Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
TO´PICOS DE ANA´LISE MATEMA´TICA V´ıtor Neves Departamento de Matema´tica Universidade de Aveiro 2 Prefa´cio Algures entre Agosto e Dezembro de 1981 – iniciava enta˜o quatro anos como es- tudante graduado na University of Iowa, em Iowa City, Iowa EUA – tive a sorte de assistir a uma palestra de Marc Kac sobre Atractores Estranhos, assunto ao tempo muito na moda; tera´ seguramente sido interessant´ıssima cientificamente, mas as impresso˜es que me ficaram sa˜o literalmente de outra natureza. Foram cinquenta minutos de o´ptima disposic¸a˜o pois Kac mostrou um humor apurado; vim a perceber ser esta uma forma muito frequente de apresentac¸a˜o, ta˜o mais perfeita quanto mel- hor cientista e´ o conferencista; na˜o e´ regra terem sido todas as palestras significativas assim, mas as excepc¸o˜es na˜o foram muitas. Gravei tambe´m a frase seguinte: Quando pretendemos publicar uma demonstrac¸a˜o, devemos procurar uma revista de Matema´tica e para uma prova uma revista de F´ısica; se que- remos mostrar um resultado, e´ mais adequada uma revista de Sociologia. Outra citac¸a˜o, suponho que do meu orientador de doutoramento, Keith Stroyan: Como docentes [de Matema´tica, mas na˜o so´] devemos sempre falar ver- dade, mas na˜o necessariamente dizer toda a verdade! Por essa altura eram tambe´m muito bem considerados livros de J. E. Marsden, sobre diversos n´ıveis de Ana´lise Matema´tica e suas aplicac¸o˜es, nos quais as demonstrac¸o˜es eram quase sempre relegadas para o fim dos cap´ıtulos, ainda considero ser esta um o´ptima forma de exposic¸a˜o. Tentei redigir de acordo com estas treˆs ideias; de facto o ponto de vista de Marsden so´ muito dificilmente se pode ver aplicado, mas sinto-me constantemente a estabelecer um compromisso entre ele e os ha´bitos dos nossos alunos (e na˜o poucos colegas), nomeadamente va´rias proposic¸o˜es na˜o sa˜o demonstradas, ou porque a demonstrac¸a˜o e´ demasiadamente fina para um texto deste aˆmbito ou por a acharmos simples ou ainda digna de exerc´ıcio, enunciado ou na˜o. Encontrar-se-a´ porventura influeˆncia de [16]. Este e´ um conjunto de notas resultante de um texto com o qual se tem recente- mente apoiado a disciplina de Ana´lise Matema´tica II da Universidade de Aveiro. Dirige-se a disciplina na˜o so´ a estudantes de Matema´tica mas tambe´m a alunos de Engenharia pelo que na˜o me parece despiciendo referir func¸o˜es de va´rias varia´veis, ainda que de forma muito pragma´tica: tratar trajecto´rias ortogonais, equac¸o˜es difer- enciais exactas e eventuais factores integrantes e´ importante bem como me parece ser tambe´m u´til a terminologia ”campo escalar”ou ”campo vectorial”; claro que a derivac¸a˜o de uma composic¸a˜o de curvas com campos escalares e´ uma dificuldade se´ria, mas a Regra da Cadeia parece-me fa´cil de aceitar pelos alunos e na˜o espe- cialmente dif´ıcil de expor pelo docente; a este propo´sito estimo particularmente os textos do professor Dias Agudo [8] e [9], muito em particular o segundo, na˜o porque 4 os considere especialmente acess´ıveis – o segundo e´ – antes pelo contra´rio, mas por serem muito completos e bem escritos; e´ tambe´m interessante notar terem alguns alunos encontrado apoio no livro do professor Guerreiro [12]. O cap´ıtulo sobre Se´ries de Fourier e´ uma forma de forc¸ar a utilizac¸a˜o da A´lgebra Linear e evitar ca´lculos, digamos ”a` la Zygmund”, a meu ver inapropriados para os alunos actuais de uma disciplina do segundo semestre do I ano do I Ciclo (segundo o acordo de Bolonha). Os primeiros cap´ıtulos devem na verdade ser considerados reviso˜es: constituem uma incursa˜o, de certo modo dirigida e ra´pida ao que se poderia designar por Fundamen- tos da Ana´lise Real, apenas com o fim de tornar o texto auto-suficiente; exemplos desta economia de meios sa˜o a secc¸a˜o sobre nu´meros naturais e a secc¸a˜o sobre nu´meros complexos, onde se refere o que temos por verdadeiramente essencial a` compreensa˜o das notas. De facto so´ a partir do Cap´ıtulo 5 inclusive, se apresenta o que podera´ ser considerado Ana´lise Matema´tica mais avanc¸ada. A u´ltima secc¸a˜o e´ um exemplo, inesperado para mim, de aplicac¸a˜o do Lema de Gron- wall conjuntamente com o Teorema de Peano para equac¸o˜es diferenciais ordina´rias. Na˜o reputo os exerc´ıcios de particularmente bons, de facto sa˜o uma parte ainda a ser constru´ıda. Conta-se que o leitor se sinta minimamente a` vontade com rudimentos de A´lgebra Linear bem como que tenha alguma familiaridade com o formalismo da Lo´gica en- quanto estenografia da linguagem matema´tica por meio da quantificac¸a˜o e dos conec- tivos. OBSERVAC¸O˜ES e AGRADECIMENTOS 1. Nos fins dos anos 1980 dizia na Covilha˜ o professor Dias Agudo, enta˜o lec- cionando tambe´m na Universidade da Beira Interior, que os seus livros eram escritos para ”estudantes com professor”, por oposic¸a˜o a autodidactas (menos capazes, acrescentamos no´s); uma leitura superficial do I´ndice destas notas e´ suficiente para se perceber a importaˆncia de um, por assim dizer, orientador de leitura, de modo algum por serem de n´ıvel compara´vel a` obra do professor Dias Agudo, mas sim porque na˜o seguem a ordem usual e na˜o sa˜o, nem se pretende que sejam, realmente completas. 2. log(ex) = x (x ∈ R) 3. Ao Anto´nio Caetano agradec¸o ter verificado algumas demonstrac¸o˜es – na˜o a maioria inteiramente de minha responsabilidade – a` minha esposa, Ana Helena Roque, o fornecimento de alguns exerc´ıcios, a ambos as variadas formas de pacieˆncia e apoio que me dispensaram. 4. E´ muito importante eliminar qualquer erro tipogra´fico ou qualquer du´vida conceptual, suscept´ıveis de ocorrer como consequeˆncia de uma elaborac¸a˜o por vezes demasiadamente apressada, pelo que agradec¸o comenta´rios, sugesto˜es e correcc¸o˜es, enviadas para vneves@ua.pt de modo a poder ir adaptando. Setembro de 2011 Vı´tor Neves Prefa´cio (2010/2011) Mante´m-se no essencial o prefa´cio de 2005/06. Houve algumas modificac¸o˜es de paginac¸a˜o e reagrupamento, em particular no cap´ıtulo sobre equac¸o˜es diferenciais, no entanto na˜o se alterou o aspecto introduto´rio fortemente elementar, aqui e ali abri pistas para tratamento profundo. A secc¸a˜o sobre se´ries de Fourier deu lugar a um cap´ıtulo, ainda em construc¸a˜o, em cuja secc¸a˜o final se trata o tema sob um ponto de vista mais Funcional. 21 de Fevereiro de 2011 Vı´tor Neves Prefa´cio (2005/2006) Este e´ um texto de apoio a` disciplina Ana´lise Matema´tica II que ira´ sendo aper- feic¸oado a` medida que a disciplina for decorrendo no semestre — veja-se a propo´sito a observac¸a˜o abaixo — pelo que muitos comenta´rios de ı´ndole menos formal e exem- plos, bem como algumas demonstrac¸o˜es, sera˜o apresentados nas aulas teo´ricas ou nas aulas teo´rico-pra´ticas e na˜o aparecera˜o sistematicamente no texto podendo, no entanto, vir a ser acrescentados a` medida que o semestre decorre. As demonstrac¸o˜es apresentadas basear-se-a˜o apenas em resultados supostos de conhecimento geral ou outros apresentados no texto. Perante a necessidade de elaborar estas notas com alguma rapidez (caso contra´rio, teriam necessariamente utilidade reduzida) e de manter um discurso na˜o demasiada- mente codificado por vezes utilizamos linguagem formal de forma informal. O s´ımbolo 2 termina as demonstrac¸o˜es. 6 OBSERVAC¸A˜O: E´ muito importante eliminar qualquer erro tipogra´fico ou qual- quer du´vida conceptual, suscept´ıveis de ocorrer como consequeˆncia de uma elaborac¸a˜o por vezes demasiadamente apressada, pelo que agradecemos comenta´rios, sugesto˜es e correcc¸o˜es, enviadas para vneves@mat.ua.pt de modo a que o texto possa ir sendo adaptado e corrigido. 2006 Vı´tor Neves I´ndice 1 Fundamentos 101 1.0 Nu´meros reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 1.0.1 Axioma´tica de corpo . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . 101 1.0.2 Axiomas de ordenac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 1.0.3 Outras propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103 1.0.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104 1.0.5 Nu´meros racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 1.0.6 Subconjuntos de R. Parte I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109 1.0.7 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 1.0.8 Subconjuntos de R. Parte II. Completude . . . . . . . . . . . 115 1.1 Nu´meros complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 1.1.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 1.1.2 Algumas particularidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 1.1.3 Teorema fundamental da A´lgebra . . . . . . . . . . . . . . . . 118 1.2 Continuidade e diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 1.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120 1.2.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121 1.2.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 1.3 Integrac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130 1.3.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 2 Teoremas da Func¸a˜o Composta e da Func¸a˜o Inversa 201 2.1 Teoremas da Func¸a˜o Composta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201 2.2 Teoremas da Func¸a˜o Inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203 2.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204 3 Teorema de Taylor 301 3.1 Fo´rmula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301 3.1.