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num processo; pelo que o conceito seria mais sociológico do que jurídico. A lide tem que ser solucionada, para que não seja comprometida a paz social e a própria estrutura do Estado, pois o conflito de interesses é o germe de desagregação da sociedade. (2017, p. 7) “ São características essenciais, integrantes do conceito de lide, estruturado por Francesco Carnelutti (apud MONNERAT, 2015, p. 30): I) Existência de autocomposição. II) Conflito de interesses. III) Pretensão resistida. Assinale a alternativa correta: a) Apenas a afirmativa I está correta. b) Apenas as afirmativas I e III estão corretas. c) Apenas as afirmativas I e II estão corretas. d) Apenas as afirmativas II e III estão corretas. e) As afirmativas I, II e III estão corretas. 3. Leia o trecho a seguir, retirado igualmente da obra de Alvim: Nos primórdios da humanidade, aquele que pretendesse deter- minado bem da vida, e encontrasse obstáculo à realização da própria pretensão, tratava de removê-lo pelos seus próprios “ 24 - U1 / Noções teóricas básicas do processo meios, afastando os que se opunham ao gozo daquele bem, imperando, assim, a lei do mais forte, em que o conflito era resol- vido pelos próprios indivíduos, isoladamente ou em grupo [...] Os Estados modernos, reconhecendo que, em determinadas circunstâncias, não podem evitar que se consume uma lesão de direito, permitem que o próprio agredido defenda seus interesses [...]. (2017, p. 9) Assinale a alternativa correta em relação à evolução dos meios de solução de conflitos: a) Para que se evite a invasão de uma propriedade privada, é autorizado o uso da força pelo proprietário, desde que não se ultrapasse a força indispensável para tal finalidade. b) A função jurisdicional tem como principal objetivo a elaboração de leis que evitem a proliferação de conflitos sociais. c) Uma vez instaurado um conflito de interesses, caberá prioritariamente ao árbitro dirimir a lide. d) A função jurisdicional ganhou a importância hoje reconhecida em virtude do fortalecimento das estruturas de igreja. e) A pacificação de conflitos entre os membros de uma sociedade é a principal função do Poder Executivo. Seção 1.2 / Fontes e métodos alternativos de resolução - 25 Fontes e métodos alternativos de resolução Diálogo aberto Caro aluno, na seção anterior, você iniciou os estudos da Unidade 1 da disciplina Teoria Geral do Processo e aprendeu a relação existente entre o homem, a sociedade e o Direito. Verificamos também que, apesar de indese- jável, a existência de conflitos de interesses é inerente à convivência em socie- dade. Foi possível perceber a evolução dos meios de resolução de conflitos, iniciando pela fase da autotutela (imposição da vontade de uma das partes à outra, com utilização, inclusive, da força física), passando pela arbitragem (instituição de um terceiro imparcial para dirimir o conflito), até chegar ao exercício da função jurisdicional pelo Estado (exercício da pacificação social pelo Poder Judiciário). Em continuidade à evolução traçada na seção anterior, esta nova seção abordará as seguintes questões: as fontes modernas de resolução de conflitos, com foco no conceito de processo; uma análise detida das figuras da arbitragem, mediação e conciliação no Código de Processo Civil brasileiro (BRASIL, 2015). Retomemos a situação de Gustavo, apresentada no início desta unidade. Como advogado recém-formado, ele ficou interessado em descobrir se Paulo poderia, por sua própria iniciativa, “fazer justiça pelas próprias mãos”, deixando de pagar o preço do veículo comprado, conforme estipulado em contrato com o qual se comprometeu assinando-o, por conta de o item adquirido apresentar defeitos não indicados nesse contrato. Seu desafio era analisar se Paulo poderia manter-se com o veículo e deixar de efetuar o pagamento das parcelas devidas. E mais: a quem caberia dirimir o conflito existente entre as partes? Conforme estudamos, a autotutela é vedada como regra no ordena- mento jurídico brasileiro. Assim, Paulo não poderia simplesmente manter-se com o veículo, objeto do contrato de compra e venda, e deixar de efetuar o pagamento das parcelas que devia. Instaurado o conflito entre as partes, Paulo deveria procurar o Poder Judiciário para que, por meio de um processo judicial, fosse averiguado a quem cabia o direito discutido. Diante disso, apresentamos uma nova situação-problema que deverá ser analisada por Gustavo: Cássio entabulou com Marcus um contrato de compromisso de compra e venda, por meio do qual ele comprava e Marcus vendia um imóvel determinado pelo montante de R$ 300 mil (trezentos Seção 1.2 26 - U1 / Noções teóricas básicas do processo mil reais), a ser dividido em 30 parcelas. De comum acordo e cumprindo todas as exigências previstas em lei, as partes no contrato estabeleceram uma cláusula compromissória por meio da qual eles se comprometiam a submeter à arbitragem os litígios que pudessem vir a surgir, referentes a tal contrato. Passados os dozes primeiros meses de pagamento das parcelas de compra e venda, Cássio analisou melhor o contrato e entendeu que os índices estabe- lecidos para atualização dos valores eram exorbitantes e ele pagaria valores superiores àqueles que seriam devidos com os índices legais. Cássio, então, procura Gustavo, advogado recém-formado, e faz os seguintes questiona- mentos: como ele pode ver sua pretensão analisada? Ele pode, por meio de um processo, buscar a prestação jurisdicional do Estado-juiz? Qual é o órgão apto a julgar essa lide? Ele pode pretender impor alguma forma de autocom- posição (mediação ou conciliação) a Marcus? Para solucionar a situação-problema, você precisará: 1°. Compreender as formas modernas de resolução das lides. 2°. Entender as noções básicas que regem a arbitragem. 3°. Aprender as regras gerais que norteiam a mediação e a conciliação. Agora que você conheceu a nova situação-problema proposta, é impor- tante aprofundar seus conhecimentos teóricos, que o auxiliarão a solucionar a questão. Então, vamos começar? Como consequência da proibição do exercício arbitrário das próprias razões, modernamente entendeu-se por bem atribuir ao Estado, de forma precípua, a função de pacificação dos conflitos. As partes não mais podem, como regra, utilizar-se da autotutela para solucionarem as lides instauradas, devendo, para tanto, fazer uso das fontes de resolução de conflitos expressa- mente previstas para tanto. Cada país tem seu ordenamento jurídico, no qual são estabelecidas as regras de conduta a serem seguidas por seus membros, bem como, na hipótese de desrespeito a tais regras, quais serão os meios válidos para que sejam pacificados os litígios instaurados. Assim, será o poder estatal de cada país que estabelecerá as formas de solução de litígios. Modernamente, é correto afirmar que predomina a noção de que a ativi- dade pacificadora de conflitos é função do Estado. Em virtude de tal premissa, Wambier e Talamini (2014, p. 96) afirmam que: Não pode faltar Seção 1.2 / Fontes e métodos alternativos de resolução - 27 [...] essa nítida preferência pela solução jurisdicional estatal dos conflitos de interesses faz com que se afirme, na doutrina, que a jurisdição é monopólio do poder estatal. É preciso esclarecer, todavia, que esse caráter monopolizador da atividade jurisdicional do Estado não impede que, autorizados por lei, possam os interes- sados optar por meio não estatal de exercício da jurisdição. “ Dinamarco, no mesmo sentido, completa: [...] a solução de conflitos não é atividade exclusiva do Estado, mediante a oferta da tutela jurisdicional estatal. São crescentes a valorização do emprego dos meios não judiciais de solução de conflitos, ditos meios alternativos (ou paralelos à atuação dos juízes), como a arbitragem, a conciliação e