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Testes Projectivos Instituto Superior de Psicologia Aplicada TAT 1 Índice O TAT ............................................................................................................................................. 7 Os conceitos psicanalíticos e a sua articulação com a Teoria do TAT ......................................... 10 Tópico ..................................................................................................................................... 10 Dinâmico ................................................................................................................................. 10 Económico ............................................................................................................................... 10 Os Conceitos Freudianos Fundamentais ................................................................................. 11 Representações e Afectos ................................................................................................... 11 O Afecto é Inseparável da Representação .......................................................................... 11 Representação de Coisa – Representação de Palavra ........................................................ 12 Aplicação da Prova ...................................................................................................................... 17 A Metodologia ............................................................................................................................ 19 O Material ............................................................................................................................... 19 Análise do Material ................................................................................................................. 20 Cartão 1 ............................................................................................................................... 20 Cartão 2 ............................................................................................................................... 22 Cartão 3BM ......................................................................................................................... 23 Cartão 4 ............................................................................................................................... 25 Cartão 5 ............................................................................................................................... 26 Cartões 6 e 7 ........................................................................................................................... 27 Cartão 6BM ......................................................................................................................... 28 Cartão 6GF .......................................................................................................................... 29 Cartão 7BM ......................................................................................................................... 30 Cartão 7GF .......................................................................................................................... 31 Cartão 8BM ......................................................................................................................... 32 Cartão 9GF .......................................................................................................................... 33 Cartão 10 ............................................................................................................................. 34 2 Cartão 11 ............................................................................................................................. 36 Cartão 12BG ........................................................................................................................ 37 Cartão 13B .......................................................................................................................... 38 Cartão 13MF ....................................................................................................................... 39 Cartão 19 ............................................................................................................................. 40 Cartão 16 ............................................................................................................................. 41 Decomposição ............................................................................................................................. 42 A Série A .................................................................................................................................. 44 A11 – História construída próxima do tema banal .............................................................. 45 A12 – Recurso a referências literárias, culturais, ao sonho ................................................. 45 A13 – Integração de referências sociais e do senso comum ............................................... 45 A2 ........................................................................................................................................ 46 A21 – Descrição com apego aos pormenores (alguns raramente evocados), incluindo expressões e posturas ......................................................................................................... 46 A22 – Justificação das interpretações através desses pormenores ..................................... 48 A23 – Precauções verbais .................................................................................................... 48 A24 – Afastamento temporo-‐espacial ................................................................................. 48 A25 – Precisões numéricas .................................................................................................. 49 A26 – Hesitações entre interpretações diferentes .............................................................. 49 A27 – Oscilação (vai e vem) entre a expressão pulsional e a defesa ................................... 49 A28 – Mastigação, ruminação ............................................................................................. 50 A29 – Anulação .................................................................................................................... 50 A210 – Elementos de tipo formação reactiva (limpeza, ordem, ajuda, dever, economia, etc.) ..................................................................................................................................... 50 A211 – Denegação................................................................................................................ 50 A212 – Insistência no fictício ................................................................................................ 51 A213 – Intelectualização (abstracção, simbolização, título dado à história em relação com o conteúdo manifesto) ........................................................................................................... 51 3 A214 – Alteração brusca de direcção no curso da história (acompanhada ou não de pausa no discurso) ......................................................................................................................... 51 A215 – Isolamento de elementos ou personagens .............................................................. 52 A216 – Grande pormenor (D) e/ou pequeno pormenor (Dd) evocado e não integrado ..... 52 A217 – Acento inscrito nos conflitos interpessoais .............................................................. 52 A218 – Afectos expressos a mínima ..................................................................................... 53 A Série B .................................................................................................................................. 54 B11 – História construída à volta de uma fantasia pessoal ................................................. 54 B12 – Introdução de personagens que não figuram na imagem ......................................... 55 B13 – Expressões flexíveis e difundidas ............................................................................... 55 B14 – Expressões verbalizadas de afectos variados, modulados pelo estímulo .................. 55 B21 – Entrada directa na expressão .................................................................................... 56 B22 – História com ressaltos. Fabulação longe da imagem ................................................. 56 B23 – Acento inscrito nas relações interpessoais. Relato em diálogo ................................. 56 B24 – Expressão verbalizada de afectos fortes ou exagerados ........................................... 