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___________________________________________________________________ CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA MÓDULO I DIREITO PROCESSUAL CIVIL __________________________________________________________________ Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010 Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 1/25 DIREITO PROCESSUAL CIVIL 1. JURISDIÇÃO 1.1. Formas de Composição da Lide Relembrando a tripartição clássica de Montesquieu, a atividade jurisdicional é reconhecida como sendo uma das funções do poder estatal, ao lado das funções administrativas e legislativas. O poder, em si, é uno e indivisível, estabelecido nas três funções mencionadas, criando um sistema de freios e contrapesos. O objeto da atividade jurisdicional é a solução de conflitos de interesse (lide) no âmbito do sistema jurídico. Podemos dividir as formas de solução da lide em: • autotutela: a primeira forma de solução de litígio ocorre por meio da autotutela, isto é, a hipótese em que as partes solucionam suas controvérsias de maneira direta, sem a intervenção de um terceiro estranho à própria lide. Qualquer meio poderia ser utilizado para a solução do conflito, inclusive a força bruta, representada pelo poder bélico ou econômico. Ex.: Caso o devedor não pagasse uma dívida, o credor se apropriava de um bem dele de valor equivalente ao crédito. Hoje, a autotutela é rechaçada pelo Direito Penal por meio do art. 345 do CP, exercício arbitrário das próprias razões, sendo, excepcionalmente, autorizada no Direito Moderno, como por meio da legítima defesa da posse (art. 502 do CC). _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 2/25 • autocomposição: aos poucos, a autotutela foi dando lugar a outra forma de solução dos conflitos entre as partes, num sinal de avanço da civilização, mediante o concurso de terceiro desinteressado e imparcial, eleito pelos contendores, como no caso da atual Arbitragem. Podemos enxergar a autocomposição por meio da: • submissão: é a hipótese em que uma das partes deixa de oferecer resistência à pretensão da outra, verdadeiramente se submetendo à outra parte; • desistência: é a hipótese em que uma das partes não se submete, mas abre mão da pretensão em si à outra; • transação: são concessões materiais recíprocas entre as partes. Tais soluções parciais e precárias geraram a arbitragem, forma integral e completa de autocomposição. • jurisdição: somente com o desenvolvimento da noção de Estado e, bem mais tarde, a noção de Estado de Direito, é que a tarefa de solucionar a lide entre as pessoas foi admitida como função do Estado. Há uma absoluta preferência pela solução jurisdicional estatal dos conflitos de interesses, de forma que a doutrina afirma que é um monopólio do Poder Estatal. Tal não é verdade, porém, na medida em que os interessados _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 3/25 podem adotar um meio não jurisdicional de composição dos conflitos, a saber, a arbitragem. Aliás, a arbitragem, opção feita pelos interessados para solução dos litígios expressamente prevista em lei, é um meio alternativo de solução de litígio e, por conseguinte, de pacificação social, não afastando o controle jurisdicional. (art. 5.º, XXXV, da CF). A atividade jurisdicional estatal está em consonância com a Lei n. 9.307/96 que reza no seu art. 1.º: “As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis”. Trata-se, portanto, de mecanismo alternativo à atividade do Poder Judiciário. 1.2. Conceito Jurisdição é uma das funções do Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, imparcialmente, buscar por meio da pacificação do conflito que os envolve o maior bem jurídico do direito que é o justo. É o poder-dever de aplicação do direito objetivo conferido ao magistrado. O Estado, por meio do processo, busca a atuação da vontade do direito objetivo. A jurisdição pode assumir três papéis: • poder: a jurisdição gera um poder de império, na qual as decisões, quando não acolhidas espontaneamente, são impostas para gerar eficácia; _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 4/25 • função: expressa os encargos que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de todos os conflitos, quer interindividuais, quer difusos ou coletivos, mediante a realização do direito justo e pelo processo; • atividade: a jurisdição é, ainda, um conjunto complexo e dinâmico de atos do Juiz no processo, exercendo o poder e cumprindo a função por meio do princípio de legalidade. É somente por meio do devido processo legal que vislumbramos o poder, a função e a atividade jurisdicional. 1.3. Garantias e Princípios da Jurisdição Temos como garantias da jurisdição: • devido processo legal: De acordo com tal garantia, fica assegurado ao indivíduo o direito de ser processado nos termos da lei, garantindo ainda o contraditório, a ampla defesa e o julgamento imparcial; • contraditório: É, além de um princípio fundamental, uma garantia de audiência bilateral, gerando uma indispensável dialética que rege o processo, pois o órgão judicante não pode decidir uma questão ou pretensão sem que seja ouvida a parte contra a qual foi proposta, resguardando, dessa forma, a paridade dos litigantes nos atos processuais. Mesmo no pronunciamento do Juiz inaudita altera pars, há oportunidade de defesa contra quem a pretensão se dirige, inclusive gerando retratação por parte do órgão judicial; _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 5/25 • Juiz Natural: É a garantia segundo a qual todos têm direito de serem julgados por Juiz independente e imparcial. A própria Constituição proíbe os Tribunais de Exceção, isto é, aqueles instituídos para o julgamento de determinadas pessoas ou de crimes de determinada natureza sem previsão constitucional (art. 5.º, inc. XXXVII); • indelegabilidade: É a garantia segundo a qual nenhum dos Poderes pode delegar atribuições. Por se tratar de questão atinente à estrutura e funcionamento do Estado, o próprio texto Constitucional fixa as atribuições de cada um dos Órgãos do Poder Judiciário, bem como do seu conteúdo, não podendo outra fonte, que não seja a própria Constituição, modificar por meio de delegação as atribuições do Poder Judiciário. Por isso, nem a lei infraconstitucional pode, muito menos os próprios Membros do Poder Judiciário, alterar seus âmbitos de atuação; • indeclinabilidade (inafastabilidade): É o princípio expresso no artigo 5.º, inc. XXXV, da Constituição, que garante a todos o acesso ao Poder Judiciário, não podendo este deixar de atender a quem venha deduzir uma pretensão fundada no direito e pedir uma solução a ela. Nem em caso de lacuna ou obscuridade da lei, pode o Juiz escusar-se de proferir decisão (art. 126 do CPC). É o próprio acesso à Justiça; por conseguinte, está afastado do nosso sistema jurídico o nom liquet, isto é, o Juiz deixar de decidir o mérito sob qualquer pretexto; • ampla defesa (art. 5.º, inc. LV, da CF): É o princípio que assegura a todos que estão implicados no processo que, conforme o contraditório, possam produzir provas de maneira ampla, por todos os meios lícitos conhecidos; _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 6/25 • fundamentação das decisões: De acordo com tal princípio, todas as decisões precisamser fundamentadas sob pena de nulidade. A fundamentação é indispensável para que a parte tenha elementos para recorrer – para que a parte possa ter ciência do motivo da decisão; para garantir o princípio da legalidade –, a decisão não é discricionária, sendo a subsunção do fato à norma; • princípio da investidura: As pessoas físicas, representando o Estado no exercício da jurisdição, quer por agentes políticos ou por órgãos, precisam de formal investidura para que encarnem o Estado e tenham poder delegado do mesmo para o exercício da judicatura; • princípio da aderência ao território: A jurisdição, por ser um poder, está sujeita à soberania, isto é, à autoridade suprema do Estado, gerando sua independência de outros, e, por óbvio, tal exercício de poder só pode ocorrer dentro dos limites físicos do território, para não ferir a soberania de outro Estado. Por isso, a decisão de um Juiz brasileiro só poderá produzir efeitos nos Estados estrangeiros com a expressa autorização dos órgãos competentes desses Estados. Da mesma forma, as decisões estrangeiras produzirão efeitos no território nacional; • inevitabilidade: A autoridade dos Órgãos Jurisdicionais advém do Poder Estatal soberano e impõe-se independentemente da vontade das partes. Pouco importa se as mesmas vão ou não aceitar o resultado do processo, pois estão num sistema de sujeição ao Estado – Juiz. • inércia: É o princípio que garante a imparcialidade do Juiz, pois o mesmo se mantém eqüidistante das partes, evitando-se que o mesmo tenha qualquer iniciativa na relação processual. O Juiz somente geraria mais conflitos ao invés de solucionar os já existentes. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 7/25 1.4. Características da Jurisdição • substitutividade: O Estado, por meio do Poder Judiciário, substitui as partes envolvidas na lide. Existem algumas exceções no processo civil, como já vimos, por intermédio da autotutela e da autocomposição. Já no processo penal, não pode haver punição sem o devido processo legal, ainda que o réu queira voluntariamente se submeter à sanção penal. • imparcialidade: O Poder Judiciário instrumentaliza suas atividades por meio de seus órgãos e agentes. Para que goze de credibilidade, nem os órgãos, nem os agentes podem ter qualquer interesse no desfecho da lide, sob pena de perda do princípio da confiança que as partes têm ao se submeterem voluntária ou involuntariamente à jurisdição. • Escopo Jurídico de Atuação do Direito: O objetivo da jurisdição é garantir o fiel cumprimento do direito substantivo, material, que é presumidamente do conhecimento de todos (art. 3.º da LICC), mas que deve produzir efeitos, muitas vezes, independentemente da vontade das próprias partes. Tanto que o próprio objeto da jurisdição é fazer cumprir o direito objetivo. Em última análise, tal busca é imperiosa, já que o direito objetivo reflete bens jurídicos tutelados pelo Estado de maneira hierarquizada. • lide: O grande escopo da jurisdição é a solução dos conflitos de interesses, muitas vezes, pelo emprego de direitos não cristalizados ou de pretensões insatisfeitas. A jurisdição se substitui aos sujeitos em litígio e restabelece a paz social pela aplicação da norma. Também no processo penal temos lide ou controvérsia, pois de um lado temos a pretensão punitiva e do outro a busca da não incidência de sanção. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 8/25 • inércia: Os órgãos jurisdicionais são por sua própria natureza inertes, havendo dois brocardos importantes sobre a matéria: – ne procedat judex ex officio; – nemo judex sine actore. Se a atividade jurisdicional visa paz social, caso não houvesse inércia, poderia o próprio Estado criar mais conflitos. Ademais, o próprio órgão judicante que desse início à lide, dificilmente iria querer a extinção do processo ou a improcedência da ação, para não dar margem que deu início a algo infundado ou de forma precipitada. No processo penal temos: – princípio da indisponibilidade: o parquet não pode dispor da ação penal; – princípio da obrigatoriedade: o MP não tem discricionariedade para intentar ação penal, adotando-se o princípio de legalidade, pois tem a obrigação de processar fatos delituosos de que tenha notícia, salvo nas hipóteses de representação. A inércia está prevista expressamente no art. 2.º do CPC, no qual o legislador disse que o Juiz não prestará tutela jurisdicional, se não quando a parte requerer, na forma da lei. O CPP tem sua previsão no art. 24 quando diz que a denúncia será promovida pelo MP, porém, em alguns casos, dependerá de requisição do Ministro da Justiça ou de representação do ofendido. A inércia, portanto, prevalece tanto no processo civil quanto no processo penal. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 9/25 Temos exceções: – Juiz pode declarar a falência de um comerciante de ofício, na hipótese de, no transcorrer do processo de concordata, verificar que falta um requisito da mesma (art. 162, da Lei de Falências); – A execução trabalhista pode ter início por ato do Juiz (art. 878, CLT); – A execução penal pode ser instaurada de ofício, no momento em que o Juiz expede a carta de guia para o cumprimento de pena (art. 105, LEP); – Habeas Corpus pode ser concedido de ofício (art. 654 do CPP); • definitividade: Só os atos jurisdicionais podem ser imutáveis, não podendo serem revistos ou mudados. O próprio art. 5.º, inc. XXXVI, da CF estabelece: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”. Coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos de uma sentença, em virtude da qual nem as partes podem repropor a mesma demanda em Juízo ou comportarem-se de modo diferente daquele preceituado, nem os Juizes podem voltar a decidir a respeito, nem o próprio legislador pode emitir preceitos que contrariem, para as partes, o que já ficou definitivamente julgado. Nem os atos administrativos ou legislativos gozam de tal imutabilidade. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 10/25 1.5. Divisão da Jurisdição - ESTADUAL - CIVIL:---- - FEDERAL - COMUM:-------- - ESTADUAL - PENAL:-- - FEDERAL JURISDIÇÃO:---- - MILITAR - ESPECIAL:------ - TRABALHISTA - ELEITORAL Por fim, temos a jurisdição voluntária, também chamada de jurisdição graciosa ou de administração, tratando-se de atividades extraordinárias do Poder Judiciário. • Unidade da Jurisdição: A rigor, a jurisdição não comporta divisões, pois não há pluralidade de soberania. A jurisdição é una e indivisível, assim como o poder soberano é uno e indivisível. • Jurisdição Penal e Civil: O objeto da atividade jurisdicional é uma pretensão de cunho material, como já dissemos. Apesar do objeto material ser muito variado (direito administrativo, comercial, tributário, previdenciário etc.), a tutela pode ser civil ou pode ser penal. A tutela penal é aquela que trata de pretensões punitivas e a tutela civil são todas as demais, por exclusão. São chamadas de causas não penais. Por isso, a Justiça Trabalhista tem, sob esse aspecto, natureza civil. Aliás, é esta a única que não tem nenhuma _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 11/25 competência penal. Já a Justiça Militar é a única que não tem nenhuma atribuição civil. • Existe um relacionamento entre a jurisdição penal e a civil, até porque o ilícito penal não difere da civil, sendo um mero agravamento de uma preexistente ilicitude civil. Apesar dealguns Juízes terem competência civil e outros penais, existem alguns casos de duplicidade de exercício. • Jurisdição Especial ou Comum: A própria CF dispõe sobre as justiças que exercem a jurisdição especial e as justiças que exercem a jurisdição comum. Entre as que exercem jurisdição especial estão: Militar (art. 122 a 124), a Eleitoral (art. 118 a 121), a do Trabalho (art. 111 a 117), e as Militares Estaduais (art. 125, § 3.º). No âmbito da jurisdição comum estão: a Justiça Federal (art. 106 a 110) e as Justiças Estaduais Ordinárias (art. 125 e 126). • Jurisdição Superior ou Inferior: Os órgãos de primeiro grau são chamados órgãos de primeira instância e os de segundo grau de segunda instância. Instância é grau de jurisdição, enquanto entrância é grau administrativo das Comarcas e das carreiras de Juízes e Promotores Estaduais. • Jurisdição de Eqüidade: Determina o art. 127 do CPC que o Juiz decidirá por eqüidade nos casos previstos em lei. Decidir por eqüidade é decidir sem as limitações impostas pela precisa regulamentação legal. A jurisdição de eqüidade está contraposta à jurisdição de direito e sua admissibilidade é excepcional. Nas arbitragens e processo penal é regra geral. