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BrunaMM Monografia MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS 
 DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
 
 
 
 
BRUNNA MESIKA MALHEIRO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL JUNTO A 
ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 
DE SEMILIBERDADE E DE INTERNAÇÃO 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
2017 
 
 
 
 
BRUNNA MESIKA MALHEIRO 
 
 
 
 
A ATUAÇÃO DOS PROFISSIONAIS EM SERVIÇO SOCIAL JUNTO A 
ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 
DE SEMILIBERDADE E DE INTERNAÇÃO 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao 
Departamento de Serviço Social no Curso de 
Serviço Social da Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte como requisito obrigatório à 
obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. 
 
Orientadora: Profª. Drª. Rosângela Alves de Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL/RN 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Catalogação da Publicação na Fonte. 
 UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA 
 
 
Malheiro, Brunna Mesika. 
 A atuação dos profissionais em serviço social junto a adolescentes em 
cumprimento das medidas socioeducativas de semiliberdade e de internação/ 
Brunna Mesika Malheiro. - Natal, RN, 2017. 
78 f. 
Orientadora: Profa. Dra. Rosângela Alves de Oliveira. 
Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio 
Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de 
Serviço Social. 
1. Serviço Social - Monografia. 2. Medidas socioeducativas - Semiliberdade - 
Monografia. 3. Internação - Monografia. 4. Garantia de Direitos - Criança e 
Adolescente - Monografia. I. Oliveira, Rosângela Alves de. II. Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. 
RN/BS/CCSA CDU 364-787.2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico a todos aqueles que ainda acreditam na possibilidade de vivermos dias 
melhores. 
Dedico também a todas as pessoas que acreditaram na minha capacidade, em 
especial, aos meus pais, meus irmãos, minha família, meu namorado e meus 
amigos, que foram meu verdadeiro alicerce perante as dificuldades que enfrentei 
nesse percurso. 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
A finalização desse trabalho é para mim, motivo de imensa satisfação, tendo em 
vista que sela o término de uma longa e árdua caminhada, embora estimulante e 
prazerosa, ao longo desses anos percorridos. 
Agradeço primeiramente a Deus, por possibilitar o meu existir e, principalmente 
por ter me dado sabedoria para assumir o compromisso de trilhar mais esta etapa em 
minha vida, me dando força para superar as dificuldades que foram existindo e me 
possibilitando cada dia, novos aprendizados. 
De maneira especial agradeço, aos meus pais (Marta Nanci e Messias Severino), 
que sempre me incentivaram a ir atrás dos meus objetivos e, por serem os principais 
responsáveis por quem me tornei. Aos meus avôs (Maria Madalena, Francisco das 
Chagas, Sebastiana Nogueira e Mário Serafim), por terem me ensinado muito dos 
valores que trago junto a mim e por sempre me dedicarem amor incondicional. Ao meu 
irmão (Bruno Francisco) por sempre ter me motivado ao olhar atento sobre todas as 
coisas, e por nunca ter desistido de acreditar em meu potencial. A minha irmã (Brenda 
Mecyta) por sempre me trazer um pouquinho mais de alegria nos momentos 
complicados, e por sempre me manter com os pés no chão. A minha família e amigos 
pelo carinho com que me tratam. 
Agradeço também ao meu namorado (Alysson Marques), pelo amor que ele me 
dedica, pelo companheirismo que compartilhamos, por toda a sua atenção e paciência, 
devotadas a mim durante todos os momentos; agradeço também por todo o apoio moral 
que ele me ofertou, e que muito me ajudou para o desenvolvimento deste e de todos os 
outros trabalhos. 
A todos vocês que fazem parte da minha vida, meu muito obrigado. 
Agradeço também a todos aqueles que estiveram direta ou indiretamente ligados 
ao meu desenvolvimento pessoal, profissional e espiritual, em especial a Januza 
Simplício, Glaubene Pereira e demais profissionais da Maternidade do Divino Amor, 
que sabiamente partilharam comigo momentos essenciais para a minha caminhada 
futura enquanto profissional, e também enquanto pessoa. Aos meus colegas de sala que 
partilharam comigo bons e maus momentos enquanto turma, por terem dividido as suas 
próprias dúvidas, as alegrias e as angústias, por saberem os momentos certos de ouvir, 
de calar, de apoiar, de criticar e principalmente mostrarem que estamos todxs em um 
único barco, enfrentando o mesmo processo, ainda que em caminhos diferentes; 
 
 
 
 
agradeço também por com isso, terem amenizado as longas horas que ficamos dentro do 
ambiente universitário, que por vezes se tornou desmotivante e pesaroso. 
Agradeço a Thaisa Ribeiro pelo carinho que sempre me demonstra, pelos 
momentos de conversa e atenção que foram imprescindíveis durante todo o tempo, e 
principalmente por ter sido a grande motivadora pela escolha desse tema; uma vez que 
ela me possibilitou a aproximação com o mesmo. 
A Instituição de Ensino (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), seu 
corpo docente e demais profissionais, que oportunizaram esta conquista. A minha 
orientadora (Rosângela Alves), por todo suporte no pouco tempo que lhe coube, por 
toda a atenção, paciência, e confiança em mim; o que foi fundamental para a conclusão 
desse trabalho. 
Por fim, embora não menos importante, agradeço aos membros da Banca 
Examinadora (Rosângela Alves, Anna Luiza Liberato e Antoinette Madureira), que se 
prontificaram a fazer parte da finalização desse processo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“[...] Um país se faz pela educação 
Quem planta arma colhe corpo no chão[...] 
Quero diploma, jovens dignos sem algemas 
no pulso 
O moleque fumando pedra na madrugada 
Pode ser o juiz e a menina futura advogada 
Ou a professora da escola 
Que tenta dignificar nossa história 
Ô pátria amada idolatrada 
Incentivo, não à escola desqualificada 
Não quero ter que usar o meu talento 
Pra cravar meu ódio no peito de outro 
detento 
Não quero ver futuro jogador de bola 
No caixão com coroa de flor em memória[...] 
Respeite e terá um cidadão 
Desrespeite e o boy sente meu ódio sem 
compaixão 
Quem leva tiro dá tiro sem dó[...] 
Sem dor, sem pena não faz diferença 
Quem planta esquecimento colhe violência[...].” 
 
(Grupo Facção Central, Álbum Versos 
Sangrentos, Vidas em branco) 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
O presente trabalho tem como objetivo geral analisar se a ação do assistente social na 
execução das Medidas Socioeducativas de Semiliberdade e de Internamento contribui 
na defesa da garantia de direitos dos sujeitos a que se destinam. Buscando contribuir 
também com a discussão acerca do trabalho profissional da categoria nesse âmbito. 
Considerando as configurações atuais da sociedade e as prerrogativas do ECA e do 
SINASE, o assistente social encontra-se inserido em diversos campos de atuação, sendo 
a execução de medidas socioeducativas um de seus novos espaços interventivos. Nesse 
texto, o objeto analisado será a intervençãodos profissionais de Serviço Social no 
estado do RN que atuam diretamente com adolescentes em cumprimento das medidas 
em questão. Dessa forma, o texto vai abordar e discutir algumas informações sobre esta 
realidade. A busca em compreender como se efetiva o fazer profissional do assistente 
social na socioeducação, desvinculando-se da visão meramente simplista e fatalista do 
senso comum, atentando-se para a atuação profissional direcionada para defesa da 
garantia de direitos, levou a escolha do tema. Evidenciar que a profissão vem 
contribuindo na viabilização de direitos dos sujeitos atendidos pelas medidas sinaliza-se 
a relevância desse estudo. Assim conclui-se, dentre outras considerações, que a 
humanização no atendimento a adolescentes pode colaborar para a diminuição de 
reincidência dos mesmos à medida, além de contribuir para que eles compreendam que 
os referenciais institucionais podem garantir a cidadania e o seu desenvolvimento pleno. 
Os procedimentos metodológicos utilizados nesse trabalho convergem de revisões 
literárias e documentais acerca da temática abordada. 
 
Palavras chaves: Serviço Social. Medidas Socioeducativas de Semiliberdade e de 
Internamento. Rio Grande do Norte (RN). Garantia de Direitos. Criança e Adolescente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
 
 
The present work has as general objective to analyze if the action of the social worker in 
the execution of the Socio-educational Measures of Semiliberty and Internment 
contributes in the defense of the guarantee of the rights of the subjects to which they are 
destined. Seeking to contribute also to the discussion about the professional work of the 
category in this scope. Considering the present configurations of the society and the 
prerogatives of ECA and SINASE, the social worker is inserted in several fields of 
action, being the execution of socio-educational measures one of its new intervening 
spaces. In this text, the object analyzed will be the intervention of Social Service 
professionals in the state of the Rio Grande do Norte who work directly with 
adolescents in compliance with the measures in question. In this way, the text will 
address and discuss some information about this reality. The search for an 
understanding of how the professional work of the social worker in the socioeducation 
is effective, dissociating himself from the merely simplistic and fatalistic view of 
common sense, taking into account the professional action directed to the defense of the 
guarantee of rights, led to the choice of the theme. Evidence that the profession has 
contributed to the viability of the rights of the subjects served by the measures indicates 
the relevance of this study. Thus, it is concluded, among other considerations, that 
humanization in the care of adolescents can contribute to reduce recurrence of same to 
the measure, and contribute to their understanding that institutional references can 
guarantee citizenship and its full development. The methodological procedures used in 
this work converge from literary and documentary reviews on the subject. 
 
