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Prévia do material em texto

Material elaborado pelo professor Marcos Germano Pares 
 
 
 
COMO ELABORAR UMA RESENHA 
 
 
1. DEFINIÇÕES 
 
Resenha-resumo: 
É um texto que se limita a resumir o conteúdo de um livro, de um capítulo, de um filme, de 
uma peça de teatro ou de um espetáculo, sem qualquer crítica ou julgamento de valor. Trata-
se de um texto informativo, pois o objetivo principal é informar o leitor. 
 
Resenha-crítica: 
É um texto que, além de resumir o objeto, faz uma avaliação sobre ele, uma crítica, apontando 
os aspectos positivos e negativos. Trata-se, portanto, de um texto de informação e de opinião, 
também denominado de recensão crítica. 
 
2. QUEM É O RESENHISTA 
 
A resenha, por ser em geral um resumo crítico, exige que o resenhista seja alguém com 
conhecimentos na área, uma vez que avalia a obra, julgando-a criticamente. 
 
3. OBJETIVO DA RESENHA 
 
O objetivo da resenha é divulgar objetos de consumo cultural - livros,filmes peças de teatro, 
etc. Por isso a resenha é um texto de caráter efêmero, pois "envelhece" rapidamente, muito 
mais que outros textos de natureza opinativa. 
 
4. VEICULAÇÃO DA RESENHA 
 
A resenha é, em geral, veiculada por jornais e revistas. 
 
5. EXTENSÃO DA RESENHA 
 
A extensão do texto-resenha depende do espaço que o veículo reserva para esse tipo de texto. 
Observe-se que, em geral, não se trata de um texto longo, "um resumão" como normalmente 
feito nos cursos superiores ... Para melhor compreender este item, basta ler resenhas 
veiculadas por boas revistas. 
 
 
6. O QUE DEVE CONSTAR NUMA RESENHA 
 
Devem constar: 
 O título 
 A referência bibliográfica da obra 
 Alguns dados bibliográficos do autor da obra resenhada 
 O resumo, ou síntese do conteúdo. 
 A avaliação crítica 
 
7. O TÍTULO DA RESENHA 
 
O texto-resenha, como todo texto, tem título, e pode ter subtítulo, conforme os exemplos, a 
seguir: 
Título da resenha: Astro e vilão 
Subtítulo: Perfil com toda a loucura de Michael Jackson 
Livro: Michael Jackson: uma Bibliografia não Autorizada (Christopher Andersen) - 
Veja, 4 de outubro, 1995 
 
Título da resenha: Com os olhos abertos 
Livro: Ensaio sobre a Cegueira (José Saramago) - Veja, 25 de outubro, 1995 
 
Título da resenha: Estadista de mitra 
Livro: João Paulo II - Bibliografia (Tad Szulc) - Veja, 13 de março, 1996 
 
 
8. A REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA DO OBJETO RESENHADO 
 
Constam da referência bibliográfica: 
 Nome do autor 
 Título da obra 
 Nome da editora 
 Data da publicação 
 Lugar da publicação 
 Número de páginas 
 Preço 
Obs.: Às vezes não consta o lugar da publicação, o número de páginas e/ou o preço. 
 
Os dados da referência bibliográfica podem constar destacados do texto, num "box" ou caixa. 
 
Exemplo: Ensaio sobre a cegueira, o novo livro do escritor português José Saramago 
(Companhia das Letras; 310 páginas; 20 reais), é um romance metafórico (...) (Veja, 25 de 
outubro, 1995). 
 
 
 
9. O RESUMO DO OBJETO RESENHADO 
 
O resumo que consta numa resenha apresenta os pontos essenciais do texto e seu plano geral. 
 
Pode-se resumir agrupando num ou vários blocos os fatos ou ideias do objeto resenhado. 
 
A) Veja exemplo do resumo feito de "Língua e liberdade: uma nova concepção da língua 
materna e seu ensino" (Celso Luft), na resenha intitulada "Um gramático contra a gramática", 
escrita por Gilberto Scarton. 
 
"Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre 
na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar 
a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, a 
inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se 
ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática linguística, a postura 
prescritiva, purista e alienada - tão comum nas "aulas de português". 
 
O velho pesquisador apaixonado pelos problemas de língua, teórico de espírito lúcido e de 
larga formação linguística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com rigor 
gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e 
lingüística;o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos 
gramáticos, dos linguistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do 
irrelevante". 
 
Pode-se também resumir de acordo com a ordem dos fatos, das partes e dos capítulos. 
 
