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Psicologia Institucional como Psico-higiene

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Aula 1: Psicologia Institucional como Psico-higiene
A Psicologia Institucional como Psico-higiene - José Bleger
José Bleger tornou-se um autor conhecido com seus trabalhos sobre Psicanálise, Psicologia, Grupos e Instituição na década de 60. O diferencial de seus estudos estava, sobretudo, na proposta de uma atuação profissional que fosse além dos limites do consultório e também na importância que deu à saúde mental ou à psico-higiene nos grupos e nas atividades da vida diária. Na época, foi o autor que recuperou a dimensão institucional e política nos processos grupais, tornando-se, assim, uma referência no que diz respeito ao termo “Psicologia Institucional” no Brasil.
A perspectiva de Bleger sobre a intervenção do psicólogo nas instituições é sempre política - esta entendida como em termos de relações de poder que delimitam a vida dos grupos e das classes sociais. No entanto, o autor se esforça em demonstrar que esse trabalho é uma forma de fazer ciência, mas ciência no sentido de investigação que não se desvincula do cotidiano e que está relacionada à subjetividade do indivíduo nas relações humanas.
Para Bleger, psicologia institucional é uma forma de intervenção psicológica com significação social e sua prática não é uma mera aplicação da ciência da psicologia, mas uma forma de fazer a psicologia enquanto profissão. O autor também dava importância tanto à intervenção quanto à investigação e acreditava no método clínico para a execução do trabalho do psicólogo institucional.
Para Bleger, a atuação deste profissional é diferente do trabalho psicológico comum em instituição, porque o que ele faz é lidar com a instituição enquanto totalidade.
Ele afirma que o psicólogo institucional, portanto, não pode ser empregado no contrato de trabalho, embora possa ser, no entanto, assessor ou consultor, porque precisa de autonomia técnica para se afastar do objeto estudado. Apesar de Bleger não ser explícito, a autonomia técnica tem a ver com um comprometimento diferente do psicólogo com os processos inconscientes das relações interpessoais no conjunto das práticas institucionais. A autonomia é, então, exigência para que se configure o caráter analítico da intervenção.
Para Bleger, em sua concepção, o objetivo do psicólogo é a psico-higiene, ou seja, promover a saúde e o bem-estar dos integrantes da instituição, e sua função não será a de decidir ou resolver os problemas da instituição. A descoberta das soluções concretas e a execução das ações propostas será uma tarefa dos organismos próprios da instituição.
O referencial teórico e técnico de Bleger para esse fim é a psicanálise exercida no âmbito das instituições e não em consultório. Por isso, o psicólogo não deve esconder do contratante seu propósito de desenvolver um trabalho com a totalidade da instituição e precisa estabelecer com ele como se dará o trabalho a partir de sua demanda institucional.
Sabendo, então, que a psicologia institucional é um trabalho com o todo da instituição e que, por este motivo, o psicólogo institucional não pode ser empregado dela, tendo de esclarecer a demanda institucional e os fins da intervenção, Bleger passa então para as características do método de trabalho. Para ele, o método que deve ser utilizado é o clínico com enquadramento técnico-psicoanalítico - método no qual a observação é imprescindível.
O psicólogo deveria agir, de acordo com Bleger, respeitando os seguintes princípios de enquadramento:
• atitude clínica; 
• esclarecimento da função do psicólogo, com delimitação de tempo, honorários e com prazo fixo apenas para o relatório diagnóstico;
• limites e caráter da tarefa em todos os níveis ou grupos de atuação; 
• esclarecimento a quem serão dirigidos os resultados; 
• caráter de atuação particular com cada grupo;
• limitação de contato extraprofissional; 
• neutralidade em relação aos grupos; 
• limite de atuação como assessor ou consultor, sem função dentro do organograma institucional; 
• estímulo de independência em relação ao trabalho de psicólogo institucional e não dependência;
• controle de onipotência;
• entendimento do sucesso do trabalho e da saúde da instituição como o grau de independência e melhoramento desta, levando em consideração que conflitos podem existir e que a instituição deve explicitá-los para traçar sua resolução; 
• manejo da informação dependente da veracidade, do timing e da quantificação; e consciência da presença de resistência para investigá-la e, assim, tornar-se agente de mudança como psicólogo institucional.