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 12/25 1.6. Limites da Jurisdição • Limites Internacionais: Cada Estado, de acordo com suas normas internas, apresentam os limites de sua jurisdição. Temos como critérios: – A conveniência: cada Estado tem os seus próprios valores que independem dos valores adotados por outros Estados; – Viabilidade: cada Estado viabiliza a forma de cumprimento de sentenças. A regra geral é que cada Estado tenha os limites de sua jurisdição, nos limites de seu território. Estão ligados ao território brasileiro: 1) quando o réu tiver domicílio no Brasil; 2) quando a obrigação deverá ser cumprida no Brasil; 3) quando o fato gerador ocorreu no Brasil; 4) quando o objeto da pretensão for um imóvel situado no Brasil, assim como os bens de inventário. No processo penal, o princípio da territorialidade é absoluto. Imunidades à Jurisdição Brasileira: – os Estados estrangeiros; – os Chefes de Estados estrangeiros; – os Agentes diplomáticos. • Jurisdição Voluntária: É a jurisdição graciosa ou de administração judicial de interesses privados. Não há jurisdição porque não há decisão do direito aplicado à lide, em substituição à vontade dos interessados. Não se assemelha à atividade jurisdicional, já que não resolve conflitos, apenas chancela, por força da lei, o que os interessados já resolveram; mas a eficácia depende dessa chancela, _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 13/25 isto é, da manifestação do Poder Judiciário, ainda que com mero cunho homologatório da vontade dos interessados. Não faz coisa julgada. Além de não ser jurisdição, a mesma também não é voluntária, pois caso os interessados não recorram ao Poder Judiciário, não terão outra via para obter a eficácia da medida. Exemplo de jurisdição voluntária é o da separação judicial consensual, em que os cônjuges, com o mesmo objetivo, vão ao Poder Judiciário para pedir manifestação, desfazendo a sociedade conjugal existente. Não há conflito. Ambos querem desfazer a sociedade conjugal por meio da separação consensual. Não basta a vontade deliberada de ambos, pois é imprescindível a homologação do Juiz. 2. DIREITO PROCESSUAL CIVIL 2.1. Direito Material e Direito Processual As normas jurídicas de direito material são aquelas que criam, modificam ou extinguem relações jurídicas, sendo o próprio ato jurídico, havendo, ademais, os atos ilícitos dentro do mundo do fato jurídico. Tratam das relações jurídicas que se travam no mundo empírico. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 14/25 As normas jurídicas de direito processual, por sua vez, disciplinam aquilo que acontece em juízo, com a finalidade de solução da lide. É o instrumento do direito material junto ao Poder Judiciário ou Arbitragem. Por meio do processo é que se consegue dar eficácia e efetividade à norma jurídica do direito material que foi desrespeitada por um dos sujeitos da lide. O direito material visa as relações jurídicas, com conteúdo eminentemente espontâneo. Diante do descumprimento da norma ou do inadimplemento de determinada obrigação, o direito material nada pode fazer, restando ao interessado buscar a tutela jurisdicional para seu interesse violado, o que faz por meio da provocação da atividade jurisdicional. Com a ocorrência de um dano, portanto, a aplicação do art. 159 do CC só poderá ocorrer por intermédio da ação reparatória para compelir “B” a cumprir obrigação perante “A”. As normas jurídicas processuais, portanto, constituem o critério do proceder, enquanto as de direito material constituem o critério de julgar. 2.2. Classificação das Normas Jurídicas - Cogentes ou de ordem pública Quanto a sua obrigatoriedade:----- - Dispositivas _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 15/25 A norma de processo, assim, integra-se no Direito Público, não sendo uma relação de coordenação, mas uma relação de poder e sujeição predominando o interesse público na resolução dos conflitos e controversas. A norma processual, apesar de ter natureza de direito público, nem sempre é cogente. Apesar de não haver processo convencional, em algumas situações, a norma processual fica na dependência da vontade de uma das partes, sendo normas dispositivas. Ex.: Eleição de foro. As normas jurídicas são, portanto, cogentes, imperativas ou de ordem pública, que se caracterizam pelas circunstâncias de deverem ser cumpridas sempre, independentemente da escolha daquele que as deva cumprimento. São regras inderrogáveis pela vontade das partes. Ex.: Regra sobre casamento. Já as normas dispositivas ou facultativas, embora também devam ser cumpridas, podem ser afastadas, nos limites permitidos pela própria lei, pela vontade das partes. Ex.: Regime de casamento do CC. - Obrigação Quanto a natureza das regras jurídicas:---- Dever - Ônus Obrigação: Consiste em atitudes que se devam tomar, sob pena de causar prejuízo à outra parte da relação jurídica, e que deixam de ser exigíveis, desde que cumpridas. Se deixar de ser cumprida, a omissão dará margem ao nascimento de pretensão por parte daquele a quem se deixou de cumprir a obrigação, condenando-se a prestação equivalente ou em dinheiro. Ex.: “A” _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 16/25 firma o compromisso de entregar coisa fungível a “B”. O inadimplemento faz com que “B” tenha o direito em receber o equivalente em dinheiro. Dever: São normas que não se esgotam com seu cumprimento. Ao contrário, exigem que os obrigados ao seu cumprimento contínuem a vigilância, cujo relaxamento, representado pelo descumprimento do dever, determinará o lançamento de penalidade consistente em multa. A multa constitui verdadeira punição ao faltoso no cumprimento do dever. Ônus: Consiste em condutas transitórias e determinam, em decorrência de seu não atendimento, que recaiam as conseqüências desse comportamento sobre o próprio faltoso, não causando qualquer tipo de prejuízo para o outro pólo da relação jurídica. A grande maioria das regras processuais são ônus para as partes, cujo descumprimento desfavorece aquele que deveria cumpri-las. Ex.: Ônus do réu em responder aos termos da petição inicial ajuizada pelo autor. As conseqüências da inércia são, na maiorias da vezes, revelia. Natureza da Norma Processual: Normaprocessual é Direito Público, normalmente cogente com caráter eminentemente técnico. A tecnicidade decorre da instrumentalidade do direito material, absorvendo os princípios básicos de ordem ética e política que orientam o ordenamento jurídico por ele integrado, visando pacificar e fazer justiça. 2.3. Características das Normas Processuais • Direito Processual (Não material): As regras processuais não são materiais, pois dizem respeito à atividade jurisdicional (no processo). _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 17/25 • Normas de Direito Público: São normas decorrentes da soberania Estatal, como já dissemos, de forma que não têm cunho privado, pois estabelecem critérios para a atividade jurisdicional. • Normas Obrigatórias: São normas geralmente cogentes, imperativas ou de ordem pública, não podendo as normas serem afastadas pela vontade das partes. Nem a escolha da arbitragem afasta as regras processuais. O que ocorre é as partes se valerem de regras processuais próprias do sistema arbitral, as quais também não poderão afastar por sua vontade. Há uma opção entre as normas de ordem pública do processo judicial e as regras de ordem pública do processo arbitral. • Normas que Estabelecem Ônus: As regras processuais implicam em ônus, pois o descumprimento traz um peso para aquele que deveria cumpri-la. Há poucos deveres no âmbito das leis processuais, entre os quais o dever de lealdade e urbanidade (art. 14 e 15 do CPC). • Normas Autônomas: Sob o ponto de vista epistimológico, o Direito Processual Civil é autônomo em relação ao Direito Civil. Sob o prisma científico, portanto, os princípios do processo são próprios em relação aos do Direito Civil. Assim, trata-se de uma ciência o processo civil, sob o aspecto teórico prático autônomo. • Norma Interdependente: Sob o ponto de vista ontológico, isto é, sob o prisma da essência do Direito, ou seja, do estudo e do conhecimento em si mesmo, o processo civil é interdependente do Direito Civil. Isto porque o Direito Material e o Direito Processual estão ligados, já que o processo só existe em função do Direito Civil, sendo um instrumento para que o mesmo seja integralmente cumprido. A razão de ser do processo Civil é o Direito Civil. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 18/25 2.4. Fontes da Norma Processual Normas processuais são fontes formais do direito, os meios de formação ou produção da norma jurídica, visando a integração do sistema processual. Temos fontes abstratas e concretas das normas processuais. - Leis - C.F., C. Estaduais, L. As fontes abstratas são: Complementar e L. Ordinária - Usos e costumes - Negócios jurídicos - Jurisprudências - Constitucionais As fontes concretas são:-------------- - Codificadas - Ordinárias:------- - Extravagantes A CF, como fonte concreta, contém normas de superdireito (fontes formais legislativas das normas processuais). A legislação ordinária é o CPC, o CPP, as Leis de Pequenas Causas, etc. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 19/25 3. PRINCÍPIOS 3.1. Princípios da Isonomia As partes são tratadas igualmente perante a lei, na medida de suas desigualdades. Para o tratamento desigual aos desiguais, deve haver fundamentação, como a desigualdade núbia (18 anos para homens e 16 para mulheres), que não fere o princípio da isonomia, devido ao fato de estar comprovado na medicina que as mulheres amadurecem antes dos homens. Alguns artigos do CPC causam dúvidas quanto ao princípio da isonomia, quais sejam: arts. 100, I; 188; 191. 3.1.1. Art. 100, I, do CPC Nas ações de separação, divórcio ou conversão, deve-se observar o foro domiciliar da mulher (foro privilegiado). O STJ se pronunciou dizendo que este artigo não ofende o princípio da isonomia, porque, em alguns Estados ou cidades pequenas, a mulher ainda tem algumas limitações quanto ao acesso à Justiça, tendo em vista a situação patriarcal nesses locais. 3.1.2. Art. 188, do CPC Quando o MP ou a Fazenda Pública forem partes no processo, terão prazo em quádruplo para contestar e prazo em dobro para recorrer. Este artigo não fere o princípio da isonomia, porque os processos em que figuram como partes são de interesse público, e também devido à quantidade de processos nos quais eles devem se manifestar. De acordo com este artigo, a interpretação _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 20/25 deve ser ampliada, tendo o MP um prazo maior, sendo parte ou figurando como custos legis. Deve-se observar ainda que, embora esteja escrito “prazo para contestar”, deve-se ler “prazo para responder”. O MP e a Fazenda Pública, então, têm prazo em quádruplo para contestar, reconvir ou opor exceção. Para oferecer contra-razões de recurso, no entanto, eles possuem prazo simples, tendo em vista o art. 188 referir-se apenas aos recursos. No caso de sucumbência recíproca, se a parte recorrer no prazo simples de 15 dias, o MP e a Fazenda Pública, para interpor recurso adesivo, deverão seguir a regra geral dos recursos adesivos, ou seja, o prazo para contra-razões (15 dias). Na expressão “Fazenda Pública”, disposta neste artigo, estão inseridas as pessoas jurídicas de direito público, ou seja, a União, Estados, Municípios, Distrito Federal, autarquias públicas e fundações públicas. 3.1.3. Art. 191 do CPC Quando houver litisconsórcio no processo e os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, os prazos serão contados em dobro. Este artigo não fere o princípio da isonomia porque, se existem advogados diversos, estes deverão consultar os autos para responder, logo deverão ter um prazo maior, tendo em vista que os autos não poderão estar com dois advogados em um mesmo momento. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 21/25 3.2. Princípio do Contraditório As partes devem ter ciência de todos os atos e termos do processo e oportunidades de se defenderem. A CF estendeu a regência do princípio do contraditório aos processo administrativos. Em um processo, prova emprestada consiste em utilizar prova que foi usada em outro processo. No Brasil, admite-se a prova emprestada, desde que seja empregada contra alguém que tenha participado diretamente de sua produção, em respeito ao Princípio do Contraditório. 3.3. Princípio da Demanda Relativo à propositura da ação. O Juiz não age de ofício. Deverá aguardar a provocação das partes, ficando vinculado aos fundamentos trazidos por elas na peça inicial (causa de pedir). 3.4. Princípio Dispositivo Relativo à produção de provas. Quando uma ação versar sobre direito disponível, cabe às partes produzirem as provas, trazendo elementos para o convencimento do Juiz. Não é função do Juiz determinar produção de provas que não forem requeridas pelas partes. O CPC, no entanto, em seu art. 130, dispõe que o Juiz poderá determinar a produção de provas de ofício, ainda que a ação verse sobre direito disponível. _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 22/25 3.5. Princípio da Imparcialidade do Juiz A imparcialidade do Juiz é uma garantia de justiça para as partes. Para que essa imparcialidade seja assegurada, a CF estipulou garantias aos Juízes, prescreveu-lhes vedações e proibiu Juízos e Tribunais de Exceção (art. 5.º, XXXVII, da CF/88). Tribunais de Exceção: são aqueles que têm competência estabelecida após a ocorrência do fato e têm por finalidade julgar um caso que ocorreu antes de sua competência. Juiz Natural: é identificado com observânciadas regras de competência preestabelecidas por lei. Promotor Natural: o STF decidiu pela existência do princípio do Promotor Natural. 3.6. Princípio da Oralidade A maior parte dos termos e atos do processo são orais. Essa oralidade, no entanto, é relativa, visto que os atos praticados oralmente são imediatamente reduzidos a termo. No regime dos Juizados Especiais Cíveis, a oralidade é mais intensa, visto que são poucos os atos reduzidos a termo, havendo, inclusive, a utilização de gravações em fita K7 dos atos praticados oralmente. Há quatro subprincípios que têm em comum a mesma finalidade, qual seja, fazer com que o Juiz fique o mais próximo possível da instrução, da colheita de provas. São eles: _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 23/25 • Imediação: é o Juiz do processo quem colherá as provas. Em casos de carta precatória ou carta rogatória não será possível, no entanto, que o Juiz do processo acompanhe as provas. Essa produção de provas por carta é uma exceção ao princípio da imediação. Todo e qualquer tipo de prova poderá ser realizado por carta; • Identidade física do Juiz (art. 132 do CPC): o Juiz que encerrar a instrução estará vinculado ao processo, ficando obrigado a proferir a sentença, ainda que não esteja mais na Comarca. Quando o Juiz preside uma audiência em que haja produção de provas, ficará vinculado ao julgamento. Existem cinco situações em que o Juiz se desvincula do processo. Ocorre quando: – é convocado para atuar como auxiliar dos Órgãos Superiores (os integrantes do Conselho Superior da Magistratura são o Desembargador Presidente, o Desembargador 1.º Vice- Presidente e o Desembargador Corregedor Geral; os 25 Desembargadores mais antigos integram o Órgão Superior da Magistratura); – é licenciado por motivo de doença (licença paternidade ou maternidade não desvincula o Juiz); – é aposentado; – é promovido; – é afastado. • Concentração: a audiência de instrução no processo civil é sempre una e indivisível. Isto não significa que a audiência deverá ser feita no _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 24/25 mesmo dia. Se houver necessidade de nova data, será marcada uma audiência em continuação; • Irrecorribilidade das decisões interlocutórias: como regra geral, o recurso contra as decisões interlocutórias não tem efeito suspensivo. 4. GARANTIAS CONSTITUCIONAIS PROCESSUAIS São as garantias do devido processo legal, expressamente consagradas no artigo 5.º, LIV, da CF ao afirmar: “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Temos como garantias específicas: • Juiz Natural - vedação aos juízos ou Tribunais de exceção; • Contraditório e ampla defesa; • Igualdade processual - princípio de isonomia; • Publicidade e dever de motivar as decisões judiciárias; • Inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos; • Inviolabilidade de domicílios (art. 5.º, XI); • Sigilo das comunicações em geral e de dados (art. 5.º XII); • Presunção de não-culpabilidade do acusado (art. 5.º, LVIII); _____________________________________________________________________________ MÓDULO I 25/25 • Vedação da identificação criminal datiloscópica (art. 5.º, LVIII); • Prisão por autoridade competente; • Direito à liberdade provisória com ou sem fiança (art. 5.º, LXVI); • Vedação da incomunicabilidade do preso (art. 5.