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DIREITO PENAL I

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DIREITO PENAL I
1 – Conceito de Direito Penal:
1.1 Noções Fundamentais:
	O Direito é produto do Estado para regular as relações sociais. E o Direito Penal, como normas jurídicas, surge, assim, como forma de combater o crime, ou seja, os atos contrários ao Direito, e o faz através da sanção, que é a pena aplicada ao agente delituoso. 
	Direito Penal seria aquela parte do ordenamento jurídico que estabelece o fato-crime, dispõe sobre quem deva por ele responder e, por fim, fixa as penas e medidas de segurança a serem aplicadas.
	O Estado possui o Direito de punir – o Jus Puniendi (vem do Monismo de Kelsen, ou seja, Estado = Direito), e do contratualismo.
	Direito Penal também pode ser utilizado como sinônimo de ciência penal, que é o conjunto de conhecimentos e princípios, ordenados metodicamente, de modo a tornar possível o estudo das normas penais.
1.2 Funções da tutela jurídica:
	As funções específicas do Direito Penal é a tutela jurídica de bens jurídicos, que nada mais são do que valores reconhecidos pelo Direito, como a vida, a integridade corporal, a honra, a propriedade (aqui há uma natureza filosófica).
	Pela sua gravidade, o Direito Penal visa proteger apenas os bens mais relevantes e fundamentais para a vida em sociedade. O Direito Penal atua quando as sanções civis se mostram insuficientes para coibir a prática de ilícitos.
	Há ilícitos penais e há ilícitos meramente civis.
1.3 Denominação:
Há várias expressões difundidas para a matéria em estudo: Direito Criminal, Direito Penal, Direito Repressivo etc.
Prefere-se Direito Penal, por ser expressão mais aceita e utilizada. 
1.4 Definição:
	Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que o Estado estabelece para combater o crime, através das penas e das medidas de segurança (BASILEU GARCIA) ou é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas aplicáveis a quem os pratica (MAGALHÃES NORONHA).
1.5 Caracteres do Direito Penal (como ordenamento do Estado e como ciência)- Kelsen:
	É ramo do Direito Público (pertence essencialmente ao Estado). É valorativa, porque protege os valores mais altos da sociedade. É finalista, porque visa à proteção de bens e interesses jurídicos merecedores da tutela mais eficiente do Direito Penal (atua em defesa da sociedade). Por fim, é sancionador, eis que é através da cominação da sanção que ele protege outras normas jurídicas.
	É ciência cultural, eis que se traduz em regras de condutas que devem ser observadas por todos, oriundas de um dever-ser. Diferencia-se das ciências naturais, em que o objeto do estudo é o ser, o dado da natureza.
É ciência normativa, pois seu objeto é o estudo da lei, da norma, do direito positivo, sem preocupação com a filosofia, a sociologia etc.
	É ciência dogmática, uma vez que sua preocupação é com as normas postas, tendo por base o direito positivo, possuindo como método o técnico-jurídico (formalístico). – Escola Clássica.
1.6 Conteúdo:
O conteúdo do Direito Penal abarca o estudo do crime, da pena e do delinqüente.
1.7 Direito Penal objetivo e subjetivo (contratualismo):
	Denomina-se Direito Penal Objetivo o conjunto de normas que regulam a ação estatal, definindo os crimes e cominando as respectivas sanções. É o próprio ordenamento jurídico-penal. É o produto da soberania do Estado.
	Denomina-se Direito Penal Subjetivo o direito de punir do Estado, que tem limites no próprio Direito Penal objetivo, eis que não se compreende um jus puniendi ilimitado.
1.8 Direito Penal Comum e Direito Penal Especial:
	Direito Penal Comum é aquele aplicado a todas as pessoas, como é o caso do Código Penal. Já Direito Penal Especial é aquele que só se aplica para certas pessoas, como os militares, no caso do Código Penal Militar. 
	Não confundir com leis especiais, que são aquelas que estão fora do CP (arts. 12 e 360 do CP), mas aplicáveis ou não a todos (Maria da Penha, Estatuto do Idoso, Lei de Drogas, Crimes Hediondos etc.).
1.9 Direito Penal Material e Formal:
	Direito Penal Material (ou Substantivo) é o representado pela lei penal, que define as condutas típicas e estabelece sanções.
	Direito Penal Formal (ou Adjetivo) é o que determina as regras de aplicação do Direito Penal Material. É o Direito Processual Penal.
1.10 Relações do Direito Penal com outras ciências:
	Obviamente, o Direito Penal relaciona-se com o Direito Constitucional (que é quem lhe dá o poder e o limite); com o Direito Civil, Comercial, Tributário, Trabalhista etc. (prevendo sanção para o descumprimento de regras); com o Direito Administrativo (na organização dos órgãos do Estado na punição dos crimes).
	Relaciona-se com o Direito Processual Penal.
	Relaciona-se com ciências filosóficas (sociologia, filosofia etc.).
	Relaciona-se com disciplinas auxiliares, como a Medicina Legal, a Criminalística, a Psiquiatria Forense, etc.
1.11 Direito Penal e Criminologia:
	O Direito Penal é uma ciência dogmática, só interessada com o fato criminoso e a sua conseqüência. Já a Criminologia é um conjunto de conhecimentos que estudam os fenômenos e as causas da criminalidade, a personalidade do delinqüente e sua conduta delituosa e a maneira de ressocializá-lo.
Há várias correntes criminológicas: crítica é uma das mais modernas.
A vitimologia é importante para conhecer a figura da vítima e sua contribuição para a existência do crime. 
1.12 Breve Histórico do Direito Penal:
a) Início dos tempos: As idéias penas surgiram nas primeiras comunidades, sociedades, agrupamentos ou povoados, já que onde há pessoas acontecem conflitos. É certo que não existiam códigos de leis ou uma estrutura punitiva, mas os hábitos e costumes, formados lentamente, servirão para embasar as punições aos sujeitos perniciosos. A pena, no início, é mera vindita, vingança, não havendo preocupação com a proporção ou justiça.
b) fases da vingança penal. Na denominada fase da vingança privada, cometido um crime, ocorria a reação da vítima, de seus parentes e até do grupo social, que agiam sem proporção à ofensa, atingindo o ofensor e todo o seu grupo social. Penas de banimento e de morte eram comum.
	Com a evolução social, para evitar a dizimação das tribos, surge o talião, que limitava a reação à ofensa a um mal idêntico praticado (sangue por sangue, olho por olho, dente por dente). Exemplos são o Código de Hamurábi (Babilônia) e a Lei das XII Tábuas (Roma).
	Posteriormente, surge a composição, pelo qual o ofensor se livrava do castigo com a compra de sua liberdade.
Também houve a fase da vingança divina, em que, embasado na religião, o crime era reprimido para satisfazer os deuses, através de castigos corporais e oferendas divinas.
	Com a maior organização social, atingiu-se a fase da vingança pública, onde a punição era aplicada pelo rei e em nome deste.
c) Direto Medieval – no período medieval, a Inquisição e a Igreja infligiam penas desumanas. Era um Direito aplicado pelo Estado, que se confundia com a Igreja. Visava à intimidação.
d) Período humanitário – É no decorrer do Iluminismo que se inicia o denominado Período Humanitário do Direito Penal, movimento que pregou a reforma das leis e da administração da justiça penal no fim do século XVIII.
	Em 1764, Beccaria (italiano) publica o livro Dos Delitos e das Penas, um livro que se tornou símbolo da reação liberal ao desumano programa penal então vigente, base do moderno direito penal. Características: a) os cidadãos, por viverem em sociedade, cedem apenas uma parcela de sua liberdade e direitos (contratualismo), não podendo receber penas desumanas e de morte; b) só a lei pode fixar as penas; c) a lei deve ser geral e de conhecimento de todos; d) todas as provas são relativas e aceitas; e) não se aceitam as penas de confisco, que atingem os herdeiros do condenado (contra a Igreja); f) não se deve aceitar a tortura e as confissões forçadas; g) a pena deve ressocializar,e não ser apenas intimidativa; h) princípio da proporcionalidade da pena, etc. 
e) Escola Clássica: As ideias fundamentais do Iluminismo e de Beccaria fazem surgir no século XIX a chamada Escola Clássica, toda embasada no livre arbítrio, sem preocupação com os motivos do crime. É o que basicamente sustenta o atual Direito Penal. O crime é meramente a infração à uma norma jurídica (o crime é um ente jurídico). Vem com Francesco Carrara, que utilizava o método lógico-dedutivo, onde a pena era vista meramente como a punição de um crime (a finalidade da pena é retribuir um mal por um mal proporcional, e para fixar a pena não levava em conta o criminoso).
f) Período Criminológico e Escola Positiva: O movimento criminológico do Direito Penal iniciou-se com os estudos do médico italiano César Lombroso, que passou a estudar a figura do criminoso, precursor da Antropologia Criminal (o homem do ponto de vista animal), construindo a figura do criminoso nato (o crime é um fenômeno biológico, e não como dizia Carrara, um ente jurídico). Seu método era o experimental. As fontes de seu trabalho foram o determinismo de Montesquieu, o Positivismo de Comte, e a Evolução das Espécies de Darwin.
	Hoje se admite que haja criminoso nato e a herança genética é importante para a análise do crime.
	Depois vieram Henrique Ferri (italiano), com sua Sociologia Criminal, que vê nos meios sociais, também, a origem dos crimes, entendendo que crime origina-se de um trinômio: aspectos individuais, sociais e físicos; e Rafael Garofálo (italiano), mais no campo jurídico, com sua obra Criminologia.
	A Escola Positivista, pois, deve-se ao Lombroso, Ferri e Garofálo. A Escola Positivista dava mais valor ao social do que ao indivíduo, e via este, não a partir do livre arbítrio, mas, sim, a partir dos fatores individuais e biológicos. Seu método era experimental e indutivo.
	Afinalidade da pena não é retribuir um mal por outro mal, mas sim a defesa social, a prevenção, impedindo a prática de novos delitos e fortalecer o senso moral dos indivíduos.
