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Organização Judiciária: Competência e Cooperação

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Organização 
Judiciária: Noções 
de Competência e 
de Cooperação
5
92 • capítulo 5
5.1 Organização Judiciária
5.1.1 Considerações iniciais
A Constituição Federal, em seus art. 92 a 126, determina os órgãos integrantes 
do Poder Judiciário Nacional, ao qual corresponde precipuamente o exercício 
da função jurisdicional. Por força do art. 125, caput, da CF, cabe aos Estados 
membros, por meio das respectivas Constituições e leis de organização judiciá-
ria, dispor sobre a organização judiciária estadual, obedecendo aos princípios 
e regras da Lei Maior.
As normas ditadas pelos Estados deverão observar, ainda, as diretrizes fi-
xadas pelo Estatuto da Magistratura (art. 93 da CF). No entanto, enquanto este 
não for aprovado, referidas diretrizes devem ser buscadas na Lei Orgânica da 
Magistratura Nacional (LC n. 35/79), que continua vigendo e desempenhando, 
por ora, o papel do Estatuto da Magistratura.
No intuito de preservar o objetivo e a missão constitucional do Poder 
Judiciário, bem como prevenir desvios de conduta e reprimir atos ilícitos, foi 
idealizado o controle externo do Poder Judiciário, realizado pelo Conselho 
Nacional de Justiça, instituído pela Emenda Constitucional n. 45/2004.
Figura 5.1 – 
capítulo 5 • 93
Trata se de um órgão colegiado composto por quinze membros (incluindo 
membros do Ministério Público, advogados e cidadãos de notável saber jurí-
dico e reputação ilibada), nomeados pelo Presidente da República, aos quais 
compete, dentre outras funções não jurisdicionais, o controle da atuação admi-
nistrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres fun-
cionais dos juízes, além de outras atribuições que lhes forem conferidas pelo 
Estatuto da Magistratura (art. 103 B, § 4º, da CF).
O CNJ é presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal1 ; os mem-
bros são nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha 
pela maioria absoluta do Senado Federal.
O CNJ, ao lado das Ouvidorias de Justiça (art. 103 B, § 7º) e das Escolas da 
Magistratura (art. 93, IV), serve como órgão de controle e aperfeiçoamento do 
Poder Judiciário.
5.1.2 Órgãos do Poder Judiciário
No Brasil, os órgãos que compõem o Poder Judiciário ocupam se principal-
mente da função jurisdicional, à exceção do CNJ, visto anteriormente, que tem 
função administrativa e regulamentar.
O art. 92 da Carta de 1988 nos apresenta os Órgãos do Poder Judiciário, a saber:
Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário:
I. – o Supremo Tribunal Federal;
Ia. – o Conselho Nacional de Justiça;
II. – o Superior Tribunal de Justiça;
III. – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais;
IV. – os Tribunais e Juízes do Trabalho;
V. – os Tribunais e Juízes Eleitorais;
VI. – os Tribunais e Juízes Militares;
VII. – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.
Vejamos, agora, as características dos principais órgãos:
1 Emenda Constitucional n. 61/2009.
94 • capítulo 5
Figura 5.2 – 
a) Supremo Tribunal Federal (STF). Regulado nos arts. 101 a 103, é 
responsável pelo controle da constitucionalidade das leis – “guardião da 
Constituição”; é o órgão de cúpula do Poder Judiciário2 , cabendo lhe proferir 
a última palavra nas causas que lhe são submetidas. Compõe se de onze mi-
nistros, tem sede na Capital Federal e competência que se estende sobre todo 
o território nacional, bem como competência originária e recursal (ordinária, 
art. 102, II, e extraordinária, art. 102, III).
b) Superior Tribunal de Justiça (STJ). Constitui inovação da CF/88 (arts. 
104 e 105, c), sendo o responsável por promover a defesa da lei federal infra-
constitucional e unificador da interpretação do direito, quando haja interpre-
tações divergentes entre os Tribunais de Justiça ou dos Tribunais Regionais 
Federais. Compõe se de, no mínimo, 33 ministros, tem sede na Capital Federal 
e competência que se estende sobre todo o território nacional, além de ter com-
petência originária e recursal. Junto ao STF, funciona como órgão de superpo-
sição, já que julga recursos interpostos em processos advindos das esferas esta-
dual e federal.
c) Tribunal Superior do Trabalho (TST). Contemplado nos arts. 111 e 111 
A. É órgão de superposição da Justiça Trabalhista e julga os recursos interpos-
tos em causas que já estejam exauridas nas instâncias inferiores. Compõe se de 
2 Novidade trazida pela Emenda Constitucional n. 45, de 30 de dezembro de 2004, as decisões com efeito 
vinculante encontram se previstas no art. 103 A da CF, que assim dispõe: “o Supremo Tribunal Federal poderá, 
de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre 
matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante 
em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, 
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”.
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27 ministros (art. 111 A, caput, da CF), sua sede localiza se na Capital Federal e 
sua competência se estende sobre todo o território nacional (art. 92, §§ 1º e 2º, 
da CF). Além do Tribunal Superior do Trabalho, compõem a Justiça Trabalhista 
os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho3 (art. 111 da CF). 
Essa Justiça integra a denominada estrutura judiciária especial4 .
d) Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Está previsto no art. 119, tem sede 
na Capital Federal e jurisdição sobre todo o território nacional (art. 92, §§ 1º e 
2º, da CF). É composto, no mínimo, por 7 ministros (art. 119, caput, da CF). 
e) Superior Tribunal Militar (STM). Regulado pelo art. 123, compõe-se de 
15 ministros vitalícios. A Justiça Militar da União é composta por Conselhos de 
Justiça Militar (órgãos de 1ª instância) e pelo STM. Sua competência se limita 
a processar e julgar os “crimes militares”, assim definidos em lei, que também 
disporá sobre sua organização e funcionamento (art. 124, caput e parágrafo 
único, da CF), não conflitando com o art. 125, § 4º, da CF. 
A Justiça Federal de primeira instância é disciplinada pela Lei de Organização 
Judiciária Federal (instituída pela Lei n. 5.010, de 1966), ao passo que cada 
Estado membro da Federação tem sua própria Lei de Organização Judiciária.
A Justiça Federal comum (art. 106 da CF), por sua vez, é composta pelos 
Tribunais Regionais Federais – inovação da CF/88, que extinguiu o Tribunal 
Federal de Recursos – e pelos juízos federais de 1ª instância. A composição dos 
TRFs está prevista no art. 107 da CF, estando sua sede e competência territorial 
disciplinadas pela Lei 7.727/89 (art. 107, § 1º, da CF).
São regionais, podendo compreender mais de uma região geográfica – 
atualmente há 5, com sede no Distrito Federal, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo 
e Porto Alegre5.
Têm competência originária (art. 108, I, da CF) e recursal (art. 108, II, da 
CF), para as causas conhecidas originalmente pelos juízes federais (art. 109 da 
CF). Já os juízos federais de 1º grau são divididos em seções judiciárias, que 
são agrupadas em regiões correspondentes a cada um dos Tribunais Regionais 
Federais, com sede nas respectivas capitais (art. 110 da CF).
3 Na Justiça do Trabalho, também temos a presença da justiça consensual, representada pelas Comissões de 
Conciliação Prévia (Lei n. 9.958/2000), que buscam conciliar os conflitos individuais do trabalho.
4 As Juntas de Conciliação e Julgamento, bem como os juízes classistas, foram extintos pela Emenda 
Constitucional n. 24/99.
5 Conforme a redação do art. 27, § 6º, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, da Resolução n. 1, 
de 6 de outubro de 1988,do Tribunal Federal de Recursos, e da Lei n. 7.727, de 9 de janeiro de 1989.
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As seções judiciárias, por seu turno, podem ser divididas em subseções, o 
que permite a interiorização da Justiça Federal Comum, contribuindo para o 
acesso à Justiça pela eliminação de obstáculos de natureza geográfica.
A competência dos juízos federais de 1ª instância deflui do art. 109 da 
Constituição e se determina, sobretudo, nas “causas em que a União, entidade 
autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de au-
toras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidente de tra-
balho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho” (art. 109, I, da CF). 
Ao lado dos TRFs e dos juízos de 1ª instância, existem os Juizados Especiais 
Federais (art. 98, § 1º, da CF; Lei n. 10.259/2001). Estes compreendem órgãos de 
primeira e segunda instâncias (art. 14 da Lei n. 10.259/2001).
A Justiça Estadual comum é estruturada pelos preceitos estabelecidos pela 
Constituição Federal (arts. 93 a 100 e 125), pela Constituição Estadual (que 
definirá a competência dos Tribunais), bem como pelas respectivas Leis de 
Organização Judiciária (art. 125, § 1º, da CF).
É composta pelos Tribunais de Justiça (TJ) – órgãos de 2ª instância – com 
competência sobre todo o Estado e situados em sua capital; pelos órgãos de 1º 
grau, como os juízes de direito; e o Tribunal do Júri, competente para os crimes 
dolosos contra a vida.
Ademais, a Constituição Federal facultou aos Estados e ao Distrito 
Federal, em seu art. 98, a criação dos Juizados Especiais, regulados pela Lei 
n. 9.099/95, tendo competência civil e criminal, e compreendendo órgãos de 
1ª e 2ª instâncias (Turma ou Conselho Recursal, integrado por Juízes e não 
por Desembargadores).