B) Veja o exemplo da resenha "Receitas para manter o coração em forma" (Zero Hora, 26 de 
agosto, 1996), sobre o livro "Cozinha do Coração Saudável", produzido pela LDA Editora, 
com o apoio da Beal. 
 
Receitas para manter o coração em forma 
 
 
"Na apresentação, textos curtos definem os diferentes tipos de gordura e suas formas de 
atuação no organismo. Na introdução os médicos explicam numa linguagem perfeitamente 
compreensível o que é preciso fazer (e evitar) para manter o coração saudável. 
 
As receitas de Cozinha do Coração Saudável vêm distribuídas em desjejum e lanches, 
entradas, saladas e sopas; pratos principais; acompanhamentos; molhos e sobremesas. 
Bolinhos de aveia e passas, empadinhas de queijo, torta de ricota, suflê de queijo, salpicão de 
frango, sopa fria de cenoura e laranja, risoto com açafrão, bolo de batata, alcatra ao molho 
 
frio, purê de mandioquinha, torta fria de frango, crepe de laranja e pêras ao vinho tinto são 
algumas das iguarias". 
 
 
 
 
10. COMO SE INICIA UMA RESENHA 
 
Pode-se começar uma resenha citando-se imediatamente a obra a ser resenhada. Veja os 
exemplos: 
 
A) "Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino" 
(L&PM, 1995, 112 páginas), do gramático Celso Pedro Luft, traz um conjunto de idéias que 
subvertem a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veementemente, 
o ensino da gramática em sala de aula. 
 
Mais um exemplo: 
 
B) "Michael Jackson: uma Bibliografia Não Autorizada (Record: tradução de Alves 
Calado; 540 páginas, 29,90 reais), que chega às livrarias nesta semana, é o melhor perfil de 
astro mais popular do mundo". (Veja, 4 de outubro, 1995). 
 
Outra maneira bastante frequente de iniciar uma resenha é escrever um ou dois parágrafos 
relacionados com o conteúdo da obra. 
C) Observe o exemplo da resenha sobre o livro "História dos Jovens" (Giovanni Levi e Jean-
Claude Schmitt), escrita por Hilário Franco Júnior (Folha de São Paulo, 12 de julho, 1996). 
 
O que é ser jovem 
 
Hilário Franco Júnior 
 
Há poucas semanas, gerou polêmica a decisão do Supremo Tribunal Federal que inocentava 
um acusado de manter relações sexuais com uma menor de 12 anos. A argumentação do 
magistrado, apoiada por parte da opinião pública, foi que "hoje em dia não há menina de 12 
anos, mas mulher de 12 anos". 
Outra parcela da sociedade, por sua vez, considerou tal veredito como a aceitação de 
"novidades imorais de nossa época". Alguns dias depois, as opiniões foram novamente 
divididas diante da estatística publicada pela Organização Mundial do Trabalho, segundo a 
qual 73 milhões de menores entre 10 e 14 anos de idade trabalham em todo o mundo. Para 
 
alguns isso é uma violência, para outros um fato normal em certos quadros sócio-econômico-
culturais. 
Essas e outras discussões muito atuais sobre a população jovem só podem pretender orientar 
comportamentos e transformar a legislação se contextualizadas, relativizadas. Enfim, se 
historicizadas. E para isso a "História dos Jovens" - organizada por dois importantes 
historiadores, o modernista italiano Giovanno Levi, da Universidade de Veneza, e o 
medievalista francês Jean-Claude Schmitt, da École des Hautes Études em Sciences Sociales - 
traz elementos interessantes. 
 
 
D) Observe igualmente o exemplo a seguir - resenha sobre olivro "Cozinha do Coração 
Saudável", LDA Editores, 144 páginas (Zero Hora, 23 de agosto, 1996). 
Receitas para manter o coração em forma 
 