	O criminoso é, sempre, psicologicamente, um anormal, de forma temporária ou permanente.
g) Escolas Ecléticas ou mistas (tendências contemporânea) – tenta conciliar a Escola Clássica e a Positiva, no sentido de ver o crime como uma causalidade e não como uma fatalidade, excluindo o tipo criminal antropológico, pregando a reforma social como dever do Estado no combate ao crime. Sustenta a necessidade de elaboração de leis criando medidas de segurança, livramento condicional, sursis.
	Preocupa-se com a pessoa do condenado em uma perspectiva humanista.
	Para muitos, não é uma Escola penal (Magalhães Noronha, Henrique Ferri), mas apenas correntes ecléticas.
h) Direito brasileiro: O Direito Penal brasileiro estuda o crime e a pena e não estuda o criminoso (Escola Clássica), mas coloca o criminoso no seu contexto (na culpabilidade) (Escola Positivista). É, pois, eclético, tanto no Código Penal de 1940 como na reforma do sistema penal de 1984 (da parte geral).
	No período colonial, o Brasil era regido pelas ordenações de Portugal (Afonsinas – até 1512, Manuelinas, até 1569, e Filipinas), típicas da Idade Média. Só com o Código Criminal do Império, de índole liberal, em 1830, é que houve uma humanização, só prevendo a pena de morte para alguns casos. Com a proclamação da República, foi editado em 11 de outubro de 1890, o Código Penal, que aboliu a pena de morte, mas era um código mal sistematizado. Após inúmeras leis modificadoras, foi criado, em 14 de dezembro de 1932, A Consolidação das Leis Penais, para reorganizar o direito penal. Sobreveio então, em 1940, o atual Código Penal, que entrou em vigor em 1942.
2 – Fontes do Direito Penal:
2.1 Conceitos de fontes:
	Fonte é a origem de alguma coisa. Quando se fala em fontes do Direito Penal, está-se estabelecendo de onde provem de onde se origina a lei penal.
2.2 Espécies de Fontes do Direito Penal:
	As fontes podem ser materiais (ou substanciais, ou de produção) ou formais (ou de conhecimento, ou de cognição).
a) Fontes materiais – refere-se à gênese da norma penal, sendo que a única fonte de produção do Direito Penal é o Estado, eis que determina a Constituição, em seu artigo 22, I, que compete só à União legislar sobre Direito Penal. E os tratados e convenções internacionais em direitos humanos – art. 5º, § 2º ?
	art. 5º, § 3º, da CF (Emenda Constitucional nº 45/04) - 
b) Fontes formais ou de conhecimento – correspondem aos processos de exteriorização do Direito Penal ou de se revelarem as suas regras. Como o Direito Penal é formalizado, exteriorizado. Divide-se em fonte formal mediata e fontes formais imediatas: 
- fontes formais imediatas (ou direta) – é a lei.
- fontes formais mediatas (ou indiretas, ou subsidiárias) – costumes e os princípios gerais de direito – art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil.
* O costume é uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade. Não pode este, em razão do princípio da legalidade, criar ou revogar crimes. Todavia, terá influência na interpretação (o que é dignidade, decoro, mulher honesta etc.) e na elaboração da lei penal (ou mesmo revogação, como no caso do crime de adultério, sedução etc.).
* Os princípios gerais de direito são premissas éticas extraídas da legislação, do ordenamento jurídico. Está o Direito Penal sujeito às influências desses princípios, estabelecidos com a consciência ética do povo em determinada civilização, que podem suprir lacunas e omissões da lei penal (para absolver). Ex.: a não punição da mãe que fura as orelhas da filha, que praticaria assim um crime de lesões corporais, quando o faz para colocar-lhe brincos.
	
2.3 A Lei Penal – única fonte formal direta do Direito Penal:
2.3.1 Conceito de lei penal:
	Em sentido lato, lei penal é tanto a que define um fato punível, impondo, abstratamente, uma sanção, como a que amplia o sistema penal através de princípios gerais e disposições sobre os limites e ampliação de normas incriminadoras.
	Em sentido estrito, lei penal é a que descreve uma conduta ilícita (preceito principal ou primário), impondo uma sanção (preceito secundário ou sanção).
2.3.2 A técnica legislativa do Direito Penal:
	O legislador não diz expressamente que matar é crime, que é proibido matar, e sim que retirar a vida de uma pessoa por outra enseja a aplicação de determinada pena. Ou seja: Matar alguém, pena de......
	Assim, o mandamento proibitivo (não matar) está implícito na lei penal. Daí ter afirmado Binding que o criminoso não transgride a lei, mas sim o preceito proibitivo (norma).
	Tal se deve ao princípio da reserva legal (nullum crimen, nulla poena sine lege). O tipo deve ser fechado, ao contrário do campo civil. Somente quando um fato se ajusta a um modelo legal é que o Estado adquire o direito concreto de punir.
2.3.3 Lei penal e norma penal:
	Para Binding, o agente que pratica uma conduta ilícita não infringe a lei penal, mas sim a realiza, a concretiza. O que o criminoso transgride é o preceito proibitivo, que precede conceitualmente a lei penal. 
	Assim, a lei penal é a forma legislativa de prever um crime e uma sanção. Já a norma penal é o preceito proibitivo que está implícito na lei penal (ex: não matarás).
	A lei penal é a fonte formal da norma penal; e a norma penal é o conteúdo da lei penal.
2.4 Classificações das leis penais: 
2.4.1 Quanto à sua imperatividade:
a) incriminadoras – são as que descrevem condutas puníveis e impõem as respectivas sanções. Ex.: arts. 121, 155, etc. É a lei penal em sentido estrito e são encontradas na Parte Especial do Código Penal.
b) não incriminadoras – são as leis penais em sentido amplo e englobam as normas penais permissivas e finais (complementares ou explicativas). 
- normas permissivas são as que determinam a licitude ou a impunidade de certas condutas, ainda que hajam normas incriminadoras no mesmo sentido. Ex.: arts. 20 a 27; 28, § 1º,128, 140, § 1º, etc. (encontrados na parte especial e na parte geral do CP).
- normas finais, complementares ou explicativas são as que esclarecem o conteúdo das outras, ou delimitam o âmbito de sua aplicação. Ex.: arts. 4º, 5º, 7º, 10 a 12, 33, 327, etc. (encontradas na parte geral e na parte especial do CP).
2.5 Caracteres da lei penal:
a) exclusividade – somente a lei penal define crimes e estabelece sanções. É o princípio da legalidade (não há crime sem lei anterior que assim o defina). Por isso, o costume não pode ser utilizado para incriminar alguém.
b) Imperatividade – a lei penal é autoritária, no sentido de fazer incorrer na pena aquele que descumpre o seu mandamento. Todas as normas penais são imperativas, mesmo as não incriminadoras (exemplo, na legítima defesa. Ninguém pode me proibir de agir em legítima defesa, nem o Estado).
c) Generalidade - a norma penal atua para todas as pessoas. Tem eficácia erga omnes. É destinado a todos, mesmo aos inimputáveis (por isso, aplica-se medida de segurança) – Damásio e Mirabette. Se assim não fosse, um ato de um louco não seria ilícito. Ora, o crime existe, o ato é ilícito, mas apenas não será aplicada uma sanção, mas uma medida de segurança. Para Aníbal Bruno (e, na Itália, Petrocelli e Battaglini), a lei penal não se destina aos inimputáveis, que não tem capacidade de entender o caráter ilícito de suas condutas e de determinar-se de acordo com esse entendimento. Por isso, os menores de 18 anos já possuem um ordenamento próprio. O problema está na ilicitude. 
	d) Abstrata e impessoal – a lei é igual para todos, dirigindo-se a fatos futuros, não se endereçando a um indivíduo específico e nem a fatos anteriores (por isso, não pode retroagir – art. 5º, inciso XXXIX, da CF e art. 1º do CP).
2.6 Norma Penal em Branco: 
	São aquelas disposições em que o conteúdo é genérico e indeterminado, mas a sanção é clara e determinada, necessitando do complemento de outra norma (em sentido amplo). A norma incriminadora depende, para sua exequibilidade, do complemento de outras normas jurídicas (norma penal em branco em sentido lato – há homogeneidade de fontes – a lei) ou da futura expedição de certos atos administrativos (regulamentos, portarias, editais) (normas penais em branco em sentido estrito – fontes heterogêneas).
	Ex.: a Lei nº 8.137/90, que define os crimes contra a ordem econômica e as relações de consumo, no inciso I do seu art. 6º, impõe a pena de detenção a quem “vender ou oferecer à venda mercadoria por preço superior ao oficialmente tabelado”. A sanção vem determinada, ao passo que a definição legal do crime é incompleta, uma vez que se condiciona à expedição de portarias administrativas com as tabelas de preço.
	Ex. arts. 273, 268, 269, 178, 184 etc.
2.7 A interpretação da lei penal:
2.7.1 Considerações iniciais:
	Interpretação consiste em extrair o significado e a extensão da norma em relação à realidade. É uma operação lógico-jurídica que se dirige a descobrir a vontade da lei, em função de todo o ordenamento jurídico e das normas superiores de cultura, a fim de aplicá-las aos casos concretos da vida real. Intérprete é o mediador entre o texto da lei e a realidade.
	A ciência ou método que se preocupa com a interpretação da lei é denominada Hermenêutica. 
	Por mais clara que seja a letra da lei penal, como qualquer regra jurídica, não prescinde do labor exegético, tendente a explicar-lhe o significado, o justo pensamento, a sua real vontade, a sua ratio juris. 	
	Os conceitos tradicionais de interpretação são dogmáticos, formalistas e dirigidos à concepção de que o julgador não cria direito, mas apenas o aplica.
2.7.2 Espécies de interpretação:
2.7.2.1 Quanto ao sujeito que faz: 
a) autêntica – quando a interpretação procede do próprio órgão que a emanou, ou seja, do próprio sujeito que elaborou o preceito interpretado. Portanto, feito pelo próprio legislador. Pode ser: 
- contextual, quando o legislador faz no próprio texto da lei. Ex.: o conceito de funcionário público contido no art. 327 do CP.