No âmbito estadual, a partir de 22 de dezembro de 2009, com a Lei n. 12.153, 
foram previstos os Juizados Especiais da Fazenda Pública para os Estados, o 
Distrito Federal e os Territórios, sendo que estes, junto com os Juizados 
Especiais Cíveis e Criminais, passarão a integrar o “Sistema dos Juizados 
Especiais”. 
Os Juizados da Fazenda Pública têm competência absoluta para processar, 
conciliar, julgar e executar as causas cíveis, de interesse dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios, cujo valor não ultrapasse 60 (sessenta) salários mí-
nimos, podendo ser réus os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, bem 
como as Autarquias, Fundações e Empresas Públicas a ele vinculadas (art. 5º).
Uma última observação sobre a nova dimensão da competência da Justiça 
do Trabalho, após a Emenda Constitucional n. 45/2004.
capítulo 5 • 97
A atual redação do art. 114 do texto constitucional é a seguinte:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I. as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direi-
to público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
II. as ações que envolvam exercício do direito de greve;
III. as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindica-
tos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;
IV. os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato 
questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;
V. os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, 
ressalvado o disposto no art. 102, I, o;
VI. as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da 
relação de trabalho;
VII. as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empre-
gadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;
VIII. a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, 
I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;
IX. outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma 
da lei.
O Supremo Tribunal Federal já vinha reconhecendo a necessidade do alar-
gamento da competência da Justiça do Trabalho, após o advento da Emenda n. 
45. Desse modo, a Justiça do Trabalho julgará não apenas ações trabalhistas, 
mas também relações provenientes desta. Por exemplo: discutirá o pagamento 
de salário e possível dano civil decorrente de emprego. Esse entendimento foi 
acolhido pelo STJ, levando ao cancelamento da Súmula 3666 .
Essa reformulação de competências gerou duas ADIs, nas quais o STF in-
terpretou, conforme a Constituição, a dita violação ao pacto federativo ao 
passar para o âmbito federal (Justiça do Trabalho) o que era estadual: na ADI 
2.295-6, decidiu-se que não se aplica o art. 114 para servidores públicos e para 
a Administração Indireta, devendo ser julgados na Vara de Fazenda Pública se 
estaduais ou municipais e na Vara Federal se servidores federais. Já a ADI 3.684-
0 excluiu quaisquer questões penais da Justiça do Trabalho.
6 CC 101.977 SP, rel. Min. Teori Albino Zavascki, julgado em 16 9 2009, Informativo STJ, n. 407.
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Nessa linha de raciocínio, o STJ7 já decidiu que compete à Justiça do 
Trabalho processar e julgar ação de execução por quantia certa, proposta por 
empregador em face de seu ex-empregado, na qual sejam cobrados valores re-
lativos a contrato de mútuo celebrado entre as partes para o então trabalhador 
adquirir veículo automotor particular destinado ao exercício das atividades 
laborais, já que a competência para julgamento de demanda levada a juízo é 
fixada em razão da natureza da causa, que é definida pelo pedido e pela causa 
de pedir deduzidos.
5.1.3 Noções de competência
Embora seja corrente na doutrina a concepção de competência como “medida 
da jurisdição”, sendo a função jurisdicional una e indivisível, afigura se mais 
apropriado referir se ao instituto como os limites em que cada órgão jurisdicio-
nal exerce, de forma legítima, tal função conferida ao Estado, ou seja, é como 
se a competência fosse o “freio” da jurisdição, definindo as hipóteses em que o 
magistrado julgará. Trata-se da delimitação da função jurisdicional do órgão.
A competência tem natureza jurídica de pressuposto processual, assim 
como a imparcialidade do magistrado.
Essa restrição ao exercício da jurisdição resulta da lei8 , que traçará os limi-
tes dentro dos quais ela será exercida. 
A partir daí se infere que nem todo órgão que tem jurisdição é competente 
para julgar, aleatoriamente, todas as causas apresentadas, devendo obedecer a 
determinadas regras, previamente traçadas, a fim de que se alcance a melhor 
e mais eficiente prestação da atividade jurisdicional, por meio dos diversos ór-
gãos judiciais existentes, que, dentro dos limites de sua competência, atuam 
com plena independência, ou seja, a todos os órgãos atribui se jurisdição, mas, 
para que cada um se dedique apenas a uma parcela dessa extensa e complexa 
função, é delimitada sua atuação. 
Por isso, muitos doutrinadores dizem que a competência é a medida da ju-
risdição, por ser a quantidade de jurisdição atribuída a cada órgão.
7 CC 124.894-SP, rel. Min. Raul Araújo, j. em 10-4-2013, Informativo STJ, n. 520.
8 Aqui se fala em lei no seu sentido lato, pois encontramos normas quanto à competência não só nas leis 
ordinárias federais e estaduais (como os Códigos de Organização e Divisão Judiciárias dos Estados), mas também 
nas Constituições Federal e Estaduais, bem como nos regimentos internos dos tribunais.
capítulo 5 • 99
Apesar de a concentração das decisões em um único órgão possibilitar um 
número bem maior de decisões homogêneas, a exigência desta delimitação 
prévia, segundo critérios como a especialização da Justiça, distribuição territo-
rial e divisão de serviço, decorre da evidente impossibilidade de um único juiz 
decidir adequadamentetodos os tipos de lide existentes, atendendo à necessi-
dade de realização de justiça.
Observe se, ainda, que, sob o ponto de vista da relação processual, a compe-
tência tem natureza jurídica de pressuposto processual de validade. Com efei-
to, a viabilidade do processo está condicionada à sua instauração perante órgão 
judicial competente para dele conhecer.
5.1.4 Princípios que Reguem a Competência
Do instituto da competência pode se extrair diversos princípios e subprin-
cípios, que são:
Figura 5.3 – 
a) Juiz natural: segundo esse princípio, que rege todo o instituto da com-
petência, toda estrutura jurisdicional é concebida de forma a haver apenas um 
órgão jurisdicional competente para examinar determinada causa. Não se nega 
o princípio da unidade da jurisdição, mas, por meio desse princípio, ocorre a 
concretização, baseada em normas constitucionais, ordinárias e infralegais, do 
exercício da função jurisdicional. Além disso, exige se que a determinação des-
se órgão competente se dê por critérios abstratos e previamente estabelecidos, 
vedando sua fixação a posteriori. 
100 • capítulo 5
b) Perpetuação da competência: esse princípio preceitua que o momento 
de determinação da competência ocorre quando da propositura da ação. Desse 
modo, são irrelevantes as ocasionais modificações no estado de fato (como a 
mudança de domicílio do réu ou do autor e a alteração do objeto litigioso do 
processo, ou de direito, a exemplo da alteração dos limites territoriais da co-
marca em que se situa o imóvel demandado). 
Há exceções no art. 43 do CPC/2015: se o órgão foi suprimido ou extinto, os 
processos serão redistribuídos. Havendo alteração em razão da matéria, trans-
ferem-se os processos. O mesmo se dá em casos de alteração da hierarquia do 
órgão jurisdicional.
Aliás, a jurisprudência já vinha abrindo exceções a esse princípio. Colhemos, 
nesse sentido, pronunciamento do Eg. STJ, em decisão relatada pela Min. 
Nancy Andrighi9 , entendendo que, em processo referente à disputa judicial 
que envolve guarda ou mesmo adoção de crianças ou adolescentes, prevalece 
o princípio do juízo imediato (art. 147, I, do ECA), devendo ser flexibilizada a 
regra do art. 43 do CPC/2015, em atenção ao princípio da proteção máxima da 
criança e do adolescente. Esta interpretação neoconstitucional é preferível à li-
teralidade mantenedora da competência em local desfavorável ao menor.
Com esse entendimento, o Tribunal permitiu a modificação do juízo com-
petente em razão da mudança de domicílio do menor e de seu representante 
legal, mesmo após iniciada a ação. 
c) Princípio da competência sobre a competência (Kompetenz-
Kompetenz): todo juiz é competente para examinar sua competência para de-
terminada causa. 
5.1.5 Critérios para a determinação da competência
Apesar das diversas classificações que os autores pátrios fazem acerca da com-
petência, há certo consenso em adotar a seguinte sistematização: têm-se as 
competências: 
I. Internacional: 
a) exclusiva; ou
b) concorrente; e 
9 STJ, CC 111.130-SC, rel. Nancy Andrighi. Disponível no Informativo n. 446, set. 2010.
capítulo 5 • 101
II. interna, que pode ser fixada em razão de um desses quatro parâmetros: 
a) território; 
b) matéria; 
c) valor; 
d) função. 
Esses quatro critérios podem vir definidos nos seguintes diplomas: 
I. Constituição Federal (competência constitucional); 
II. Lei Federal (o que inclui o próprio CPC); 
III. Constituição Estadual; 
IV. Leis Estaduais; 
V. Regimentos Internos dos Tribunais e Códigos de Organização Judiciária.
5.2 Regras gerais de competência e 
cooperação internacionais
5.2.1 Competência internacional
Figura 5.4 – 
102 • capítulo 5
Destarte, cumpre verificar os critérios norteadores de fixação da competên-
cia, que, em última análise, representam os parâmetros adotados pelo legisla-
dor para estabelecer a competência de cada órgão judicante. Já as regras legais 
reguladoras da competência, ditadas e organizadas em obediência a referidos 
critérios, representam os limites impostos ao exercício da jurisdição pelos ór-
gãos judicantes.
