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A ÉTICA NA CONCEPÇÃO PLATÔNICA A resposta de Platão à necessidade de se resgatar o velho sentido da Ética, da Justiça e da Moral, perdidos durante o período de crescimento e enriquecimento de Atenas, contaminados pela hipocrisia, é a "volta a uma sociedade mais simples". Mas não uma volta ao passado real, antes a um passado imaginário situado em algum lugar no futuro no qual os velhos valores – renovados a partir das indagações e críticas de Sócrates – possam orientar uma sociedade estável que tende à perfeição. Assim à dissociação entre o mundo real e os valores éticos Platão contrapõe a necessidade de uma reconstrução da sociedade segundo estes valores, por mais radical que ela possa parecer. O eixo da ampla reforma sugerida por Platão para construir a sociedade perfeita é a substituição da plutocracia que reinava na Atenas Imperial dos mercadores por uma "timocracia do espírito" na qual os governantes seriam os melhores dentre os homens de seu tempo em termos de conhecimento e sabedoria. Platão, como Sócrates combate o relativismo moral dos sofistas. Sócrates estava convencido que os conceitos morais se podiam estabelecer racionalmente mediante definições rigorosas. Estas definições seriam depois assumidas como valores morais de validade universal. Platão atribui a estes conceitos ético-políticos o estatuto de Ideias (Justiça, Bondade, Bem, Beleza, etc), pressupondo destes logo que os mesmos são eternos e estão inscritos na alma de todos os homens. A sua validade é independente das opiniões que cada um tenha dos mesmos. Para Platão a Justiça consiste no perfeito ordenamento das 3 almas e das respectivas virtudes que lhe são próprias, guiadas sempre pela razão. A felicidade consiste neste equilíbrio. A ÉTICA NA CONCEPÇÃO ARISTÓTELICA Aristóteles é o criador da disciplina filosófica da Ética. Em sua Ética, Aristóteles preocupa-se, acima de tudo, com o bem humano. Esse bem, segundo ele, é determinado por dois fatores: 1) Um fator bastante constante, a natureza humana, que se constitui de uma série de elementos corporais ligados a uma forma dinâmica por ele chamada de alma (psyché, donde se origina o adjetivo psíquico). 2) Um segundo fator variável, o conjunto de circunstâncias concretas, chamadas pelos gregos de ocasião. Para Aristóteles, enquanto a política tem como finalidade o bem coletivo a ética tem por finalidade o bem pessoal. A Ética é uma ciência muito pouco exata, uma vez que se ocupa de assuntos passíveis de modificação. A ética se dá na relação com o outro. Para determinar o bem que caracteriza a atividade própria dos humanos Aristóteles analisa as distintas funções do composto humano. A primeira delas é a vida. Mas a vida é comum aos homens, aos animais e as plantas. A segunda função é sentir. Mas sentir é comum aos humanos e aos animais. A terceira função é a razão. E esta é que distingue os seres humanos de todos os viventes inferiores. Portanto, a razão é a principal característica do ser humano. E sua principal atividade deve consistir em viver conforme a razão. A razão deve dirigir e regular todos os atos humanos. E nisso consiste essencialmente a vida virtuosa. E, para o filósofo, o fim último de uma vida virtuosa é ser feliz. Portanto, a felicidade tem que ser o correto desempenho do que lhes é próprio: o uso correto da razão. A ÉTICA NA CONCEPÇÃO KANTIANA Para a sociedade moderna, a ética adquire novos significados. Com o desenvolvimento de novas tecnologias e o surgimento de novas teorias sobre o universo, a ciência passa a influenciar mais diretamente a vida das pessoas, possibilitando uma compreensão diferenciada das coisas. Mas é com Imanuel Kant que a ética dos tempos modernos adquire uma característica mais individualista, influenciada pela razão humana e pelo espírito capitalista. Desenvolve-se uma teoria ética inteiramente subordinada à razão, em que o homem é sujeito de seu processo cognitivo e de suas atitudes éticas. Contrariando a visão cristã sobre a questão ética, Kant diz que não existe bondade natural, mas somos por natureza egoístas, ambiciosos, cruéis, agressivos e que, devido a estas atitudes somos capazes de matar, roubar, mentir. É justamente por isso que precisamos do dever para nos tornarmos seres morais. A teoria do dever ético, defendida por Kant, propõe que o conceito ético seja extraído do fato de que cada um deve se comportar de acordo com princípios universais. Um exemplo seria o dever de cumprir com um compromisso assumido. Ao assumir um compromisso, devemos agir de acordo com os princípios universais pré-estabelecidos. O contrato é a lei entre as partes. Kant propôs que os conceitos éticos sejam alcançados através da aplicação de alguns princípios ou regras, a saber: qualquer conduta aceita como padrão ético deve valer para todos os que se encontrem na mesma situação, sem exceções; só se deve exigir dos outros o que exigimos de nós mesmos; devemos agir de alguma forma que a causa que nos levou a agir possa ser transformada em lei universal (CHAUI, 1997). Estes princípios ou regras não estabelece um conteúdo particular de uma ação, mas determinam uma forma geral de ações morais. Fica claro que o dever nasce da vontade de querer o bem e é sempre fundamentado em princípios ou leis que são universais. A crítica que se pode fazer a esta concepção fundamenta-se na dificuldade de alcançar um consenso entre os indivíduos sobre o que é certo e o que é errado. Que princípios universais podem ser válidos para todos? A ÉTICA NA CONCEPÇÃO MARXISTA Um dos maiores pensadores do mundo moderno, Karl Marx, autor do conceito de materialismo histórico, afirmou que as transformações sociais são produzidas pela luta de classes. Estudou profundamente economia e explicou o desenvolvimento da história da cultura através dos mecanismos materiais de produção e distribuição de mercadorias, tentando simultaneamente basear nesse conhecimento uma prática política que levasse à construção de uma sociedade sem classes. Segundo ele, numa sociedade onde vivem exploradores e explorados, é a moral da classe dominante que predomina. Os valores, como liberdade, racionalidade e felicidade, são hipócritas, porque são irrealizáveis numa sociedade fundada na divisão do trabalho. Desta forma, falar em moral universal, ou racionalismo humano, é completamente falso, é camuflar os interesses antagônicos das classes para manter a dominação de uma sobre a outra. Somente poderá existir uma moral verdadeira quando vivermos numa sociedade sem Estado e sem propriedade privada. A crítica a essa concepção está na dificuldade de compreender como seria esta sociedade sem Estado e sem propriedade privada. Como a individualidade seria respeitada? A sociedade se auto-regularia? Como as pessoas alcançariam a realização autêntica da ética? Se não existissem classes sociais, haveria uma ética ou uma moral verdadeira entre as pessoas? REFERÊNCIAS CHAUI, Marilena. Convite a Filosofia. São Paulo: Ática, 1997. http://afilosofia.no.sapo.pt/platao1.htm
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