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7 Unidade 1 A Época Contemporânea O mundo contemporâneo está sustentado em dois movimentos revolucionários signi- ficativamente transformadores. O que, historicamente, chama-se de Dupla Revolução – a Francesa, revolução política que estende ao Estado a dominação político ideológica burguesa e a Industrial Inglesa, que transforma as relações de produção e de trabalho, estendendo à burguesia o domínio econômico do novo mundo que se formou com a consolidação do Capitalismo. Cronologicamente, situamos a formação desse novo mundo no século XVIII, em 1789, com a Revolução Política Francesa e, em torno de 1740, com a Revolução Econômica Inglesa. As relações políticas, econômicas e ideológicas que surgem a partir de então se sobrepõem às antigas estruturas de Estado, de produção, de movimentos sociais e culturais, de ideologias e de comportamentos morais. Os novos tempos atravessam quase 300 anos de história entre conflitos morais e éticos, conceitos e normas, e uma incansável busca por soluções e releituras dos problemas que necessariamente nasceram da contemporaneidade. Réplica do motor a vapor de James Watt, que impulsionou a Revolução Industrial. ht tp :// en cic lo pe di a. us .e s/ in de x. ph p/ Im ag em :M ht tp :// pt .w ik ip ed ia .o rg Juramento do Jogo da Péla. Membros do Terceiro Estado perma- necem reunidos até dotarem a França de uma Constituição. 8 Para debatermos, brevemente, por vezes simbolicamente, nosso mundo atual partiremos de três linhas de análise. A linha política, a partir da construção do Estado contemporâneo, com todas as suas variações, distinções e antagonismos, foi a da construção da cidadania, da busca pela sociedade igualitária e pela liberdade, das lutas nacionalistas e da concepção cada vez mais presente da importância do Estado de Direito. A linha econômica, a partir das relações econômicas que movimentam a vida contemporânea, das transformações nas relações de trabalho e de produção, das transformações nas relações humanas e das relações (uma novidade contemporânea da forma como se apresenta) do homem com o seu espaço ambiental. A linha referente à construção do Estado Brasileiro, nas suas caracte- rísticas política e econômicas e nos seus discursos de resistência e poder. Os Movimentos Políticos A Revolução Francesa é absolutamente significativa para a construção política do mundo contemporâneo. Mais do que repre- sentar a queda do absolutismo monárquico na França ela representa a transferência do poder político para a burguesia ascendente, desde os séculos XII e XIII, com a retomada do comércio e o enriquecimento daqueles que não eram nobres e não possuíam a terra como fonte de riqueza. É verdade, que desde a queda da Bastilha, o símbolo do absolutismo na França, em 1789, até a consolidação do Estado Burguês, o caminho foi longo. O movimento que nas- ceu da insatisfação com o Antigo Regime carregou na sua origem a força popular dos sans coullotes (população urbana pobre) e dos camponeses, que foi sufocada ao longo do seu processo de consolidação. Tomada da Bastilha ht tp :/ /w w w .is cs p. ut l.p t/ ... /a _r ev ol uc ao _f ra nc es a. ht m . 9 Entre as derrotas dos anseios populares e as vitórias, ora da burguesia revolucionária, ora dos setores conservadores, a França passou pela fase da Assembleia Nacional Constituinte (1789- 1791), pela fase da Convenção (1791-1795), pela fase do Diretório (1795-1799) e finalmente reuniu-se em torno do Estado forte napoleô- nico. Foi República, foi monarquia – com Luís XVIII – e foi Império novamente – com Napoleão III. Não nos cabe aqui deba- ter historicamente, tampouco cronologicamente, as etapas da Revolução Francesa. Entretanto, cada momento desse processo revolucionário traz consigo as características do que veio a ser o Estado Burguês. A Assembleia Nacional Constituinte refletiu a luta do numeroso Terceiro Estado contra as arbitrariedades do regime monárquico absolutista francês. Quando o Terceiro Estado exigiu, na reunião dos Estados Gerais, em Versalhes, a votação por cabeça, estava, de fato, sobrepondo seus inte- resses aos da nobreza e do clero. Esse rompimento com a ordem dominante foi a primeira vitória da Revolução. A persistência do Terceiro Estado em permanecer reunido até que a Constituição da França fosse uma realidade, significou mais um rompimento. Era a comprovação de que a ordem política tinha que se transformar e que os movimentos populares (e burgueses) não aceitavam mais a dominação das Ordens como estava estabelecida por toda Europa Ocidental desde o início da Idade Média. As Consequências Políticas e Sociais e Culturais da Revolução Francesa É pertinente ter em mente que a Revolução Francesa além de romper com o absolutismo monárquico na França e estender os ideais clássicos da revolução, de Liberdade, Igualdade e Fraternidade para o resto da Europa e para os movimentos de independência das colônias americanas, rompia também definitivamente com os laços de servidão que ainda persistiam no campo e em localidades da França, desde o final da Idade Média. O Terceiro Estado era composto pela maioria da popu- lação, povo mais burguesia. A reunião dos Estados Gerais reunia os três estados que compunham a França: o Primeiro Estado (clero), o Segundo Estado (nobreza) e o Terceiro Estado. A votação era realizada por Estados de forma que o Terceiro Estado sempre perdia por 2 votos a 1. Império: Entre os anos de 1848-1849, o movimento na França retrocedeu ao conservadorismo. Luis Bonaparte, sobri- nho de Napoleão venceu as eleições presidenciais e o Parlamento foi com- posto por uma maioria conservadora e monarquista. Em 1851, Luis Bonaparte deu um golpe de Estado e reafirmou seu poder fechando o Congresso, cen- surando a imprensa e perseguindo os revolucionários. Por plebiscito, teve o apoio dos eleitores para restabelecer o Império. Como Napoleão III iniciou o Segundo Império que durou até 1870. 10 Não se pode cair no engano de pensar que o fim da Idade Média, no século XV com a Queda de Constantinopla, ou mais adequado para o ocidente, as Grandes Navegações, romperam da noite para o dia as relações servis típicas do medievo. Esse foi um longo processo, que ainda levaria cerca de 300 anos para se consolidar. A Revolução Francesa merece mais um mérito, o de ao lado da Revolução Industrial Inglesa, por fim definitivo, mais cedo ou mais tarde às relações de servidão que ainda persistiam na Europa Ocidental. Transformada em Assembleia Nacional Constituinte, a reunião dos Estados Gerais ganhou um caráter revolucionário sem precedentes históricos. A sustentação político ideológica veio principalmente dos cam- poneses, ávidos pelo fim da servidão e da ainda presente manutenção dos direitos feudais no campo. De fato essa foi a primeira medida da Assembleia: a abolição dos direitos feudais, claro, de forma gradual e sem muitos impactos para a classe dos proprietários. