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Biometria Florestal 123 10 TABELAS DE VOLUME 10.1 Introdução Os estudos econômicos e de ordenamento florestal tem por base o inventário do potencial florestal existente através de técnicas de amostragem e de biometria. A cubagem de árvores possibilita obter o volume sólido dos troncos, que, associados às variáveis dendrométricas (d, h, etc), permitem gerar modelos para descrever esses volumes, que poderão ser apresentados em forma de tabela. A tabela de volume pode ser definida como uma relação gráfica ou numérica expressa por equações logarítmicas ou aritméticas capaz de exprimir o volume total ou parcial de uma árvore em função de variáveis independentes como: diâmetro, altura, espessura de casca, fator de forma, cociente de forma, etc. ou, ainda, como a representação tabular do volume individual de árvores inteiras ou em partes delas através de variáveis de fácil medição. Em geral, as tabelas apresentam os volumes em metros cúbicos, podendo esses volumes incluirem ou não a casca da árvore. Os volumes estimados não são exatos, pois as variáveis independentes são obtidas em uma série de indivíduos medidos no povoamento, que estão sujeitos às variações naturais. Assim, deve-se admitir que as relações volumétricas possibilitam a estimativa de volumes médios em torno dos quais devem se distribuir os volumes verdadeiros. Por sua construção, as tabelas de volume estão intimamente ligadas aos povoamentos, devendo ocorrer uma compensação dos erros ao se tomar os volumes médios pelos verdadeiros, principalmente, quando cresce o número de observações. Biometria Florestal 124 10.2 Classificação das tabelas de volume A classificação das tabelas de volume permite agrupar, segundo o tipo de tabela, sua construção e modelos matemáticos usados na confecção. As tabelas de volume podem ser classificadas quanto: o número de variáveis independentes, ao aproveitamento e ao tipo de modelo que as originaram. 10.2.1 Quanto ao aproveitamento De acordo com a parte considerada, podem ser construídas: a) Tabela de volume total: refere-se ao volume total da árvore e pode ser apresentada com e sem casca, b) Tabelas de volume comercial: refere-se ao volume parcial (comercial) do tronco e podendo ser apresentada com e sem casca. 10.2.2 Quanto ao tipo de modelo De acordo com o modelo matemático, selecionado para descrever o volume das árvores, podem ser consideradas: a) Tabelas de volume aritméticas: como todas as originadas por modelos aritméticos, essas podem ser ainda subdivididas em formais e não-formais, respectivamente,para modelos que incluam ou não o fator de forma, cociente de forma e outros no modelo de regressão; b) Tabelas de volumes logarítmicas: como as geradas por modelos logarítmicos, podendo também ser subdivididas em formais e não-formais. 10.2.3 Quanto ao número de variáveis independentes Com referência ao número de variáveis que compõem o modelo de regressão ou também quanto às áreas de abrangência da tabela podem ser definidas: Biometria Florestal 125 a) Tabela de volume de simples entrada ou tabela de volume local: refere-se à tabela gerada com modelo matemático, no qual o volume é função apenas o diâmetro à altura do peito (v = f(d)). Essas tabelas são usadas para o local onde foram construídas, ou seja, para a espécie e sítio onde as árvores foram amostradas. Neste sentido, a relação hipsométrica é considerada constante na função do volume e, por isso, será usada em área restrita. Na Tabela 28, é apresentada uma relação de modelos matemáticos que descrevem o volume como função do diâmetro da árvore. TABELA 28 - Modelos para determinação de tabelas de volume local (Loetsch et al., 1973) MODELO AUTOR 2 20 dbbv += Kopezky-Gehrhardt 2 21 dbbv += Dissescu-Meyer 2 210 dbdbbv ++= Hohenadl-Krenn 10 bbv ⋅= Husch,1952 ( ) 2b1b0 d1dbv ⋅⋅= Brenac b) Tabela de volume de dupla entrada, padrão ou regional: é a tabela de volume gerada com funções que possuem como variáveis independentes o diâmetro e a altura (v = f(d;h)) conforme exemplificado na Tabela 29. Essa tabela é de uso mais amplo, servindo para uma região homogênea, pois considera a relação hipsométrica variável (dentro dos limites amostrados). Biometria Florestal 126 TABELA 29 - Modelos para determinação de tabelas