57 B25 – Dramatização ............................................................................................................. 57 B26 – Representações contrastadas. Alternância entre estados emocionais opostos ........ 57 B27 – Oscilação (vai e vem) entre desejos contraditórios. Fim com valor de realização mágica do desejo ................................................................................................................ 57 B28 – Exclamações (1), comentários, digressões (2), referências/ apreciações pessoais (3) ............................................................................................................................................ 58 B29 – Erotização das relações, invasão da temática sexual e/ou simbolismo transparente ............................................................................................................................................ 58 B210 – Apego aos pormenores narcísicos com valência relacional ..................................... 59 B211 – Instabilidade nas identificações. Hesitações sobre o sexo e/ou idade das personagens ........................................................................................................................ 59 B212 – Acento inscrito numa temática do estilo: ir, correr, dizer, fugir, etc., num contexto dramatizado ........................................................................................................................ 60 B213 – Presença de temas de medo, de catástrofe, de vertigem, etc., num contexto dramatizado ........................................................................................................................ 60 4 A Série C .................................................................................................................................. 62 C/Fo ..................................................................................................................................... 62 C/Fo 1 – Tempo de latência inicial longo e/ou importantes silêncios intra-‐relato .............. 62 C/Fo 2 – Tendência geral à restrição ................................................................................... 62 C/Fo 3 – Anonimato de personagens .................................................................................. 63 C/Fo 4 – Motivos dos conflitos não indicados, relatos banalizados a todo o custo, impessoais, colagem ........................................................................................................... 63 C/Fo 5 – Necessidade de questionar. Tendência recusa. Recusa ........................................ 64 C/Fo 6 – Evocação de elementos ansiogénicos, seguidos ou precedidos de interrupções do discurso ............................................................................................................................... 64 C/N ...................................................................................................................................... 64 C/N1 – Acento inscrito na vivência subjectiva (não relacional) ........................................... 65 C/N2 – Referências pessoais ou autobiográficas ................................................................. 65 C/N3 – Afecto-‐título ............................................................................................................. 65 C/N4 – Postura significante de afectos ................................................................................ 66 C/N5 – Acento posto nas qualidades sensoriais .................................................................. 66 C/N6 – Insistência na demarcação dos limites e dos contornos .......................................... 66 C/N7 – Relações especulares ............................................................................................... 67 C/N8 – Pôr em quadro .........................................................................................................67 C/N9 – Críticas de si ............................................................................................................. 67 C/N10 – Pormenores narcísicos. Idealização de si ............................................................... 67 C/M ..................................................................................................................................... 68 C/M1 – Sobreinvestimento da função de anáclise do objecto ............................................ 68 C/M2 – Idealização do objecto (valência positiva ou negativa) ........................................... 68 C/M3 – Piruetas, viravoltas .................................................................................................. 69 C/C ....................................................................................................................................... 69 C/C1 – Agitação motora. Mímicas e/ou expressões corporais ............................................ 69 C/C2 – Perguntas feitas ao clínico ....................................................................................... 69 5 C/C3 – Críticas do material e/ou da situação ....................................................................... 70 C/C4 – Ironia, escárnio ......................................................................................................... 70 C/C5 – “Piscar de olho” ao clínico ........................................................................................ 70 C/Fa ..................................................................................................................................... 71 C/Fa 1 – Apego ao conteúdo manifesto .............................................................................. 71 C/Fa 2 – Acento inscrito no quotidiano, no factual, no concreto ........................................ 71 C/Fa 3 – Acento inscrito no fazer ......................................................................................... 71 C/Fa 4 – Apelo a normas exteriores ..................................................................................... 72 C/Fa 5 – Afectos de circunstância. ....................................................................................... 72 A Série E .................................................................................................................................. 73 E1 – Escotomas de objectos manifestos .............................................................................. 74 E2 – Percepção de pormenores raros e/ou extravagantes .................................................. 74 E3 – Justificações arbitrárias a partir desses pormenores ................................................... 75 E4 – Falsas percepções ........................................................................................................ 75 E5 – Percepção sensorial ..................................................................................................... 75 E6 – Percepção de objectos fragmentados (e/ou objectos deteriorados ou personagens doentes, deformadas). Fabulação fora da imagem ............................................................ 75 E7 – Inadequação do tema ao estímulo. Abstracção, simbolismo hermético. .................... 76 E8 – Expressões “cruas” ligadas a uma temática sexual ou agressiva ................................. 77 E9 – Expressão de afectos e/ou representações maciços ligados a qualquer problemática (daí a incapacidade, o fim, o triunfo megalomaníaco, o medo, a morte, a destruição, a perseguição, etc.) ................................................................................................................ 77 E10 – Perseveração .............................................................................................................. 77 E11 – Confusão de identidades (“telescopagem de papéis”) ............................................... 78 E12 – Instabilidade de objectos ............................................................................................ 78 E13 – Desorganização das sequências temporais e/ou espaciais ........................................ 79 E14 – Percepção do mau objecto, temas de perseguição. Projecção psicótica maciça. Identificação projectiva. ...................................................................................................... 79 6 E15 – Clivagem do objecto ................................................................................................... 79 E16 – Procura arbitrária de intencionalidade da imagem e/ou das fisionomias ou atitudes ............................................................................................................................................ 80 E17 – Falhas verbais (perturbações da sintaxe) ................................................................... 