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Princípios Tributários: Não Confisco, Igualdade e Legalidade

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Tributário – Caderno Lourega
PRINCÍPIO DO NÃO CONFISCO (VEDAÇÃO DE TRIBUTO CONFISCATÓRIO)
Valores: Justiça Fiscal (e liberdade).
Fundamentos constitucionais: 150, IV CRFB/88 e direito à propriedade (arts. 5º, caput e XXII e art. 170, II CRFB/88) (fazer remissões).
“Confiscar é tomar para o Fisco, desapossar alguém de seus bens em proveito do Estado”. 
Não é estabelecida legalmente e doutrinariamente uma alíquota confiscatória. Parâmetros: (a) tributação sobre a propriedade deve ser módica, por ser periódica; (b) extrafiscalidade pode conviver com tributação elevada, (c) preservação do mínimo existencial (analogia com pessoas jurídicas) e (d) levar em consideração a carga tributária como um todo.
Hipóteses constitucionais de confisco
Propriedades rurais e urbanas para fins de reforma agrária ou programas de habitação popular, quando há o cultivo de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo (art. 243); 
Perdimento de bens, por exemplo, da mercadoria, quando há importação irregular, e de instrumentos e de produtos da prática criminosa (art. 5º, XLV e XLVI, “b”).
O percentual das multas deve ser fixado com base no princípio da razoabilidade e da proporcionalidade analisando-se o caso concreto.
PRINCÍPIO DA IGUALDADE TRIBUTÁRIA
Não é possível tributar desigualmente contribuintes em situação equivalente, por causa de suas profissões ou funções, podendo apenas haver a diferenciação de tributação em razão da capacidade contributiva.
Valor: Justiça fiscal.
Princípio dirigido ao legislador e ao aplicador da lei.
Fundamentos: Art. 150, inciso II e art. 5º, caput e inciso I CRFB/88.
Art. 150. [...] é vedado à União, aos Estados, [...]: II - instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos;
Não viola o princípio constitucional da isonomia, a diferenciação, por meio de isenções ou incidência tributária menos gravosa, de situações que não revelem capacidade contributiva ou que mereçam um tratamento fiscal ajustado à sua menor expressão econômica. 
Regime do Simples Nacional e Isenções. Demonstração de interesse ou a conveniência pública na aplicação da regra da capacidade contributiva ou no incentivo de determinadas atividades de interesse do Estado. Não viola a igualdade tributária
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE TRIBUTÁRIA (TIPICIDADE)
Valor: segurança jurídica fiscal.
Somente lei em sentido formal pode criar e majorar tributo.
Fundamento normativo: Art. 150, I da CRFB/88 e 97 do CTN.
Provavelmente é o princípio tributário mais antigo e considerado o mais importante para alguns doutrinadores (especialmente para os positivistas).
Tem natureza jurídica de regra e de princípio (previsibilidade).
Aplicável na desoneração tributária: Art. 150, § 6º. Protegendo tanto o contribuinte quanto à Fazenda Pública. 
Visa, primordialmente, a concretização do valor segurança jurídica, sendo considerado, com o princípio da capacidade contributiva, um dos mais importantes do Sistema Tributário Nacional brasileiro.	 Significa que somente lei, em sentido formal pode criar e majorar tributo.
Art. 150  da  CRFB/88. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça;
A regra da legalidade também é aplicável nos casos de desoneração tributária (princípio da indisponibilidade dos bens públicos). 
Art. 150. § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
ICMS e a necessidade do convênio CONFAZ para evitar guerra fiscal. 
Possibilidade de benefício fiscal para regime Simples Nacional mesmo fora das hipóteses constitucionalmente previstas. 
LEGALIDADE X TIPICIDADE FECHADA
Positivismo: segurança jurídica fiscal individual. 