* Os trabalhos preparatórios (anteprojetos, projetos e debates parlamentares) revelam a intenção do legislador, e não da lei. Logo, não são formas de interpretação, mas elementos históricos de exegese.
* a Exposição de Motivos não constitui interpretação autêntica, pois a) não é lei; b) não tem força obrigatória; e c) é possível notar-se antinomia entre ela e o texto legal. Vale, todavia, como forma de interpretação doutrinária.
- posterior, quando realizada pelo sujeito da regra que se interpreta depois de ditada a lei, com o fim de elidir incerteza ou obscuridade. É feita por lei posterior, para esclarecer lei anterior.
* Para alguns (Pontes de Miranda, Manzini), a intervenção posterior do legislador não seria interpretação, mas lei nova. Para Damásio de Jesus, só seria uma lei nova se esta contivesse novas disposições, inovando as anteriores. Se viesse, assim, só esclarece obscuridades e dúvidas, seria uma verdadeira interpretação autêntica posterior. 
* Efeitos: a) se fosse só lei interpretativa, teria efeito “ex tunc”, retroagindo a partir da vigência da lei a que se liga; b) se fosse lei nova, não poderia retroagrir, salvo para favorecer o agente.
b) Doutrinária: É a feita pelos escritores de direito, em seus comentários às leis. É denominada communis opinio doctorum. 
c) Judicial – É a que deriva dos órgãos judiciários (juízes e tribunais). Não tem força obrigatória, senão para o caso concreto (inter partes e coisa julgada). 
2.7.2.2 Quanto ao meio empregado:
a) Interpretação gramatical, literal ou sintática – A primeira tarefa que deve fazer quem procura interpretar a lei, no sentido de aflorar a sua vontade, é recorrer ao que dizem as palavras. Examina-se, assim, a letra fria da lei. Geralmente, isto não é suficiente e pode levar a equívocos.
b) Interpretação lógica ou teleológica – É a que consiste na indagação da vontade ou intenção objetivada na lei (a ratio legis), através da análise sistemática, histórica, de Direito Comparado, etc.
2.7.2.3 Quanto ao resultado interpretativo (conclusão do intérprete):
a) declarativo – a interpretação é meramente declarativa quando a eventual dúvida se resolve pela correspondência entre a letra e a vontade da lei, sem conferir à fórmula um sentido mais amplo ou mais estrito. Ex.: o art. 141, III, do CP determina que nos crimes contra a honra as penas são aumentadas de um terço se o fato é cometido “na presença de várias pessoas”. Deve entender-se que o mínimo é superior a duas (portanto, três), porque sempre que a lei se contenta com duas pessoas di-lo expressamente (arts. 150, § 1º; 226, I, etc.).
b) Restritiva – Quando se conclui que o legislador diz mais que o pretendido pela sua vontade. A interpretação, assim, restringe o alcance das palavras da lei até o seu sentido real. Ex.: diz o art. 28, I e II, que não excluem a imputabilidade penal a emoção, a paixão ou a embriaguez voluntária ou culposa. O dispositivo deve ser interpretado restritivamente, no sentido de serem considerados esses estados quando não patológicos, pois, de outra forma, haveria contradição com o art. 26, “caput”, do CP.
c) Extensiva – Quando o caso requer que seja ampliado o alcance das palavras da lei para que a letra corresponda à vontade do texto. Ocorre quando o texto legal não expressa a sua vontade em toda a extensão desejada. O texto diz menos do que pretendia dizer. Ex.: o art. 235 incrimina a bigamia, abrangendo, por óbvio, a poligamia.
* A finalidade é apontar a vontade da lei, e só depois do emprego de seus meios é que surgirá o resultado: extensivo, se aquela for extensiva; restritivo, se restritiva. Mas, havendo dúvida sobre a real vontade da norma, mesmo após o uso dos meios interpretativos, aplica-se o princípio do “in dubio pro reo” (p/Damásio). Portanto, é permitido a interpretação extensiva, mesmo desfavorável ao réu.
2.7.2.4 Interpretação Progressiva:
Utiliza-se a interpretação progressivapara abarcar no processo novas concepções ditadas pelas transformações sociais, científicas, jurídicas ou morais que devem permear a lei penal. É o que ocorre na busca do sentido de expressões como “mulher honesta” (art. 215 e 219) e “doença mental” (art. 26). O juiz não pode viver alheio às transformações sociais, científicas e jurídicas. É mister adaptar a norma, como sua própria vontade permite, às novas necessidades da época. É legítima essa forma, uma vez que tem os mesmos limites determinados pela interpretação extensiva. 
	A expressão mulher honesta foi retirada do CP pela Lei nº 11.106/05.
2.7.2.5 Interpretação Analógica:
	É uma hipótese de interpretação extensiva, em que a própria lei determina que se estenda o seu conteúdo. É permitida toda vez que uma cláusula genérica se segue a uma fórmula casuística, devendo entender-se que aquela só compreende os casos análogos aos mencionados por esta. Ex.: o art. 121, § 2º, IV, qualifica o homicídio quando cometido “à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido”. Assim, este “outro recurso”, mencionado pelo texto, só pode ser aquele que, como a traição, a emboscadas ou a dissimulação, tenha caráter aleivoso (fraudulento) ou insidioso (traiçoeiro, pérfido). 
	Outros exemplos: art. 28, II, 146, 147, 157, “caput”, 171, etc.
2.7.3 A integração da norma penal:
	Em caso de lacunas (casos omissos), e apenas em relação às normas não incriminadoras, para as quais vigora o princípio da legalidade, é possível a aplicação da analogia, dos costumes, dos princípios gerais de direito, consoante o art. 4º da LICC. É o chamado processo de auto-integração da lei penal.
	Para o dogma da completude, a ordem jurídica não tem lacunas, eis que prevê o processo de auto-integração. Mas existem, apenas, as lacunas da lei.
2.7.3.1 A analogia:
	Consiste em aplicar a uma hipótese não prevista em lei a disposição relativa a um caso semelhante É forma de auto integração da ordem legal para suprir lacunas, estendendo a aplicação da lei a casos que ela não regula e de que não cogita. Não é interpretação, mas sim aplicação ao caso a ser decidido de norma ou regra que regula hipótese semelhante em matéria análoga. 
Requisitos:
 a) que o fato considerado não tenha sido regulado pelo legislador; 
b) este, no entanto, regulou situação que oferece relação de coincidência, de identidade com o caso não regulado; 
c) o fato semelhante é aplicado ao fato não regulado.
2.7.3.2 Analogia, Interpretação Extensiva e Analógica:
	Analogia é a forma de auto-integração da ordem legal para suprir lacunas, estendendo a aplicação da lei a casos que ela não regula e de que não cogita.
	Na Interpretação extensiva, a vontade da lei cogita de contemplar o caso examinado, mas o seu texto diz menos que o pretendido. Então, o intérprete estende o sentido da lei até o caso examinado. A diferença está na vontade da lei. Assim, na interpretação extensiva há a vontade da lei prever o caso, mas o seu texto diz menos que o desejado; na analogia, não há essa vontade da lei regular o caso.
	Na Interpretação analógica, por sua vez, é o próprio dispositivo que determina se aplique analogicamente o preceito. Na analogia, não é vontade da lei abranger os casos semelhantes; na interpretação analógica, a própria lei, após definir a fórmula casuística, menciona os casos que devam ser compreendidos por semelhança.
2.7.3.3 Espécies de analogia:
a) analogia in bonam partem – quando beneficia o sujeito pela sua aplicação;
b) analogia in malam partem – quando sua aplicação prejudica o sujeito.
Nas normas penas incriminadores, só é possível a analogia em benefício do sujeito, pelo princípio da legalidade.
2.7.4 Outras Formas de Procedimento Interpretativo:
	Para auxílio na interpretação, utiliza-se, ainda, a equidade (que é a perfeita correspondência jurídica e ética das normas às circunstâncias do caso concreto a que estas se aplicam. Ex.: perdão judicial – arts. 140, § 1º, 176, parágrafo único, etc.); a doutrina (conjunto de investigações e reflexões teóricas e princípios metodicamente expostos, analisados e sustentados pelos autores e tratadistas, no estudo das leis), a jurisprudência (é a repetição constante de decisões no mesmo sentido em casos idênticos) e os tratados e convenções internacionais (fontes imediatas do Direito Penal após referendum do Congresso. Inclusive para os direitos humanos - art. 5º, § 2º ?).
	Hoje, ver art. 5º, § 3º, da CF (Emenda Constitucional nº 45/04).
3. Do Princípio da Legalidade – art. 1º do CP e 5º, XXXIX, da CF
3.1 Introdução e considerações históricas:
	A lei é a única fonte imediata de conhecimento do Direito Penal. A lei penal é pressuposto das infrações e das sanções. Trata-se de uma garantia constitucional dos direitos do homem, garantia fundamental da liberdade civil. À lei e somente a ela compete fixar as limitações que destacam a atividade criminosa da atividade legítima. Esta é a condição de segurança e liberdade individual.
	Ela se consubstancia no brocardo jurídico nullum crimem, nulla poena sine lege, feito por FUERBACH, no século XIX.
	O princípio da legalidade tem suas origens no famoso art. 39 da Magna Carta inglesa, de João Sem Terra, de 215.
	O princípio foi consagrado na Constituição americana de 1776.
	Mas foi na Declaração dos Direitos do Homem da Revolução Francesa, de 1789, que o princípio foi formulado em termos precisos.
	No Brasil, todas as Constituições consagraram o princípio, inclusive a atual (art. 5º, XXXIX).	
3.2 Desdobramentos do Princípio da legalidade:
a) teoria da tipicidade – o tipo penal é a garantia do princípio da legalidade, pois é através da tipicidade que se cria o crime e a pena. Típico é o fato que se amolda à conduta criminosa descrita previamente pelo legislador. Tipo é o conjunto de elementos descritivos do crime contidos na lei penal);
b) Irretroatividade da lei penal – os crimes não retroagem. Não há crime sem lei anterior que assim o defina. As leis penais são editadas para o futuro, não tendo efeito para o passado. Art. 2º do CP – Princípio da Anterioridade;
c) Taxatividade – o conjunto de normas penais incriminadoras é taxativo, ou seja, o elenco não admite ampliações;
d) Proibição da coação direta – só a autoridade competente pode processar e julgar, através do devido processo legal, com ampla defesa e com contraditório – art. 5º, LIII, LIV, LV, LVI, LVII e LXIII, da CF.	
