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DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 1 Aula 2: Garantias fundamentais e direitos humanos na segurança pública ................................. 2 ............................................................................................................................. 2 Introdução ................................................................................................................................ 4 Conteúdo Cidadania e dispositivos constitucionais ...................................................................... 4 3º da Magna Carta Nacional ............................................................................................ 4 Definição de cidadania ..................................................................................................... 5 Dimensões da cidadania .................................................................................................. 5 Desenvolvimento dos direitos ......................................................................................... 6 Identidade nacional ........................................................................................................... 7 Três classes de cidadão .................................................................................................... 7 Aplicação da lei em um regime democrático .............................................................. 8 Fundamentação da responsabilidade política ............................................................. 8 Aplicação das leis ............................................................................................................... 9 Formação e treinamento ............................................................................................... 10 Segurança pública ........................................................................................................... 10 Direito Internacional e seus instrumentos .................................................................. 11 Direito Internacional - conceituação ........................................................................... 12 Convenções internacionais e costume internacional .............................................. 12 Direitos Humanos na legislação brasileira .................................................................. 14 Novos dispositivos constitucionais .............................................................................. 15 Lei do esgotamento ........................................................................................................ 15 ........................................................................................................................... 16 Referências ......................................................................................................... 16 Exercícios de fixação Chaves de resposta ..................................................................................................................... 19 ..................................................................................................................................... 19 Aula 2 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 19 DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 2 Introdução Os termos “cidadania” e “cidadão” são tão usados por todos nós que viraram lugar comum em discussões sobre direitos e deveres. Porém, quando resolvemos esmiuçar essas expressões, acabamos por verificar que elas são mais complexas do que ousávamos pensar. Na presente aula, ampliaremos nossa visão sobre esse tema, relacionando-o aos direitos humanos e ao regime democrático. Afinal, qual será o papel das agências de segurança pública em um país como o Brasil? Como fazer com que esse papel seja cumprido? Também analisaremos o papel do país como signatário dos diversos acordos multilaterais, detalhando conceitos importantes no campo do Direito Internacional. Objetivo: 1. Definir o conceito de cidadania e relacioná-lo aos dispositivos constitucionais; 2. Arrolar as dimensões da cidadania, analisando a posição de cada uma delas na história e na contemporaneidade; 3. Explicar quais são as responsabilidades dos Responsáveis pela Aplicação da Lei em um regime democrático; DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 3 4. Conceituar “Direito Internacional” e os instrumentos através dos quais se materializa; 5. Identificar a legislação pátria que aborda diretamente a proteção aos Direitos Humanos. DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 4 Conteúdo Cidadania e dispositivos constitucionais Para iniciar essa aula, colocamos um questionamento: Como podemos definir cidadania? Agora compare-o com o Artigo 1º, incisos II e III, da Constituição Federal: “Artigo 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana”. Você diria que há relação direta entre a cidadania e a dignidade da pessoa humana? 