Tipicidade fechada: todos os elementos do fato gerador, inclusive seus pormenores, deveriam estar previsto em lei em sentido formal. Incidência só ocorreria nos casos em que a situação fática se adequasse nos mínimos detalhes ao fato gerador previsto na lei. Trauma com a interpretação econômica alemã nazista.
Pós-positivismo: segurança jurídica individual e coletiva + justiça fiscal: ponderação com capacidade contributiva. 
Tipicidade aberta: não prevê todas as situações minuciosamente, mas estabelece os limites interpretativos da autoridade tributária.
TIPICIDADE FECHADA X TIPICIDADE ABERTA
Admite que o legislador possa delegar ao Poder Executivo a capacidade de especificar situações concretas nas quais poderá incidir o tributo, desde que respeitados os limites fixados em lei. A lei, assim, não prevê todas as situações minuciosamente, mas estabelece os limites interpretativos da autoridade tributária.
Modelo da tipicidade fechado está superado pelo STF.
Exemplo: Planta de valores do IPTU: No Rio é por lei, em outros municípios, a lei delegou ao Poder Executivo a possibilidade de estabelecer a planta de valores do IPTU por decreto.
MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Impostos extrafiscais. 
Majoração dentro dos limites estabelecidos em lei - daí o respeito ao princípio da legalidade-, com o objetivo de incentivar/não incentivar determinada conduta.
A CRFB admite que o Poder Executivo altere alíquotas de alguns tributos extrafiscais (dentro dos limites estabelecidos em lei) com o objetivo de concretizar outros valores constitucionais (incentivo à indústria nacional, garantia do abastecimento no país etc.). Art. 153, §1º (remissão).
Instituição e majoração de impostos por medida provisória (desde que convertida em lei no mesmo exercício). Art. 62, §2º (remissão). Antes era controvertido, mas a EC 32/01 pacificou, dando com uma mão e tirando com a outra
PRINCÍPIOS TEMPORAIS: IRRETROATIVIDADE, ANTERIORIDADE E NOVENTENA
As limitações temporais ao poder de tributar são normas que visam a concretizar o princípio da não surpresa. 
São normas jurídicas com dupla natureza: princípio (na medida em que estabelecem diretamente uma finalidade – não surpresa do contribuinte, previsibilidade da ação tributária – a ser concretizada por comportamentos específicos) e são regras (por estabelecerem comportamentos que devem ser seguidos pelo legislador e pelo aplicador da lei, com vistas ao fim de garantir a previsibilidade da ação estatal).
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE
O princípio da irretroatividade é previsto como regra geral no art. 5º, XXXVI da CRFB/88 dispondo que a lei não atinge o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
No caso do Sistema Tributário Nacional, a lei não poderia instituir tributos ou majorá-lo em relação a fatos ocorridos antes de sua vigência (art. 150, III, “a”). 
Não há vedação em reduzir tributos de fatos já ocorridos.
Art. 150. [...] é vedado à União, aos Estados,
III - cobrar tributos:
a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado
A irretroatividade das leis não é um valor absoluto, sendo adotado em matéria tributária com a pretensão de não agravar retroativamente a situação dos contribuintes. 
Há, todavia, leis que, naturalmente, se vocacionam para atuar sobre fatos do passado, como se dá com as de anistia (perdão de penalidades) e remissão (perdão de tributo não pago).
Lei interpretativa não pode levar à majoração ou à instituição de tributos em relação a fatos ocorridos no passado.
Exceções: art. 106 do CTN
 Art. 106. A lei aplica-se a ato ou fato pretérito:
I - em qualquer caso, quando seja expressamenteinterpretativa, excluída a aplicação de penalidade à infração dos dispositivos interpretados;
II - tratando-se de ato não definitivamente julgado:
a) quando deixe de defini-lo como infração;
b) quando deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão, desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de pagamento de tributo;
c) quando lhe comine penalidade menos severa que a prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE
Para a maioria dos tributos deve ser obedecido o princípio da anterioridade. 
Por esse princípio, é necessário que a lei que instituiu ou majorou o tributo seja promulgada no ano anterior ao exercício no qual se deseja cobrar. 