80 E18 – Associações por contiguidade, por consonância, disparates ...................................... 81 E19 – Associações curtas ...................................................................................................... 81 E20 – Vago, indeterminação, leveza do discurso ................................................................. 81 Síntese ......................................................................................................................................... 83 Agrupamento dos procedimentos de elaboração do discurso na folha de decomposição. ... 83 Legibilidade e problemáticas .................................................................................................. 84 Legibilidade ......................................................................................................................... 84 Problemáticas ..................................................................................................................... 85 Hipóteses relativas à organização psíquica. ............................................................................ 86 Os Tipos de Funcionamento ....................................................................................................... 88 Registo Neurótico ...................................................................................................................88 Neurose Obsessiva .............................................................................................................. 88 Neurose Histérica ................................................................................................................ 89 Neurose Fóbica (inibição, neurose de angústia) ................................................................. 89 Registo Limite .......................................................................................................................... 90 Estilo Narcísico .................................................................................................................... 90 Estilo Depressivo ................................................................................................................. 92 Registo Psicótico ..................................................................................................................... 92 Esquizofrenia ....................................................................................................................... 94 Melancolia ........................................................................................................................... 94 Paranóia .............................................................................................................................. 95 7 O TAT O Teste de Apercepção Temática (TAT) surgiu em 1935 com Murray. O termo apercepção é de Leopoldo Ballak. É uma percepção especial. Tem a ver com o sentido que o sujeito dá a cada uma das imagens em função de vários factores, nomeadamente da memória afectiva de situações semelhantes pelas quais o sujeito já passou. Em comum com o Rorschach esta prova é projectiva. Ambas se baseiam numa hipótese projectiva. A seguir ao Rorschach, o TAT é a prova projectiva mais utilizada. O que as distingue é o material pois o estímulo é completamente diferente. Aqui o material é figurativo e organizado. Na sua forma original, o TAT era composto por 31 imagens administradas em duas vezes, podendo ser divididas em séries destinadas aos adultos homens e mulheres e aos rapazes e raparigas com idades superiores a 10 anos. Estas imagens representam personagens de idades e sexos diferentes, colocadas em situações relativamente determinadas mas que deixam também lugar a interpretações, ou ainda paisagens ou ainda paisagens pouco estruturadas. O sujeito era convidado a imaginar uma história, tão rica e dramática quanto possível, que desse conta do presente, passado e futuro, bem como dos sentimentos das personagens postas em cena. Os encorajamentos, questões e apreciações eram autorizados, para que o sujeito fornecesse o máximo de material significativo dos seus conflitos inconscientes. Na sua obra Explorations in personality (1938), Murray expõe o seu sistema teórico centrado na dualidade entre as necessidades (tudo o que o sujeito deseja) e as pressões (tudo o que se opõe à satisfação desses desejos), onde exprimia as suas próprias necessidades, representando as outras personagens o meio de vida no qual o sujeito sentia a pressão. Segundo Murray, o sujeito que conta a história identifica-se à personagem principal da história (o herói) e as personagens secundárias estão relacionadas com o meio do sujeito. Foi Bellak (1954), da escola americana, quem recolocou o TAT nos eixos da teoria psicanalítica, ao acentuar a segunda tópica (Id/Ego/Superego), o papel do Ego e as suas funções, as resistências e as defesas. Bellak iniciou a revisão do TAT. 8 Foram levadas a cabo outras tentativas de modificação do método de H. Murray por Rotter (1940), Rapaport (1946, 1947), Tomkins (1947), Wyatt (1947, 1958), Piotrowski (1950), Symonds (1951, 1954) e Henry (1956). Estes autores propuseram vias diferentes: permaneceram ligados ao “herói” mas estabeleceram novas classificações das necessidades. Rapaport chamou a atenção para a importância de fazer uma análise do conteúdo das histórias que nos dá informação sobre a vida inconsciente do sujeito. Schafer revolucionou a forma de análise do TAT com um artigo cujo título era “Como é que a história foi contada?”. Entendeu que tão ou mais importante que analisar o conteúdo é a forma como o sujeito diz as coisas. Considerava que o lado formal do discurso dava conta do drama pulsional e das defesas usadas pelo sujeito. Por outro lado, R. R. Holt (1961) introduziu a discussão fundamental sobre a diferença que existe entre a fantasia espontânea, como a rêverie, e a história dada ao TAT, produzida sob solicitação de outrem e a partir de um material concreto. Demonstra que existem diferenças fundamentais entre a fantasia espontânea – que não se destina à comunicação, submetida ao princípio do prazer e à lei do processo primário, que se exprime mais em imagens do que em linguagem, independentemente dos estímulos externos – e as histórias do TAT, que obedecem aos princípios exactamente contrários. Os trabalhos americanos culminaram por volta de 1970. Depois deste período, os escritores sobre o TAT foram-se tornando raros devido às divergências teóricas e metodológicas entre as escolas. Depararam-se com a ausência de uma teoria homogénea, susceptível de explicar o que se passa no sujeito quando lhe é pedido para “imaginar uma história a partir do cartão”. Relativamente à escola francesa, os trabalhos de Vica Shentoub começaram em 1954. A escola francesa negligenciou as investigações centradas em variáveis isoladas como a agressividade, as necessidades sexuais, o desejo de afirmação ou de realização. O TAT só teria interesse nesta perspectiva numa abordagem holística tendo em conta as noções de estrutura individual, da organização mental e da vida interior e relacional de cada um. Para isso, era necessário ter em conta tanto a primeira como a segunda tópica (inconsciente/pré-consciente/consciente; Id/Ego/Superego) e os três pontos de vista clássicos: dinâmico, económico e tópico, 9 sem confundir a situação psicanalítica com a situação TAT, as associações livres obtidas na cura e as fantasia espontâneas dadas no TAT. Vica Shentoub, F. Belet-Foulard, R. Debray e C. Chabert fizeram do TAT um instrumento seguro, sensível para estudar o funcionamento psíquico global do sujeito e também capaz de diferenciar um funcionamento psíquico normativo de outro com patologia. Até chegarem a produzir um diagnóstico diferencial, tiveram que estudar as características do material TAT em profundidade (ex: no cartão 1, a população normativa utilizava como detalhes a mulher, o homem, a rapariga; os outros detalhes eram facultativos ou secundários), o tema banal (ex: no cartão 2, a população normativa interpreta a imagem como uma história triste e depressiva). Para além disso, tiveram ainda que construir uma metodologia de análise do TAT séria e científica, de modo a que qualquer pessoa (psicólogo) pudesse utilizar o TAT com segurança. Para isso, foi preciso uma teoria, A Teoria sobre o TAT. 10 Os conceitos psicanalíticos e a sua articulação com a Teoria do TAT A metapsicologia freudiana consiste em ver a análise psicológica sob três pontos de vista: Tópico O ponto de vista tópico tem a ver essencialmente com o equilíbrio entre os processos primários e os secundários, entre os movimentos progrediente e regrediente. Deste ponto de vista, ofundamento de um relato “bem sucedido” não reside no predomínio o processo secundário sobre o processo primário. Se a história