No novo CPC, a competência privativa vem prevista no art. 23. Segundo esse 
dispositivo, compete exclusivamente ao Poder Judiciário do Brasil:
a) conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil; 
b) em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testa-
mento particular, inventário e partilha de bens situados no Brasil, ainda que o 
autor da herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do 
território nacional; 
c) em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proce-
der à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionali-
dade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional. 
A competência concorrente, a seu turno, vem prevista nos arts. 21 e 22. 
Nesses casos, a ação pode ser proposta tanto no Brasil como em outro país, ob-
servadas as regras de competência deste, bem como as normas previstas em 
tratados e convenções internacionais. 
Ademais, caso seja necessário executar a decisão no Brasil, será preciso pro-
ceder à sua prévia homologação perante o Superior Tribunal de Justiça. 
São hipóteses de competência concorrente as ações:
a) em que o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domicilia-
do no Brasil; 
b) em que no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação; 
c) em que o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil. 
d) de alimentos, quando: 
d1) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil; 
d2) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade 
de bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos; 
capítulo 5 • 103
e) decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domi-
cílio ou residência no Brasil; 
f) em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição 
nacional. 
No exame desse ponto, é relevante indagar quais são os efeitos da litispen-
dência e da coisa julgada sobre a competência da Justiça brasileira. 
Em outras palavras: é preciso saber se o órgão judiciário brasileiro poderá 
conhecer de ação idêntica àquela que já esteja sendo exercida perante autorida-
de estrangeira (litispendência); outrossim, deve se examinar se órgão judiciário 
brasileiro poderá conhecer de ação idêntica àquela que tenha sido proposta pe-
rante autoridade estrangeira, havendo esta proferido sentença de mérito contra 
a qual não mais possa ser manejado qualquer recurso (coisa julgada material).
A primeira observação a registrar é que a solução das questões relacionadas 
à litispendência e à coisa julgada variará conforme a situação concreta seja re-
gida por regra de competência exclusiva ou concorrente.
Assim, em se tratando de competência exclusiva da Justiça brasileira, a sen-
tença estrangeira não produzirá qualquer efeito em território nacional. Logo, 
a litispendência ou a coisa julgada não impediria o exercício da jurisdição por 
órgão judiciário pátrio.
Para as hipóteses de competência concorrente, no que diz respeito à litis-
pendência, a solução será semelhante. Com efeito, ainda que a ação esteja 
sendo exercida perante órgão judiciário de Estado estrangeiro, ela poderá ser 
intentada perante a Justiça brasileira.
Excetuam-se, na forma do art. 24 do CPC/2015, as disposições em contrário 
de tratados internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.
Finalmente, o art. 25 cria hipótese de exclusão da jurisdição pátria. É o caso 
de existência de cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato 
internacional. No entanto, a exclusão não é absoluta.
É preciso que o réu argua tal circunstância na contestação(art. 25, parte fi-
nal), e, ainda, que não se trate de uma das hipóteses de competência privativa 
(art. 25, § 1º).
104 • capítulo 5
5.2.2 Cooperação internacional
Uma das inovações dignas de registro no novo CPC é a preocupação com a coo-
peração, mesmo na seara internacional.
Figura 5.5 – 
Afinal, num mundo globalizado e conectado, essa parece ser mesmo uma 
das ferramentas mais importantes na busca da celeridade e da efetividade dos 
provimentos jurisdicionais.
O art. 26 dispõe que a cooperação jurídica internacional será regida por tra-
tado de que o Brasil faz parte (podendo ser, excepcionalmente, realizada com 
base em reciprocidade, manifestada por via diplomática – § 1º) e deverá obser-
var os seguintes princípios:
I. respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente;
II. igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou 
não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dos processos, asse-
gurando-se assistência judiciária aos necessitados;
III. publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na le-
gislação brasileira ou na do Estado requerente;
IV. existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedi-
dos de cooperação;
V. espontaneidade na transmissão de informações a autorida-
des estrangeiras.
capítulo 5 • 105
A reciprocidade é elemento chave na cooperação. Contudo, o § 2º excepcio-
na essa regra ao permitir que a homologação de sentença estrangeira seja feita 
em nosso país, mesmo diante da ausência de tal condição.
Ademais, na forma do § 3º, nas modalidades de cooperação internacional 
não serão admitidas a prática de atos incompatíveis com as normas fundamen-
tais do Estado brasileiro.
Nas diligências de cooperação internacional, é preciso centralizar os atos 
em um único órgão. Segundo o § 4º, caberão ao Ministério da Justiça as funções 
de autoridade central desses atos, salvo se houver designação específica em tra-
tado ou convenção.
O art. 27 estabelece as diligências que poderão ser objeto de cooperação in-
ternacional. São elas:
a) citação, intimação e notificação judicial e extrajudicial;
b) colheita de provas e obtenção de informações;
c) homologação e cumprimento de decisão;
d) concessão de medida judicial de urgência;
e) assistência jurídica internacional;
f) qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela 
lei brasileira.
Além dessas diligências, o novo CPC prevê outras medidas, a saber:
1. Auxílio direto: utilizado quando a medida não decorre diretamente 
de decisão de autoridade jurisdicional estrangeira sujeita a homologação no 
Brasil. É cabível para os seguintes objetos, na forma do art. 30:
a) obtenção e prestação de informações sobre o ordenamento jurídico e 
sobre processos administrativos ou jurisdicionais findos ou em curso;
b) colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em cur-
so no estrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira;
c) qualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela 
lei brasileira.
2. Carta rogatória: cabível para a cooperação entre órgão jurisdicional 
brasileiro e órgão jurisdicional estrangeiro para a prática de ato de citação, in-
timação, notificação judicial, colheita de provas, obtenção de informações e 
cumprimento de decisão interlocutória, sempre que o ato estrangeiro consti-
tuir decisão a ser executada no Brasil (art. 35). É importante lembrar que o pro-
cedimento perante o STJ é regulamentado pelo próprio CPC (art. 960) e ainda 
pelo Regimento Interno da Corte.
106 • capítulo 5
As diligências requeridas em regime de cooperação podem partir do Brasil 
(pedido ativo) ou serem cumpridas aqui (pedido passivo). No primeiro caso, de-
vem ser enviadas à autoridade central para posterior remessa ao estrangeiro 
(art. 37). No segundo, poderá haver recusa caso a providência solicitada confi-
gure manifesta ofensa à ordem pública (art. 39).
Figura 5.6 – 
Ação e as 
Condições para 
o seu Regular 
Exercício. Princípios 
da Ação Civil 
Pública
6
108 • capítulo 6
6.1 A ação no plano individual. As condições 
para o regular exercício do direito de ação
6.1.1 A noção de ação no direito processual
Consoante os ensinamentos de Ada Pellegrini Grinover1 , ação seria o direito ao 
exercício da atividade jurisdicional (ou poder de exigir esse exercício). Invocar 
esse direito implica provocar a jurisdição (provocação necessária, visto que, em 
regra, ela é inerte), o que se exerce através de um complexo de atos denomina-
do processo.
Num conceito ainda mais completo, ação seria o direito público, subjetivo, 
autônomo e abstrato à prestação jurisdicional sobre uma demanda de direi-
to material.
Trata se, portanto, de direito à jurisdição – desde que preenchidas algumas 
condições, como será visto logo adiante –, que encontra fundamento consti-
tucional na garantia da tutela jurisdicional efetiva (art. 5º, XXXV, da CF), uma 
vez que através dela o titular do direito terá acesso à proteção de seu direito 
material contra uma lesão ou ameaça. Vista nesse sentido, isto é, como direito 
à jurisdição, a ação é um direito tanto do autor quanto do réu.
Figura 6.1 – 
1 O direito de ação constitucional seria o fundamento do direito de ação processual, sendo este último o único 
que interessa ao processo. DINAMARCO, Cândido Rangel; CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. Teoria geral do 
processo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 256.
capítulo 6 • 109
6.1.2 Teorias quanto à natureza jurídica da ação
6.1.2.1 eoria imanentista
Segundo a clássica proposição romana de Celso, a ação era o próprio direito 
material colocado em movimento, a reagir contra a ameaça ou violação sofrida. 
Não havia ação sem direito. A ação nada mais era do que o direito de alguém 
perseguir em juízo o que lhe era devido ou o que era seu, para abranger tanto os 
direitos reais como os direitos obrigacionais.
Defendia se a tese da imanência do direito de ação ao direito subjetivo 
material1 . O direito de ação estava intimamente vinculado ao direito material, 
era o próprio direito material reagindo a uma violação e não era independente 
do direito material.
Tal teoria vigorou até meados do século XIX, mas seguiu exercendo gran-
de influência na doutrina pátria até 19332 . Considerava o direito processual 
não como ciência autônoma, mas como mero apêndice do direito material, e 
a ação, um simples capítulo do direito civil. O direito processual era um aden-
do do direito civil, a forma como o direito material se manifestava em juízo, 
procurando se defender. Nesse sentido, a maior característica dessa teoria era 
a indissolúvel ligação estabelecida entre a ação e o direito que através dela se 
tutelava3 . 
Suas diretrizes privatistas influenciaram a elaboração do art. 75, do revo-
gado Código Civil de 1916, segundo o qual “a todo o direito corresponde uma 
ação, que o assegura”.
A superação dessa teoria e a reelaboração do conceito de ação foram for-
temente influenciadas pela célebre polêmica travada entre Windscheid e 
Müther, nos anos de 1856 e 1857, que começaram uma desavença sobre o con-
ceito de actio no direito romano e de suas implicações no conceito de ação do 
direito alemão.
