminuir a irritação, corticoides tópicos ou VO, anti-histamínico VO, ATB Comentado [I1]: impetignização: Superinfecção por germes piogênicos de uma afecção cutânea preexistente ou de uma ferida, caracterizada pela formação de crostas semelhantes às do impetigo. Quando há impetiginização das lesões podem ocorrer eritema, edema, dor, prurido, pústulas, supuração, úlceras e deformidades dos dedos Comentado [I2]: Agravamento: eritema generalizado, por vezes, com descamação Comentado [I3]: Exantema vs eritema: o exantema são manchas eritematosas disseminadas Comentado [I4]: Os anti-histaminicos não estão relacionados ao mecanismo fisiopatogênico do eczema de contato Comentado [I5]: Síndrome da Pele Excitada (SPE), caracteriza-se pela presença de múltiplos testes de contato positivos e nem todos são reproduzidos quando o paciente é retestado. Vários fatores interferem na indução desse quadro, entre eles a presença de testes fortemente positivos, a dermatite crônica e a presença de dermatite em fase ativa no momento da aplicação do teste Comentado [I6]: Não deve ser usado no tto de grandes áreas em crianças pelo potencial nefro e neurotóxico ▪ Subaguda: CE tópico ou VO, anti-histamínico VO ▪ Crônica: CE tópico ou VO, anti-histamínico, lubrificantes locais ▪ Casos generalizados de eritrodermia: prednisona 0,5 mg/kg de peso Obs.: imunomoduladores tópicos (inibidores da calcineurina – tacrolimo e pimecrolimo) mostram-se efetivos na DC das mãos O eczema por alergia a esmalte geralmente se manifesta nas pálpebras DCIP DCA Pessoas de risco Todas Predispostas geneticamente Mecanismo Não imunologico Hipersensibilidade retardada Remissão Rápida, após retirada do agente Lenta, mesmo após retirada do agente Tratamento Proteger e diminuir a exposição Evitar totalmente a exposição Lesão Geralmente limitada à região de contato Disseminação à distancia Depende da concentração e tempo de exposição Menor dependência da concentra e tempo de exposição Não há reconhecimento antigênico, teste de contato negativo Há reconhecimento antigênico, teste de contato positivo 3. Dermatite atópica (DA) Definição: trata-se de uma dermatose crônica de evolução flutuante, sendo a principal manifestação cutânea de atopia. É uma doença genética, com evidentes alterações no sistema imunológico, influenciada por fatores ambientais e, eventualmente, emocionais. Etiologia: multifatorial. Como causas ambientais e fatores psicológicos. Mas é importante lembrar do fator genético Epidemiologia: incidência varia em função da localização geográfica, condições climáticas, nível socioeconômico e poluição Quadro clínico: quadro cíclico com períodos de crise e calmaria. Especialmente na criança. No adulto, quando começa aumentar a produção sebácea, o quadro “cura-se”, mas retorna ao envelhecer, com a redução da produção sebácea Prurido intenso e sempre presente, pele xerótica, diminuição das glândulas sebáceas, alterações sudorais * A pele com xerose é mais propensa às manifestações atópicas - Imunidade humoral: o anticorpo envolvido é o IgE, com aumento da susceptibilidade à reações anafiláticas - Imunidade celular: diminuição das respostas de hipersensibilidade retardada, evidenciada por menor incidência de eczema de contato A morfologia e distribuição das lesões variam com a idade. Tende-se a dividir a DA nas seguintes fases: - DA infantil (até 2 anos): áreas eritematocrostosas, inicialmente nas regiões malares, que disseminam, principalmente, para o couro cabeludo, pescoço, fronte, punhos, áreas de fraldas. - DA pré-puberal: alguns com DA infantil podem ter resolução espontânea (minoria), outros evoluem para lesões menos exsudativas, papulosas e com liquenificação nas dobras - DA adolescentes-adultos: lesões papulodescamativas, liquenificadas, sujeitas a surtos de agudização, localizadas principalmentes nas dobras antecubitais e poplíteas. A doença tende a atenuar com a idade, sendo rara sua persistência após 30 anos A DA está, em geral, associada a outras manifestações de atopia, como asma e rinite. São considerados alguns estigmas de atopia, como a Dupla prega de Dennier- Morgan (prega supranumerária infraciliar), sinal de Hertoghe (rarefação do teço distal dos supercílios devido à coçadura), ceratose papilar, etc. Além disso, pode ocorrer ceratoconjuntivite (conjuntivite alérgica). Alguns pacientes podem evoluir para eritrodermia esfoliativa. Ocorre maior susceptibilidade a infecções fúngicas, virais e bacterianas. Diagnóstico: é clinico, e pode ser corroborado pela HF+ de atopia (alergia, asma,rinite, intolerância a alimentos), eosinofilia e aumento do IgE circulante O que diferencia dos outros eczemas, é a história, anamnese, historia de quadro na infância, que retorna no adulto ou fase idosa *testes de hipersensibilidade não tem valor Diagnóstico diferencial: dermatite seborreica, dermatite de contato, escabiose, psoríase Tratamento: visa evitar a coçadura, a xerodermia e afastar os agravantes ▪ Hidratação da pele feita com emolientes (óleo de amêndoas, vaselina, etc) associados ou não a cremes de corticoide de potencia variável ▪ Antibióticos tópicos para atividade estafilocócica, uma vez que a colonização maciça por S.aureus, especialmente nas lesões agudizadas, pode ocorrer mesmo sem evidencia de infecção bacteriana ▪ Anti-histaminicos por ação sedativa à noite ▪ Imunomoduladores (tacrolimo e pimecrolinmo): tem ação anti-inflamatoria como a dos corticoides, com menos efeitos colaterais Eczemátide ou pitiríase alba: dermatite de origem desconhecida, mais frequente, embora não exclusiva, nos atópicos. São lesões arredondadas, eritematosas ou cor da pele, com descamação fina, as vezes mais pronunciadas nos óstios foliculares, que desaparecem espontaneamente, deixando hipocromiacom leve descamação, mais evidente à exposição solar. Distribuição em face, porção lateral dos braços e tronco. Curso variável, podendo ocorrer novos surtos. O tratamento recomendável é a hidratação da pele com xerose - Eczemátide vs pitiríase versicolor = prova terapêutica com hidratação, já que na dermatite atopica, a pele é seca, e o hidratante pode amenizar 4. Dermatite seborreica Definição: dermatite crônica de caráter constitucional, cuja etiopatogenia está relacionada a elementos fisiopatológicos de hiperproliferação epidérmica somada a infecção por Malassezia sp. Além disso, soma-se à fisiopatologia a presença e atividade das glândulas sebáceas (por isso não Comentado [I7]: Prurido ocular bilateral, sensação de corpo estranho, pode levar à ulceração acomete crianças, que tem pouca produção sebácea). O papal da infecção por Malassezia sp. ainda é discutido, se esta é secundária ao aumento de nutrientes lipídicos nas escamas ou se tem um papel anterior, etiológico É frequente seu agravamento ou desencadeamento por estresse emocional ou físico e pelo frio. Exposição ao sol, em geral, diminui sua intensidade Característica: lesões maculopapulosas, eritematosas ou amareladas, sem brilho, delimitadas e recobertas por escamas de aspecto gorduroso, que se distribuem pelas áreas seborreicas (couro cabeludo, face, regiões pré-esternal, interescapular, flexuras axilares e anogenitais. O couro cabeludo está quase sempre acometido, e possui prurido. A fase inicial no couro cabeludo é a pitiríase capitis (caspa), caracterizada por descamação pulvurulenta e difusa, que progride para DS gradualmente. Frequentemente há transgressão da orla do couro cabeludo, formando a chamada coroa seborreica. - Dermatite seborreica do lactente: Escamas aderentes, principalmente no vértice do couro cabeludo de recém-natos são chamadas de crosta láctea . lactente não tem glândulas sebáceas desenvolvidas, ocorre devido ao hormônio presente no leite materno. Não necessita tratamento, apenas produtos oleosos na crosta, ou cetoconazol bem diluído (2 agua:1 cetoconazol). É amareladinha A manifestação mais comum no tronco ocorre como lesões, quando bem desenvolvidas, chamadas petaloides, na região interescapular e pré-esternal, são pápulas eritematodescamativas. Evolução: a doença tende a cronicidade e recorrência, podendo evoluir para eritrodermia esfoliativa (extensão de até 80% do rash) quando interrompe corticoide oral ou tópico de alta/ moderada potencia em vários locais por tempo prolongado de forma abrupta. Diagnóstico: clínico. Obs.: em casos intensos, abruptos ou não responsivos ao tratamento, investigar infecção por HIV Diagnóstico diferencial: psoríase, pediculose, tinea capitis Tratamento: ▪ Esclarecer quanto à natureza crônica e recorrente da doença ▪ Tópicos: cetoconazol, corticoide, imunomoduladores ▪ Sistêmicos: prednisona, cetoconazol, isotretinoína Síndrome de Leiner: é considerada uma forma severa de dermatite seborreica (porém não é evolução de DS), com erupção eritematosa ou eritematoescamosa generalizada nas primeiras semanas de vida e de acometimento sistêmico (diarreia, perda de peso, infecções). Pode ser decorrente da deficiência de biotina no leite materno ou alterações do complemento C3b.
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