deve obedecer à secundarização, ela deve igualmente admitir uma ressonância fantasmática. Uma história só pode ser criada se estes dois procesos se conjugarem. O ponto de vista tópico permite perceber qual é a instância em que se dá o conflito: Id, Ego ou Superego. Dinâmico O ponto de vista dinâmico pressupõe o conflito entre uma questão e uma resposta, entre o princípio do prazer e o princípio da realidade. A instrução apela a uma representação-alvo consciente e uma representação-alvo inconsciente, reactivada pelas solicitações latentes do material. Assim, pode dizer-se que um sobreinvestimento fantasmático maciço do percebido constitui um dos maiores obstáculos à solução do conflito entre a representação-alvo consciente e a representação-alvo inconsciente. O ponto de vista dinâmico permite perceber entre que instâncias é que se dá o conflito: por exemplo, se o conflito se der entre o Id e o Ego, estamos perante uma psicose. Económico O ponto de vista económico refere-se à distribuição da energia consumida nos conflitos defensivos contra as ideias e afectos desagradáveis. Deste modo, dever haver uma boa distância, conveniente par ligar os afectos e as representações e permitir a criatividade. É preciso perceber se a energia se distribui harmoniosamente, chegando a uma variedade flexível ou se, pelo contrário, o aparelho defensivo fica reduzido a uma ou duas modalidades exclusivas, mobilizando, ou mesmo esgotando, a energia em detrimento da criação. 11 Segundo Freud, só pode haver pensamento secundário (de qualidade) com pouca energia psíquica. Por exemplo, uma pessoa enraivecida não pensa, reage instintivamente. Assim, só pode haver uma história bem contada com um grau de secundarização aceitável se houver pouca quantidade de energia. Paralelamente, é igualmente preocupante se não houver qualquer tipo de energia. Nenhum destes três pontos de vista pode ser considerado isoladamente. O protocolo, na sua extensão, constitui um todo indissociável que repousa num jogo complexo de relações moventes e interdependentes Os Conceitos Freudianos Fundamentais Representações e Afectos As representações e os afectos absorvem tudo o que é da ordem da fantasia inconsciente reactivada pelo material. Por outro lado, há também a fantasia consciente induzida que é a história construída pelo sujeito. A fantasia consciente traduz a forma como as representações e os afectos inconscientes foram “metabolizados” pelo Ego, pela ajuda dos mecanismos que lhe são próprios e com a ajuda da linguagem. Assim sendo, como definir uma representação? Uma representação é aquilo que forma o conteúdo concreto de um pensamento e a reprodução de uma percepção anterior. Quando essa representação consiste num reinvestimento de traços mnésicos mais ou menos ligados a uma coisa, trata-se de uma representação de coisa. A representação de coisa, que caracteriza o sistema inconsciente, reaviva a inscrição de um acontecimento. O Afecto é Inseparável da Representação A pulsão é a fonte do afecto. Por sua vez, o afecto é a parte energética da representação. A representação desperta o afecto e o afecto, mobilizado, procura uma representação. Assim, tanto o afecto como a pulsão, contêm em si a dualidade e a contradição. A defesa exerce-se não só contra as representações, mas também contra o afecto que 12 as acompanha e cujo retorno pode ser temido. O afecto também é uma forma de memória. Os afectos assim religados à fonte pulsional, enquanto ficarem sob o domínio do inconsciente, têm as características do modo de funcionamento próprio deste sistema: são maciços, tempestuosos e tendem à descarga directa. Sob esta forma bruta são ruinosos para a organização psíquica. Tudo vai depender do potencial organizador do Ego, da organização (esforços para ultrapassar o conflito entre o princípio do prazer e o desprazer) pelo Ego das representações e dos afectos despertados e reactivados pelo estímulo do TAT. Representação de Coisa – Representação de Palavra A representação de coisa caracteriza o sistema inconsciente: é o investimento de um traço mnésico que diz respeito à coisa. Ao lado desta representação “essencialmente visual que deriva da coisa”, Freud distinguiu uma representação “essencialmente acústica que deriva da palavra”. Enquanto que a ligação entre a representação de coisa e a representação da palavra caracteriza o sistema pré- consciente/consciente, o sistema inconsciente só compreende as representações de coisa. Assim, a representação de coisa liga a verbalização à consciência. A intervenção da linguagem faz passar a representação inconsciente para o domínio do consciente e marca a distinção entre uma representação alucinatória e a percepção clara do objecto-alvo presente. No TAT isto significa construir uma história com a ajuda de uma linguagem estável e coerente. Com efeito, a história contada pelo sujeito atestará o compromisso entre a representação inconsciente reactivada pelo material e os imperativos conscientes – contar uma história. Está-se, assim, perante uma fantasia inconsciente: fantasia na medida em que as raízes mergulham nas representações e afectos inconscientes; consciente na medida em que os organizadores do Ego possibilitam a secundarização. O que se pretende no TAT é uma história estruturada com ressonância fantasmática. O problema coloca-se em termos das representações e dos afectos inconscientes que podem escapar ao controlo do Ego e à elaboração secundária. Então, o que acontece ao afecto quando este se depara com a barreira do Ego? O que acontece é que ele pode ser aceite ou recusado. Quanto mais o afecto for maciço e tempestuoso, mais ele ficará sob o domínio do sistema inconsciente. Nestes casos, do ponto de vista económico, não é possível nenhum trabalho do pensamento. 13 O dilema no TAT é o de estabelecer uma espécie de compromisso ideal entre os imperativos conscientes e os imperativos inconscientes. A compreensão teórica do processo TAT permite a elaboração de um método objectivo de análise do material recolhido. Apesar do método poder sofrer modificações pontuais em função dos interesses e das modificações em psicopatologia, a teoria do processo TAT e os princípios do método são operacionais, tanto na prática clínica como na reflexão teórica dos funcionamentos mentais e também como princípio de investigação sobre outros testes temáticos como o CAT. Por processo TAT entende-se o conjunto de mecanismos mentais comprometidos nessa situação singular em que é pedido ao sujeito para imaginar uma história a partir do cartão, ou seja, para forjar uma fantasia a partir de uma certa realidade (fantasia induzida ð pela imagem). A análise destes processos mentais só pode ser abordada após uma análise aprofundada da situação que os engendra. Esta situação TAT compreende três parâmetros: O Material O material é constituído por uma série de imagens apresentadas ao sujeito. Para Murray, as imagens representavam “situações humanas clássicas”. Actualmente considera-se que se trata de situações que se reportam aos conflitos universais (ex: amor, ódio, solidão, perda, sexualidade, conflito de gerações, imaturidade, depressão, agressividade, morte, etc.). Qualquer que seja o cartão, existe uma referência permanente ao que especifica a condição humana, que é o manejo da libido e da agressividade, no registo da problemática edipiana, que engloba a diferença de sexos e de gerações. No desenrolarda prova o sujeito vai modulando as suas representações, os seus afectos, as suas defesas e vai elaborando o relato em ressonância com o nível da problemática sugerida. A estruturação destas imagens é muitas vezes trivial e relativamente pouco ambígua. Face a um material objectivamente traçado, existe para cada imagem um conteúdo manifesto figurado pelos elementos em presença (personagens, o seu sexo, idade, posições respectivas, objectos, etc.) e as solicitações latentes (susceptíveis de reactivar um ou outro nível de problemática). A contradição interna entre o conteúdo manifesto que fixa os limites da fantasia, ao fazer apelo ao princípio da realidade, e as 14 solicitações latentes que reactivam os traços mnésicos individuais, em relação com os fantasmas originários, ao fazer apelo ao princípio do prazer. As situações latentes da imagem desencadeiam uma regressão e representações inconscientes acompanhadas de afectos que lhes estão ligados. O conteúdo latente simbolização e projecção do sujeito. Assim, o conflito reside no facto do sujeito dar mais ou menos atenção à projecção ou à percepção. A Instrução A instrução original era “Imagine uma história rica e dramática com sentimentos e que tenha em conta o passado, o presente e o futuro”. Actualmente, a instrução é muito lacódica e próxima do Rorschach. Quanto menos instrução se der, mais o sujeito está condenado a ser livre. A instrução é “Imagine uma história a partir do cartão.”