Windscheid concluiu que a actio era o termo para designar o que se podia 
exigir do outro. A actio não era um meio de defesa de um direito, senão que o 
1 A teoria imanentista repousava suas bases em três ideias fundamentais: 1) não há ação sem direito; 2) não 
há direito sem ação; 3) a ação segue a natureza do direito.
2 Segundo Ovídio Baptista da Silva e Fábio Gomes, a Teoria Civilista teria prevalecido entre nós até 
aproximadamente 1933. Essesjuristas apontam uma única exceção anterior a esse período: a obra de Paula Batista. 
SILVA, Ovídio Batista da; GOMES, Fabio Luiz. Teoria geral do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, 
p. 101.
3 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. v. 1, p. 
148.
110 • capítulo 6
próprio direito. O cidadão romano não era titular de um direito contra alguém, 
mas, sim, de uma actio, ou seja, do poder de agir contra outrem; poder este que 
não lhe advinha de um direito, mas da concessão de um pretor.
Já Müther sustentou a ideia de um direito de agir contra o Estado e também 
um direito do autor para que o pretor lhe outorgasse a “fórmula” que, na época, 
seria a tutela jurídica.
Afirmou Müther que o direito à concessão da “fórmula” nasce de um direito 
originário. Enquanto o particular é o obrigado perante o direito originário, o 
obrigado, diante da “fórmula”, somente pode ser o Estado.
O direito de agir se destinaria a fazer com que o Estado exercesse seu direito 
contra o obrigado e, por mais essa razão, teria uma clara ligação com o direito 
material do autor contra o réu.
O embate entre esses juristas trouxe à tona a discussão sobre um direito 
exercido contra o Estado, convivendo com outro, este perante o obrigado par-
ticular4 . Permitiu se, com isso, a separação entre o direito de ação e o direito 
subjetivo material, desvinculando esses dois direitos, que passaram a ser reco-
nhecidos como independentes.
6.1.2.2 Teoria do Direito Concreto de Ação (Teoria Concreta)
Em 1885, Adolph Wach, na Alemanha, reconhece em sua obra relativa indepen-
dência entre o direito de ação e o direito subjetivo material. Para demonstrar 
definitivamente a autonomia do direito de ação, afirma que ele não se confunde 
com o direito privado e muito menos com a pretensão do direito civil. Segundo 
Wach, a pretensão de tutela jurídica – ação – constituiu direito de natureza pú-
blica, dirigindo se contra o Estado, o qual teria a obrigação de prestá la, e contra 
o demandado, que teria que suportar seus efeitos. Tal teoria parte da contribui-
ção de Müther, que afirmou que o cidadão tem direito à tutela jurídica contra o 
Estado, mas Wach desenvolveu sua teoria em relação à ação declaratória.
A aludida autonomia do direito de ação foi demonstrada através da ação de-
claratória negativa, que consiste justamente na declaração de inexistência de 
determinada relação jurídica e, por conseguinte, do direito material subjetivo 
que dela poderia defluir.
Entretanto, segundo essa concepção, embora distinto do direito material, o 
direito de ação corresponderia a quem tivesse razão, ou seja, só existiria quan-
do a sentença fosse favorável. Se a sentença fosse de improcedência, o autor 
4 SILVA, Ovídio Batista da; GOMES, Fabio Luiz. Teoria geral do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
1997, p. 100.
capítulo 6 • 111
não teria o direito de ação desde o início. Só teria o direito de ação quem tem 
o direito material. Nesse sentido, a teoria defendia a existência do direito de 
ação somente quando houvesse uma proteção concreta voltada para um direi-
to subjetivo.
Assim, apesar de sua contribuição para demonstrar a autonomia do direito 
de ação, a teoria foi alvo de críticas. Primeiro em razão de a improcedência do 
pedido restar inexplicável, pois, nessa hipótese, a natureza do direito exercido 
pelo autor permanecia indefinida. Segundo, por não explicar qual seria a situa-
ção do direito de ação na ação declaratória negativa, de pedido de inexistência 
de relação jurídica, pois o que se pediria seria que não existe relação jurídica de 
direito material entre as partes. E, ainda, por caracterizar a ação como o direito 
a uma sentença favorável, pois, dessa forma, o réu também teria direito de ação.
6.1.2.3 Teoria da Ação como Direito Potestativo
Representa uma variante da teoria concreta, pois também condicionava a exis-
tência do direito de ação à obtenção de uma sentença favorável. Por conseguin-
te, sujeita se às mesmas críticas dirigidas contra referida teoria.
Sustenta Chiovenda que a ação é o poder jurídico de dar vida à condição 
para atuação da vontade da lei. Afirma, ainda, que a ação deve ser entendida 
como um direito concreto atual, existente antes do processo, e precisamente 
como um poder jurídico para obter, contra o adversário, um resultado favorável 
no processo.
Conforme seu defensor, Chiovenda, a ação pode ser definida como o “poder 
jurídico de dar vida à condição para a atuação da vontade da lei”, isto é, o direito 
de obter uma atuação concreta da lei em face de um adversário, sem que este 
possa obstar que a atividade jurisdicional se exerça, ou seja, o réu estaria su-
bordinado à vontade do autor de exercer seu direito de ação, sem que pudesse 
apresentar qualquer obstáculo. Contudo, tal como na teoria concreta, só teria o 
direito de ação quem tivesse uma sentença de procedência do pedido.
A ação, aqui também entendida como direito autônomo, não era tida como 
um direito subjetivo, mas como um direito de poder (direito potestativo), visto 
que corresponderia ao direito do autor de submeter o réu aos efeitos jurídicos 
pretendidos, ou seja, à atuação da vontade concreta da lei. Desse modo, para 
essa teoria, a ação se dirigia contra o réu e não contra o Estado (visão privatista).
112 • capítulo 6
O processo serve a duas grandes categorias de direito, a saber: 
1. a dos direitos ligados a um bem da vida, a serem alcançados, antes de 
tudo, mediante a prestação positiva ou negativa, do obrigado; 
2. a dos diretos tendentes à modificação do estado jurídico existente, os 
quais são direitos potestativos.
Ou seja, a ação se dirige contra um adversário, e não contra o Estado, isto é, 
o direito potestativo (direito de poder) de buscar efeito jurídico favorável ao seu 
autor, sujeitando ônus à outra parte. Sendo a ação o poder jurídico de dar vida 
à condição para atuação da vontade da lei.
6.1.2.4 Teoria da Ação como Direito Abstrato
Formulada pelo alemão Degenkolb e pelo húngaro Plósz, define o direito de 
ação como o direito público que se exerce contra o Estado e em razão do qual o 
réu comparece em juízo. Não se confunde com o direito privado arguido pelo 
autor, sendo concebido com abstração de qualquer outro direito.
Degenkolb argumenta que o que obriga o réu a participar do processo é o di-
reito de agir, que nada tem a ver com o direito material. O fundamento desse di-
reito de agir é a própria personalidade do autor, porque dessa vem a convicção 
subjetiva do direito, o direito ao direito, em relação ao qual a efetiva existência 
do direito material é meramente acidental.
Plósz, de forma semelhante, entendeu que o direito abstrato de ação exige 
apenas a boa fé do autor, embora tenha sustentado a existência de dois direitos 
de ação, um processual, de caráter público, e outro material, identificado com 
a pretensão do direito material.
Para tais juristas, a ideia é de que o direito de agir é antecedente ao seu exer-
cício. Dessa forma, o direito de ação, além de autônomo, é independente do 
direito material. O direito de ação é inerente a todo indivíduo e não exclui a 
possibilidade de uma sentença desfavorável.
O conteúdo primordial do direito de ação seria o interesse secundário e abs-
trato à intervenção do Estado para a eliminação dos obstáculos que se contra-
põem à obtenção do interesse principal (direito material).
 Assim, essa teoria teve o mérito de reconhecer a existência de um direito 
público, subjetivo, inquestionável, preexistente ao processo e desvinculado do 
direito material ao permitir que o autor, no exercício de seu direito de ação, 
capítulo 6 • 113
fizesse apenasreferência a um interesse seu, levando o Estado a proferir uma 
sentença por meio da atividade jurisdicional, ainda que contrária aos interes-
ses autorais.
6.1.2.5 Teoria Eclética (adotada pelo nosso ordenamento, arts. 3º e 267, VI, do CPC)
Elaborada por Liebman, a teoria em questão tem assento na teoria abstrata, 
porém com a inclusão de uma nova categoria, qual seja, as “condições da ação”, 
ou condições de admissibilidade do provimento sobre a demanda e, portanto, 
preliminar ao exame do mérito1 .
Para Liebman, a ação é o “direito ao processo e ao julgamento do mé-
rito”, o qual não representa, porém, a garantia de um resultado favorável ao 
demandante2 . É satisfeita com um julgamento favorável ou desfavorável ao 
demandante. 
O que importa, para a configuração da ação, segundo Liebman, é a presen-
ça das condições da ação, os “requisitos de existência da ação”, que seriam a 
legitimação para agir, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido. 
Somente se elas estiverem presentes o juiz estará obrigado a julgar o pedido, a 
fim de acolhê lo ou rejeitá lo.
A possibilidade jurídica do pedido consiste na previsibilidade, pelo direito 
positivo, da pretensão exarada pelo autor; o interesse de agir implica a neces-
sidade e/ou utilidade da tutela jurisdicional para que o autor obtenha a satisfa-
ção do direito alegado; a legitimidade: o autor – sujeito ativo da relação jurídica 
processual –, para a teoria eclética, deve também ser um dos titulares da rela-
ção substancial posta à apreciação do juiz.