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 306 3.2 Func¸o˜es Anal´ıticas I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 308 3.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 312 7 8 I´NDICE 4 Sucesso˜es e Se´ries nume´ricas 401 4.1 Sucesso˜es nume´ricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 401 4.1.1 Sucesso˜es mono´tonas. Sucesso˜es limitadas . . . . . . . . . . . 401 4.1.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 404 4.2 Convergeˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 405 4.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 411 4.2.2 Sucesso˜es na˜o limitadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 412 4.2.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 413 4.3 Se´ries nume´ricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416 4.3.1 Generalidades sobre convergeˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . 416 4.3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 418 4.3.3 Se´ries de termos na˜o negativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 418 4.3.4 Convergeˆncia absoluta e convergeˆncia simples . . . . . . . . . 422 4.3.5 Convergeˆncia absoluta II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 423 4.3.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 425 5 Sucesso˜es de func¸o˜es reais 501 5.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 501 5.1.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 505 5.2 Se´ries de poteˆncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 506 5.2.1 Aspectos gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 506 5.2.2 Func¸o˜es anal´ıticas II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 510 5.2.3 As func¸o˜es transcendentes elementares . . . . . . . . . . . . . 511 5.2.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 511 5.3 O raio de convergeˆncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 513 5.3.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 517 6 Se´ries de Fourier 601 6.1 Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 601 6.2 Se´ries de Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 603 6.3 Convergeˆncia I. Me´dia quadra´tica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 605 6.3.1 To´picos sobre espac¸os (quase-)euclidianos . . . . . . . . . . . . 607 6.3.2 Desigualdades de Bessel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 610 6.3.3 Equac¸a˜o de Parseval . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 610 6.4 Convergeˆncia II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 612 6.5 Func¸o˜es na˜o perio´dicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 616 6.6 Convergeˆncia III . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 617 6.6.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 617 7 Integrais Impro´prios 701 7.1 Integrais de primeira espe´cie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 701 I´NDICE 9 7.2 Integrais de segunda espe´cie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 705 7.3 Integrais mistos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 707 7.3.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 707 7.4 Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 709 7.4.1 Inversa˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 713 7.4.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 714 8 Equac¸o˜es Diferenciais Ordina´rias 801 8.1 Introduc¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 801 8.2 Equac¸o˜es de varia´veis separa´veis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 801 8.2.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 802 8.3 Equac¸o˜es exactas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 804 8.3.1 Factor integrante para equac¸o˜es na˜o exactas . . . . . . . . . . 805 8.3.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 806 8.3.3 Brev´ıssima incursa˜o informal a curvas em R2 . . . . . . . . . . 806 8.4 Forma normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 807 8.4.1 Exerc´ıcios (trajecto´rias ortogonais) . . . . . . . . . . . . . . . 808 8.4.2 Equac¸o˜es lineares de primeira ordem . . . . . . . . . . . . . . 809 8.4.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 809 8.4.4 Equac¸o˜es lineares de segunda ordem e coeficientes constantes . 810 8.4.5 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 810 8.4.6 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 812 8.4.7 Equac¸o˜es lineares de segunda ordem e coeficientes anal´ıticos . 812 8.4.8 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 813 8.5 Singularidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 813 8.5.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 813 8.6 Equac¸o˜es lineares de ordem n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 814 8.6.1 Teoria geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 814 8.6.2 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 816 8.6.3 Equac¸o˜es lineares de coeficientes constantes . . . . . . . . . . 816 9 Sistemas lineares (forma normal) 901 9.1 A primeira ordem e´ suficiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 901 9.2 Sistemas de primeira ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 902 9.2.1 Generalidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 902 9.2.2 Matriz A constante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 904 9.2.3 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 906 9.3 Sistema lineares de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 907 9.4 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 908 10 Existeˆncia e unicidade 1001 10 I´NDICE 10.1 Continuidade (muito) elementar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1001 10.1.1 Exerc´ıcios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1002 10.2 Existeˆncia e unicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1002 10.3 O Lema de Gronwall . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1006 10.3.1 Func¸o˜es impl´ıcitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1008 Cap´ıtulo 1 Fundamentos 1.0 Nu´meros reais 1.0.1 Axioma´tica de corpo C1. A soma e´ associativa: ∀ x, y, z ∈ R (x+ y) + z = x+ (y + z). C2. A soma tem elemento neutro, designado por 0, i.e. ∀ x ∈ R x+ 0 = 0 + x = x. C3. Qualquer nu´mero real tem sime´trico i.e. ∀x ∈ R ∃y ∈ R x+ y = y + x = 0. O sime´trico do nu´mero real x designar-se-a´ −x. C4. A soma e´ comutativa: ∀ x, y ∈ R x+ y = y + x. C5. O produto e´ associativo: ∀ x, y, z ∈ R (x · y) · z = x · (y · z). C6. O produto tem elemento neutro, designado por 1, i.e. ∀ x ∈ R x · 1 = 1 · x = x. Como e´ habitual, omitir-se-a´ · entre letras ou entre letras e nu´meros. C7. O produto e´ comutativo: ∀ x, y ∈ R xy = yx. 101 102 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS C8. Qualquer nu´mero real na˜o nulo tem inverso i.e. ∀x ∈ R\{0} ∃y ∈ R xy = yx = 1. O inverso do nu´mero real x designar-se-a´ x−1 ou 1 x . C9. O produto e´ distributivo relativamente a` adic¸a˜o, i.e., ∀ x, y, z ∈ R [x(y + z) = xy + xz ∧ (y + z)x = yx+ zx]. 1.0.2 Axiomas de ordenac¸a˜o 01. < e´ uma relac¸a˜o de ordem total em R i.e. goza das propriedades seguintes. 1. < e´ anti-reflexiva: ∀x ∈ R x 6< x. 2. < e´ transitiva: ∀x, y, z ∈ R [[x < y ∧ y < z]⇒ x < z] . 3. < e´ tricoto´mica i.e. para quaisquer x, y ∈ R, se x 6= y da´-se uma e so´ uma das condic¸o˜es seguintes: x < y ou y < x. O2. Monotonia da soma ∀x, y, z ∈ R [y < z ⇒ x+ y < x+ z]. O3. Semi-monotonia do produto ∀x, y, z ∈ R [[y < z ∧ 0 < x]⇒ xy < xz] . Por verificar os axiomas Ci, R diz-se um corpo; por verificar tambe´m os axiomas Oi, R diz-se que um corpo ordenado. O {x ∈ R| 0 < x} designar-se-a´ por R+ e os seus elementos chamam-se nu´meros positivos. Por definic¸a˜o, os nu´meros negativos sa˜o os elementos de R\(R+∪{0}). Repare-se que a relac¸a˜o < e´ necessariamente anti-sime´trica i.e. dados quaisquer x, y ∈ R, se x < y enta˜o y 6< x, pois se se pudesse ter simultaneamente x < y e y < x, pela transitividade, concluir-se-ia x < x, o que na˜o se verifica, em face da anti-reflexividade. Notac¸a˜o: Como e´ habitual, x > y e´ uma fo´rmula equivalente a y < x; x ≥ y ou, equivalentemente y ≤ x, exprime que alguma das condic¸o˜es x > y ou x = y e´ satisfeita. 1.0. NU´MEROS REAIS 103 1.0.3 Outras propriedades Quaisquer dos resultados seguintes se podem deduzir dos axiomas descritos acima, por isso os apresentamos como teoremas, se bem que na˜o demonstrados. Na˜o se pressupo˜e que cada resultado se demonstra utilizando apenas os que o precedem. Teorema 1.0.1 Um nu´mero real na˜o nulo e o seu inverso teˆm o mesmo sinal i.e. sa˜o ambos positivos ou ambos negativos. Teorema 1.0.2 ∀x, y ∈ R [xy = 0 ⇔ [x = 0 ∨ y = 0]]. Teorema 1.0.3 Qualquer quadrado de um nu´mero real na˜o nulo e´ positivo. Em particular 1 = 12 > 0. (1.1) Define-se uma func¸a˜o valor absoluto | · | : R→ R por |x| = { x se x ≥ 0 −x se x < 0. (1.2) Teorema 1.0.4 A func¸a˜o | · | goza das propriedades seguintes 1. ∀x ∈ R |x| = | − x|. 2. ∀x ∈ R |x| = 0 se e apenas se x = 0. 3. ∀x, y ∈ R |xy| = |x||y|. 4. ∀x, y ∈ R |x+ y| ≤ |x|+ |y|. 5. ∀x, y ∈ R ||x| − |y|| ≤ |x− y|. 