3º da Magna Carta Nacional Para responder à pergunta da tela anterior, precisamos rever os incisos I, III e IV, do Artigo 3º da Magna Carta nacional: “Artigo 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 5 Definição de cidadania A definição mais comum em relação à cidadania é a ideia de que ela dá ao sujeito direitos. Se em um primeiro momento esses direitos destinavam-se a participação política, a partir do século XVIII temos a ideia de que é necessário aliá-lo à liberdade e à igualdade. Essas discussões vão ao encontro do que está escrito em nossa Constituição. Todos terão acesso isonômico aos serviços ofertados pelo Estado. A paz somente pode ser alcançada se houver justiça social, ou seja, não se pode ter tratamentos distintos em relação às pessoas. Também começamos a definir cidadão como um sujeito de direitos mas também de deveres. Ou seja, aquele que está capacitado a participar da vida da cidade, a agir politicamente, transformando a cidade e se transformando a partir dela. O exercício de alguns direitos não faz com que outros possam ser automaticamente usufruídos. Exercer o direito de votar não garante que o governo vá atender a problemas básicos da sociedade. Significa dizer que a cidadania possui várias dimensões e que algumas podem existir sem as outras. Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, pode parecer inatingível mas deve servir de parâmetro para julgar a qualidade de cidadania em cada país. Dimensões da cidadania É comum desdobrarmos a cidadania em direitos civis, políticos e sociais. O cidadão pleno seria aquele que exercesse plenamente os três direitos. O não cidadão não exerceria qualquer um e o cidadão incompleto exerceria um, mas não o outro. Vamos entender melhor esses conceitos? DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 6 Direitos Civis são os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdadeperante a lei. Eles se desdobram na garantia do ir e vir, da liberdade de pensamento e manifestação, de reunir-se com outras pessoas, de ter sua casa respeitada, de não ser preso em desacordo com as leis. São eles que garantem relações pacíficas no interior das sociedades urbanizadas e industriais, ou pós-industriais, entre as pessoas. Seu fundamento, pois, é a liberdade individual. Os Direitos Políticos dizem respeito à participação do cidadão no governo de seu país. Está-se falando aqui do direito a votar e ser votado, de conferir legitimidade à organização política da sociedade. Os Direitos Sociais baseiam-se na justiça social, na redução das desigualdades produzidas pela vida em sociedade. Através do acesso igualitário aos serviços públicos e a uma justa distribuição de renda procura-se garantir o mínimo de bem-estar para todos. Desenvolvimento dos direitos Há uma ordem lógica, segundo T. A. Marshall, para o desenvolvimento desses direitos. Primeiro surgiriam os direitos civis. As pessoas poderiam discutir suas ideias e organizar-se. Daí, o próximo passo seria exercer os direitos políticos, participando da vida política do seu país, onde se lutará por uma sociedade mais justa, atrás dos direitos sociais. Esse surgimento sequencial sugere que a própria ideia de cidadania é um fenômeno histórico. Sua construção tem a ver com a relação das pessoas com o Estado. As pessoas se tornam cidadãs à medida que passam a se sentir parte de um Estado. Da cidadania, como a conhecemos, fazem parte a lealdade a um Estado e a identificação como nação. DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 7 Identidade nacional É comum que a identidade nacional se deva a fatores como religião, língua e, sobretudo, lutas e guerras contra inimigos comuns. A lealdade ao Estado depende do grau de participação na vida política. A maneira como se formaram os Estados condiciona a construção da cidadania. No Brasil, nos períodos ditatoriais, houve grande ênfase no avanço dos direitos sociais enquanto direitos civis e políticos eram restringidos, alterando a sequência em que os direitos foram adquiridos. Tal fato acaba por gerar um cidadão que se difere dos cidadãos de outras nações. Observe que não se trata aqui de dizer que o cidadão brasileiro é pior ou melhor do que o cidadão de qualquer outro país. Trata-se sim de dizer que nossa história produziu um cidadão que não é igual ao de outros países. Três classes de cidadão A Constituição de 1988 ampliou mais do que suas antecessoras os direitos civis, políticos e sociais. Entretanto, ainda se observa a falta de garantias dos direitos civis referentes à segurança individual, à integridade física e ao acesso à justiça. É possível verificar a existência de três classes de cidadão no nosso país para qual faltam garantias para a fruição de vários outros direitos. Os