Segundo Liebman, as condições da ação são requisitos para sua existência. 
Quando tais condições estão ausentes, há carência de ação. As condições da 
ação seriam requisitos constitutivos da ação, que não dependeria de uma sen-
tença favorável, mas apenas da presença das condições da ação descritas (legiti-
mação para agir, o interesse de agir e a possibilidade jurídica do pedido).
Assim, considerando tratar se de um direito abstrato voltado a provocar o 
exercício da jurisdição, a ação é defendida como o direito de obter o julgamento 
do pedido, ou seja, a análise do mérito, independentemente do resultado da 
1 As condições da ação já haviam sido propostas anteriormente por Wach, em sua teoria concreta da ação. No 
entanto, a teoria eclética recebe tal nome justamente por tentar conciliar elementos das teorias concreta e abstrata.
2 LIEBMAN, Enrico Tullio. Manual de direito processual civil. Tradução e notas: Cândido Rangel Dinamarco. Rio 
de Janeiro: Forense, 1984. v. 1, p. 147.
114 • capítulo 6
demanda. Trata se, portanto, de um direito subjetivo instrumental, visto que 
independente do direito subjetivo material, embora conexo a ele.
A teoria eclética preconiza a existência do direito de ação quando presentes 
determinadas condições, mesmo que inexistente o direito material.
E esse direito abstrato de ação, que aqui assume contornos de direito de 
petição, é consagrado como direito fundamental em nosso texto constitucional 
no art. 5º, XXXV, cujo teor estabelece que nenhuma lesão ou ameaça a direito 
poderá ser subtraída do Poder Judiciário, bem como no plano infraconstitucio-
nal, nos arts. 3º e 267, VI, do CPC/1973.
Não obstante, essa teoria foi aprimorada por doutrinadores modernos, 
como Afrânio Silva Jardim e José Carlos Barbosa Moreira, pois, diante de uma 
visão constitucional do processo, não se deve falar em condições de existên-
cia do direito de ação, uma vez que esse direito é incondicionado (porquanto 
direito fundamental). Por mais absurda que seja a demanda, é vedado ao juiz, 
em razão do princípio da inafastabilidade da jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF), 
deixar de apreciá la, devendo fazê lo ainda que para indeferir a petição inicial.
Se tal ocorrer, parece não haver dúvida de que houve exercício do direito de 
ação. Afinal, o autor, ao propor a demanda, exigiu, obtendo êxito em sua exi-
gência, que o Estado exercesse a jurisdição. Dessa forma, de acordo com esse 
entendimento, afigura se mais correto falar em condições para o regular exer-
cício do direito de ação3 .
6.1.3 Características do direito de ação
a) Subjetividade: segundo a doutrina dominante, a ação seria um direito 
(como já visto), enquanto para outros ela seria um poder. Os que a entendem 
como poder partem da noção de que direito subjetivo e obrigação representam 
situações jurídicas opostas de vantagem e desvantagem que gerariam um con-
flito de interesses. Assim, inexistindo conflito entre Estado e autor, não haveria 
que se falar em direito subjetivo e sim em poder.
b) Publicidade: a ação está sempre situada na órbita do direito público, 
pois o exercício desse direito subjetivo desencadeia o desempenho de uma 
função pública monopolizada pelo Estado (jurisdição). Assim, a ação é dirigida 
3 “São as chamadas condições da ação, que, na realidade, não são condições para a existência do direito 
de agir, mas condições para o seu regular exercício. Por ser abstrato, o direito de ação existirá sempre. Sem o 
preenchimento destas condições mínimas e genéricas, teremos o abuso do direito trazido ao plano processual”. 
JARDIM, Afrânio Silva. Direito processual penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 92.
capítulo 6 • 115
apenas contra o Estado, mas, uma vez apreciada pelo juiz, produzirá efeitos na 
esfera jurídica do réu.
c) Garantia constitucional: como um direito fundamental contido no art. 
5º, XXXV, da CF, assegura o direito ao processo com a atuação do Estado, o di-
reito ao contraditório e o direito de influir sobre a formação do convencimento 
do juiz através da garantia do devido processo legal (art. 5º, LIV, da CF).
d) Instrumentalidade: tem por finalidade solucionar uma pretensão de 
direito material. Em virtude da intensa produção doutrinária, essa caracterís-
tica tem assumido grande importância no cenário jurídico hodierno, que pri-
vilegia um processo civil de resultados e o considera não como um fim em si 
mesmo, mas como instrumento capaz de garantir a máxima efetividade da tu-
tela jurisdicional.
6.1.4 Condições para o regular exercício do direito de ação
De acordo com a doutrina tradicional, são três as condições genéricas para o 
regular exercício do direito de ação a serem preenchidas pelo autor, a fim de ob-
ter uma decisão de mérito por meio do provimento jurisdicional. O novo CPC 
reduziu esse rol para apenas duas condições, como veremos a seguir.
6.1.4.1 Legitimidade das partes: a legitimidade ad causam
Difere da legitimidade ad processum, pois aquela é a legitimidade para agir (re-
fere se àquele que sofreu a lesão) e essa é a capacidade processual, ou seja, a 
capacidade de estar em juízo.
Assim, a legitimidade das partes corresponde à pertinência subjetiva da 
lide. Desse modo, ao verificá la, o juiz deverá examinar se os sujeitos que figu-
ram como autor e réu, em um dado processo, são aqueles que, considerando os 
fatos narrados na petição inicial, deveriam realmente figurar como autor e réu.
Deve ser verificada, pois, em dois planos: a legitimidade ativa se refere ao 
autor e pode ser ordinária ou extraordinária, e a legitimidade passiva diz res-
peito ao demandado.
A regra é a legitimidade ordinária, isto é, a equivalência entre os sujeitos da 
relação processual com os sujeitos da relação material deduzida em juízo.
Todavia, há também a legitimidade extraordinária, só admitida se legal-
mente prevista, no art 18 do CPC/2015, quando se defende em nome próprio 
116 • capítulo 6
interesse alheio. Um bom exemplo é a ação de investigação de paternidade pro-
posta pelo Ministério Público em favor do menor, na forma da Lei n. 8.560/92. 
Nesse caso, o titular do direito material é o menor, que deseja saber quem é 
o seu pai. Entretanto, muitas vezes, quemdeduz essa pretensão em juízo é o 
Ministério Público, na condição de legitimado extraordinário.
Tal legitimidade, quando exercida, dá origem ao fenômeno conhecido 
como substituição processual (p. ex., gestão de negócios – o gestor, em caso 
de ausência do proprietário do negócio, poderá agir judicialmente em nome 
próprio; investigação da paternidade – o Ministério Público pode propor ação 
em nome próprio para defender os interesses do menor, no tocante a alimentos 
e aos direitos sucessórios; danos ao trabalhador – o sindicato pode demandar 
para assegurar ao trabalhador seu direito a danos morais e materiais4 ).
A legitimidade extraordinária pode ser subdividida em subordinada e autô-
noma, que, segundo José Carlos Barbosa Moreira5 , se diferenciariam porque a 
primeira “não habilita o respectivo titular nem a demandar nem a ser deman-
dado quanto a situação litigiosa, mas unicamente a deduzi la, ativa ou passiva-
mente, junto com o legitimado ordinário, em processo já instaurado por este 
ou em face deste, e no qual aquele se limita a intervir”.
Em contrapartida, na modalidade autônoma, confere se ao “respectivo ti-
tular a possibilidade de atuar em juízo com total independência em relação à 
pessoa que ordinariamente seria legitimada”.
Essa modalidade autônoma pode ser classificada, ainda, em exclusiva e 
concorrente. Na legitimação exclusiva somente o substituto poderá ajuizar 
ação. Já na legitimidade extraordinária concorrente, tanto o substituto como o 
titular do direito substancial ou o responsável pela obrigação serão admitidos 
como legitimados.
Nessa perspectiva, somente a legitimidade extraordinária autônoma exclu-
siva poderia ser equiparada à figura da substituição processual.
Vista essa peculiaridade, outra observação importante diz respeito ao cui-
dado para que não se confunda o instituto da assistência e representação com 
a figura da parte no sentido processual (substituto processual ou legitima-
do extraordinário).
4 É importante frisar que, nesse caso, a competência para julgamento da ação do trabalhador que objetive 
receber indenização alegando danos morais e materiais em decorrência de condução inadequada do processo pelo 
sindicato que atuou como seu substituto processual é da Justiça do Trabalho. Nesse sentido: STJ, CC 124.930-MG, 
rel. Min. Raul Araújo, j. 10-4-2013, Informativo STJ, n. 518.
5 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Apontamentos para um estudo sistemático da legitimação extraordinária. 
In: ______. Direito processual civil (ensaios e pareceres). Rio de Janeiro: Borsoi, 1971, p. 60.
capítulo 6 • 117
Assim, o representante legal do menor de 16 anos não é parte no processo 
em que se pleiteiam alimentos, mas o menor necessitado. Tanto o substituto 
processual quanto o representante atuam na defesa do interesse alheio; toda-
via, enquanto aquele age em seu próprio nome, este atua em nome do titular 
do interesse.
Dessa forma, segundo a moderna concepção formulada por Chiovenda, 
parte é aquele que pede em seu próprio nome, ou em cujo nome é pedida a 
atuação de uma vontade de lei, e aquele em face de quem essa atuação é pedida.
