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Tireoidite de Hashimoto na Infância

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FISIOPATOLOGIA
Tireoidite de Hashimoto na infância
Franchescco Marques
Março, 2019
Rio de Janeiro
A tireoidite de hashimoto ou tireoidite linfocítica crônica é uma doença auto-imune, caracterizada por infiltrado linfo-plasmocitário do parênquima tireoideano. É a principal causa de bócio e hipotireoidismo adquirido em crianças e adolescentes em áreas não endêmicas(1-6), sendo responsável por 2/3 dos bócios assintomáticos em crianças
A tireoidite de Hashimoto é a causa mais frequente de bócio e hipotireoidismo adquirido em crianças e adolescentes.
Classicamente, ocorre duas vezes mais em meninas que meninos. O artigo demonstrou uma relação maior entre meninas e meninos, 5:1, relação esta, semelhante ao encontrado por outros autores, 5:1 (10,11); 6,5:1 (3); 13:1 (12) e até 29:1 (13). Discute-se se os receptores de estrógeno possam ter papel na redução da vigilância imunitária, justificando esta maior incidência em mulheres (12). O pico de incidência ocorre na puberdade, sendo raro antes dos quatro anos (1,3) e ocorre mais em brancos que negros (5). 
Pode associar-se a nefrite por complexo imune ou a outras doenças auto-imunes, no paciente ou familiares, fazendo parte das sindromes poliglandulares auto-imunes, pricipalmente a tipo II (síndrome de Schmidt) associada a DM1 e/ou doença de Addison. Vinte por cento dos pacientes com DM1, apresentam anticorpos anti-tireoideanos e 5% têm anormalidade funcional tireoideana (4,5). 
Também pode associar-se a anemia perniciosa, lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren, alopécia, hipoparatireoidismo, candidíase mucocutânea, vitiligo, malabsorção, falência gonadal, hepatite crônica (4). Em nosso estudo 7% dos pacientes apresentavam concomitância entre DM1 e TH, resultado igual ao encontrado por outro autor (3).
A história familial é positiva para doença tireoidiana em 30-40% dos casos (2,4,6), no entanto, nenhuma forma de herança genética tem sido definida. Em nosso estudo a história familial foi positiva para doença tireoidiana em 44% dos casos, outros autores encontraram positividade menor, 29% (11) e 27% (3).
Alguns autores encontraram eutireoidismo como apresentação inicial em 94% (7), 71% (12), 51% (11) e 40% (3). Em nossa casuística 37% dos pacientes eram eutireóideos na avaliação laboratorial inicial.
No artigo, 75% dos pacientes apresentou anti-TPO positivo e 68% anti-TG, sem diferença estatisticamente significativa ou seja nenhum dos dois anticorpos revelou ser mais importante no diagnóstico da TH. Outros autores encontraram 97% de anti-TPO e 27% de anti-TG (3), outro encontrou 71% de anti-TPO e 32% de anti-TG (13) e outro 93% de ambos (7). Na avaliação de crianças normais um autor encontrou 11% com presença de anticorpos (13). Para a maioria destes autores há uma tendência a aceitar como sendo o anticorpo anti-peroxidase o mais significativo para o diagnóstico desta tireoidite, o que não ocorreu nesta casuística.
O curso da doença é variável podendo haver resolução espontânea em até 50% dos casos, independentemente de reposição hormonal, ou evoluir para atrofia glandular com hipotireoidismo ou mesmo evoluir para hipofunção progressiva, sem atrofia. 
O tratamento com reposição de hormônio tireoideano (LT4), na dose média de 100 µg/m2/dia é realizado para garantir adequado crescimento e desenvolvimento, incluindo puberdade, evitando, dessa forma, consequências advindas da não administração de tal. Existem controvérsias em relação ao tratamento do hipotireoidismo sub-clínico com dosagens pouco elevadas de TSH, alguns autores indicam o tratamento por ser difícil saber se o T4 normal é realmente normal para esta criança; outros tratam com o objetivo de suprimir o TSH, colocando a glândula em repouso, diminuindo desta forma seu tamanho e o processo inflamatório local, permitindo teoricamente uma chance maior de remissão. Outros autores no entanto acham que hipotireoidismo compensado, com TSH entre 5 e 12 µU/ml, não deve ser medicado por tratar-se de processo benigno e com grande chance de remissão sem tratamento e por não apresentarem diminuição do tamanho do bócio relacionado a esta conduta Pacientes eutireóideos não devem ser tratados. Em nosso serviço todas as crianças com hipotireoidismo confirmado laboratorialmente, compensado ou não, foram tratadas com reposição hormonal com LT4 enquanto que os eutireóideos estão somente em acompanhamento clínico e laboratorial.
BIBLIOGRAFIA
Foley T, Malvaulx P, Blizzard R. Thyroid disease. In : Kappy MS, Blizzard RM,Migeon CJ, editors. The diagnosis and treatment of endocrine disorders in childhood and adolescence. 4th ed. Springfield: Charles C. Thomas Publisher; 1994.p.457-533. 
 Foley TPJr. Disorders of the thyroid in children. In: Sperling MA, editor. Pediatric endocrinology. 1st ed. Philadelphia: Saunders; 1996.p.171-94.

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