Keywords: Social Work. Socio-educational Measures of Semiliberty and Internment. 
Rio Grande do Norte (RN). Guarantee of Rights. Child and teenager. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
TABELA 1 - Unidades Socioeducativas de atendimento as Medidas de Semiliberdade e de 
Internação no estado do RN. (Pag. 41) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS 
 
 
CEDUC – Centro Educacional 
CIAD -Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente - acusado de Ato Infracional 
CNAS – Conselho Nacional de Assistência Social 
CPPE - Coordenadoria de Programas de Proteção Especial 
CRESS – Conselho Regional do Serviço Social 
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente 
FUNABEM – Fundação Nacional do Bem Estar do Menor 
FUNDAC - Fundação Estadual da Criança e do Adolescente 
IEE – Internação em Estabelecimento Educacional 
IRS - Inserção em Regime de Semiliberdade 
PEP – Projeto Ético Político 
PIA – Plano Individual de Atendimento 
PNAS – Política Nacional de Assistência Social 
RN – Rio Grande do Norte 
SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo 
SSO - Serviço Social 
SUAS – Sistema Único de Assistência Social 
UI – Unidade de Internação 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 14 
 
2. AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE SEMILIBERDADE E DE 
INTERNAÇÃO NO CONTEXTO DA GARANTIA DE DIREITOS...........22 
2.1. A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE NO 
CONTEXTO DA DEFESA DE DIREITOS.......................................................29 
2.2. A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO NO CONTEXTO 
DA DEFESA DE DIREITOS EM DIÁLOGO COM A GARANTIA DE 
DIREITOS...........................................................................................................35 
 
3. O SERVIÇO SOCIAL NA DEFESA DA GARANTIA DE DIREITOS DOS 
SUJEITOS ATENDIDOS PELAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE 
SEMILIBERDADE E DE INTERNAÇÃO.....................................................45 
3.1. A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO AS MEDIDAS 
SOCIOEDUCATIVAS DE SEMILIBERDADE E DE INTERNAÇÃO............52 
3.2. A PRESENÇA DOS ASSISTENTES SOCIAIS NO CAMPO DE 
ATUAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE SEMILIBERDADE E 
DE INTERNAÇÃO NO ESTADO DO RN........................................................64 
3.3. A CONTRIBUIÇÃO DA PROFISSÃO PARA OS ADOLESCENTES 
EM CUMPRIMENTO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE 
SEMILIBERDADE E DE INTERNAÇÃO........................................................65 
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 68 
 
5. REFERÊNCIAS ................................................................................................ 72 
 
6. ANEXOS.............................................................................................................75 
 
 
 
 
 
14 
 
 
 
1.INTRODUÇÃO 
 
Antes de entrarmos efetivamente na discussão das medidas socioeducativas, é 
importante esclarecer que a reflexão aqui tomada acerca do adolescente autor de um ato 
infracional é enfatizada sob a perspectiva de garantia de direitos. Assim, temos que as 
medidas socioeducativas, concernente com as elucidações presentes no ECA e no 
SINASE, são ações de caráter fundamentalmente pedagógico, que visam compreender a 
resposta punitiva1 do Estado aos atos infracionais praticados por crianças e 
adolescentes, objetivando a promoção de sua reinserção na família e na comunidade, 
efetivando assim a inclusão social e, superando a condição de responsabilização do 
sujeito2. 
Nesta perspectiva, ainda que os adolescentes se encontrem sujeitos a todas as 
consequências dos seus atos infracionais, não são passíveis de “responsabilização 
penal”. Cabendo-lhes, nesses casos, as medidas socioeducativas, cujo objetivo é menos 
a punição e mais a tentativa de reinserção social, de fortalecimento dos vínculos 
familiares e comunitários. 
Nesse âmbito pode-se dizer que o ECA é a Lei que concretizou a luta histórica 
pelo reconhecimento da criança e do adolescente como cidadãos, e, portanto, pessoas 
que por se encontrarem em condição particular de desenvolvimento3, necessitam de uma 
proteção integralizada e universal. Segundo Edson Seda(2000, p. 127): “o ECA se 
fundamenta em três princípios, sendo o da cidadania, o do bem comum e o da condição 
peculiar de desenvolvimento”. Além disso, o ECA surgiu objetivando mudanças na 
Política Nacional do Bem-Estar do “Menor” no Brasil; estabelecendo como diretrizes: a 
articulação das políticas básicas e das assistências e a execução de programas e serviços 
de proteção especial. 
 
1 Crítica ao entendimento do Estado sobre o tratamento referenciado a adolescentes que se encontram em 
cumprimento de medidas socioeducativas. A esse respeito, ressalta-se que o ato infracional cometido pelo 
adolescente, entre 12 e 18 anos, é entendido como sendo a transgressão das normas estabelecidas, do 
dever jurídico, que em face das particularidades que os cercam, não pode se caracterizar enquanto crime. 
2 Apesar de o objetivo continuar sendo o de responsabilização do sujeito, o foco dessa responsabilização 
se pauta na dimensão educativa e não mais na sancionatória. 
3 Mesmo considerando o adolescente como pessoa na condição peculiar de desenvolvimento (Brasil, 
1990), ao adotar medidas socioeducativas enquanto sanções – fruto da transgressão do dever jurídico –, o 
ECA acaba por fugir às armadilhas das concepções retribucionista e paternalista. No retribucionismo 
encontra-se a defesa do aumento da repressão na proporção da gravidade das infrações praticadas, na 
expectativa da prevenção do cometimento delas; o paternalismo, por seu turno, tende a isentar de culpa os 
adolescentes que as cometerem, naturalizando a prática do ato infracional. 
15 
 
 
 
Já o SINASE (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo), nas palavras 
de Oliveira & Sodré (2008, p.31) é composto por uma política pública destinada à 
inserção do adolescente que encontra-se em situação de conflito com a lei. Ainda sobre 
isso as autoras dizem que é no SINASE onde se processam as iniciativas dos distintos 
campos das políticas públicas e sociais; requerendo ações firmadas com a necessária 
restrição de direitos apurada por lei e aplicada por sentença e satisfação de direitos. 
Segundo Veronese & Lima (2009), em consonância com o que versa nos termos 
da Conanda (2006, p.23), o SINASE, portanto, é um instrumento composto por um “[...] 
conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, 
pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de 
ato infracional até a execução de medida socioeducativa”. Devendo ser compreendido 
como uma política social de inclusão do adolescente autor de ato infracional4. 
De forma que, mediante a infração cometida por um adolescente, a aplicação da 
medida socioeducativa é, acima de tudo, uma resposta formal do Estado a um ato 
infracional pelo qual o adolescente, após ser submetido ao devido processo legal, foi 
considerado não somente como “vítima” das causas sociais ou familiares, mas também 
como responsável por suas ações. 
O reconhecimento de que a obediência a regras mínimas é essencial para o 
convívio social requer a responsabilização do adolescente, quando ele desenvolve 
condutas transgressoras desses padrões. Considerá-los pessoas em desenvolvimento 
expressa tão somente a tutela especial a que têm direito, por lei, assim como a 
identidade peculiar desses sujeitos, não implicando a supressão da sua sujeição ao 
ordenamento jurídico. 
Muito embora não se questione a necessidade da obediência a um certo 
ordenamento jurídico, também não se perde de vista que tais regras são definidas por e a 
partir de um grupo social específico, aqui denominado dominante (burguesia), o qual 
constrói toda um emaranhado de relações sociais e uma subjetividade -ideológica- que, 
ao mesmo tempo em que é expressão dessa teia de relações, é também sua fonte de 
retroalimentação. Logo, há um padrão de referência de relação social, que serve para 
delimitar as fronteiras do que se considera transgressão das regras sociais. 
 
4Ato infracional são comportamentos considerados, na visão social, impróprios e desrespeitos em relação 
aos contratos sociais estabelecidos e aos direitos de todas as pessoas da sociedade. 
 