de primeira classe são os que estão acima da lei, defendendo seus interesses pelo poder do dinheiro e do prestígio social. Os de segunda classe são os que estão sujeitos aos rigores e benefícios da lei. Essas pessoas nem sempre têm noção exata dos seus direitos, e quando a têm, carecem dos meios necessários para fazê-los valer, como o acesso aos órgãos e autoridades competentes, e os recursos para custear demandas judiciais. Finalmente, há os cidadãos de terceira classe. Na prática, têm seus direitos civis ignorados ou sistematicamente desrespeitados por outros cidadãos, pelo DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 8 governo, pela polícia. Não se sentem protegidos pela sociedade e pelas leis. Receiam o contato com agentes da lei, pois a experiência lhes ensinou que ele quase sempre resulta em prejuízo próprio. Para esses, vale apenas o Código Penal. Aplicação da lei em um regime democrático Diante do que vimos até agora, qual o papel do Responsável pela Aplicação da Lei em um regime democrático? Internacionalmente, pautando-se pela experiência dos Estados Democráticos de Direito, entende-se que uma força policial, perante a comunidade, deve ser responsável legal, política e economicamente. Por responsabilidade legal entende-se que a agência de segurança pública deverá atuar dentro dos parâmetros legais. Isto é, os operadores de segurança pública deverão seguir o que está preconizado no ordenamento jurídico nacional, não podendo violar leis alegando estar cumprindo ordens de seus superiores. Fundamentação da responsabilidade política A responsabilidade política, como vimos, refere-se ao fato da organização de segurança pública estar utilizando-se de estratégias e técnicas que sejam legitimadas pela população. Um bom exemplo para ser discutido é o da busca pessoal. O Código de Processo Penal, em seu Artigo 244, afirma que “A busca pessoal independerá de mandado, no caso de prisão ou quando houver fundada suspeita de que a pessoa esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papéis que constituam corpo de delito, ou quando a medida for determinada no curso de busca domiciliar”. Mas afinal, o que é a fundada suspeita? DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 9 Tradicionalmente, as agências de segurança pública definem-na como resultante da observação por parte do RAL (Responsável pela Aplicação da Lei) de certas circunstâncias que, contextualizadas, enquadrariam uma ou mais pessoas nesse conceito. Assim, pessoas que aparentam comportamento errático, nervoso, usando trajes incompatíveis com o local, o horário e o clima, sem aparente motivação para estar naquele local, podem ser apontadas como estando sob a égide da “fundada suspeita”. Entretanto, juristas brasileiros começam a discutir o tema, pautando-se pela ideia de que a “fundada suspeita” é a “quase certeza” de que o cidadão porta um objeto usado para a prática de crime ou resultante do ato ilegal. O agente da lei deveria ter visto o indivíduo esconder o instrumento ou ser informado por uma pessoa ou mesmo pela Central de Operações de sua instituição sobre o fato. Aplicação das leis A aplicação da lei é um componente quase sempre visível da prática dos Estados, sendo as ações de seus Responsáveis raramente vistas ou avaliadas como individuais, e, na verdade, muitas vezes vistas como um indicador do comportamento da organização como um todo. É exatamente por isso que certas ações individuais de aplicação da lei (como o uso excessivo de força, corrupção, tortura) podem ter um efeito tão devastador na imagem de toda a organização. Os Responsáveis pela Aplicação da Lei devem tomar consciência de sua capacidade individual e coletiva de influenciar a percepção pública e a experiência individual dos direitos e liberdades humanos. Também devem estar conscientes de como suas ações interferem na organização de aplicação da lei como um todo. A responsabilidade individual e a responsabilidade por seus próprios atos devem ser reconhecidas como fatores cruciais no estabelecimento de práticas corretas de aplicação da lei. DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 10 Formação e treinamento Os programas de formação e treinamento dos responsáveis pelas leis devem levar os fatores vistos anteriormente em consideração em sua abordagem. Os encarregados pela supervisão e revisão e os responsáveis pelo comando devem levar esses fatores em consideração ao desenvolverem sistemas voltados à revisão, supervisão e acompanhamento profissional. A formação e o treinamento dos encarregados da aplicação da lei é uma responsabilidade primordial em nível nacional. No entanto, não pode ser excluída a possibilidade de cooperaçãoe assistência internacional nessa área, nem se deve desviar do papel importante que as organizações internacionais no campo de direitos humanos e/ou direito