. A instrução encerra uma contradição e é indutora de conflito. Pede-se ao sujeito um funcionamento psíquico para imaginar e se libertar segundo o princípio do prazer e, ao mesmo tempo, dizer-lhe que tem que ter como base a imagem. Isto implica um controlo temporal e lógico para se poder construir a história. A tónica é posta na necessidade de dar conta do conteúdo manifesto da imagem como representante do real e de elaborar uma história lógica e coerente que obedeça aos princípios da secundarização e também na necessidade de baixar o limiar do controlo para se deixar ir ao sabor da imaginação. O que há de particular nesta instrução é deixar-se ir pelo imaginário (projecção) mas controlar-se e ficar preso à imagem, de maneira a transformar as representações de coisas em representações de palavras para contar a história (percepção); admitir os afectos tal como o movimento regressivo os desencadeia, mas filtrá-los de maneira a que possam ficar a cargo do pensamento. A Presença do Clínico A neutralidade do clínico é necessária mas é mais um fim a atingir do que um dado imediato. A neutralidade é posta em causa pelo sujeito devido às reacções transferenciais da situação. Esta também é posta em causa pelo clínico uma vez que o seu comportamento consciente e inconsciente inflecte o modo de reacção do sujeito. A compreensão do clínico passa não só pelo conhecimento mas também pela disposição a compreender. O clínico deve estar presente de um modo neutro, não 15 intervir, não colocar questões, abster-se de qualquer julgamento e de qualquer relação real mas, ao mesmo tempo, impor o material e a instrução e transcrever as propostas do sujeito, o que faz dele o representante da fantasia e da realidade. A presença do examinador é indutora de conflito porque ele representa, simultaneamente, o princípio do prazer (dá liberdade total à fantasia e ao fantasmático; aceita tudo o que o sujeito lhe disser) e o princípio da realidade (porque é ele que representa e dá ao sujeito o material e toma nota de tudo o que é dito pelo sujeito). Havendo no TAT conflitos, há também angústias e, consequentemente, mobilização de mecanismos de defesa. Outro conceito importante é o de Processo de elaboração da resposta TAT. Assim, há três momentos fundamentais pelos quais o sujeito passa desde que lhe entregam o cartão até ao momento em que produz a história: 1. O conteúdo manifesto da imagem é percepcionado. 2. O conteúdo latente da imagem e a instrução que foi dada ao sujeito para imaginar provocam uma regressão (abaixamento do controlo consciente) e desencadeia, no sujeito, a um nível inconsciente, representações e afectos que estão ligados a essas representações. 3. Este complexo de representações e afectos que estão desorganizados (como tudo o que são processos primários) irá ou não aceder a um sistema pré- consciente/ consciente para ser organizado e simbolizado através da palavra. Esta ligação a aspectos da vida do sujeito depende de quê para ser aceite pelo Ego? Se o Ego for sólido, forte e seguro, não sentirá perigo em utilizar estes aspectos na história, mobilizando mecanismos de defesa de tipo neurótico. Caso contrário, se o Ego não for suficientemente forte, isso vai ser gerador de muita angústia e vai mobilizar muitos mecanismos de defesa, maioritariamente de tipo psicótico. Se o Ego for demasiadamente frágil, pode ser submergido pelo inconsciente expressando-se isso através de histórias cruas carregadas de afectos fortíssimos. Os parâmetros da situação do TAT são as situações de conflito por excelência: o princípio de prazer e o princípio de realidade, a representação de coisa e a representação de palavra, a identidade de percepção e a identidade de pensamento, o desejo e a defesa, ou seja, os imperativos conscientes e inconsciente. O mais importante neste teste não são as “necessidades” ou as “motivações”, no limite 16 anedóticas, mas os modos particulares e sempre singulares do funcionamento do indivíduo em qualquer situação geradora de conflito. 17 Aplicação da Prova O TAT é normalmente aplicado a partir dos 9 anos. A aplicação é feita num único momento e escolhem-se os 10 cartões mais adequados à problemática do sujeito. Durante a aplicação da prova, há alguns aspectos fundamentais que devem ser tidos em consideração. Deve medir-se o tempo, tanto o tempo de latência como o tempo total por cartão. As características temporais não podem ser interpretadas em termos de eficiência ou de realização, mas sim como referências clínicas que mostram a menor ou menor reactividade do sujeito ou, pelo contrário, a sua tendência para a inibição. É preciso perceber quais são os efeitos específicos de cada cartão, se o sujeito tem tendência para reflectir ou para se precipitar no relato. O tempo de latência e os tempos totais devem ser sempre tomados em consideração, mas a sua interpretação depende dos elementos clínicos fornecidos pela análise do conjunto dos relatos. É desaconselhada a utilização de cronómetro, que pode induzir a aplicação a uma conotação psicométrica. É preferível recorrer a um relógio de ponteiros, o que é mais discreto, sem no entanto o esconder. Quanto às anotações dos relatos, é preciso anotar integralmente o discurso do sujeito (abreviações, reconstruções e interpretações do clínico devem ser proscritas. Esta necessidade de transcrever o discurso do sujeito o mais fielmente possível deve- se ao facto do trabalho sobre o TAT se efectuar a partir da análise formal do relato. A utilização de um gravador é problemática pois o sujeito pode ter o sentimento de ser espiado, roubado, ou ainda sentir-se extremamente valorizado. Pode ainda ser um sinal de falta de confiança na capacidade de escuta do clínico, o que mais uma vez obriga à transcrição do relato. Relativamente às intervenções ao longo da aplicação, o clínico intervém pouco durante a aplicação, o que não significa que não o deva fazer. Cabe ao psicólogo regular a relação com o sujeito e pode intervir se o entender necessário, sem dar sugestões ou emitir juízos de valor. No caso de intervir, o psicólogotem que ter em conta as suas intervenções e o seu impacto na apreciação da aplicação: se são uma 18 oferta de suporte, de apoio ou se, pelo contrário, são sentidas como inibidoras, intrusivas ou persecutórias. Factores como a duração da prova e a atitude do clínico permitem ao clínico recolher dados que o conduzirão a apreciar o modo de funcionamento psíquico do sujeito. Depois de concluída a aplicação, o material recolhido vai ser objecto de análise. Essa análise baseia-se no estudo dos procedimentos do discurso utilizados na elaboração das narrativas e da sua articulação com as problemáticas que eles se esforçam por abordar. 19 A Metodologia O TAT pode ser proposto em qualquer situação de exame psicológico em que se pretenda o aprofundamento do funcionamento psíquico de um indivíduo. Como qualquer situação de teste projectivo, a situação TAT compreende o sujeito, o teste e o clínico. Tal como os restantes testes temáticos, o TAT é, ao mesmo tempo, figurativo e ambíguo. Assim, permite simultaneamente uma análise objectiva de tipo perceptivo (que conduz à descrição do material manifesto) e uma interpretação subjectiva, que arrasta associações de tipo projectivo (o que traduz as significações latentes atribuídas ao estímulo). O TAT solicita condutas perceptivas e projectivas pois o objecto-teste é compreendido, ao mesmo tempo, como objecto real, tangível, concreto e também como lugar de investimento de significações subjectivas à semelhança do objecto transitivo. Isto implica a capacidade do sujeito se deixar ir num devaneio a partir de uma realidade perceptiva, sem ficar desorganizado por esta actividade associativa, ou demasiadamente constrangido pelos imperativos da objectividade, referenciado através das respostas no TAT. O Material Da edição original de 31 cartões, só são considerados os mais pertinentes e significativos: os cartões 1, 2, 3BM, 4, 5, 8BM, 10, 11, 12BG, 13B, 9 e 16 propostos a rapazes e raparigas, homens e mulheres. Para além disso, os cartões 6BM/7BM são propostos aos rapazes e homens; os cartões 6GF/7GF e 9GF são propostos a raparigas e mulheres; e o cartão 13MF é proposto unicamente aos sujeitos adultos, homens e mulheres. A ordem de apresentação deve ser respeitada e o cartão 16 deve ser proposto no fim da aplicação. Os cartões vão das situações mais estruturadas para as menos estruturadas: os dez primeiros são mais figurativos e representam personagens sexuadas e os cartões 11, 19 e 16 não reenviam para objectos concretos bem definidos. O material é aplicado numa única sessão. 