16 
 
 
 
Consequentemente, segue-se um padrão de referência quando se pensa em 
ressocialização, ou seja, o padrão que se faz imponente é o padrão determinado pelo 
grupo social dominante, o padrão daquele grupo social específico. 
Consoante Volpi (2006), as medidas socioeducativas podem vir a ser 
qualificadas e aplicadas da seguinte maneira: 
a) As medidas sócio-educativas são aplicadas e operadas de acordo com as 
características da infração, por circunstâncias sócio-familiar e disponibilidade de 
programas e serviços em nível municipal, regional e estadual; 
b) As medidas sócio-educativas comportam uma espécie de natureza coercitiva, 
uma vez que são punitivas aos infratores, e aspectos educativos no sentido da proteção 
integral e oportunização, e do acesso à formação e informação [...].5 
c) Os regimes sócio-educativos devem constituir-se em condição que garanta o 
acesso do adolescente à oportunidade de superação de sua condição de exclusão, bem 
como de acesso a formação dos valores positivos de participação na vida social; 
d) A operacionalização deve prever, obrigatoriamente, o envolvimento familiar e 
comunitário, mesmo no caso de privação de liberdade... 
e) Os programas sócio-educativos deverão utilizar-se do princípio da 
incompletude institucional, caracterizado pela utilização do máximo possível de serviço 
(saúde, educação, defesa jurídica, trabalho, profissionalização etc.) na comunidade, 
responsabilizando as políticas setoriais no atendimento aos adolescentes; 
f) Os programas sócio-educativos deverão, obrigatoriamente, prever a formação 
permanente dos trabalhadores, tanto funcionários quanto voluntários6; 
g) A denominação das unidades de aplicações da medida, dos adolescentes 
envolvidos e das demais formas de identificação das atividades a eles relacionadas deve 
respeitar o princípio da não–discriminação e não-estigmatização, evitando-se os rótulos 
que marcam os adolescentes e os expõem a situações vexatórias, impedindo-os de 
superar suas dificuldades na inclusão social. (VOLPI, 2006, p. 20-22). 
 
5 Observa-se aqui que a dimensão/natureza coercitiva/punitiva ainda aparece em primeiro lugar. 
6 Aqui está um grande desafio para o trabalho em rede; assim como também é desafio pensar no que é 
possibilitado ao adolescente que infringiu a lei, para que o mesmo consiga superar sua condição de 
exclusão. 
17 
 
 
 
Ainda de acordo com Volpi (2008) as medidas socioeducativas devem se 
constituir de forma que venham a garantir o acesso dos adolescentes infratores às 
oportunidades de superação de sua condição de exclusão, bem como de acesso à 
formação de valores positivos na vida social. 
Para os jovens com idades entre 12 e 18 anos (até 21 anos em casos 
excepcionais7), o ECA prevendo a alternativa de aplicação das medidas socioeducativas, 
visa a educação e ressocialização do jovem que por algum motivo veio a infringir a lei. 
Dessa maneira, a atitude punitiva é deixada de lado, uma vez que é levado em 
consideração o princípio de que o adolescente encontra-se ainda em período de 
formação, sujeita às intempéries sociais do ambiente onde esse adolescente se insere. 
Dentre as medidas socioeducativas que podem ser aplicadas aos adolescentes – citadas 
posteriormente - em situação de desacordo com a lei, estão presentes as medidas de 
semiliberdade e de internação. 
É importante destacar que é de competência do juiz da Infânciae da Juventude 
analisar cuidadosamente qual a capacidade do adolescente de cumprir a medida, 
traçando seu perfil psicológico, entendendo seu contexto social e também a gravidade 
do delito para proferir a sentença8. Cabendo ainda a cada Estado gerir e organizar os 
órgãos e instituições responsáveis pela aplicação efetiva das medidas. 
Assim, as medidas socioeducativas são, portanto, a forma instituída na legislação 
brasileira de responsabilizar o adolescente pelos atos infracionais por ele praticados, 
mas concomitantemente, oferecer condições para a reinserção social. O que indica - 
mesmo depois de 27 anos da promulgação do ECA - a persistência de um modelo de 
atendimento que, ao mesmo tempo em que remete ás ações desenvolvidas no Contexto 
dos Códigos de Menores, expressa a atualidade dos desafios a serem transpostos com 
vistas à efetivação, na prática, dos novos conceitos legais. Assim, de acordo com 
Bazílio (2003), a prática social com relação à infância e adolescência continua sendo 
marcada pela violência, negligência e incompetência na esfera pública. 
 
7 Conforme estabelecido no ECA, no SINASE e no Plano Estadual para o Atendimento Socioeducativo, 
consideram-se casos excepcionais aqueles em que o adolescente cometeu o ato infracional antes de 
completar 18 anos de idade e o processo ao qual está submetido só foi julgado e determinada a internação 
depois que o adolescente completou a maioridade. Nesses termos, o jovem (com mais de 18 anos) será 
responsabilizado como adolescente, levando-se em consideração a idade do mesmo quando verificada a 
prática do ato infracional. 
8 Aqui o juiz é quem concebe a sentença e o assistente social é o profissional que dá as prerrogativas da 
mesma. 
18 
 
 
 
Embora este trabalho verse sobre as medidas socioeducativas de semiliberdade e 
de internamento, é relevante destacar as demais medidas de responsabilização em face à 
prática de atos infracionais. Segundo determinação do art. 112 do ECA, as medidas 
socioeducativas em sua totalidade dividem-se em: 
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá 
aplicar ao adolescente as seguintes medidas: I – Advertência (AD); II - Obrigação de 
Reparar o Dano (ORD); III - Prestação de Serviços à Comunidade (PSC); IV - 
Liberdade Assistida (LA); V - Inserção em Regime de Semiliberdade (IRS); VI - 
Internação em Estabelecimento Educacional (IEE); VII – qualquer uma das previstas no 
art. 101, I a VI. 
Em termos sucintos, e em consonância com os pressupostos do ECA, a medida 
de advertência implica, o adolescente comparecer ante a autoridade judicial e ser 
advertido por ela quanto a sua prática infracional; a medida de obrigação de reparar o 
dano significa que o adolescente deverá devolver, restituir, compensar a vítima; 
enquanto na prestação de serviços à comunidade, o adolescente vai realizar tarefas 
gratuitas de interesse da coletividade; na medida de liberdade assistida, o mesmo será 
orientado sistematicamente por profissionais, objetivando a reinserção familiar e 
comunitária saudável, acompanhando-se a escolarização e a possibilidade de 
profissionalização. 
A medida de semiliberdade visa conter o ato infracional por meio da privação de 
liberdade, mas ao mesmo tempo garantindo maior acompanhamento e participação da 
família. Já a medida de internação pode ser considerada a mais restritiva, visto que é a 
de privação completa de liberdade, ficando o adolescente afastado do convívio diário 
com sua família e a comunidade. Ainda de acordo com o ECA, a medida de internação 
só pode ser aplicada em caso de ato infracional grave, descumprimento de medida 
anterior ou quando o adolescente cometer o mesmo ato infracional diversas vezes. 
As medidas socioeducativas possuem particularidades diversas e, portanto, as 
estratégias de intervenção para o profissional de Serviço Social são também 
diferenciadas. A fim de entrar na reflexão sobre a atuação dos profissionais em Serviço 
Social junto aos adolescentes em cumprimento das Medidas Socioeducativas de 
Semiliberdade e de Internamento, é importante situar o trabalho profissional do Serviço 
Social como profissão historicamente ligada a intervenção na realidade social tendo-se 
19 
 
 
 
por essa razão, um amplo e diversificado leque de atuação para o Assistente Social, 
incluindo o campo Sócio Jurídico, que de maneira sutil será aqui abordado. 
Seguindo essa linha de raciocínio, de que a profissão foi chamada a intervir 
diretamente na realidade social, fica evidente que as ações profissionais do Serviço 
Social, devem se concretizar enquanto leitura dessa realidade vivenciada, indo além 
dela, superando a intervenção meramente simplista, fatalista e factual da realidade, 
construindo dessa maneira a sua práxis profissional – amparada em uma perspectiva 
crítica. É relevante salientar ainda, que o espaço de trabalho para o Assistente Social em 
relação a execução de medidas socioeducativas de semiliberdade e de internação -como 
propõe o trabalho em questão, se insere no âmbito de atuação estadual ficando as 
demais medidas socioeducativas comtempladas no âmbito municipal. 
O trabalho do Assistente Social na aplicação das medidas socioeducativas possui 
ampla discussão, embora não se encontre produções teóricas significativas acerca da 
mesma, o que nos leva a uma certa deficiência teórica sobre o tema, principalmente no 
que concerne a Medida Socioeducativa de Semiliberdade, ou seja, a medida de Inserção 
em Regime de Semiliberdade -IRS. Pensando nesta questão, o trabalho aqui 
desenvolvido analisa a temática tratada, contribuindo, ainda que minimamente, para 
uma possível referência textual sobre o assunto. 
É importante ponderar que a discussão do trabalho profissional do Assistente 
Social junto as medidas socioeducativas devem considerar os pressupostos presentes no 
Projeto Ético Político da profissão, que está orientado por princípios éticos relacionados 
a projetos societários (transformadores, emancipatórios), uma vez que envolve sujeitos 
individuais e coletivos, bem como, saberes teóricos e práticos. Por assim ser, não 
podemos separar o Projeto Ético Político da Profissão (PEP), do contexto social em que 
ele se insere e se articula com as políticas sociais existentes. É nesse âmbito que o 
Serviço Social procura estabelecer releituras críticas da própria intervenção – análise 
crítica da sua ação, voltando seu olhar para a historicidade, ou seja, levando sempre em 
consideração as raízes da questão social. 
No Brasil, o Serviço Social esteve desde o seu princípio atrelado diretamente ao 
sistema capitalista. Esse entendimento se faz necessário para que, considerando a raiz da 
Questão Social – dada a partir do conflito entre capital e trabalho, possamos enxergar 
que a problemática do adolescente em conflito com a lei é apenas mais uma das suas 
múltiplas expressões. Sendo assim, a realidade desses adolescentes é marcada por 
20 
 