No entanto, é forçoso reconhecer que há diversas espécies e subespécies de 
legitimidade, como a primária e a secundária, a originária e a superveniente, 
a privativa e a concorrente, que terão grande aplicação prática, sobretudo, na 
tutela coletiva. Para maiores informações sobre os desdobramentos dessas mo-
dalidades, recomendamos vivamente a já referida obra de Barbosa Moreira.
Figura 6.2 – 
6.1.4.2 Interesse processual em agir
Refere se à necessidade, utilidade e proveito da tutela jurisdicional para que o 
autor obtenha a satisfação do direito pleiteado e justifica se na medida em que 
não convém ao Estado acionar o aparato judicial sem que dessa atividade possa 
ser extraído algum resultado útil.
Alguns autores entendem que o interesse de agir deve vir representado 
pelo binômio necessidade adequação do provimento judicial solicitado. Nesse 
sentido, a necessidade decorreria da impossibilidade de obter a satisfação do 
118 • capítulo 6
alegado direito sem a atuação do Estado (já que o ordenamento veda a autotu-
tela), e a adequação, da relação existente entre os meios processuais escolhidos 
e o fim desejado.
Note-se que a jurisprudência vem evoluindo no que tange à avaliação do in-
teresse em agir no caso concreto.
Veja-se, por exemplo, o caso das ações de revisão de benefício previdenciá-
rio sem a prévia provocação ao INSS na instância administrativa.
O STJ6 já decidiu que, para o ajuizamento de ação judicial em que se obje-
tive a concessão de benefício previdenciário, dispensa-se, excepcionalmente, o 
prévio requerimento administrativo quando houver: 
I. recusa em seu recebimento por parte do INSS; ou 
II. resistência na concessão do benefício previdenciário, a qual se 
caracteriza: 
a) pela notória oposição da autarquia previdenciária à tese jurídica 
adotada pelo segurado; ou 
b) pela extrapolação da razoável duração do processo administrativo. 
Nesse sentido, em regra, a falta de postulação administrativa de benefício 
previdenciário resulta em ausência de interesse processual dos que litigam 
diretamente no Poder Judiciário. Isso porque a pretensão, nesses casos, ca-
rece de elemento configurador de resistência pela autarquia previdenciária à 
pretensão. 
Finalmente, ficou assentado que a concessão de benefícios previdenciários 
depende de requerimento do interessado, não se caracterizando ameaça ou le-
são a direito antes de sua apreciação e indeferimento pelo INSS, ou se excedido 
o prazo legal para sua análise. 
O Tribunal deixou claro que a exigência de prévio requerimento não se con-
funde com o exaurimento das vias administrativas nem deve prevalecer quan-
do o entendimento da Administração for notório e reiteradamente contrário à 
postulação do segurado. 
6 REsp 1.488.940-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 18-11-2014 (Informativo n. 552 do STJ). Esse 
entendimento está em consonância com a decisão proferida pelo STF em Repercussão Geral, no RE 631.240-MG 
(j. 3-9-2014, DJe 10-11-2014), e foi posteriormente ratificado pela Primeira Seção, em regime de julgamento 
repetitivo (REsp 1.369.834-SP).
capítulo 6 • 119
6.1.4.3 Uma observação sobre a possibilidade jurídica do pedido
O Código de 1973 considerava a possibilidade jurídica do pedido como a 
terceira condição genérica para o regular exercício do direito de ação.
Seria a previsibilidade pelo direito objetivo da pretensão manifestada pelo 
autor, ou seja, é a admissibilidade, em abstrato, do provimento demandado.
A possibilidade jurídica do pedido está relacionada ao princípio 
da legalidade.
Deve ser aferida em dois aspectos:
1. positivo (restritivo): pode-se pedir tudo aquilo que esteja expressa-
mente previsto em lei. Aplicável ao Estado, Fazenda Pública no exercício de 
suas funções.
2. negativo (extensivo): pode-se tudo o que não seja vedado por lei. O si-
lêncio da lei é interpretado em favor da parte. Isso vale para os particulares.
Um exemplo clássico de impossibilidade jurídica do pedido existiu, entre 
nós, até 1977. Tratava se do pedido de divórcio, que, então, era vedado pelo or-
denamento jurídico. Com a aprovação da Lei do Divórcio (Lei n. 6.515/77), dei-
xou de existir a vedação antes existente.
Outro exemplo comumente invocado pela doutrina é o da cobrança de dí-
vida de jogo. Contudo, examinada com rigor essa hipótese, percebe-se que ela 
não ilustra a impossibilidade jurídica do pedido. Com efeito, o pedido que se 
formula diante de semelhante hipótese é lícito (condenação do réu ao paga-
mento de determinada quantia), encontrando se a ilicitude apenas nos funda-
mentos invocados pelo autor.
Ora, o pedidofundado em negócio ilícito não priva o autor do exercício da 
ação, pois a ilicitude do fundamento do pedido formulado em uma ação de co-
nhecimento conduzirá à sua improcedência. Assim, o juiz não estará privado 
do poder de declarar a inexistência do direito, já que haverá, em verdade, a au-
sência do direito do autor com base no negócio jurídico por ele invocado.
O CPC de 2015, contudo, optou por retirar a possibilidade jurídica do pedi-
do do rol de condições da ação, que agora fica restrito à legitimidade e ao inte-
resse, como se pode perceber da leitura dos arts. 17 e 485, VI.
120 • capítulo 6
6.1.4.4 Condições específicas para o exercício do direito de ação
Além das mencionadas condições genéricas, que devem estar presentes em to-
das as ações, há que se falar, ainda, nas condições específicas, previstas para 
determinadas ações, como, por exemplo:
I. Mandado de segurança: sua condição específica é o ajuizamento da 
ação no prazo máximo de 120 dias, contados da ciência, pelo interessado, do 
ato impugnado (art. 23 da Lei n. 12.016/2010).
II. Ação rescisória (ação especial utilizada para desconstituir a coisa jul-
gada): duas são as condições específicas nesse caso: o depósito de 5% sobre o 
valor da causa pelo autor no momento em que ele propõe a demanda rescisória 
(art. 488, II, do CPC) e o ajuizamento da demanda dentro do prazo de dois anos 
contados do trânsito em julgado da decisão (art. 495 do CPC).
6.1.4.5 Aferição das condições da ação
É de se ressaltar, afinal, que as condições da ação devem ser aferidas in sta-
tus assertiones, ou seja, em face da afirmação constante da petição inicial. Isso 
porque, se dos fatos afirmados pelo autor não puder vir a resultar o acolhimen-
to do pedido, o autor não terá o direito ao exercício da jurisdição sobre o caso 
concreto, devendo ser julgado carecedor de ação.
No entanto, a asserção não é suficiente para demonstrar a presença das con-
dições da ação. Na verdade, ela deve ser examinada em conjunto com as provas 
que instruem a petição inicial. É necessário um mínimo de provas a demonstrar 
a verossimilhança das asserções formuladas na petição inicial. Entendimento 
contrário permitiria a autolegitimação do exercício da ação e criaria a possibi-
lidade de submeter o réu ao ônus de defender se de uma demanda manifesta-
mente inviável, na visão de Leonardo Greco7 .
Assim, o exame das condições da ação não trata de um juízo de mérito, mas 
de um juízo sobre questões de direito material a partir da situação fática e con-
creta relatada pelo demandante como fundamento de sua pretensão, que deve 
estar acompanhada de um mínimo de verossimilhança e provas que evidenciem 
a possibilidade do acolhimento. Isso porque, da mesma forma que é garantido 
a todos o direito de ação, é também assegurado o direito constitucional daquele 
contra quem a ação é exercida de não ser molestado por uma demanda inviável.
7 GRECO, Leonardo. A teoria da ação no processo civil. São Paulo: Dialética, 2003.
capítulo 6 • 121
6.1.5 Elementos da ação
Tendo em vista a multiplicidade de fatos e relações jurídicas submetidas à ju-
risdição, torna se extremamente útil – e até mesmo necessário – que as ações 
sejam identificadas. Assim é que, segundo Leonardo Greco, os elementos de 
identificação das ações, como elementos da ação tomada no sentido de deman-
da, são um imperativo democrático, porque através da jurisdição o Estado in-
tervém na vida e nos direitos dos particulares e “para que ela não venha a atuar 
mais de uma vez sobre a mesma controvérsia ou sobre o mesmo direito, é preci-
so identificar cada uma das suas atuações”.
Dessa forma, são elementos da ação as partes, a causa de pedir e o pedido.
6.1.5.1 Partes
São os sujeitos que figuram respectivamente como autor e como réu na relação 
processual. São aqueles que pedem e em relação a quem o provimento jurisdi-
cional é pedido. São as partes da demanda. Além da identificação da identidade 
das partes litigantes, é preciso que se verifique a qualidade com que a pessoa 
esteja litigando (p. ex., em nome próprio no interesse próprio, em nome pró-
prio no interesse alheio etc.), caso em que, havendo divergência, não haverá 
identidade de parte.
6.1.5.2 Causa de pedir
Causa de pedir é o fato jurídico com todas as suas circunstâncias que funda-
mentam a demanda autoral (art. 319, III, do CPC/2015). Divide se em causa de 
pedir próxima – fundamentos jurídicos que embasam o pedido – e causa de 
pedir remota – fatos constitutivos do direito do autor.