6. ∀x, y, z ∈ R |x− z| ≤ |x− y|+ |y − z|. Eis uma importante propriedade da relac¸a˜o <: Teorema 1.0.5 Para quaisquer nu´meros reais a, b as seguintes condic¸o˜es sa˜o equiv- alentes 1. a ≤ b 2. ∀ε ∈ R+ a < b+ ε 3. ∀ε ∈ R+ a− ε < b. 104 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Dem. Verificar que 2 e 3 sa˜o equivalentes e´ um simples exerc´ıcio de aplicac¸a˜o da monotonia da soma (O2.): para qualquer ε > 0, a < b+ ε ⇒ a− ε < b+ ε− ε = b e a− ε < b ⇒ a = a− ε+ ε < b+ ε. Passamos a provar que 1 e 2 tambe´m sa˜o equivalentes. Admitamos enta˜o que vale 1. Dado ε ∈ R+, como a ≤ b < b + ε tambe´m a < b + ε i.e. vale 2. Suponha-se agora que na˜o vale 1 i.e. a 6≤ b; como < e´ tricoto´mica, necessariamente se tem b < a; mas enta˜o, se toma´ssemos ε = a − b, ε seria positivo e valeria a condic¸a˜o imposs´ıvel a = b + ε 6< b + ε (porque < e´ anti-reflexiva); portanto se na˜o se verifica 1 tambe´m na˜o se verifica 2. 1 e 2 sa˜o assim condic¸o˜es equivalentes. 2 1.0.4 Exerc´ıcios Resolva as seguintes equac¸o˜es e inequac¸o˜es. 1. x(x+ 3) = 1 2. 4x 2−3x−1 x2+1 = 0 3. 1 x (| x | −3) = 2 4. | 1− x | = 2 | x | 5. x+3 x−1 − 1x = 0 6. (x3 − 4x2 + 7x− 4)(2− x) = 0 7. x 2−1 x > −x 8. x 3−x 3x+1 ≤ 0 9. 1 3x+1 ≤ 1 x 10. |x|+1 3−x2 < 0 11. √ x2 1−x ≤ 0 12. | x+ 1 | + | x+ 3 |> 2 13. √ 2x+ 6 ≥ 2x 14. | x2 − 3x |> x− 2 15. | 2x− 1 | −x ≥ 2 16. x− 2 ≥ (| x | −1)2 17. x+3√ x−1 < 0 18. 2x−1 x+1 < 0 19. x 2x−3 ≤ 3 20. 2x2 − 7x+ 3 > 0 21. x x2+x+1 ≥ 0 22. | x− 3 |< 4 23. | x+ 1 |<| 2x− 1 | 24. | 3− x−1 |< 1 25. | x x2−3 |< 2 26. x 1+|x| ≤ 2 1.0. NU´MEROS REAIS 105 1.0.5 Nu´meros racionais Um conjunto C de nu´meros reais diz-se indutivo se satisfaz as condic¸o˜es seguintes 1. 1 ∈ C. 2. ∀x ∈ C x+ 1 ∈ C. O maior subconjunto indutivo de R e´ o pro´prio R, o menor e´ o conjunto dos nu´meros naturais, que designaremos por N; este conjunto verifica o Princ´ıpio de Induc¸a˜o em qualquer das verso˜es seguintes (teorema 1.0.6). Notac¸a˜o: O s´ımbolo ⊆ designa, como e´ ha´bito, inclusa˜o entre conjuntos i.e. A ⊆ B quando e so´ quando todos os elementos de A sa˜o elementos de B, podendo acontecer A = B. O s´ımbolo ⊂ designa inclusa˜o estrita i.e. A ⊂ B quando e so´ quando A ⊆ B e A 6= B. Teorema 1.0.6 (Princ´ıpio de Induc¸a˜o) 1. Se X ⊆ N, 1 ∈ X e x + 1 ∈ X sempre que x ∈ X, enta˜o X = N. Numa expressa˜o: [X ⊆ N ∧ 1 ∈ X ∧ ∀x ∈ N [x ∈ X ⇒ x+ 1 ∈ X]] ⇒ X = N 2. Se P (x) e´ uma propriedade verificada por 1 — i.e., vale P (1) — e k+1 verifica P (x) sempre que o nu´mero natural k verifica P (x) — i.e., ∀k ∈ N[P (k) ⇒ P (k + 1)] — enta˜o a propriedade P (x) vale para todo o nu´mero natural — i.e., ∀k ∈ N P (k). Numa u´nica expressa˜o: [P (1) ∧ ∀k ∈ N[P (k)⇒ P (k + 1)]] ⇒ ∀k ∈ N P (k). 3. Se X ⊆ N e para qualquer nu´mero natural n , quando {x ∈ N| x < n} ⊆ X tambe´m n ∈ X, enta˜o X = N. De novo tornando mais preciso: [X ⊆ N ∧ ∀n ∈ N[{x ∈ N| x < n} ⊆ X ⇒ n ∈ X]] ⇒ X = N A formulac¸a˜o 3 no teorema anterior costuma designar-se por Princ´ıpio de Induc¸a˜o Completa ou Transfinita. Teorema 1.0.7 1 e´ o menor nu´mero natural. Dem. Provamos que vale ∀n ∈ N 1 ≤ n (1.3) de duas maneiras. 106 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS I. Utilizando o teorema 1.0.6.1 Defina-se X = {n ∈ N| n ≥ 1} 1 ∈ X porque 1 ≤ 1. Por outro lado, se n ∈ X, por definic¸a˜o de X, n ≥ 1 e n+ 1 ≥ 1 + 1 > 1 + 0 = 1, pela monotonia da soma e porque 1 > 0 (teorema 1.0.3); enta˜o, por transitividade de <, n+1 ≥ 1 e, de novo por definic¸a˜o de X, n+1 ∈ X, mostra´mos que n + 1 ∈ X sempre que n ∈ X; assim, pelo Princ´ıpio de Induc¸a˜o (teorema 1.0.6), X = N ou seja vale (1.3) como quer´ıamos provar. II. Utilizando o teorema 1.0.6.2 Defina-se P (n) := 1 ≤ n Queremos mostrar que P (n) vale para qualquer n ∈ N. Como 1 ≤ 1 (pq ≤ e´ reflexiva), vale P (1). Suponha-se que vale P (n) isto e´ que 1 ≤ n. Segue-se que 1 + 1 ≤ n + 1 (por monotonia da soma); como ja´ sabemos que 0 < 1, podemos concluir 1 = 0 + 1 < 1 + 1 ≤ n+ 1 e, portanto, que 1 < n + 1; em particular de 1 ≤ n podemos deduzir 1 ≤ n + 1, ou seja, de P (n) conclui-seP (n+ 1). Pela segunda forma do Princ´ıpio de Induc¸a˜o, P (n) vale para todo o n ∈ N. E termina a primeira demonstrac¸a˜o. 2 Notac¸a˜o: A expressa˜o α := β significa que a expressa˜o designada por α e´ definida pela designada por β. Continuando a apresentar aplicac¸o˜es do Princ´ıpio de Induc¸a˜o: uma raza˜o pela qual n+ 1 e´ chamado o sucessor de n (n ∈ N) Lema 1.0.1 Seja qual for n ∈ N, na˜o ha´ nu´meros naturais entre n e n+ 1, i.e, ∀m ∈ N ∀n ∈ N m < n+ 1 ⇔ m ≤ n. (1.4) Dem. O sentido ⇐ e´ consequeˆncia imediata da transitividade de < e da reflexivi- dade de =. (⇒) Este pode ser um exemplo de demonstrac¸a˜o por dupla induc¸a˜o que abreviaremos um pouco em prol da clareza de argumentac¸a˜o 1. Pelo teorema 1.0.7, ∀n ∈ N 1 ≤ n e a condic¸a˜o (1.4) verifica-se com m = 1. 2. Suponha-se que se verifica condic¸a˜o (1.4) com⇒ em vez de⇔ se verifica para m ∈ N, i.e., ∀n ∈ N m < n+ 1 ⇒ m ≤ n. (1.5) 1.0. NU´MEROS REAIS 107 Admita-se enta˜o que n ∈ N & m+1 < n+1; pretendemos concluir m+1 ≤ n; ora m, p, 1 ∈ R pelo que pela condic¸a˜o (1.5) vem m < (n− 1) + 1 & m ≤ n− 1 logo m+ 1 ≤ n, admitindo que tambe´m n − 1 ∈ N (eis um dos aspectos da abreviac¸a˜o acima referida). 2 Teorema 1.0.8 Se a func¸a˜o f : N→ N e´ estritamente crescente enta˜o ∀n ∈ N n ≤ f(n). Dem. Vamos utilizar o teorema 1.0.6.3. Seja X := {n ∈ N| n ≤ f(n)}. Queremos mostrar que X = N, para o que basta mostrar para todos os n ∈ N a validade da implicac¸a˜o {x ∈ N| x < n} ⊆ X ⇒ n ∈ X. (1.6) Comecemos por ver o que se passa se n = 1. Acontece que {x ∈ N| x < 1} = ∅ ⊆ X, portanto deveremos verificar se 1 ∈ X. Ora, todos os f(n) sa˜o nu´meros naturais, porque f : N→ N e, como vimos acima, todos os nu´meros naturais sa˜o maiores ou iguais a 1; assim 1 ≤ f(1) i. e. 1 ∈ X e a condic¸a˜o (1.6) vale para 1. Tome-se agora n arbitra´rio e suponha-se que {x ∈ N| x < n} ⊆ X; como n− 1 < n, tambe´m n− 1 ∈ X, portanto n− 1 ≤ f(n− 1); mas enta˜o n = (n− 1) + 1 ≤ f(n− 1) + 1 < f(n) + 1 porque f tambe´m e´ estritamente crescente; segue-se que n < f(n) + 1; pelo lema 1.0.1 ∀x, y ∈ N [x < y + 1 ⇔ x ≤ y] (1.7) portanto n ≤ f(n) e n ∈ X como pretend´ıamos concluir. A propriedade (1.6) fica demonstrada e pela formulac¸a˜o 3. do Princ´ıpio de Induc¸a˜o, X = N. 2 Exemplo 1.0.1 A fo´rmula n∑ i=1 (2i− 1) = n2 (1.8) vale para todos os nu´meros naturais n. Dem. Vamos utilizar a formulac¸a˜o 1 no Teorema 1.0.6. Seja X := {n ∈ N| n∑ i=1 (2i− 1) = n2}. 108 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS 1 ∈ X porque 12 = 1 = 2× 1− 1 =∑1i=1(2i− 1); suponha-se que x ∈ X: tem-se x+1∑ i=1 (2i− 1) = x∑ i=1 (2i− 1) + (2(x+ 1)− 1) = x2 + (2x+ 1) = (x+ 1)2, portanto tambe´m x + 1 ∈ X. Pela primeira forma do Princ´ıpio de Induc¸a˜o X = N e a fo´rmula (1.8) vale para qualquer n ∈ N. 2 Defina-se secc¸a˜o inicial de N, como sendo um conjunto In dado por In := {k ∈ N| 1 ≤ k ≤ n} (n ∈ N). Teorema 1.0.9 (Princ´ıpio de Boa Ordenac¸a˜o) Qualquer subconjunto na˜o vazio de N tem primeiro — ou menor — elemento. Dem. Suponha-se que ∅ 6= X ⊆ N. (1.9) Vimos acima 1 e´ o menor elemento do pro´prio N, portanto o caso X = N esta´ tratado; em geral, se 1 ∈ X, enta˜o 1 = minX e nada mais ha´ a provar, portanto basta tratar o caso 1 6∈ X ⊂ N. (1.10) Interessa ter presente C ⊆ N\X ⊂ N, (1.11) pois para qualquer n ∈ N, n ∈ In e X 6= ∅ por (1.9). 1 ∈ C porque 1 ∈ N\X — (1.10) — e I1 = {1}; se para qualquer n ∈ N, n+ 1 ∈ C quando n ∈ C, pelo Princ´ıpio de Induc¸a˜o, pode concluir-se C = N, o que na˜o e´ o caso pois, por (1.11), C ⊂ N. Segue-se que para algum m ∈ N m ∈ C, mas m+ 1 6∈ C. Tome-se enta˜o m ∈ C tal que m+1 6∈ C; podemos retirar duas concluso˜es, a saber: • m+1 ∈ X pois, caso contra´rio ter-se-ia m+1 ∈ C, ja´ que Im+1 = Im∪{m+1}; • todos os elementos de X sa˜o maiores que m, pois se n ≤ m, enta˜o n 6∈ X, por definic¸a˜o de C. Como na˜o ha´ nu´meros naturais entre m e m + 1 (recorde-se a condic¸a˜o (1.7)), concluimos que os elementos de X sa˜o todos maiores ou iguais a m+1 i.e. m+1 = minX e X tem mı´nimo. 2 O conjunto dos nu´meros inteiros, designado por Z, e´ a unia˜o de N com o conjunto dos sime´tricos dos nu´meros naturais e com {0} i.e. Z = N ∪ {0} ∪ {−n| n ∈ N}. (1.12) O conjunto dos nu´meros racionais, designado por Q, e´ a reunia˜o de {0} com o conjunto dos quocientes de nu´meros inteiros, mais precisamente: Q = {m n | m ∈ Z ∧ n ∈ N } . (1.13) 1.0. NU´MEROS REAIS 109 Teorema 1.0.10 O conjunto Q e´ um corpo ordenado para as operac¸o˜es de soma e produto e para a relac¸a˜o < restringidas de R. Por outras palavras (de facto muito reduzidas, mas suficientes): a soma e o produto (bem como a diferenc¸a e o quociente) de nu´meros racionais e´ um nu´mero racional. A existeˆncia de nu´meros reais na˜o racionais, ou seja, nu´meros irracionais sera´ discutida mais adiante na pa´gina 115. 1.0.6 Subconjuntos de R. Parte I Dados nu´meros reais a e b, os conjuntos definidos de seguida chamam-se intervalos de extremos a e b: [a, b] := {x ∈ R| a ≤ x ≤ b} (1.14) ]a, b[ := {x ∈ R| a < x < b} (1.15) [a, b[ := {x ∈ R| a ≤ x < b} (1.16) ]a, b] := {x ∈ R| a < x ≤ b} (1.17) Em (1.14) o intervalo diz-se fechado, em (1.15) diz-se aberto, em (1.16) diz-se semi-fechado a´ esquerda ou semi-aberto a` direita, em (1.17) diz-se semi-fechado a` direita ou semi-aberto a` esquerda. Parece-nos claro que, se b < a, todos os intervalos acima sa˜o vazios, i.e. sa˜o o conjunto vazio; se b = a, o primeiro (em (1.14))e´ o conjunto singular {a} e todos os outros sa˜o vazios; se a < b nenhum dos intervalos e´ vazio nem singular, pois a+b 2 e 3a+b 4 esta˜o em todos eles e sa˜o distintos. Todos os intervalos acima sa˜o limitados; mas definem-se ainda intervalos ilimita- dos, a saber: considerando que a ∈ R po˜e-se [a,+∞[ := {x ∈ R| a ≤ x} (1.18) ]−∞, a] := {x ∈ R| a ≥ x} (1.19) ]a,+∞[ := {x ∈ R| a < x} (1.20) ]−∞, a[ := {x ∈ R| a > x} (1.21) Em (1.18) e (1.19) os intervalos dizem-se tambe´m fechados, nos outros dois casos dizem-se abertos. Para ale´m do intervalo ]−∞,+∞[, que designa o pro´prio conjunto R, na˜o ha´ mais intervalos que os ja´ definidos. 