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DO CUMPRIMENTO DE SENTEÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA

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DO CUMPRIMENTO DE SENTEÇA E PROCESSO DE EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA
Sumário: 1. A Fazenda Pública. 2. Precatório. 3. Responsabilidade patrimonial. 4. Do procedimento de execução. 5. Do cumprimento de sentença dos títulos judiciais. Dos títulos extrajudiciais. Da Emenda constitucional 94/2016. Considerações finais. 
Introdução
Em regra, quem deve ao estado são os cidadãos contribuintes que devem pagar tributos (impostos e taxas) para a fazenda Pública. Mas os cidadãos que pagam os impostos (deveres) têm direitos, como indenizações por danos causados pela administração pública, ou terceiros, restituição de valores pagos indevidamente entre outras.
A maneira de buscar esse direito é pelas vias judiciais, mesmo porque, para se pleitear direitos, tem que haver provas, que devem ser apresentadas perante o poder judiciário.
Para que a Fazenda Pública, devedora, cumpra com essa obrigação com os cidadãos, credores, estes devem comprovar em juízo esse direito, movendo um processo de execução contra a Fazenda Pública. 
A Fazenda Pública
Fazenda Pública é a representante das pessoas jurídicas de direito público interno em juízo. Seja a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal, às autarquias e fundações, tanto como demandantes, quanto como demandados ou terceiro interessado. A sua representação está relacionada com aspecto financeiro estatal em que figurem ações judiciais. 
A Fazenda pública goza de algumas prerrogativas, tendo como justificativa o interesse público em detrimento do privado, na preservação do erário público (conjunto dos recursos financeiros públicos), visto que tutela o bem da coletividade. 
Dentre as prerrogativas da Fazenda pública estão: o prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, que está disciplinado no artigo 183 do Código de processo civil. No CPC de 1973 este prazo em dobro seria apenas pra contestação; inaplicabilidade de multa de 10% (dez) por cento, nem cobrança dos honorários advocatícios pelo não pagamento voluntário no prazo de 15 (quinze) dias. Artigo 534, parágrafo 2º; necessidade do trânsito em julgado para expedição de precatório ou da requisição de pequeno valor; intimação pessoal, sendo que, no Código de 1973 a intimação pessoal era restrita aos membros do Ministério público; seus bens são inalienáveis, impenhoráveis, não pode ser objeto de hipoteca ou expropriação.
Precatório
Precatório é um título de requisição de pagamento devido pela Fazenda Pública a um beneficiário em face de uma condenação após o trânsito em julgado com por sentença irrecorrível, para dívida superior a 60 (sessenta) salários mínimos da fazenda federal, de 40 (quarenta salários mínimos para a fazenda estadual e de 30 (trinta) salários mínimos para a fazenda municipal, excluindo-se a dívida de pequeno valor). 
Os precatórios podem ser referentes a salários, indenizações por morte ou invalidez, de natureza alimentar, ações como tributos e desapropriações. E é com esta requisição que o exequente busca a satisfação do seu direito perante o ente público. Sendo que, de acordo com a Constituição Federal, o pagamento dos precatórios segue a ordem cronológica.
 
Responsabilidade patrimonial
A responsabilidade patrimonial é um instituto do direito processual civil; já a obrigação é representada por uma situação jurídica contraída no direito material, na qual uma parte tem o dever de satisfazer o direito da outra. Quando esse direito não é satisfeito voluntariamente pelo devedor, gera inadimplemento, surgindo a possibilidade de sujeição do patrimônio, denominada de responsabilidade patrimonial.
No processo de execução contra a Fazenda Pública não há do que se falar em responsabilidade patrimonial, pois os bens dos entes federados não são passíveis de alienação, penhora, hipoteca etc. O máximo que poderá ocorrer é o sequestro de alguns bens (não sendo indicado pelo credor) em caso de preterimento (omissão) na ordem de pagamento de precatório ou inexistência de valores necessários para à satisfação do débito. (Artigo 100, parágrafo 6º da Constituição Federal). O sequestro não pode ser concedido de ofício, e sim, a requerimento do credor.