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é o marco do caráter definitiva- mente revolucionário dos acontecimentos na França. Leia o texto integral da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão disponível no site: http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Documentos-anteriores-%C3%A0- cria%C3%A7%C3%A3o-da-Sociedade-das-Na%C3%A7%C3%B5es-at%C3%A9-1919/ declaracao-de-direitos-do-homem-e-do-cidadao-1789.html Assista ao filme: A Noite de Varennes ou Casa Nova e a Revolução, de 1981, do diretor Ettore Scola, que mostra uma síntese da França revolucionária na pequena cidade de Varennes onde, na mesma noite, se reúnem por acaso os personagens da Revolução de 1789 - o rei Luiz XVI, um jacobino, um industrial,uma cantora... e o sedutor Casanova. Superada a fase da Assembleia, a revolução atingiu o seu momento mais radical. A Convenção ou o “Terror”, como ficou conhecido o período, trouxe à tona práticas políticas e sociais que propõem uma releitura de conceitos entre o mundo que existia e o que estava se formando. Vista como uma brutalidade atualmente, a guilhotina, que tantas vítimas fez na Revolução, foi a grande inovação humanitária na pena de morte. Pela primeira vez depois de muitos séculos um condenado morria sem dor, sem suplício e de forma igual a todos os outros. Constantinopla foi tomada pelos turcos otomanos em 1453 for- mando um grande império que só teve fim depois da Primeira Guerra Mundial. 11 Referenciada, a guilhotina foi de fato aos olhos do século XVIII uma máquina humanitária. O rompimento da pena de morte sustentada pelo suplício público é um marco na história moderna, porque tam- bém rompe com a ordem monárquica absolutista: “O suplício público, longo, terrificante tinha exatamente a finalidade de reconstruir [a] sobera- nia; seu caráter popular servia para fazer participar o povo do reconhecimento [da] soberania (...) O poder do príncipe é excessivo por natureza”. (FOUCAULT apud MOTTA, 2003, p. 153) Pensadores iluministas como Voltaire já repudiavam os espetáculos de suplício público e, aos poucos, a população que durante tanto tempo os apreciara em praça pública e personizara na figura do carrasco o símbolo da justiça, passou a repudiá-los também. A Revolução Francesa foi um marco na história dos suplícios. A partir dela o estabelecimento da pena de morte foi padronizado e a guilhotina tomou o lugar do cutelo na praça pública. Passado o Período do Terror, os suplícios não foram mais tolerados e a tortura saiu de cena. Os presídios adquiriram papel central nos procedimentos jurídicos e a finalidade não era mais punir, mas corrigir. Mais um mérito da Revolução Francesa, o de direcionar o mundo para o conceito de justiça e de formação de uma sociedade disciplinari- zada – o que será definitivamente fortalecido pela sociedade industrial. Nesse mesmo contexto em que a voz de Voltaire se fez ouvir, outras vozes que falavam repercutiram em ecos. Surgiu um personagem impor- tante, entre outros, logicamente: Cesar Beccaria. Seu tratado repudiava as torturas que precediam as penas de morte e propunha uma prevenção ao crime. Para ele: “Punir com morte, é dar um exemplo passageiro, e seria preciso dar um permanente... As penas raramente devem ser capitais... O suplício jamais deve ser cruel, deve ser escolhido do lado da ignomínia. Mesmo nos casos mais graves (libercídio, parricídio, fraticídio, assassínio de um amigo ou de um benfeitor), tornar-se-á horroroso o aparelho do suplício, mas que a morte seja suave” (BECCARIA apud LECHERBONNIER, 1991, p. 101). A argumentação de Beccaria estava voltada para forma de organi- zação do sistema judiciário. Evidentemente que um breve trecho não revela o pensamento filosófico de um homem. O apontamento de Foucault (1999, p. 82) esclarece que pensadores como Beccaria esta- vam inseridos em um novo paradigma. Já no final do século XVIII, essas teorias representavam uma nova forma de ver a organização da sociedade. A prática da infração começava a ser vista como uma que- bra do pacto social proposto por Rousseau, uma saída do indivíduo, 12 por sua vontade própria, da legali- dade. A punição, nesse paradigma consistia na expulsão, ou ainda, no isolamento desse indivíduo do corpo social. Ao mesmo tempo em que Beccaria questionava o suplício, pedia-se o fim dos espetáculos e a brevidade das execuções. Nenhum dos revolucionários franceses foi tão polêmico quanto Marat, no que se refere ao novo pensamento jurídico-social: “Em uma palavra, não se poderá reformar a justiça a não ser quando resolver o problema da desigualdade social. Enquanto esse grande dia não chega, é preciso mostrar-se compreensivo para com aqueles que se revoltam contra a pobreza, mesmo que se utilizem da baixeza, da intriga, da dissimulação’ para chegar aos seus objetivos. Certamente a classe privilegiada tem todo interesse em pregar o respeito às leis que lhe garantem autoridade sobre as massas, mas o mesmo não se dá com os pobres que, isso sim, devem ‘reivindicar pela força’ os direitos de que os privou a sociedade. Quando um pobre é surpreendido em flagrante delito de revolta ‘o juiz que (o) condena à morte não passa de um covarde assassino’. A forma mais simples de uma revolta é o roubo. Ora, olhando bem as coisas o roubo não absolutamente um delito. Com efeito, o ladrão não age senão para reconquistar seu direito ao bem-estar material, para recuperar a fatia de propriedade que a sociedade lhe tomou: ‘O sentido de própria conservação é o primeiro dever do homem.’ Eis porque ‘aquele que rouba para viver enquanto não pode fazer outra coisa está apenas fazendo uso de seus direitos” (MARAT apud LECHERBONNIER, 1991, p. 101). Mais de dois séculos nos separam do discurso de Marat e ele nos parece tão atual. Embora os ideais burgueses tenham preconizado um Estado sustentado por um aparato jurídico e um poder judiciário autônomo, dentro do princípio da igualdade, não conseguimos atu- almente, como não se conseguia há dois séculos, resolver questões sociais profundas que levam à exclusão, ao engano, ao exagero, que ocorrem cotidianamente no Brasil atual. Você se lembra do caso recente, ocorrido em 2000, na cidade do Rio de Janeiro, quando o jovem Sandro Nascimento, menino de rua, sobrevivente da Chacina da Candelária, órfão e com inúmeras passa- gens pela polícia desde quando ainda era menor de idade, assaltou um ônibus na região do Jardim Botânico? Malsucedido, o assalto se trans- formou em sequestro. Por horas ele manteve reféns dentro do ônibus, sem saber bem o que pretendia. Salvo todos os detalhes, e são muitos, que se possa apresentar sobre a história de Sandro, no início da noite ele repentinamente decidiu sair do ônibus usando uma refém como DAVID, J. L. A morte de Marat, 1793. D om ín io P úb lic o 13 escudo. O atirador de elite da polícia (BOPE) interferiu, disparou, mas acertou a refém, que morreu no local. O sequestrador foi rendido sob os protestos populares e o desejo de linchamento que manifestaram os curiosos que passaram horas aguardando pelo desfecho. Preso, Sandro foi sufocado pelos policiais dentro do carro da polícia e chegou morto na delegacia. Se compararmos o discurso de Marat ao caso do sequestro, pode- mos perceber semelhanças. Incontáveis são os Sandros espalhados pelo mundo. Pelo nosso mundo, ocidental, democrático e representa- tivo, sustentado na liberdade e igualdade de direitos, no direito à vida, na livre expressão e na propriedade privada, eles são numerosos. O Estado Contemporâneo Ocidental, filho da Revolução Francesa, ainda tem dificuldades para concretizar a cidadania e acabar com a exclusão social, que contribui para o acirramento da violência urbana. Cidadania parece ser a palavra política de ordem do mundo atual. Quando os franceses derrubaram a monarquia absoluta, o termo cidadania ganhou a cena, de forma muito tímida, mas inédita para o contexto do século XVIII. O exercício da cidadania estava relacionado à prática política – uma herança da democracia ateniense – de votar, e o voto era masculino e censitário. Demorou muito para que o direito à cidadania se estendesse às mulheres – no Brasil esse direito só chegou na década de 30 do século XX – às minorias e aos analfabetos – no Brasil foi a Constituição de 1988 que incluiu no texto constitucional o direito político ao analfa- beto e ao indígena. No Império Brasileiro, pela Constituição de 1824: “Para ser eleitor de paróquia era preciso ter pelo menos 25 anos e 100 mil réis de renda anual. Para ser eleitor de província,era necessário ter 200 mil réis de renda anual, para ser candidato a deputado, a renda necessária era de 400 mil réis; para ser candidato a senador 800 mil réis”. (BUENO, p. 175) Movimentos Populares do Século XIX Compreender os direitos básicos de alimentação, saúde, dignidade, emprego e salário justo ao conceito de cidadania foi e ainda é o desa- fio do mundo contemporâneo. O século XIX, se debateu entre movimentos de avanço das ideias liberais de Estado. Um novo agente revolucionário começou e entrar nesse cenário: os movimentos populares de caráter socialista. Estimulados pelas lutas operárias em razão da industrialização e da exploração assalariada do trabalho, os socialistas vão às ruas – como na Comuna de Paris –, se organizam e querem chegar ao poder. 14 A primeira forma de Socialismo foi chamado de Socialismo Utópico. Os socialistas utópicos acreditavam em uma transformação social pacífica em torno de uma sociedade igualitá- ria e justa. O ideal utópico acreditava na organização de comunidades onde a distribuição do trabalho e das riquezas poriam fim à exploração capitalista. Karl Marx foi o filósofo político alemão, que em parceria com o inglês Frederich Engels, filho de um indus- trial de Manchester, dedicou-se ao estudo da História Humana partindo do pressuposto econômico. Marx propõe que as etapas da história do homem foram marcadas por dife- rentes estágios de desenvolvimento das forças produtivas. Na sociedade industrial essa história está marcada pelo conflito entre aqueles que possuem os meios de produção e aque- les que possuem a força de trabalho e trocam pelo salário. Então, a sociedade capitalista para Marx está determinada pela luta de classes, que só pode ser superada pela ação revolucionária dos trabalhadores para tomar para si os meios de produção e geri-los, sem o capitalista e futuramente sem o Estado, originado o comunismo.Vê-se aqui a inspi- ração teórica que sustentará, desde o final do século XIX até o século XX as lutas trabalhistas e os movimentos revolucionários de caráter socialista: o marxismo. Proletários do mundo uni-vos! Esse foi o chamado de Karl Marx, que transpôs a teoria de luta contra o capitalismo – do ponto de vista político e econômico – em suas obras. Da teoria à prática os socialis- tas chegaram ao poder em 1917, não na França pós-revolucionária ou na Inglaterra industrial, onde Marx achou que as “condições ideais estavam postas” devido as fortes contradições políticas, econômicas e sociais existentes. Mas na Rússia, um país enorme, com cerca de 170 milhões de habitantes na época e que ainda conservava características semifeudais de produção no campo e um grande contingente de ope- rários nas cidades. Karl Marx D om ín io P úb lic o 15 revolucionários russos liderados por Lênin, que pregavam uma revolução proletária de caráter clandestino, sustentada por uma rigorosa disciplina e realizada por revolucionários profissionais. Com Vladimir Lênin à frente os revolucionários russos forçaram a saída do país da Primeira Guerra Mundial e derrubaram o governo dos Czares, um dos últimos impérios a cair no início do século XX. Formou-se outro conceito de Estado, o socialista, antagônico ao burguês, de caráter revolucionário, que teorizava a autogestão operária. Em 1922 nasceu a URSS, abraçando territórios vizinhos em torno de um único Estado de orientação marxista e governo forte. O poder do Estado Soviético girava em torno do Partido Comunista e não demorou a surgirem os problemas. Acabar com a proprie- dade privada, sustentar uma economia planificada em detrimento de uma economia de consumo e combater a contrarrevolução foi uma missão árdua para os revolucionários bolcheviques. Logo a URSS transformou-se em um Estado Totalitário. Assista ao filme Encouraçado Potemkin, de 1929, do cineasta russo Sergei Eisenstein, de enorme importância na história do cinema, que mostra uma versão ficcional de um dos mais trágicos episódios da pré-revolução de 1905 na Rússia Czarista. Assista ao filme Reds, de 1981, baseado na vida de John Reed, um jornalista e escritor socialista norte-americano que retratou a Revolução Russa de 1917 em seu livro Dez Dias que Abalaram o Mundo. Os Movimentos Nacionalistas Uma questão surge aqui. Refere-se aos nacionalismos. Não é uma questão nova. Os nacionalismos afloravam por toda a Europa Central. Justamente nesse momento os russos abraçaram outras nações em torno de um Estado único. Esse foi um problema que só eclodiria definitivamente no final do século XX, com o desmembramento do mundo socialista que se formara quase um século antes. Em 1905, cerca de 200 mil cidadãos, sobretudo tra- balhadores, estavam reunidos em frente ao Palácio de Inverno em São Petersburgo para manifestar