110 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Definic¸a˜o 1.0.1 Designemos por C um subconjunto na˜o vazio de R e seja m um nu´mero real. 1. m e´ um majorante de C se ∀x ∈ C x ≤ m. C diz-se majorado ou limitado superiormente se tem um majorante. 2. m e´ um minorante de C se ∀x ∈ C x ≥ m. C diz-se minorado ou limitado inferiormente se tem um minorante. 3. C diz-se limitado se for majorado e minorado, caso contra´rio diz-se ilimi- tado. Teorema 1.0.11 Seja C um subconjunto na˜o vazio de R. 1. As condic¸o˜es seguintes sa˜o equivalentes (a) C e´ majorado (b) ∃a ∈ R C ⊆ ]−∞, a] (c) ∃a ∈ R C ⊆ ]−∞, a[ 2. As condic¸o˜es seguintes sa˜o equivalentes (a) C e´ minorado (b) ∃a ∈ R C ⊆ [a,+∞[ (c) ∃a ∈ R C ⊆ ]a,+∞[ 3. As condic¸o˜es seguintes sa˜o equivalentes (a) C e´ limitado (b) Existem a, b ∈ R tais que C esta´ contido em algum intervalo de extremos a e b. (c) C esta´ contido em algum intervalo limitado. 4. Todos os intervalos limitados sa˜o conjuntos limitados. 1.0. NU´MEROS REAIS 111 Formas muito u´teis de decidir se um conjunto e´ ou na˜o limitado descrevem-se no teorema seguinte. Teorema 1.0.12 Seja C um subconjunto na˜o vazio de R. As condic¸o˜es seguintes sa˜o equivalentes. 1. C e´ limitado 2. ∃m ∈ R+ ∀x ∈ C |x| < m 3. ∃m ∈ R+ C ⊆ ]−m,m[ 4. ∃m ∈ R+ ∀x ∈ C |x| ≤ m 5. ∃m ∈ R+ C ⊆ [−m,m] Dem. (1 ⇒ 3 ⇒ 2) Como C e´ limitado por hipo´tese, podemos tomar a, b ∈ R tais que ∀x ∈ C a ≤ x ≤ b. Sejam m1 o ma´ximo dos dois valores |a|, |b|, i.e. m1 = ma´x{|a|, |b|}, e m = m1 + 1. Repare-se que m > 0. Como b ≤ |b| ≤ m1 < m, conclu´ımos ∀x ∈ C a ≤ x < m. Por outro lado −|a| ≤ a; sejam2 o mı´nimo dos dois valores −|a|,−|b|; e´ fa´cil verificar que m2 = −m1 eque −m = −(m1 + 1) = −m1 − 1 = m2 − 1 < m2 ≤ a. Segue-se que ∀x ∈ C −m < x < m. isto e´, vale 3. Mas esta mesma expressa˜o e´ equivalente a ∀x ∈ C |x| < m, portanto, em particular (3 ⇒ 2). E´ claro que se x < y tambe´m x ≤ y, pelo que (2⇒ 4). Mas |x| ≤ m e´ equivalente a x ∈ [−m,m], portanto 4 e 5 sa˜o equivalentes, em particular (4 ⇒ 5). Acontece que [−m,m] ⊆ ]− (m+ 1),m+ 1[ e portanto (5⇒ 1). Prova´mos a seguinte cadeia de implicac¸o˜es 1 ⇒ 3 ⇒ 2 ⇒ 4 ⇒ 5 ⇒ 1. Podemos concluir que todas as condic¸o˜es sa˜o equivalentes. 2 112 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Teorema 1.0.13 Sejam A e B subconjuntos de R. 1. Se B e´ limitado e A ⊆ B, tambe´m A e´ limitado. 2. Se A e B sa˜o limitados. (a) O conjunto definido por A+B := {a+ b| a ∈ A ∧ b ∈ B} e´ limitado. (b) O conjunto definido por A ·B := {ab| a ∈ A ∧ b ∈ B} e´ limitado. (c) O conjunto definido por A−B := {a− b| a ∈ A ∧ b ∈ B} e´ limitado. (d) Para cada c ∈ R, o conjunto definido por cA := {ca| a ∈ A} e´ limitado. Certos majorantes e minorantes sa˜o especiais: Definic¸a˜o 1.0.2 Seja C um subconjunto na˜o vazio de R. 1. Se C e´ limitado superiormente, o supremo de C e´ o menor majorante de C e designa-se supC. Se o supremo de C e´ elemento de C, diz-se ma´ximo de C e designa-se por ma´xC. 2. Se C e´ limitado inferiormente, o ı´nfimo de C e´ o maior minorante de C e designa-se inf C. Se o ı´nfimo de C e´ elemento de C diz-se mı´nimo de C e designa-se por minC. O ma´ximo ou o mı´nimo de um conjunto podem na˜o existir mesmo quando existem respectivamente o supremo ou o ı´nfimo; no entanto se existirem, sa˜o respectivamente o maior ou o menor elemento dele. Lema 1.0.2 Todo o conjunto finito e na˜o vazio de nu´meros reais tem ma´ximo e mı´nimo, sendo em particular limitado. Dem. Deixa-se como exerc´ıcio de aplicac¸a˜o do Princ´ıpio de Induc¸a˜o ao nu´mero de elementos do conjunto. 2 O supremo e o ı´nfimo gozam das propriedades da maior importaˆncia que se refor- mulam de seguida. Teorema 1.0.14 Sejam C um subconjunto na˜o vazio de R e m um nu´mero real. 1. As seguintes condic¸o˜es sa˜o equivalentes (a) m = supC (b) m e´ majorante de C e ∀ε ∈ R+ ∃c ∈ C m− ε < c ≤ m. (1.22) 2. As seguintes condic¸o˜es sa˜o equivalentes (a) m = inf C (b) m e´ minorante de C e ∀ε ∈ R+ ∃c ∈ C m ≤ c < m+ ε. (1.23) 1.0. NU´MEROS REAIS 113 Dem. Demonstramos apenas a segunda parte. Uma demonstrac¸a˜o da primeira pode fazer-se a partir desta trocando respectivamente inf por sup, minorante por majorante, maior por menor, < por >, ≥ por ≤ e + por −. Suponhamos enta˜o que vale 2.(a) i.e. m = inf C. Queremos concluir que vale a condic¸a˜o 2.(b). Por definic¸a˜o m e´ ja´ minorante de C, de facto o maior minorante; portanto se ε > 0, como m < m+ ε, m+ ε na˜o e´ minorante de C; da´ı existe algum elemento c de C tal que c < m+ε e, como m minora C, tambe´m m ≤ c e conclu´ımos m ≤ c < m+ ε. Finalmente suponhamos que vale 2.(b). Como, por hipo´tese, m ja´ e´ minorante de C, resta-nos provar que e´ o maior. Suponhamos que m′ e´ um minorante de C e utilizemos o teorema 1.0.5 para mostrar que m′ ≤ m: para qualquer ε > 0, por hipo´tese, existe c ∈ C tal que c < m + ε; como m′ e´ minorante de C tem-se m′ ≤ c < m+ ε; por transitividade de < ∀ε ∈ R+ m′ < m+ ε, portanto, pelo teorema 1.0.5, m′ ≤ m. 2 1.0.7 Exerc´ıcios Observac¸a˜o: Nos exerc´ıcios que se seguem as propriedades enunciadas do ı´nfimo ou do supremo pressupo˜em a existeˆncia de cada um deles. 1. Mostre que, para quaisquer nu´meros reais a, b, (a) (a+b)−|a−b| 2 = min{a, b} (b) (a+b)+|a−b| 2 = ma´x{a, b} 2. Seja A um conjunto na˜o vazio de nu´meros reais e −A := {−x : x ∈ A}. Verifique que: (a) b e´ majorante de A⇔ −b e´ minorante de −A (b) b e´ supremo de A⇔ −b e´ ı´nfimo de −A (c) b e´ ma´ximo de A⇔ −b e´ mı´nimo de −A 3. Determine, caso seja poss´ıvel, o ı´nfimo, mı´nimo, supremo e ma´ximo de cada um dos seguintes subconjuntos de R: (a) {x ∈ R :| x |< 2} (b) {x ∈ R : 1 <| 1− x |≤ 2} (c) {x ∈ R : x2 < 2} (d) {x ∈ R : x2 ≤ x} (e) {x ∈ R : x <| x |} (f) {x ∈ R : ∃n ∈ N x = 1−n n } (g) Q ∩ ]− 1, 2] (h) { k 2n , k ∈ Z, n ∈ N} ∩ [1, 3[ 4. Indique se sa˜o majorados, minorados ou limitados os seguintes subconjuntos de R: A = {x ∈ R : | x− 3 |= 2 | x |} B = { x ∈ R : x x−1 < x−1 x } 114 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Indique ainda, se existirem, o supremo, o ı´nfimo, o ma´ximo e o mı´nimo de cada um desses conjuntos. 5. Sejam A = {−3,−2}∪ (Q∩ [0, 1] ) e B =]−4, 2] ∪ ([0, 1]∩ (R\Q)). Indique, caso existam, os supremos e os ı´nfimos dos conjuntos A, B, A ∪B e A ∩B. 6. Sejam A e B conjuntos na˜o vazios e limitados de nu´meros reais tais que A ⊆ B. Prove que inf B ≤ inf A ≤ supA ≤ supB. 7. Suponha que A e B sa˜o subconjuntos de R na˜o vazios e limitados. Prove que: (a) A+B e´ limitado (b) sup(A+B) = supA+ supB (c) inf(A+B) = inf A+ inf B 8. Suponha que ∅ 6= A ⊆ R. Dado c ∈ R, seja cA := {c a : a ∈ A}. (a) Prove que, quando c 6= 0, cA e´ limitado se e apenas se A e´ limitado. (b) Sendo c > 0, prove que: i. sup(cA) = c supA ii. inf(cA) = c inf A (c) Enuncie e demonstre resultados ana´logos aos da al´ınea anterior para o caso c < 0. (d) Mostre que a afirmac¸a˜o em (a) na˜o e´ verdadeira se c = 0. 9. A e B designam duas partes na˜o vazias e majoradas de R. Diga, justificando, se sa˜o verdadeiras ou falsas as seguintes proposic¸o˜es: (a) E´ condic¸a˜o necessa´ria para A ⊆ B que supA ≤ supB (b) E´ condic¸a˜o suficiente para A ⊆ B que supA ≤ supB (c) sup(A ∪B) = supA+ supB (d) sup(A ∪B) = ma´x {supA, supB} (e) sup(A ∩B) = min {supA, supB} 10. Sejam A e B conjuntos na˜o vazios e limitados de nu´meros reais tais que B ⊆ A. Suponha que, para cada x ∈ A, existe y ∈ B tal que x ≤ y. Prove que nestas condic¸o˜es se tem supB = supA. 11. Sejam A e B conjuntos na˜o vazios e limitados de nu´meros reais tais que para todo o x ∈ A e todo o y ∈ B se tem x ≤ y. Prove que supA ≤ inf B. Prove ainda que supA = inf B se e so´ se para todo o ε > 0 existem x ∈ A e y ∈ B tais que y − x < ε. 12. Sejam c um nu´mero real positivo e A um subconjunto na˜o vazio de R, satis- fazendo a seguinte condic¸a˜o: x, y ∈ A⇒| x− y |< c (a) Mostre que supA− inf A ≤ c. (b) Mostre que em (a) pode acontecer (supA− inf A) = c. 1.0. NU´MEROS REAIS 115 1.0.8 Subconjuntos de R. Parte II. Completude Axioma de Completude AC Todo o subconjunto na˜o vazio e majorado de R tem supremo. Por verificar este axioma , diz-se que R e´ um corpo ordenado completo. O termo ”completo”pode tambe´m ter outro significado explicitado no teorema 4.2.7. Teorema 1.0.15 O conjunto dos nu´meros naturais na˜o e´ limitado superiormente. Dem. Ja´ vimos que N e´ limitado inferiormente (teorema 1.0.7). Na˜o sendo vazio — pois 1 ∈ N — se fosse limitado teria supremo, de acordo com o Axioma de Completude. Suponhamos enta˜o que N e´ limitado e digamos que supN = s ∈ R; s na˜o e´ concerteza ma´ximo, porque, s < s+1 e s+1 ∈ N se s ∈ N; pelo teorema 1.0.14, existe m ∈ N tal que s− 1 2 < m < s; mas enta˜o tambe´m s− 1 2 < m < m + 1 < s e pode concluir-se 1 = (m+ 1)−m < s− (s− 1 2 ) = 1 2 ou 1 < 1 2 , o que na˜o e´ verdade. Assim N na˜o e´ limitado superiormente, logo tambe´m na˜o e´ limitado. 