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LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA UMA ANÁLISE DE CONTEÚDO E PROCEDIMENTOS DE ENSIN

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE 
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES 
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA 
d--
Livro didático de História: 
uma análise de conteúdos e procedimentos de ensino 
ALCINEIDE TEODÓSIO DA SILVA 
NATAL / RN 
ALCINEIDE TEODÓSIO DA SILVA 
Livro didático de História: 
análise de conteúdos e procedimentos de ensino 
Monografia apresentada como 
requisito da disciplina Pesquisa 
Histórica II, do Curso de História, 
Licenciatura e Bacharelado da 
Universidade federal do Rio Grande do 
Norte, sob a orientação do professor 
doutor Raimundo Nonato Araújo da 
Rocha. 
NATAL (RN) 
2005 
SUMARIO 
1. INTRODUÇÃO 04 
2. O LIVRO COMO OBJETO DO CONHECIMENTO 10 
2.1. A função do livro hoje e a concorrência com a multimídia 10 
2.2. A fabricação do livro 17 
2.3. Como surgiu o livro 23 
2.4. A ampliação das fontes 29 
3. O LIVRO DIDÁTICO E O CONHECIMENTO ESCOLAR 34 
3 . 1 . 0 livro como mercadoria 34 
3.2. O livro como instrumento pedagógico 36 
3.3. O livro como depositário de conteúdos 40 
3.4. A ideologia no livro didático 44 
3.5. Como o livro tem sido usado 46 
3.6. A trajetória do livro didático e da disciplina de história 48 
4 ANALISES DOS LIVROS DIDÁTICOS 54 
5. CONCLUSÃO 74 
6. FONTES E REFERENCIAS 79 
4 
1 -INTRODUÇÃO 
Este trabalho tem por objetivo principal analisar os conteúdos dos livros didáticos de 
história para o ensino médio, produzidos contemporaneamente e utilizados nas escolas estaduais 
do município de Parnamirim, percebendo se estão em conformidade com as diretrizes 
curriculares nacionais, produzidas pelo Ministério da Educação e Cultura a partir do ano de 1998. 
O tema que norteia a abordagem do trabalho é o livro didático. A opção por estudar o 
livro didático se deu a partir da constatação de que este "objeto cultural" apresenta diferentes 
possibilidades de analise, além do mais, também apresenta "uma natureza complexa", pois nos 
fornece inúmeras informações. De acordo com BITTENCOURT: 
A complexidade da natureza desse produto cultural explica com maior precisão 
o predomínio que exerce como material didático no processo de ensino e na 
aprendizagem da disciplina, qualquer que seja ela. {...} Mas para entender o 
papel que o livro didático desempenha na vida escolar, não basta analisar a 
ideologia e as defasagens dos conteúdos em relação à produção acadêmica ou 
descobrir se o material é fiel ou não às propostas curriculares. Pra entender um 
livro didático é preciso analisá-lo em todos os seus aspectos e contradições.1 
Além das diversas possibilidades de analise oferecidas pelo livro didático, esse objeto 
também tem feito parte de minha vida escolar, como estudante e principalmente como 
profissional. Desde que comecei a lecionar, o livro didático sempre esteve presente em minha 
prática cotidiana como o principal e, muitas vezes, o único recurso pedagógico disponível. 
O livro me foi apresentado para ser utilizado como um manual, cujo conteúdo era trabalhado em 
sala com algumas adaptações à realidade dos alunos. 
Na Universidade, era comum alguns professores levantarem discussões fazendo sérias 
críticas à História veiculada nos livros didáticos e amplamente ensinada nas escolas. Uma história 
construída a partir de um imaginário nacional, muitas vezes, bastante diferente da produção 
acadêmica. Eles criticavam também, a maneira como esses manuais são, comumente, utilizados 
pela maioria dos professores. Isso me deixava intrigada e até insegura quanto à prática de sala de 
aula. 
1 BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. p. 72. 
5 
Das incertezas de minha prática como professora poli valente e hoje específica da 
disciplina de História, sempre atuando com o livro didático, das angustias surgidas nas discussões 
acadêmicas e das diversas leituras realizadas durante a formação universitária e em cursos de 
capacitação para professores, surgiram alguns questionamentos como, por exemplo, porque o 
livro didático desempenha uma função preponderante na prática pedagógica? Por que seu uso se 
dá de forma tão limitada? Por que a história difundida pelo livro é parcial, limitada e factual? Que 
habilidades e competências são possíveis desenvolver nos alunos a partir da exploração do livro 
didático? 
As incertezas e os questionamentos me instigaram a investigar o livro didático 
refletindo sobre o seu papel na longa tradição da educação escolar assim também como do 
professor e do estudo da História no processo de ensino e na aprendizagem de habilidades e 
competências. 
De acordo com as diretrizes formuladas pelo Ministério da Educação e Cultura através 
dos parâmetros curriculares nacionais, o ensino deve estar voltado para a construção de 
habilidades e competências. Mas para quê esse ensino proposto no documento se efetive, se torne 
realidade na prática da sala de aula é fundamental que o professor esteja preparado e que de 
preferência conte com um bom livro didático que o auxilie a atingir tais objetivos. Nesse sentido, r 1 ' 
Ramalho explica que: 
Organizar um currículo em termos de competências significa educar os alunos 
para um saber fazer reflexivo, crítico, baseado na pesquisa da pratica, no 
contexto de seu grupo social, questão que significa colocar a educação a serviço 
das necessidades reais dos alunos para sua vida cidadã e sua preparação para o 
início do exercício da profissão, na medida em que se estabelece um 
isomorfísmo entre a formação inicial e as tarefas para as quais se prepara o 
futuro profissional. 2 
Os livros produzidos no século XIX e em boa parte do século XX, eram organizados 
para uma aprendizagem decorativa e mnemônica, isso porque a cultura da época impunha essa 
forma de organização. Já no século XXI, a aprendizagem se dá de uma outra forma. Não se exige 
mais a memorização de fatos e informações e sim a compreensão dos diversos conhecimentos. 
2 RAMALHO, apud. Costa. A história no ensino médio. p. 12. 
6 
No caso dos livros e do ensino de História a organização do currículo deve ser 
pensado de modo a contemplar o desenvolvimento das diversas habilidades e competências como 
por exemplo: a observação, a investigação, a analise, a comparação, a argumentação, a síntese, a 
criatividade, a interpretação, a avaliação, a formulação de hipóteses, a generalização, entre outras. 
Para a formação de cidadãos críticos e conscientes, preparados para a vida adulta e 
inserção autônoma na sociedade é de fundamental importância que o professor e o livro didático 
incentivem continuamente o aluno e a construir suas próprias reflexões a cerca dos 
conhecimentos estudados e adquirirem competências e habilidades intelectuais por meio da 
valorização e assimilação de conceitos que evitem a pura memorização. 
Para a realização do trabalho, após ter sido definido o tema, foi feita uma pesquisa à 
cerca dos trabalhos existentes que tratam do livro didático. Na área de Historia, foi encontrada 
apenas a monografia de Ângelo José Valença de Andrade denominada, Livros didáticos do 
ensino fundamental e ensino médio: instrumentos de alienação ou libertação? (1970-2000) 
produzida em 2000. 
Em seguida recorri à biblioteca do CCSA, onde encontrei o trabalho de João Maria 
Valença de Andrade, por coincidência, irmão de Ângelo. O trabalho denominado Que História é 
essa? Análise de livros-textos de história para o ensino de primeiro grau é uma dissertação de 
Mestrado apresentada ao Departamento de Educação da UFRN, em 1992. O trabalho se dedica a 
averiguar a cientifícidade do ensino da História através dos livros didáticos. 
O terceiro trabalho foi cedido pelo professor orientador Raimundo Nonato. O trabalho 
intitulado Versões didáticas da História indígena (1870-1950) é de autoria de Adriane Costa da 
Silva. Trata-se de uma dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Educação da 
Universidade de São Paulo na área deDidática, no ano de 2000. 
Terminado o levantamento, recolhimento e leitura dos trabalhos encontrados sobre o 
livro didático, eles foram reservados para serem utilizados num segundo momento, primeiro, 
trataremos do livro. 
Em seguida, foi feita a seleção e leitura de algumas obras que tem como objeto de 
estudo o livro. Para a constituição do capitulo que fala sobre o livro foram utilizados como 
referência os seguintes trabalhos: História & livro e Leitura de André Belo; Uma história da 
leitura de Robert Darnton e a obra de Roger Chartier, Cultura Escrita, Literatura e História. De 
modo geral, as obras tratam das mudanças do livro e da leitura na sua história de longa duração. 
7 
Conforme explica Belo, o termo livro é uma metáfora comumente utilizada para 
denominar um suporte da escrita. Livro é uma palavra de origem latina derivada de líber que 
denomina o alburno, parte clara do tronco das árvores situada entre o miolo e a casca que 
antigamente serviu de suporte para a escrita. Hoje, chamamos de livro, o códice com folhas de 
papel que antigamente substituiu o rolo - suporte do texto feito em couro ou pele de animais. Da 
mesma forma, chamamos de livro digital o suporte eletrônico do texto que atualmente faz 
concorrência ao códice - que é o livro impresso. 
Sendo assim, desde o seu surgimento o livro tem adquirido diferentes formatos, tem 
feito uso de diferentes suportes, tem imposto diversos modos de ler e escrever têm assumido 
diferentes funções, tem feito concorrência e sofrido concorrências, tem sido objeto de luxo e 
proibições. Mas apesar de tantas mudanças, o livro continua sendo indiscutivelmente o mais 
antigo e difundido veículo de comunicação da história cultural. 
Para a discussão sobre o livro didático e sobre o livro didático de História foram 
utilizados os trabalhos acadêmicos anteriormente citados e o trabalho recente de Gilvânia Dantas 
de Melo Costas, denominado A História no ensino médio: um confronto entre o currículo 
proposto por livros didáticos e o currículo proposto pelo MEC. O trabalho é uma monografia de 
Especialização apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade 
Federal do Rio Grande do Norte, no ano de 2005. 