pacifi- camente a necessidade de melhoria das condições de vida e de participação política. O tio do czar Nicolau II permitiu que as tropas czaristas atirassem na multi- dão. O massacre dos manifestantes provocou greves e manifestações por todo o país, que culminaram na Primeira Revolução Russa. ht tp :/ /u pl oa d. w ik im ed ia .o rg 16 Mas o que são Estado e Nação? Nação é um grupo de indivíduos ligados por laços culturais de caráter religioso, por tradições e rituais, pela língua ou etnia, como por exemplo as nações africanas antes da chegada dos colonizadores, com suas línguas e etnias distintas ou as nações indígenas na América. O Estado é a Nação politicamente organizada. Assim, podemos ter um Estado composto por várias nações. Essa situação foi característica na Europa central com a formação do Império austro-húngaro, do Império turco e da URSS. Mais tarde a Iugoslávia sob o comando do Marechal Tito reuniu seis nações dis- tintas em torno de um único Estado e a Tchecoslováquia reuniu os tchecos e os eslovacos em torno de um Estado que só se separou depois da queda do comunismo. Estados formados por mais de uma nação fomentam lutas nacionalistas internas e movimentos separatistas, como no caso da Iugoslávia que teve a transição para o capitalismo dentro de uma guerra interna longa e san- grenta. Também fomentam a formação de grupos de mino- rias étnicas como os bascos na Espanha e os curdos no Iraque. De um modo geral as lutas das minorias étnicas é pela separação e formação de Estados autônomos. O problema dos naciona- lismos na Europa provocou um desequilíbrio no quadro político europeu. Nações diferentes estavam subjuga- das por um mesmo Estado, a exemplo do Império austro- -húngaro e do Império Turco. E foi movido pelo sentimento nacionalista que um jovem sérvio (a Sérvia estava sob domínio austríaco) assassinou o herdeiro do trono austro- húngaro, desencadeando a Primeira Guerra Mundial, em 1914.Assassinato do herdeiro do trono austro-húngaro, estopim da Primeira Guerra Mundial. A lb um /a kg -i m ag es /A kg -I m ag es /L at in st oc k 17 Ao longo do século XX a questão dos nacionalismos ganharam espaço na discussão sobre política e a construção do Estado: o naciona- lismo germânico, as lutas étnicas na África depois da descolonização, as lutas nacionalistas nos Bálcãs nos anos 90, a questão palestina e a questão de Israel. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deu início a um novo mundo, na verdade nas palavras do historiador Eric Hobsbawm deu início ao “breve século XX”. A Bela Época europeia, típica do equi- líbrio – é verdade que um frágil equilíbrio – viu seu fim em 1914. As lutas imperialistas pelas áreas de dominação e o surgimento dos nacionalismos assinalaram esse fim e levaram o mundo a um conflito mundial de dimensões jamais vistas. Foram quatro anos de guerra e a transformação do mapa do mundo e dasforças hegemônicas. Assista ao filme Feliz Natal (Francês: Joyeux Noël), de 2005, sobre a trégua da Primeira Guerra Mundial em dezembro de 1914, retratada através dos olhos de soldados france- ses, escoceses e alemães. Assista ao filme Nada de Novo no Front, filme norte-americano de 1930, baseado em um romance do escritor alemão Erich Maria Remarque (1898-1970), um veterano da primeira guerra mundial, sobre os horrores daquela guerra e também a profunda indiferença da vida civil alemã sentida por muitos homens que retornavam das frentes de batalha. A Inglaterra sai de cena. Entram os EUA. Os ingleses que brilhante- mente mantiveram sua hegemonia até então, enfraquecidos pela guerra e pelo crescimento de outras potências cedeu lugar aos norte-americanos. Caíram os últimos impérios da Europa: a Áustria-Hungria separou-se, o Império Turco deixou de existir, teve início a formação da Iugoslávia que se concretizou sob a força do General Tito depois da Segunda Guerra, a Polônia voltou ao mapa mundi. 18 De todos os nacionalismos emer- gentes na história dos povos o alemão merece definitivamente destaque. O sentimento nacionalista germânico ganhou força desde o processo de unificação da Alemanha por Otton von Bismarck, em 1871. O anseio para abraçar a fatia do bolo que os alemães achavam que lhes cabia na corrida imperialista e no avanço industrial desequilibrou as forças em ação na Europa. Terminada a guerra os alemães foram acusados de serem os únicos culpados pelo conflito. Humilhada a Alemanha foi obrigada a assinar pesadas dívidas de guerra com os países vencedores, perdeu suas colônias, teve seu exér- cito reduzido e ficou impossibilitada de se armar. A conjuntura econômica dos anos 20 do século XX piorou consideravelmente a situação dos alemães (não só dos alemães, mas de todo o mundo capitalista). Os anos 20/30 do século XX foram o cenário ideal para a formação de um novo tipo de Estado, inimigo de todos: o Estado Fascista. O berço do fascismo foi a Itália. Rapidamente, beneficiado pelas crises sucessivas do pós-guerra espa- lhou-se por vários países: Alemanha, Espanha, Portugal e até mesmo para o Brasil, onde Getúlio Vargas de 1937 a 1945 estabeleceu uma ditadura de “simpatia” fascista, denominada Estado Novo. Na Alemanha, Hitler chegou ao poder por meio de manobras polí- ticas e do voto. No início dos anos 30 do século XX os membros do Partido Nacional Socialista foram amplamente votados o que deu sus- tentação para a consolidação do III Reich. O Estado Fascista não carregou heranças do Estado Burguês nas- cido da Revolução Francesa. Tampouco se inclinou para o Estado de Unificação da Alemanha O surgimento da Alemanha como potência industrial depois da sua unificação fomen- tou o nacionalismo germânico. Movidos por esse ideal, muito anterior a Segunda Guerra Mundial, os alemães imigrantes que vieram para o Brasil na segunda metade do século XX comemoravam a datas civis de seu país e mantinham a língua nacional nas escolas dos filhos imi- grantes – escolas confessionais. Estado Novo O Estado Novo surgiu do temor das forças políticas no poder de uma nova tentativa de golpe comunista, como havia aconte- cido em 1935. A eleição que escolheria o novo governo deveria dar-se em 1938, quando Vargas apresentou o enganoso Plano Cohen como uma ameaça política com características comunistas e deu um golpe de Estado. ht tp :/ /w w w .f lic kr .c om – M . S . C ap el lo 19 autogestão operária proposto pelo socialismo. Antiliberal, antidemo- crático, contrário aos movimentos populares e à organização operária, o Estado Fascista consolidou-se nos alicerces do totalitarismo, no culto a um único líder, no unipartidarismo, na censura, no controle dos meios de comunicação e de educação, na onipresença e no nacionalismo exagerado, que os alemães levaram às últimas consequências com o