3.3 Princípios da legalidade e anterioridade da lei penal:
O princípio da legalidade desdobra-se em dois princípios básicos e fundamentais:
a) Princípio da legalidade (ou da reserva legal), que estipula que não há crime sem lei que o defina e que não há pena sem cominação legal.
b) Princípio da anterioridade, que determina que não há crime sem lei anterior que o defina, e não há pena sem prévia cominação legal.
3.4 Normas Penais não incriminadoras:
Não estão sujeitos ao princípio da legalidade (Damásio).
3.5 Princípio da legalidade e Medida Provisória:
A Medida Provisória, por não ser lei, não pode estipular crimes e penas. Vedação expressa do texto constitucional: art. 62, § 1º, I, alínea “ b”.
4. Lei Penal no Tempo (âmbito de eficácia temporal da lei penal) – art. 2º, 3º e 4º, do CP
4.1 Nascimento e revogação da lei penal:
	A lei penal nasce (a lei é sancionada, promulgada – para dar autenticidade, e publicada, quando passa a ser obrigatória), vive e morre (quando cessa sua vigência, por exemplo, através da revogação).
	A Vacatio legis - art. 1º da LICC determina que, na ausência de disposição em contrário, a lei passa a vigorar 45 dias após ser publicada. 
	Revogação é expressão genérica que traduz a ideia de cessação da existência de regra obrigatória, em virtude de manifestação do poder competente. Ela pode ser:
a) derrogação – quando cessa em parte a autoridade da lei (revogação parcial);
b) ab-rogação – quando se extingue totalmente(revogação total);
c) Expressa, quando a lei assim o diz, de forma expressa;
d) Tácita (implícita), quando o novo texto, embora de forma não expressa, é incompatível com o anterior ou regula inteiramente a matéria precedente – art. 2º, § 1º, da LICC.
* A lei pode trazer em seu texto o término da sua vigência (art. 2º, “caput”, da LICC – É a lei temporária. A lei excepcional, por sua vez, é aquela que, ainda que não traga o período exato de sua vigência, condiciona sua eficácia à duração de certas condições que as determinam (guerra, epidemia etc.). Nestes dois casos, o término de vigência destas leis não depende de revogação de lei posterior. É caso de auto-revogação.
4.2 Conflitos de leis penais no tempo (quando lei posterior modifica lei anterior, melhorando ou piorando a situação do agente criminoso): 
	A lei penal abrange os fatos ocorridos entre a sua entrada em vigor e a sua cessação de sua vigência – É o princípio do tempus regit actum. Assim, ela não retroage aos fatos anteriores e nem tem ultra-atividade, abrangendo os fatos posteriores. 
	Regra básica: Irretroatividade da lei penal (decorrência do princípio da legalidade) – Aplica-se a lei vigente à época dos fatos (tempus regit actum).
4.2.1 Princípios que regem os conflitos de direito intertemporal:
a) Princípio da irretroatividade da lei mais severa – art. 5º, XXXVI e XL, da CF (regra);
b) Princípio da retroatividade da lei mais benigna – art. 2º, parágrafo único, do CP (exceção) – É a ultra-atividade. Se a lei posterior é mais favorável ao agente, esta é aplicável, mesmo que haja condenação.
* Significa que sempre se aplica a lei mais favorável, que tem extratividade (é retroativa ou ultra-ativa). 
		
4.2.2 Hipóteses de conflitos de leis penais no tempo:
4.2.2.1 “Abolitio Criminis” – Ocorre a “abolitio criminis” quando lei posterior deixa de considerar como infração um fato que era anteriormente punido – art. 2º, “caput”, do CP.
- Aplica-se o princípio da retroatividade da lei mais benigna – art. 5º, XL, da CF.
- Natureza jurídica: É causa extintiva da punibilidade – art. 107, III, do CP (Há extinção do “jus puniendi” estatal, desaparecendo todo e qualquer efeito penal).
	Consequências: se ainda não iniciado, não pode ser a persecução criminal iniciada; se estiver em andamento, o processo deve ser trancado, mediante extinção da punibilidade; se já estiver julgado, a condenação não trará qualquer efeito (inclusive para reincidência, rol de culpados, etc.); se estiver preso, deve o apenado ser imediatamente solto.
Matéria de ofício.
Efeitos civis – não desaparecem – art. 91, II, do CP.
4.2.2.2 Novatio Legis in Pejus – Lei nova mais severa que a anterior. Ela não cria novas incriminações, mas agrava a situação do sujeito (pena maior, retirando benefícios penais, extinguindo causas atenuantes, criando qualificadoras, retirando condições de procedibilidade, etc.).
- Aplica-se o princípio da irretroatividade da lei mais severa (há ultra-atividade da lei anterior, mais benéfica). Fundamenta-se no princípio da anterioridade da lei penal.
4.2.2.3 Novatio Legis Incriminadora – Ocorre quando um indiferente penal torna-se, com a lei nova, crime, prejudicando o sujeito.
- Aplica-se o princípio da irretroatividade da lei mais severa (há ultra-atividade da lei anterior, mais benéfica). Fundamenta-se no princípio da anterioridade da lei penal.
4.2.2.4 Novatio Legis in Mellius – Lei nova, sem excluir a incriminação, modifica o regime anterior beneficiando o sujeito (ou seja, de qualquer modo favorece o sujeito, criando atenuantes, eliminando agravantes, criando condições de procedibilidade, etc.).
- Aplica-se o princípio da retroatividade da lei mais benigna – art. 2º, parágrafo único, do CP.
4.2.3 Apuração da maior benignidade da lei.
O que se deve entender por lei mais benigna ?
	Toda e qualquer lei, inclusive as extrapenais (as normas penais em branco possuem regras especiais, adiante analisadas), quando mais benéficas deverão ser aplicadas para favorecer o sujeito. Cada caso deverá ser analisado individualmente. Não há regra casuística (estas são inúteis, de acordo com Asúa) (algumas vezes, aparentemente uma lei é mais benigna, mas, no caso concreto, é a outra).
	A melhor solução é a de que pode haver combinação das duas leis, aplicando-se sempre os dispositivos mais benéficos (Damásio, Magalhães Noronha, Frederico Marques, Delmanto). Outros são contras (Nélson Hungria, Aníbal Brubo), mas a jurisprudência tem entendido que pode haver combinação das leis. 
	Competência: antes da condenação – juiz da causa; depois da condenação, juiz da execução criminal – art. 66, I, da LEP e Súmulas 611 e 695 do STF.
4.2.4 Lei Intermediária:
	Podem acontecer que o sujeito pratique um fato sob o império de uma lei, surgindo, depois, sucessivamente, duas outras, regulando o mesmo comportamento, sendo a lei intermediária a mais benéfica. Neste caso, será sempre aplicada a lei mais benigna, que retroagirá (quanto à primeira lei) e terá ultra-atividade (quanto à última).
- Aplicam-se os mesmos princípios anteriores (por óbvio) – Exposição de Motivos do CP de 1940, nº 7, in fine. 
4.3 Eficácias das Leis Temporárias e Excepcionais – art. 3º do CP (Não aplicação do princípio da retroatividade da lei mais benéfica) – ULTRA-ATIVIDADE:
a) Lei penal temporária – é aquela que possui vigência previamente fixada pelo legislador;
b) leis penais excepcionais – são aquelas editadas em casos de calamidade pública, guerras, revoluções, epidemias, etc. têm vigência condicionada aos motivos que a originaram, ou seja, sua vigência está subordinada à duração da anormalidade que as motivou.
	Art. 3º do CP: Tendo em vista a natureza especial dessas normas, editadas para vigorar apenas em situações anormais ou durante certo tempo determinado, o CP abre uma exceção à regra da retroatividade da lei mais favorável. Se assim não fosse, elas perderiam toda a sua força intimidativa caso o sujeito já soubesse de antemão que, após cessada a anormalidade ou o período de vigência, acabaria impune. Assim, elas possuem ultra-atividade, ou seja, aplicam-se aos fatos cometidos sob seu império, mesmo depois de revogadas. 
	Para Damásio, não é o artigo 3º do CP inconstitucional, eis que o princípio da retroatividade da lei mais benéfica do art. 5º, XL, da CF não é aplicável às leis temporárias ou excepcionais. Aliás, só existirão em caso de Estado de Sítio e de Estado de Emergência. O problema deve ser colocado sob o prisma da tipicidade e não do direito intertemporal. Não se pode falar em exclusão da reação penal, mas sim de ausência de elementos do tipo. 
4.4 Normas penais em branco e direito intertemporais:
	Normas penais em branco são as chamadas leis que não possuem definição legal integral, necessitando serem complementados por outras leis, decretos ou portarias:
 a) Homogêneas, quando são complementadas por normas originárias da mesma fonte ou órgão; 
b) heterogêneas, quando seu complemento provém de fonte ou órgão diverso.
	Modificada a norma complementar favorecendo o sujeito, deve esta retroagir ?
a) Caso das tabelas de preço – Nos crimes contra a economia popular, por vender mercadoria por preço superior ao tabelado, quando novas tabelas liberam ou majoram os preços, aplica-se o art. 3º do CP, no sentido da irretroatividade. É que tais tabelas devem ser vistas como excepcionais ou temporárias, editadas para disciplinar o mercado em certas épocas ou situações (Damásio e Delmanto). Caso contrário, seria absolver alguém que causou um acidente por andar na contramão após a rua mudar de sentido. A conduta punível é a cobrança do preço abusivo.