º, LXIII). ___________________________________________________________________ CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA MÓDULO II DIREITO PROCESSUAL CIVIL __________________________________________________________________ Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010 Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 1/28 DIREITO PROCESSUAL CIVIL 1 - ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA (1) Supremo Tribunal Federal Superior Tribunal de Justiça Justiça Comum Justiça Especial Federal Estadual Trabalho Eleitoral Militar Trib. Reg. Tribunal Tribunal de Federal de Justiça Alçada TST TSE STM Juizes Juizes Turmas TRT TRE Auditorias Federais Estaduais Recursais Militares Juntas de Tribunal do Juizados Conc. e Juizes Júri Especiais Julgamento Eleitorais (1) As linhas correspondem à estrutura recursal * Quadro Extraído do "Curso Avançado de Processo Civil" – Luiz Rodrigues Wambier, Flávio Renato Correia de Almeida E Eduardo Talamini - Vol. 1, Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento – 2.ª Edição, Editora RT, p. 78 ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 2/28 1.1. Introdução Já vimos que as leis processuais discorrem sobre o exercício da jurisdição. Já as normas de organização judiciária visam regular o funcionamento orgânico, estrutural, do Poder Judiciário regrando serviços auxiliares, atribuindo funções e dividindo a competência dos órgãos, quer colegiados, quer singulares propriamente ditos. Portanto, a estrutura organizacional do Poder Judiciário está organizada por normatização específica. São normas da Administração da Justiça. Tais normas discorrem, como já falamos, sobre tudo que diga respeito à administração da justiça. Estabelece todos os órgãos judiciais, a estrutura de cada um, fixa requisitos para investidura na carreira judiciária, dispõe sobre todos os efeitos administrativos para Juizes e tribunais (período de férias, forma de pagamento, estrutura funcional, estabelece números de funcionários por cartório, etc.). As regras de organização judiciária são: • CF; • Constituições Estaduais; • Leis de Organização Judiciária dos Estados; • Lei Orgânica da Magistratura; • Regimentos Internos dos Tribunais. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 3/28 Adotamos o princípio da jurisdição una, já que não possuímos o contencioso administrativo no Brasil, sendo toda a função jurisdicional exercida pelo Poder Judiciário. Só os tribunais podem garantir o cumprimento dos direitos fundamentais descritos na CF. O Poder Judiciário é uno, sendo una a sua função jurisdicional, segundo o princípio una lex una jurisdictio. 1.2. Funções do Poder Judiciário e Função Jurisdicional Nem toda a atividade jurisdicional está confiada ao Poder Judiciário e nem toda atividade desenvolvida pelo Poder Judiciário é jurisdicional. A tripartição clássica não é rígida. Isso porque o Executivo legisla e o Legislativo julga, tendo o Judiciário funções legislativas e administrativas também. Ex.: o Senado Federal julga o Presidente da República por crime de responsabilidade. No Brasil não existe o contencioso administrativo, pois os tribunais administrativos não tem função jurisdicional, tanto que suas decisões são sempre revistas pelo Poder Judiciário. O judiciário possui atividade legislativa até porque tem iniciativa de leis de organização judiciária, elaborando ainda seus Regimentos Internos (arts. 93, 96 e 125 da CF). O judiciário exerce funções administrativas, por exemplo, em relação ao seu corpo funcional (art. 96, da CF). Concluindo, o judiciário exerce sua função típica, que é julgar, e exerce outras funções atípicas, que é legislar e administrar. Da mesma maneira procedem os demais Poderes. 1.3. Órgãos do Poder Judiciário Dispõe o art. 92 da CF: “São órgãos do PoderJudiciário: ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 4/28 I - O Supremo Tribunal Federal; II - O Superior Tribunal de Justiça; III - Os Tribunais Regionais Federais e Juizes Federais; IV - Os Tribunais e Juizes do Trabalho; V - Os Tribunais e Juizes Eleitorais; VI - Os Tribunais e Juizes Militares; Tribunais e Juizes dos Estados, do Distrito Federal e Território”. O art. 24, X, CF, prevê os Juizados Especiais de Pequenas Causas. Temos ainda no art. 98 da CF os Juizados Especiais para Causas Cíveis de Menor Complexidade e Infrações Penais de Menor Potencial Ofensivo, sendo os recursos julgados por Turmas de Juizes de Primeiro Grau (art. 98, I, CF). Por fim, temos a Justiça de Paz, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto para celebrar casamentos, com mandato de quatro anos (art. 98, II, CF). 1.4. A Independência e Garantias do Poder Judiciário Só a independência e imparcialidade garantem ao Poder Judiciário a função de guardião da liberdade e direitos individuais. Para evitar que o Poder Judiciário seja influenciado pelos outros Poderes e para que o mesmo se mantenha eqüidistante, independente, resguardando o Estado Democrático de Direito, é garantida sua independência política nas garantias da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos, além das vedações e exercícios de determinadas atividades pelo Juiz. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 5/28 Vemos ainda a independência jurídica dos Juizes, não havendo qualquer subordinação hierárquica no desempenho de suas atividades jurisdicionais. O Juiz tem liberdade de convencimento, de consciência, o que não significa discricionariedade, pois deve sempre subsumir a hipótese sob apreciação da lei. A Constituição garante ao Poder Judiciário o autogoverno, possuindo organização e regulamentação autônoma. Possui o Poder Judiciário autonomia administrativa e financeira, já que tem a prerrogativa de elaborar a sua proposta orçamentária (art. 99, CF). Entre as garantias dos Juizes temos duas espécies: • Garantias propriamente ditas (de independência): _ Vitaliciedade: O Magistrado só perde o cargo por sentença judicial (art. 95, I, da CF). Os demais funcionários públicos tem estabilidade, pois podem perder o cargo por procedimento administrativo (art. 41, § 1.º, da CF). A vitaliciedade só é adquirida após dois anos de exercício, ultrapassado o estágio probatório; _ Inamovibilidade: Não é possível, sem anuência do próprio Juiz, a sua remoção de um lugar para outro (art. 95, II, CF). Abrangem a inamovibilidade o grau, a sede, a comarca ou a seção judiciária, o cargo e o tribunal. Nem a promoção pode ocorrer sem a vontade do Juiz. Excepcionalmente, a anuência pode ser suprida apenas em caso de interesse público e com votos de dois terços dos membros do tribunal (art. 93, VIII, da CF). _ Irredutibilidade de vencimentos: Os vencimentos não podem ser reduzidos, porém é possível a incidência de tributos sobre os vencimentos. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 6/28 • Garantias de Imparcialidade: Para haver imparcialidade, existem alguns impedimentos, vedações, podendo o Juiz exercer apenas uma função de magistério, ainda que em disponibilidade (art. 95, par. ún., CF). 1.5. Organização Judiciária e Constituição Federal As leis da organização judiciária visam estabelecer normas sobre a constituição dos órgãos encarregados do exercício da jurisdição. São normas sob a administração da justiça. Já as leis processuais apresentam normas sobre a atuação da justiça, estabelecendo os procedimentos. As normas de organização judiciária indicam quais e quantos são os órgãos jurisdicionais, apresentando a estrutura de cada um, requisitos para a investidura e dividindo o território nacional em circunscrições. É o regime legal da constituição orgânica do Poder Judiciário. Temos como conteúdo da Organização Judiciária: • Magistratura; • Duplo Grau de Jurisdição; • Composição dos Juízos; • Divisão Judiciária; • Épocas para trabalho forense. Magistratura: É o conjunto dos Juizes, Desembargadores, e Ministros que integram o Poder Judiciário. Só os Juizes togados se consideram Magistrados, excluindo os Juizes de fato (jurados), os Juizes classistas (em ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 7/28 extinção), e os Juizes de Paz. Nem os membros do MP fazem parte da Magistratura. A Magistratura é organizada em carreira. A carreira tem início por meio de concurso público de provas e títulos, não adotando o Brasil o sistema de co-optação (escolha pelos próprios membros do judiciário), também não adotando o sistema de eleição, só admitindo a indicação, como veremos abaixo, para Ministros. A nomeação para Ministros do STF, STJ e STM se faz mediante livre vontade do Presidente da República com aprovação do Senado Federal (arts. 101 e 103 da CF). Temos ainda a figura do “Quinto Constitucional”, hipótese em que membros do parquet e advogados passam a integrar os tribunais estaduais por intermédio de uma escolha discricionária do Governador do Estado, adotando como parâmetro uma lista tríplice oferecida pelo próprio tribunal (Órgão Especial), lista esta originariamente sêxtupla e proveniente do próprio MP e da OAB. Composição dos Juízos: Normalmente os Juizes de primeiro grau da justiça são monocráticos (um só Juiz), já os órgãos superiores são colegiados. 