de volume regional. MODELO AUTOR hdbv 21= S.h. Spurr (1952) hdbbv 210 += S.h. Spurr (1952) ( )hbbdv 102 += Ogaya hbhdhdbbv 322210 +++= Stoate (australiana) 2 4 2 3 2 2 2 1 hbdhbhdbdbv +++= Näslund hdbdhbdbdbbv 2432210 ++++= Meyer hbhdbdhbdbdbbv 52432210 +++++= Meyer (modificada) ( )dbb/hdv 102 += Takata ( ) 1b20 hdbv = Spurr (variável combinada logarítmica) 21 bb 0 hdbv ⋅⋅= Schumacher-hall hlogbhlogbdlogbdlogbbvlog 2432210 ++++= Inst. Pesq. Florest. Baden-Würt Alemanha Outro grupo de funções matemáticas, como o da Tabela 30, apresenta três ou mais variáveis independentes. A inclusão dessas variáveis no modelo de regressão busca reduzir a variação não explicada pelo modelo e é justificada no ajuste de dados que apresentem grande variação. Nessa relação de variáveis, foram então, incluídas a altura do ponto de inserção da copa ( ch ), a dupla espessura de casca (B) e o cociente de forma ( iK ), entre outras, como o cociente de forma de Girard, o qual serve de variável de seleção da tabela a ser usada. Biometria Florestal 127 c) Tabela de volume de tripla entrada ou múltiplas: são as tabelas de volume geradas por funções que, além do d e h, incluem uma terceira variável, que deve ser de fácil obtenção e uso prático e servirá para estratificar o volume segundo fonte de variação. As tabelas assim originadas são pouco difundidas, sendo um exemplo as tabelas para toras por classe de forma de Girard. Essa classe é expressa pela razão entre o diâmetro no topo da tora tomado sem casca e o diâmetro a 1,30 m com casca. O comprimento considerado para a tora é de 5,27 m. A vantagem do uso dessas tabelas é seu amplo uso, pois a classificação das árvores/toras quanto a classe de forma (grau de conicidade) permite o emprego de uma mesma tabela para diferentes espécies florestais, tanto folhosas como coníferas. TABELA 30 - Modelos para descrever volumes em função de três ou mais variáveis independentes: MODELO AUTOR hcdbhbdhbhdbdbv 2524232221 ++++= Näslund dhBbhchbdhbhdbdbv 524232221 ++++= Näslund dhBbhbdhbhdbdbv 524232221 ++++= Näslund hi10 2 10 ddbbhKdbbv +=+= Spurr hKdbhdbKbbv 232210 +++= Spurr ( )Kh/1bKbbhdv 2102 ⋅++= Schiffel hh5,010 ddbbv ⋅+= Ogaya ( )22h3,0120 hbdbhdb4/v ++⋅pi= Pollanschutz 7 2 107 2 9 2 78 2 77 2 2 2 5473210 ddhbddbhdbdb hbdbdhbdbhbdbbv +++ +++++++= (Schmid) 321 b i bb 0 dhdbv ⋅⋅⋅= Spurr Biometria Florestal 128 ( ) 1bi0 dhdbv ⋅⋅= Classe de forma logarítmica de Spurr. Onde: v = volume sólido; d = diâmetro à altura do peito; id = diâmetro na altura i; h5,0h3,0 d;d = diâmetros relativos; h = altura total; Ch = altura do ponto de inserção da copa; B = dupla espessura da casca; K = cociente de forma artificial. 10.3 Construção da tabela de volume Inicialmente, as tabelas de volume foram construídas pelo método gráfico. A partir de 1940, com o desenvolvimento do método analítico, o método gráfico entrou gradativamente em desuso. O método analítico apresenta,além da maior precisão e facilidade de cálculo, a vantagem de não ser subjetivo, permitindo a todos obter o mesmo resultado, visto que se utiliza da análise de regressão para ajuste dos modelos matemáticos. O número de árvores-amostra a serem cubadas é uma função da variabilidade do povoamento e da precisão desejada para as estimativas do volume. Para a tabela de volume local, 50-100 árvores podem ser suficientes; entretanto, para tabelas de volume a serem usadas em extensas regiões, várias centenas de árvores são necessárias a fim de cobrir todos os sítios e classes de diâmetro e idades. É importante que sejam desenvolvidas equações de volume específicas para cada tipo ecológico, topografia, solo, etc. e, após, que seja verificada a possibilidade ou não de agrupá-los em uma única equação. A estratificação dos dados amostrados por sítios, ou espécies, por exemplo, poderá trazer expressiva redução da variabilidade dos dados aumentando a precisão das equações. Biometria Florestal 129 Ao se obter equações para cada grupo surge naturalmente a pergunta se essas não podem ser agrupadas em uma única equação que descreva todos os grupos simultaneamente. Para isso, basta testar as hipóteses de paralelismo (se os coeficientes angulares são comuns) e de coincidência das curvas (interceptos comuns). O teste para tal é a análise de covariância. Para maiores detalhes