internacional humanitário podem desempenhar ao prestar serviços e assistência aos Estados. Essa assistência nunca poderá ser um fim em si mesmo. A finalidade do auxílio deve ser a de facilitar os Estados a alcançarem os objetivos claramente definidos, e este deve ficar restrito às situações em que o serviço e a assistência necessários não são encontrados no Estado que pede auxílio. Segurança pública Podemos dizer que Segurança Pública é, essencialmente, uma questão política, no sentido nobre da palavra, que remete ao que é comum, que diz respeito ao interesse da coletividade e ao bem público. Não se nega isso. Como tal, pode e deve ser debatida por todos os cidadãos, independentemente de sua formação ou conhecimento. Não é uma questão exclusiva dos políticos ou dos agentes de segurança pública. É verdade que o clamor público muitas vezes vai de encontro às pesquisas e tendências sobre segurança. Um exemplo: quando a população clama por mais policiais na rua, acreditando que quanto maior for o efetivo nas ruas, menor a possibilidade do cidadão ser vítima de um crime ou de um ato de violência. Diversos estudos já mostraram que essa premissa não é verdadeira, mas pesquisas também DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 11 demonstram que a ausência completa de patrulhamento é um convite para a atuação criminosa. Importante ressaltar que um país que pretende ser reconhecido no cenário internacional como democrático responsabiliza-se através de tratados e convenções a adotar posturas compatíveis com essa posição política. Compromete-se a adequar sua legislação a esses ideais. Os órgãos de segurança pública são responsáveis diretos por cumprir, fazer cumprir e promover as leis nacionais, não podendo desrespeitá-las sob pena de responsabilização civil, administrativa e penal. Para boa parte da população, o único contato com seu Governo é através do agente de segurança pública que patrulha a sua comunidade, que o atende no pedido de uma informação. O desempenho desse operador é o indicador mais sensível de como andam as instituições democráticas no seu país. Portanto, um desempenho inadequado por parte desse funcionário, faz crer no declínio das leis, na falência do respeito, gerando indiferença em relação ao país no qual se vive. Direito Internacional e seus instrumentos As Organizações de Segurança Pública devem adotar como filosofia, a nortear as estratégias organizacionais, uma deontologia adequada ao espírito da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Observamos que a Constituição Federal brasileira, em seu Artigo 4º, inciso II, fixou os direitos humanos como um dos princípios regentes das relações internacionais do Brasil. Reconhece-se o status constitucional dos direitos e garantias contidos nos tratados internacionais ratificados pelo Brasil, que não tenham sido incluídos no Artigo 5º da Constituição. Os Direitos Humanos tornam-se um dos aspectos do Direito Internacional, um objeto legítimo deste. O respeito aos Direitos Humanos pode ser controlado pela comunidade internacional. Assim, faz-se necessário entender o que é DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 12 Direito Internacional para melhor compreender o Direito Internacional dos Direitos Humanos. Direito Internacional - conceituação Precisamos, antes, de uma breve explicação sobre o que é o Direito Internacional e como ele é importante no cenário global. Podemos defini-lo como o conjunto de normas que governam a relação entre os Estados. Também compreendem normas relacionadas ao funcionamento de instituições ou organizações internacionais a relação entre elas e a relação delas com Estado e o indivíduo. O Direito Internacional, entre outros atributos, estabelece normas relativas aos direitos territoriais dos Estados (com respeito aos territórios terrestre, marítimo e espacial), a proteção internacional do meio ambiente, o comércio internacional e as relações comerciais, o uso da força pelos Estados, os direitos humanos e o Direito Internacional humanitário. Convenções internacionais e costume internacional No momento em que se deve julgar uma disputa entre Estados, diante das controvérsias, a Corte Internacional de Justiça utiliza-se das fontes do Direito Internacional. Para o nosso estudo interessará discutirmos as convenções internacionais (gerais ou específicas) e o costume internacional. Os instrumentos mais comuns para expressar a concordância dos Estados- Membros sobre temas de interesse internacional são acordos, convenções, protocolos, resoluções, estatutos e tratados. O termo acordo é usado, geralmente, para caracterizar negociações bilaterais de natureza política, econômica, comercial, cultural, científica e técnica. Acordos podem ser firmados entre países ou entre um país e uma organização internacional. Um exemplo de acordo do qual o Brasil é