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Biometria Florestal 111 9 ESTUDO DA CASCA 9.1 INTRODUÇÃO A determinação da espessura da casca e sua variação ao longo do tronco são de grande importância, pois, dependendo a espécie florestal, dos objetivos da produção e da forma de comercialização da madeira, é necessário conhecer o volume de madeira sem casca. Por outro lado, algumas espécies, como a Acacia mearnsii, Eucalyptus astringens, Leucaena sp., entre outras, apresentam quantidade de tanino na casca que justifica a sua exploração econômica, tornando-se a quantificação deste fator de grande interesse comercial. Um exemplo é o trabalho desenvolvido por Schneider (1978), intitulado “Modelos de equações e tabelas para avaliar o peso de casca de acácia negra, Acacia mearnsii de Wild”. 9.2 Determinação da espessura de casca A medição da espessura de casca pode ser feita com a árvore em pé ou abatida. Geralmente, essas medições são realizadas nas mesmas posições usadas na cubagem rigorosa de Smalian, Huber, Newton e Hohenadl . Em decorrência da possibilidade de variação da espessura de casca em uma mesma altura de medição (posição de cubagem), decorrente de fatores como clareiras, inclinação da árvore; entre outras, deve-se obter na operação a espessura de casca (e), em milímetros, pela média de duas ou mais medições opostas no ponto de cubagem. Antes de iniciar os trabalhos de mensuração, é necessário definir o que vai ser registrado: se dupla ou simples espessura de casca, e ainda se esta magnitude será resultante de duas ou mais medições. A determinação da espessura de casca pode ser obtida por: Biometria Florestal 112 9.2.1 Diferença entre medidas com e sem casca Por esse processo, faz-se a medição dos diâmetros com e sem casca em cada secção e, posteriormente, por subtração, obtém-se a dupla espessura de casca. csdccdE iii −= Onde: Ei = dupla espessura de casca na secção “i”; ccdi = diâmetro com casca na posição “i” ; csdi = diâmetro sem casca na posição “i”. FIGURA 52 – Medição do diâmetro com e sem casca. 9.2.2 Medição com régua Nesse processo, é feita a retirada da casca com facão, nas posições correspondentes aos pontos de medição na cubagem rigorosa. A medição da espessura de casca é feita com régua devendo ser retirada a retirada a sobre medida existente no início da escala. Caso a espécie permita retirar a casca por inteiro, tanto da parte externa como interna, mantendo-a em um conjunto único (não permanece resíduo da casca viva aderida ao lenho), a espessura da casca poderá ser medida diretamente com um Biometria Florestal 113 paquímetro. Também, neste caso, deve-se obter, no mínimo, mais uma medida, retirando outra porção de casca na mesma posição de cubagem, mas em lado oposto do tronco. O método, entretanto, não pode ser usado em espécies que não mantêm a casca aderida ao tronco quando do corte (seccionamento do tronco). Para maior precisão nas leituras, é comum usar uma outra régua, tangencialmente ao tronco, sendo que esta proporcionará uma melhor visualização do ponto de medição da espessura de casca. A medição da espessura de casca estará sujeita a menor erro quando obtida em secções cortadas, seguido da medição direta da casca. FIGURA 53 – Medição da espessura de casca com régua. 8.2.3 Medição com o medidor de espessura de casca Esse medidor é de uso generalizado e é constituído de uma lâmina de aço de forma semicircular oca, onde está gravada a escala milimétrica de medição. Na Figura 54, é apresentado o medidor de espessura de casca, também conhecido como medidor de casca sueco. Biometria Florestal 114 FIGURA 54 - Medidor de espessura de casca. As medições são feitas nas posições de cubagem e costuma-se fazer a média de duas ou três medidas por posição. Na operação de medição, encosta-se a base do medidor na casca e introduz- se a lâmina semicircular de forma lenta e gradual até atingir o final da casca, não se introduzindo a lâmina ao lenho. Loetsch et al. (1973) citam, com base em experimentos, que se o instrumento for introduzido em pequenas pancadas, poderão ocorrer diferenças nos resultados de até 15%. 