antissemitismo. Dica de site: Saiba mais sobre a trajetória de Leni Riefenstahl em: <http://www.mnemocine.com.br/aruanda/leni.htm> A Segunda Guerra Mundial A Segunda Guerra Mundial foi a expressão da luta entre três Estados estabelecidos. De um dos lados, estava o Estado Burguês democrático representado pelos EUA e as democracias ocidentais (França e Inglaterra), do outro os Estados Fascistas, representados pelo Eixo (Alemanha, Itália e Japão). No interior dessa luta estava a luta entre democracia norte-americana e comunismo soviético, que se concretizaria depois de vencida a guerra e de partilhado o mundo entre as duas, dando início à Guerra Fria. Assista ao filmes Agonia e Glória, de 1980, que mostra soldados norte-americanos que, ao mesmo tempo que participam de importantes eventos da Segunda Guerra, envolvem-se em diversos incidentes cotidianos dos civis, involuntariamente envolvidos no horror da guerra. Assista à Arquitetura da Destruição, filme alemão de 1992, considerado um dos melhores estudos sobre o Nazismo, traça a trajetória de Hitler e de alguns de seus mais próximos colaboradores, com a arte. Em uma época de grave crise, no período entre guerras, a arte moderna foi apresentada como degenerada, relacionada ao bolchevismo e aos judeus. Para os nazistas, as obras modernas distorciam o valor humano e na verdade represen- tavam as deformações genéticas existentes na sociedade. O filme dedica ainda um bom tempo à perseguição e eliminação dos judeus como parte do processo de purificação, não só da raça, mas de toda a cultura, mostrando o processo de extermínio. Controle dos meios de comunicação A propaganda nazista buscava atingir o emocional das grandes massas, pre- dominantemente por meio do cinema que, segundo o ministro da Propaganda de Hitler, Goebbels, era o meio mais moderno de influenciar a população na época. A principal cineasta alemã da era nazista, Leni Riefenstahl, era renomada por sua estética. Suas obras mais famo- sas são os filmes de propaganda que ela realizou para o Partido Nazista alemão O Triunfo da Vontade, um documentário considerado por muitos como uma das melhores obras de cinema já produzidas. Em sentido amplo, é a aversão e discriminação em relação ao povo judeu como etnia. 20 Assista ao filme A Lista de Schindler, de Steven Spielberg, lançado em 1993, mostra de modo realista a perseguição aos judeus na Polônia e sua recolocação no Gueto de Cracóvia, em 1941. Baseado em fatos reais, envolvendo as atividades de Oskar Schindler, industrial alemão abastado, membro do partido nazista e beneficiado pela exploração dos trabalhadores da Polônia ocupada, salvou centenas de judeus da morte em campos de concentração. Acordos e tratados da Guerra: O Encontro do Atlântico (9 a 12 de agosto de 1941): o encontro entre Churchill (Primeiro-ministro inglês) e Roosevel (Presidente dos EUA) estabelecia basicamente a liberdade de escolha de governo de cada povo, a redução geral de armamentos depois do conflito e a diminuição das ambições expansionistas. Conferência de Teerã (1943 – EUA, URSS e Inglatera): amadurecem as pri- meiras ideias quanto à formação da ONU, confirmação do desembarque na França (Dia D), discutiu-se a redução do território alemão depois da guerra. Conferência de Ialta (1945): reconstituição do governo francês, estabe- lecimento de democracias nos territórios libertados, participação soviética nos acordos territoriais com o Japão, organização da ONU (Conferência de São Francisco). Conferência de Potsdam (1945): divisão da Alemanha em quatro zonas de administração provisórias concedidas à Inglaterra, França, EUA e URSS (mais tarde a Alemanha ficaria nas mãos de soviéticos e norte-americanos apenas), expansão da influência soviética e utilização do termo cortina de ferro (usado por Churchill para definir a fronteira entre omundo capitalista e o comunista). O Estado nazista felizmente perdeu. Seis anos depois do início da Guerra o último país a capitular foi o Japão, depois da incontestável demonstra- ção de força americana em Hiroshima e Nagasaki. Dica de filme: Assista ao filme O Início do Fim do original Fat Man e Little Boy (nomes dados às bombas atômicas lançadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagazaki no final da Segunda Guerra Mundial) relata a epopeia da construção da bomba atômica americana. Explosão nuclear da bomba atômica Fat Man sobre Nagasaki, Japão, em 09/08/1945. ht tp :/ /p t. w ik ip ed ia .o rg 21 O Mundo Após a Segunda Guerra O mapa do mundo mudou de novo. De um lado os Estados democráticos, capitalistas, sustentados no liberalismo econômico, na liberdade individual. Do outro lado o Estado socia- lista, que tomou um caráter totalitário, notadamente com Stálin. Entre eles o Terceiro Mundo, vítima dos conflitos que refletira a luta ideológico-econômica entre as potências nascidas da guerra, oscilando entre Estado democrático, ditaduras e Estados socialistas. ht tp :/ /u rs ip al te ns te in ch .c om B P C P ub lis hi ng L T D ., 19 68 . Consumismo norte-americano. Imagem da Coca-Cola unida aos padrões da moda. James Dean Elvis Presley Em contrapartida, modo de vida americano encantou o mundo ocidental. A partir dos anos 50 do século XX os EUA viviam um grande período de euforia consumista. Os prin- cipais motivos foram o sucesso na Segunda Guerra e a consolidação norte-americana no cenário mundial como a maior potência do mundo. A classe média mergulhou em um mundo de consumo e entretenimento jamais vistos. Na cultura o rock and roll, o jazz e o blues ganharam a cena e a juventude usou a música como uma forma de expressão política e social. Nasceu a juventude transviada, com moto- cicletas, brilhantina nos cabelos e jaquetas de couro. Os maiores símbolos dessa juventude foram James Dean e Elvis Presley. 