20 A instrução dada é “Imagine uma história a partir do cartão”. A instrução é dada no início e não é repetida. Não há inquérito para cada cartão no final da aplicação mas, no decurso da aplicação, face a um sujeito muito inibido e/ou com grande mal-estar, podem colocar-se algumas questões. Análise do Material Cartão 1 Conteúdo manifesto: Representa um rapaz, com a cabeça entre as mãos, olhando para um violino colocado diante dele. Conteúdo latente: o cartão remete para a identificação com um indivíduo jovem numa situação de imaturidade funcional, que se encontra confrontado com um objecto que pode ser considerado objecto de adulto, cujas significações simbólicas são transparentes. Para que a criança imatura possa ser representada como “capaz de utilizar o instrumento” é necessário que veja a sua integridade e a do violino: a percepção da criança deve remeter para uma representação humana inteira, não defeituosa; o Número do Cartão 1 2 3BM 4 5 6BM/7BM 6GF/7GF 8BM 9GF 10 11 12BG 13B 13MF 19 16 S e x o e I d a d e Homem û û û û û û û û û û û û û û Mulher û û û û û û û û û û û û û û û Rapaz û û û û û û û û û û û û û Rapariga û û û û û û û û û û û û û û 21 violino deve ser identificado como um objecto não atingido na sua identidade, não partido e não estragado. Isto atesta a capacidade do sujeito se situar inteiro face a um objecto inteiro. O sujeito pode reconhecer que o rapazinho, no presente, é incapaz e se servir do objecto “violino”, interpretação que remete para a impotência actual da criança, mas impotência que poderá ser ultrapassada no futuro. Isto implica o reconhecimento da angústia de castração, problemática essencial colocada por este cartão, isto é, o reconhecimento da imaturidade actual da criança e a possibilidade de dela se distanciar num projecto identificatório (o que corresponde ao tema banal) com um jogo possível entre posições activas e/ou passivas. A problemática de castração não deve ser apenas entendida em termos de potência/ impotência mas como possibilidade de aceder à fruição e ao prazer: o objecto “violino” pode ser investido como objecto de desejo, susceptível de aportar satisfações e, portanto, suficientemente investido. Quando domina a problemática narcísica e a luta antidepressiva, há um evitamento da angústia de castração na afirmação de uma posição de omnipotência. O princípio do prazer afirma-se de um modo megalomaníaco, que nega a imaturidade funcional da criança e a sua impotência actual. (“É uma criança prodígio, está a ver-se a tocar, numa sala, aclamado por um público fascinado pelas suas capacidades”). Pode aparecer a posição inversa a esta, em que há insuficiências do investimento de si com afectos depressivos (“É uma criança desesperada, nunca conseguirá livrar-se, não pode, é incapaz de…”). 22 Cartão 2 Conteúdo manifesto: É “uma cena campestre” com três personagens. No primeiro plano, uma rapariga segura livros, no segundo plano, um homem com um cavalo e uma mulher encostada a uma árvore, que pode ser percebida como estando grávida. Não existe diferença de gerações evidente entre as três personagens, mas a diferença de sexos é claramente representada. Conteúdo latente: A relação triangular figurada é susceptível de reactivar o conflito edipiano. Quando a identidade é estável, existe uma diferenciação entre as três personagens, podendo cada uma delas ser apreendida como munida de qualquer coisa. Há casos em que o conflito não se desenrola numa relação triangular mas sim dual, em que a rapariga está numa situação de dependência em relação ao casal de camponeses que figuram o casal parental. Quando, pelo contrário, os processos identitários são pouco estáveis, aparece uma pseudotriangulação que vem substituir- se à diferença de sexos. O reconhecimento do laço que une o casal do segundo plano é sustentado por fantasmas da cena primitiva mais ou menos elaborados: o conflito vai tecer-se entre desejos e defesas, sendo a rapariga portadora de desejos libidinais em relação ao homem e de movimentos agressivos em relação à mulher. Isto é acompanhado por evocações de nostalgia e tristeza em ter de renunciar aos seus objectos de amor. Quando predomina a problemática narcísica ou antidepressiva, o cartão pode reavivar outros registos de problemática: numa problemática de perda, a elaboração do conflito edipiano é particularmente difícil (fragilidade de manejo pulsional, 23 precaridade dos investimentos libidinais e manuseamento da agressividade mal gerida). Em contextospsicóticos, os laços entre as personagens são maciçamente atacados, o que está associado a fantasmas destrutivos e mortíferos da cena primitiva. Cartão 3BM Conteúdo manifesto: Representa um indivíduo cujos sexo e idade são indeterminados, está caído junto de um banco. No canto esquerdo, está um objecto pequeno, que pode ou não ser percepcionado e que é frequentemente visto como um revólver ou uma flor. Conteúdo latente: Reenvia para a problemática de perda de objecto e põe a questão da elaboração da posição depressiva (depressão). O material, ao pôr à prova a representação narcísica de si próprio, mobiliza também processos identificatórios, na medida em que a personagem é representada de modo relativamente vago quanto à sua identidade sexual. A elaboração da posição depressiva é possível quando os afectos depressivos são reconhecidos e associados a uma representação de perda do objecto. Pelo contrário, há uma recusa da depressão quando há uma defesa maior de tipo maníaco. Deste modo, é preciso perceber se, num primeiro momento, o sujeito “mergulha” na depressão e depois se liberta, projectando no futuro um possível trabalho de luto. Nas organizações neuróticas, os afectos depressivos são reconhecidos e a representação de perda do objecto é associada à ambivalência face ao objecto. Aqui o 24 conflito posiciona-se entre o desejo e os interditos superegóicos que ameaçam o laço de amor com as figuras parentais. A depressão é então dominada pelo sentimento de culpabilidade e pelo medo inconsciente de um castigo. Nas modalidades de tipo narcísico, o conflito refere-se a um ideal do Ego exigente. O fantasma narcísico é posto em primeiro plano e a perda é sentida em termos de ferida narcísica. Aqui, a depressão é dominada por sentimentos de vergonha e de inferioridade. O objecto não é investido num movimento relacional objectal, mas com uma procura permanente de ganhos para o narcisismo próprio do sujeito. Nas organizações de tipo psicótico, os afectos depressivos podem eventualmente ser evocados. Aqui é a representação unitária da imagem de si que falha, o que se traduz pela percepção de deformações corporais na personagem. Neste caso, podem aparecer temas de destruição (a agressividade é maciçamente voltada contra si num movimento destrutivo, o que não permite a manutenção da identidade na sua integridade) ou ainda temas paranóicos (há projecções da agressividade para o exterior, tornando-se o objecto externo persecutório). Os movimentos destrutivos atacam o pensamento, o discurso fica desorganizado, o relato torna-se caótico, bem como a representação que o sujeito tem de si e do seu corpo. 25 Cartão 4 Conteúdo manifesto: Representa um casal, uma mulher junto de um homem que se afasta. A diferença de sexos é claramente representada mas não há diferença de gerações. Conteúdo latente: Remete para o conflito pulsional no seio de uma relação heterossexual visto que cada um dos protagonistas pode ser portador de movimentos pulsionais diferentes, agressividade e/ou libido (o dualismo pulsional está aqui fortemente representado). Tal como os cartões 6BM, 6GF e 7BM, este cartão está estruturado pela diferença de sexos, prestando-se com menos facilidade a associações regressivas. Encontra-se com muita frequência instabilidade nas identificações, o que se traduz pelas tomadas de posições alternativas masculinas ou femininas: por vezes é o homem que é percebido como potente e forte e a mulher frágil e dependente, enquanto noutros casos a situação inverte-se e é uma mulher dominadora e castradora que se confronta com um homem fraco e submisso. Este duplo movimento pulsional é esperado mas é importante que haja uma ligação possível entre a libido e a agressividade. O investimento e a presença de uma terceira personagem podem acentuar o impacto edipiano da fantasmática. O cartão é estruturado no sentido do Édipo positivo: o homem e a mulher amam-se e o homem deseja ir bater-se com o seu rival para guardar aquela que ama. A valência feminina da problemática edipiana está também presente: ao alto à esquerda, num pormenor pouco figurado, há uma personagem feminina, muitas vezes percebida como parcialmente desnudada, que reactiva a 26 rivalidade das duas mulheres pelo homem. O movimento de saída pelo homem pode ser, então, interpretado como significativo do desejo de encontrar esta outra mulher. A dupla conflitualidade da problemática edipiana é a atracção pela personagem do sexo oposto e a rivalidade com a personagem do mesmo