Além dos referidos trabalhos, acadêmicos também foram utilizados como referência 
dois estudos da professora Circe Maria Fernandes Bittencourt, intitulados respectivamente de: 
Livros didáticos entre textos e imagens, parte integrante da coletânea O saber histórico na sala 
de aula: Conceitos, práticas e propostas, publicado no ano de 2003; O trabalho da professora 
Kátia Abud, pertence a I a coletânea de Bittencourt e é denominado Currículos de História 
políticas públicas: Os programas de História do Brasil na escola secundária-, o estudo de 
Kazumi Munakata, História que os livros didáticos contam, depois que acabou a ditadura no 
Brasil, pertence à coletânea Historiografia brasileira em perspectiva, publicado em 1998; a obra 
de Encarnacíon Sobrino cujo título é Ideologia e educação: reflexões teóricas e propostas 
metodológicas-, a obra de Roger Chartier, intitulada A História cultural: entre práticas e 
representações, publicada no ano de 1990; e por fim, os Parâmetros curriculares nacionais -
História - lançados em 1998. 
O 
. . w . . 
O livro didático^urgiu ainda na primeira metade do século XIX juntamente com a 
História disciplina e a História acadêmica. No momento em que o país se organizava como 
nação, seus objetivos visavam contribuir para a construção de uma identidade nacional. O livro 
didático estava vinculado à necessidade do aumento da escolaridade, sendo assim, o principal 
difusor do ideário nacional. Por apresentar os conhecimentos históricos sistematizados, o livro 
era amplamente utilizado como um manual por professores e estudantes. 
Desde que surgiu que o livro didático tem se constituído no principal recurso 
pedagógico utilizado por docentes e estudantes nas mais diversificadas situações de ensino.O 
livro desempenha o papel de mediador entre as diretrizes constantes dos currículos oficiais e o 
conhecimento ensinado na escola. Através dos currículos oficiais e da larga distribuição e 
utilização dos livros didáticos, o governo consegue manter o controle sobre a educação escolar. 
Hoje, o livro didático tem presença marcante na prática escolar. Chega a ser 
considerado referencial básico de ensino por professores, país e alunos. Entretanto, seu uso tem 
se dado de forma variada. Muitos docentes ainda utilizam o livro como um manual, cujo 
conteúdo é seguido à risca. Outros, não o adotam em sua prática de sala de aula. Alguns o 
utilizam como um documento que oferece diferentes possibilidades de análise e de interpretações. 
No decorrer deste trabalho, o livro didático será discutido tanto como um documento, 
produzido na época contemporânea e sujeito de uma história da indústria editorial e da educação 
escolar, assim também, como uma ferramenta pedagógica utilizada como auxiliar na prática de 
ensino e aprendizagem. 
Do ponto de vista empírico, foram utilizadas para a realização da terceira parte do 
trabalho, as seguintes fontes: dois livros de história destinados ao ensino médio e utilizados nas 
escolas estaduais do município de Parnamirim, e o Guia de Livros Didáticos 2005 de História. 
Os livros utilizados foram: História: de olho no mundo do trabalho, de autoria de Heródoto 
Barbeiro, Bruna Renata Cantele e Carlos Alberto Schneeberger e História para o Ensino Médio-
Brasil e Geral, de autoria de Gilberto Cotrim. Procuramos identificar a forma de seleção dos 
conteúdos e dos objetivos que norteiam as obras. Assim também, como a forma de estruturação 
dos capítulos e a inserção das diretrizes para o Ensino Médio. Ao mesmo tempo, foi realizada a 
análise das diretrizes propostas pelo MEC. 
Para realização da terceira etapa do trabalho a princípio foi efetivada uma sondagem 
acerca dos livros didáticos utilizados no Ensino Médio nas escolas estaduais. Em seguida foram 
9 
coletadas as amostras para a realização das análises. Nas obras procurou-se identificar os critérios 
de seleção dos conteúdos e objetivos, a concepção de história utilizada, a estruturação dos 
capítulos e o tratamento concedido às fontes. 
Após a análise das primeiras fontes, partimos para a investigação dos parâmetros 
curriculares nacionais de história, sempre procurando identificar a concepção de história que 
norteia a proposta oficial do governo expressa no documento. Assim também como a indicação 
dos objetivos e conteúdos de ensino e os procedimentos metodológicos para o trabalho em sala de 
aula. 
Concluída a análise das fontes, passamos ao confronto do que é sugerido pelas 
diretrizes curriculares nacionais para o ensino Médio com a estrutura curricular dos livros 
analisados. 
O trabalho está estruturado em três capítulos. No primeiro capítulo trataremos do livro 
enquanto objeto do conhecimento. Começaremos falando das diferentes funções do livro numa 
atualidade marcada pela concorrência da multimídia e principalmente, do livro digital. Em 
seguida recuaremos às origens, à difusão e às formas de fabricação do livro. Por último, 
enfatizamos a necessidade da ampliação das fontes para a investigação atual, ultrapassando os 
limites tradicionais do livro impresso e da história européia e estendendo-se a outras regiões, 
épocas, meios de comunicação e suportes da escrita. 
No segundo capítulo, abordaremos o livro didático, enfatizando suas diferentes faces 
de análise: falaremos do livro como um produto lucrativo da indústria cultural, como um suporte 
sistematizador dos conteúdos escolares, como um poderoso instrumento pedagógico inscrito na 
tradição da educação escolar. Além disso, trataremos também da trajetória do livro didático e do 
ensino de história na educação brasileira. 
No terceiro e último capítulo analisaremos os conteúdos de dois livros didáticos dehistória destinados ao Ensino Médio, observando se os conteúdos propostos estão em 
consonância com as atuais diretrizes contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais 
estabelecidas pelo Ministério da Educação e Cultura - MEC. 
10 
2. O LIVRO COMO OBJETO DO CONHECIMENTO 
2.1. A função do livro hoje e a concorrência com a multimídia 
O livro é o veículo de informação, de idéias e de conhecimento mais antigo e 
tradicional que existe. O livro é objeto da comunicação escrita que faz parte da história cultural 
das mais diferentes culturas e sociedades desde a Antigüidade. Sendo assim, o livro constitui uma 
das mais ricas e extraordinárias fontes sobre o passado da humanidade que um investigador, um 
estudante, um historiador ou qualquer pesquisador possa recorrer. 
No decorrer de sua história milenar, o livro foi e continua sendo instrumento de 
mudanças e construção de mentalidades como também já passou por inúmeras mudanças nos 
mais diversos aspectos. Em alguns momentos da história as mudanças foram mais simples, em 
outros, mais ousadas e em outros momentos causaram uma verdadeira revolução. Este é o caso da 
era da cultura impressa, criada com a invenção da Imprensa no século XV na Europa e mais 
recentemente, a era da cultura digital, criada com a invenção do computador e da informática no 
século XX. 
As bruscas transformações trazidas pelo uso da informática em todas as atividades 
ligadas ao livro geraram expectativas e discussões, mas principalmente, fez crescer muito nas 
últimas décadas do século XX, o interesse pelos estudos na área da história do livro. A revolução 
digital provocada pelo computador e pela Internet atingiu desde o "processo de escrita à edição, 
da venda à conservação em bibliotecas, da propriedade intelectual até os modos de ler".3 
Na realidade, desde que o homem começou a utilizar a escrita para se comunicar que 
a maneira de produzir e reproduzir os textos, o suporte da escrita e os modos de ler mudaram e 
mudam, muitas vezes, em conseqüência das inovações tecnológicas. Na maioria das vezes essas 
mudanças trazem consigo, de acordo com a época e o contexto social, novos hábitos, novas 
oportunidades para o leitor e até diversas funções para o livro. 
No período anterior a invenção da imprensa, a confecção de um livro era algo 
semelhante a fabricação de uma obra de arte. Era uma atividade demorada e trabalhosa que exigia 
do escriba grande habilidade, paciência e requinte. Na grande maioria das vezes, era 
3 BELO, André História & Livro e leitura, p.17. 
11 
confeccionado um único exemplar de uma obra o que a tornava um objeto único, exclusivo, raro 
e caro. Tal relíquia pertenceria também a um único, exclusivo, privilegiado e rico leitor. Nesse 
caso, mesmo que o proprietário do livro compartilhasse sua leitura, lendo em voz alta - prática 
muito comum na época - para outras pessoas como os familiares e os amigos, ainda assim, o 
conhecimento do conteúdo da obra ficava restrito a um pequeno e privilegiado grupo de pessoas e 
a uma só região. 
Com a invenção da imprensa, o livro manuscrito continuou sendo fabricado, lido e 
principalmente, servindo como referência para a fabricação e organização do livro impresso por 
longo tempo. Porém, a tipografia reduziu o tempo gasto na fabricação de um livro e também 
multiplicou o número de exemplares produzidos de uma mesma obra. Os livros tornaram-se 
múltiplos, mais baratos e conseqüentemente mais acessíveis. Provocando a expansão do mercado 
e levando pessoas com mais condições a comprar obras para ler individualmente e também para 
formar uma biblioteca particular. 
Mas e antes da imprensa e do códice? Se voltarmos à Antigüidade, perceberemos que 
a escrita já teve outros suportes e o livro já teve outras formas e funções. Na Grécia e em Roma, 
por exemplo, qualquer tipo de texto era normalmente escrito nos rolos, mas, quando se tratava da 
escrita de cartas particulares, usavam as tabuletas de cera, que podiam facilmente ser apagadas e 
reescritas inúmeras vezes. Por serem reutilizáveis, as tabuletas de cera eram muito mais práticas e 
econômicas do que os rolos. Mais tarde, as tabuletas foram substituídas por um tipo de livrete, ou 
folhas reunidas de pergaminho fino, muito usado para fazer cartas ou anotações rápidas. 