1.6. Supremo Tribunal Federal O STF, chamado Corte Constitucional, é o órgão de cúpula do Poder Judiciário no Brasil. Surgiu após a proclamação da República, pelo Dec. n. 848, de 11.11.1890. Tem por objeto primordial velar pela integridade e fiel cumprimento da ordem constitucional por meio de seus princípios e regras. O art. 102 da CF disciplina sua competência. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 8/28 Somente dois tribunais não pertencem a qualquer das justiças, o STF e STJ. Não visam julgar recursos ordinários. Têm competência originária e são órgãos de superposição, isto é, julgam recurso interpostos em causas que já tenham exaurido todos os graus da justiça nas justiças comuns e especiais. O STF julga recurso extraordinário e o STJ recurso especial. Somente visam questões de direito, nunca de fato. Somente tratam de direito federal (normas de fontes federais), nunca estaduais. O STF é o ápice da estrutura judiciária nacional. É a máxima instância de superposição. Tem como função precípua manter a eficácia e efetividade da Constituição e sua unidade substancial em todo o país. Não temos uma corte constitucional como em outros sistemas europeus, com controle concentrado de todas as questões constitucionais. Temos um controle difuso da constitucionalidade, feita de maneira fragmentárias pelos Juizes no âmbito de suas atribuições e competências. O STF exerce um controle concentrado por meio da ação direta de inconstitucionalidade. Compete ao STF julgar: • ação declaratória de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual perante a CF (art. 103 da CF); • recurso extraordinário interposto contra decisões que contrariem dispositivo constitucional; • mandado de injunção contra o Presidente da República ou altas autoridades federais. O STF também tem competência originária, sendo o tribunal único, especial e de primeiro grau para algumas causas (art. 102, I, “b”, da CF). Ex.: infrações penais do Presidente da República. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 9/28A escolha de um Ministro do STF, conforme o art. 101 da CF, ocorre entre brasileiros natos (art. 12, § 3.º, XII, CF), no pleno gozo de seus direitos políticos, entre cidadãos de no mínimo 35 e no máximo 65 anos de idade, com reputação ilibada e notável saber jurídico. Os Ministros tem todas as garantias e impedimentos dos Juizes togados, sendo julgados pelos crimes de responsabilidade pelo Senado Federal e por crimes comuns pelo próprio STF (art. 52 e 102 da CF). O STF é dividido em duas turmas com cinco Ministros em cada , além das reuniões de plenário. 1.7. O Superior Tribunal de Justiça Foi criado com a CF de 1988, funcionando como órgão destinado a julgar, em última instância, matéria relativa ao direito federal infraconstitucional. Dá a palavra final sobre todas as matérias que se refira ao direito federal. Sua competência está no art. 105 da CF. O STJ somente está abaixo do STF e tem competência em todo o território nacional. Está relacionado com as justiças comuns, exercendo a jurisdição comum, lhe cabendo causas regidas por direito substancial comum, não estando afeto as justiças substanciais especiais (eleitoral, trabalhista, tribunal militar). É o órgão de cúpula da justiça federal, comum no âmbito administrativo e orçamentário (art. 105, par. ún., da CF). É um órgão de superposição e não diz rigorosamente a ultima palavra sobre todas as causas, julgando causas que já foram exauridas pelas instâncias ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 10/28 das justiças. Também possui competência originária. É um tribunal unificador do direito. Defendendo a lei federal, julga os recursos contra as decisões dos Tribunais de Justiça, Tribunais de Alçada, Tribunais Regionais Federais (rt. 105, III, “a”, da CF), julgando lei ou ato de governo local contestado em face de lei federal (letra “b”). O STJ é um unificador da interpretação do direito, cabendo-lhe rever as decisões que deram à lei federal, interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal (art. 105, III, “c”). O STJ tem, no mínimo, 33 Ministros. A composição é heterogênea, já que um terço dos Ministros são nomeados entre Juizes dos TRFs, um terço entre Desembargadores, e um terço entre advogados e membros do parquet. A escolha é feita pelo Presidente da República a partir de listas elaboradas na forma constitucional, sendo a nomeação feita depois da aprovação pelo Senado Federal. As condições para ser Ministro do STJ são as mesmas condições para ser Ministro do STF, exceto tratar-se de brasileiro nato, bastando ser brasileiro (art. 12, § 2.º, da CF). Tem as mesmas garantias e limitações dos togados. 1.8. Tribunais e Juizes dos Estados Na organização das Justiças dos Estados e do Distrito Federal temos: • Juizes de Direito: órgão de primeiro grau (togados e vitalícios); • Tribunais de Alçada e Tribunal de Justiça; • Juizados Especiais Cíveis e Criminais (togados e leigos); • Juizes de Paz; ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 11/28 • Tribunal do Júri (art. 5.º, XXXVIII, da CF). A Administração Superior do judiciário é exclusiva do Tribunal de Justiça, por intermédio do Conselho Superior da Magistratura, órgão disciplinar sobre todos os Juizes, inclusive os de Alçada. Temos também o Órgão Especial do Tribunal de Justiça, composto, em São Paulo, pelos 25 Desembargadores mais antigos, o qual concentra as decisões administrativas. Os tribunais são divididos em câmaras. As câmaras se reúnem em grupos de câmaras. A reunião de todas as câmaras de um tribunal leva o nome de Tribunal Pleno. O Juiz de primeiro grau trabalha numa divisão chamada de Comarca. Comarca é o foro em que tem competência o Juiz de primeiro grau, isto é, o seu território (abrange mais de um Município ou Distrito). Em cada comarca haverá um ou mais juízos (Ofícios Judiciários e Varas). Classificação das Comarcas: No Estado de São Paulo temos quatro Entrâncias, sendo três numeradas ordinalmente (1.ª, 2.ª e 3.ª) e a da capital que é Entrância Especial. A numeração ordinal é atribuída em ordem crescente de importância, e a classificação é feita segundo os critérios do movimento forense, população, número de eleitores e receita tributária. Carreira da Magistratura – Temos os seguintes cargos: • Juiz Substituto; • Juiz de Direito de Primeira Entrância; • Juiz de Direito de Segunda Entrância; • Juiz de Direito de Terceira Entrância (ou Juiz Auxiliar da Capital); • Juizes de Direito de Entrância Especial; ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 12/28 • Juizes de Tribunal de Alçada; • Desembargador. O ingresso é feito mediante concurso de provas e títulos, com uma comissão composta de três Desembargadores e um representante da OAB. Temos o ingresso na Magistratura por advogados e membros do MP que realizam uma lista sêxtupla. A lista passa para o Tribunal de Justiça que a torna tríplice, indo ao Governador para nomeação do cargo chamado de Quinto Constitucional. Justiça Militar Estadual: Somente nos estados onde o efetivo da polícia militar supere 20.000 integrantes é que pode ser criado o Tribunal de Justiça Militar, segundo grau da Justiça Militar Estadual, que tem no Conselho de Justiça o seu primeiro grau de jurisdição. Em casos que o efetivo é inferior, o julgamento é de competência do Tribunal de Justiça do referido estado. A competência está estabelecida no art. 125, § 3.º, da Carta Magna, e diz respeito aos crimes militares dos integrantes da polícia militar estadual, qualquer que seja sua patente. A competência é só penal, não tendo qualquer competência civil. 1.9. Tribunais Regionais Federais e Juizes Federais Temos Órgãos Judiciários Federais e Órgãos Judiciários Estaduais (e Distrital). A estrutura da Justiça Federal é composta: • Juizes Federais: órgãos de primeiro grau; • TRFs (divididos por regiões): órgãos de segundo grau; • STJ e STF: órgãos de terceiro grau. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 13/28 A justiça federal comum foi criada antes da CF de 1891. Foi extinta pela CF de 1937. A CF de 1946 criou o Tribunal Federal de Recursos. As causas eram julgadas em primeiro grau por Juizes Estaduais das capitais dos estados, nas Varas Privativas da Fazenda Nacional. Foi o Ato Institucional n. 2, de 27.10./65, que restabeleceu a justiça federal com a criação dos juízos federais inferiores. Eram três Tribunais Federais de Recursos: Distrito Federal, São Paulo e Recife. Só o do Distrito Federal chegou a funcionar. A CF de 1988 eliminou os Tribunais Federais de Recursos (com competência sobre todo o território nacional) e instituiu os TRFs. A justiça federal de primeiro grau de jurisdição é representada pelos juízos federais que se localizam em todos os estados e no distrito federal. Há um Tribunal do Júri em cada estado. O território brasileiro é distribuído em sessões judiciárias, uma no distrito federal e uma em cada estado. As sessões estão em regiões e são cinco. Variam o número de Varas por sessões. Justiça Militar da União: Tem competência exclusivamente penal. Tem como órgãos: • Os Conselhos de Justiça Militar (primeiro grau); • Superior Tribunal Militar (segundo grau). Este tem competência para todo o território nacional e é composto de quinze Ministros, todos brasileiros. A nomeação é feita pelo Presidente da República após a aprovação do Senado Federal, sendo dez militares das três Armas, e cinco civis (dois auditores e membros do parquet). ____________________________________________________________________________ MÓDULO II14/28 1.10. Justiça do Trabalho A competência está disposta no art. 114 da CF, onde vemos: “Compete à Justiça do trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da Administração Pública direta e indireta dos municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas”. São órgãos da Justiça do Trabalho (art. 111 da CF): • Juntas de Conciliação e Julgamento (primeiro grau); • Tribunais Regionais do Trabalho (segundo grau); • Tribunal Superior do Trabalho (terceiro grau). Superior Tribunal do Trabalho: É o órgão de cúpula dessa justiça especial, com sede em Brasília e com competência em todo o território nacional. É composto de vinte e sete Ministros. Tribunais Regionais do Trabalho: Compostos pelos Juizes nomeados pelo Presidente da República (arts. 112 e 115, CF). Varas do Trabalho: De acordo com a EC n. 24, de 09.12.1999, a antiga Junta de Conciliação e Julgamento se tornou uma Vara do Trabalho, ocupada por um Juiz singular, passando cada Vara a ter por base territorial a comarca em que está sediada. Algumas Varas abrangem mais de uma comarca. Outras vezes temos mais de uma Vara numa única comarca. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 15/28 1.11. Justiça Eleitoral A competência da Justiça Eleitoral não foi apresentada pela CF, tendo sido recepcionado o Código Eleitoral pelo texto constitucional. Tem como órgãos: • Juizes Eleitorais (primeiro grau); • Tribunais Regionais Eleitorais (segundo grau); • Superior Tribunal Eleitoral (terceiro grau). Tribunal Superior Eleitoral: Órgão máximo da Justiça Eleitoral, com sede no Distrito Federal. Tem sete Ministros. Três do STF, dois do STJ e dois advogados, escolhidos pelo Presidente da República, de uma lista sêxtupla elaborada pelo próprio STF. Tribunais Regionais Eleitorais: Composto de sete Juizes. Dois Desembargadores do Tribunal de Justiça, dois Juizes Estaduais, um Juiz do TRF e dois advogados nomeados pelo Presidente da República (indicação pelo Tribunal de Justiça em lista sêxtupla). Tem competência originária e recursal. Juizes Eleitorais: São Juizes de Direito Estaduais vitalícios que exercem jurisdição nas zonas eleitorais. Tem competência eleitoral, civil e penal, além do cargo administrativo. Juntas Eleitorais: É formada no período de eleição pelo Juiz Eleitoral e mais dois ou quatro cidadãos de notória idoneidade, nomeados pelo Presidente do Tribunal Regional. Está limitada a decidir questões administrativas no período eleitoral. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 16/28 2. COMPETÊNCIA 2.1. Considerações Gerais Os Juizes são dotados de jurisdição e têm um limite, uma medida para esta jurisdição, que é chamada de competência. O CPC define foro como sendo o mesmo que comarca. Portanto, para fins de estudo de processo civil, onde se diz foro se quer dizer comarca (cada comarca é um foro). Entretanto, a Lei de Organização Judiciária, que é uma lei de âmbito estadual, dividiu as comarcas de grande porte em várias unidades administrativas e a cada uma delas deu o nome de foro. Não se deve confundir, portanto, o foro definido no CPC e o foro definido na Lei de Organização Judiciária. As diversas varas que se situam dentro de um foro o CPC denominou de “juízos”. Portanto, aquilo que a Lei de Organização Judiciária chamou de foro, se fosse aplicada a nomenclatura do CPC, deveria ser chamado de “juízo” Então, ainda que a Lei de Organização Judiciária utilize nomenclatura diversa, “foro” será utilizado para denominar comarca, e “juízo” para denominar as diversas varas que se situam no foro. 2.2. Critérios para Apurar a Competência O CPC utiliza três critérios para a apuração da competência: • critério objetivo; • critério territorial; ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 17/28 • critério funcional. O CPC fornece os dados para identificar o foro competente, porém, para apurar o juízo competente, utiliza-se a Lei de Organização Judiciária. 2.2.1. Critério objetivo O critério objetivo se subdivide em razão da matéria e em razão de valor da causa. O critério objetivo em razão da matéria é uma regra de competência absoluta. Quando o valor da causa é utilizado para identificar competência, é uma regra de competência relativa (art. 102 do CPC). A Lei de Organização Judiciária do Estado de São Paulo também dispõe que o valor da causa serve para apurar competência do juízo, entretanto, quando o valor da causa é utilizado para identificar a competência do juízo, será uma regra de competência absoluta. Nos dias de hoje não há nenhuma hipótese em que o foro seja identificado pelo valor da causa. Não há nenhuma situação concreta na lei que utilize o valor da causa para identificar o foro competente. Portanto, hoje, todas as regras de competência que utilizam o valor da causa para identificar a mesma são regras de competência absoluta, visto que são regras para identificar o “juízo” competente. 2.2.2. Critério territorial A competência territorial, de ordinário, é uma regra de competência relativa. Utiliza, normalmente, o domicílio de réu para identificar a competência territorial. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 18/28 2.2.3. Critério funcional A competência funcional se desdobra em competência hierárquica e competência em razão do bom funcionamento do judiciário. Algumas ações devem correr perante as instâncias superiores. Esta é a competência hierárquica, que é uma regra de competência absoluta. Há algumas ações especificas que seriam mais bem julgadas por determinados Juizes (ex.: uma execução correria melhor no mesmo juízo em que correu a ação principal). Estas são regras de competência em razão do bom funcionamento do juízo, e são regras de competência absoluta. 