Art. 150. [...] é vedado à União, aos Estados,
III - cobrar tributos:
b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; (Vide Emenda Constitucional nº 3, de 1993)
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE X ANUALIDADE TRIBUTÁRIA
Há outro princípio semelhante (mas não coincidente), que é o da “anualidade tributária”, que defende a necessidade de que a cobrança do tributo ou a majoração esteja prevista na lei orçamentária aprovada no ano anterior ao exercício no qual se deseja realizar a cobrança.
O STF já entendeu que o princípio da anterioridade é direito e garantia individual protegido como cláusula pétrea não podendo ser afastado nem por emenda constitucional(ADI 939/1993).
“2. A Emenda Constitucional n. 3, de 17.03.1993, que, no art. 2., autorizou a União a instituir o I.P.M.F., incidiu em vício de inconstitucionalidade, ao dispor, no parágrafo 2. desse dispositivo, que, quanto a tal tributo, não se aplica "o art. 150, III, "b" e VI", da Constituição, porque, desse modo, violou os seguintes princípios e normas imutáveis (somente eles, não outros): 1. - o princípio da anterioridade, que e garantia individual do contribuinte (art. 5., par. 2., art. 60, par. 4., inciso IV e art. 150, III, "b" da Constituição)”
Sacha Calmon chama de Princípio da não surpresa. 
Súmula vinculante nº 50 – Norma legal que altera o prazo de recolhimento de obrigação tributária não se sujeita ao princípio da anterioridade.
Exceções ao princípio da anterioridade (ou anterioridade geral)
A Constituição estabelece exceções ao princípio da anterioridade, que se relacionam com os impostos extrafiscais e com aqueles cobrados em situação de urgência:
Artigo 150. § 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I.    (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003).
Outros casos: a CIDE combustíveis (art. 177 § 4º, I, “b”); o ICMS sobre combustíveis e lubrificantes (artigo 155 § 4º com redação da EC 33/01); empréstimos compulsórios de guerra ou calamidade pública, imposto extraordinário de guerra e as contribuições sociais para o custeio da seguridade social que se submetem apenas à anterioridade mitigada ou nonagesimal (artigo 195, § 6º).
STF - Anterioridade e isenção
Em 1996, no julgamento do RE 204.062/ES, relatado pelo Ministro Carlos Velloso, ficou decidido que “Revogada a isenção, o tributo volta a ser imediatamente exigível, sendo impertinente a invocação do Princípio da Anterioridade.” 
Em 2008, o STF, no julgamento da ADI 4.016-MC, ao que parece, manteve o entendimento anterior, apontando para a desnecessidade de se respeitar a anterioridade nas hipóteses de extinção de descontos dados para o pagamento a vista de IPVA.
O STF, em julgado do final de 2014, entendeu que deve respeitar a anterioridade geral e nonagesimal quando é revogado um benefício fiscal, o que sugere uma provável mudança de posição:
PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE NONAGESIMAL OU NOVENTENA
Anteriormente era aplicável somente às contribuições sociais (art. 195, §6 da CRFB/88). Depois da EC nº 42/2003, passou a ser aplicável a maioria dos tributos.
Segundo a regra da noventena, a instituição ou a majoração dos impostos somente poderá ocorrer noventa dias após a sua instituição por lei.
Art. 150. [...] é vedado à União, aos Estados,
III - cobrar tributos:
c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003).
Tanto a anterioridade comum, quanto a noventena, podem ser excepcionalizadas em alguns tributos extrafiscais, tal como determina o artigo 150, §1º da CRFB/88.
§ 1º A vedação do inciso III, b, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, IV e V; e 154, II; e a vedação do inciso III, c, não se aplica aos tributos previstos nos arts. 148, I, 153, I, II, III e V; e 154, II, nem à fixação da base de cálculo dos impostos previstos nos arts. 155, III, e 156, I. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003

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