veja Freese (1970) ou Kozak (1970). Nos dois trabalhos, o teste de paralelismo e coincidência de curvas de regressão são de fácil compreensão. Nos casos em que a variação na forma da árvore, entre diferentes regiões amostradas, seja tal, que acarrete erro de magnitude da função de volume, poderá ser interessante a estratificação dos dados e a construção de tabelas distintas para as diferentes regiões. Na construção de tabelas de volume, devem ser obedecidos os seguintes critérios, a fim de se obter estimativas fidedignas: a) Selecionar um número de árvores-amostra buscando cobrir toda a variação de idade, espaçamento e sítio para a mesma espécie florestal; b) Cubar e medir as variáveis independentes para estimar a equação de volume; c) Testar e comparar diferentes equações a fim de selecionar a que melhor representa os dados. Assim, a determinação do número de árvores a serem cubadas em cada classe de dap pode ser obtida pela seguinte expressão: 222 EStclasse/n ⋅= Onde: E = erro admitido ( _ X%LEE ⋅= ); 2S = variância; t = valor de “ t ” tabelado; LE = limite do erro admitido; _ X = volume médio. Biometria Florestal 130 A determinação dos elementos da fórmula é feita a partir de uma amostragem piloto, na qual é medido um número arbitrado de árvores por classe de diâmetro. A fórmula pode também ser utilizada considerando-se o conjunto de dados amostrados; isto é, sem a distribuição em classes de diâmetro, calculando-se o número total de árvores a serem cubadas para um erro e probabilidade fixados. Esse número de árvores será, então, distribuído eqüitativamente nas classes de diâmetro, fazendo com que cada uma receba o mesmo número de árvores, dando origem a uma distribuição retangular. Esse procedimento é defendido por Kozak (1970) como ideal para estudo de regressão, pois garante igual peso dos dados nas diferentes classes da variável X. Após a amostragem de um número suficiente de árvores, do ajuste de vários modelos e da seleção do mais adequado, constrói-se a tabela de volume para a amplitude dos dados observados. Para isso, coloca-se, em metros, na abcissa da tabela, o valor correspondente aos centros de classe de altura e, na ordenada, os centros de classe de diâmetro, em centímetros. É comum usar intervalos de classe de 2 cm para diâmetros e de 1 m para alturas, podendo, estes valores ser alterados segundo a necessidade. Após serem definidos os valores das classes, calcula-se, com a equação selecionada, o volume para cada classe de diâmetro e altura até montar a tabela. Confeccionada a tabela, deve-se definir sua área útil, ou seja, delimitar a amplitude dos dados observados na amostragem. Essa delimitação indica a região na tabela em que as estimativas são confiáveis e/ou a área onde se tratam de extrapolação. Ao se analisar a Figura 39, que representa o desenvolvimento das curvas de regressão de altura e diâmetro obtidas por sete modelos matemáticos para os mesmos pares de dados, verificou-se que as estimativas fora da amplitude dos dados observados é extremamente perigosa, podendo obter-se estimativas absurdas para a variável dependente. A tabela de volume deve trazer a indicação da finalidade a que se destina (ex: tabela de volume total com casca); a espécie (ex: Pinus elliottii); o local de origem dos dados e o modelo matemático que foi usado. Para a confecção de tabelas de uso local ou múltipla, o processo é semelhante, apenas respeitando a característica de cada tipo. Biometria Florestal 131 Nas Tabelas 31 e 32, são apresentadas as tabelas de volume total com casca para Eucalyptus saligna, primeira rotação, respectivamente tabela de simples entrada e dupla entrada. . TABELA 31 - Tabela de volume total com casca para Eucalyptus saligna, primeira Rotação - tabela de simples entrada (Schneider et al. 1988, modificada). dap (cm) VOLUME (m³ cc) dap (cm) VOLUME (m³ cc) 8 0,030 26 0,664 10 0,042 28 0,815 12 0,067 30 0,925 14 0,106 32 1,040 16 0,160 34 1,233 18 0,253 36 1,365 20 0,313 38 1,503 22 0,413 40 1,647 24 0,530 42 1,897 Biometria Florestal 132 TABELA 32 - Tabela de volume com casca para Eucalyptus saligna, primeira rotação - tabela de dupla entrada (Finger,1997) cont... Obs.: Para ver a continuidade da tabela, consultar Finger(1997).
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