Já em torno do século III em Roma, esses pequenos livros mudaram de função pois 
deixaram de ser usados para fins corriqueiros e funcionais e passaram a ser valorizados pela 
beleza da ornamentação. De acordo com Manguei esses livretes eram 
"encadernados em chapas de marfim finamente decoradas, eram oferecidas 
como presente a altos funcionários, quando de sua nomeação; acabaram-se 
tornando presentes particulares também, e os cidadãos ricos começaram a se 
presentear com livretes nos quais escreviam um poema ou uma dedicatória. 
Logo, os livreiros empreendedores começaram a fazer pequenas coleções de 
poemas - pequenos livros de presente cujo mérito estava menos no conteúdo do 
que na elaboração ornamentada"4. 
4 MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura, p. 152. 
12 
Na Idade Média, devido a grande religiosidade da época, um dos livros mais comuns 
entre os europeus era o livro de orações pessoais ou o livro de horas. Esses pequenos volumes 
manuscritos ou impressos, de confecção simples ou luxuosa, continham uma série de serviços 
curtos chamados oficio menor da abençoada Virgem Maria. Esse ofício era constituído por hinos, 
um calendário, o ofício do mortos, orações especiais para os santos e diversos trechos da Bíblia, 
os quais eram declamados, várias vezes, durante o dia e a noite.5 Esses pequenos livros eram 
possuídos por crianças e adultos e utilizados em orações particulares ou nas cerimônias públicas 
da Igreja. 
Nos dias atuais, a Bíblia e a Harpa Cristã dos evangélicos têm função semelhante a do 
livro de horas da Idade Média. São pequenos volumes impressos, geralmente de capa preta e sem 
luxo. São lidos, declamados ou cantados, no caso da Harpa, por crianças e adultos seja em 
momentos de reflexão íntima, seja em momentos de estudo coletivo, ou ainda para acompanhar o 
culto.A Bíblia e a Harpa Cristã são objetos de estudo e devoção essenciais e inseparáveis do 
evangélico fiel. Há pessoas evangélicas que nunca leram um livro, que não se interessam por 
nenhuma leitura a não ser a da Bíblia, ou que aprenderam a ler só para poder ler a Bíblia que é a 
palavra de Deus. A simples posse de uma Bíblia pode conceder aos evangélicos uma certa 
superioridade e maior credibilidade em relação aos não-evangélicos. É tanto que até os 
evangélicos analfabetos andam com a Bíblia em mãos evangelizando com uma autoridade como 
se fossem profundos conhecedores das escrituras, mesmo sendo incapazes de decifrar uma única 
palavra. 
Da mesma maneira que os livros portáteis, como o livro de horas, tinham uma 
determinada função numa atmosfera de grande fervor religioso, os livros de grande porte 
realizavam outras funções. Um bom exemplo são os grandes volumes, fabricados pela Igreja 
Católica no século V. Os livros de culto - corais, missais ou antifonários - eram livros gigantes 
escritos manualmente com letras ou notas musicais grandes o suficiente de modo a permitir a 
leitura clara e fácil pelo grande público leitor a uma distância considerável. 
Esses grandes volumes ficavam expostos no meio do coro sobre um atril, 
estrategicamente posicionados para que os fiéis presentes tivessem boa visibilidade e pudessem 
acompanhar coletivamente, sem nenhuma dificuldade de seus assentos ou posições, as leituras 
5 MANGUEL, Alberto. Op. Cit, p. 153. 
13 
dos versículos, das orações e dos cânticos de louvor. Eram livros destinados às práticas públicas 
de devoção coletiva na Igreja. 
Independentemente do tamanho, os livros manuscritos, principalmente, os iluminados 
eram objetos de luxo, eram caros, raros e muitas vezes exclusivos. Eram, portanto, poucasas 
pessoas, além dos ricos que possuíam livros. Assim, a fortuna de uma família passou a ser 
simbolizada pelos objetos de valor que possuíam, como as camas sofisticadas e os livros 
finamente decorados. 
Comumente, os fidalgos deixavam em testamentos livros diversos, Bíblias e camas, 
como herança para os parentes. Entre os poucos bens que as mulheres tinham direitos, os seus 
livros eram geralmente deixados como herança para as filhas. Já os livros mais valiosos, como as 
Bíblias e os livros de hora iluminados, por constituírem bens de família, estavam incluídos por 
direito, segundo a tradição, na herança do filho mais velho. 
Até o século XTV somente os nobres e o clero podiam possuir livros. Os primeiros, 
porque eram bem instruídos e podiam comprá-los e o segundo, controlava a educação e a 
confecção dos livros. A partir de então, perderam a exclusividade. 
A burguesia ascendente tentando se igualar à nobreza procurou viver como tal, 
passando a adquirir bens e objetos possuídos pelos nobres: compravam títulos nobiliárquicos, 
livros, camas, lençóis bordados e tudo que lhes concedessem, mesmo que aparentemente, à 
condição de nobres. Não bastava apenas possuir fortuna, era preciso ser donos de camas e livros 
ricamente ornamentados, objetos que simbolizavam riqueza material, posição social, requinte e 
autoridade intelectual. 
Da mesma maneira que ocorria nos séculos passados, nos tempos atuais os objetos, 
sejam ou não de valor, inclusive os livros também tem uma função simbólica grande para as 
pessoas. No entanto, no caso dos livros essa representação não ocorre de forma tão simples. 
Existe uma espécie de magia, de encantamento e de poder em torno do livro que produz nas 
pessoas e em especial nos leitores, uma certa sedução e um sentimento de status, de crescimento, 
de superioridade em relação às outras pessoas. Ser donos de livros ou aparentar que os possui, 
mesmo que nunca os tenha lido que não conheça o conteúdo de uma só obra, sugere boa situação 
social, sofisticação e intelectualidade. 
14 
Tão grande e significativo é o simbolismo do livro que as pessoas se submetem a 
qualquer coisa para obter as vantagens provenientes de seu prestígio. De acordo com 
MANGUEL, 
Na Rússia do século XVIII, durante o reinado de Catarina a Grande, um certo 
senhor Klostermann fez fortuna vendendo longas fileiras de encadernações 
recheadas de papel velho, o que permitia aos cortesãos criar a ilusão de uma 
biblioteca e assim obter o favor de sua imperatriz letrada'"5 
Na contemporaneidade, também é comum as pessoas fazerem uso de livros na decoração 
de casas, apartamentos e escritórios. O objetivo é deixar o ambiente com uma aparência 
requintada a altura da posição e intelectualidade dos proprietários .Nos filmes ou nas novelas,as 
famílias aristocráticas ,os personagens ricos ou que aparentam ser ricos geralmente moram em 
mansões na quais a sempre uma bela biblioteca ou um escritório com estantes enormes repletas 
de livros que vão simbolizar e ao mesmo tempo justificar a riqueza, o status, e o poder intelectual 
dos personagens. 
As belas bibliotecas continuam em pleno século XXI sendo privilégio das residências 
ricas, das elites e até dos cenários dos programas de televisão. No entanto, isso não significa que 
após a imprensa, a produção de livros e textos impressos não tenha se multiplicado a níveis até 
então nunca vistos. Se antes da imprensa os leitores se sentiam privilegiados por possuírem 
objetos raros, a nova técnica de produção e reprodução dos textos não só pós fim a tal regalia, 
com o barateamento e a multiplicação dos textos, como proporcionou um maior acesso desse 
material a um público leitor antes excluído, tanto porque não podiam comprar como porque não 
tinham instrução. 
Para os leitores emergentes, as vantagens trazidas pela imprensa ao mundo da edição 
tornaram os livros mais acessíveis e símbolos mais de cultura, de conhecimento, de 
intelectualidade do que propriamente de fortuna e posição social. Além de objetos de estudo, os 
livros concediam aos novos leitores ascensão intelectual. Era o primeiro passo no sentido de 
diminuir um pouco o abismo intelectual existente entre a classe privilegiada e a população mais 
humilde. Isso porque na medida que os livros se proliferavam e seu acesso ficava mais fácil, mais 
e mais pessoas aprendiam a ler e a escrever. 
6 MANGUEL, Alberto. Op. Cit, p.242. 
15 
Com a industrialização e a informatização dos processos, ocorridos respectivamente 
nos séculos XIX e XX, mais uma vez a fabricação e a publicação dos livros foram dinamizadas. 
Essa dinamização da produção fez com que fossem reduzidos os custos dos materiais utilizados, 
da mão-de-obra, do transporte e conseqüentemente do produto final que o livro. Na era da edição 
digital, o livro é produzido em massa para que uma parcela cada vez mais significativa da 
população possa te acesso. 
Atualmente, seja por motivos econômicos, políticos ou tecnológicos, tanto os livros 
quanto a educação se popularizaram e chegaram a milhares de pessoas antes excluídas. Cada vez 
mais pessoas, ricos ou pobres estão aprendendo a ler, escrever e a pensar para que possam 
exercer de forma plena e consciente a sua cidadania. O acesso à educação, aos livros e aos textos 
impressos e digitais, além de ter se tornado muito maior e mais fácil, a partir da segunda metade 
do século XX, também passou a ser estimulado pelos governantes e pelos meios de comunicação 
de massa. 
Hoje, pressionado por outros países, os governos entendem que uma nação analfabeta 
e ignorante que não lê, não pensa e não cria, só prejudica e retarda o desenvolvimento do país. 
Mesmo porque não adianta investir tanto no desenvolvimento de novas e avançadas tecnologias 
que possibilitam a produção de textos e livros diversos em milhões de exemplares e não investir 
no desenvolvimento intelectual humano. Afinal, o que seria dos livros sem os leitores? O que 
seria de toda riqueza contida nos livros se não puder se multiplicar em cada leitor? O crescimento 
deve ser recíproco e proporcional. Se existe milhões e até mesmo uma infinidade de livros, deve 
existir milhões ou uma infinidade de leitores. 