 
 
diversos problemas sociais oriundos das desigualdades sociais e da concentração de 
renda, fruto do sistema vigente. 
 Seguindo esse pensamento, podemos aferir que as mediações que permeiam a 
realidade dos adolescentes que cometeram ato infracional e a implementação das 
medidas socioeducativas são determinadas pelas contradições das relações 
socioeconômicas, políticas e culturais na sociedade capitalista em que estamos 
inseridos. Dessa forma, as grandes contradições entre as classes sociais contribuem para 
os elevados índices de vulnerabilidade e riscos sociais que atingem as famílias, em 
especial, os adolescentes e jovens, que em sua maioria são negros, pobres, que 
apresentam dificuldades deacesso à educação e a outras políticas sociais, etc. 
Nesse sentido, é importante ainda evidenciar que no Brasil, a profissão, em seu 
início, direcionava seu agir profissional hegemonicamente para ações que buscavam 
primordialmente apaziguar os efeitos ocasionados pelas relações sociais desiguais, não 
questionando o sistema capitalista - que produz e reproduz as desigualdades. Dessa 
maneira, o agir profissional, nos espaços financiados pelo Estado, era orientado pelo 
pressuposto de ação filantrópica, sendo a assistência social vista não como um direito 
cidadão, mas como benefício ofertado pelo Estado. 
Somente após o “Movimento de Reconceituação” é que se busca construir novas 
bases teórico-metodológicas para orientar o agir profissional do Serviço Social. Esse 
movimento se constituiu como um enorme desafio, uma vez que se tratava de um 
projeto de ruptura que questionava a base teórica da profissão e, implicava também na 
discussão de práticas profissionais características da profissão. É a partir desse momento 
que começa a aflorar as bases do agir profissional fundamentado em um novo Projeto 
Ético Político para a sociedade – como já fora mencionado anteriormente, ou seja, um 
projeto profissional em articulação direta com um novo projeto societário, a saber, um 
projeto emancipatório, que busca superar o projeto societário anterior, fundado no 
conservadorismo - que possui diretrizes nas ordenações católicas. 
Nesse sentido, é somente após esse momento de mudanças, que o Serviço Social 
passa a orientar sua intervenção voltada ao compromisso com a garantia de direitos e 
com a efetivação e ampliação desses. Assim, evidencio, mais uma vez, que a discussão 
proposta no decorrer desse texto será amplamente perpassada pelo compromisso 
histórico da profissão com a garantia de direito dos cidadãos, na sociedade capitalista. 
21 
 
 
 
Tendo levantado essas considerações iniciais é importante relembrarmos a 
temática desse trabalho, a saber: a atuação dos profissionais em Serviço Social junto a 
adolescentes em cumprimento das medidas socioeducativas de semiliberdade e de 
internamento. Nesse, o objeto analisado será a intervenção dos profissionais de Serviço 
Social no estado do Rio Grande do Norte que atuam com adolescentes que se encontram 
cumprindo as medidas socioeducativas em questão. 
O objetivo geral, por sua vez será analisar o trabalho do Assistente Social na 
aplicação das medidas socioeducativas de IRS e de Internação em Estabelecimento 
Educacional (IEE). Os objetivos específicos estão assim definidos: mapear a presença 
(quantitativa) dos assistentes sociais no campo de atuação dessas medidas, no estado do 
RN; demonstrar a atuação desses profissionais junto aos adolescentes que se encontram 
cumprindo as medidas de semiliberdade e de internamento e; contribuir para a 
construção do conhecimento sobre a temática. Os procedimentos metodológicos 
utilizados nesse trabalho convergem de revisões literárias e documental acerca do tema. 
Este Trabalho Monográfico está organizado da seguinte forma: introdução, 
capítulo 1, capítulo 2 e considerações finais. Para dar continuidade ao debate posto, 
traremos no primeiro capítulo, o debate sobre as medidas socioeducativas de 
semiliberdade e de internação no contexto da garantia de direitos, bem como, a 
presença/atuação (quantitativa) das unidades executoras dessas medidas no estado do 
Rio Grande do Norte. Nesse capítulo será abordado as medidas em questão, 
demostrando que elas devem se constituir de forma que venham a garantir o acesso dos 
adolescentes “infratores” às oportunidades de superação de sua condição de exclusão, 
bem como acesso à formação de valores positivos na vida social dos mesmos. 
 No segundo capítulo, será abordado o debate sobre o Serviço Social na defesa 
da garantia de direitos dos sujeitos destinados pelas medidas em questão, enfatizando 
que o assistente social deve buscar imprimir no cotidiano de atendimento aos 
adolescentes em conflito com a lei, o resgate da cidadania, o reforço da autoestima, bem 
como as perspectivas de valorização, desenvolvendo nesses adolescentes o senso de 
autonomia e de responsabilidade. Nesse capitulo trataremos também sobre a atuação do 
Serviço Social junto as medidas de IRS e de IEE, além de demonstramos 
quantitativamente a presença desses profissionais no estado do RN. Para concluir, 
algumas considerações finais dento do alcance da pesquisa. 
22 
 
 
 
2.AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE SEMILIBERDADE E DE 
INTERNAÇÃO NO CONTEXTO DA GARANTIA DE DIREITOS 
 
Para fins desse trabalho se faz necessário realizar uma breve contextualização 
acerca do atendimento direcionado a criança e ao adolescente no Brasil - e de modo 
especifico, no estado do Rio Grande do Norte. Nesse sentido, será feito um recorte 
analítico do assunto a partir da década de 1950, adentrando até os dias atuais. Assim, 
observaremos as mudanças nas legislações, assim como os avanços e limites para a 
garantia de direitos à criança e adolescentes. 
A cerca do tratamento direcionado às crianças e adolescentes autores de ato 
infracional (chamadas de “menores”, “delinquentes”, “meninos socialmente 
desajustados”), no período de regimento do Código de Menores Mello Mattos, já 
funcionava no estado do RN, em cooperação de modo regular e permanente o Juizado 
de Menores, o Departamento Estadual da Criança que dava “assistência” ao público 
infanto-juvenil9, conforme versa o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do 
Adolescente (CONSECO) do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. 
Esse Departamento era diretamente subordinado à Secretaria de Estado da Saúde 
e Assistência Social, cabendo-lhe a orientação e coordenação das atividades estaduais 
voltadas à proteção e assistência à maternidade, à infância e à adolescência. Tinha entre 
outras competências, a incumbência de reorganizar, superintender, fiscalizar e manter os 
serviços que já existiam, sendo eles: Abrigo Juiz Melo Matos, Casa de Menores Mário 
Negócio e Instituto Padre João Maria. Onde os dois primeiros eram destinados ao 
público masculino e o último, ao público feminino. 
Ainda de acordo com o CONSECO, outra instituição que atuava na mesma linha 
de ação, era o Instituto Estevam Machado - fundado em 04 de julho de 1954, 
pertencente a Pastoral da Ação Social da Arquidiocese de Natal cujo objetivo era 
assistir “menores” “vadios ou delinquentes” que existiam na Cidade de Natal. Essa 
instituição tinha capacidade para atender no máximo 20 adolescentes, e nela poucas 
eram as atividades ocupacionais desenvolvidas. Em 1970, a instituição passou a receber 
apoio financeiro da FUNABEM (Fundação Nacional do Bem Estar do Menor) e do 
Estado. Já no ano de 1973, dia 13 de dezembro, o Governo do Estado (RN) criou 
 
9 Criado e regulamentado pelo Decreto nº 2.977, de 15 de fevereiro de 1957. 
23 
 
 
 
através da Lei nº 4.306 a FUNBERN – Fundação do Bem-Estar Social do Rio Grande 
do Norte, vinculando-a a Secretaria de Estado de Educação e Cultura. A essa Fundação 
foram incorporadas competências, atribuições e patrimônio do Departamento de Serviço 
Social do Estado – DSSE. 
A FUNBERN, além de suas diretrizes próprias, seguia as normas gerais 
formuladas pela FUNABEM; dessa forma uma de suas atribuições era promover a 
internação de “menores”, e como consequência a isso tinha como competência manter 
as seguintes instituições assistenciais: Instituto Padre João Maria, Instituto Estevam 
Machado, Instituto Dom Manoel Tavares, Abrigo Juvino Barreto, Casa de Menores 
“Mário Negócio”, e o Centro de Recepção e Triagem – CRT. Em 1975, esta fundação 
ganhou um novo estatuto e passoua ser vinculada à Secretaria de Estado do Trabalho e 
Bem Estar Social. 
Em 1979 o Governo do Estado do RN, instituiu a Fundação Estadual de Bem 
Estar do Menor – FEBEM - em substituição a FUNBERN, extinta conforme artigo 3º 
do decreto nº 7.819 de 29 de janeiro de 1980. A nova FEBEM permaneceu vinculada à 
Secretaria de Trabalho e Bem Estar Social, seguindo, em regra geral, as normas 
formuladas pela FUNABEM. Entre outras competências promovia, de acordo com o 
CONSECO, assistência a “menores” em unidades de Internatos e de guarda. A mesma 
criou vários programas de atendimento as crianças e adolescentes, inclusive a 
implantação de creches espalhadas em grande parte dos municípios do estado. 
O Instituto Estevam Machado foi extinto e, no seu lugar, foi criado o Centro de 
Reeducação do Menor (CRM), conhecido como Colônia Agrícola, localizado na área 
rural do município de Parnamirim – Vale do Pitimbú. Ainda neste contexto também 
foram criadas entre outras unidades o Núcleo Educacional Agrícola – NEA e o Centro 
de Profissionalização do Menor. Estas instituições refletiam a materialização de um 
paradigma dominante naquele período, referente ao tratamento destinado à criança e ao 
adolescente autor de ato infracional difundindo-se a partir de práticas repressivas, 
punitivas e assistencialistas, pautadas no código de menores, tendo como base a 
doutrina da situação irregular. Permanecia a utilização da categoria “situação 
“irregular”, como também das categorias “carentes”, “abandonados”, “inadaptados” e 
“infratores”. 
Em âmbito nacional, constata-se na década de 1980 um período de efervescência 
política, no qual as Organizações Não Governamentais (ONGs) e os movimentos 
24 
 