Entre os que se preocupam com o controle de peso e buscam uma alimentação saudável são 
poucos os que ainda associam estes ideais a uma vida de privações e a uma dieta insossa. Os 
adeptos da alimentação de baixos teores já sabem que substituições de ingredientes 
tradicionais por similares light garantem o corte de calorias, açúcar e gordura com a 
preservação (em muitos casos total) do sabor. Comprar tudo pronto no supermercado ou em 
lojas especializadas é barbada. A coisa complica na hora de ir para a cozinha e acertar o ponto 
de uma massa de panqueca,crepe ou bolo sem usar ovo. Ou fazer uma polentinha crocante, 
bolinhos de arroz e croquetes sem apelar para a frigideira cheia de óleo. O livro Cozinha do 
Coração Saudável apresenta 110 saborosas soluções para esses problemas. Produzido pela 
LDA Editora com apoio da Becel, Cozinha do Coração saudável traz receitas compiladas por 
Solange Patrício e Marco Rossi, sob orientação e supervisão dos cardiologistas Tânia 
Martinez, pesquisadora e professora da Escola Paulista de Medicina, e José Ernesto dos 
Santos, presidente do departamento de Aterosclerose da Sociedade Brasileira de Cardiologia e 
professor da faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. Os pratos foram testados por 
nutricionistas da Cozinha Experimental Van Den Bergh Alimentos. 
Há, evidentemente, numerosas outras maneiras de se iniciar um texto-resenha. A leitura 
(inteligente) desse tipo de texto poderá aumentar o leque de opções para iniciar uma recensão 
crítica de maneira criativa e cativante, que leva o leitor a interessar-se pela leitura. 
 
11. A CRÍTICA 
 
A resenha crítica não deve ser vista ou elaborada mediante um resumo a que se acrescenta ao 
final, uma avaliação ou crítica. A postura crítica deve estar presente desde a primeira linha, 
resultando num texto em que o resumo e a voz crítica do resenhista se interpenetram. 
 
O tom da crítica poderá ser moderado, respeitoso, agressivo, etc. 
Deve ser lembrado que os resenhistas - como os críticos em geral - também se tornam objetos 
de críticas por parte dos "criticados" (diretores de cinema, escritores, etc.), que revidam os 
 
ataques qualificando os "detratores da obra" de "ignorantes" (não compreenderam a obra) e de 
"impulsionados pela má-fé". 
 
12. EXEMPLOS DE RESENHAS 
 
Publicam-se a seguir três resenhas que podem ilustrar melhor as considerações feitas ao longo 
desta apresentação. 
 
 
1º Exemplo 
Atwood se perde em panfleto feminista 
 
Marilene Felinto 
Da Equipe de Articulistas 
 
Margaret Atwood, 56, é uma escritora canadense famosa por sua literatura de tom feminista. 
No Brasil, é mais conhecida pelo romance "A mulher Comestível" (Ed. Globo). Já publicou 
25 livros entre poesia, prosa e não-ficção. "A Noiva Ladra" é seu oitavo romance. 
 
O livro começa com uma página inteira de agradecimentos, procedimento normal em teses 
acadêmicas, mas não em romances. Lembra também aqueles discursos que autores de cinema 
fazem depois de receber o Oscar. A escritora agradece desde aos livros sobre guerra, que 
consultou para construir o "pano de fundo" de seu texto, até a uma parente, Lenore Atwood, 
de quem tomou emprestada a (original? significativa?) expressão "meleca cerebral". 
 
Feitos os agradecimentos e dadas as instruções, começam as quase 500 páginas que poderiam, 
sem qualquer problema, ser reduzidas a 150. Pouparia precioso tempo ao leitor bocejante. 
É a história de três amigas, Tony, Roz e Charis, cinqüentonas que vivem infernizadas pela 
presença (em "flashback") de outra amiga, Zenia, a noiva ladra, inescrupulosa "femme fatale" 
que vive roubando os homens das outras. 
Vilã meio inverossímel - ao contrário das demais personagens, construídas com certa solidez -
, a antogonista Zenia não se sustenta, sua maldade não convence, sua história não emociona. 
A narrativa desmorona, portanto, a partir desse defeito central. Zenia funcionaria como 
superego das outras, imagem do que elas gostariam de ser, mas não conseguiram, reflexo de 
seus questionamentos internos - eis a leitura mais profunda que se pode fazer desse romance 
nada surpreendente e muito óbvio no seu propósito. 
Segundo a própria Atwood, o propósito era construir, com Zenia, uma personagem mulher 
"fora-da-lei", porque "há poucas personagens mulheres fora-da-lei". As intervenções do 
discurso feminista são claras, panfletárias, disfarçadas de ironia e humor capengas. A 
personagem Tony, por exemplo, tem nome de homem (é apelido para Antônia) e é professora 
de história, especialista em guerras e obcecada por elas, assunto de homens: "Historiadores 
 