2 Uma forma equivalente deste teorema (1.0.15) e´ Teorema 1.0.16 (Propriedade Arquimediana) O corpo R e´ arquimediano i.e. ∀a, b ∈ R+ ∃n ∈ N b < na (1.24) Dem. Suponhamos que a, b ∈ R e que 0 < a < b; existe n ∈ N verificando 1 n < a b , pelo teorema anterior (4.2.4); mas enta˜o b < na, porque a, b > 0 e o produto e´ semi-mono´tono. 2 Pode garantir-se a existeˆncia de nu´meros irracionais utilizando o Axioma de Com- pletude. Um exemplo cla´ssico e´ s := sup{x ∈ R| x2 < 2}. Este supremo existe porque o conjunto em questa˜o, chamemos-lhe R, na˜o e´ vazio — 1 ∈ R — e e´ concerteza majorado, por exemplopor 4 (ou mesmo apenas por 2, ou por 1, 5). Sendo fa´cil provar que s2 = 2 e que 0 < s isto e´ que s = √ 2, e provando-se de seguida que 2 na˜o tem raiz quadrada em Q, conclui-se que √ 2 6∈ Q e obte´m-se uma demonstrac¸a˜o de que existem nu´meros irracionais. Na verdade, ha´ infinitos nu´meros irracionais e poder´ıamos ja´ provar, utilizando o facto de √ 2 ser irracional, mas na˜o so´, o seguinte: Teorema 1.0.17 (de Densidade) Estritamente entre quaisquer dois nu´meros reais distintos existem um nu´mero racional e um nu´mero irracional. Dem. Suponha-se que a, b ∈ R e que a < b; tome-se n ∈ N tal que 1 n < b−a√ 2 ; o que e´ poss´ıvel em virtude de N na˜o ser limitado superiormente (teorema 1.0.15 ). 116 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS 1. Se a ∈ Q, enta˜o (a) a < a+ 1 n < a+ (b− a) < b e a+ 1 n ∈ Q (b) a < a+ 1 n √ 2 < a+ (b− a) < b e a+ 1 n √ 2 6∈ Q. 2. Se a 6∈ Q, enta˜o (a) a < a+ 1 n < a+ (b− a) < b e a+ 1 n 6∈ Q. (b) Suponha-se que 0 < a e seja k := min{m ∈ N| na ≤ m · 1 = m}; tal k existe pela propriedade arquimediana e por N ser bem ordenado. Tem-se k − 1 n < a ≤ k n < a+ 1 n < b & k n ∈ Q. (c) Se a ≤ 0, aplique-se o que acaba´mos de ver tomando −b em vez de a e −a em vez de b; − k n e´ o nu´mero racional pretendido. 2 1.1 Nu´meros complexos 1.1.1 Preliminares Esta e´ de certo modo uma revisa˜o de A´lgebra Linear pelo que seremos parcos em demonstrac¸o˜es. Definic¸a˜o 1.1.1 O conjunto C dos nu´meros complexos e´ o menor corpo que prolonga propriamente R. De modo a evitar trivialidades de notac¸a˜o, em face da definic¸a˜o anterior, continuemos a designar a soma e o produto respectivamente por + e · (omitido este s´ımbolo quando conveniente) 1.1. NU´MEROS COMPLEXOS 117 Teorema 1.1.1 C e´ o conjunto dos nu´meros z da forma z = a+ bi (a, b ∈ R) (1.25) i2 = −1 (1.26) e verifica-se o seguinte 1. A soma e o produto sa˜o operac¸o˜es bina´rias comutativas, associativas, com ele- mentos neutros – 0 para a soma e 1 para o produto – e o produto e´ distributivo relativamente a` soma. 2. Sejam quais forem a, b, c, d ∈ R, (a+ bi) + (c+ di) = (a+ b) + (c+ d)i (1.27) (a+ bi) · (c+ di) = (ac− bd) + (ad+ bc)i (1.28) −(a+ bi) = −a− bi (1.29) a+ bi = 0 ⇔ a = 0 ∧ b = 0 (1.30) a+ bi = c+ di ⇔ a = c ∧ b = d (1.31) (a+ bi)−1 = a a2 + b2 − b a2 + b2 i (a 6= 0 ∨ b 6= 0) (1.32) i2n = (−1)n (n ∈ N0) (1.33) i2n+1 = (−1n)i (n ∈ N0) (1.34) Definic¸a˜o 1.1.2 Seja z = a+ bi ∈ C (a, b ∈ R) 1. A parte real e a parte imagina´ria de z sa˜o respectivamente <(z) = a e =(z) = b. 2. O conjugado de z designa-se z e define-se por z = a− bi 3. O valor absoluto ou mo´dulo de z, designa-se por |z| e define-se por |z| = √ a2 + b2 Teorema 1.1.2 1. Tome z ∈ C. <(z) = z + z 2 (1.35) =(z) = z − z 2i (1.36) z = z ⇔ z ∈ R (1.37) |z|2 = zz (1.38) z−1 = z |z|2 (z 6= 0) (1.39) 2. Qualquer das operac¸o˜es acima definida, para C prolonga a correspondente operac¸a˜o em R em particular o valor absoluto de um nu´mero real e´ o seu valor absoluto como nu´mero complexo; ale´m disso |i| = 1. (1.40) 118 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS 1.1.2 Algumas particularidades As func¸o˜es exponencial, seno e co-seno, respectivamente exp, sen, cos : C → C prolongam as correspondentes func¸o˜es reais de varia´vel real quando definidas do seguinte modo exp(z) = ez = ea ( cos b+ isen b ) ( (a, b ∈ R)) (1.41) cos(z) = eiz + e−iz 2 (z ∈ C) (1.42) sen(z) = eiz − e−iz 2i (z ∈ C) (1.43) Teorema 1.1.3 ez+w = ez · ew (z, w ∈ C) (1.44) sen2 z + cos2 z = 1 (z ∈ C) (1.45) eit = cos t+ isen t (t ∈ R) (1.46) |eit| = 1 (t ∈ R) (1.47) (eit)−1 = e−it = eit (t ∈ R) (1.48) Teorema 1.1.4 (de Euler) eipi + 1 = 0. 1.1.3 Teorema fundamental da A´lgebra Teorema 1.1.5 Qualquer polino´mio p(z) = a0 + n∑ k=1 anz n (ai, z ∈ C; 0 ≤ i ≤ n) (1.49) de grau n ≥ 1 (an 6= 0) tem pelo menos uma raiz em C, isto e´, existe w ∈ C tal que p(w) = 0; em particular existem zi, (1 ≤ i ≤ n) tais que p(z) = an n∏ i=1 (z − zi) (1.50) 1.1. NU´MEROS COMPLEXOS 119 Mais espec´ıficamente ainda Teorema 1.1.6 Quando todos os coeficientes ai em (1.49) sa˜o reais 1. ∀u ∈ C [p(u) = 0⇒ p(u) = 0] 2. Se p em (1.49) so´ tem ra´ızes imagina´rias distintas αj ± βji (αj, βj ∈ R, βj 6= 0; 1 ≤ j ≤ k ∈ N) com multiplicidades respectivas mj ( ∑k j=1mj = n), enta˜o p(z) = an k∏ j=1 ( (z − αj)2 + β2j )mj 3. Se p em (1.49) so´ tem ra´ızes reais distintas αj (1 ≤ j ≤ k) de multiplicidades respectivas mj ( ∑k j=1mj = n), enta˜o p(z) = an k∏ j=1 (z − αj)mj . 4. Se p em (1.49) tem k ra´ızes reais distintas rj e m ra´ızes imagina´rias distintas nunca conjugadas α` + β`i com multiplicidades respectivas mj e n`, sendo k∑ j=1 mj + 2 m∑ `=1 n` = n, enta˜o p(z) = an k∏ j=1 (z − rj)mj k∏ `=1 ( (z − α`)2 + β2` )m` 120 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS 1.2 Continuidade e diferenciabilidade Sejam a e b nu´meros reais tais que a < b e f :]a, b[→ R uma func¸a˜o (real de varia´vel real); suponha-se ainda que β ∈ R. Definic¸a˜o 1.2.1 Para c ∈ [a, b], β := limite de f(x) quando x tende para c := lim x→c f(x) significa ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈]a, b[ [0 < |x− c| < δ ⇒ |f(x)− β| < ε]. Se c ∈]a, b[, f diz − se cont´ınua em c quando lim x→c f(x) = f(c) ou seja ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈]a, b[ [|x− c| < δ ⇒ |f(x)− f(a)| < ε] f diz-se cont´ınua se for cont´ınua em todos os elementos do seu domı´nio. Para harmonizarmos conceitos, Definic¸a˜o 1.2.1 uma func¸a˜o f : [α, β] ⊆ R→R dir-se-a´ cont´ınua quando existem um intervalo ]a, b[ e uma func¸a˜o cont´ınua f˜ :]a, b[→ R tais que [α, β] ⊂]a, b[ e a restric¸a˜o f˜ : [α, β]→ R e´ precisamente f . 1.2.1 Exerc´ıcios Suponha que f : [a, b] ⊆ R → R, que a < c < b, que limx→c f(x) = ` ∈ R; prove que 1. Se ` < k ∈ R, enta˜o existe ε > 0. tal que ]c− ε, c+ ε[ ⊆ [a, b] (1.51) ∀x ∈]c− ε, c+ ε[ f(x) < k. (1.52) 2. Se ` > k ∈ R, enta˜o existe ε > 0. tal que ]c− ε, c+ ε[ ⊆ [a, b] (1.53) ∀x ∈]c− ε, c+ ε[ f(x) > k. (1.54) 3. Interprete a frase ”desigualdade em ponto de continuidade estende-se a uma vizinhanc¸a do ponto”. 1.2. CONTINUIDADE E DIFERENCIABILIDADE 121 4. Demonstre o teorema 1.2.1. Teorema 1.2.1 Suponha-se que f, g : [a, b] ⊆ R → R, que α ∈ R, que c ∈]a, b[ e que lim x→c f(x) = ` lim x→c g(x) = β. 1. limx→c(αf + g)(x) = α`+ β 2. limx→c(f · g)(x) = ` · β 3. Se β 6= 0, enta˜o limx→c ( f g ) (x) = ` β em particular combinac¸o˜es lineares (de coeficientes reais) de func¸o˜es cont´ınuas sa˜o cont´ınuas, e quocientes de func¸o˜es cont´ınuas sa˜o cont´ınuos em todos os pontos onde o denominador se na˜o anula. Teorema 1.2.2 Suponha que as func¸o˜es f : [a, b] ⊆ R→ R e g : [c, d] ⊆ R→ [a, b] sa˜o cont´ınuas, enta˜o f ◦ g : [c, d]→ R tambe´m e´ cont´ınua. Dem. (muito esquema´tica) lim x→y (f ◦ g)(x) = lim g(x)→g(y) f(g(x)) = f(g(y)) 2 Teorema 1.2.3 (de Bolzano) Se a func¸a˜o f : [a, b] ⊆ R → R e´ continua e f(a) < 0 < f(b), enta˜o existe c ∈]a, b[ tal que f(c) = 0. Dem. c = sup{x ∈]a, b[∣∣ ∀t ∈ [a, x] f(t) < 0}. 2 1.2.2 Exerc´ıcios Suponha que f : [a, b] ⊆ R→ R e´ continua e prove 1. Se f(a) < k < f(b), existe c ∈]a, b[ tal que f(c) = k. 2. Se f(a) > k > f(b), existe c ∈]a, b[ tal que f(c) = k. 3. Se f(a) < a e f(b) > b, existe c ∈]a, b[ tal que f(c) = c. 4. Se f(a) > a e f(b) < b, existe c ∈]a, b[ tal que f(c) = c. 122 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Teorema 1.2.4 Suponha que f : [a, b] ⊆ R→ R e´ continua. Enta˜o f e´ uniforme- mente cont´ınua, isto e´ ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x, y ∈ [a, b] [|x− y| < δ ⇒ |f(x)− f(y)| < ε]. (1.55) Dem. Suponha-se que f na˜o e´ uniformemente cont´ınua, ou seja, para certo ε > 0 ∀δ > 0 ∃x, y ∈ [a, b] [0 < x− y < δ ∧ |f(x)− f(y)| > ε]. (1.56)Escolham-se para cada n ∈ N, xn, yn ∈ [a, b] tais que xn, yn ∈ [a, b] ∧ 0 < xn − yn < 1 n ∧ |f(xn)− f(yn)| > ε (n ∈ N) (1.57) e seja c = sup{xn| n ∈ N}. Ora c ∈ [a, b] onde f e´ cont´ınua, pelo que existe δ > 0 tal que ∀x ∈ [a, b] |c− x| < δ ⇒ |f(x)− f(c)| < ε 2 Ale´m disto, para cada τ > 0, o {m ∈ N| 0 ≤ c− xm < τ} e´ infinito (exerc´ıcio 7), pelo que podemos escolher m,n ∈ N e xm tais que 1 n < δ 4 (1.58) m > n (1.59) 0 ≤ c− xm < 1n < δ 4 < δ (1.60) Tem-se enta˜o |c− ym| < c− xm + (xm − ym) < 1 n + 1 m < δ 2 < δ |f(xm)− f(ym)| ≤ |f(xm)− f(c)|+ |f(c)− f(ym)| < ε |f(xm)− f(ym)| < ε ∧ xm − ym ≤ 1 m o que claramente contradiz a condic¸a˜o (1.57), assim a hipo´tese de na˜o continuidade uniforme (condic¸a˜o (1.56)) e´ contradito´ria, logo inaceita´vel. 2 1.2. CONTINUIDADE E DIFERENCIABILIDADE 123 Definic¸a˜o 1.2.2 Uma func¸a˜o f : [a, b] ⊆ R→ R diz-se 1. Limitada superiormente quando existe M ∈ R tal que ∀x ∈ [a, b] f(x) ≤M 2. Limitada inferiormente quando existe m ∈ R tal que ∀x ∈ [a, b] m ≤ f(x) 3. Limitada quando for limitada superior e inferiormente. Exerc´ıcio Mostre que qualquer combinac¸a˜o linear (de coeficientes reais) de func¸o˜es igualmente limitadas e´ uma func¸a˜o limitada do mesmo modo. Teorema 1.2.5 Uma func¸a˜o f : [a, b] ⊆ R → R e´ limitada se e apenas se existe K > O tal que ∀x ∈ [a, b] |f(x)| ≤ K Dem. Basta observar que, seja qual for C ⊆ R, C ⊆ [m,M ] ⇒ ∀c ∈ C |c| ≤ ma´x{|m|, |M |} ∀K > 0 [∀c ∈ C |c| ≤ K]⇔ C ⊆ [−K,K] 2 Teorema 1.2.6 (de Weierstrass) Uma func¸a˜o cont´ınua f : [a, b] ⊆ R→ R e´ 1. Limitada 2. Tem ma´ximo e tem mı´nimo, isto e´ existem ma´x{f(x)| a ≤ x ≤ b} min{f(x)| a ≤ x ≤ b} Dem. Quanto a 1. basta demonstrar que vale a condic¸a˜o de limitac¸a˜o superior e aplica´-la de seguida a a −f . Suponha-se enta˜o que f : [a, b] → R e´ cont´ınua mas os seus valores na˜o teˆm majorante, por outras palavras f na˜o e´ majorada; em particular f na˜o e´ majorada em algum dos intervalos [a, a+b 2 ] ou [a+b 2 , b]; seja qual for o caso, existem enta˜o Um intervalo I1 := [a1, b1] ⊆ I0 := [a, b] de amplitude b1 − a1 ≤ b−a2 , um ponto x1 ∈ I1 tal que, por exemplo, f(x1) > 1. f na˜o e´ majorada em algum dos intervalos [a1, a1+b1 2 ] ou [a1+b1 2 , b1]; segue-se que 124 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS existe um intervalo I2 := [a2, b2] ⊆ I1 de amplitude b2 − a2 ≤ b−a22 e existe um ponto x2 ∈ I2 tal que f(x2) > 1 + f(x1) > 2. Por este processo poderia obter-se um {xn| n ∈ N} ⊆ [a, b]} tal que, para qualquer n ∈ N, 0 < |xn+1 − xn| ≤ b− a 2n |f (xn+1)− f (xn)| > 1. Tal contradiz a continuidade uniforme de f , pois b−a 2n pode tornar-se arbitrariamente pequeno (teoremas 1.0.15 e 1.0.8), portanto f tem de ser majorada. Para demonstrar 2. tenha-se em conta que i. R e´ completo para < ii. sup{f(x)| a ≤ x ≤ b} = ma´x{f(x)| a ≤ x ≤ b}, por f ser cont´ınua. 2 Definic¸a˜o 1.2.2 Para c ∈]a, b[, f diz − se diferencia´vel em c com derivada f ′(c) se f ′(c) := lim x→c f(x)− f(c) x− c f diz-se diferencia´vel se for diferencia´vel em todos os elementos do seu domı´nio. Teorema 1.2.7 A func¸a˜o f :]a, b[⊆ R → R e´ diferencia´vel em c ∈]a, b[ se e apenas se existirem um nu´mero real f ′(c) e func¸o˜es ε :]a, b[→ R e ² :]a−c, b−c[→ R tais que ∀x ∈]a, b[ f(x) = f(c) + f ′(c)(x− c) + ε(x)(x− c) & lim x→c ε(x) = 0 (1.61) ou ∀h ∈]a− c, b− c[ f(c+ h) = f(c) + f ′(c)h+ ²(h)h & lim h→0 ²(h) = 0 (1.62) i.e. lim x→c f(x)− f(c)− f ′(c)(x− c) x− c = 0. (1.63) ou ainda lim h→0 f(c+ h)− f(c)− f ′(c)h h = 0. (1.64) 1.2. CONTINUIDADE E DIFERENCIABILIDADE 125 Dem. A equivaleˆncia entre as condic¸o˜es (1.61) e (1.63) resulta de se poder tomar ε(x) := f(x)− f(c)− f ′(c)(x− c) x− c = f(x)− f(c) x− c − f ′(c); observe-se enta˜o que lim x→c ε(x) = 0 ⇔ lim x→c [ f(x)− f(c) x− c − f ′(c) ] = 0 ⇔ f ′(c) = lim x→c f(x)− f(c) x− c e aqui esta˜o treˆs formas de definir f ′(c). Analogamente, a equivaleˆncia entre as condic¸o˜es (1.62) e (1.64) resulta de se poder tomar ²(h) := f(c+ h)− f(c)− f ′(c)h h = f(c+ h)− f(c) h − f ′(c), observando-se de seguida que lim h→0 ²(h) = 0 ⇔ lim h→0 [ f(c+ h)− f(c) h − f ′(c) ] = 0 ⇔ f ′(c) = lim h→0 f(c+ h)− f(c) h que sa˜o mais treˆs formas de definir f ′. 2 Observac¸a˜o 1.2.1 Quando c = a ou c = b, f diz-se diferencia´vel em c se tem um prolongamento f˜ : [α, β]→ R com [a, b] ⊂ [α, β] ⊆ R diferencia´vel em c. E´ fa´cil demonstrar que Teorema 1.2.8 Se uma func¸a˜o e´ diferencia´vel (resp. em algum ponto do seu domı´- nio) e´ cont´ınua (resp. nesse mesmo ponto). Teorema 1.2.9 Suponha que f, g :]a, b[→ R sa˜o diferencia´veis em c ∈]a, b[ e α ∈ R, enta˜o (αf + g)′(c) = αf ′(c) + g′(c) (fg)′(c) = f ′(c)g(c) + f(c)g′(c)( f g )′ (c) = f ′(c)g(c)− f(c)g′(c) g2(c) ( g(c) 6= 0) 126 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Definic¸a˜o 1.2.3 Um extremante relativo da func¸a˜o f : [a, b] ⊆ R→ R e´ um ponto x0 ∈ [a, b] para o qual existe ε > 0 tal que pelo menos uma das duas condic¸o˜es seguintes se verifica 1. Para qualquer x ∈]x0 − ε, x0 + ε[⊆ [a, b], f(x) ≤ f(x0), caso em que x0 se diz maximizante e f(x0) se diz ma´ximo (ambos locais) 2. Para qualquer x ∈]x0 − ε, x0 + ε[⊆ [a, b], f(x) ≥ f(x0),caso em que x0 se diz minimizante e f(x0) se diz mı´nimo (ambos locais) 3. Para qualquer x ∈ [a, b], f(x) ≤ f(x0), caso em que x0 se diz maximizante e f(x0) se diz ma´ximo (ambos absolutos) 4. Para qualquer x ∈ [a, b], f(x) ≥ f(x0),caso em que x0 se diz minimizante e f(x0) se diz mı´nimo (ambos absolutos) 5. Quando as condic¸o˜es se da˜o com desigualdades estritas em pontos diferentes de x0, o extremante diz-se estrito. Teorema 1.2.10 (de Fermat) Se f(x0) e´ extremante local de f : [a, b] ⊆ R → R e f e´ diferencia´vel em x0 enta˜o f ′(x0) = 0. Dem. Para simplificar ideias, suponhamos que ]x0 − ε, x0 + ε[⊂ [a, b] & ∀x ∈]x0 − ε, x0 + ε[ f(x) ≤ f(x0). Tem-se, para qualquer x ∈]x0 − ε, x0 + ε[, x < x0 ⇒ f(x)− f(x0) x− x0 ≥ 0 (1.65) x > x0 ⇒ f(x)− f(x0) x− x0 ≤ 0 (1.66) f ′(x0) = lim x→x0 f(x)− f(x0) x− x0 ≥ 0 ≥ limx→x0 f(x)− f(x0) x− x0 = f ′(x0) (1.67) f ′(x0) = 0 (1.68) 2 Teorema 1.2.11 (de Rolle) Se a func¸a˜o f : [a, b] ⊆ R → R e´ cont´ınua, e´ diferencia´vel em ]a, b[ e f(a) = f(b), existe c ∈]a, b[ tal que f ′(c) = 0 1.2. CONTINUIDADE E DIFERENCIABILIDADE 127 Dem. Sendo cont´ınua, f tem extremos absolutos (teorema 1.2.6) Se f(a) e´ um desses extremos, enta˜o 1. Ou e´ simultaneamente ma´ximo e mı´nimo absolutos, f e´ constante e f ′ ≡ 0 em ]a, b[ 2. Ou e´ apenas de qualquer dos outros tipos, o outro extremo ocorre em algum c ∈]a, b[ e f ′(c) = 0, pelo teorema 1.2.10 Se f(a) na˜o e´ extremo qualquer dos extremos ocorre em ]a, b[ e aplica-se de novo a´ı o teorema de Fermat 1.2.10, como em 2. 2 O teorema seguinte costuma designar-se por teorema de Lagrange, dos Acre´scimos Finitos, da Me´dia ou do Valor Me´dio. Teorema 1.2.12 Se a func¸a˜o f : [a, b] ⊆ R → R e´ cont´ınua e e´ diferencia´vel em ]a, b[, enta˜o existe c ∈]a, b[ tal que f ′(c) = f(b)− f(a) b− a . (1.69) Dem. Considere-se a func¸a˜o auxiliar h : [a, b]→ R dada por h(x) = [f(x)− f(a)](b− a)− [f(b)− f(a)](x− a.) h e´ cont´ınua e e´ diferencia´vel em ]a, b[ e ainda h(a) = h(b) = 0; pelo teorema de Rolle, existe c ∈]a, b[ tal que h′(c) = 0; como assim 0 = h′(c) = f ′(c)(b− a)− [f(b)− f(a)], o teorema fica demonstrado resolvendo a equac¸a˜o em ordem a f ′(c). 2 Um corola´rio importante Teorema 1.2.13 Se a func¸a˜o a func¸a˜o f :]a, b[→ R e´ diferencia´vel e f ′(x) > 0 (a < x < b) (resp. f ′(x) < 0 (a < x < b)) enta˜o e´ estritamente crescente (resp. decrescente). Dem. Na primeira hipo´tese f(y)− f(x) tem o mesmo sinal quey − x; na segunda tem sinal contra´rio. 2 128 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Teorema 1.2.14 (de Cauchy-l’Hoˆpital) Sejam f, g func¸o˜es reais de varia´vel real diferencia´veis em algum intervalo ]a, b[ e c um elemento de ∈]a, b[ tal que lim x→c f(x) = lim x→c g(x) = 0 ou tal que lim x→c f(x) = lim x→c g(x) = ∞. Tem-se lim x→c f ′(x) g′(x) = L ∈ R ∪ {−∞,+∞} ⇒ lim x→c f(x) g(x) = L Dem. Vejamos o caso em que L ∈ R, f(c) = g(c) = 0, f e g sa˜o de classe C1 e g′(c) 6= 0, pelo que L = lim x→c f ′(x) g′(x) = f ′(c) g′(c) . lim x→c f(x) g(x) = lim x→c f(x)− f(c) g(x)− g(c) = lim x→c f(x)−f(c) x−c g(x)−g(c) x−c = f ′(c) g′(c) = L. Um estudo completo deste teorema pode encontrar-se em [2, Sec. 7.12 ff]. 2 1.2.3 Exerc´ıcios 1. Mostre que, se limx→c f(x) = α ∈ R e limx→c[f(x) + g(x)] = β ∈ R, enta˜o limx→c g(x) = β − α. 2. Calcule os seguintes limites: (a) limx→0 senxx . (b) limx→0 e x−1 x . (c) limx→0 log x+1 x . (d) limx→0 x−arctanxx3 . (e) limx→0 cosx−e −x22 x4 . 3. Suponha que f(x) := ex 2−e2 − x2 (x ∈ R) (a) Mostre que 0, e e −e sa˜o extremantes locais de f , calcule os extremos locais de f e classifique-os. (b) Mostre que a equac¸a˜o f(x) = 0 tem quatro soluc¸o˜es sime´tricas duas a duas e designe-as por α, −α, β, −β, sendo 0 < α < β. 1.2. CONTINUIDADE E DIFERENCIABILIDADE 129 (c) Qual o domı´nio da func¸a˜o x g7→ log[f(x)]? (d) Decida se o gra´fico de g tem ou na˜o ass´ımptotas (OBS: Repare que g e´ par). 4. Suponha que f(x) := e x 2 −1 para qualquer x ∈ R. (a) Mostre que a recta r de equac¸a˜o y = x 2 e´ tangente ao gra´fico de f no ponto (2, 1). (b) Determine a a´rea da regia˜o plana limitada pelo gra´fico de f , pela recta r da al´ınea anterior e pelo eixo dos yy. 5. (a) Suponha que f e g sa˜o func¸o˜es diferencia´veis no intervalo I e que f(x) > 0 para todo o x ∈ I. Prove que se h(x) = f(x)g(x) := eg(x)log(f(x)), enta˜o h′(x) = g(x) · f(x)g(x)−1 · f ′(x) + f(x)g(x) · log(f(x)) · g′(x). (b) Calcule f ′(x), sendo f(x) = (x2 + 1)2x−1. 6. Calcule (a) lim x→0 4x − 3x x (b) lim x→+∞ (e3−xlog x) (c) lim x→+∞ ex − 1 x3 + 4x (d) lim x→0+ (2x2 + x)x (e) lim x→+∞ (3x+ 9) 1 x (f) lim x→1 1− x log (2− x) (g) lim x→+∞ log x xp com p ∈ R+ 7. Prove que, na demonstrac¸a˜o do teorema 1.2.4, para cada τ > 0, o {m ∈ N| 0 ≤ c− xm < τ} e´ infinito. 8. Demonstre o teorema 1.2.9. 9. Prove que qualquer combinac¸a˜o linear, com coeficientes reais, de func¸o˜es uni- formemente cont´ınuas e´ uniformemente cont´ınua. 10. Prove a condic¸a˜o (1.67). 130 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS 1.3 Integrac¸a˜o Nesta secc¸a˜o f : [a, b] ⊆ R→ R designa uma func¸a˜o limitada e ∀x ∈ [a, b] m ≤ f(x) ≤M (1.70) Definic¸a˜o 1.3.1 Sejam n ∈ N e P = {a = x0 < x1 < · · · < xn = b} uma partic¸a˜o de [a, b]. 1. A soma superior de f para a partic¸a˜o P e´ dada por S(f,P) = n−1∑ i=0 sup x∈[xi,xi+1] f(x)(xi+1 − xi) 2. A soma inferior de f para a partic¸a˜o P e´ dada por I(f,P) = n−1∑ i=0 inf x∈[xi,xi+1] f(x)(xi+1 − xi) 3. f diz-se integra´vel (em [a, b]) quando sup { I(f,P)| P e´ partic¸a˜o de [a, b]} = inf {S(f,P)| P e´ partic¸a˜o de [a, b]} Este supremo (ou ı´nfimo) diz-se o integral de f (em [a, b]) e nota-se ∫ b a f(x)dx Observac¸a˜o 1.3.1 Com esta definic¸a˜o de integral e´ aparente que Quando f e´ integra´vel e f(x) ≥ 0 (a ≤ x ≤ b), ∫ b a f(x)dx pode entender-se como medida da a´rea da regia˜o de R2 delimitada pelo gra´fico de f e o eixo dos xx entre as rectas de equac¸o˜es x = a & x = b. Teorema 1.3.1 1. Quando f e´ integra´vel, sejam quais forem as partic¸o˜es P , Q de [a, b] m(b− a) ≤ I(f,P) ≤ ∫ b a f(x)dx ≤ S(f,Q) ≤ M(b− a) (1.71) 2. f e´ integra´vel sse para qualquer ε > 0, existe uma partic¸a˜o P tal que S(f,P)− I(f,P) < ε. 3. Se f e´ cont´ınua, enta˜o (a) f e´ integra´vel. (b) Existe c ∈]a, b[, tal que ∫ b a f(x)dx = f(c)(b− a). 