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AULA 05

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AULA 05 
objetivo desta aula é instrumentalizar o estudante para reconhecer a complexidade envolvida na preservação e recuperação de áreas litorâneas. Conheceremos os conceitos fundamentais para a Gestão Costeira e a legislação básica que trata do assunto. Também veremos os principais biomas litorâneos brasileiros e as atividades causadoras de degradação que os pressionam. 
Ao final, traremos um exemplo para se compreender a necessidade de se preparar bem a fim de atuar na recuperação de áreas litorâneas degradadas.
Conversa Inicial 
Num primeiro momento, o significado do que são áreas litorâneas é apreensível até para o leigo. No entanto, o litoral é um espaço geográfico sobre o qual incidem diversos interesses, como um campo de batalha. Ainda que exista uma lei dizendo que uma determinada restinga deve ser recuperada, se houver uma avenida sobre ela o uso estará consolidado e não será alterado. E se a restinga estiver preservada, mas uma avenida possa ser construída, abre-se uma nova disputa. 
As cidades brasileiras cresceram margeando o litoral, gerando degradação ambiental. Com o crescimento da economia, portos precisaram ser criados ou aumentados, com diferentes impactos sobre o meio ambiente. Empreendimentos imobiliários valorizaram-se quanto mais próximos do mar. Em resumo, a recuperação de áreas litorâneas degradadas exige um conhecimento aprofundado sobre as pressões econômicas e as normas locais para ser efetiva.
Tema 01 – O litoral 
A zona costeira brasileira possui 8.698 km de extensão, sobre uma área de aproximadamente 388.000 km². Nela concentram-se quase um quarto da população do país, em cerca de 400 municípios, com uma densidade populacional cinco vezes maior do que a média nacional.
Por serem regiões de transição ambiental, as áreas costeiras apresentam elevada diversidade e produtividade biológicas, que devem ser compreendidas dentro da diversidade geomorfológica que caracteriza o litoral.
O gerenciamento costeiro nacional é regido pela Lei n. 7.661/1988. No entanto, como em todas as questões ambientais no país, não se deve se ater ao texto legal sem se conhecer a realidade social e econômica específica de cada local. Empreendimentos imobiliários, infraestrutura urbana e portuária, comunidades tradicionais e áreas de preservação disputam o espaço litorâneo.
Tema 02 – Biomas litorâneos 
A restinga é a planície litorânea paralela à linha da costa, formada pelo acúmulo de sedimentos arenosos. Sua caracterização é feita, principalmente, por critérios edáficos e ecológicos, além da proximidade com o mar. A vegetação de restinga tende a ser arbustiva e rasteira, porém, em alguns lugares, pode suportar espécies arbóreas. É nomeada APP pelo Código Florestal.
As dunas são formações arenosas que se deslocam com o vento. Elas podem ser móveis, quando o vento não encontra barreiras, ou fixas, quando existem ilhas de vegetação que mantêm a estabilidade da paisagem e oferecem resistência ao vento. Ocorrem de norte a sul do Brasil e têm grande apelo turístico.
O manguezal é um ecossistema de transição entre os ambientes marinho e terrestre. Está sujeito à influência dos rios e do mar e apresenta enorme diversidade e produtividade biológicas. A sua característica paisagística fundamental é a presença de mangues.
Tema 03 – Impactos socioambientais 
As áreas litorâneas sofrem pressão da urbanização descontrolada, a valorização de regiões próximas ao mar atrai a especulação imobiliária e áreas com pouco valor comercial são ocupadas irregularmente por população de baixa renda.
Há um impacto sazonal típico do litoral: o aporte de milhares de moradores temporários, que se deslocam para as praias no verão. Grandes obras como estradas, portos e marinas, se mal planejadas, afetam o regime natural de transporte de sedimentos pelas marés. O turismo é uma importante atividade econômica, mas a falta de planejamento pode ser prejudicial às próprias paisagens cênicas que atraem os turistas, logo a atividade deve estar sempre associada à educação ambiental.
O litoral brasileiro é ocupado por centenas de povoados tradicionais, quando atividades industriais passam a disputar os recursos, se não houver planejamento e fiscalização, os pequenos povoados podem perder sua condição de subsistência e reserva.
Tema 04 – Resiliência ambiental 
Resiliência refere-se à capacidade que um ecossistema possui de retornar naturalmente ao seu estado anterior após um impacto nocivo. É diferente de resistência, que se refere à sua capacidade de não se alterar, resistindo ao impacto. A resiliência permite a retomada da regeneração natural e a recuperação de uma área degradada.
Por serem regiões de transição ambiental, as áreas litorâneas costumam apresentar alta resiliência a eventos naturais, como enchentes, tempestades, ventos e estiagem prolongada. Porém, esses eventos podem dificultar a recuperação ou remediação de uma área degradada por fatores antrópicos. 
Como as áreas litorâneas estão sujeitas a condições ambientais extremas, precisamos mapear as correntes, conhecer o regime das marés, ventos, a condição do solo e outros fatores físicos para planejar a recuperação. Muitas vezes, esses dados não existem e é preciso realizar estudos ambientais prévios para levantá-los. 
Tema 05 – Recuperação de áreas litorâneas 
A recuperação de áreas litorâneas pode exigir o preenchimento de dunas ou remoção de areia por tratores. Canais de drenagem da chuva ou da maré também podem ser necessários, assim como a construção de estruturas de contenção da areia. Tudo isso exige estudo sobre marés, ventos, solo e vegetação.
Em manguezais, pode-se coletar propágulos e plântulas das espécies de mangue típicas do local em áreas preservadas adjacentes e, então, plantá-los na área a ser reflorestada. A taxa de sobrevivência vai depender da força das marés e intensidade de ensolação, requerendo monitoramento e manutenção constantes. O envolvimento das comunidades locais nos projetos de recuperação de áreas degradadas é particularmente importante no litoral. A pressão sobre essas áreas não vai ser superada só com a recuperação, é preciso que as pessoas se sintam responsáveis pela preservação ambiental. Educação ambiental é essencial para o sucesso do projeto.
Na Prática 
Em 18 de janeiro de 2000, um duto da Petrobrás se rompeu na Baía de Guanabara, provocando um vazamento de 1,3 milhão de litros de óleo combustível. Houve enorme mortandade de mangue, peixes e aves, dezenas de famílias de extrativistas e pescadores foram afetadas.
A mortandade em massa das duas principais espécies de mangue da região gerou uma clareira na floresta que foi monitorada após o acidente por cinco anos. Durante esse período, a clareira não se recompôs, levando-se a concluir que, apesar dos processos ecológicos de recuperação estarem presentes, os efeitos da contaminação persistiam.
Em outra região de manguezais afetados, um projeto de recuperação foi realizado, recuperando mais de quinze hectares de mangue. O projeto contou com o envolvimento de moradores, do Poder Público e da empresa. Isso demonstra a necessidade de coordenação de interesses conflituosos para o sucesso do PRAD.
Finalizando 
Falamos sobre a difícil tarefa de recuperar áreas litorâneas degradadas. Vimos como são ecossistemas complexos, que precisam ser compreendidos em todos os seus aspectos ambientais. 
Porém, reforçamos que isso ainda não é suficiente, sendo preciso conhecer as dinâmicas sociais e econômicas envolvidas.

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