9.3 Considerações sobre a medição da espessura de casca a) As medições devem ser feitas com extremo cuidado, devido à pequena espessura da casca; b) Algumas espécies apresentam casca macia e fácil de serem perfuradas pelo medidor, enquanto outras apresentam casca dura, o que requer mais esforço, proporcionando maior possibilidade de introdução da lâmina no lenho e de obter sobre estimativas; c) Se a medição for feita durante a estação de crescimento, a lâmina poderá penetrar mais facilmente no lenho primaveril; Biometria Florestal 115 d) A existência de espaço livre entre a base do medidor e a casca ou se a régua que fica tangente ao tronco estiver mal ajustada à casca, resultará uma tendência de superestimar a espessura, enquanto uma maior pressão causará o afundamento da casca e conseqüente subestimação da espessura; e) A introdução da lâmina no lenho, a não introdução total da lâmina na casca ou a retirada de lenho com facão causam erros de magnitude considerável; f) Diferenças de milímetros podem acarretar boa percentagem de erros; g) Nem todos os métodos de medição são apropriados a todos os tipos de casca. Casca como a de Pinus desprende-se em placas, o que torna inviável o uso de facão para entalhar, como descrito no método 2. 9.4 Determinação do volume de casca O volume de casca pode ser obtido diretamente pela subtração do volume com casca e sem casca. sccc vvcascaVol −= ; e é expresso em percentagem por: 100 v vv casca% cc sccc × − = onde : =ccv volume com casca; =scv volume sem casca. O volume de casca aumenta com o diâmetro e com a idade, independente da altura da árvore, porém a percentagem de casca diminui à medida que aumenta o diâmetro da árvore. Isso ocorre porque o aumento na espessura da casca ou o aumento do diâmetro não são proporcionais ao aumento do volume da árvore, acarretando, assim, a diminuição da percentagem de casca. Biometria Florestal 116 9.5 Estimativa da espessura de casca por regressão A relação entre espessura de casca, o diâmetro e altura da árvore podem ser descritos por um modelo matemático. Entretanto, devido a características dimensionais dessas variáveis, a relação apresenta baixo coeficiente de determinação, decorrente da baixa inclinação da curva em relação ao eixo da abcissa. Hakkila (1967 apud Schneider e Silva, 1979) observou que a relação entre a espessura de casca a diferentes níveis de alturas a partir da base da árvore descreve uma curva hiperbólica com tendência ao nivelamento, apresentando-se diferente para cada espécie. Estudos realizados com diferentes espécies mostraram que a relação entre diâmetro com casca e diâmetro sem casca pode permanecer quase constante desde o toco até o topo da árvore, como encontrado para Picea abies (nessa espécie ocorre maior variação na região da copa, onde o lenho é pouco aproveitado; assim 60 - 70% do tronco tem a percentagem de casca constante, igual ao valor obtido ao dap). Outras espécies mostram diferentes tipos de casca ao longo do tronco. Também deve ser considerada a variação da espessura de casca com o aumento da idade da árvore e com o sítio. Silva (1975), estudando equações de casca para Araucaria, observou que a introdução da variável idade e altura melhorou significativamente a precisão das estimativasdo modelo. Loetsch et al. (1973) citam estudo realizado com Pinus por Östlin, na Suécia, no qual foi constatado que o Pinus, no norte do país, tem casca mais fina que no sul. Variações na espessura de casca com a idade ou sítio podem justificar a modelagem de funções separadas com valores de intercepto distintos. Constataram que, no desenvolvimento de equações de regressão para estimar a casca, deve-se estratificar os dados quanto a espécies, regiões florestais, formas de crescimento, idade e classe de sítio. Em muitas espécies, a espessura de casca não aumenta com o aumento do diâmetro; porém, para pequenos diâmetros, o aumento da casca poderá ser curvilinear, conforme mostra a Figura 55. Biometria Florestal 117 Observa-se pela tendência dos dados plotados na Figura 55, que haverá um baixo coeficiente de determinação para relação espessura de casca em função do diâmetro, gerado pela pequena inclinação da linha de regressão em relação a abcissa. Baixos coeficientes de determinação foram também encontrados por Schneider e Silva (1979) na seleção de modelos para espessura de casca de Acácia Negra (Tabela 25). FIGURA 55 - Relação da espessura de casca para Tectona grandis na Tailândia (Loetsch et al. 1973). TABELA 25 - Equações de dupla espessura de casca, referenciadas ao dap, para acácia negra EQUAÇÃO R² 00617,057930,0dE += d 0,0970 dlog85375,035318,11ELog +=+ 0,3623 dt20143,0t71564,1d78396,178896,4E −++= 0,3540 dlog85489,035192,0Elog += 0,3626 thlog3499,0dhlog1068,2dlog4066,32859,1Elog +−+= 0,5000 Sendo: d = diâmetro à altura do peito; t = idade; h = altura. Biometria Florestal 118 9.6 Cálculo do fator de casca O método de determinação do fator de casca é, segundo Husch et al. (1982), fácil de aplicar e fornece resultados suficientemente acurados para muitos propósitos . O diâmetro sem casca ( scd ) pode ser calculado a partir do diâmetro com casca ( ccd ) com a expressão : b2dd ccsc ⋅−= , onde; scd = diâmetro sem casca; ccd = diâmetro com casca; b = espessura de casca (simples). Com valores de scd e ccd , pode-se calcular o fator de casca (K) médio para uma série de dados pelas expressões a seguir: ( ) � � ⋅ = 2 cc sccc d ddK , portanto � � = cc sc d dK A relação será considerada constante ao longo do tronco, isto é, a medida que “ ccd ” diminui o “ scd ” também diminui, e conseqüentemente, a espessura de casca “b” também. Sendo determinado o fator de casca (K), pode-se obter scd a partir de ccd pela equação: Kdd ccsc ⋅= . a espessura de casca b, correspondente ao valor médio K, pode ser obtida por: Biometria Florestal 119 ( )sccc dd21b −= ; ( )cccc dKd21b ⋅−= ; ( )K1d21b cc −= O mesmo valor médio de K pode ser usado para obter o volume cúbico de casca ( bv ) e volume cúbico de madeira sem casca ( )ccv a partir do volume cúbico com casca ( )ccv . Considerando-se o diâmetro com casca ( ccd ) e sem casca ( scd ) e L como o comprimento do tronco, tem-se : L d v cccc ⋅= 4 2pi e Ldv scsc ⋅= 4 2pi como Kdd ccsc ⋅= , tem-se: ( ) L 4 Kd v 2 cc sc ⋅ ⋅⋅pi = cc 2 sc vKv ⋅= e o volume de casca vb será: scccb vvv −= cc 2 ccb vKvv ⋅−= ( )*K1vv 2ccb −⋅= e, em percentagem, tem-se: ( ) ( ) 100K1%v 2b ⋅−= Biometria Florestal 120 Chamberlain e Meyer apud Husch et al. (1982), verificaram uma diferença na estimativa do volume de casca entre madeira empilhada com casca e sem casca em relação ao valor expresso pela equação ( )2ccb K1vv −⋅= . Essa diferença deve-se à grande rugosidade e as fissuras encontradas na casca que, adicionado ao peso da madeira sobre a casca, ocasionou a diferença. Assim, por propósitos práticos, esta equação é reescrita da forma: ( )2ccb K1v8,0v −⋅⋅= . O fator 0,8 não deve ser usado indiscriminadamente para outras espécies, sendo necessário estudar a necessidade e o valor do fator de correção a ser aplicado. 9.7 Considerações sobre fator de casca Quando os valores de “ scd ” são plotados como função de ccd , a relação poderá ser linear ou aproximadamente linear com intercepto zero ou próximo a zero, assumindo, a equação de regressão, a forma dKdsc ⋅= , onde ( )1bK = . Segundo Husch et al. (1982) a magnitude do fator varia com a espécie, idade e sítio, sendo que a maior variação ocorre em relação à espécie. Na apresentação do fator de casca (K), este foi considerado constante para todas as alturas; embora, para muitas espécies, esses fatores de casca não são freqüentemente os mesmos na base e na parte superior da árvore, devendo-se, nesse caso, usar regressão múltipla para descrever o fator. Na Tabela 26, são apresentados, como exemplo, os fatores de casca e erro (%), considerando-se o fator de casca médio para diferentes espécies e regiões. Biometria Florestal 121 TABELA 26 - Fatores de casca (K) e erro (%) para diferentes espécies e regiões (Schneider e Silva,1979) Local Espécie K Erro Triunfo, RS Acacia mearnsii 0,9217 0,036% Java Ocidental Acacia decurrens 0,9159 1,30% Java Oriental Acacia decurrens 0,9293 1,6% P. Fundo, RS Araucária angustifolia 0,9293 3,2% Considerando-se, por exemplo, os dados apresentados por Husch et al. (1982), transcritos na Tabela 27, o cálculo do fator de casca K pode ser facilmente determinado através do seguinte procedimento: TABELA 27 – Dados de diâmetro com casca e dupla espessura de casca. Biometria Florestal 122 ( )� =⋅ 2,179.7dd sccc � = 93,628.7d2cc 9411,0K = ccd 2b 30,8 2,2 14,7 1,1 24,8 1,2 20,0 0,8 21,7 1,1 7,9 0,4 15,8 1,1 12,7 1,3 18,6 1,0 17,0 1,0 26,1 0,8 28,1 1,7 10,6 0,6 6,1 0,4 29,4 1,6 15,1 0,8 21,5 2,3 22,0 1,2 11,4 0,7 9,0 0,3
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