 
 
sociais realizaram diversas mobilizações junto à sociedade civil clamando pela defesa 
da democratização e reivindicando direitos sociais e trabalhistas, assim como os direitos 
das crianças e adolescentes. Nesse processo de articulação entre entidades 
governamentais e não governamentais destaca-se a criação do Fórum Nacional 
Permanente de Entidades Não-Governamentais de defesa dos direitos da Criança e do 
Adolescente (Fórum DCA) em 1988. O mesmo objetivava, consoante SILVA (1997), 
desenvolver ações de combate a violência às crianças e adolescentes em articulações 
com outras entidades; e organizar a participação das ONGs nos lobbies da Assembléia 
Constituinte com a finalidade de influenciar a legislação que seria criada. 
Além disso, pode-se aferir ainda, conforme a mesma autora, a importância de 
outros movimentos, como é exemplo o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de 
Rua, que envolveu a participação de crianças, adolescentes e educadores no processo de 
mobilização, desenvolvendo desse modo, um papel fundamental nas discussões acerca 
do novo ordenamento legal. Vale mencionar também que a luta pela extinção do código 
menorista no Brasil recebeu grande influência dos organismos internacionais em prol 
dos direitos das crianças e adolescentes. 
Em 1990 é promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90) 
revogando-se o Código de 1979. Com a Promulgação do ECA, a categoria “menor” 
passa a ser substituída pelos termos criança e adolescente - na tentativa de extinção de 
toda a carga pejorativa de preconceito que havia anteriormente. Além disso, é nesse 
mesmo viés que se adota a concepção de cidadania no tratamento direcionado a crianças 
e adolescentes, considerados agora, por lei, como pessoas em condição peculiar de 
desenvolvimento e sujeitos de direito. A partir desse novo paradigma legal, várias 
mudanças ocorreram; entre as quais a noção de necessidade passou a ser reconhecida 
como noção de direitos. 
Para assegurar os direitos aos quais se propõe esta legislação, ela prevê a 
formulação de políticas sociais a partir da articulação dos organismos 
governamentais e não governamentais, a descentralização política para 
esboçar as políticas sociais direcionadas a este segmento, além de atribuir 
novos papéis ao Ministério Público, a Defensoria Pública e a Justiça da 
Infância e da Juventude. Nesse contexto também são criados os Conselhos de 
Direito e os Conselhos Tutelares. (SALES; ALENCAR 1997, s.p). 
 
Assim, com o advento da Doutrina de Proteção integral das Nações Unidas, a 
população Infantojuvenil, passa a ser visualizada como sujeito de direitos e deveres, 
conforme preconizado no ECA. Neste contexto a Fundação Estadual do Bem-Estar do 
25 
 
 
 
Menor –FEBEM/RN, teve sua composição alterada pela Lei nº 6.682 de 11 de Agosto 
de 1994, que criou a FUNDAC/RN, regida por seu estatuto, gozando de autonomia 
administrativa, financeira e patrimonial. 
Foi portanto, com o fortalecimento dos movimentos sociais e a também 
significativa resistência à antiga concepção da “doutrina do menor em situação 
irregular”, também denominada de Código de Menores10 - promulgado em 1979, que 
passou-se a se consolidar uma caminhada histórica rumo à doutrina de proteção integral 
à criança, consagrada no art. 22711 da Constituição Federal de 1988. Era o início de um 
complexo processo de transição que resultaria na superação do direito do menor pelo 
direito da criança e do adolescente. 
Assim, somente após a consagração da doutrina de proteção integral à criança, 
foi que crianças e adolescentes passaram a deter todos os direitos que até então eram 
pertencentes exclusivamente aos adultos. Além desses direitos, as crianças e 
adolescentes passaram também a deter de direitos especiais, decorrentes da condição 
peculiar de pessoas em desenvolvimento, deixando assim de serem vítimas da sociedade 
e se tornando protagonistas de direitos. 
Dessa forma, como já fora anteriormente citado, o Estatuto da Criança e do 
Adolescente, instituído pela Lei Federal nº 8069/90 de 13 de julho de 1990, revogou o 
Código de Menores de 197912 – que incorpora a nova concepção assistencialista à 
população infanto-juvenil - e o FUNABEM13, trazendo consigo todos os direitos da 
criança e do adolescente, adotando, em seu 1º artigo, a Doutrina de Proteção Integral. Já 
em 18 de janeiro de 2012, foi sancionada a Lei 12.594/2012, que instituiu o SINASE, 
cujo principal objetivo é regulamentar a execução das medidas socioeducativas 
destinadas a adolescentes que pratiquem ato infracional. 
 
10 Segundo Veronese e Custódio (2011, p.26) “[...] caracterizou-se pela imposição de um modelo que 
submetia a criança à condição de incapaz, que vigorava uma prática não participativa, autoritária e 
repressiva representada pela centralização das políticas públicas” 
11 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, 
com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à 
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, 
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade 
e opressão. (Redação dada Pela Emenda Constitucional nº 65, de 2010) 
12 Vale lembrar que anteriormente ao Código de Menores de 1979, já havia sido promulgado em 1927 um 
outro Código de menores, conhecido como Código Mello Mattos, que considerava a “Doutrina de Direito 
do Menor”. O Código de 1927 é considerado o primeiro documento legal para a população com idade 
inferior a 18 anos. 
13 A FUNABEM – Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, Lei nº 4.513 de 1º de dezembro de 1964, 
é o órgão normativo que tem a finalidade de criar e implementar a política nacional do chamado “Bem-
Estar” do Menor, através da elaboração de “diretrizes políticas e técnicas”. 
26 
 
 
 
Dentre as previsões Legais presentesno SINASE encontra-se o PIA – Plano 
Individual de Atendimento. O PIA é um instrumento que norteia as ações a serem 
realizadas para viabilizar a proteção integral, a reinserção familiar e comunitária e a 
autonomia de crianças e adolescentes afastados dos cuidados parentais e sob proteção de 
serviços de acolhimento. É uma estratégia de planejamento que, a partir do estudo 
aprofundado de cada caso, compreende a singularidade dos sujeitos e organiza as ações 
e atividades a serem desenvolvidas com a criança/adolescente e sua família durante o 
período de acolhimento. Assim, ao contextualizar e considerar a história de vida da 
criança ou adolescente acolhido, o PIA examina as razões pelas quais a medida de 
proteção de acolhimento foi indicada para aquele caso e como ela poderá ser efetiva 
para resgatar os direitos violados, proporcionar superação e desenvolvimento integral e 
preparar a reinserção familiar e comunitária. 
A respeito do PIA, o SINASE institui em seu capitulo IV – Do Plano Individual 
de Atendimento, art. 52 a seguinte proposição: 
Art. 52. O cumprimento das medidas socioeducativas, em regime de prestação 
de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade ou internação, dependerá 
de Plano Individual de Atendimento (PIA), instrumento de previsão, registro e gestão 
das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente. 
“A ação socioeducativa deve respeitar as fases de desenvolvimento integral 
do adolescente levando em consideração suas potencialidades, sua 
subjetividade, suas capacidades e suas limitações, garantindo a 
articularização no seu acompanhamento. Portanto, o Plano Individual de 
Atendimento (PIA) é um instrumento pedagógico fundamental para garantir a 
equidade no processo socioeducativo”. (SINASE, 2012) 
 
É, portanto, dentro desse contexto, que o ECA coloca as medidas 
socioeducativas de semiliberdade e de internação como sendo medidas restritivas e 
privativas de liberdade, reconhecendo assim, a possibilidade de privação provisória de 
liberdade ao adolescente infrator, lhes oferecendo, de acordo com a gravidade de sua 
infração, alternativas de responsabilização. 
Considera-se relevante esclarecer que a elaboração do plano Individual de 
Atendimento é de responsabilidade da equipe técnica da unidade de atendimento, 
tomando por base a participação do adolescente e do seu grupo familiar, bem como os 
relatórios e pareceres das equipes técnicas de todos os órgãos públicos, programas e 
entidades que lhes presta atendimento e/ou orientação. O seu objetivo é o de garantir a 
compreensão de cada adolescente enquanto pessoa, revestido de uma singularidade 
27 
 