sexo. Cartão 5 Conteúdo manifesto: Representa uma mulher de meia-idade, com a mão na maçaneta de uma porta, a olhar para o interior de uma sala. Esta mulher é representada entre o dentro e o fora. O dentro é figurado pelo interior de uma sala, que tem uma mesa, um ramo de flores, um candeeiro sobre uma mesa e, ao fundo, uma espécie de aparador sobre o qual está colocada uma pequena estante com livros. Conteúdo latente: Reenvia para uma imagem materna que penetra e olha, que não pré-julga sobre o registo conflitual no qual o sujeito se vai situar, pois as modalidades de relação à imagem materna são múltiplas. A mãe pode ser vivenciada como uma instância superegóica que vem surpreender uma cena transgressiva (o cartão reactiva a curiosidade sexual e os fantasmas da cena primitiva e a culpabilidade ligada à masturbação). Por outro lado, podem surgir fantasmas incestuosos ligados a uma imagem materna sedutora: mulher que mostra a perna nua por entre a racha da saia. No registo de uma problemática edipiana relativamente elaborada, diferenciam-se os conflitos expressos em termos de agressividade e de interditos, de desejo e 27 culpabilidade, daqueles que remetem para uma cena de sedução reactivada no aqui e agora da aplicação. Num registo mais arcaico, em que não há suficiente interiorização do Superego, pode haver referência a uma imago materna que penetra e olha de um modo persecutório. As quantidades de energia pulsional agressiva permitem evocar uma vivência de intrusão, ou mesmo persecutória, na relação com a imagem materna. O olhar da mulher não será então integrado num sistema conflitual interno e as moções pulsionais agressivas, projectadas sobre a personagem figurada, arrastarão uma irrupção de representações maciças e uma deformação do material (“ela tem um olhar rancoroso”). Cartões 6 e 7 Estes cartões reenviam para as relações com as imagens materna e paterna no seio de uma problemática edipiana. A sua estruturação de diferença de sexos e gerações facilita pouco as associações regressivas. A aproximação dual que elas privilegiam pode dar lugar a manifestações de intensa angústia, quando o sujeito te dificuldade em se situar em relação a uma imagem parental sentida como perigosa, pela sua potência ou proximidade. 28 Cartão 6BM Conteúdo manifesto: Representa um casal, um homem visto de frente, com um ar preocupado, e uma mulher idosa que olha para algures. Este é o primeiro cartão do TAT em que a diferença de gerações é figurada de um modo tão claro. Conteúdo latente: Remete para a proximidade mãe-filho num contexto de mal- estar. A diferença de gerações reenvia para o interdito da aproximação edipiana, devido ao facto das duas personagens não estarem frente a frente, dado que a mulher tem as costas viradas para o jovem. Num contexto edipiano é acentuado o interdito da proximidade: ”o rapaz deve deixar a mãe”.Os afectos e a tristeza (quando é reconhecida) remetem para um tema de luto, luto do pai com muita frequência, podendo esta evocação ser sustentada por um fantasma de parricídio. Se no cartão 5, no mesmo contexto edipiano, a relação com a imagem materna pode ser erotizada e interdita, o cartão 6BM é mais estruturado no sentido do interdito: a diferença de gerações é muito acentuada, a mulher afasta-se do homem e vem inscrever-se na proximidade mãe e filho uma representação de perda de objecto. Quando a problemática edipiana é suficientemente estruturante, a evocação de morte não engendra uma desorganização evidente uma vez que a ligação entre a agressividade e os afectos ternos é possível. É a tristeza do luto que eles partilham que aproxima os dois parceiros. Num registo mais arcaico de relação com a imagem materna, podem observar-se fantasmas de realização incestuosa que se traduzem pela ausência da percepção da diferença de geração, por estados de grande excitação ou de desorganização parcial 29 através de temas de destruição ou de morte que dão conta do perigo de aproximação mãe-filho. Cartão 6GF Conteúdo manifesto: Representa um casal heterossexual. Uma jovem sentada no primeiro plano volta-se para um homem que se inclina para ela e que tem um cachimbo na boca. O material manifesto não é simétrico do cartão 6BM: se o interdito do incesto é fortemente encenado no cartão 6BM, ele é-o menos no cartão 6GF (não há diferença de gerações e postura das duas personagens; há aqui um movimento de encontro entre o homem e a mulher: o homem inclina-se para a mulher e ela volta-se para ele). Conteúdo latente: Este cartão remete para um fantasma de sedução. Põe à prova a capacidade de integrar a identificação feminina no seio de uma relação de desejo. Quando a problemática narcísica domina, há um sobreinvestimento do corpo, do ar ou da postura das personagens, a sua idealização ou, pelo contrário, a sua depreciação sem verdadeira possibilidade de elaboração do conflito pulsional. 30 Cartão 7BM Conteúdo manifesto: Representa duas cabeças de homens, lado a lado. Um, “velho”, está virado para o outro, “jovem”, que está amuado. A diferença de gerações é marcada, mas não há aqui noção de imaturidade funcional de um dos parceiros. Conteúdo latente: Reenvia para a proximidade pai-filho num contexto de reticência do filho; os corpos estão excluídos. O conflito deverá desenvolver-se em torno de uma proximidade entre estas duas personagens, em termos de ternura e de oposição. A energia pulsional é mobilizada tanto no seio de movimentos agressivos como libidinais (a agressividade e a rivalidade predominam quase sempre). Contudo, quando uma proximidade mais terna é evocada, ela não remete só para a erotização da relação, mas pode testemunhar um apoio possível num “bom pai”, o que revela a resolução do conflito edipiano e do acesso à ambivalência: o pai pode ser um rival mas o amor de que ele é objecto permite ligar a agressividade sentida por ele. Por vezes, a ambivalência é difícil de elaborar: ou o confronto conflitual é evitado pelo recurso a uma relação especular (problemática narcísica dominante) ou então desencadeia o surgimento de fantasmas destrutivos. 31 Cartão 7GF Conteúdo manifesto: É uma mulher com um livro na mão, inclinada para uma menina com expressão sonhadora, que segura um boneco nos braços. A diferença de gerações é acentuada pela presença da boneca. A imaturidade funcional caracteriza a posição da menina. Conteúdo latente: Reactiva a problemática das relações mãe-filha em duas dimensões: rivalidade e identificação; interacções precoces mãe-filha. Num contexto edipiano, a imagem pode dar origem a temas de iniciação e da identificação feminina. Uma das personagens é portadora de desejo: “a mãe inclina-se para a filha ara lhe contar coisas” e a filha volta-lhe as costas. Trata-se de um cenário clássico entre o desejo de saber, neste caso “a curiosidade” e a defesa contra esse desejo “À filha, isso não lhe interessa nada, ela pensa que preferiria ir lá para fora brincar e divertir-se com os amigos”. Interessa aqui a qualidade dos laços “mãe-filha”, que se traduz pela forma como o boneco é agarrado pela criança. A reactivação das relações precoces mãe-filha arrasta movimentos de projecção e deslocamento sobre a relação “menina-boneco”: os temas de queda podem ser interpretados em referência ao holding de Winnicott. Aqui, o que está em jogo é a capacidade de representar uma “mãe suficientemente boa”. 32 Cartão 8BM Conteúdo manifesto: No primeiro plano está um rapaz adolescente, sozinho, com uma espingarda ao lado, de costas voltadas para a cena do segundo plano. Conteúdo latente: Reactiva as representações susceptíveis de serem relacionadas com a angústia de castração e/ou agressividade para com a imagem paterna. A personagem central possui, simultaneamente, atributos da infância e da idade adulta: o rapaz parece muito jovem mas está vestido como um homem, o que pode ser compreendido como uma condensação das identificações na adolescência. Colocam-se aqui duas questões importantes. Uma é a de perceber se, no registo dos processos identificatórios, o sujeito vai optar por uma posição activa através do tema de acidente de caça (utilizar a espingarda é, de facto, numa talvez demasiado breve síntese, mostrar-se capaz de tomar o lugar do pai por identificação) ou, pelo contrário, uma posição passiva, homossexual, figurada pela posição do homem estendido. A outra questão é perceber se no registo da problemática edipiana a agressividade e o amor permitem ou não a reparação da imagem paterna. A cena da operação condensa, ao mesmo tempo, os desejos parricidas e os fantasmas de castração que os engendram, no seio de uma culpabilidade edipiana. No entanto, pode ser também interpretada como cena de sedução homossexual (fantasma de penetração). Num contexto edipiano, é o desejo de tomar o lugar do pai, e o desejo concomitante de o matar, que domina a