Assim, hoje, os textos e os livros impressos ou digitais tem uma função nobre e 
essencial que é levar a riqueza do conhecimento ao maior número possível de pessoas em 
qualquer parte do planeta, sem distinção de cor, raça, sexo, idade, religião ou posição social. 
Hoje, existe uma infinidade de livros, jornais, revistas e textos dos mais variados tipos a 
disposição dos leitores seja em bibliotecas públicas, em livrarias, em bancas de jornal ou na 
Internet. A colocação incessante dos mais diferentes tipos de materiais escritos na Internet, que 
antes só eram encontrados na forma impressa, tanto ampliou os tipos de suporte da escrita como 
criou uma nova forma de conservação dos textos. Além disso, criou uma nova modalidade de 
leitura que é a leitura em tela. 
16 
A leitura em tela obriga o leitor a deixar de lado todos os gestos adotados na leitura do 
livro ou texto impresso e adotar outros, exclusivos e coerentes ao manuseio do livro ou do texto 
digital. Com o livro impresso, comumente o leitor mantém uma relação íntima, pessoal e até 
afetiva. Todos os gestos do leitor são realizados manualmente em contato direto com o livro. Se 
desejar o leitor poderá grifar com um lápis ou com um marcador de texto os trechos que julgar 
mais importante e ainda poderá fazer anotações, resumos e comentários nas bordas das páginas. 
Porém, essa liberdade não permite que o leitor escreva no texto modificando ou reescrevendo. 
No texto digital não há o contato direto com o texto. Todas as ações do leitor digital, 
com exceção da leitura, são realizadas eletronicamente pelo computador. Entretanto, apesar do 
distanciamento, o leitor tem grande liberdade e facilidade de manipular o texto digital. Usandoo 
mouse, o leitor pode acessar os mais variados tipos de textos, livros ou imagens que estejam na 
Internet. O leitor pode mudar a ordem dos parágrafos do texto, acrescentar informações, 
reescrevê-lo, pesquisar palavras, títulos ou autores com uma rapidez tão incrível que somente a 
tecnologia dos séculos XX e XXI é capaz de realizar. 
O incrível poder da tecnologia digital da mesma maneira que impressiona por 
possibilitar realização de operações nunca vistas também gera insegurança. A progressiva 
proliferação da representação eletrônica do texto despertou o temor de que o formato impresso do 
livro corre sério perigo. O risco mais imediato e que está gerando muita preocupação, conforme 
os discursos mais comuns, é o de que o texto eletrônico se torne a forma oficial dos textos e que 
num futuro próximo o livro digital venha substituir o livro impresso. Além da perda do livro em 
forma de códice, os discursos também versam sobre a perda da prática da leitura tradicional, ou 
seja, numa época em que tanto a produção quanto o acesso aos livros é maior e mais fácil, as 
pessoas estão lendo bem menos do que em épocas anteriores. 
Porém, apesar da evidente constatação de que o livro e a leitura vêm gradativamente 
perdendo sua hegemonia na transmissão de conhecimentos e que é cada vez maior a concorrência 
entre o livro, o computador e a multimídia em geral, não há motivos para desespero nem tão 
pouco para discursos exacerbados e pouco fundamentados. 
Na era da tecnologia digital e da comunicação de massa, os novos meios de 
comunicação - de tela - não excluem os antigos. Ao contrário, as telas terminam por promover 
todos os tipos de texto, impressos ou não. Um exemplo bem simples e bastante comum são os 
seriados ou filmes baseados em livros já publicados. Alguns seriados como Grande Sertão 
17 
Veredas, A Casa das Sete Mulheres, Guerra de Canudos, quando foram exibidos em rede 
nacional na tela da televisão, tornaram-se conhecidos, no mesmo intervalo de tempo, por um 
público milhares de vezes maior e mais diversificado do que quando existiam apenas forma 
impressa. No final, a mídia termina por estimular a compra e a leitura da obra impressa Por 
pessoas que não a conheciam e a releitura por que já a conhecia. 
Se recuarmos no tempo, perceberemos que com a imprensa não foi tão diferente. Se 
hoje o computador e o texto em tela, são apontados como os vilões da era da cultura digital e 
concorrentes do livro impresso no século XV, a imprensa e o texto impresso eram os vilões, 
rivais do livro manuscrito e alvo de todas as críticas. Com a divulgação da imprensa surgiram 
muitas críticas e discussões a cerca da superioridade das qualidades dos manuscritos. Enquanto o 
livro e o texto impresso eram rejeitados pelos eruditos que julgavam-nos como uma 
"vulgarização" do escrito, ou seja, o que era um privilegio de poucos estava sendo divulgado com 
a impressa. Além disso, não eram poucos os prenúncios de fim dos tempos e da arte dos escribas. 
Porém, ao invés de eliminar, a imprensa terminou valorizando e estimulando a 
disseminação da caligrafia. Quanto mais rápida era a produção mais livros chegavam ao mercado 
e mais fácil era o seu acesso. Com isso, mais pessoas se interessavam em aprender a ler e a 
escrever bem segundo as regras da boa escrita. Além disso, a maior parte dos livros impressos 
antes do século XVI, - os incunabula7 - procuravam reproduzir a arte e o estilo que os escribas 
usavam nos livros manuscritos. Tanto o desenho da letra era muito parecido com o manuscrito, 
como também era comum que após ser impresso o livro fosse ornamentado com títulos de 
capítulos desenhados a vermelho ou as iniciais enfeitadas com requinte8. Tudo isso, tornava o 
livro impresso muito parecido com o livro manuscrito, o que terminava ajudando a promover a 
arte da caligrafia. 
Talvez o objetivo não fosse esse, contudo, a semelhança podia conferir ao livro 
impresso, o mesmo ou quase o mesmo valor e prestígio desfrutado pelo tradicional manuscrito. 
Isso facilitava a aceitação do impresso pelo público leitor, tão exigente quanto defensor do 
manuscrito. 
2.2. A fabricação do livro 
7 MANGUEL, Alberto. Uma História da leitura, [s. n. t.] 
8 BELO, André. História & Livro e leitura, [s.n.t.] 
18 
Assim como os meios de transmissão dos textos não são os mesmos desde a criação 
da escrita, pois alguns vão ficando para trás, superados e substituídos por novos e mais eficientes 
inventos e descobertas, os modos de fabricação do livro também mudam acompanhando os 
avanços tecnológicos em cada época. Hoje todos os processos de fabricação de um livro ocorrem 
de forma inteiramente mecânica. A industrialização e a informatização dos processos produziram 
extraordinárias transformações no mundo da edição. 
Entretanto, antes de falarmos da reprodução tipográfica e das mais modernas técnicas 
de reprodução digital, começaremos por falar do livro numa época bem anterior a invenção da 
imprensa. Não podemos falar da fabricação do livro na forma que conhecemos hoje e esquecer 
que ele já teve outros formatos antes do códice e que a escrita também já fez uso de outros 
suportes, antes do papel e do pergaminho. Em outras épocas, materiais como a cerâmica, o 
marfim, as conchas, as folhas de palmeiras e os tecidos, foram muito usados como suporte do 
texto. Na Mesopotâmia, por exemplo, há 3.000 a.c., os textos eram escritos com um estilete em 
tabuinha de argilas. Em Roma e na Grécia, a forma comum do livro era o rolo usado para a 
escrita de todo tipo de texto. 
Essas tabuinhas usadas pelos povos da antigüidade podem ser consideradas uma 
forma de livro, produzidas e reproduzidas nas oficinas dos copistas. De cera ou de argila, por 
serem reutilizáveis, as tabuinhas tornavam-se mais práticas, baratas e fáceis de produzir do que o 
papiro e pergaminho. Na Idade Média, apesar de existirem outros materiais como o pergaminho 
e, posteriormente, o papel, as tabuinhas de cera resistiram e continuaram por um longo período 
sendo muito usadas para anotações diversas como a realização de contas, de listagens e cartas. 
Enquanto as tabuletas eram feitas de cera ou de argila, os rolos, forma comum dos 
livros na Antigüidade, podiam ser feitos de papiro, pergaminho ou de velino. O papiro é 
considerado um longínquo antecessor do papel e era feito pelos egípcios a partir de um tipo de 
junco. Já o pergaminho e o velino eram feitos de peles de animais, como ovelhas, carneiros e 
cordeiros, porém por meio de processos de fabricação diferenciados. Para a fabricação do códice, 
surgidos entre os séculos II e IV d.C., também eram usados tanto papiro quanto o pergaminho e o 
velino9 1 0. No entanto, códices feitos de papiro não eram muito comuns, já que esse material era 
9MANGUEL, Alberto. Op. cit, p. 370. O códice em velino mais antigo que existe é uma Ilíada grega do século III d. 
C. (Biblioteca Ambrosiana em Milão). 
19 
frágil e se quebrava com facilidade, o que o tornava inconveniente para ser dobrado em 
brochuras. Diante das limitações do papiro, o pergaminho se tornou muito mais adequado à 
fabricação do livro, fosse em forma de rolo ou fosse em forma de códice. 
Não se sabe ao certo quando o pergaminho foi inventado e quando começou a ser 
usado como suporte do texto, mas os pergaminhos mais antigos existentes são documentos do 
século I a.C. Apesar da antigüidade, o pergaminho só se impôs como o material mais usado pelos 
europeus para fabricação do livro a partir do século IV. Desde então, sua supremacia só foi 
abalada no século XII, quando o papel, inventado na Itália chegou para lhe fazer concorrência e 
finalmente substituí-lo. 