	* Explicação: houve apenas mera alteração de circunstância, subsistindo o crime, e não real modificação da figura abstrata típica. É problema de tipicidade.
b) Supressão de tabela de substância entorpecente –
 a) se a substância estava incluída no rol, não por excepcionalidade ou temporalidade, e nova tabela a retira, há a retroatividadeda lei mais benéfica; e
 b) se a substância estava na tabela em caráter temporário, aplica-se o artigo 3º do CP (É a regra para os demais casos- art. 269 do CP).
5- Tempo do Crime (tempus delicti):
5.1 Conceito e teorias:
	Na análise da aplicação da lei penal é necessário fixar o momento, a data em que se considera praticado o delito (tempus delicti). A determinação do tempo em que se reputa praticado o delito têm relevância jurídica não somente para fixar a lei que o vai reger, mas também para fixar a imputabilidade do sujeito, aplicar anistia, a prescrição etc.
	Há 3 teorias a respeito: 
a) teoria da atividade – tempo do crime é o da ação ou omissão, ou seja, no momento da conduta do agente, sem preocupação com a data em que o resultado ocorrer. Ex.: no homicídio, o tempo do crime seria no momento em que o agente efetua os disparos, ainda que a vítima só venha a morrer 30 dias após.
b) teoria do resultado (do evento ou do efeito) – tempo do crime é o momento da produção do resultado. Ex.: no homicídio, o tempo do crime seria no momento em que a vítima venha a morrer, e não o da prática dos atos executórios.
c) Teoria mista (ou da ubiqüidade) – tempo do crime é, indiferentemente, o momento da ação ou do resultado.
* O CP adotou a teoria da atividade – art. 4º Assim, a questão do tempo deve ser considerado em relação à conduta do autor, independentemente do resultado. Logo, o menor de 18 anos não será considerado inimputável mesmo que a consumação de seu crime ocorra quando já tiver completado 18 anos de idade. 	
5.2 Aplicação da teoria da atividade a várias espécies de infrações:
5.2.1 No crime permanente, habitual e no crime continuado - Crime permanente é aquela em que o momento consumativo se prolonga no tempo. Ex.: sequestro, cárcere privado, rapto, quadrilha ou bando, etc. 
	Crime habitual é a reiteração da mesma conduta reprovável, de forma a constituir um estilo ou hábito de vida. Ex.: Curandeirismo (art. 284), rufianismo (art. 230). Fatos isolados não constituem crimes isolados, mas a sua reiteração habitual se constituirá num único crime. 
	Crime continuado (art. 71 do CP), quando o agente mediante mais de uma ação ou omissão pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos como continuação do primeiro. Cada ato isolado, por si só, já constitui um delito.
	* não confundir com delito instantâneo de efeitos permanentes, em que o crime se consuma em dado instante e apenas seus efeitos perduram. Ex.: homicídio (neste não há problema).
	Agente inicia a conduta sob a vigência de uma lei e se prolonga na vigência de outra lei. Qual a lei aplicável ?
a) se a posterior for lei mais severa (novatio legis in pejus). Para Damásio e Mirabette, aplica-se apenas a lei posterior, ainda que for mais grave, eis que o dolo também ocorre durante a eficácia da lei nova (abrangendo, assim, os fatos anteriores). Para Delmanto, a lei mais severa só pode ser aplicado aos fatos posteriores, pelo princípio da irretroatividade (corrente dominante – jurisprudencial - Caso de Panambi – não se sabendo, aplica-se a lei mais favorável).
* Súmula 711 do STF – A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou permanência. 
b) se a posterior for lei mais benéfica (Abolitio Criminis e Novatio legis in mellius). Retroage, abrangendo os fatos anteriores (sem discussão).
* Medidas de segurança – se aplica as mesmas regras, eis que se regem pelos princípios da legalidade e da anterioridade da lei penal.
* Exceções: a regra do art. 4º não se aplica à prescrição (conta-se o prazo a partir da consumação, e na da execução, salvo a da redução da metade pela menoridade do agente – art. 115) e à decadência (art. 103), que possuem regras próprias. 
6 – Conflito Aparente de normas:
6.1 Conceito:
	Às vezes, duas ou mais normas penais (parecem) regulam o mesmo fato. Embora a ordem jurídica seja ordenada e harmônica, algumas leis parecem ser contraditórias, razão pela qual o intérprete precisa resolver qual das normas é aplicável ao caso concreto. Ex.: entre homicídio qualificado para assegurar a subtração patrimonial (art. 121, § 2º, V (1º figura), do CP, e o crime de latrocínio (art. 157, § 3º, do CP).
	Isto é o conflito aparente de normas. Aparente, eis que o fato, aparentemente contraditório, pode ser resolvido pelo intérprete, através de regras especiais (dogma da completude do ordenamento jurídico). 
* todavia, se entre as leis há sucessão temporal, não há concurso aparente de normas, mas um conflito intertemporal, a ser solucionado pelo princípio da Lex posterior derogat priori.
Requisitos do conflito aparente:
 a) unidade de fato – quando há pluralidade de fatos não se fala em concurso aparente de normas, pois a questão é concurso material ou formal de crimes; 
b) Pluralidade de normas identificando o mesmo fato como criminoso.
6.2 Princípios para a solução dos conflitos aparente de normas:
6.2.1 Princípio da Especialidade – Diz-se que uma norma penal incriminadora é especial em relação a outra, geral, quando possui em sua definição legal todos os elementos típicos desta, e, mais alguns, de natureza objetiva ou subjetiva, denominados especializantes, apresentando, por isso, um minus ou um plus de severidade (para melhorar ou piorar a situação do agente). É uma relação de gênero e espécie.
	Princípio da Lex specialis derogat generali - Neste caso, há um tipo especial, contendo um crime específico, e um tipo geral, descrevendo um crime geral, razão pela qual aquele, por ser mais específico, prefere a este, mais geral. Tal prevalência ocorre em abstrato, eis que a comparação entre os tipos ocorre em abstrato, e não em concreto.
	Ex.: homicídio (norma geral – art. 121). Infanticídio (regra especial – art. 123, que contém as descrições do homicídio, mais especializantes “sob a influência de estado puerperal” e “próprio filho”). Assim, o furto simples é excluído pelo qualificado, o homicídio qualificado é excluído pelo latrocínio, etc.
	Tipo Fundamental e Tipos Derivados: o tipo fundamental é excluído pelo qualificado ou privilegiado, também por força do princípio da especialidade, já que os tipos derivados possuem todos os elementos do básico, mais os especializantes. Assim, o furto privilegiado e o qualificado prevalecem sobre o simples. 
	E o homicídio privilegiado-qualificado ?
a) não é possível (Frederico Marques, Magalhães Noronha), pois o § 1º do art. 121 vem depois do “caput”, e, assim, só se aplica ao “caput”, ao contrário do art. 129 – lesão corporal, onde o privilégio está colocado após a qualificadora.
b) É possível (Damásio), pois o art. 67 do CP dá primazia aos elementos subjetivos do crime. Logo, há possibilidade entre as privilegiadoras (de caráter subjetivo) e as qualificadoras objetivas.
* O art. 12 do CP: “As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso”. Advém do princípio da especialidade, mas refere-se às regras do Código e das normas extravagantes, atribuindo prevalência a estas. 
6. 2. 2 Princípio da Subsidiariedade – Há relação de primariedade e subsidiariedade entre normas quando descrevem graus de violação do mesmo bem jurídico, de forma que a infração definida pela subsidiária, de menor gravidade que a da principal, é absorvida por esta. Daí resulta que a conduta punível deve ser analisada em concreto (do juízo de valor do fato em face delas), e não em abstrato (só para piorar a situação do agente).
	Princípio da Lex Primaria derogat legi subsidiariae – A figura típica subsidiária está contida na principal. Ex.: A figura típica da ameaça (art. 147) está incluída no tipo do constrangimento ilegal (art. 146 do CP). 
	Tipos:
a) Subsidiariedade expressa ou explícita - quando a norma, em seu próprio texto, subordina a suaaplicação à não-aplicação de outra, de maior gravidade punitiva. Ex.: art. 132 (perigo de vida) fala em “se o fato não constitui crime mais grave”, como seria uma tentativa de homicídio. (Art. 129, § 3º do CP: lesão corporal seguida de morte se “... as circunstâncias evidencian que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo...”. Da mesma forma art. 21 da Lei das Contravenções Penais, que prevê as vias de fato, reconhece: “...se o fato não constitui crime”. 
b) Subsidiariedade tácita ou implícita – quando uma figura típica funciona como elementar ou circunstância legal específica de outra, de maior gravidade punitiva, de forma que esta (mais grave) exclui a primeira ( menos grave). As elementares de um tipo penal estão contidas em outro tipo, como essenciais ou circunstâncias qualificadoras. É implícito porque a norma subsidiária não determina expressamente a sua não aplicação. Ex.: art. 163 (dano) é subsidiário do furto qualificado pela destruição (art. 155, § 4º, I). 
	* É princípio semelhante ao da especialidade. Todavia, não há uma relação de gênero e espécie, e sim de subsidiariedade, razão pela qual resulta num “soldado de reserva” punitivo.
	6.2.3 Princípio da consunção (ou absorção) – Ocorre quando um fato definido por uma norma incriminadora é meio necessário ou normal fase de preparação ou execução de outro crime, bem como quando constitui conduta anterior ou posterior do agente, cometida com a mesma finalidade prática atinente àquele crime. Os fatos não se apresentam numa relação de espécie e gênero, mas de minus a plus, de conteúdo a continente, de parte a todo, de meio a fim, de fração a inteiro. 
	Princípio da Lex consumens derogat legi consumptae - A norma incriminadora que descreve o meio necessário, a norma fase de preparação ou execução de outro crime, ou a conduta anterior ou posterior, é excluída pela norma a esta relativa. Aplica-se a norma mais completa, mais avançada, e, pois, de maior gravidade.
	Ex.: - crime consumado absorve a tentativa; a tentativa absorve os atos preparatórios (relação entre crime perfeito e o imperfeito);
- furto em casa habitada absorve a violação de domicílio (arts. 150 e 155);
- homicídio absorve lesões corporais (chamado crime progressivo, que ocorre quando o agente, para alcançar um resultado, passa de uma conduta inicial para um evento mais grave);
- a conduta do partícipe (participação de menor importância) é absorvido pelo mesmo crime do agente.