 
 
particular, que tem um plano construído com ele e para ele. Todas as esferas envolvidas 
no atendimento ao adolescente (judicial, administrativa, pedagógica, de saúde, 
segurança, família e comunidade) devem respeitar sempre a ideia de que cada um desses 
adolescentes é único, tal como será o desenvolvimento de seu processo socioeducativo. 
O Plano Individual de Atendimento, além de ser apropriado a cada um, deve ser 
personalizado. Portanto ele é definido como o plano de trabalho que dá 
instrumentalidade para o desenvolvimento pessoal e social do adolescente em 
cumprimento de medida socioeducativa, respeitando a visão global e plena do ser 
humano e da educação. Nesse sentido, o PIA pode ser construído como um plano de 
estratégias e ações a serem desenvolvidas, segundo diretrizes fixadas por eixos de 
garantia de direitos fundamentais (educação, saúde, convivência familiar e comunitária 
e outros previstos pelo ECA). Ele parte da avaliação técnica interprofissional criteriosa 
e busca trabalhar sobre a singularidade no coletivo. 
O PIA com as metas, a pactuação, o compromisso do adolescente e do(s) 
responsável(is), e o relatório da equipe interdisciplinar será encaminhado ao Judiciário 
no prazo de 45 dias a partir da entrada do adolescente na unidade de internação ou 
semiliberdade. É imprescindível a articulação do PIA do adolescente com seu relatório 
interdisciplinar, o qual deve apresentar consonância com a avaliação do desempenho 
escolar e o PIA. Para tanto, o PIA possui duas dimensões complementares: 1. Uma 
dimensão avaliativa interdisciplinar que apura a realidade e as necessidades específicas 
da criança, adolescente e sua respectiva família. 2. Uma dimensão de planejamento 
operativo que reúne estratégias de cuidado, apoio e educação para planejar as ações e 
atividades de atendimento que deverão ser desenvolvidas durante a rotina coletiva e 
individual de forma a superar a vulnerabilidade e proporcionar a vida fora do serviço de 
acolhimento. 
A responsabilidade que cabe ao sujeito na construção de um projeto de vida é 
relativizada pela sua peculiar inserção nos grupos e classes sociais. Logo, muito embora 
seja de fato na e pela ação educativa que se dá a feitura do projeto individual, toda ação 
educativa revela-se parcial, e, portanto, condicionada. 
Acredita-se que investigar o caráter educativo das medidas aplicadas ao 
adolescente infrator das regras sociais requer ter claro que o ato educativo, para quem 
com ele lida, pressupõe um conceito, uma ideia, uma expectativa em relação ao perfil 
que assumirá o educando que deseja formar através de um processo qualquer; em 
28 
 
 
 
relação à sociedade na qual esse processo formativo se dá e esse adolescente irá viver; e 
à forma como esse adolescente irá se relacionar com os demais nessa sociedade, muito 
em face de tal processo. 
Sobre a ação educativa presente nas medidas em questão, Alice Itani (1998) 
relata: 
É fato que a educação surge como uma necessidade da civilização para o 
processo de socialização. Por esse processo, os indivíduos são instituídos 
com a imposição da lei social à psique, tornando-se humanos. Ou com um 
conteúdo que podemos considerar de natureza humana. Essa ação educativa 
socializa, impõe regras de vivência coletiva, é realizada pelas diversas 
instâncias da sociedade, desde a família até a escola, imprimindo-se o valor 
da vida como um valor constitutivo do ser humano. Mas por essa ação pode-
se também reproduzir a desigualdade e se instalar o rompimento com uma 
ética da vida. (ITANI, 1998, p. 38). 
 
Dada a orgânica relação entre educação e sociedade, que torna o processo 
educativo parcial e relativo, não há certeza de que tal processo cumpra as expectativas 
em termos do adolescente que se espera, uma vez que seu resultado é um sujeito fruto 
de uma dinâmica que, em muito, extrapola esse processo. O mais que se pode esperar é 
que, dadas certas condições de trabalho, de relações, de vida, enfim, no interior das 
instituições, o adolescente na posição de educando assuma uma específica postura de 
respeito frente à sua vida e à vida dos demais. 
Do ponto de vista do tratamento emprestado pelo ECA à questão do adolescente 
em conflito com a lei faz-se necessário esclarecer que, enquanto sanção, a medida não 
se caracteriza como pena, ou seja, muito embora se assemelhe à pena ao considerar o 
princípio da personalidade na sua aplicação – apenas o autor do crime responde por ele 
–, ser decorrência de lei e visar à ordem pública, as medidas se diferem em aspectos 
essenciais. 
E se diferem porque, primeiro, se a aplicação da pena, do castigo, busca 
estabelecer uma relação entre o ato cometido e o rigor da punição, a aplicação da 
medida deve buscar uma maior individualização, no sentido da sua adequação à história 
de cada adolescente em particular, ao invés de adequar-se apenas à infração cometida. 
Em segundo lugar, se diferem quanto à finalidade imediata de uma e de outra. Com a 
pena, busca-se causar sofrimento ao transgressor, puni-lo por meio da privação dedireitos. Com a medida sócio-educativa, por outro lado, é a ação pedagógica 
sistematizada que é visada, mesmo quando se trata de medida de privação de liberdade. 
29 
 
 
 
 A respeito da relação existente entre ação pedagógica e privação de liberdade, é 
importante considerar o debate que é incitado a partir da compreensão de que há uma 
contradição entre essas duas ações. Conforme apontado por Bazílio (2003, p.46) “como 
é possível pensar em processo educacional em estabelecimentos cujo objetivo é 
precisamente a tutela, o controle dos tempos e corpos?”. Poderiam ser, esses 
estabelecimentos socioeducativos, adaptados em sua estrutura física e em relação à 
capacitação do pessoal técnico-administrativo de forma que, mesmo com a “ restrição 
ou privação da liberdade”, eles pudessem cumprir o caráter educativo das medidas? 
Assim, o duplo caráter das medidas – punição/reparo e criação de condições para 
a não reincidência desses adolescentes aos atos infracionais por eles cometidos – em 
princípio, teria por finalidade operar um reordenamento dos valores e padrões de 
conduta do sujeito que por algum motivo veio a “transgredir” a lei. Além de possibilitar 
uma ressignificação dos seus padrões de socialização, de modo que os “novos modelos” 
primem pela consideração da integridade da vida e da preservação do patrimônio14. 
Neste sentido, em última instância, denominar de socioeducativa uma medida que foi 
aplicada em face da transgressão do ordenamento jurídico significa atribuir-lhe – 
princípio e condição – a possibilidade de operar, no sujeito, mudanças que 
necessariamente impliquem na consciência de que a integridade da vida deve ser 
mantida, assim como preservado o patrimônio. 
Feito as considerações e críticas iniciais, é importante lembrar que dentre as 
medidas de privação de liberdade, a mais grave (IEE) impõe o internamento do 
adolescente, sem atividade externas. Passaremos agora a discorrer com mais detalhes 
sobre essas duas medidas -Semiliberdade e Internação. 
 
2.1. A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE NO 
CONTEXTO DA DEFESA DE DIREITOS 
 
A respeito do regime de semiliberdade (IRS)15, temos que é a medida 
socioeducativa imposta, mediante sentença, a adolescentes em conflito com a lei, 
 
14 É importante se fazer evidenciar, que a perspectiva que assume a ação ético-formativa no nosso modelo 
de sociedade capitalista reflete a contradição inerente a ela, ao apontar na direção do trinômio Estado, 
família e propriedade privada. 
15 O art. 120 prevê a Inserção no Regime de Semiliberdade, ou melhor, dois regimes de semiliberdade: o 
que é determinado desde o começo, e o que representa a mudança para o meio aberto. No primeiro tipo, 
semiliberdade propriamente dita, o adolescente passará da instituição para a liberdade. No segundo tipo, 
30 
 
 
 
pela Vara da Infância e da juventude e acompanhada pela Vara de Execução de 
Medidas Socioeducativas em respeito à dignidade e condição da pessoa humana em 
situação peculiar de desenvolvimento. Nesse regime são trabalhados aspectos 
psicossociais, tanto vocacionais, de inserção dos sujeitos à escolarização, 
profissionalização e mercado de trabalho, assim como outras políticas públicas, 
pautadas na busca do exercício da autonomia relativa do sujeito. Por isso, pode-se 
dizer que possuem o caráter essencialmente “extramuros”, indo além do espaço 
físico oferecido pelas unidades que atendem a esse tipo especifico de medida. 
 