Assim, como o pergaminho se tornou o material mais propício à produção textual, o 
códice se tornou a forma mais prática já adquirida pelo livro.Assim, nada impediu que o códice 
de pergaminho se propagasse e se tornasse a forma comum dos livros. A substituiçãodo rolo não 
foi imediata, contudo, o códice de pergaminho passou a ser o tipo de livro preferido pelos leitores 
que logo perceberam as suas qualidades e vantagens. 
O rolo comportava uma porção limitada de texto, assim como ocorre hoje com o texto 
na tela do computador. Tratando-se de um texto grande, era necessário escrevê-lo em mais de um 
rolo, o que deixava o texto e a leitura fragmentados. Dessa forma, um livro era constituído, ou 
melhor, dividido em diversos rolos. Se um dos rolos fosse perdido, danificado ou destruído, o 
livro ficava incompleto. Com o livro em forma de códice, esse perigo foi eliminado, pois por ser 
constituído por inúmeras folhas que podiam ser escritas dos dois lados, o texto foi unificado num 
único objeto / livro. 
O códice permitiu que o texto fosse organizado em capítulos com itens e subitens e 
que as páginas fossem numeradas, facilitando a localização de qualquer trecho, ou parte do texto. 
Além disso, o códice podia ser lido, escrito e manuseado com muito mais facilidade e praticidade 
do que os tradicionais rolos. 
Em torno do ano 400 d.C., prevalecia era a produção de códices, ou seja, livros feitos 
a partir da reunião de folhas retangulares, a princípio de pergaminho e depois de papel. De acordo 
com Manguei, "no século XVI, os formatos das folhas dobradas já haviam se tornado oficiais: na 
1 0 O códice em velino mais antigo que existe é uma Ilíada grega do século III d. C. (Biblioteca Ambrosiana em 
Milão). 
França, em 1527, Francisco I decretou tamanhos-padrões de papel em todo o reino; quem 
infringisse a regra era jogado na prisão"1 1. 
O códice até os dias atuais, mesmo com a concorrência do formato digital, continua 
sendo a forma oficial e principalmente ideal do livro. Se o códice superou os antigos formatos do 
livro e até hoje não foi superado por nenhum outro é porque reúne um conjunto de qualidades que 
nem mesmo o novo e revolucionário formato digital possui. 
A fabricação de um livro manuscrito fosse em pergaminho, entre os séculos IV a XI, 
ou em papel entre os séculos XII até meados do século XV, decorria basicamente da mesma 
forma. Independentemente do tamanho e do tipo do livro desejado, tudo era feito manualmente 
por pessoas que dominavam perfeitamente a técnica. 
A princípio o texto era escrito em uma primeira versão com uma pena de ganso 
freqüentemente umedecido num tinteiro. Depois ele era transcrito também a mão com uma pena 
de ganso por um copista cuja caligrafia fosse suficientemente bonita e compreensiva. Finalizada a 
transcrição definitiva do texto, o livro era ornamentado com letras iniciais e títulos de capítulos 
delicadamente decorados e pintadas de vermelho. Tudo era feito com a delicadeza de uma obra 
de arte. Após os retoques finais, as folhas eram costuradas e o livro poderia ser encapado. 
Finalmente o livro estava pronto para ser vendido, lido e muito bem guardado, já que era um 
objeto precioso. No caso da confecção dos sofisticados livros de horas, muitos dos quais feitos 
sob encomenda, de acordo com o gosto e os recursos do cliente, o trabalho era ainda mais 
minucioso, refinado e demorado. Alguns desses livros eram personalizados e iluminados e 
podiam conter além de uma ornamentação luxuosa, o retrato do leitor, o brasão da família ou 
ilustrações que contavam passagens bíblicas. Muitos manuscritos medievais se constituem 
autênticas obras de arte, feitas pelas mãos habilidosas dos artistas da arte gráfica. 
Como na Idade Média a educação e a cultura eram dominadas pela igreja, a atividade 
de ler e escrever era restrita quase que exclusivamente ao clero. Por isso, eram os monges 
copistas e iluminadores que fabricavam pacientemente os livros nos mosteiros. Dessa forma, 
levava-se muito tempo para fazer um livro de cada vez e muitas vezes era confeccionado apenas 
um exemplar de uma obra. Daí a raridade, a exclusividade da propriedade e o encarecimento dos 
volumes manuscritos que eram comprados e possuídos por pessoas muito ricas. Tratando-se da 
reprodução de uma obra, o processo utilizado era o mesmo. Depois de pronto, o livro era 
1 1 Francisco I, Letters deFraçois I au Pape (Paris, 1527). Apud. Manguei, p. 152. 
21 
reproduzido também manualmente por um copista. Nesse tipo de reprodução, mesmo o copista 
trabalhando pacientemente com toda a atenção era muito comum a existência de erros nas 
transcrições. 
Na época do manuscrito, mesmo os copistas trabalhando arduamente, a produção 
livresca era muito limitada. Esse quadro só começou a ser modificado a partir da invenção de 
Gutemberg.12 
A invenção da imprensa, ocorrida por volta da metade do século XV na Europa, 
causou uma verdadeira revolução na maneira de produzir e reproduzir os textos, mas a imprensa 
não constituiu apenas uma nova técnica usada na fabricação de livros, ela modificou para sempre 
a relação existente entre o livro, um objeto até então restrito a um grupo seleto, e um público 
leitor abrangente e ilimitado que a partir do século XV começou a se formar. 
Entre tantas vantagens, a imprensa trouxe rapidez na produção, uniformidade dos 
textos, multiplicou o número de textos em circulação e com isso as oportunidades de leitura, 
facilitou a eliminação de erros comuns na transcrição manuscrita e reduziu os custos. Tudo isso 
possibilitou a fabricação rápida, em grandes quantidades e um pouco mais barata de textos e 
livros impressos, tornando-os mais acessíveis e acabando para sempre com a relação de poder, de 
privilégio, de raridade e de exclusividade existente em torno do livro e do conhecimento, até a 
invenção da imprensa. 
O livro manuscrito também foi usado durante muito tempo, pelas tipografias, como 
modelo padrão de excelência a ser seguido pelo livro impresso. Nos séculos posteriores a 
invenção da imprensa, antes de um texto se tornar um objeto impresso, reproduzido nas oficinas 
de tipografia, ele era essencialmente um texto manuscrito. 
Mesmo depois da invenção de Gutemberg, nos séculos XVII e XVIII os autores 
continuaram exercendo a arte da escrita. Assim como na época do manuscrito, os textos 
continuaram sendo escritos à mão. Concluído o texto, o autor mandava que um copista o 
transcrevesse também manualmente com a pena de ganso e com uma caligrafia de fácil 
1 2 De acordo com MANGUEL, o inventor da imprensa foi um jovem gravador e lapidador do arcebispado da 
Mogúncia, chamado Johannes Gensfleisch Zur Laden Zun Gutemberg ou simplesmente Johann Gutemberg, p. 157. 
22 
entendimento. Depois, o texto era enviado para uma primeira análise dos censores civis ou 
eclesiásticos13. 
Após alguns meses, o texto era liberado com ou sem restrições e se houvesse 
necessidade era novamente passado a limpo pelo copista também a mão com a pena de ganso. 
Com o manuscrito definitivo pronto, o autor o enviava para uma oficina tipográfica para 
finalmente ser impresso. Na oficina, todas as operações de impressão eram realizadas 
artesanalmente por um limitado número de artesãos. Primeiro era feito o trabalho de composição 
do texto.14 Essa parte do processo de impressão talvez fosse a mais trabalhosa e demorada de 
todas as fases. Cada palavra e cada linha do texto era montada letra por letra, até constituir uma 
página inteira dentro da galé.1 5 E o processo era repetido inúmeras vezes até formar todas as 
páginas do livro. Terminada a composição do texto, os impressores passavam tinta preta sobre as 
páginas com letra de metal e por cima colocavam uma folha em branco. Após a prensa ser 
acionada, o texto saía impresso na folha. Com a tinta seca, o mestre-impressor conferia as 
páginas impressas com o texto manuscrito para corrigir possíveis falhas ou erros. Feita a 
conferência e sanado os possíveis problemas, passava-se à impressão definitiva das páginas. 
Terminada a impressão as folhas eram dobradas, cortadas e enviadas para a análise 
dos censores. Eles averiguavam se o texto impressoera o mesmo que haviam aprovado em 
manuscrito ou se havia sofrido mudanças. 
Devolvidas pelos censores, agora as folhas impressas poderiam ser costuradas e 
encapadas formando o livro. Se o destino do livro fosse alguma região distante de onde fora 
fabricado, provavelmente a encadernação ficava por conta dos livreiros ou até do próprio leitor 
que mandava encapar de acordo com o gosto e as condições. Como o peso dos livros encarecia o 
transporte, saía mais barato fazer a encadernação no destino do que na origem.16 
1 3 Percebendo o poda- da imprensa e temendo a proliferação descontrolada de leituras perigosas, as autoridades civis 
e eclesiásticas procuraram caiar e aperfeiçoar, nos séculos XV e XVI, instituições de censura prévia e a elaboração de 
listas de livros proibidos. Cf. Belo, André, p. 32. 
1 4 A composição era a etapa de transcrição do texto escrito à mão para a letra de imprensa, usando caracteres móveis 
feitos de metal. Belo, André, p. 18. 
1 5 Galé era um recipiente de madeira usado nas tipografias do século XVII, ode era arrumada a letra de imprensa. Cf. 
Belo, André, p. 18. 
1 6 Até o século XVIII, comum ente, os livros eram expedidos em folhas soltas e o comprador se encarregava da 
encadernação que podia ser de acordo com seu bolso e seu gosto. Os livros eram transportados em grandes fardos 
envolvidos em papel, e eram facilmente danificados pela chuva e o atrito das cordas. Sai valor intrínseco era 
pequeno em relação a outras mercadorias, mas o tamanho e o peso das folhas encarecia o valor do frete. Dessa 
forma, grande parte do custo total do livro se devia ao frete que terminava encarecendo-o. Além disso, também 
23 
No século XX, os textos passaram a ser datilografados, ou seja, os autores 
abandonaram a antiga pena de ganso, caneta-tinteiro ou a caneta esferográfica, muito usadas no 
século XIX e no começo do século XX e passaram a escrever os textos em papel ofício e na 
máquina de datilografia. Ao ser datilografado, o texto não precisava mais ser passado a limpo, 
tornando a função do copista totalmente desnecessária. Após ser datilografado, o texto estava 
pronto para ser enviado à editora para ser transformado em material impresso. 