homens acham que ela está invadindo o território deles, e deveria deixar as lanças, flechas, 
catapultas, fuzis, aviões e bombas em paz". 
Outras alusões feministas parecem colocadas ali para provocar riso, mas soam apenas 
ingênuas: "Há só uma coisa que eu gostaria que você lembrasse. Sabe essa química que afeta 
as mulheres quando estão com TPM? Bem, os homens têm essa química o tempo todo". Ou 
então, a mensagem rabiscada na parede do banheiro: "Herstory Not History", trocadilho que 
indicaria o machismo explícito na palavra "História", porque em inglês a palavra pode ser 
desmembrada em duas outras, "his" (dele) e story (estória). A sugestão contida no trocadilho é 
a de que se altere o "his" para "her" (dela). 
As histórias individuais de cada personagem são o costumeiro amontoado de fatos cotidianos, 
almoços, jantares, trabalho, casamento e muita "reflexão feminina" sobre a infância, o amor, 
etc. Tudo isso narrado da forma mais achatada possível, sem maiores sobressaltos, a não ser 
talvez na descrição do interesse da personagem Tony pelas guerras. 
Mesmo aí, prevalecem as artificiais inserções de fundo histórico, sem pé nem cabeça, no meio 
do texto ficcional, efeito da pesquisa que a escritora - em tom cerimonioso na página de 
agradecimentos - se orgulha de ter realizado. 
 
2º Exemplo 
Estadista de mitra 
 
Na melhor bibliografia de João Paulo II até agora, o jornalista Tad Szulc dá ênfase à atuação 
política do papa 
 
Ivan Ângelo 
 
Como será visto na História esse contraditório papa João Paulo II, o único não-italiano nos 
últimos 456 anos? Um conservador ou um progressista? Bom ou mau pastor do imenso 
rebanho católico? Sobre um ponto não há dúvida: é um hábil articulador da política 
internacional. Não resolveu as questões pastorais mais angustiantes da Igreja Católica em 
nosso tempo - a perda de fiéis, a progressiva falta de sacerdotes, a forma de pôr em prática a 
opção da igreja pelos pobres -; tornou mais dramáticos os conflitos teológicos com os padres 
e os fiéis por suas posições inflexíveis sobre o sacerdócio da mulher, o planejamento familiar, 
o aborto, o sexo seguro, a doutrina social, especialmente a Teologia da Libertação, mas por 
outro lado, foi uma das figuras-chave na desarticulação do socialismo no Leste Europeu, nos 
anos 80, a partir da sua atuação na crise da Polônia. É uma voz poderosa contra o racismo, a 
intolerância, o consumismo e todas as formas autodestrutivas da cultura moderna. Isso fará 
dele um grande papa? 
O livro do jornalista polonês Tad Szulc João Paulo II - Bibliografia (tradução de Antonio 
Nogueira Machado, Jamari França e Silvia de Souza Costa; Francisco Alves; 472 páginas; 34 
reais) toca em todos esses aspectos com profissionalismo e competência. O autor, um ex-
correspondente internacional e redator do The New York Times, viajou com o papa, comeu 
com ele no Vaticano, entrevistou mais de uma centena de pessoas, levou dois anos para 
 