* crime complexo – art. 101 - quando a lei considera como elemento ou circunstância de um tipo legal, fatos que, por si só, já constituem crimes – Ex.: ameaça e roubo. Aplica-se o princípio da subsidiariedade tácita ou da especialidade. Súmula 608 do STF 
* Progressão criminosa – quando um tipo, já realizado, ainda se concretiza através da prática sucessiva de outra figura típica em que se encontra implicada. Em regra, aplica-se a mais grave e o objetivo final do sujeito. Ex.: Ter objetos especiais para a prática de furto (contravenção penal – art. 21 da LCP) e furtar. Aplica-se apenas a pena do furto (antefactum impunível). Furto e, após, destruo o objeto (aplica-se apenas a pena do furto – postfactum impunível).
	E falsificação de documento público e estelionato ? Há 4 soluções: a) falsificação absorve o estelionato (postfactum impunível); b) estelionato absorve a falsificação (antefactum impunível); c) há concurso formal; e d) concurso material.
6.2.4 Princípio da alternatividade – Ocorre nos crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado, quando a norma penal prevê vários fatos alternativamente, como modalidades de um mesmo crime, mas só aplicável uma só vez, ainda quando os ditos fatos sejam praticados pelo mesmo sujeito sucessivamente. Ex.: na participação em suicídio, quando o agente induz, instiga e auxilia alguém a suicidar-se. Só incide uma única vez. Lei de Drogas – 11.3434/06, art. 33.
* não é concurso aparente de normas, eis que é o mesmo tipo penal que traz as diferentes condutas. 	
7 – Eficácia da Lei Penal no Espaço
7.1 Introdução:
	A lei penal é elaborada para viger dentro dos limites em que o Estado exerce a sua soberania. Como cada Estado possui sua própria soberania, e suas leis penais, surge o problema da delimitação espacial do âmbito da eficácia da legislação penal. É matéria de direito (penal) internacional, eis que as vezes uma conduta punível numa ação delituosa pode afetar ou lesar o ordenamento jurídico de mais de um país. Por isso, há regras de Direito Penal Internacional.
7.2 Lugar do crime – art. 6º do CP – Regra de Direito Penal Internacional:
	A determinação do lugar em que o crime se considera praticado (locus commissi delicti) é decisiva no tocante à competência penal internacional. Os problemas surgirão quando o iter criminis se desenrola em lugares diferentes. Assim, num homicídio, os atos executórios se desenvolvem no Brasil e a consumação (morte) ocorre na Argentina. No Brasil, a regra do art. 70, “caput”, do CPP, determina que a competência (interna) será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração. Mas e a Argentina, recebendo o corpo de um cidadão seu ?
	Há 3 teorias para resolver o problema:
a) teoria da atividade ou da ação – considera-se o lugar do crime o local da conduta criminoso (ação ou omissão), independente de onde ocorreu o resultado.
b) teoria do resultado (ou teoria do efeito ou do evento) – considera-se o lugar do crime onde ocorreu a produção do resultado, do evento ou seja, onde o crime se consumou.
c) teoria da ubiquidade (mista ou da unidade) – considera-se o ligar da infração tanto o local onde ocorreu os atos executórios como o do resultado.
	Art. 6º do CP – No Brasil, foi adotada a teoria da ubiquidade, ou seja, a lei nacional seria competente para punir um crime tanto se aqui ocorreram os atos executórios (incluindo, pois, um crime tentado) como se aqui ocorreu só o resultado (por exemplo, foi envenenado no Paraguai e aqui morreu). É regra de Direito Penal Internacional (não se trata de competência interna, regulado pelo art. 70 e seguintes do CPP).
	Tal dispositivo elimina, em especial, os conflitos negativos de competência e o problema da competência dos crimes a distância (por exemplo, A, da Argentina, envia uma carta-bomba para B, no Brasil). A competência é da lei brasileira. Se o agente será punido na Argentina, também, aplica-se o art. 8º do CP.
7.3 Princípio regulador do âmbito espacial da lei penal na lei brasileira – Regra - Territorialidade:
7.3.1 Princípio da territorialidade (regra)– a lei só tem aplicação no território que a determinou, sem atender à nacionalidade do sujeito ativo do delito ou do titular do bem jurídico lesado. Decorre da soberania do Estado, que atinge todas as pessoas que praticarem um crime em seu território. Não importa quem é o agente ou quem é a vítima, mas apenas o local.
* Art. 5º do CP – O princípio da territorialidade é a regra brasileira. Todavia, o próprio artigo abre exceções, ao ressalvar a renúncia de jurisdição do Estado por convenção, tratado e regras de Direito internacional, bem como havendo as exceções do art. 7º. É o princípio da territorialidade temperada (não absoluta). Exceções: art. 5º, “caput” (tratados e convenções), e art. 7º (extraterritorialidade).
	Território material – é o natural ou geográfico, compreendendo o espaço delimitado pelas fronteiras dos países.
	Território jurídico – abrange todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania. É o espaço terrestre, marítimo ou aéreo. Este é o conceito que nos interessa, para fins penais. Abrange os rios, mar territorial (200 milhas marítimas), etc.
Art. 5º, § 1º, do CP – Extensão do território nacional: Embarcações e Aeronaves: 
	Públicos – de guerras, serviço militar ou serviço público (polícia marítima, alfândega), postos à serviço de Chefes de Estado, de representantes diplomáticos – São considerados extensão do território nacional, onde quer que se encontrem – art. 5º, § 1º, 1º parte.Competência da Justiça brasileira, sempre.
- navios ou aeronaves públicas estrangeiras – são extensão do território estrangeiro.
Privados – são os mercantes, de recreio – só são considerados extensão do território brasileiro quando estão em alto-mar e no espaço aéreo correspondente (e não em território estrangeiro). 
- os navios privados, em alto-mar, seguem a bandeira do país que ostentam, e, nos portos e mares territoriais, seguem as leis do país em que estão.
- navio ou embarcação estrangeira privada que entra no país – lei brasileira – art. 5º, § 2º.
	Casos particulares: - crime praticado nos barcos salva-vidas ou destroços do navio naufragado, aplica-se também a lei da bandeira (do país do barco). Os barcos ou destroços são considerados remanescentes da nave (ou aeronave), e, assim, extensão do território do país.
- Marinheiro que, pertencendo a navio público, e descendo em serviço deste, comete crime em terra estrangeira, fica sujeito a lei penal da bandeira que o mesmo ostenta. Se desceu por motivos particulares, fica sujeito a lei local.
- quem comete crime e se abriga em navio público em porto estrangeiro, se foi crime político, não está o comandante obrigado a devolvê-lo à terras; se é de natureza comum, deve entregá-lo, mediante requisição do governo local.
	* Art. 109, IV, da CF – Justiça Federal.
7.4 Princípios reguladores do âmbito espacial da lei penal (Extraterritorialidade) – Exceções – art. 7 (condicionada ou incondicionada): 
7.4.1 Princípio da Nacionalidade ativa – art. 7º, II, letra b, do CP:
	De acordo com este princípio, também denominado de princípio da personalidade, a lei penal do Estado é aplicável a seus cidadãos onde quer se encontrem e onde quer que o crime for praticado. O que importa é a nacionalidade do sujeito.
a) Nacionalidade ativa – somente se considera o autor do delito, sem cogitação de quem é a vítima.
b) Nacionalidade passiva – Exige que o fato praticado no estrangeira atinja um bem jurídico de seu próprio Estado ou de um co-cidadão.
* Art. 7º, II, b – Princípio da personalidade ativa. Depende de condições – art. 7º, § 2º (condições simultâneas). É condicionada.
	O brasileiro não pode ser extraditado, logo aqui deve ser responsabilizado – ver caso do brasileiro gaúcho que matou outro brasileiro nos EUA.
7.4.2 Princípio da Defesa (de proteção ou real) – art. 7º, I:
	Leva em conta a nacionalidade do bem jurídico lesado pelo crime, independentemente do local de sua prática ou da nacionalidade do sujeito ativo. Objetiva defender os bens jurídicos que o Estado considera fundamentais.
	Casos: art. 7º, I, letra “a” (Lei de Segurança Nacional – Lei 7170/83); alínea b (arts. 155 a 180) e alínea c (arts. 289 a 326); e § 3º (contra brasileiro, no estrangeiro)
* Art. 7º, I – É incondicionada (sem requisitos)
* Art. 7º, § 3º - Praticado por estrangeiro contra brasileiro – condicionado: a) entrada do agente no território nacional; b) seja o fato também punível no país em que foi praticado; c) estar o crime incluído entre os da legislação brasileira autoriza a extradição – Lei 6815/80 e art. 5º, LI e LII, da CF; d) não ter sido o agente perdoado e não estar extinta a punibilidade – causa de extinção da punibilidade – art. 107 do CP; e) não ter sido absolvido ou não ter cumprido pena.
* Art. 7º, § 1º - O agente é punido ainda que absolvido ou condenado no Estrangeiro. Aplica-se a regra do art. 8º.
* Lei de Tortura – Lei nº 9455/97 – crime praticado no estrangeiro contra vítima brasileira.
7.4.3 Princípio da competência universal ou da justiça cosmopolita – art. 7º, I, d, e II, a, do CP:
	Preconiza o poder de cada Estado de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do delinquente e da vítima, ou o local de sua prática, bastando que o criminoso encontre-se no território de um país. São os crimes internacionais, que afetam os interesses de todas as nações, como o tráfico internacional de drogas, o genocídio, etc.
	Casos:
a) Genocídio (Crime contra a humanidade, que consiste em, com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso – Lei nº 2889/56) – art. 7º, I, d (incondicionada, quando praticado por brasileiro ou residente no país);
	* Art. 7º, § 1º, e 8º.
b) Crimes por tratado – tráfico ilícito de drogas, pirataria – art. 7º, II, a, do CP – Condicionada – art. 7º, § 2º, do C
7.4.4 Princípio da representação – art. 7º, II, c, do CP:
	Determina a aplicação da lei do país quando, por deficiência legislativa ou desinteresse do outro país, que deveria reprimir o crime, este não o faz, e diz respeito aos crimes cometidos em aeronaves e embarcações privada brasileiros no estrangeiro. É regra subsidiária.