1.3. INTEGRAC¸A˜O 131 Dem. A u´nica parte eventualmente dif´ıcil e´ a nu´mero 2 (exerc´ıcio 7). Quanto a`s outras partes: 1. As duas desigualdades centrais resultam da pro´pria de definic¸a˜o de integral; a primeira desigualdade obte´m-se de m ≤ inf x∈[xi,xi+1] f(x) (1 ≤ i < n); a u´ltima desigualdade obte´m-se de sup x∈[xi,xi+1] f(x) ≤ M (1 ≤ i < n). 3(a) Resulta de 2. e do facto de f ser uniformemente cont´ınua (teorema 1.2.4). 3(b) Pode deduzir-se de 1 e dos teorema de Bolzano e de Weierstrass pois min{f(x)| x ∈ [a, b]} ≤ 1 b− a ∫ b a f(x)dx ≤ ma´x{f(x)| x ∈ [a, b]} 2 Teorema 1.3.2 Suponha-se que as func¸o˜es f, g : [a, b] → R sa˜o integra´veis e que α ∈ R. Enta˜o 1. αf + g : [a, b]→ R e´ integra´vel e∫ b a αf(x) + g(x)dx = α ∫ b a f(x)dx+ ∫ b a g(x)dx (1.72) 2. Se para qualquer x ∈ [a, b] f(x) ≤ g(x), enta˜o∫ b a f(x)dx ≤ ∫ b a g(x)dx 3. |f | : [a, b]→ R e´ integra´vel e∣∣∣∣∫ b a f(x)dx ∣∣∣∣ ≤ ∫ b a |f(x)|dx (1.73) 4. ma´x{f, g} : [a, b]→ R e´ integra´vel. 5. min{f, g} : [a, b]→ R e´ integra´vel. 6. f 2 : [a, b→ R e´ integra´vel. 7. f · g : [a, b]→ R e´ integra´vel. Dem. Exerc´ıcio 2. 132 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Definic¸a˜o 1.3.1 Quando α > β define-se∫ β α f(x)dx = − ∫ α β f(x)dx. Com esta definic¸a˜o tem-se Teorema 1.3.3 Quando esta˜o definidos os integrais,∣∣∣∣∫ b a f(x)dx ∣∣∣∣ ≤ ∣∣∣∣∫ b a |f(x)|dx ∣∣∣∣ . Dem. Exerc´ıcio 3. Teorema 1.3.4 (Teorema Fundamental) Seja f : [a, b] ⊆ R → R uma func¸a˜o cont´ınua, fixe-se c ∈ [a, b] e defina-se F (x) := ∫ x c f(t)dt (a ≤ x ≤ b). Nestas condic¸o˜es ∀x ∈]a, b[ F ′(x) = f(x) (1.74) Dem. Fixe-se x ∈]a, b[ ,e para fixar ideias, a < x < x+ h < b, temos F (x+ h)− F (x) h = ∫ x+h c f(t)dt− ∫ x c f(t)dt h = ∫ x+h x f(t)dt h = f(x(h)) para algum x(h) entre x e x+ h pelo teorema 3b. Vamos ver que lim h→0 f(x(h)) = f(x). Tome-se ε > 0, como f e´ cont´ınua em c, existe δ > 0 tal que, se |t − x| < δ enta˜o |f(t) − f(x)| < ε; mas enta˜o, se |h| < δ, como x(h) esta´ entre x e x + h, |x(h)− x| < |h| < δ e da´ı |f(x(h))− f(x)| < ε, i.e., ∀ε > 0 ∃δ > 0 [|h| < δ ⇒ |f(x(h))− f(x)| < ε] ou seja limh→0 f(x(h)) = f(x). 2 Teorema 1.3.5 (Fo´rmula de Barrow) Se F e f sa˜o func¸o˜es reais de varia´vel real tais que ∀x ∈]c, d[ F ′(x) = f(x) e f e´ cont´ınua, enta˜o ∀a, b ∈]c, d[ [a ≤ b ⇒ ∫ b a f(x)dx = F (b)− F (a)]. (1.75) 1.3. INTEGRAC¸A˜O 133 Dem. Defina-se G(x) := ∫ x a f(t)dt & H(x) := F (x)−G(x) (x ∈ [a, b]). Pelo teorema Fundamental, H ′(x) = G′(x)− F ′(x) = f(x)− f(x) = 0 (x ∈]a, b[), portanto H e´ constante, i.e., para certo k ∈ R H(x) = k (x ∈ [a, b]); ora H(a) = F (a)−G(a) = F (a)− 0 = F (a) donde k = F (a); mas enta˜o H(x) = F (a) (x ∈ [a, b]) e, em particular,∫ b a f(t)dt = G(b) = F (b)−H(b) = F (b)− F (a). 2 Teorema 1.3.6 (Integrac¸a˜o por Partes) Dadas func¸o˜es diferencia´veis f, g :]a, b[→ R com derivadas cont´ınuas, tem-se ∀α, β ∈]a, b[ ∫ β α f(x)g′(x)dx = f(x)g(x)]βα − ∫ β α f ′(x)g(x)dx. (1.76) Dem. Basta observar que (fg)′ = f ′g + fg′ ou, o que e´ o mesmo, fg′ = (fg)′ − f ′g e portanto, pela fo´rmula de Barrow,∫ b a f(x)g′(x)dx = ∫ b a (fg)′(x)− f ′(x)g(x)dx = f(x)g(x)]βα − ∫ b a f ′(x)g(x)dx. 2 Redesignando F (b)− F (a) := F (x)]ba , (1.77) a equac¸a˜o em (1.75) tambe´m costuma escrever-se∫ b a f(x)dx = F (x)]ba . (1.78) Teorema 1.3.7 (de Mudanc¸a de Varia´veis) Se [a, b] ⊆]α, β[⊆ R, a func¸a˜o φ :]α, β[→ [c, d] e´ diferencia´vel, φ′ e´ cont´ınua e f : [c, d]→ R e´ cont´ınua, enta˜o∫ φ(b) φ(a) f(x)dx = ∫ b a f(φ(t))φ′(t)dt. (1.79) 134 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS Dem. Seja F (x) := ∫ x a f(t)dt (t ∈ [a, b]). Pelo teorema da Fundamental, F′(x) = f(x), portanto d dt (F ◦ φ)(t) = f(φ(t))φ′(t) e, pela Fo´rmula de Barrow,∫ b a f(φ(t))φ′(t)dt = (F ◦φ)(b)− (F ◦φ)(a) = F (φ(b))−F (φ(a)) = ∫ φ(b) φ(a) f(x)dx. 2 Teorema 1.3.8 (Teoremas da Me´dia para integrais) 1. Se f : [a, b] ⊆ R→ R e´ cont´ınua enta˜o ∃θ ∈ ]a, b[ ∫ b a f(x)dx = f(θ)(b− a). (1.80) 2. Se f, g : [a, b]→ R sa˜o cont´ınuas e g tem sinal constante, enta˜o ∃θ ∈ ]a, b[ ∫ b a f(x)g(x)dx = f(θ) ∫ b a g(x)dx (1.81) Dem. A demonstrac¸a˜o de 1. pode ser feita utilizando o teorema Fundamental e o teorema da Me´dia para derivadas ou o teorema de Bolzano do modo seguinte. Sejam m := min f([a, b]) := f(α) e M := ma´xf([a, b]) := f(β). Se m = M , f e´ constante e ∀θ ∈ [a, b] ∫ b a f(x)dx = M(b− a) = f(θ)(b− a). Se m < M , observe-se que m(b− a) ≤ ∫ b a f(x)dx ≤ M(b− a), o que tambe´m pode ser visto como f(α) ≤ ∫ b a f(x)dx b− a ≤ f(β). De facto os ≤ sa˜o <, porque m(b− a) = I(f, {a, b}; a, b) < ∫ b a f(x)dx < S(f, {a, b}; a, b)(b− a) =M(b− a) e podemos utilizar agora o teorema do Valor Interme´dio para garantir a existeˆncia de θ ∈]a, b[ (de facto entre α e β) tal que f(θ) = ∫ b a f(x)dx b− a . 2 1.3. INTEGRAC¸A˜O 135 1.3.1 Exerc´ıcios 1. Mostre que uma func¸a˜o integra´vel tem mesmo de ser limitada, isto e´, a hipo´tese de cobertura desta secc¸a˜o e´ de facto necessa´ria para a definic¸a˜o de integrabi- lidade num intervalo fechado. 2. Demonstre o teorema 1.3.2. Esquema: 1. Por exemplo siga o plano seguinte. i. ∫ b a 0dx = 0 ii. Prove que ∫ b a αf(x)dx = α ∫ b a f(x)dx (α ≥ 0). iii. Prove que ∫ b a −f(x)dx = − ∫ b a f(x)d iv. Conclua ∀α ∈ R ∫ b a αf(x)d = α ∫ b a f(x)d v. Use as propriedadas do ı´nfimo e do supremo para provar que o integral da soma de func¸o˜es integra´veis e´ a soma dos integrais de cada func¸a˜o. vi. Conclua. 2. Siga por exemplo plano seguinte. i. Se f(x) ≥ 0 (a ≤ x ≤ b), enta˜o ∫ b a f(x)dx ≥ 0. ii. Observe que f(x) ≤ g(x) e´ o mesmo que 0 ≤ f(x)− g(x). 3. Siga por exemplo o plano seguinte. i. Defina as partes positiva, f+, e negativa, f−, de f Para a ≤ x ≤ b, f+(x) = { f(x) se f(x) > 0 0 se f(x) ≤ 0 (1.82) f−(x) = (−f)+(x) = { −f(x) se f(x) < 0 0 se f(x) ≥ 0 (1.83) ii. Prove que f+ e´ integra´vel, conclua que f− tambe´m e´, observe que |f | = f+ + f− −|f(x)| ≤ f(x) ≤ |f(x)| iii. Conclua. 4. e 5. Observe que para quaisquer nu´meros reais t, τ (recorde o exerc´ıcio 1.0.7.1) ma´x{t, τ} = t+ τ + |t− τ | 2 (1.84) min{t, τ} = t+ τ − |t− τ | 2 (1.85) 136 CAPI´TULO 1. FUNDAMENTOS 6. Repare que f 2 ≡ |f |2 e discuta o comportamento da expressa˜o S(f 2,P)− I(f 2,P) quando f(x) ≥ 0 (a ≤ x ≤ b) para simplificar. 7. Observe que f(x)g(x) = ( f(x) + g(x) )2 − (f(x)− g(x))2 2 (1.86) 3. Demonstre o teorema 1.3.3. 4. Determine a a´rea das regio˜es planas delimitadas pelos gra´ficos das func¸o˜es dadas por (a) f(x) = 1 x2−4 , g(x) = x 2 − 4 (b) f(x) = e2x, g(x) = e−x, h(x) = e 2−e3 4 (x − 1) + e2 (Sug.: Avalie as func¸o˜es em 1 e em −3). (c) f(x) = log(x), g(x) = log(n 2n) n2−1 (x− n) + log(n) (avalie as func¸o˜es em n e em 1/n). 5. Calcule ∫ 1 0 F (x) dx, onde F (x) = ∫ x 1 e−t 2 dt (Sugesta˜o: integre por partes) 6. Calcule d dx (∫ x3 x2 e−t 2 dt ) (x ∈ R) 7. Suponha que f : [a, b] ⊆ R → R e´ limitada como na condic¸a˜o (1.70) e que P , Q sa˜o partic¸o˜es de [a, b] . Mostre que (a) Quando P ⊆ Q se tem I(f,P) ≤ I(f,Q) ≤ S(f,Q) ≤ S(f,P) (b) Utilize P ∪Q para provar que I(f,P) ≤ S(f,Q) (c) Prove a parte 2 do teorema 1.3.1. (SUG.: Recorde os exerc´ıcios 10, 11 e 12, na pa´g. 114 da secc¸a˜o 1.0.6.) Cap´ıtulo 2 Teoremas da Func¸a˜o Composta e da Func¸a˜o Inversa 2.1 Teoremas da Func¸a˜o Composta Teorema 2.1.1 (da Func¸a˜o Composta para func¸o˜es cont´ınuas) Sejam f, g func¸o˜es reais de varia´vel real. Se c ∈ dom(f ◦ g), g e´ cont´ınua em c e f e´ cont´ınua em g(c), enta˜o f ◦ g e´ cont´ınua em c. De um modo geral, a composic¸a˜o de func¸o˜es cont´ınuas e´ uma func¸a˜o cont´ınua. Dem. Basta tomar em conta a seguinte sequeˆncia de equac¸o˜es lim x→c (f ◦ g)(x) := lim x→c (f(g(x)) = f(lim x→c g(x)) (porque f e´ cont´ınua em lim x→c g(x)) = f(g(c)) (porque g e´ cont´ınua em c) := (f ◦ g)(c)). 2 Teorema 2.1.2 (da Func¸a˜o Composta para func¸o˜es diferencia´veis; regra da Cadeia) Suponha-se que as func¸o˜es f :]c, d[→ R e g :]a, b[→]c, d[ sa˜o difer- encia´veis respectivamente em g(x) ∈]c, d[ e em x ∈]a, b[, enta˜o f ◦ g e´ diferencia´vel em x e (f ◦ g)′(x) = f ′(g(x))g′(x). (2.1) Dem. Vamos utilizar o teorema 1.2.7. Comecemos por escever f(g(x) + k) = f(g(x)) + f ′(g(x))k + ²f (k)k & lim k→0 ²f (k) = 0 (2.2) g(x+ h) = g(x) + g′(x)h+ ²g(h)h & lim h→0 ²g(h) = 0. (2.3) Considere-se agora a sequeˆncia de equac¸o˜es seguinte: (f ◦ g)(x+ h) := f(g(x+ h)) = f(g(x) + g′(x)h+ ²g(h)h) = f(g(x) + (g′(x) + ²g(h))h), 201 202CAPI´TULO 2. TEOREMAS DA FUNC¸A˜O COMPOSTA E DA FUNC¸A˜O INVERSA tendo-se lim h→0 ²g(h) = 0; (2.4) tomando k(h) := (g′(x) + ²g(h))h, observamos que, nestas condic¸o˜es (f ◦ g)(x+ h) = f(g(x)) + f ′(g(x))k(h) + ²f (k(h))k(h) = f(g(x)) + f ′(g(x))g′(x)h+ f ′(g(x))²g(h)h+ ²f (k(h))(g′(x) + ²g(h))h = f(g(x)) + f ′(g(x))g′(x)h+ [f ′(g(x))²g(h) + ²f (k(h))(g′(x) + ²g(h))]h. Ora lim h→0 k(h) = 0, (2.5) Consequentemente, pela condic¸a˜o (2.2), lim h→0 ²f (k(h)) = 0; (2.6) pela condic¸a˜o (2.3), lim h→0 f ′(g(x))²g(h) = f ′g(x) · 0 = 0 e, retomando a condic¸a˜o (2.6), lim h→0 [f ′(g(x))²g(h) + ²f (k(h))(g′(x) + ²g(h))] = 0 + 0(g′(x) + 0) = 0; fazendo δ(h) := f ′(g(x))²g(h) + ²f (k(h))(g′(x) + ²g(h)), temos finalmente (f ◦ g)(x+ h) = (f ◦ g)(x) + f ′(g(x))g′(x)h+ δ(h)h & lim h→0 δ(h) = 0, o que nos diz (f ◦ g)′(x) = f ′(g(x))g′(x), pelo teorema 1.2.7. 