22 Conflitos na Sociedade Norte-americana No cinema, que era um grande formador de opi- nião na época, acirrou-se a ideologia anticomunista com a Lei McCarran, que identificava “subversivos” acusados de simpatia ao comunismo. Foram per- seguidos atores, escritores, políticos e intelectuais. O Macartismo teve como representante o senador Joseph McCarthy, que promoveu entre 1950 e 1954 uma verdadeira “caça as bruxas” na sociedade ameri- cana. Um dos maiores exemplos foi o inglês Charles Chaplin que precisou deixar o país em 1952. Na política, a mais sólida democracia do mundo mantinha, especialmente no sul, uma ferida aberta desde o fim do escravismo: a política de segregação racial. Os negros do sul não compartilhavam os mes- mos ambientes, escolas ou assentos de ônibus que os brancos. O maior símbolo de luta contra a segregação racial nos EUA foi Martin Luther King, que com a prática da não violência, promoveu boicotes aos sím- bolos e empresas que praticavam a segregação. Os negros sulistas conquistaram direito de voto apenas em 1965 (Lei do Direito de Voto) e em 1964 Luther King recebeu o prêmio Nobel da Paz. Aos 39 anos, em 1968, ele foi assassinado. A entidade que representava a segregação racial nos estados do sul dos EUA era Ku Klux Klan, sur- gida em 1865, depois do fim da escravidão no país. Com o avanço das conquistas civis dos negros nos anos 60 do século XX, a entidade passou a praticar vários atos de violência e de racismo. As mulheres se destacaram nos aos anos 60 do século XX, em busca de mais oportunidades e igual- dade de tratamento. Também ficaram mais ousadas. A pílula e a mini saia foram o símbolo do ideal de liberação da mulher e do movimento feminista. Dica de filme: Assista ao filme Juventude Transviada, de 1955, estrelado por James Dean, que retrata bem o conflito de gerações que se iniciava no contexto cultural norte- -americano e que, alguns anos depois, geraria os movimentos da contracultura, como o movimento Hippie. Martin Luther King Marcha da Ku Klux Klan, em Ashland, Condado de Jackson, Oregon, Estados Unidos, 1920. Movimento de liberação feminina protestando contra concurso Miss América em Atlantic City, Nova Jérsei, 06/12/1959. ht tp :/ /w w w .f ac ul ty .p nc _e du /D P ra tt /M kl ht tp :/ /w w w .m w kk k. co m /m w k_ pi ct ur es .h tm © JP L af fo nt /S yg m a/ C or bi s 23 Dica de site: Saiba mais sobre os movimentos feministas no Brasil no site: <http://vsites.unb.br/ih/his/gefem/labrys3/web/bras/marga1.htm> A Guerra do Vietnã O Vietnã foi o mais notório palco da Guerra Fria: O Vietnã fazia parte da região da Indochina, de posse francesa durante o imperialismo do século XIX. Em 1954, sob a liderança de Ho Chi Minh, fundador do Partido Comunista, que proclamou a República Democrática do Vietnã, ao norte do país. Depois da vitória contra os franceses pela independência o país ficou dividido, pelo tratado assinado em Genebra, em Vietnã do Norte, socialista, com a capital em Hanói, e o Vietnã do Sul, capitalista, com capital em Saigon. Pelo acordo assinado em Genebra deveriam acontecer eleições em 1956, para definir os rumos do país. Temerosos do avanço comunista na região os vietnamitas do sul suspenderam as eleições. Em 1961, os vietcongs (resistentes do sul), organizados em torno da Frente Nacional de Libertação e apoiados pela URSS e pelos vietnamitas do norte, iniciaram uma luta armada para reunificar o país. Em 1968, havia 500.000 soldados americanos no Vietnã. A guerra arrastou-se mobilizando a opinião pública ame- ricana na oposição ao conflito, considerado uma guerra “inútil e sem sentido”. Em 1973, já não havia soldados norte-americanos no Vietnã. Em 1975, a guerra terminou com a vitória do Vietnã do Norte. Os vietcongs ocuparam Saigon e em 1976 o Vietnã foi unificado sob um governo de liderança comunista, ao lado de Laos e Camboja. A guerra custou aos EUA mais de 130 bilhões de dólares. Dica de site: Leia o texto Mito e Contracultura disponível no site: < h t t p : / / w w w . u e l . b r / r e v i s t a s / u e l / i n d e x . p h p / m e d i a c o e s / a r t i c l e / viewPDFInterstitial/3318/2718> ht tp :/ /p t. w ik ip ed ia .o rg Fuzileiros embarcam nos helicópteros Huey na frente de combate. 24 Dicas de filme: Assista ao filme Apocalypse Now filme de 1979, dirigido por Francis Ford Coppola, onde um soldado é enviado para assassinar um coronel fora de controle durante a Guerra do Vietnã. Assista ao filme Bom dia, Vietnã, de 1987, com Robin Williams, sobre um programa de rádio das forças armadas estadunidenses no Vietnã cujo objetivo era elevar o moral dos combatentes. Hair Assista ao famoso musical de 1979, dirigido por Milos Forman, baseado em espetáculo homônimo da Broadway, que conta a história de um rapaz do interior, de passagem por Nova Iorque, um dia antes de se alistar para a ir a Guerra do Vietnã, que conhece um grupo de hippies, com os quais passa a conviver. Com eles, ele aprende a ver o outro lado de uma guerra. Movimentos Jovens ao Redor do Mundo A juventude, que nos anos 50 usava jaquetas de couro e calças cigarretes, nos anos 60 e 70 do século XX, passou a contestar a socie- dade clássica, tradicional e de cultura consumista dos EUA. Jovens de classe média e de classe média alta usaram o rock and roll, a liberdade sexual e as drogas como símbolo da ruptura dessa sociedade tradicio- nalista. O Festival de Woodstock foi a maior manifestação juvenil de contestação sociocultural e de repúdio à Guerra do Vietnã. O movi- mento hippie tornou-se o símbolo da juventude dos anos 60 do século XX e 70 do séculoXX e do ideal de um mundo sem fronteiras e de paz. O maior destaque do movimento foi o ex-beatle John Lennon. Em outros lugares do mundo como na Europa, especialmente na França e na América Latina, como foi o caso do Brasil os jovens travaram uma luta política contra os regimes autoritários. O ano de 1968 – Maio de 1968 – foi o marco da luta para o movimento estudantil. Jovens politiza- dos, influenciados pelos movimentos de esquerda e pelo ideal de um mundo mais justo e igualitário erguiam barricadas nas grandes cidades como forma de oposição e de expressão política e de luta contra o governo. Em Paris, os jovens precisa- ram erguer barricadas contra as tropas de Gaulle.Festiva de Woodstock. ht tp :/ /w w w .w oo ds to ck st or y. co m 25 América Latina e Estados Unidos no Pós-Guerra A América Latina (com exce- ção de Cuba) ficou sob a influência norte-americana – muito bem repre- sentada pelas ditaduras militares que se espalharam pelo continente nos anos 60/70 do século XX. A Europa Ocidental também ficou no círculo de influência americana, especialmente depois do Plano Marshal de reconstrução do pós- guerra. No caso do Brasil a luta armada, fortemente patrocinada pelas esquerdas, levou centenas de jovens à prisão durante a ditadura militar. Com exceção de Cuba Liderados por Fidel Castro, que estava exilado no México, e “Che” Guevara um grupo de revolucionários instalados em Sierra Maestra deu início a uma guerrilha de oposição ao governo. Em 1.º de janeiro de 1959 os revolucionários tomam Havana e destituem o governo pró ame- ricano. Fidel Castro tornou-se Primeiro Ministro e prometeu eleições em um período de 18 meses, o que não acon- teceu. No final do ano de 1961, Cuba declara-se um país de governo marxista e de alinhamento político-ideológico com a URSS. Em 1962, o governo americano decreta bloqueio continental a Cuba e a expulsa da OEA (Organização dos Estados Americanos). Foi o início de um longo período de isolamento da ilha com o mundo capitalista, agravado depois do fim do socialismo na URSS. Plano Marshal: Plano de ajuda financeira, organizado pelos EUA, para a reconstrução dos paí- ses arrasados pela guerra.Movimento estudantil de Maio de 1968 (barricadas de Paris). Manifestação de estudantes em frente ao Teatro Municipal. 