cena. Mas para além disso, aparece um outro aspecto da relação ao pai na dimensão reparadora para com este pai ferido e não morto. É a 33 ambivalência que é fortemente solicitada na relação com a imagem paterna: o manejo da agressividade e da libido, ligação possível do amor e do ódio. Cartão 9GF Conteúdo manifesto: Duas personagens do mesmo sexo e da mesma geração. No primeiro plano, uma jovem, por trás e uma árvore, com objectos na mão, olha. No segundo plano, uma outra jovem corre, mais abaixo. Como pano de fundo, uma paisagem muitas vezes identificada como uma paisagem marítima. Conteúdo latente: Este cartão solicita fortemente uma problemática identitária, pela confusão das personagens e a telescopagem de papéis (a confusão de papéis é indicadora de graves perturbações ao nível da identidade). Para além desta problemática identitária, é a questão da identificação sexual que é posta em causa. O acesso a esta identificação feminina atesta as capacidades de conflitualização do sujeito. Num contexto edipiano, a problemática reenvia para a rivalidade entre duas mulheres, com introdução de uma personagem que não figura na imagem, “um jovem” (há uma rivalidade pelo amor do rapaz). Contudo, a relação de rivalidade entre duas mulheres remete para a rivalidade da filha com a sua mãe, o que arrasta uma modificação do conteúdo manifesto do material pela introdução de umadiferença de gerações. A mãe torna-se o representante superegóico dos interditos. Uma dimensão mais rara, mas que não deve ser negligenciada, é a que reenvia para a ambivalência na relação mãe-criança, não como objecto persecutório mas 34 como um objecto que sustém. O olhar desempenha, então, um papel de suporte e de apoio em relação à segunda personagem que corre. Por vezes, o confronto com a relação entre as duas mulheres arrasta emergências agressivas facilitadas pelo material e susceptíveis de introduzir problemáticas mais arcaicas. A parecença entre as duas mulheres pode arrastar dificuldades para os sujeitos cuja identidade é vaga e frágil. As duas jovens mulheres, mal diferenciadas, são tomadas num sistema de identificação narcísica, com um evitamento total do conflito. Por outro lado, a paisagem marítima pode reactivar fantasmas de relações arcaicas perigosas ou até mortíferas, onde surgem temas de ameaça vital em primeiro plano. Os temas de destruição e de morte podem aparecer através da evocação de afogamento ou de tempestade. Cartão 10 Conteúdo manifesto: A proximidade num casal, do qual só são representados os rostos. Não há diferença de gerações mas a imagem é pouco clara quanto à idade e ao sexo das duas personagens. O carácter vago e sombrio do material e os contrastes negro/branco devem ser tidos em consideração. Conteúdo latente: Reenvia para a proximidade e expressão libidinal num casal. As personagens são representadas com uma parte dos rostos na sombra. Para que possa haver reconstrução da integridade destes rostos, é necessário que o sujeito seja capaz de os perceber e que tenha à sua disposição uma representação íntegra da imagem do corpo. As partes do rosto na sombra não podem ser reconstruídas e integradas numa representação completa por sujeitos que sofrem de angústia 35 de fragmentação ou de desintegração. A ausência de uma figuração interna de um objecto total, torna possível a sua reconstrução a partir de um estímulo parcial. O material é ambíguo para que possa haver diferentes interpretações quanto ao sexo das personagens, que determina a identificação do sujeito a um casal heterossexual ou homossexual. A problemática pode remeter para uma aproximação libidinal numa relação heterossexual, onde pode haver reconhecimento da ligação sexual entre os dois parceiros ou defesas para lutar contra essa representação. O conflito pode aparecer na evocação da curiosidade sexual, sustentada por fantasmas da cena primitiva ou ligada às relações do casal parental. Quando o conflito edipiano não é estruturante, pode observar-se uma reactivação de fantasmas incestuosos, que se traduzem pela evocação de uma aproximação entre pai e filho. Num contexto de problemática narcísica, a diferença de sexos não é tida em conta e dá lugar a relações especulares: relação homossexual, busca de uma imagem de si ideal, negação da diferença. Podem também encontrar-se relações de suporte que evacuam para a dimensão sexual da proximidade e na qual o outro é investido como apoio indispensável. No caso das problemáticas psicóticas, há uma incapacidade do sujeito em distinguir personagens na sua integridade corporal. As qualidades particulares de sombra e de luz favorecem a confusão e a telescopagem dos papéis nos sujeitos com identidade frágil. 36 Cartão 11 O cartão é pouco figurativo e mais ambíguo pois as representações humanas estão ausentes. O cartão é muito vago mas susceptível de oferecer uma estruturação perceptiva mínima. Conteúdo manifesto: É uma paisagem caótica, com vivos contrastes de sombras e de claridade na vertical. Alguns elementos mais estruturados como uma ponte, estrada, pormenor à esquerda (dragão ou serpente, etc.) permitem uma reorganização do material. Conteúdo latente: O cartão é angustiante, a angústia deve ser sentida como tal, e o seu não reconhecimento constitui um índice patológico em todos os casos. Evoca o combate contra a natureza, representada nos seus aspectos perigosos, o que remete para a evocação das relações com a mãe natureza, isto é, com a mãe arcaica. O cartão reactiva materiais psíquicos de ordem pré-genital, pelo que se espera encontrar relatos de fantasmas arcaicos, mesmo que as representações que deles dêem conta possam aparecer em termos elaborados. O cartão põe à prova a capacidade do sujeito elaborar a angústia pré-genital. Interessa perceber a capacidade do sujeito “mergulhar no material regressivo”, compor esse “mergulho regressivo”, emergir e construir uma paisagem relativamente organizada a partir de um material caótico, ao apegar-se apenas aos elementos mais estruturantes do material manifesto. Num contexto de funcionamento neurótico, o sujeito pode situar-se num sistema de secundarização efectiva dos fantasmas arcaicos: o deslocamento, a condensação e a 37 simbolização permitem a construção de um relato que se assemelha ao relato do sonho. Cartão 12BG Conteúdo manifesto: É uma paisagem com árvores na margem de um riacho, com uma árvore e uma barcaça em primeiro plano. A vegetação e o plano de fundo são imprecisos. O grafismo é relativamente leve e claro. Conteúdo latente: Este cartão constitui um momento de apaziguamento em relação ao cartão precedente, ao convidar o sujeito a diversificar o leque das suas reacções sensoriais e afectivas. O aspecto figurativo e familiar do material actualiza as capacidades elementares de diferenciar o mundo interno do mundo externo e remete para uma actividade perceptiva conhecida, em referência com as “boas” experiências pré-genitais. É necessário que, na ausência de personagem na imagem, o sujeito possa reconhecer a ausência do objecto sem, todavia, temer a sua perda, ao manusear um espaço de representação que ocupe a cena mental, o que depende dos modos de elaboração da posição depressiva (os cartões 3BM, 12BG e 13B são úteis para estudar a posição depressiva). Num contexto edipiano, o cartão serve de suporte às representações de relações descontextualizadas, ternas ou erotizadas. São raras as imersões regressivas e projectivas (com a presença de objectos parciais persecutórios), testemunhas de perturbações da identidade, na parte menos estruturada do cartão. A parte figurativa do desenho oferece, aos sujeitos com disfuncionamentos psíquicos graves, um mínimo de apego possível ao “conhecido” e 38 ao concreto, para permitir uma desconflitualização das representações e uma regulação do afecto. As polarizações depressivas e narcísicas são intensamente solicitadas através da reactivação de uma problemática de perda e de abandono, ou através da incapacidade em introduzir uma dimensão objectal. Os adolescentes mais velhos ou os jovens adultos são desestabilizados nestes modos neste cartão. Cartão 13B Conteúdo manifesto: É um rapazinho sentado na ombreira de uma porta, na soleira de uma cabana de tábuas separadas, figurando num vivo contraste de luz no exterior e de sombra no interior. Conteúdo latente: Reenvia para a solidão num contexto de precaridade do simbolismo materno. Os elementos fundamentais são a solidão pois trata-se de uma personagem só e a precaridade do simbolismo materno figurada pela casa feita de tábuas desunidas. Aqui, o que é posto em questão é a capacidade do sujeito estar só. É preciso perceber se o sujeito é capaz de subsistir na ausência do objecto e se pode elaborar a posição depressiva. A solidão e a imaturidade funcional podem
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