	Condicionada – art. 7º, § 2º, do CP.
7.5 Contravenções – Lei das Contravenções Penais
	Vige apenas o princípio da territorialidade – art. 2º da LCP
7.5 Sentença penal estrangeira – arts. 8º e 9º do CP (problema do bin in idem)
	Penas diferentes - quando aplicável o princípio da extraterritorialidade (art. 7º), a pena aplicada no estrangeiro atenua (quando penas diversas) ou é computada (detração - quando pena menor) na pena a ser cumprida no Brasil.
	Pena igual já cumprida no estrangeiro – art. 7º, § 2º, letra d, do CP – neste caso, já cumprida a pena no estrangeiro, não se aplica a lei penal brasileira.
7.6 Eficácias da sentença penal estrangeira – art. 9º do CP:
	Efeitos (penais) incondicionados – a sentença penal estrangeira produz efeitos penais (para a reincidência, sursis e livramento condicional) independente de qualquer condição, bastando prova escorreita da condenação – art. 787 do CPP (a contrario sensu) (para Delmanto, Damásio e Mirabette). Há posições em contrário.
Efeitos Civis (reparação do dano) e aplicação da medida de segurança – depende de condições:
a) a lei brasileira deve prever os mesmos efeitos;
b) Homologação: 
Homologação de sentença estrangeira e soberania nacional:
	Em razão da soberania da nação, uma sentença estrangeira não pode produzir efeitos no Brasil sem a homologação feita por um tribunal pátrio, porque, se assim fosse, estar-se-ia, em última análise, aplicando em território nacional leis estrangeiras. Um povo somente é efetivamente soberano quando faz as suas próprias normas, não se submetendo a ordenamentos jurídicos alienígenas.
	Por isso, quando, em determinados casos, for conveniente que uma decisão estrangeira produza efeitos no Brasil é preciso haver homologação. 
	O objetivo é nacionalizar a lei penal estrangeira que deu fundamento à sentença a ser homologada. 
	A competência para homologação é do Superior Tribunal de Justiça (STJ), conforme art. 105, I, i, da CF/88. Arts. 787 a 790 do CPP. 
Obs: a homologação competia ao STF – art. 102, I, H da CF/88. Todavia, pela emenda constitucional nº 045/2004, tal competência passou ao STJ – art. 105, I, letra “i”, da CF/88. (resolução nº 9 do STJ dispõe, em caráter transitório da homologação de sentenças estrangeiras).
c) pedido da parte interessada– art. 9º, parágrafo único, do CP – para os efeitos civis, ou de tratado/requisição do Ministro da Justiça.
	Regulamento para a homologação – art. 787 a 790 do CPP
8 – Eficácia da lei penal em relação a pessoas que exercem determinadas funções públicas:
8.1 Introdução:
	Em princípio, todos são iguais perante a lei – art. 5º, “caput”, da CF, tendo a lei penal, assim como qualquer lei, aplicação “erga omnes”.
	Todavia, há especializações, determinadas por tratados e convenções internacionais (pelo princípio da reciprocidade) – art. 5º, “caput”, do CP; bem como por motivos de interesse público, para pessoas que exercem certas funções públicas (não para a pessoa, mas em razão da função que ela exerce).
8.2 Casos:
a) Imunidades diplomáticas - advém do Direito Internacional e é a imunidade conferida a representantes diplomáticos relativamente aos atos ilícitos por eles praticados. É causa pessoal de exclusão de pena, ficando excluídos dajurisdição penal dos países em que exercem suas funções. É de natureza material (e não de direito processual, embora haja controvérsias). 
Possuem a imunidade:
- chefes de Estado
- representantes de governos estrangeiros (embaixadores, secretário de embaixada, pessoal técnico e administrativo, aos componentes da família deles e funcionários das organizações internacionais (ONU , OEA). 
Obs: as imunidades diplomáticas referem-se a quaisquer delitos e abrangem todos os agentes diplomáticos: embaixador, pessoal e técnico e administrativo, os familiares do embaixador, os funcionários das organizações internacionais como a ONU e OEA, atingindo ainda o chefe de Estado estrangeiro que vista o país e os membros de sua comitiva. 
A sua origem está na Convenção de Viena de 18-4-1961, aprovada no Brasil, pelo Decreto Legislativo nº 103 de 1964, ratificado em 23-2-1965. 
Inclui a vedação de ser preso e depor como testemunha, porém há países que entendem que a imunidade não é absoluta, não alcançando como de drogas. 
A imunidade recai sobre a pessoa, (o diplomata) e não sobre o local (a embaixada). Existe , todavia, nesse caso, apenas obediência à Convenção de Viena para a inviolabilidade ( (quer dizer, as autoridades brasileiras em como a polícia não podem penetrar na embaixada). Conforme a Convenção de Viena:
“Embora as sedes diplomáticas não sejam mais consideradas extensão do território do país em que se encontram, são dotadas de inviolabilidade como garantias dos representantes estrangeiros, não podendo ser objeto de busca, requisição, embargo ou medida de execução.”
Por essa razão, as autoridades locais e seus agentes ali não podem penetrar sem o consentimento do diplomata, mesmo nas hipóteses legais. Não haverá inviolabilidade, contudo, se o crime for cometido no interior de um desses locais por pessoa estranha à legação. 
- chefes de Estado
- representantes de governos estrangeiros (embaixadores, secretário de embaixada, pessoal técnico e administrativo, aos componentes da família deles e funcionários das organizações internacionais (ONU , OEA). 
	
Não possuem imunidade:
	- Cônsules, por serem meramente administrativos. 
O Cônsul, agente administrativo que representa interesse de pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras, responde por infrações penais comuns de acordo com a legislação penal e processual penal brasileira, somente possuindo a imunidade quando o crime estiver vinculado à sua função (Convenção de Viena de 1963, ratificada pelo Decreto nº 61.078/67). Assim, se o cônsul mata uma pessoa em território brasileiro, aplica-se a lei brasileira. Mas se comete um crime de peculato no consulado, possui imunidade e responderá perante a lei penal e processual penal do seu país. Excluem-se os membros da família. 
	- empregados particulares dos agentes diplomáticos;
Então:
A imunidade diplomática se refere ao diplomata, à sua família e aos funcionários. Não há imunidade da embaixada, mas sim acordo entre países, vedando a entrada da polícia de outro país. O cônsul só possui imunidade quando o crime for relacionado a sua função. 
b) Imunidades Parlamentares;
- material – é a imunidade absoluta – é inviolável por suas opiniões, palavras e votos. É causa de exclusão de pena. Art. 53, “caput” da CF (não precisa ser no exercício do mandato – para Deputados e Senadores, inclusive estaduais – art. 27, § 1º, da CF). Para Vereadores, precisa ser no exercício do mandato e na sede do Município – art. 29, VIII, da CF. 
- formal – constitui prerrogativa processual: a) quanto à prisão – art. 53, § 2º, da CF; b) quanto ao processo – art. 53, § 1º,da CF; c) quanto ao ato de testemunhar – art. 53, § 6º, da CF; d) quanto ao foro – art. 53, § 1º, e 102, I, b, CF (processados pelo STF). Para os deputados estaduais, serão processados pelo TJ (Constituição Estadual – art. 55,§ 1º, da CE).
	* Vereadores só possuem imunidade material (não formal).
Não se estende ao co-réu sem tal qualidade – Súmula nº 245 do STF.
Revogação da Súmula 394 do STF – após a perda do mandato, não há mais foro privilegiado. 
Ver art. 84 do CPP – mesmo após, por atos administrativos, há foro privilegiado. Dispositivo tido como inconstitucional pelo STF, em recente decisão.
Inclusive para os co-autores sem tal prerrogativa – Súmula 704 do STF.
Prescrição – art. 53, § 5ª, da CF (ver art. 53, § 3º, da CF).
c) Chefes de governo:
- Federal (Presidente da República) – não possui imunidade material, sendo processado pelo STF (infrações comuns – art. 102, I, b, da CF) e pelo Senado (crimes de responsabilidade – art. 52, I, da CF). – Possui, pois, prerrogativa de foro – art. 86 da CF.	
- Estadual (Governador) – não possui imunidade material e apenas foro privilegiado, sendo processado pelo STJ (crimes comuns – art. 105, I, a, da CF) e pela Assembleia Legislativa (nos crime de responsabilidade – art. 53, VI, e 84, da CE).
* Prefeito – não tem imunidade material, apenas foro privilegiado – art. 29, X, da CF (pelo TJ). 
d) Outras figuras:
- Promotor de Justiça (inviabilidade pelas suas palavras e opiniões, no exercício de sua função, não ser indiciado em inquérito policial – Lei 8625/93. Foro privilegiado – só julgado pelo TJ.
- Juiz – idem.
- Advogado – imunidade material (palavras e opiniões no exercício de suas funções – não absoluto).
9 – Extradição:
	É o ato pela qual uma nação entrega a outra um autor de crime para ser julgado ou punido. Em relação ao Estado que solicita, a extradição é ativa; em relação ao que concede, é passiva.
	Assenta-se em tratados e convenções internacionais, fundados principalmente no Código de Bustamente (instituído na Convenção de Havana, em 1928). 
	Legislação: Constituição Federal – art. 5º, LI e LII, e Lei nº 6815/80, alterada pela Lei 6964/81, e regulamentado pelo Decreto 86715/81.
Não podem ser extraditados:
 a) brasileiro nato, salvo o naturalizado, quando praticou crime comum antes da naturalização, ou em caso de tráfico ilícito de drogas; 
b) estrangeiro, por crime político ou de opinião.
* Súmula 421 do STF – não impede a extradição o estrangeiro casado com brasileiro ou que tenha filhos brasileiros. 
* O português equiparado – art. 12, § 1º , da CF tem todos os direitos do naturalizado. Em virtude de tratado, só poderá ser extraditado, nos casos antes referidos, para Portugal.