30/05/1968, São Paulo – SP. © B et tm an n/ C O R B IS /C or bi s (D C )L at in st oc k. Fo lh a Im ag em 26 O Socialismo Aplicado na Europa, China e Cuba Os soviéticos abraçaram o Leste Europeu, Cuba e intervieram em áreas do Oriente Médio. Para controlar a Tchecoslováquia e a Hungria foi preciso um intervenção militar. A Iugoslávia se impôs, com o Marechal Tito, em uma postura de não alinhamento e a China rompeu com os soviéticos, conflitando inclusive nas questões arma- mentistas. Declarou-se comunista pela Revolução de Mao Tsé-Tung e radicalizou o totalitarismo depois da Revolução Cultural Chinesa. A Coreia também rendeu-se ao comunismo. Separada territorialmente desde o fim da Guerra da Coréia, na década de 1950, o país do norte mantém-se em regime fechado e autoritário. O conjunto de propostas dos dirigentes húngaros por mudanças de abertura política desagradou Moscou. Uma das principais propostas dos húngaros era a liberdade de representação de todas as tendências políticas do país e a retirada da Hungria do Pacto de Varsóvia. Em represália à tentativa da Hungria de libertação do domínio político- ideológico soviético, em 1956, as tropas da URSS invadiram o país e sufocaram o movimento popular. Como na Hungria, surgiram na Tchecoslováquia propostas em direção à abertura do país. Os soviéticos entraram na Tchecoslováquia reprimindo as manifestações e afastando seus dirigentes. A resistên- cia popular diante das tropas e dos tanques soviéticos que avançavam sobre a capital Praga ficou chamado de Primavera de Praga. Invasão russa na Tchecoslováquia. ht tp :// w w w .c ic cs of t.c om /L ib er au sc ita / 27 A Iugoslávia formou-se depois da Primeira Guerra Mundial, com a desintegração do Império Austro-Húngaro. Reunia seis etnias em um Estado federativo formado por seis repú- blicas: Sérvia, Bósnia-Hezergovina, Croácia, Eslovênia, Macedônia e Montenegro.O país fazia parte do bloco socialista que compreendia o Leste Europeu. A figura mais expressiva da unidade política e ideológica da Iugoslávia foi o Marechal Tito, que manteve o país unido sob um forte regime de orientação socialista, mas como país não alinhado a Moscou. Na China a Revolução Cultural foi lançada em 1966 e convocou os jovens chineses a se oporem às autoridades instituídas que haviam afastado Mao do poder em 1960. A juventude chinesa recolocou Mao no poder como líder supremo da China e formou a Guarda Vermelha. Mao, apoiado pelo Exército Popular de Libertação e pela Guarda Vermelha venceu a disputa pelo poder na China. A Guarda Vermelha promoveu a defesa da revo- lução por toda a China dando início a um período de violência e exageros. Em 1969, Mao acabou com a Guarda Vermelha. Conflitos no Oriente Médio O Oriente Médio virou uma área explosiva. A formação do Estado de Israel, encravado no terri- tório palestino teve vários significados. Primeiro, a formação de um Estado, composto, principal- mente, por uma população ligada pelos laços de etnia e religião. Segundo, as disputas pelos terri- tórios e a expansão de Israel sobre os territórios palestinos tem caráter religioso e geopolítico. A água é um problema sério na região. A expan- são judaica nos territórios da Cisjordânia e da faixa de Gaza engloba áreas de aquíferos que abastecem as colônias judaicas. Os judeus ainda monopolizam o rio Jordão, em parte no territórios da Cisjordânia e das Colinas Golã, fundamental para a agricultura e indústria. Parte do território palestino recebe água por ajuda humanitária. Marcha para marcar o estabelecimento do Comitê Revolucionário dos membros do Exército Popular de Libertação – Mongólia, 1969. Israel e os territórios ocupados. A lb um /a kg - im ag es /Z ho u T ho ng /A kg - I m ag es /L at in st oc k F ol ha d e Sã o P au lo , 1 7/ 05 /2 00 1 - E di to ri a de A R te /F ol ha I m ag em . 28 O conflito entre árabes e judeus tem antes de tudo um motivo religioso: os judeus ocupavam a área desde a antiguidade. No século I foram expulsos da região pelos romanos e se espalharam pela Europa. No final do século XIX os judeus começaram a retornar para a região, ocupada pelos muçulmanos, em um movimento chamado sionismo. Depois da Segunda Guerra, o conflito agravou-se em virtude do expansionismo judeu e da criação do Estado de Israel. A região da Palestina é considerada Terra Santa para as três maiores religiões do mundo: cristianismo, judaísmo e islamismo. Em 1950 a Lei do Retorno convocava judeus do mundo todo a retornar a sua terra de origem. As fronteiras foram abertas e os vistos de imigração foram concedidos. Israel venceu a primeira guerra árabe-israelense e expandiu suas fronteiras. Jerusalém oriental e Cisjordânia ficaram com a Jordânia e Gaza com o Egito (1949). Após a Guerra dos Seis Dias Israel ocu- pou Gaza, o deserto do Sinai, a Cisjordânia, Jerusalém oriental e as Colinas Golã (1967). A ocupação de Jerusalém pelos judeus é o ponto mais polêmico do conflito. Os judeus declararam Jerusalém sua capi- tal. Em 1973, os árabes atacaram as forças de Israel na batalha de Yom Kippur e saíram perdedores. A partir daí os árabes começaram a usar o petróleo como arma de estratégia, aumentando o preço e pro- vocandopânico no mundo industrializado. A contra partida foi a luta palestina pela criação do Estado Palestino, organizada em torno da OLP – Organização pela Libertação da Palestina e depois pela ANP (Autoridade Nacional Palestina). O ícone da luta palestina foi Yasser Arafat. Dicas filmes: Assista ao documentário Occupation 101: Vozes de uma maioria silenciada, produzido recentemente por Sufyan Omeish e Abdallah Omeish. O filme faz um balanço histórico da questão palestina, abrangendo o surgimento do movimento sionista até a segunda Intifada. Filme em versão integral legendada disponível em: <http://video.google.com/videosearch?q=occupation+101&emb=0&aq=f#emb=0&a q=f&q=occupation%20101%20legendado&src=3> Assista ao filme Sobre Bagdá, de 2004. Seu diretor, o escritor e poeta Sinan Antoon retorna a Bagdá para ver seu país após tantas guerras, sanções, décadas de opressão e violência e, agora, ocupação. Antoon nos leva a uma jornada que mostra o que os iraquia- nos pensam e sentem sobre a situação pós-guerra e a complexa relação entre os EUA e o Iraque. Yasser Arafat ht tp :/ /z .a bo ut .c om /d /a si an hi st or y/ 1/ 0/ p/ a/ y/ a/ ya ss er ar af 29 Houve muitas tentativas de solução e acordos pela paz na região. O Acordo de Oslo, assinado em 1993, com intervenção do presidente Bill Clinton previa a retirada de Israel de áreas palestinas ocupadas e manteria