A considerar a Psicologia Institucional de Bleger, é no contexto da intervenção do psicólogo que se articula seu contorno científico e psicoanalítico. Bleger enfoca as relações institucionais sob o ângulo psicoanalítico, chamando a atenção para a dinâmica inconsciente das relações intra e intergrupais. Partindo da conceituação da personalidade como estruturada pela dinâmica entre um ego sincrético e um ego organizado, o autor considera a existência da comunicação grupal como derivada desta estruturação para, enfim, supor uma intrincável relação entre o sujeito, a organização grupal e a institucional.
Para entender melhor, é preciso conhecer a questão da identidade para Bleger. A personalidade ou a identidade do sujeito se dá, sempre, pelo jogo de um ego sincrético e um ego organizado.
O ego sincrético inclui os aspectos simbióticos e ambíguos: é o ego enquanto ponta de lança dos impulsos agressivos e libidinosos completamente unidos. No ego organizado estão os aspectos discriminados que permitem uma relação normatizada e controlada como o meio: é o ego enquanto ponta de lança dos controles superegoicos. Pelo ego sincrético, formamos vínculos que não permitem a distinção entre o que é sujeito e objeto da libido. Pelo ego organizado, podemos nos ver em relação ao outro. A distinção entre esses dois egos será possível pela clivagem dos processos mais primitivos da sociabilidade.
A clivagem, que é o mecanismo de junção do ego que permite a coexistência de duas atitudes psíquicas em relação à realidade, uma levando em conta, outra negando, não elimina esses processos primitivos. Pelo contrário, faz com que convivam ao lado dos processos do ego organizado sem que se influenciem reciprocamente. Assim, o sincretismo permanece como forma de comunicação na expressão pré-verbal. É nesse contexto que se coloca a questão da identidade para Bleger. Ela jamais será um corte absoluto da individuação, mas sempre uma diferenciação possível sobre um fundo de indiferenciação.
Bleger teoriza então sobre o grupo e sua relação com a estruturação da personalidade do sujeito. O grupo não será uma entidade acima dos indivíduos, mas uma resultante desta possibilidade de se vincular, pela sociabilidade sincrética, e de se relacionar, pela sociabilidade organizada. Portanto, é possível afirmar que a comunicação no grupo é este permanente movimento de diferenciação e indiferenciação.
Por outro lado, também se pode dizer que por este movimento o indivíduo é grupo. Bleger vai além, afirma a mesma relação entre a identidade e a organização, entendida como um conjunto de grupos distribuídos num organograma e que interagem num determinado espaço físico. Qualquer mudança que se provoque na organização, enquanto conjunto de grupos com tarefas e objetivos comuns no espaço e no tempo, implica numa mudança da própria personalidade.
Segundo Bleger, “o grupo é sempre uma instituição muito complexa, ou melhor, é sempre um conjunto de instituições”, porque entende a instituição como o nível interativo do funcionamento grupal. Mas, na medida em que este funcionamento se estabiliza excessivamente, em que se criam estereotipias muito rígidas, o grupo acaba se burocratizando, e assim tomando as formas da organização.
A normatização da conduta, para que se atinjam os objetivos explícitos e estes se transformassem num fim em si, exige a fidelidade dos integrantes, de maneira que a sua perpetuação enquanto organização torne-se a meta.
Quando isso ocorre, o objetivo terapêutico de um grupofica impedido. Dessa dinâmica, pode-se concluir que toda organização tende a ter a mesma estrutura do problema que deve enfrentar e para a qual foi criada. Apoiados nessas formulações teóricas sobre o vínculo e a relação, bem como sobre o indivíduo, o grupo e a instituição, podemos entender o que Bleger propõe como a tarefa do psicólogo institucional: atuar sobre a totalidade da instituição, tendo em vista as relações entre os grupos do organograma da instituição, e fazê-lo a partir do enquadramento, que define uma postura de independência técnica e que permite a dissociação instrumental.

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