	O pedido de extradição é feita pelo governo estrangeiro ao Presidente da República, que remete, então, ao STF.
	Não confundir com expulsão, que é a medida que toma um Estado para retirar do seu território uma pessoa não querida. Esta, pela Súmula 1 do STF, não pode ser aplicada a estrangeiro casado ou com filhos brasileiros. A Lei nº 10.409/02 (Drogas) , em seu art. 50, permite a expulsão de estrangeiro, sem ressalva. A nova Lei de Drogas (Lei nº 11.343/06) não repetiu tal dispositivo.
10 – Disposições finais da lei penal:
10.1 Contagem do prazo penal – art. 10 do CP:
	Os prazos penais que dizem respeito aos institutos penais ou mistos (duração da pena, livramento condicional, sursis, decadência, da prescrição etc.) são diferentes do prazo processual penal, ainda que no CPP estejam dispostos (o que vale é a sua natureza, e não sua colocação legislativa, sempre mais favorável ao réu). 
	Assim, o dia do começo (qual for a hora) inclui-se no cômputo do prazo, contando-se em dias, meses ou anos. O prazo se desenvolve entre dois termos: termo inicial (a quo) e o termo final (ad quem). Usa-se o calendário comum: um mês é o mês a ser cumprido, iniciando-se no dia 2 de março e encerrando-se no dia 1º de abril.
Os prazos são fatais e improrrogáveis.
Diversamente, os prazos processuais, nos termos do art. 798, § 1º, do CPP, não se inclui no prazo o dia do começo, computando-se o vencimento.
10.2 Frações não computáveis da pena – art. 11 do CP:
	No cálculo das penas, desprezam-se as horas, e se for preciso, será reduzido.
10.3 Legislações especial:
	Para a legislação extravagante, aplica-se o CP,salvo disposição em contrário.
11. TEORIA GERAL DO CRIME
11.1 Conceitos de crime:
O que é o crime?
	Conceito material (ou substancial) – É toda a ação ou omissão humana que lesa um interesse penalmente protegido. É a visão ontológica, visando a razão que levou o legislador a determinar como criminosa uma conduta humana. Para os jusnaturalistas, é toda a ação humana que fere a ordem ética e exige a expiração da pena (Metajurídico) . É toda a ação humana que ofende ou ameaça um bem jurídico reputado fundamental para a coexistência social (Jurídico ou Unitário).
	Conceito formal – É qualquer ação legalmente punível, ou seja, todo o ato que a lei pune com uma sanção. É toda ação ou omissão proibida pela lei sob a ameaça de uma pena.
	Conceito analítico – crime é o fato típico e ilícito, sendo a culpabilidade um pressuposto da pena. É o conceito dogmático, que identifica o crime com a norma penal. É o crime visto sob o aspecto da técnica jurídica, do posto de vista da lei.
	Diferença entre ilícito penal, civil e administrativo – é de grau ou quantidade (de acordo com a gravidade do ilícito).
11.2 Caracteres do crime sob o aspecto analítico: Fato típico, ilícito e culpável:
11.2.1 Fato típico é o comportamento humano (positivo ou negativo) que provoca um resultado naturalístico (em regra) e é previsto na lei penal como infração. É o fato humano que se amolda ao conjunto de elementos descritivos do crime contido na lei penal. A ação humana é o núcleo do crime
	Elementos do fato típico:
Conduta humana (dolosa ou culposa);
Resultado naturalístico (nem sempre ocorre);
Nexo de causalidade entre a conduta e o resultado;
Tipicidade - enquadramento do fato material (conduta, resultado e nexo causal) a uma norma penal incriminadora.
11.2.2 Ilicitude. É o ato contrário à ordem jurídica. É o juízo de valor que se faz com base no ordenamento jurídico. 
11.2.3 Culpabilidade. É a reprovação (ou censurabilidade) da ordem jurídica sobre a conduta criminosa (elemento moral). Ela recai sobre o agente, que praticou uma ação contrária à sua obrigação. Não é elemento do crime, mas pressuposto de aplicação da pena (é um critério ético de justiça). Assim, presente a culpabilidade, a resposta é a pena. Ausente a culpabilidade, há a periculosidade, que tem critério criminológico (critério de utilidade, ou seja, qual a medida mais útil a ser aplicada ao inimputável ?).
A punibilidade é a faculdade do Estrado de aplicar a pena ao criminoso. Não é elemento do crime, mas consequência jurídica do crime. Por isso, a extinção da punibilidade, salvo a anistia e abolitio criminis, não apagam o crime cometido, somente excluindo a possibilidade de aplicação da pena.
11.3 Sujeitos do crime:
Ativo – é o agente do crime. Aquele que pratica a conduta típica ou que para ela concorreu. É quem pratica o fato descrito na norma penal incriminadora. É só a pessoa física (natural) porque crime é ação humana. 
Indiciado (inquérito), denunciado (denúncia), réu ou acusado (processo), condenado ou apenado (sentença condenatória).
Pessoa jurídica – lei dos crimes ambientais – Lei n° 9.605/98, art. 3º (art. 225, § 3º, da CF) - Ver recente decisão, em habeas corpus, da 5ª Turma do STJ, aceitando tal possibilidade – HC nº 19.119 – MG, Rel. Min. Félix Fischer, em 12 de junho de 2006 (data do julgamento). Publicado no DJU 04/09/2006.
Passivo – é o titular de um bem ou interesse jurídico protegido pela lei penal. Pode ser pessoa física ou jurídica, ou coletiva (sujeito passivo direto).
Sujeito passivo indireto de todos os crimes – o Estado
Pessoa morta – não sendo titular de direitos, não pode ser sujeito passivo (os seus familiares, sim).
Incapaz e nascituro – podem ser sujeito passivo (o feto tem direito à vida). 
Agente ativo e passivo ao mesmo tempo – o homem não pode ser sujeito ativo e passivo ao mesmo tempo. Ele não pode cometer crime contra si mesmo.
11.4 Objeto do Delito:
	É aquilo contra o que se dirige a conduta humana. É a pretensão do sujeito ativo em atacar. 
Objeto jurídico – é o bem ou interesse que a norma penal tutela, como a vida, a integridade física, a honra, o patrimônio etc. Observa-se nos títulos (os objetos genéricos) e capítulos (os específicos) do Código Penal.
	No homicídio, o objeto genérico é a pessoa, e o específico, a vida.
	Todo o crime possui um objeto jurídico, pois senão seria um crime inexistente, putativo, imaginário.
Objeto material – é a pessoa ou coisa sobre a qual incide a ação delituosa, como o homem vivo no homicídio, a coisa no furto, o documento na falsificação, etc.
	Os crimes formais ou de mera conduta não possuem objeto material. Por exemplo, nos crimes contra a honra, não há objeto material (a honra é um bem imaterial), não necessitando de exame de corpo de delito.
Quando há objeto material, o tipo refere (é elementar do tipo), exigindo o exame de corpo de delito. E se o tipo exige objeto material, e este não existe, o crime é impossível – art. 17, 2ª parte, do CP. 
Poderá haver sobreposição entre o sujeito passivo e o objeto material. É o que ocorre no homicídio, em que o homem titular do objeto jurídico (vida) e, ao mesmo tempo, objeto material sobre o qual recai a ação. 
11.5 Classificação das infrações penais:
	Infrações (crime em sentido lato) abrangem os crimes e as contravenções (LCP). 
	Diferença de quantidade (da punição) da infração (e não de natureza).
11.6 Qualificações doutrinária:
	É o nome dado ao fato delituoso pela doutrina e pela lei, em respeito aos vários delitos existentes, pela multiplicidade de elementos essenciais, da estrutura e de seu conteúdo. 
	11.6.1 Crimes comuns e especiais:
	Crimes comuns são os descritos no Direito Penal Comum. Crimes especiais são aqueles definidos no Direito Penal Especial (militar, por exemplo).
	11.6.2 Crimes comuns e próprios:
	Crimes comuns são aqueles praticados por qualquer pessoa. Crimes próprios são aqueles que exigem uma particular condição ou qualidade do agente ativo (por exemplo, de funcionário público, no caso do peculato). Ex: art. 327 CP.
	11.6.3 Crimes de dano e de perigo:
	Crimes de dano são os que só se consumam com a efetiva lesão do bem jurídico (homicídio, lesão, etc.)
	Crimes de perigo são os que consumam tão-só com a possibilidade do dano (perigo de contágio venéreo – art. 130, “caput”, rixa – art. 137, etc.).
	O perigo pode ser presumido ou concreto – Presumido (ou abstrato) quando a lei o presume, não precisando ser provado. Ex.: abandono de incapaz – art. 135. Concreto, quando necessita ser provado. Ex.: exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134).
	O perigo pode ser individual ou comum – individual é o que expõe o risco de dano um bem jurídico de uma só pessoa. Ex.: perigo de contágio venéreo (art. 130). Comum, quando expõe ao risco de dano o interesse jurídico de várias pessoas. Ex.: incêndio – art. 250 CP.
	O perigo pode ser atual (que é o que está ocorrendo – art. 24 – estado de necessidade), iminente (é o que está prestes à acontecer – ex.: art. 132), ou futuro (o que poderá acontecer).
	11.6.4 Crimes materiais, formais de mera conduta:
	Problema do resultado – naturalístico (modificação do mundo exterior causado pelo comportamento humano) ou normativo (jurídico). Todo o crime possui um resultado normativo, mas nem todo o crime possui um resultado naturalístico (por exemplo, o crime de violação de domicílio, art. 150 CP).
Assim, há crimes de: 
de mera conduta (sem resultado naturalístico), onde o legislador só descreve o comportamento do agente. Ex.: desobediência (art. 330 CP), violação de domicílio (art. 150 CP), etc.
formais (de evento naturalístico cortado ou de consumação antecipada), onde há a descrição de um resultado, mas o legislador antecipa a consumação à sua produção. O tipo menciona o comportamento e o resultado, mas não exige a sua produção para a consumação. Ex.: crimes contra a honra (art. 138 do CP) e extorsão

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