A medida socioeducativa da semiliberdade está prevista no Art. 120 do ECA 
e estabelece que ela pode ser determinada, desde o início ou constituir uma 
forma de transição para o regime aberto. Trata-se, na verdade, de um modelo 
similar ao regime semiaberto destinado aos imputáveis, os quais, 
normalmente, exercem atividades escolares e profissionalizantes externas sob 
a supervisão do responsável pela Colônia agrícola, industrial ou similar e 
retornam para o pernoite, permanecendo, também, nos domingos e feriados 
no estabelecimento do regime semiaberto. [...] A semiliberdade é uma 
alternativa ao regime de internamento, que priva, parcialmente, a liberdade 
do adolescente, colocando-o em contato com a comunidade. 
O SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – que define 
os princípios e parâmetros da ação e gestão pedagógicas das Medidas 
Socioeducativas configura a semiliberdade como uma medida restritiva de 
liberdade que admite a coexistência do adolescente com o meio externo e 
institucional, estabelecendo a obrigatoriedade da escolarização e atividades 
profissionalizantes, numa interação constante entre a entidade responsável 
pela aplicação da medida de semiliberdade e a comunidade, utilizando-se, 
preferencialmente, recursos da própria comunidade. Com efeito, a medida da 
semiliberdade avulta de importância, pois contribui para o fortalecimento dos 
vínculos familiares e comunitários, bem como estimula o desenvolvimento 
do senso de responsabilidade pessoal do adolescente. A sua principal 
característica e que a difere do sistema de internamento é que admite a 
existência de atividades externas e a vigilância é a mínima possível, não 
havendo aparato físico para evitar a fuga, pois a medida funda-se, 
precipuamente, no senso de responsabilidade do adolescente e sua aptidão 
para ser reinserido na comunidade. (BANDEIRA, s.d., p.1) 
 
Como é possível perceber na fala de Bandeira, o regime de semiliberdade, por 
não se constituir em um regime total de privação de liberdade, deve ser executado em 
unidades onde a “vigilância técnica e humana” devem ser a mínima possível, existindo 
apenas para manter a “segurança da unidade”, no sentido de preservação da vida de 
todos os que se encontram ali presentes, tanto dos profissionais como dos educandos. 
(Portanto, não se trata de proteger os profissionais dos adolescentes que estão 
 
que é o semi-internato, o adolescente passa da liberdade para a instituição, onde deve passar o dia 
trabalhando fora da instituição e regressando ao estabelecimento apenas à noite. O emprego da medida de 
regime de semiliberdade deve ser acompanhado de escolarização e profissionalização obrigatórias. 
 
31 
 
 
 
cumprindo a medida, e vice versa, mas proteger os profissionais e os educandos de um 
possível conflito entre eles e a comunidade/sociedade). 
Nessa medida socioeducativa -Semiliberdade, os jovens são diariamente 
acompanhados pela equipe inter e multidisciplinar de cada unidade para a elaboração de 
estudos de caso em conjunto com o adolescente e sua família para pensar/refletir sobre a 
medida. 
A respeito da convivência dos adolescentes em comunidade, a Secretária de 
Estado de Políticas para Crianças, adolescentes e Juventude do Governo de Brasília 
afirma: 
Conforme prevê a lei, a convivência dos adolescentes em comunidade 
estimulada pelos profissionais da área da Psicologia, Pedagogia, Serviço 
Social, Atendentes de Reintegração Social e os Técnicos Administrativos 
com a participação da sociedade civil organizada, preferencialmente onde o 
jovem criou vínculos, e familiares, é de fundamental importância tanto de 
inserção, quanto nos esforços possíveis de fortalecimento dos vínculos 
familiares e superação das suas vulnerabilidades biopsicosocioculturais. 
(Secretaria de Estado de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude, 
2017, p.2) 
 
A realização de atividades externas, nesse contexto, se configura a própria 
essência do regime de Semiliberdade, como já fora dito, sendo aescolarização e a 
profissionalização, atividades centrais que devem ser evidenciadas no discurso do 
convencimento em sentido a incitar o jovem voltar/passar a frequentar estes espaços, 
como forma de transformação da sua realidade social16. Desse modo, o apoio e a 
inclusão no mercado de trabalho mostram-se como uma importante estratégia de 
intervenção na execução da medida e “desconstrução da ideologia capitalista”. Tendo 
em vista que o adolescente passa a vislumbrar possibilidades de superação da condição 
que contribuiu para seu ingresso no sistema socioeducativo, logo o trabalho adquire um 
caráter pedagógico de transformação na vida do adolescente e, consequentemente, dos 
seus familiares. 
 
16 É importante evidenciar que ao incitar o adolescente a frequentar esses espaços, a medida adquire não 
só um caráter educativo (como deveria), mas também um caráter de ajustamento, uma vez que está 
diretamente associada ao fato do adolescente passar a respeitar as regras socialmente estabelecidas, e aqui 
está o paradoxo da questão, pois ao convencer o adolescente a frequentar esses espaços não é considerado 
a real necessidade desse adolescente, mas sim o simples fato de se está cumprindo uma das prerrogativas 
das medidas. 
32 
 
 
 
A Medida de Semiliberdade, conforme enfatiza a Secretaria de Estado de 
políticas para crianças, adolescentes e Juventude do Governo do Distrito Federal17 
(2013), tem norte a partir dos seguintes objetivos: 
• Garantir ao socioeducando convivência em um ambiente educativo, no qual 
possa expressar-se, vivenciar relações comunitárias e, também, participar de 
atividades em grupos18; 
• Colaborar para a integração do adolescente e seus familiares através das redes 
comunitárias; 
• Estimular o socioeducando a respeitar às normas sociais e aos outros19; 
• Proporcionar ao socioeducando condições para o convívio social pleno e 
oportunizar o acesso à rede de serviços e programas sociais; 
• Resgatar e fortalecer os vínculos familiares e comunitários dos adolescentes, 
por meio da participação destes, como atores principais no palco socioeducativo, 
em atividades do programa, e, do acompanhamento familiar no momento em que 
os adolescentes passam os finais de semana em suas residências; 
• Trabalhar, junto ao adolescente, aspectos que o faça refletir quanto a 
responsabilização pelo ato infracional e a importância de se manterem 
afastados20 destes lugares que contribuíram de certa forma para a prática de 
ilicitudes. 
• Trabalhar o exercício da autonomia e a construção de um projeto de vida 
afastado da prática de atos infracionais. 
• [...]. 
Sob essa conjuntura, as unidades executoras da medida socioeducativa de 
semiliberdade se organizam em equipes multidisciplinares e interdisciplinares no 
sentido de garantir que esses objetivos sejam concretizados, levando em consideração, 
 
17Governo do Distrito Federal. Projeto Político Pedagógico das Medidas Socioeducativas no DF 
Semiliberdade. Brasília; 2013. P.57. 
18 Embora seja importante vivenciar as relações comunitárias, a aceitação desses jovens na comunidade, 
de maneira geral, se constitui em um enorme desafio. Outro grande desafio encontrado no contexto das 
medidas socioeducativas versa sobre a continuidade desses adolescentes – que por algum motivo infringiu 
a lei - na unidade de execução da medida. 
19 Esse objetivo se revela, ainda, em conformidade com os moldes presentes no Código de Menor de 
1979, baseado na Doutrina de Situação Irregular atribuída ao adolescente, retomando por sua vez, a 
perspectiva de controle social, de integração e adaptação as normas sociais, ou seja, o mesmo visa o 
ajustamento social dos adolescentes que estão cumprindo as medidas socioeducativas. 
20 Esse objetivo, manifesta a reiteração de desigualdades, principalmente social, uma vez que ao afastar os 
jovens dos locais por eles frequentados, acaba oprimindo-os da mesma forma. 
 
33 
 
 
 
as particularidades dos adolescentes e seus familiares, o ambiente sóciocomunitário em 
que a unidade está inserida, bem como, as potencialidades de desenvolvimento do 
atendimento e das articulações institucionais. Para tanto, as equipes articulam e 
executam ações nas áreas de educação, saúde, assistência social, esporte, cultura e lazer, 
profissionalização e trabalho; conforme preconiza o ECA, velando pelo cumprimento 
do art. 35 da Lei 12.594, que institui o SINASE, onde prevê os princípios norteadores 
da execução das medidas socioeducativas. 
Sobre o PIA, no regime de semiliberdade temos: 
Nos mesmos moldes da Liberdade Assistida, é também elaborado um Plano 
Individual de Atendimento do adolescente que, também, será cumprido 
através das fases já mencionadas, entretanto, na semiliberdade o adolescente 
acaba ficando mais tempo na instituição, ou seja, [...], ele realiza refeições e 
dorme na fundação, embora durante o dia, seja colocado em oficinas e 
atividades escolares, podendo nos finais de semana e feriados permanecer 
com os seus familiares, o que não ocorre com a liberdade assistida, já que o 
adolescente só comparece à instituição nos dias determinados para o 
atendimento. Com efeito, a semiliberdade implica institucionalização, pois é 
uma medida restritiva de liberdade, tanto que não pode, assim como a 
internação, ser objeto de remissão, nos termos do Art. 127 do ECA, só 
podendo ser imposta, mediante o devido processo legal, no qual sejam 
assegurados ao adolescente o direito à ampla defesa e o princípio do 
contraditório. (BANDEIRA, s.d., p. 1 – 2) 
 