Nesse sentido, há duas correntes: 
a) Teoria da Substanciação: a causa de pedir funda-se, eminentemente, 
nos fatos articulados pelo autor. Conquanto o Código exija a exposição, na peti-
ção inicial, dos fatos e dos fundamentos jurídicos do pedido, estes são menos re-
levantes, pois podem ser objeto de apreciação diversa por parte do magistrado.
b) Teoria da individualização: fazendo referência a uma causa de pedir 
próxima (que seriam os fundamentos jurídicos) e uma remota (que seriam os 
fatos), considerando ambas relevantes na tarefa de identificação da demanda. 
A causa de pedir seria a qualificação jurídica dos fatos.
122 • capítulo 6
O novo CPC, contudo, adota uma teoria híbrida, na medida em que eleva o 
contraditório também ao plano dos fundamentos jurídicos, como se depreen-
de da leitura do art. 10.
Nesse passo, ganha especial atenção o requisito da petição inicial de descre-
ver não apenas o fato, mas também o fundamento que embasa o pedido, uma 
vez que o magistrado não poderá alterá-lo ex officio, a menos que oferte prazo 
para que as partes se manifestem sobre o novo fundamento trazido aos autos.
6.1.5.3 Pedido
É o objeto da jurisdição que se divide em imediato – provimento jurisdicional 
solicitado ao juiz que pode ter natureza declaratória, constitutiva, condenatória, 
executiva ou cautelar – e mediato – bem da vida pretendido pelo autor, ou seja, 
o bem ou interesse que se busca assegurar por meio da prestação jurisdicional.
O pedido, de acordo com o CPC, como regra, deve ser certo e determinado 
(art. 322 do CPC/2015). Entretanto, o próprio legislador admite algumas exce-
ções em hipóteses nas quais, quando do início da demanda, tal precisão não 
puder ser exigida do autor, em respeito ao princípio da razoabilidade.
Essas hipóteses estão elencadas nos três incisos do art. 324, § 1º, do 
CPC/2015:
I. – nas ações universais, se o autor não puder individuar os bens 
demandados; 
II. – quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do 
ato ou do fato; 
III. – quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depen-
der de ato que deva ser praticado pelo réu. 
O pedido é sempre interpretado restritivamente, devendo o autor mencio-
nar expressamente o que pretende, eis que o juiz estará adstrito ao princípio 
da inércia.
Exceção a essa regra são os chamados pedidos implícitos, ou seja, aqueles 
que podem ser deferidos pelo juízo ainda que não requeridos na inicial, como é 
o caso dos juros legais, da correção monetária e das verbas de sucumbência, in-
clusive dos honorários advocatícios (art. 322, § 1º), e das obrigações vincendas 
em relações de trato sucessivo (art. 323).
capítulo 6 • 123
O autor pode cumular dois ou mais pedidos. Tal cumulação pode ser:
I. simples (p. ex., dano moral e dano material);
II. alternativa (p. ex., obrigação de fazer ou compensação pecuniária pelo 
serviço não prestado);
III. eventual (p. ex., obrigação de fazer ou compensação pecuniária, mas 
com preferência expressa por uma delas, ficando a outra como residual, no 
caso da primeira não poder ser atendida); e
IV. sucessiva (p. ex., caso em que o deferimento do segundo depende do 
acolhimento do primeiro– p. ex., reconhecimento de paternidade e alimentos; 
o juiz só examinará o cabimento da verba alimentar se concluir pela presença 
do vínculo da paternidade).
Os requisitos para a cumulação de pedidos constam do § 1º do art. 327:
I. que os pedidos sejam compatíveis entre si;
II. que seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;
III. que seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
O próprio CPC ressalva que, quando houver previsão de procedimentos dis-
tintos para cada pedido, a cumulação é possível desde que o autor empregue o 
procedimento ordinário (art. 327, § 2º).
6.1.6 Peculiaridades no processo penal
A ação penal é, eminentemente, pública8 . Ela se desenvolve, normalmente, 
após um procedimento investigatório, que pode ser o inquérito policial, um 
procedimento oriundo de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) ou mes-
mo um inquérito administrativo. Contudo, esse procedimento prévio não 
é indispensável.
Nos crimes de ação de iniciativa pública, ela será promovida por denúncia 
do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do 
Ministro da Justiça, ou de representação do ofendido ou de quem tiver qualida-
de para representá-lo, na forma do art. 24 do CPP.
Assim, sendo, temos os crimes de ação pública incondicionada (que são a 
regra no nosso Código Penal) e os de ação condicionada, ou à representação do 
8 OLIVEIRA, Eugenio Pacelli. Curso de Processo Penal. São Paulo, 19a edição: Atlas, 2015, p. 102.
124 • capítulo 6
ofendido, como é o caso da lesão corporal simples (art. 129, caput do CP) e da 
ameaça (art. 147).
Outras hipóteses são de ação de iniciativa privada. Nesse caso, o ofendido 
deverá ofertar queixa, no prazo de seis meses contados da data em que soube 
quem era o autor do fato (art. 30 do CPP). É o caso, por exemplo, dos crimes con-
tra a honra (arts. 138 a 140 do CP) e do crime de dano simples (art. 163).
Em contrapartida, na forma do art. 28. do CPP, o Ministério Público, em vez 
de apresentar a denúncia, pode requerer o arquivamento do inquérito policial 
ou das peças de informação. Caso o juiz concorde, o procedimento será extin-
to. Em caso de discordância, deverá o juiz fazer remessa do inquérito ou das 
peças de informação ao Procurador-Geral, e este oferecerá a denúncia, desig-
nará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la ou insistirá no pedido 
de arquivamento.
Caso o M.P. não ofereça a denúncia nem promova o arquivamento, o art. 29 
do CPP prevê que será admitida ação privada subsidiária da pública.
6.1.7 Os dissídios no processo do trabalho
No processo do trabalho, os dissídios podem ser individuais ou coletivos. Na 
primeira modalidade, o processo do trabalho, inspirado no princípio da sim-
plicidade, permite que a demanda seja apresentada oralmente (reclamação 
verbal) ou, como é mais usual, por escrito (reclamação escrita). 
Apresentada sob a forma verbal, será posteriormente reduzida a termo, con-
forme determina o art. 786, § único, da CLT. Sendo escrita, a reclamação obser-
vará os requisitos descritos no § 1º, do art. 840 da CLT.
Os dissídios coletivos são ações especiais cujo objetivo é definido conforme 
sua natureza. Todos observam a forma escrita. Podem ter as seguintes naturezas :
a) natureza econômica: visam criar normas de conduta, de caráter abs-
trato, a serem observadas no âmbito de determinada categoria, vinculando 
sindicatos profissionais e de categorias econômicas. O julgamento destes con-
flitos é orientado pelo princípio da equidade, considerando-se que o Judiciário 
Trabalhista exerce um poder normativo criando normas não previstas em lei.
b) natureza jurídica: também chamado de dissídio coletivo de interpreta-
ção, tem o objetivo de definir o alcance de norma especifica de interesse da ca-
tegoria, seja lei, convenção, acordo coletivo ou, ainda, um ato normativo qual-
quer. Aqui, da mesma forma que o dissídio econômico, o Judiciário Trabalhista 
capítulo 6 • 125
também exerce uma função que lhe é atípica, na interpretação abstrata de uma 
norma já existente, de estrito interesse da categoria.
c) natureza de greve: para o TST (RI/TST, art. 220, V), existe uma terceira 
modalidade de ação coletiva, denominada dissídio coletivo de greve, cuja fi-
nalidade é a interpretação do movimento de paralisação de trabalhadores, de 
acordo com os parâmetros definidos na Lei nº 7.783/89 (Lei de Greve). Além 
de interpretar o movimento grevista, o dissídio coletivo de greve aprecia as rei-
vindicações relacionadas à paralisação, podendo assumir, neste caso, a mesma 
natureza do dissídio econômico, quando vier a criar regras de conduta, aco-
lhendo as reivindicações da categoria profissional.
6.2 A ação Coletiva no Direito Brasileiro
6.2.1 Considerações Iniciais
Desde a década de 70, época em que surgiu o fenômeno conhecido como a 
“abertura das portas do Poder Judiciário”, o estudo da melhor forma de trata-
mento processual a ser conferido aos direitos individuais homogêneos vem ga-
nhando crescente importância. 
Isto porque são justamente estes direitos que, uma vez desrespeitados, fre-
quentemente dão ensejo à propositura das chamadas macro-lides, ações de 
“massa”, repetitivas, isomórficas ou seriadas, as quais, indubitavelmente, são 
as maiores responsáveis pela descomunal sobrecarga de trabalho atualmente 
imposta ao Poder Judiciário. 
A disciplina legal lacônica fornecida pelo Código de Defesa do Consumidor, 
assim como as controvérsias doutrinárias acerca do tema, sobreleva a im-
portância do papel da jurisprudência quanto à delimitação do conceito e da 
forma mais adequada de tutela processual a ser conferida aos direitos indivi-
duais homogêneos.
Mauro Cappelletti9 reconhece que nos últimos anos o movimento pelo 
acesso à justiça representou uma força importante que levou a uma transfor-
mação radical em termos normativos e institucionais em diversos países. Foi a 
resposta a uma crise do direito e da justiça10 .
9 CAPPELLETTI, Mauro. Dimensioni della Giustizia nelle società Contemporanee, Bologna: Mulino, 1994, p. 
72/73.