Do procedimento de execução
O procedimento da execução de pagar a quantia certa contra a fazenda Pública requer uma forma diferenciada das existentes para execução contra o particular. A particularidade está relacionada ao o princípio da continuidade do serviço público, tendo em vista que seus bens são de utilização pública e o princípio da isonomia em que o pagamentos são feitos na ordem cronológica, inexistindo preferencia aos credores, obstando injustas perseguições e favorecimentos pessoais motivadas por razoes de caráter jurídico-administrativo. Com exceção de débitos alimentares para credores que tenham mais de 60 (sessenta) anos na data da expedição do precatório e para os portadores de doenças graves até o limite de 3 (três) vezes o valor previsto no art. 100 da Constituição Federal.
No Código de processo civil de 1973, sendo a natureza do título judicial ou extrajudicial, a execução era demandada em processo autônomo; já no Código de 2015 haverá cumprimento de sentença quando o título executivo for judicial, com a citação para oposição de embargos. (arts. 534-535, CPC), e processo autônomo de execução, quando o título for extrajudicial.
Título judicial é aquele que passa pelo processo de conhecimento, que pode ser resultado de uma sentença ou até mesmo de uma decisão interlocutória, ou decisão homologatória, Os títulos judiciais estão elencados no art.515 do NCPC; já o título extrajudicial (art. 784, CPC) é o documento indispensável para a propositura da ação executiva, sem o qual não podemos falar em execução. Nulla executio sine titulo (não há execução sem título).
Do cumprimento de sentença dos títulos judiciais
O artigo 534 do Código de processo civil estabelece os requisitos do cumprimento de sentença em que a Fazenda Pública tem o dever de pagar a quantia certa. O presente artigo traz os quesitos para instauração do procedimento executivo. O exequente apresentará o demonstrativo descriminado e atualizado do crédito.
A petição inicial deverá conter: a qualificação do exequente, o índice de correção monetária usado no cálculo, os juros aplicados e as respectivas taxas, o termo inicial e o termo final do juro e da correção monetária, a periodicidade de capitalização dos juros e as especificações de descontos obrigatórios. (são ajustes de certos valores, tendo como base a inflação de u período, com objetivo de compensar perda do valor da moeda). (Inciso de I a VI, cada um apresentar CPC). Havendo pluralidade de exequentes, cada um apresentará seu próprio demonstrativo, sendo aplicáveis as regras do litisconsórcio multitudinário previsto no art. 113. (parágrafo 1º).
Parágrafo 2º: a multa prevista no parágrafo 1º do art. 523 não se aplica à Fazenda Pública. A multa de dez por cento que incide sobre o valor exequendo, quando o executado não efetua o pagamento voluntariamente, não é aplicada à Fazenda Pública, tendo em vista que, o Poder Público como um protetor do interesse da coletividade, não pode sofrer oneração excessiva. 
Art. 535, caput. A intimação da Fazenda Pública será realizada na pessoa do seu representante legal, mediante carga, remessa (meio físico), ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:
I - falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu a revelia. Acolhido o argumento, retoma-se a fase de conhecimento, a partir da fase postulatória, e a sentença proferida anteriormente perderá a eficácia em relação à Fazenda Pública;
II – ilegitimidade da parte (impossibilidade de postular em juízo, falta de titularidade para pleitear direito). Também pode ser alegada ilegitimidade da Fazenda Pública para responder pela execução; 
III – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação. (Hipótese de inexigibilidade é o não vencimento do prazo para o pagamentovoluntario;
IV – excesso de execução ou cumulação indevida de execução. Ocorre nos casos em que a parte pretende executar quantia superior à dívida. Hipótese em que, caberá a Fazenda Pública declarar o valor que entender correto, discriminando o cálculo que será apresentado, sob pena de não conhecimento da arguição (parágrafo 2º);
Art. 917, parágrafo 2º. Manifesta excesso de execução quando:
I - o exequente pleiteia valor quantia superior à do título;
II – ela recai sobre coisa diversa daquela declarada no título;
III – ela se processa de modo diferente do que foi determinada no título;
IV – o exequente, sem cumprir prestação a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da prestação do executado;
V – o exequente não prova que a condição se realizou.
V – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução. É admitida alegação de incompetência por petição, não sendo mais por exceção, como no Código de 1973;
VI – qualquer causa extintiva, modificativa da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição. Desde que superveniente ao trânsito em julgado da sentença.
Pagamento: restituição da quantia devida. Ou seja, a Fazenda Pública já havia efetuado o pagamento;
Novação: criação de uma nova obrigação, substituindo e extinguindo uma obrigação anterior;
Compensação: uma pessoa é credora da outra devedora ao mesmo tempo, extingue-se a obrigação até o montante do valor devido. Obrigação recíproca;
Transação: o credor aceita receber uma quantia menor devido à morosidade para receber ou inadimplemento por parte do devedor;
Prescrição: perda do direito de acionar o judiciário pelo decurso de prazo.
Compensação em favor da Fazenda Pública. O artigo 100, parágrafo 10 da Constituição Federal estabelece que, antes da expedição dos precatórios, o Tribunal intimaria a Fazenda Pública para que, no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena de perda de direito de compensação, informasse a existência de débitos do credor que pudessem ser compensados. Não era qualquer débito, pois, segundo o parágrafo 9º do art. 100, da CF, a compensação só era possível nos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa.
O Supremo Tribunal Federal, em questão de ordem para modular os efeitos das ações declaratórias de inconstitucionalidade 4.357/DF e 4.425/DF, pronunciou: “consideram-se válidas as compensações, os leilões e os pagamentos à vista por ordem crescente de créditos na EC nº 62/2009, desde que realizados até 25.03.2015, data a partir da qual não será possível por tais modalidades”.
Dos títulos extrajudiciais
Art. 910. Trata-se da regulamentação da execução de títulos extrajudiciais contra a fazenda Pública, nos mesmo moldes tratado no cumprimento de sentença. Arts. 534 e 535. A diferença é que, no cumprimento de sentença há uma ação que passa por todo processo de conhecimento para que seja prolatada a sentença a ser executada: enquanto que no título extrajudicial já há um título com quantia líquida e certa pronta para ser executada.
Neste caso, a Fazenda Publica será citada para opor embargos em 30 (trinta) dias, podendo alegar qualquer matéria que lhe será lícito deduzir no processo de conhecimento.
Caso não se manifeste ou sejam rejeitados os embargos, serão expedido precatório ou RPV (requisição de pequeno valor em favor do exequente.
Súmula 279, STJ: “É cabível execução de título extrajudicial contra a Fazenda Pública”.
Emenda Constitucional 94/2016
A Emenda constitucional 94, publicada em 15.12.2016 trata de um novo sistema de precatório, fazendo alteração no art. 100 da Constituição Federal. Assim, os precatórios a cargo dos Estados, Distrito Federal e Municípios pendentes até 25.03.2015, e aqueles a vencer até 31.12.2020, poderão ser pagos até 2020, dentro de um regime especial.
O parágrafo 2º aduz que débito de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária, tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou que seja portadores de doença grave, ou pessoas com deficiência, assim definido na forma da lei, serão pagos com preferencia sobre todos os demais.
Parágrafo 17. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios aferirão mensalmente, em base anual, o comprometimento de suas respectivas receitas correntes líquidas com o pagamento de precatório e requisição de pequeno valor.
Para tanto, houve outras alterações importantes, como nos incisos I que define do que se trata receita corrente líquida: incisos II, III, parágrafos 19, 20, art. 101, parágrafo 1º, incisos I, II, III, art. 102, 103, 104 e seus incisos I, II, III, e IV, art. 105 e seu parágrafo único.
Considerações finais
O proposito do presente trabalho foi demonstrar como funciona o processo de execução judicial (cumprimento de sentença) e extrajudicial no direito processual civil brasileiro. Trazendo as alterações pelo novo Código de processo civil.
Constatou-se que a fazenda pública goza de algumas prerrogativas em relação aos demais executados devido suas responsabilidades pela população brasileira, como a vedação a disponibilidade dos seus bens.
Por fim, vemos as alterações feitas pela EC 64/2016 no art. 100 da Constituição Federal que estabelece o regime de pagamento de precatórios e requisição de pequeno valor pela Fazenda Pública.

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