No final do século XX e início do século XXI, até a maneira de escrever o texto 
sofreu notáveis modificações. Os autores passaram a acessar a mais recente inovação tecnológica: 
o computador. Se no século XVI o alinhamento das letras de metal em galés era feito 
manualmente pelos operários da composição nas oficinas de tipografia, hoje esse trabalho é 
realizado eletronicamente pelos próprios autores ao escreverem um texto num computador. O uso 
do computador possibilitou aos autores não apenas escrever, mas também ler, eliminar erros, 
fazer recortes e organizar todo o texto sem visar tinta nem papel e, principalmente, sem 
desperdiçar algo tão preciosos na vida moderna: o tempo. 
Dentro do computador, os processo eletromagnéticos são realizados com uma rapidez 
quase instantânea. Em uma fração de segundos é possível deletar, acrescentar, justificar, salvar, 
imprimir, ou seja, realizar inúmeras operações através de um simples comando no mouse ou 
apertando uma tecla. 
Na era da edição digital, as operações manuais anteriormente realizadas pelos artífices 
nas tipografias passaram a ser executadas por máquinas que dinamizaram a produção. As 
máquinas e, principalmente, a inteligência do computador foram, gradualmente, substituindo a 
força e a destreza dos operários em todas as fases da edição. Porém, mesmo a tecnologia dos 
computadores oferecendo tantas vantagens, pois, facilita a organização e a correção do texto, 
sempre que o autor necessita ter uma idéia geral de cada capítulo ou parte do texto, imprime-as 
para que possa ler na antiga forma impressa. A leitura em tela, tanto é cansativa e desconfortável 
como não permite a comparação e o manuseio rápido e fácil das páginas. Ao ler as partes 
impressas, geralmente o autor vai fazendo correções, acrescentando ou mudando informações, 
tecendo novas considerações acerca do que já havia escrito, tudo com a sua caligrafia pessoal. 
Quando o autor precisa de sugestões ou orientações de terceiros acerca do seu texto o processo é 
servia como estratégia de marketing dos editores. Cf. DARTON. Robert. O beijo de Lamourete: mídia, cultura e 
revolução, p. 125-6. 
24 
o mesmo. Ele envia uma cópia impressa do texto e esta retorna cheia de notas e comentários 
manuscritos. De volta ao computador são realizadas as modificações, os acréscimos e os ajustes 
finais para que a versão definitiva do texto fique pronta. 
A expedição do texto para a editora para ser transformado em livro pode ocorrer tanto 
por correio eletrônico como pelo correio normal através de uma cópia impressa em papel. Até o 
último momento em que o texto fica em poder do autor, este pode fazer uso de diferentes 
técnicas, cada qual com uma função específica, mas que terminam se complementando e 
favorecendo o desenvolvimento do trabalho erudito. É interessante perceber, como na era da 
cultura digital, em que a escrita e a leitura são feitas numa tela, o antigo manuscrito, o tradicional 
impresso e o velho papel resistem e sobrevivem fazendo parte essencial de todas as fases da 
produção de um livro. Até na editora, antes que seja feita a impressão definitiva das folhas, é 
necessário que sejam feitas as impressões provisórias para a correção de possíveis erros no texto. 
Se for preciso, são feitas correções manuscritas e depois a redigitalização das correções e os 
ajustes finais para finalmente ser realizada a impressão definitiva das páginas que constituirão o 
livro impresso. 
Hoje, tanto a industrialização quanto à informatização dos processos trouxeram 
grandes mudanças à produção do livro. Mas, além da utilização da mais moderna tecnologia que 
proporcionou ainda mais rapidez, eficiência e qualidade ao trabalho de impressão, também houve 
a redução dos custos dos materiais utilizados, do trabalho humano, do transporte, do correio e, 
principalmente, do livro, enquanto produto final. Mas, apesar de tantas e significativas mudanças 
o essencial da forma do livro permanece. O livro impresso do começo do século XXI, produzido 
a partir de processos totalmente informatizados, continua sendo um códice. O mesmo códice 
criado entre os séculos II e IV da era Cristã, com todas as suas características e qualidades, resiste 
e sobrevive a diferentes técnicas de produção e agora enfrenta a concorrência de um novo 
formato digital. Porém, o bom e tradicional códice se impõe e continua sendo fabricado em 
milhares de exemplares em todo o mundo em plena era do formato digital. 
2.3. Como surgiu o livro 
25 
Desde a antigüidade o livro tem sido objetos de mudanças e inovações, tendo 
assumido diferentes formatos antes do atual e tradicional códice. O livro tem sido escrito, 
reproduzido e lido de diferentes formas em diferentes épocas. 
O livro já desempenhou funções sociais e culturais diversas, já enfrentou e continua 
enfrentando concorrências de outros meios de comunicação, como do jornal na segunda metade 
do século XIX, dos áudios-visuais, principalmente da televisão, na segunda metade do século XX 
e mais recentemente do computador. Além disso, a escrita que é a razão de existir do livro já fez 
uso de diversos materiais e suportes antes do velho e conhecido papel. 
O próprio códice, criado nos primeiros séculos depois de cristo superou o antigo rolo e 
se tornou tão prático que até hoje, no começo do século XXI, continua sendo a forma comum dos 
livros. No entanto, Apesar de todas as mudanças e inovações relacionadas ao livro serem 
relevantes, nenhuma é tão significativa a ponto de ter se tornado o centro de interesse dos 
pesquisadores de livros, quanto a invenção da imprensa. 
Como já vimos no item anterior, a imprensa foi inventada pelo europeu Johann 
Gutemberg em meados do séculoXV e com ela surgiu o texto e o livro impresso, segundo a 
perspectiva histórica do ocidente europeu. 
Tudo o que até a década de 144017 somente podia ser escrito, reproduzido e lido na 
forma manuscrita e cujo acesso era restrito a um grupo privilegiado, podia a partir da criação dos 
caracteres móveis - a tipografia - ser realizado também na forma impressa. Mas, ao contrário, do 
que se poderia pensar, isso não ocorreu em todos os lugares nem ao mesmo tempo. As condições 
de surgimento e de difusão dos livros se diferenciavam de região para região e de época para , IO 
época . 
Após ter se estabelecido na Zona do Reno, onde surgiu, a técnica da tipografia se 
difundiu levando a arte da impressão para toda a Europa ainda no século XV. De acordo com 
MANGUEL, a produção de impressos na Itália se iniciou em 1465, depois foi a vez da França em 
1470 e da Espanha em 1472, da Inglaterra e Holanda em 1475 e, finalmente, em 1489, a 
Dinamarca também, iniciou sua produção de impressos19. 
O novo mundo teve que esperar até a metade do século XVI para começar a adquirir a 
nova técnica de reprodução de textos, coisa que na Europa já era bastante comum. Em 1533 a 
1 7 MANGUEL, Alberto. Uma história da leitura, p. 157. 
1 8 DARNTO, Robert O beijo de lamouret, p. 112 
1 9 MANGUEL, Alberto. Op. cit, p.158. 
26 
cidade do México instalou as primeiras tipografias, enquanto que em Massachussetts e em outras 
regiões da América isso só aconteceu na primeira metade do século XVII 2 0. 
No caso da América portuguesa a introdução da imprensa foi ainda mais demorada e 
difícil. O problema é que, ao contrário de outras colônias americanas, o Brasil não passava de 
uma colônia de exploração para Portugal. Assim, não era de interesse da coroa que a imprensa 
fosse instalada aqui, nem tão pouco, que houvesse produção e circulação de livros e textos 
impressos ou de qualquer outro meio de comunicação. Apesar das restrições, em 1747 o 
impressor português Antônio Isidoro da Fonseca tentou transgredir as ordens da Metrópole e 
instalar sua tipografia no Rio de Janeiro, mas, não obteve sucesso e foi obrigado a retornar para 
Portugal21. 
Apesar da demora, comumente considerada como fruto de uma colonização retrógrada 
da Coroa portuguesa, finalmente a imprensa chegou ao Brasil no começo do século XIX. 
Juntamente com a imprensa chegou o centro político da metrópole, que fugindo das incursões de 
Napoleão Bonaparte, se refugiou no Rio de Janeiro em 1808. 
Mesmo não existindo imprensa no Brasil colônia, havia uma certa circulação de 
idéias, conhecimentos e novidades que se faziam nos dois sentidos entre o novo e o velho mundo. 
Essa movimentação literária e cultural tinha como principal via de acesso às embarcações que 
viajavam pelo Adântico; ela ocorria de diferentes formas e com objetivos diversos. 
No final do século XVI, gramáticas e catecismos eram produzidos em Portugal com 
o fim de serem usados apenas no Brasil no processo de aculturação dos índios. Esse material era 
escrito e impresso nas línguas dos nativos de modo a facilitar a sua evangelização e conversão 
nas missões religiosas. 
A ausência da impressa, foi amenizada pela ousada iniciativa de autores brasileiros ou 
residentes no Brasil que escreviam e publicavam textos e livros que eram impressos em países 
europeus ou mesmo na metrópole e depois eram comercializados na colônia. Era uma iniciativa 
ousada por vários motivos: primeiro porque os autores não se acomodaram e superaram a 
dificuldade - a falta da tipografia - imprimindo os livros onde havia imprensa; segundo porque a 
produção de impressos exigia altos custos materiais, assim também como o transporte da Europa 
para o Brasil; e para complicar mais ainda, o mercado consumidor de literatura ainda era muito 
2 0 MANGUEL, Alberto. Op. cit, p.158. 