autonomia em parte da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. O acordo não foi concluído. Foi criado a ANP (Autoridade Nacional Palestina) administrada por Arafat. Começaram os esforços para con- ter os principais grupos terroristas como o Hamas e o Hezbollah. Em 1998 novos acordos previam a contenção do terrorismo e a retirada de Israel da Cisjordânia. Os radicais de ambos os lados travaram as negociações – o Primeiro Ministro de Israel Yitzhak Rabin fora assas- sinado por um extremista judeu em 1995, e as ações terroristas não foram contidas.Com a morte de Arafat em 2004, Mahmoud Abbas foi eleito presidente da ANP e o grupo Hamas venceu as eleições para o parlamento. Embora Israel tivesse desocupado assentamentos na Faixa de Gaza e o Hamas se mostrasse disposto a iniciar conversas com os judeus, novas agressões ocorreram e os grupos terroristas não foram desarticulados. A construção do Muro (2008) israelense separa as áreas palestinas com o objetivo de conter terroristas e invade áreas onde palestinos pretendiam erguer seu futuro Estado. Israel desocupou Gaza em 2005, mas mantém quase 300 mil colonos na Cisjordânia. Descolonização da Índia A Índia seguiu o caminho da independência. Pela pregação da Desobediência Civil de Gandhi os indianos se libertaram dos ingle- ses em 1947 e atualmente formam a maior democracia do mundo, tão cheia de contradições quanto a Índia é cheia de misticismo. O sistema de castas permanece em boa parte do país, embora a lei já o tenha abolido desde 1950. Podemos relacionar a questão da Índia com o conceito de cidadania, que parece estar sendo difícil de estender no país. Depois da independência a Índia foi dividida em dois países: a Índia, de maioria hindu e o Paquistão, de maioria muçulmana, e subdividido em Paquistão oriental (que deu origem a Bengladesh, em 1971) e Mahatma Ghandi Desobediência civil Por meio da pregação da desobediência civil, Gandhi promoveu o não pagamento de impostos e o boicote aos produtos ingleses. ht tp :/ /u pl oa d. w ik im ed ia .o rg 30 ocidental. O grande ponto de conflito entre os dois países é a região da Cachemira, que ficou com a Índia mas tem maioria muçulmana. Embora a Cachemira tenha sido dividida é motivo de conflito entre Índia e Paquistão até hoje. Dica de filme: Assista ao premiado filme Ghandi, de 1982, retrata a vida de Mahatma Gandhi, conside- rado o principal líder da luta pela independência da Índia, após décadas de dominação do imperialismo inglês. O filme mostra como o líder pacifista colocou em prática a política de desobediência civil fundamentada no princípio da ação não violenta, considerada por ele como a maior força a ser empregada na defesa dos direitos das pessoas. Descolonização da África e da Ásia Na África teve início o processo de descolonização. O continente se afundou em guerras civis movidas pelos conflitos étnicos acentua- dos com a partilha descriminada no século XIX. Os maiores índices de pobreza e doença estão no continente africano. Será um longo caminho até a formação de Estados democráticos e até a superação das acentuadíssimas desigualdades permanentes na região. Na partilha do mundo colonial africano e asiático, no século XIX, as melhores porções ficaram com ingleses e franceses. E foi assim até a segunda metade do século XX, depois da Segunda Guerra Mundial, quando africanos e asiáticos deram início às suas independências. A maioria das colônias conquistaram sua independência entre os anos de 1950 e 1970 e uma nova questão se pôs diante dos colonizados: quais rumos deveriam ser tomados a partir da independência. Em abril de 1955 vinte e três países africanos e seis países asiáticos reuniram- se em Bandung, na Indonésia para discutir os rumos que deveriam ser tomados a partir das independências conquistadas. O documento final do encontro firmou o repúdio ao colonialismo, ao racismo, e ao alinhamento tanto com soviéticos como com norte-americanos. Sustentados pela ideia de autodeterminação dos povos negou-se as práticas de alinhamento políticos característicos da Guerra Fria. O grande desafio da descolonização africana foi contemplar nas novas fronteiras os interesses de grupos étnicos diferentes. Muitos grupos haviam se beneficiado da colonização por meio de privilégios e bene- fícios. As fronteiras criadas pelo imperialismo do século XIX puseram em conflito grupos étnicos rivais. As rivalidades foram acentuadas depois das independências envolvendo questões de poder e de supre- macia étnica. Para promover a solidariedade entre os povos africanos foi criada a OUA (Organização da Unidade Africana). Outro fator que transformou a descolonização africana em um drama foi a questão econômica. Os anos de colonização europeia transformaram a África 31 em um continente pobre, sem recursos industriais, exportador e mine- rador e sem promoção nas áreas de educação e saúde. A união entre os problemas étnicos e os problemas econômicos afundou o continente em guerras civis pelo poder, acentuou a ação das milícias e distribuiu a fome e a doença. Crianças somalis aguardando alimentação. Dica de filme: Assista ao filme A Batalha de Argel, de 1966, que enfoca os eventos ocorridos em Argel, a capital da Argélia, de novembro de 1954 até Dezembro de 1960. Durante a “Guerra da Independência Argelina”, uma organização de nativos insurreitos escondidos na populosa região da cidade de Argel conhecida por Casbah (cidadela), manteve um conflito contra as tropas de ocupação colonialista francesas. O Leste Europeu O Leste Europeu desintegrou-se no final do século XX. O mundo que se conhecia acabou nesse momento. A derrubada do Muro de Berlim, erguido por Moscou em 1961 para evitar a fuga dos alemães orientais para o lado ocidental, foi o marco do nascimento de uma nova Era. Porém, não sem lutas, algumas sangrentas como na separação da Iugoslávia e não sem conflitos que ainda permanecem como na Chechenia. As lutas separatistas na Europa comunista refletem, nova- mente, o problema latente das lutas étnicas. ht tp :/ /w w w .d od m ed ia .o sd .m il 32 O Estado que atravessou os tempos foi o burguês, democrático – pelo menos na sua representação política – liberal, de consumo e tão cheio de desigualdades que nos estimula a novamente começar a debater os conceitos de cidadania.Mesmo a sociedade de bem-estar social que tanto parecia agradar nos anos 70 do século XX deixou de existir. A vez agora é da Globalização que abraça assuntos novos, como a questão ambiental, a formação de mercados e a manutenção do liberalismo. R E U T E R S/ R eu te rs /L at in st oc k Guardas da fronteira em Berlim Oriental, no topo do muro de Berlim em frente ao Portão de Brandemburgo.
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