signatário é o Acordo de Extradição entre os Estados-Partes do Mercosul, promulgado pelo Decreto nº 4.975, de 30 de janeiro de 2004. DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 13 Já a palavra convenção costuma ser empregada para designar atos multilaterais, oriundos de conferências internacionais e que abordem assunto de interesse geral. O Brasil promulgou, dentre outras, a Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do Terrorismo através do Decreto nº 5.640, de 26 de dezembro de 2005. Protocolo designa acordos menos formais que os tratados. O termo é utilizado, ainda, para designar a ata final de uma conferência internacional. O exemplo mais famoso de protocolo é o de Kyoto, que tem como objetivo firmar acordos e discussões internacionais para que os países, conjuntamente, possam estabelecer metas de redução na emissão de gases-estufa na atmosfera. Resoluções são deliberações, seja no âmbito nacional ou internacional. Citamos novamente a Resolução nº 34/169 da ONU que estabelece o Código de Conduta para os Funcionários Responsáveis pela aplicação da Lei. Estatuto é um tipo de lei que expressa os princípios que regem a organização de um Estado, sociedade ou associação. O Brasil promulgou o Estatuto de Roma sobre o Tribunal Penal Internacional através do Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002. Tratados são atos bilaterais ou multilaterais aos quais se deseja atribuir especial relevância política. Outra definição seria “acordo internacional firmado entre estados na forma escrita e governado pelo direito internacional, contido em um instrumento único ou em dois ou mais instrumentos relacionados e qualquer que seja sua designação específica”. Exemplo de Tratado do qual o Brasil é signatário é o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, promulgado através do Decreto nº 591, de 6 de julho de 1992. DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 14 Atenção Todo Estado é capaz de firmar tratados. Para que seja considerado Estado pela ONU são necessários alguns requisitos. Além de possuir população permanente, território definido e governo, o país deve possuir capacidade de estabelecer relações com outros Estados. A ONU examina também se a independência foi alcançada de acordo com o princípio da autodeterminação e se o país não está seguindo políticas racistas. Direitos Humanos na legislação brasileira Interessante observar que o Brasil, através da Emenda Constitucional nº 45, alterou o Artigo 5º da Constituição Nacional, acrescentando ao inciso LXXVIIIos parágrafos 3º e 4º com a seguinte redação: “§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão“. A referida emenda também alterou o Artigo 109 da Magna Carta, acrescentando o inciso V-A e o parágrafo 5º: “V-A: as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste Artigo; § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 15 fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal“. Novos dispositivos constitucionais Os novos dispositivos constitucionais, prevendo um tratamento especial ao tema dos direitos humanos, constituem um fator que contribui para a internalização dos pactos internacionais. Neste novo domínio, não se discute se a norma internacional prevalece sobre a norma interna ou vice-versa. O que se aplica, agora (ou se deveria aplicar) é a norma mais favorável à pessoa, seja ela internacional ou interna. Essa interação entre o direito internacional público e o direito interno tem alguns aspectos significativos: Os tratados afirmam a autoridade dos tribunais internos, estabelecendo a necessidade de ampla defesa, contraditório etc.; A margem de controvérsias é reduzida à medida que os próprios tratados disponham sobre a função e o procedimento dos tribunais internos na aplicação das normas internacionais; Os tribunais internacionais de proteção aos direitos humanos não substituem os tribunais internos e nem funcionam com uma corte de cassação. Lei do esgotamento No direito internacional, prevalece sempre a lei do esgotamento. Essa regra diz que se deve encerrar as instâncias internas para se recorrer à jurisdição internacional, é vista sob uma nova perspectiva. Com isso, usamos essa regra conforme as obrigações assumidas nos tratados, se, efetivamente, houver um sistema interno de proteção aos direitos humanos. O Brasil tem participado intensamente dos foros internacionais e regionais que tratam da matéria, numa posição de defesa da democracia e dos direitos humanos. Na comissão de Direitos Humanos da ONU, o Brasil desempenha DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 16 papel de destaque, apresentando importantes iniciativas, como, por exemplo, a abolição gradual da pena de morte, além de contribuir para as diversas atividades normativas em curso. O Brasil aderiu aos Pactos Internacionais sobre direitos humanos, como por exemplo, Convenção sobre tortura e Convenção dos direitos da criança. Referências ÂNGELO, Ubiratan de Oliveira; BARBOSA, Sérgio Antunes. Distúrbios civis: controle e uso da força pela polícia. Rio de Janeiro: Freitas Bastos Editora, 2001. Coleção: Polícia do Amanhã. ARAÚJO, Luiz Alberto David. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. BRASIL. Diretrizes sobre Uso da Força e Armas de Fogo pelos Agentes de Segurança Pública (Portaria Interministerial nº 4.226 de 31 de dezembro de 2010). FORTES, Rafael (Org.). Segurança pública, direitos humanos e violência. Rio de Janeiro: Editora Luminária Academia, 2008. MUNTEAL, Oswaldo et al. Prisioneiros das drogas: segurança pública, saúde e direitos humanos no Brasil. Paraná: Editora CRV, 2011. OLIVEIRA, Flávio Cristiano Costa; DAMASCENO, Sérgio Luis Rego. Temas de direitos humanos & segurança pública. São Paulo: Editora Livronovo, 2012. TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. Exercícios de fixação Questão 1 Os constituintes positivaram no Artigo 144 da Constituição Federal que segurança pública é direito e responsabilidade de todos. Dentro do conceito de cidadania estudado, verificamos que o citado dispositivo legal. DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 17 a) Atribui direitos e deveres, tratando a todos os brasileiros como cidadãos no que diz respeito à segurança pública. b) Atribui apenas direitos, tratando a todos os brasileiros como cidadãos no que diz respeito à segurança pública. c) Atribui somente deveres para os brasileiros, tratando-os como cidadãos. d) Não atribui direitos ou deveres para os brasileiros, tratando-os como cidadãos. e) Não tem poder para atribuir ou não atribuir direitos ou deveres aos brasileiros. Questão 2 São os direitos fundamentais à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei. Eles se desdobram na garantia do ir e vir, da liberdade de pensamento e manifestação, de reunir-se com outras pessoas, de ter sua casa respeitada, de não ser preso em desacordo com as leis. São eles que garantem relações civilizadas entre as pessoas. Seu fundamento, pois, é a liberdade individual. Estamos falando de que tipo de direitos? a) Direitos civis b) Direitos políticos c) Direitos sociais d) Direitos econômicos e) Direitos culturais Questão 3 Internacionalmente, entende-se que uma força policial, perante a comunidade, deve ser responsável legal, política e economicamente. Por responsabilidade legal entende-se que: a) A organização de segurança pública deve utilizar-se de estratégias e técnicas que sejam legitimadas pela população. b) A agência de segurança pública deverá atuar dentro dos parâmetros legais. DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 18 c) O órgão de aplicação da lei deverá também prestar conta dos seus gastos, informando a população em que e como está aplicando seus recursos. d) A instituição de segurança pública deve informar constantemente a imprensa sobre os crimes ocorridos. e) Os agentes da lei devem participar das reuniões comunitárias. Questão 4 Instrumentos globais podem ser entendidos como um conjunto de orientações gerais sobre determinado assunto, podendo ou não ser seguida pelo Estado- Membro da ONU. Marque, dentre as opções abaixo, um exemplo de Instrumento Global. a) Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos b) Acordo de Extradição entre os Estados-Partes do Mercosul c) Convenção Internacional para Supressão do Financiamento do Terrorismo d) Declaração Universal dos Direitos Humanos e) Estatuto de Roma sobre o Tribunal Penal Internacional Questão 5 Através da Emenda Constitucional nº 45, alterou-se o Artigo 5º da Constituição Nacional, acrescentando-se ao inciso LXXVIII o parágrafo 3º. Este determina que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, ingressarão no ordenamento jurídico nacional como: a) Norma supralegal b) Norma infraconstitucional c) Emenda Constitucional d) Lei Ordinária e) Lei Complementar DIREITOS HUMANOS NA SEGURANÇA PÚBLICA 19 Aula 2 Exercícios de fixação Questão 1 - A Justificativa: O caput do Artigo 144 é um excelente exemplo do papel do cidadão em uma sociedade, vez que é um detentor de direitos e deveres. Questão 2 - A Justificativa: Osdireitos civis relacionam-se com os direitos individuais, como citado no enunciado da questão. Questão 3 - B Justificativa: A responsabilidade legal relaciona-se diretamente com a observância do ordenamento jurídico. Questão 4 - D Justificativa: A Declaração Universal dos Direitos Humanos não é um tratado formal, servindo tão somente como um documento orientador, enquadrando-se na categoria internacional “instrumento global”. Questão 5 - C Justificativa: Por determinação expressa no referido inciso, os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, ingressarão no ordenamento jurídico nacional como emendas constitucionais.