2 1 BELO, André. História & livro e leitura, p. 91 
27 
restrito, pois a maioria da população não era escolarizada. Além da produção, circulação, venda e 
leitura, mesmo que restrita à elite colonial, de livros, textos e imagens impressos, havia também o 
papel complementar, ou mesmo principal em muitos momentos, desenvolvido pela reprodução 
manuscrita e pela oralidade. 
Na época colonial, também podemos falar que havia uma espécie de intercâmbio 
cultural e literária entre o velho mundo e os outros continentes. As informações e imagens que 
descreviam e ilustravam os aspectos geográficos, culturais e sociais das novas terras circulavam 
com facilidade através do Atlântico rumo à Europa ou outros continentes sob as formas 
manuscrita, imprensa, icônica ou oral. O intercâmbio também ocorria por intermédio dos jovens 
abastados que iam estudar na Europa. Durante o tempo que lá permaneciam, adquirindo novos 
conhecimentos e vivenciando a cultura do chamado mundo civilizado os jovens mantinham uma 
ativa comunicação com os familiares no Brasil, tanto recebendo como enviando notícias. Quando 
retornavam ao Brasil, vinham repletos de novidades e idéias revolucionárias que aqui procuravam 
difundir. Além disso, geralmente traziam em suas bagagens uma diversidade de livros, textos e 
notícias impressos ou não, cujo conteúdo era amplamente divulgado entre os familiares e amigos. 
Um outro exemplo de circulação literária de impressos e manuscritos que se fazia 
também nos dois sentidos, era restrita à elite política e religiosa. Os cargos de confiança da 
metrópole na colônia, geralmente, eram exercidos por pessoas de muita instrução. Assim, ao se 
transferirem para as províncias coloniais, elas costumavam levar suas ricas bibliotecas.A 
distância dos parentes que ficavam e as incumbências do cargo, exigiam que os administradores 
mantivessem uma comunicação regular com a metrópole. 
Como podemos perceber, a ausência de imprensa no Brasil colonial, dificultou a 
expansão literária e a comunicação na forma impressa, mas de maneira alguma impediu que 
houvesse comunicação entre as pessoas na colônia e entre o novo e o velho mundo. Assim como 
não impediu que houvesse a produção, circulação, venda e leitura de material literário que se 
apresentava aos leitores sob as formas manuscrita e impressa e mesmo que os livros fossem 
escritos e impressos ou somente impressos do outro lado do Atlântico. 
Apesar de constituir uma excelente e inovadora técnica de reprodução de texto, a 
tipografia foi objeto de inúmeras restrições por longo tempo. Além das restrições políticas, como 
aconteceu na América portuguesa, a instalação da imprensa em muitas regiões, também dependeu 
de questões econômicas sociais e culturais por pelo menos quatro ou cinco séculos. Isso pode ser 
28 
observado nas regiões de cultura islâmica, como no Oriente Médio, em algumas regiões da 
Europa e no norte da África. Nessas regiões, a publicação de impressos em árabe só se difundiu 
na época contemporânea, mais especificamente nos séculos XIX e XX. Essa diferença de datas 
entre o livro europeu e o livro muçulmano, está diretamente ligado ao grande valor atribuído ao 
livro e a escrita árabe na cultura e na religião islâmica, assim também como no judaísmo. Ao 
valor sagrado atribuído ao livro e a escrita árabe foi relacionado um grande significado à 
caligrafia e a letra manuscritas e em contra partida, gerou uma enorme rejeição à letra e ao livro 
impressos. No império turco, apesar da tipografia não ser mais novidade desde o século XV, não 
era permitida a publicação de livros em árabe. 
Enquanto o uso dos caracteres móveis não era liberado, se difundiu uma outra técnica, 
a litografia, que imprimia os desenhos textos feitos numa pedra calcaria: a pedra litográfica. Essa 
técnica permitia uma reprodução semelhante à caligrafia manuscrita, daí a sua aceitação. 
Após terem iniciado investigações acerca da cultura escrita do Extremo Oriente 
asiático e a compararem com a cultura escrita ocidental, os investigadores do ocidente 
perceberam que se precipitaramem reverenciar Gutemberg como o revolucionário do mundo da 
cultura letrada vendo-o como o primeiro e o único criador da técnica de imprimir textos por meio 
de tipos móveis. 
Antes de Gutemberg existir, ainda no século XHI a China e a Coréia inventaram os 
caracteres móveis que determinam a técnica tipográfica. Assim como no ocidente, A Coréia fez 
uso de caracteres móveis de metal para impressão dos textos. Já na China, ao invés de metal, os 
caracteres eram feitos de madeira e de terracota - argila modelada e cozida em forno. Mas, tanto 
na Coréia como na China, os tipos móveis foram pouco difundidos, tendo, segundo Chartier, seu 
uso ficado restrito "às edições do imperador, dos monastérios; ou teve uma vinculação 
descontínua, como no Japão".2 2 
Enquanto essas técnicas foram pouco difundidas nessas regiões, a xilogravura, uma 
antiga técnica com cerca de mil anos teve uma vasta disseminação não apenas na Coréia e na 
China, mas, também no Japão. Com essa técnica, era possível reproduzir imagens e textos a partir 
de pranchas de madeira gravadas em relevo. 
A técnica da xilogravura permitiu o desenvolvimento de uma vasta cultura impressa 
nessas regiões e assim como aconteceu no ocidente, levou ao surgimento de salas de leitura, de 
2 2 CHARTIER, Roga". Cultura escrita, literatura e história, p. 34. 
29 
modelos populares, de editores particulares e de bibliotecas públicas. Da mesma maneira que os 
caracteres móveis de metal se adaptaram bem as necessidades da comunicação escrita da cultura 
ocidental, as técnicas da litografia e da xilogravura atenderam melhor do que a técnica ocidental, 
as necessidades e as exigências da produção livresca em língua árabe da cultura islâmica, assim 
como da cultura escrita oriental respectivamente. Essas técnicas se adequaram melhor as escritas 
árabe e oriental e possibilitaram uma reprodução muito próxima da letra manuscrita. 
2.4. A ampliação das fontes 
Entre os séculos em que a imprensa foi inventada e o século XVHI, as oficinas 
tipográficas não imprimiam apenas livros. Nesse período, a edição tipográfica era um dos ramos 
que exigia além de investimento, ousadia e espírito empreendedor. Isso porque, segundo Belo, "a 
edição de impressos era uma empresa econômica arriscada".23 
Os riscos se deviam a vários fatores, a começar pelos custos materiais da edição. Os 
altos preços cobrados pela mão de obra, pelas matérias-primas e pelo papel, encarecia muito a 
publicação dos livros, o que terminava sendo repassado para o custo final do produto. Quanto 
mais dispendiosa fosse a edição de uma obra, maior seria a incerteza do retorno e mais ainda do 
lucro. Os livros tinham que passar antes e depois de serem impressos pela aprovação da censura. 
Diante desse quadro difícil e instável, os impressores não podiam se limitar a imprimir 
apenas livros. Nem tão pouco os livreiros se arriscariam em longas e árduas jornadas para vender 
apenas obras impressas, que por serem mais caras tinham um mercado consumidor bem mais 
restrito. E mais, a imprensa foi inventada para reproduzir textos, independentemente do tipo, do 
suporte ou da forma que estes chegariam aos leitores. Já as tipografias, como toda empresa, 
precisavam de um retorno mais rápido e certo do capital investido para sobreviver ou ampliar o 
negócio. Por isso, produziam uma grande diversidade de material impresso de custo inferior ao 
do livro e cujo lucro era garantido. 
As tipografias imprimiam desde panfletos políticos, folhetos ocasionais, orações 
religiosas, periódicos, editos reais ou eclesiásticos, mapas, pautas musicais, até retratos e gravuras 
em metal ou madeira. Esses impressos eram mais frágeis do que os livros, pois em sua maioria 
não eram encadernados e tinham uma grande circulação. 
2 3 BELO, André. História & Livro e leitura, p. 85. 
30 
O conteúdo de um impresso avulso podia ser lido por milhares de pessoas circulando 
de mão em mão com facilidade e sem compromisso. É interessante notarmos o incrível poder de 
difusão dos textos contidos nos impressos avulsos que mais do que o livro tinha grande facilidade 
de circulação em meio a um público leitor bastante diversificado. Até no caso de pessoas 
analfabetas ou deficientes visuais, o conteúdo dos impressos avulsos, assim também como o dos 
livros, poderia se tornar conhecido por meio da audiência da leitura ou de comentários feitos em 
voz alta por algum leitor. 
Com a comprovação de que desde o século XV há uma ampla produção e circulação 
de materiais escritos disponíveis aos leitores em quantidades e formas diversas, concluiu-se que 
as pesquisas sobre a leitura não devem se limitar a explorar tendo como únicas, verdadeiras e 
confiáveis, apenas a lista de obras citadas nas fontes inveteradas e normalmente usadas em 
histórias do livro e da leitura. 
As investigações sobre a leitura devem considerar tudo que era escrito, impresso e 
lido. Ou seja, as diversas formas de manifestações da cultura escrita e não somente os livros 
citados nas fontes oficiais. Não podemos esquecer que mesmo quando a imprensa já estava bem 
estabelecida, período denominado por Belo de idade clássica do livro impresso24, o livro 
manuscrito, as gazetas manuscritas, os manuscritos filosóficos e poéticos e a divulgação oral dos 
textos resistiram e continuaram existindo, mesmo que entre um público seleto, ao lado da 
publicação impressa até o começo do século XIX. 