escrever esse catatau em uma máquina manual portátil, datilografando com dois dedos. O 
livro, bastante atual, acompanha a carreira (não propriamente a vida) do personagem até o fim 
dejaneiro de 1995, ano em que foi publicado. É um livro de correspondente internacional, 
com o viés da política internacional. Szulc não é literariamente refinado como seus colegas 
Gay Talese ou Tom Wolfe, usa com freqüência aqueles ganchos e frases de efeito que 
adornam o estilo jornalístico, porém persegue seu objetivo como um míssil e atinge o alvo. 
Em meio à política, pode-se vislumbrar o homem Karol Wojtyla, teimoso, autoritário, 
absolutista de discurso democrático, alguém que acha que tem uma missão e não quer dividi-
la, que é contra o "moderno" na moral, que prefere perder a transigir, mas é gentil, caloroso, 
fraterno, alegre, franco ... Szulc, entretanto, só faz o esboço, não pinta o retrato. Temos, então, 
de aceitar a sua opinião: "É difícil não gostar dele". 
Opus Dei - O livro começa descrevendo a personalidade de João Paulo II, faz um bom 
resumo da História da Polônia e sua opção pelo Ocidente e pela Igreja Católica Romana (em 
vez da Ortodoxa Grega, que dominava os vizinhos do Leste), fala da relação mística de 
Wojtyla com o sofrimento, descreve sus brilhante carreira intelectual e religiosa, volta à sua 
infância, aos seus tempos de goleiro no time do ginásio ""um mau goleiro", dirá mais tarde 
um amigo), localiza aí sua simpatia pelos judeus, conta que ele decidiu ser padre em meio ao 
sofrimento pela morte do pai, destaca a complacência de Pio XII com o nazismo, a ajuda à 
Opus Dei (a quem depois João Paulo II daria todo o apoio), demora-se demais nos meandros 
da política do bispo e cardeal Wojtyla, cresce jornalisticamente no capítulo sobre a eleição 
desse primeiro papa polonês, mostra como ele reorganizou a Igreja, discute suas posições 
conservadoras sobre a Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base, CEBs, na 
América latina, descreve sua decisiva atuação na política do Leste Europeu, a derrocada do 
comunismo, e termina com sus luta atual contra o demônio pós-comunista. Agora o demônio, 
o perigo mortal para a humanidade, é o capitalismo selvagem e o "imperialismo 
contraceptivo" dos EUA e da ONU. 
Szulc, o escritor-míssil, não se desvia do seu alvo nem quando vê um assunto saboroso como 
a Cúria do Vaticano, que diz estar cheia de puxa-sacos e fofoqueiros com computadores, nos 
quais contabilizam trocas de favores, agrados, faltas e rumores. O sutil jornalista Gay Talese 
não perderia um prato desses. 
Entretanto, Szulc está sempre atento às ações políticas do papa. Nota que João Paulo II elevou 
a Opus Dei à prelatura pessoal enquanto expurgou a Companhia de Jesus por seu apoio à 
Teologia da Libertação; ajudou a Opus Dei a se estabelecer na Polônia, beatificou 
rapidamente seu criador, monsenhor Escrivã. Como um militar brasileiro dos anos 60, cassou 
o direito de ensinar dos padres Küng, Pohier e Curran, silenciou os teólogos Schillebeeckx 
(belga), Boff (brasileiro), Häring (alemão) e Gutiérrez (peruano), reduziu o espaço pastoral de 
dom Arns (brasileiro). Em contrapartida, apoiou decididamente o sindicato clandestino 
polonês, a Solidariedade. Fez dobradinha com o general dirigente polonês Jaruzelski contra 
Brejnev, abrindo o primeiro país socialista, que abriu o resto. O próprio Gorbachev 
reconhece: "Tudo o que aconteceu no Leste Europeu nesses últimos anos teria sido impossível 
sem a presença deste papa". 
Talvez seja assim também com relação ao que acontece com as religiões cristãs no nosso 
continente. Tad Szulc, com cautela, alerta para a penetração, na América Latina, dos 
 
evangélicos e pentecostais, que o próprio Vaticano chama de "seitas arrebatadoras". A 
participação comunitária e o autogoverno religioso que existia nas CEBs motivavam mais a 
população. Talvez seja. Acrescentando-se a isso o lado litúrgico dos evangélicos que satisfaz 
o desejo dos fiéis de serem atores no drama místico, não tanto espectadores, tem-se uma tese. 
O perfil desenhado por Szulc é o de um político profundamente religioso. Um homem que 
reza sete horas por dia, com os olhos firmemente fechados, devoto de Nossa Senhora de 
Fátima e do mártir polonês São Estanislau e que acredita no martírio e na dor pessoais para 
alcançar a graça. 
 
3º Exemplo 
Um gramático contra a gramática 
 
Gilberto Scarton 
 
Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM, 
1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft traz um conjunto de idéias que subverte a 
ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veemente, o ensino da 
gramática em sala de aula. 
Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente, sempre na 
mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada de ensinar a 
língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista, inutilidade 
do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é se ensinar a 
escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática lingüística, a postura prescritiva, 
purista e alienada - tão comum nas "aulas de português". 
O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de 
larga formação lingüística e professor de longa experiência leva o leitor a discernir com rigor 
gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial; gramática tradicional e 
lingüística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber dos falantes e o saber dos 
gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o ensino útil, do ensino inútil; o essencial, do 
irrelevante. 
 
Essa fundamentação lingüística de que lança mão - traduzida de forma simples com fim de 
difundir assunto tão especializado para o público em geral - sustenta a tese do Mestre, e o 
leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz ver 
o ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser humano; 
um processos espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente desse 
poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do 
artificialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra, 
para desenvolver seu espírito crítico e para falar por si. 
Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto pareça 
ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos ao longo 
da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação que lhe 
 
sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vítimas do ensino tradicional - e os 
professores de português - teóricos, gramatiqueiros, puristas - têm ao se depararem com uma 
obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula.

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