2 2.2. TEOREMAS DA FUNC¸A˜O INVERSA 203 2.2 Teoremas da Func¸a˜o Inversa Teorema 2.2.1 (da Func¸a˜o Inversa para func¸o˜es cont´ınuas) Sejam a, b, c e d nu´meros reais tais que a < b e c < d e f :]a, b[→]c, d[ uma func¸a˜o cont´ınua bijectiva. 1. f e´ estritamente mono´tona 2. f−1 e´ da mesma natureza que f , i.e., f e f−1 sa˜o ambas crescentes ou ambas decrescentes 3. f−1 :]c, d[→]a, b[ e´ cont´ınua Teorema 2.2.2 (da Func¸a˜o Inversa para func¸o˜es diferencia´veis) Sejam a, b, c e d nu´meros reais tais que a < b e c < d e f :]a, b[→]c, d[ uma func¸a˜o bijectiva diferencia´vel que verifica o seguinte f ′ e´ cont´ınua (2.7) ∀t ∈]a, b[ f ′(t) 6= 0. (2.8) Nestas condic¸o˜es, f−1 :]c, d[→]a, b[ e´ tambe´m diferencia´vel e ∀x ∈]c, d[ (f−1)′(x) = 1 f ′(f−1(x)) (2.9) Demonstrac¸o˜es completas destes teoremas encontram-se em [15, pa´g. 309ss]; de mo- mento pretendemos apenas ter presente uma justificac¸a˜o, importante em si mesma, de alguns ca´lculos que apresentaremos mais adiante. Fazemos no entanto notar o seguinte: Observac¸a˜o 2.2.1 (ao teorema 2.2.1) 1. O facto de R ser corpo ordenado e´ fundamental para o enunciado: sem ordem na˜o se pode falar de monotonia. 2. A continuidade de f−1 esta´ muito relacionada com o facto de todos as sucesso˜es nume´ricas limitadas terem subsucesso˜es convergentes. Observac¸a˜o 2.2.2 (ao teorema 2.2.2) 1. A injectividade de f e´ na verdade consequeˆncia de f ′ ser cont´ınua (condic¸a˜o (2.7)) e na˜o ter zeros (condic¸a˜o (2.8)), tendo portanto sinal constante (pelo Teorema do Valor Interme´dio), isto e´, f e´ estritamente crescente, se f ′ for sempre positiva, ou estritamente decrescente, se for f ′ for sempre negativa; assim o teorema mante´m-se va´lido substituindo bijectiva por sobrejectiva. 2. Admitindo demonstrado que f ′ e´ necessariamente diferencia´vel, a Regra da Cadeia (teorema 2.1.2),permite obter a fo´rmula (2.9): como f e f ′ ficam 204CAPI´TULO 2. TEOREMAS DA FUNC¸A˜O COMPOSTA E DA FUNC¸A˜O INVERSA diferencia´veis por hipo´tese, enta˜o a composic¸a˜o f ◦ f−1 resulta tambe´m difer- encia´vel; mas x = (f ◦ f−1)(x) (x ∈]c, d[) e portanto 1 = (f ◦ f−1)′(x) = f ′(f−1(x))(f−1)′(x) (x ∈]c, d[) obtendo-se (2.8) por resoluc¸a˜o em ordem a (f−1)′(x). 2.2.1 Exerc´ıcios 1. As func¸o˜es x 7→ n√x : R+ =]0,+∞[→ R+ (n ∈ N) sa˜o as inversas das poteˆncias de expoente n restringidas a R+. Verifique que d n √ x dx = 1 n n √ xn−1 2. Admita que as func¸o˜es trigonome´tricas elementares esta˜o bem definidas. As func¸o˜es arcsen, arcos, arctan sa˜o respectivamente as func¸o˜es inversas de sen :] − pi 2 , pi 2 [→] − 1, 1[, cos :]0, pi[→] − 1, 1[, tan :] − pi 2 , pi 2 [→ R. Verifique que arctan′(x) = 1 1 + x2 arcsen′(x) = 1√ 1− x2 arcos ′(x) = 1 −√1− x2 . Cap´ıtulo 3 Teorema de Taylor 3.1 Fo´rmula de Taylor As derivadas de ordem n (n ∈ N), designadas f (n), de uma func¸a˜o f :]a, b[⊆ R→ R definem-se do seguinte modo f (0) = f (3.1) f (n+1) = (f (n))′ (3.2) Uma func¸a˜o com k derivadas cont´ınuas diz-se de classe Ck. Quando uma func¸a˜o f :]a, b[⊆ R → R tem n derivadas, para cada c ∈]a, b[, chama-se polino´mio de Taylor de grau n em torno de c a T nc f(x) := f(c) + n∑ i=1 1 i! f (i)(c)(x− c)i. O resto de ordem n em torno de c da fo´rmula de Taylor sera´ designado por Rnc f(x) e define-se por: Rnc f(x) := f(x)− T nc f(x). (3.3) Teorema 3.1.1 (de Taylor) Suponha-se que, para algum n ∈ N, a (n + 1)-e´sima derivada da func¸a˜o f :]a, b[⊆ R → R e´ cont´ınua e que c ∈]a, b[. Vale a seguinte fo´rmula ∀x ∈]a, b[ f(x) = f(c) + n∑ i=1 1 i! f (i)(c)(x− c)i + 1 n! ∫ x c f (n+1)(t)(x− t)ndt (3.4) Dem. E´ vantajoso considerar aqui que 0 ∈ N. Comecemos enta˜o com n = 0. Nesta caso a fo´rmula toma a forma f(x) = f(c) + ∫ x c f ′(t)dt que e´ va´lida por ser uma instaˆncia da fo´rmula de Barrow. Suponhamos agora que a fo´rmula de Taylor vale para n ∈ N e que f e´ de classe C(n+1)+1. Tem-se f(x) = f(c) + n∑ i=1 1 i! f (i)(c)(x− c)i + 1 n! ∫ x c f (n+1)(t)(x− t)ndt. (3.5) 301 302 CAPI´TULO 3. TEOREMA DE TAYLOR Como d dt (x− t)n+1 n+ 1 = −(x− t)n, pelo teorema de Integrac¸a˜o por Partes, tem-se tambe´m∫ x c f (n+1)(t)(x− t)ndt = [ −(x− t) n+1 n+ 1 f (n+1)(t) ]x c + 1 n+ 1 ∫ x c f (n+1)+1(t)(x− t)n+1dt = 1 n+ 1 f (n+1)(c)(x− c)n+1 + 1 n+ 1 ∫ x c f (n+1)+1(t)(x− t)n+1dt Substituindo adequadamente em (3.5), obte´m-se f(x) = f(c) + n+1∑ i=1 1 i! f (i)(c)(x− c)i + 1 (n+ 1)! ∫ x c f ((n+1)+1)(t)(x− t)n+1dt. Pelo Princ´ıpio de Induc¸a˜o, a fo´rmula de Taylor vale para qualquer n ∈ N 2 Corola´rio 3.1.1 Nas condic¸o˜es da hipo´tese do teorema anterior (3.1.1), o resto de ordem n pode tomar treˆs formas: Rnc f(x) = 1 n! ∫ x c f (n+1)(t)(x− t)ndt = 1 n! ∫ 1 0 (1− s)nf (n+1)(c+ s(x− c))(x− c)n+1ds (integral) Rnc f(x) = 1 n! f (n+1)(θ)(x− θ)n(x− c), para algum θ entre c e x (de Cauchy) Rnc f(x) = 1 (n+ 1)! f (n+1)(θ)(x− c)n+1, para algum θ entre c e x (de Lagrange) Dem. O resto integral e´ a forma que utiliza´mos na demonstrac¸a˜o do pro´prio teo- rema; a segunda equac¸a˜o resulta do teorema de substituic¸a˜o quando se faz t := c+ s(x− c). O resto de Cauchy resulta de uma simples aplicac¸a˜o do primeiro teorema da Me´dia para integrais (equac¸a˜o (1.80)) ao resto integral, considerando que os extremos do intervalo de integrac¸a˜o sa˜o precisamente c e x e que t 7→ f (n+1)(t)(x− t)n e´ cont´ınua: a sua avaliac¸a˜o em algum θ entre c e x e´ precisamente f (n+1)(θ)(x− θ)n . O resto de Lagrange obte´m-se por aplicac¸a˜o do segundo teorema da me´dia (equac¸a˜o (1.81)) tambe´m ao resto integral, observando que t 7→ (x − t)n na˜o muda de sinal 3.1. FO´RMULA DE TAYLOR 303 nem em [c, x], se c ≤ x, nem em [x, c], se x ≤ c, portanto, existe θ entre c e x, tal que 1 n! ∫ x c f (n+1)(t)(x− t)ndt = f (n+1)(θ) 1 n! ∫ x c (x− t)ndt = 1 (n+ 1)! f (n+1)(θ)(x− c)n+1. 2 Note-se que o resto de Lagrange vale ainda so´ sob a hipo´tese de existeˆncia de fn+1; na verdade, e´ por vezes u´til conhecer uma outra forma integral do resto que, tal como o resto integral, vale mesmo quando f (n+1) e´ integra´vel, mas na˜o necessariamente cont´ınua: Corola´rio 3.1.2 Nas condic¸o˜es da hipo´tese do teorema anterior (3.1.1), o resto de ordem n+ 1 pode ainda tomar a forma seguinte Rn+1c f(x) = 1 n! ∫ x c (x− t)n [f (n+1)(t)− f (n+1)(c)] dt = 1 n! ∫ 1 0 (1− s)n [f (n+1)(c+ s(x− c))− f (n+1)(c)] (x− c)n+1ds Dem. Para demonstrar a primeira forma basta ter em conta a primeira forma do resto integral e observar que f (n+1)(c) e´ constante relativamente a` varia´vel de integrac¸a˜o; para a segunda forma use-se de novo o teorema de mudanc¸a de varia´veis com t = c+ s(x− c) (s ∈ [0, 1]) . 2 Corola´rio 3.1.3 Se f :]a, b[⊆ R → R e´ de classe Cn, o resto de ordem n pode tomar a forma seguinte Rnc f(x) = 1 (n− 1)! ∫ x c (x− t)(n−1) [f (n)(t)− f (n)(c)] dt = 1 (n− 1)! ∫ 1 0 (1− s)(n−1) [f (n)(c+ s(x− c))− f (n)(c)] (x− c)nds Dem. De facto este e´ um corola´rio do corola´rio anterior (corola´rio 3.1.2) que se obte´m substituindo n+ 1 adequadamente por n, i.e., substituindo n por n− 1. 2 O resto de Taylor e´ um instrumento muito importante na avaliac¸a˜o de erros de aproximac¸a˜o: Teorema 3.1.2 Suponha-se que para algum n ∈ N a (n + 1)−e´sima derivada da func¸a˜o f :]a, b[→ R e´ cont´ınua e que c ∈]a, b[. Nestas condic¸o˜es existe δ > 0 tal que, se x e´ valor aproximado de c com erro inferior a δ, enta˜o T nc f(x) aproxima f(x) com erro inferior a (x − c)n; mais precisamente: se [c − δ, c + δ] ⊆]a, b[ e M = ma´x{|f (n+1)(t)| : |t− c| ≤ δ}, enta˜o ∀x ∈ [c− δ, c+ δ] |Rnc f(x)| ≤ M (n+ 1)! |x− c|n+1. (3.6) 304 CAPI´TULO 3. TEOREMA DE TAYLOR Dem. Nas condic¸o˜es da hipo´tese podemos utilizar o resto de Lagrange (teorema 3.1.1) tendo-se, para algum θ para algum θ entre c e x, |Rnc f(x)| = ∣∣∣∣ 1(n+ 1)!f (n+1)(θ)(x− c)n+1 ∣∣∣∣ , = 1 (n+ 1)! ∣∣f (n+1)(θ)∣∣ ∣∣(x− c)n+1∣∣ , ≤ 1 (n+ 1)! M |x− c|n+1 2 O polino´mio de Taylor e´ uma forma extremamente eficaz de aproximac¸a˜o da func¸a˜o: Teorema 3.1.3 Suponha-se que, para algum n ∈ N, a n-e´sima derivada da func¸a˜o f :]a, b[⊆ R→ R e´ cont´ınua e que c ∈]a, b[. Enta˜o lim x→c Rnc f(x) (x− c)n = limx→c f(x)− T nc f(x) (x− c)n = 0. (3.7) De facto, T nc f(x) e´ o u´nico polino´mio P (x) de grau n em poteˆncias de x− c tal que lim x→c f(x)− P (x) (x− c)n = 0. Dem. Comecemos por demonstrar (3.7). Recorde-se que f(x)− T nc f(x) = Rnc f(x). (Primeira demonstrac¸a˜o) De acordo com o teorema 3.1.2, valem as desigualdades seguintes, quando [c− δ, c+ δ] ⊆]a, b[ e M = ma´x{|f (n+1)(t)| : |t− c| ≤ δ}, 0 ≤ |Rnc f(x)| ≤ 1 (n+ 1)! M |x− c|n+1 portanto 0 ≤ |R n c f(x)| |x− c|n ≤ 1 (n+ 1)! M |x− c|; como limx→c |x− c| = 0, tambe´m limx→c 1(n+1)!M |x− c| = 0 e da´ı limx→c |R n c f(x)| |x−c|n = 0, como pretend´ıamos demonstrar. 3.1. FO´RMULA DE TAYLOR 305 (Segunda demonstrac¸a˜o) Neste caso interessa evidenciar a afirmac¸a˜o constante da equac¸a˜o (3.8) adiante. Diferencie-se para verificar que, se n ≥ 1, d dx T nc f(x) = d dx ( f(c) + f ′(c)(x− c) + n∑ i=2 1 i! f (i)(c)(x− c)i ) = f ′(c) + n∑ i=2 1 (i− 1)!f (i)(c)(x− c)i−1 = f ′(c) + n−1∑ i=1 1 i! (f ′)(i)(c)(x− c)i = T nc f ′(x); resumindo d dx T nc f(x) = T n−1 c f ′(x) (n ≥ 1). (3.8) De seguida verifiquemos que o teorema vale para n = 1: por (1.63) lim x→c f(x)− T 1c f(x) (x− c) = limx→c f(x)− f(c)− f ′(c)(x− c) x− c
Compartilhar