Enquanto não existia o documento impresso, não havia uma censura aos textos 
escritos à mão. A partir do momento que os textos passaram a ser impressos começou a existir 
uma forte censura sobre eles. Tal censura desconsiderava os manuscritos e só observava o que 
estava impresso. Nesse sentido, é interessante observar que em todos os catálogos de obras 
escritas até o século XIX não é feita nenhuma menção a texto manuscrito. Entre esses 
documentos pode-se citar: os inventários de bens e testamentos; os catálogos de bibliotecas 
privadas ou de livreiros; os pedidos de licença para impressão feitos à administração régia; as 
listas de livros que eram declarados à inquisição para poderem ser transportados em navios; nos 
anúncios comerciais ou críticas literárias em periódicos. Nessas fontes, objetos escritos avulsos 
não são registrados ou são pouco citados. 
Si 
áT ' BELO, André. Op.cit, p. 84 ' 
NEHAD 
31 
A ausência de registro desses escritos se deve ao fato de que, ao contrário dos livros, 
eles não eram valorizados economicamente para a venda, não necessitavam ser aprovados pela 
censura e não eram alvo da crítica literária. Já os livros eram objetos de valor para a venda, 
tinham e têm séculos de tradição na transmissão da memória escrita. Além disso, eram alvo da 
pirataria e também eram suspeitos de veicularem conteúdos perigosos e idéias com conotações 
subversivas. Tudo isso fazia com que os livros fossem considerados objetos "merecedores de 
registro e controle". Um controle que ia desde a fabricação e venda dos livros, até os diferentes 
modos de circulação e recepção do seu conteúdo. 
Mas, apesar dos escritos avulsos não terem sido dignos de registro, na época da 
tipografia artesanal, e por isso não constavam nas fontes, eles existiam e continuam existindo em 
nossa época, e eram largamente produzidos. Tinham uma ampla e fácil circulação, sendo 
responsáveis por uma variedade de práticas de leituras que talvez pouco fosse compartilhada pelo 
livro. Textos diversos, lidos, comentados e passados adiante, dados a conhecer a novos leitores 
sem apegos nem restrições e muito menos sem um público leitor específico, definido e limitado. 
Toda essa liberdade de divulgação e circulação nos leva a perceber um grande dinamismo nas 
leituras desses textos avulsos, coisa que não é possível perceber nas fontes que apenas registram 
os livros, mas não permitem compreender a freqüência e o dinamismo das leituras. 
Na época contemporânea, o livroimpresso também não é o único veiculo de 
circulação da memória escrita nem na transmissão de conhecimentos. Numa época em que tanto a 
escola, quanto à vida urbana estão estimulando o surgimento crescente de novos leitores, e a 
industrialização e a informatização das tipografias ampliaram as suas capacidades produtivas, o 
livro impresso não somente perdeu a preponderância na comunicação escrita, como também, teve 
a sua produção superada por materiais impressos mais simples e mais barato. 
Hoje, além do tradicional livro impresso e do inovador e revolucionário livro digital, 
há uma enorme circulação de objetos escritos, com as mais diversas formas e funções a 
disposição dos leitores. Esses escritos são, em sua grande maioria impressos e sem encadernação, 
o que os torna objetos frágeis e vida efêmera. Mas assim como acontecia como os escritos 
avulsos do século passado, os de hoje são escritos de grande circulação, tendo um número muito 
maior de leitores do que de proprietários e também continuam sendo muito mais baratos do que o 
livro impresso. 
32 
Esses objetos vão desde os periódicos até os anúncios publicitários que estimulam o 
consumismo e são escritos, pintados ou impressos nos mais diferentes tipos de suportes e 
materiais, como por exemplo, as faixas de tecido e as placas em latão, madeira ou PVC. 
Os muros, as paredes e as fachadas dos prédios, também são utilizados como suporte 
para receber não textos impressos, mas textos pintados à mão com tinta e pincel ou por meio da 
grafítagem. Esses textos podem ser propaganda política, anúncios publicitários de produtos e 
serviços, ou então, palavras ou frases de protesto, difamatórias ou críticas, feitas por um 
contrapoder que se manifesta de forma subversiva por meio de pichações clandestinas. 
Mas além dessas diferentes manifestações da cultura escrita, a sociedade 
contemporânea conta também com novos e dinâmicos meios de comunicação - os audiovisuais 
eletrônicos. Esses novos meios de comunicação - de tela - revolucionam porque são suportes 
para a transmissão tanto de texto, como também de sons e imagens fixas e, principalmente, em 
movimento que podem ser exibidas em gravação ou ao vivo. As telas, apesar de serem bem mais 
caras do que os livros impressos, são veículos de comunicação de massa - com exceção do 
computador é claro. 
As telas de cinema e de televisão associam e vinculam sons e imagens que se 
destinam a um grande e diversificado público telespectador. Mas, mais do que o cinema, a 
televisão é o principal meio de comunicação, assim também é o principal meio de entretenimento 
das massas. Exibindo uma programação bastante longa e diversificada como por exemplo 
programas infantis, programas esportivos, telejornais, programas de auditório, programas 
religiosos, shows, filmes, novelas e até programas humorísticos, a televisão atinge altíssimos 
níveis de audiência. 
Pelo fato de oferecer uma programação tão variada e atrativa a um custo tão 
baixo para o telespectador é que a televisão se tornou universal e popular, sendo assistida 
por milhões de pessoas ao mesmo tempo e nas mais diferentes regiões do Planeta. Sua 
leitura se diferencia da leitura do livro e do texto impresso em alguns pontos. Os 
principais e essenciais sentidos usados pelo leitor telespectador são a visão e a audição, 
visto que as mensagens são passadas não por meio de textos escritos, mas por meio de 
imagens e pela oralidade. 
33 
O primeiro ponto nos leva ao segundo, já que não é primordial que o 
telespectador seja escolarizado ou que domine a técnica da leitura. Isto porque os 
programas exibidos pela televisão adotam uma linguagem relativamente acessível a todas 
as pessoas. Assim a televisão se transformou no veículo de comunicação de maior 
circulação já existente em todas as épocas. 
Já as novas telas - dos computadores - inovam porque além de veicularem imagens e 
sons, trazem principalmente uma imensa diversidade de textos com uma roupagem totalmente 
nova - a forma eletrônica. Como os computadores ainda são objetos caros, a transmissão 
eletrônica dos textos também ainda não se popularizou, sendo até mesmo desconhecida em 
muitas regiões. 
Com a forma digital, a leitura foi modificada pois agora é feita em frente a tela sem 
contato físico com o texto. No entanto, os textos que se encontram disponíveis na internet podem 
ser acessados e lidos por milhares de leitores - os internautas - de qualquer lugar que tenha uma 
ligação à rede mundial de computadores25. Mas para que o leitor digital possa manusear e 
entender a linguagem do computador é necessário que ele tenha instrução escolar e noções 
básicas de informática. 
É a partir dessa grande variedade de meios de comunicação e de práticas de leitura 
que caracterizam a sociedade contemporânea que qualquer pesquisa sobre a leitura nesse período 
deve ser realizada. É importante diversificar as fontes analisando todas as manifestações da 
cultura escrita e tipográfica. Assim também como da cultura dos audiovisuais, não esquecendo 
que cada um desses diferentes meios de expressão desempenham funções sociais e culturais 
específicas na transmissão da memória escrita e visual. 
2 5 Belo, André. Op. cit, p. 19. 
34 
3. O LIVRO DIDÁTICO E O CONHECIMENTO ESCOLAR 
Nas últimas décadas do século XX, acompanhando o interesse dos pesquisadores 
pelos estudos em história do livro e da leitura, os livros didáticos vêm constituindo objetos de 
pesquisa. A abordagem das investigações tem variado de acordo com o campo do conhecimento 
assim também, como tem variado as apreciações e as conclusões dos pesquisadores. Mas 
trabalhar sobre os livros didáticos, independentemente do âmbito de investigação, implica 
considerar que este objeto cultural possui uma natureza multíplice, apresentando diferentes 
possibilidades de análise. 
3.1. O livro como mercadoria 
A princípio é preciso considerar que o livro didático é uma mercadoria, ou seja, o 
livro consiste num bem, fruto do processo de produção da indústria cultural e que se destina a ser 
vendido aos consumidores.Como uma mercadoria, o livro didático precisa, freqüentemente, 
adequar-se às mudanças das tendências pedagógicas e as exigências do mercado. 
O objetivo principal das editoras, assim como de toda empresa capitalista, é que seus 
produtos sejam bem aceitos pelos consumidores, que tenham o maior número possível de vendas, 
evitando que as coleções fiquem encalhadas. Assim, as editoras produzem várias coleções 
diferentes por disciplina de modo a atender a diversidade de interesses dos consumidores. 
No entanto, mesmo as editoras dispondo de várias coleções de livros didáticos por 
área de conhecimento, ainda há o risco delas não apresentarem vendas significativas ou nem 
venderem.Com isso, os autores e os editores se deparam diante de um desafio em dose dupla: 
produzir livros que atendam as exigências pedagógicas e principalmente, que não se transformem 
em encalhes nas editoras. 
A instabilidade e a diversidade de interesses do mercado termina estimulando a 
melhoria e a renovação dos livros escolares. Desde o final dos anos 70 que as editoras têm 
procurado manter uma comunicação ativa com o mundo acadêmico no sentido de ajustá-los à 
demanda.Os livros passaram a incorporar novos problemas, conceitos, abordagens e bibliografias 
35 
a partir da nova produção historiográfica. Muitos também passaram a utilizar documentos 
escritos e iconográficos,novas linguagens, etc. 2 6 
Para que essa renovação se processasse de forma eficiente, as editoras procuraram se 
modernizar e se qualificar investindo tanto em termos de recursos tecnológicos como 
humanos.Toda essa reestruturação levou a industrialização das editoras. Nesse sentido, 
MUNAKATA afirma que: 
Empresas que antes funcionavam com três ou quatro trabalhadores capazes e 
dispostos a fazer todo tipo de serviço foram recrutando

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