Desse modo fica evidenciado que a medida de semiliberdade, como bem fora 
colocado na fala de Bandeira, trata-se de uma medida restritiva de liberdade, e não de 
privação total dela, uma vez que o adolescente mesmo cumprindo a medida, não fica 
obrigado a se restringir ao espaço físico da unidade executora. 
A respeito do tempo de duração e o período de cumprimento da medida: 
A semiliberdade não poderá exceder a três anos, conforme preceitua o 
disposto no § 2º do Art. 120 c/c o § 3º do Art. 121, todos do ECA. O 
adolescente, durante o período do cumprimento máximo da medida fixado 
pelo juiz, deverá se submeter a avaliações periódicas levadas a efeito pela 
equipe interdisciplinar, realizadas, no máximo, a cada seis meses, podendo, 
inclusive, sugerir a progressão para o cumprimento em meio aberto, ou seja, 
liberdade assistida ou prestação de serviços à comunidade, respeitado o limite 
máximo previsto na lei, ou mesmo, o seu desligamento definitivo do 
programa de atendimento, por ter cumprido, satisfatoriamente, todas as fases 
e já se encontrar apto para conviver, pacificamente, na sociedade e exercer 
plenamente a sua cidadania. (BANDEIRA, s. d., p. 2) 
 
A medida socioeducativa de semiliberdade pode ser dada como resposta a 
qualquer ato de infração cometido pelo adolescente, sobretudo aqueles análogos aos 
crimes de médio e alto potencial ofensivo, como lesões corporais graves, homicídio, 
estupro, roubos, entre outros; desde que sejam levadas em conta as circunstâncias, a 
34 
 
 
 
acuidade e as condições pessoais do adolescente; e desde que seja a medida mais 
adequada para o caso. 
Vale lembrar, que por se tratar de uma medida restritiva de liberdade, não se 
pode deixar de observar as direções constitucionais de brevidade e excepcionalidade da 
medida, e a necessidade de trabalhar a reintegração do adolescente “infrator” ao seu 
meio social. 
Numa visão constitucional21 Martha Toledo Machado diz: 
Outros dois direitos fundamentais especiais de crianças e adolescentes 
relacionados com a prática decrime reconhecidos na Constituição Federal 
são a excepcionalidade e a brevidade na privação da liberdade, como 
assegurado no inciso V do parágrafo 3º do art. 227. (MACHADO, 2003, 
p.343) 
 
A excepcionalidade e a brevidade da medida de semiliberdade são normas de 
garantias previstas na Constituição e asseguradoras do princípio reitor da dignidade 
humana. Sendo assim, diante de atos infracionais graves, deve-se procurar a aplicação 
de uma medida mais afável, de preferência, que seja cumprida em meio aberto, só então, 
excepcionalmente, quando as circunstâncias e condições pessoais do adolescente, assim, 
não indicarem, é que se deverá pensar na aplicação de uma medida restritiva ou 
privativa de liberdade (semiliberdade ou internação). 
Dessa forma, a simples gravidade do ato infracional não constitui motivo por si 
só para aplicação da medida de semiliberdade. A motivação para o cumprimento dessa 
medida, deve basear-se em outras circunstâncias e no fato do adolescente não possuir as 
condições mínimas para cumprimento de outra medida em meio aberto. 
Assim coloca Marcos Antônio, Juiz da Infância e da Juventude da Comarca de 
Itabuna: 
Entende-se que é, perfeitamente, cabível a aplicação da semiliberdade 
provisória pelo prazo máximo de 45 dias, nos moldes do que é, 
expressamente, prevista para o internamento, no sentido de redirecionar e 
propiciar as condições para ajustar o adolescente, preferindo-se a privação 
parcial da liberdade – semiliberdade provisória – do que o internamento 
provisório, que exige a privação completa da liberdade. (BANDEIRA, s.d., 
p.4) 
 
Em resumo a medida socioeducativa de IRS, Garcia (2017), versa que: 
 
21 Abordagem jurídica que recorre aos pressupostos preconizados na Constituição Federal de 1988. 
35 
 
 
 
A semiliberdade é considerada uma medida intermediária, porque apesar de 
não privar inteiramente o adolescente da liberdade, altera sua relação com o 
meio. Ela consiste em colocar o adolescente em uma casa de internação 
durante os dias da semana para cumprimento de atividades pedagógicas e 
formativas. Nessa casa o adolescente também faz suas refeições e dorme. Ele 
pode voltar para junto de sua família ou para o abrigo onde estiver durante o 
fim de semana. A medida funda-se principalmente no princípio de 
responsabilização do adolescente; visando uma ação ético-pedagógica, em 
que ele pode participar de atividades sem vigilância, regidas apenas por uma 
agenda predefinida, onde o adolescente desenvolve uma noção de 
independência e de reinserção na sociedade. [...] Assim como no caso da 
liberdade assistida, é prevista por lei a criação de um Plano de Atendimento 
Individual do Adolescente, em que é traçado um perfil para poder propiciar o 
atendimento ideal caso a caso. (GARCIA, 2017, p.5) 
 
Feitas as considerações sobre a medida de Inserção em Regime de 
Semiliberdade, traremos a seguir o debate sobre a medida de Internamento em 
Estabelecimento Educacional. 
 
2.2. A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO NO CONTEXTO DA 
DEFESA DE DIREITOS, EM DIÁLOGO COM A GARANTIA DE DIREITOS 
 
Na medida socioeducativa de internação (IEE) contidas nos artigos 121 à 125 do 
ECA, o ponto de partida e aspecto principal é dado a partir da privação de liberdade do 
adolescente, que por motivos excepcionais infringiu a lei. 
É importante citar que nessa medida socioeducativa, o prazo mínimo de 
permanência do adolescente no regime privativo de liberdade é de seis (06) meses, 
podendo chegar somente ao prazo máximo de três (O3) anos, ou seja, trinta e seis (36) 
meses, conforme regulamento estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Uma vez que a medida é norteada pela lógica do processo socioeducativo, com 
intuito de ressocialização desse adolescente para o convívio social, e não somente como 
processo sancionatório/punitivo, a IEE implica antes de qualquer coisa, escolarização 
obrigatória ao adolescente, bem como profissionalização e assistência integral ao 
mesmo. 
Vale destacar ainda que, assim como na medida de semiliberdade, a FUNDAC 
(posteriormente aprofundada) é o órgão que executa a medida de Internação em 
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Estabelecimento Educacional22, ou seja trata-se de uma fundação organizacional da 
administração pública, que executa as medidas de caráter socioeducativas em meio 
fechado, de acordo com a sua aplicação pela Justiça da Infância e Juventude. Além 
disso, a FUNDAC é responsável pela organização e administração dos recursos 
(humanos, materiais e financeiros) e pelas instalações físicas para o devido 
funcionamento do sistema socioeducativo no Estado. 
A medida de internação subdivide-se em Internação Provisória e Internação por 
prazo indeterminado. Na primeira, o prazo máximo de privação de liberdade é de 
quarenta e cinco (45) dias, enquanto o ato infracional é apurado. Conforme Freitas 
(2010): 
Essa internação pode ser determinada por diversos fatores, entre eles proteger 
o adolescente quando se tratar de ato que mobilize a opinião pública e 
também garantir que o mesmo permaneça à disposição da autoridade 
judiciária com a determinação da internação por prazo indeterminado, o 
adolescente é encaminhado para Unidade de Internação (UI) onde 
permanecerá por no mínimo seis meses e no máximo por três anos. 
(FREITAS, 2010, p.6) 
 
De acordo com o ECA, a medida de IEE, "constitui medida privativa de 
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição 
peculiar de pessoa em desenvolvimento" (Brasil, 1990, p. 24). Nessa medida são 
obrigatórias as atividades de caráter pedagógico, devendo a manutenção dela ser revista 
no prazo máximo de seis (06) meses. 
Além disso, o ECA coloca que aos adolescentes em cumprimento da medida de 
internação deve ter garantido direitos como: informação de sua situação processual, 
recebimento de visitas, ter contato (corresponder-se) com familiares e amigos, ser 
respeitado e tratado dignamente, ter alojamento que disponham de condições adequadas 
de higiene e salubridade, dispor de assistência integral, entre outros. 
É importante lembrar que apesar de a FUNDAC possuir um regimento interno 
que orienta e direciona todo o trabalho que deve ser desenvolvido nas unidades 
 
22 A Internação em Estabelecimento Educacional é uma medida aplicada em caráter excepcional, e como 
as outras medidas socioeducativas, está assegurada por Lei, de acordo com o artigo 121 e 122 do ECA 
que ressalta, ser aplicada a internação por ocorrência de um ato infracional mediante grave ameaça ou 
violência à pessoa; por reiteração no cometimento de outras infrações graves e por descumprimento 
reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. Vale ressaltar que, a IEE deve ser cumprida 
em entidade exclusiva para adolescente. Em hipótese nenhuma o período máximo deverá exceder 3 anos. 
É considerada na medida de internação que o adolescente deve ser avaliado a cada seis meses pela equipe 
interprofissional, podendo ter uma progressão para a IRS ou LA conforme a avaliação psicossocial. 
 
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socioeducativas de atendimento aos adolescentes em situação infracional, cada unidade 
executora possui sua própria rotina e estrutura arquitetônica, além de distintos e 
diversificados referenciais teóricos dos projetos pedagógicos. Embora existam 
diferenças, as unidades de execução dessas medidas, em geral orientam-se pela 
necessidade de garantir aos adolescentes privados de liberdade que se encontram em 
cumprimentos de medida socioeducativa, um atendimento integral. 
Em resumo a medida socioeducativa de IEE, Garcia