10 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. RODRIGUES, Roberto de Aragão Ribeiro. Os Direitos Individuais 
Homogêneos no Brasil: pontos de contato com o ordenamento norte-americano e perspectivas de nova 
126 • capítulo 6
No direito brasileiro, uma das mais importantes leis já editadas e que trou-
xe enorme contribuição ao estudo da tutela coletiva, foi o Código de Defesa 
do Consumidor.
6.2.2 As modalidades de direitos coletivos
O artigo 81, parágrafo único do C.D.C. apresenta as três espécies de direitos 
coletivos em sentido lato: (i) difuso; (ii) coletivo em sentido estrito; e (iii) indivi-
dual homogêneo. 
Apesar da opção legislativa, a jurisprudência tem demonstrado que os di-
reitos transindividuais não são estáticos e não admitem uma classificação defi-
nitiva. São direitos dinâmicos, na medida em que refletem a pretensão de uma 
coletividade que está em constante mutação. 
Embora seja algo desejável, do ponto de vista teórico e sistemático, na prá-
tica, a classificação proposta pelo CDC tem se mostrado catastrófica. Vários 
problemas têm surgido a partir da dificuldade de adaptação desses conceitos 
herméticos às situações concretas.
Apenas para citar um exemplo, podemos referir a discussão acerca da legiti-
midade do Ministério Público no caso do reajuste das mensalidades escolares11.
Desde o ajuizamento da demanda, mais de cinco anos se passaram até que 
o Supremo Tribunal Federal resolvesse, por maioria, que o Parquet estava legi-
timado para tanto.
A partir daí, os autos do processo retornaram ao juízo de primeira instância, 
para que esse proferisse o despacho liminar positivo, e desse seguimento à fase 
postulatória,com a citação do réu.
Como se percebe facilmente, após o decurso de tanto tempo, todos os pais 
de alunos que estavam em dificuldades financeiras para pagar a mensalidade 
de seus filhos, tiveram que encontrar outra solução, pois quando o STF final-
mente se manifestou, aqueles alunos já haviam concluído o curso secundário.
O legislador, em 1990, trabalhou com conceitos jurídicos indeterminados, 
com normas em aberto e, com isso, criou toda essa confusão. 
regulamentação, artigo no prelo.
11 “Recurso Extraordinário Constitucional. Legitimidade do Ministério Público para promover a Ação Civil Pública 
em defesa dos interesses difusos, coletivos e homogêneos. Mensalidades escolares: capacidade postulatória do 
Parquet para discuti-las em juízo.” (RE N. 163.231-SP. Relator: Min. Maurício Corrêa - Informativo nº 234 do S.T.F, 
disponível na Internet no seguinte endereço: http://www.stf.gov.br).
capítulo 6 • 127
Realmente, não faz muito sentido a opção de avocar a responsabilidade de 
definir e classificar um instituto e não apresentar uma delimitação objetiva cla-
ra sobre o mesmo.
O problema é potencializado, na medida em que os Tribunais demonstra-
ram, por muito tempo, extrema dificuldade em trabalhar com os novos concei-
tos e não há ainda uma estrutura que permita a aplicação de regras próprias à 
jurisdição coletiva.
Os direitos ou interesses difusos são conceituados no art. 81, parágrafo úni-
co, inciso I do Código de Defesa do Consumidor como sendo “os transindivi-
duais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e 
ligadas por circunstâncias de fato”.
Rodolfo de Camargo Mancuso , com base na conceituação legal acima 
apontada, indica como características básicas de tais interesses a indetermi-
nação dos sujeitos, a indivisibilidade do objeto, a intensa conflituosidade12, e a 
sua duração efêmera.
Com relação à indeterminação dos sujeitos, temos que os interesses difusos di-
rão respeito a um grupo indeterminado ou dificilmente determinável de sujeitos. 
Figura 6.3 – 
12 MANCUSO, Rodolfo de Camargo, Interesses difusos: conceito e legitimação para agir. 5ª ed., São Paulo, 
Revista dos Tribunais, 2000, p. 88.
128 • capítulo 6
Justifica-se a tutela dessa espécie de direitos a partir do raciocínio de que 
se o interesse individual merece a tutela do Direito, com mais razão ainda a 
merece o interesse de muitos, ainda que os seus titulares não possam ser iden-
tificados precisamente. 
A lesão a esses direitos, por conseqüência, também atingirá um número 
indeterminado de pessoas, que pode ser tanto uma comunidade, quanto uma 
etnia, ou mesmo um país inteiro. Assim, temos que “os interesses difusos si-
tuam-se no ‘extremo oposto’ dos direitos subjetivos, visto que estes apresen-
tam como nota básica o ‘poder de exigir’, exercitável por seu titular, contra ou 
em face de outrem, tendo por objeto certo bem da vida”.
Quanto à indivisibilidade do objeto, a satisfação dos interesses difusos a um 
indivíduo implica necessariamente na satisfação de outros, já que a lesão tam-
bém atingirá toda a coletividade. O caráter da indivisibilidade desses interesses 
também decorre do fato de que não existe a possibilidade de se afirmar com 
precisão quanto do direito pertence a cada um dos integrantes do grupo inde-
terminado, que é o seu titular.
A terceira característica dos direitos difusos é a intensa litigiosidade interna 
que “deriva basicamente da circunstância de que todas essas pretensões meta 
individuais não têm por base um vinculo jurídico definido, mas derivam de si-
tuações de fato ocasionais”.
A quarta característica diferenciadora dos interesses difusos é a sua transi-
ção ou mutação no tempo e no espaço, visto que os mesmos surgem e também 
desaparecem muitas vezes de situações repentinas e imprevisíveis. 
Os direitos ou interesses coletivos em sentido estrito são conceituados pelo 
artigo 81, parágrafo único, inciso II do CDC, como “os transindividuais de natu-
reza indivisível de que seja titular grupo, categoria, ou classe de pessoas ligadas 
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica-base”.
Conforme lição de Kazuo Watanabe13 , “com o uso da expressão transindivi-
dual de natureza indivisível se destacou, antes de mais nada, a ideia de interes-
ses individuais agrupados ou feixe de interesses individuais”.
Assim, são direitos coletivos em sentido estrito aqueles cujos sujeitos estão 
ligados entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base, e não 
por circunstâncias fáticas, como ocorre no caso dos direitos difusos.
13 WATANABE, Kazuo. Demandas coletivas e os problemas emergentes da práxis forense. REPRO, vol. 67, Revista 
dos Tribunais: São Paulo, 1992, p. 17.
capítulo 6 • 129
Ademais, os titulares dos direitos coletivos em sentido estrito são deter-
minados, ou ao menos determináveis em tese, em virtude do fato de que eles 
fazem parte de certos “grupos, categorias, ou classes”, como, por exemplo, os 
condôminos de um edifício, os sócios de uma empresa, os membros de uma 
equipe esportiva, os membros de uma associação de classe etc.
Também os direitos coletivos em sentido estrito são indivisíveis; tal qual 
ocorre com os direitos coletivos, também aqui a satisfação ou a lesão do direito 
irá atingir indistintamente todos os seus possíveis titulares14 .
Ainda podemos apontar, como características dos direitos coletivos em sen-
tido estrito, dada a sua natureza, que eles são insuscetíveis de apropriação indi-
vidual, de renúncia ou de transação, e intransmissíveis.
Figura 6.4 – 
Finalmente, os direitos individuais homogêneos.
O CDC inovou ao incluir em seu artigo 81, parágrafo único, inciso III, a pos-
sibilidade de tutela coletiva desses direitos, definidos, simploriamente, como 
aqueles que têm “origem comum”. 
Essa falta de conceituação precisa levou a um entendimento errôneo de que 
seria interesse individual homogêneo aquele que não pudesse ser encaixado 
14 ZAVASCKI, Teori albino, Defesa de Direitos Coletivos e Defesa Coletiva de Direitos. REPRO, vol. 78, Revista dos 
Tribunais: São Paulo, 1995, p. 34.
130 • capítulo 6
nas conceituações de direitos difusos e coletivos15 . Assim passamos a anali-
sar alguns conceitos que foram desenvolvidos pela doutrina, a fim de delimitar 
mais precisamente o tema.
Assim, os direitos individuais homogêneos são aqueles que têm por base 
uma mesma circunstância fática, sendo os seus titulares determinados ou ao 
menos determináveis, distinguindo-se exatamente nesse ponto dos direitos di-
fusos, que também têm por base a mesma circunstância fática, todavia os seus 
titulares são indeterminados.
Muito também se discute quanto à natureza individual ou coletiva dos direi-
tos individuais homogêneos.
Entendemos nós16 que o direito individual homogêneo é direito subjetivo 
individual complexo; é um direito individual porque diz respeito às necessida-
des, aos anseios de uma única pessoa; ao mesmo tempo é complexo porque 
suas necessidades são as mesmas de todo um grupo de pessoas, fazendo nas-
cer, destarte, a relevância social da questão.
Figura 6.5 – 
Com a Lei nº 7.347/85, foram ampliadas as hipóteses de cabimento de de-
mandas visando à tutela dos direitos difusos e coletivos, podendo tal ação ser 
utilizada não somente para a proteção do patrimônio público, que já era tutelá-
vel via ação popular, mas, da mesma forma, para a proteção do meio ambiente, 
15 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de. A natureza jurídica do direito individual homogêneo e sua tutela pelo 
Ministério Público como forma de acesso à justiça. Rio de Janeiro, Forense, 2002, p. 33.
16 PINHO, Humberto Dalla Bernardina de Pinho. Direito Individual Homogêneo – uma leitura e releitura do tema,

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