2.4. Competência Internacional A primeira coisa que se deve verificar é se a ação será proposta na justiça brasileira ou na justiça estrangeira. As regras de competência internacional encontram-se nos arts. 88 e 89 do CPC. As hipóteses do art. 88 são de competência concorrente e as hipóteses do art. 89 são de competência exclusiva da justiça brasileira. Nos casos das hipóteses do art. 89, se a ação correu e foi processada perante a justiça estrangeira, trazida para homologação, o STF negará a mesma, fundamentando que a ação é de competência exclusiva da justiça brasileira. Em se tratando das hipóteses do art. 88, a sentença proferida na justiça estrangeira poderá ser trazida para homologação perante o STF, tendo em vista que, nestas hipóteses, a ação poderá ser proposta tanto na justiça estrangeira quanto na justiça brasileira. As hipóteses que não estiverem previstas como de competência concorrente ou exclusiva (hipóteses previstas nos arts. 88 e 89 do CPC), serão ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 19/28 hipóteses de competência exclusiva da justiça brasileira. Havendo uma ação de competência exclusiva da justiça estrangeira proposta na justiça brasileira, tal processo deverá ser extinto e a parte deve ser aconselhada a propor a ação na justiça competente. P.: Suponha que numa hipótese de competência concorrente, foi proposta uma ação na justiça brasileira e a mesma ação na justiça estrangeira; a ação da justiça estrangeirafoi anterior. A ação proposta na justiça estrangeira já tem sentença com trânsito em julgado, enquanto a ação na justiça brasileira ainda está em andamento. Qual das sentenças será válida? R.: Enquanto a sentença estrangeira não for trazida para homologação no STF, será inexistente na justiça brasileira. A partir do momento que a sentença estrangeira foi homologada pelo STF, produzirá os efeitos de coisa julgada e a ação que está em andamento na justiça brasileira deverá ser extinta. Se a sentença estrangeira não for trazida para homologação e na ação que estiver correndo na justiça brasileira for proferida sentença com trânsito em julgado, esta última é a que terá validade. O STF não poderá homologar uma sentença estrangeira com modificações. Um dos requisitos para que o STF homologue uma sentença estrangeira é que esta não encontre óbice no ordenamento jurídico brasileiro ou em sentença brasileira com trânsito em julgado. 2.4.1. Competência concorrente (art. 88 do CPC) • Réu com domicilio no Brasil. • Ações que envolvam obrigações cujo cumprimento deve-se fazer no Brasil. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 20/28 • Ações fundadas em atos ou fatos ocorridos no Brasil. 2.4.2. Competência exclusiva (art. 89 do CPC) • Ações que envolvam bens imóveis situados no Brasil. 2.5. Competência Originária dos Tribunais Superiores Sendo a ação de competência da justiça brasileira, deve-se observar se a ação é de competência originária dos Tribunais Superiores. As regras de competência originária dos Tribunais Superiores estão dispostas na CF/88. 2.6. Competência das Justiças Especializadas Se a ação não for de competência originária dos Tribunais Superiores, deve-se verificar se a competência para propor a ação é das Justiças Especializadas (Justiça Eleitoral, Trabalhista ou Militar). 2.7. Competência da Justiça Comum Não sendo a ação de competência das Justiças Especializadas, deve-se verificar se a ação é de competência da Justiça Federal ou da Justiça Estadual. Sempre que houver a participação da União, das autarquias federais, as fundações públicas federais e empresas públicas federais, a competência será deslocada para a Justiça Federal. As sociedades de economia mista federais não deslocam a competência para a Justiça Federal. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 21/28 Questões: • Caixa Econômica Federal (autarquia federal): competência da Justiça Federal. • Banco do Brasil (sociedade de economia mista): competência da Justiça Estadual. • Ordem dos Advogados do Brasil – OAB (autarquia federal): competência da Justiça Federal. • Petróleo Brasileiro S/A - PETROBRÁS (sociedade de economia mista): competência da Justiça Estadual. • Banco Central (autarquia federal): competência da Justiça Federal. • Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS (autarquia federal): competência da Justiça Federal. A CF dispõe que a participação das entidades desloca a competência para a Justiça Federal, salvo nas ações que envolverem falência ou acidente de trabalho. As ações que têm a participação do INSS, a priori, correm perante a Justiça Federal, salvo se for ação que envolva acidente de trabalho, que correrá perante a Justiça Estadual. A CF, entretanto, dispõe que nas pequenas comarcas onde ainda não exista Vara Federal para julgar as ações previdenciárias, estas serão julgadas pelo juízo estadual. Quando o Juiz estadual julga uma ação previdenciária, ele estará na função de Juiz federal; portanto, se o Juiz estadual dá uma sentença e há recurso, este deverá ser julgado pelo TRF. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 22/28 P.: Se houver um conflito de competências entre um Juiz federal e um Juiz estadual, quem irá resolver este conflito? R.: Não pode ser o Tribunal de Justiça porque este não pode dar uma decisão que vincule a Justiça Federal; da mesma forma não poderá ser o TRF porque este não pode dar uma decisão que vincule a justiça estadual. Portanto, quem deverá solucionar o conflito será o STJ. Súmula n. 150 do STJ: “Compete com exclusividade à Justiça Federal dizer quando a União tem ou não interesse de intervir em um processo”. Portanto, sempre que a União peticiona, requerendo seu ingresso em uma ação, a justiça estadual deverá remeter os autos à justiça federal para que esta reconheça ou não o interesse da União no processo. Nos casos de conflitos de competência entre um Juiz estadual e um Juiz federal, cuja ação verse sobre tema previdenciário, o conflito será solucionado pelo TRF, tendo em vista que, neste caso, o Juiz estadual estará no exercício de função federal. 2.8. Competência de Foro Sendo a ação de competência da justiça estadual, deve-se apurar em qual comarca deverá ser proposta, ou seja, verificar qual o foro competente para a propositura da ação. Os arts. 94, 95 e 100 do CPC servem de base para se apurar o foro competente. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 23/28 2.8.1. Art. 94 do CPC O art. 94 dispõe que as ações pessoais e as ações reais sobre bens móveis devem ser propostas na comarca do domicílio do réu. É uma regra de competência relativa, ou seja, se a ação for proposta no domicílio do autor e o réu não reclamar, ela poderá correr onde foi proposta. 2.8.2. Art. 95 do CPC O art. 95 traz regras de competência para ações reais sobre bens imóveis. Tais ações devem ser propostas na comarca da situação da coisa. É uma regra de competência absoluta. P.: Qual o foro competente para propositura das ações de desapropriação indireta? R.: Na desapropriação indireta o particular requer da Fazenda Pública uma indenização e, sendo indenizado, haverá uma transferência de imóvel. Portanto, é uma ação real sobre bem imóvel, sendo o foro competente o da situação da coisa (art. 95). 2.8.3. Art. 100 do CPC O art. 100 contém algumas normas de competência específicas para determinadas ações (ex.: separação e divórcio correm sempre no foro do domicílio da mulher, ainda que esta seja a autora da ação – foro privilegiado da mulher). P.: Esta regra do foro privilegiado da mulher fere o princípio da isonomia? ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 24/28 R.: Esta norma está em vigor, visto que em alguns estados do Brasil a mulher ainda tem alguma dificuldade de recorrer à justiça em razão do sistema patriarcal. A ação de investigação de paternidade não tem norma específica, portanto deve seguir a norma do art. 94, sendo proposta no domicílio do réu. Se a ação de investigação de paternidade for cumulada com alimentos, deverá seguir a regra específica do art. 100, sendo proposta, portanto, no domicílio do alimentando. A ação de alimentos deve correr sempre no domicílio do alimentando, portanto, no domicílio do autor da ação. Nas ações de reparação de danos por acidente de trânsito o legislador favoreceu a vítima, que poderá optar em propor a ação no foro do local do acidente ou, se preferir, no seu domicílio (pode-se dizer que a vítima tem foro privilegiado). Entretanto, se a vítima propõe a ação no domicilio do réu, esta não poderá alegar incompetência do juízo, visto faltar interesse. Quando a Fazenda do Estado for parte, não terão foro privilegiado, ou seja, se a Fazenda Pública for parte na ação, deverá seguir as regras gerais de competência. Portanto, se a Fazenda Publica for autora, deverá propor a ação no domicílio do réu (nas ações pessoais) ou no foro onde se localiza o imóvel (ações reais). Quando a FazendaPública for ré, a ação deve ser proposta na capital do estado na Vara da Fazenda Pública. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 25/28 2.9. Modificação de Competência Estas hipóteses somente caberão nos casos de competência relativa. As hipóteses de modificação de competência são quatro: derrogação, prorrogação, conexão e continência. 2.9.1. Derrogação de competência Ocorre quando as partes contratantes elegem o foro competente para dirimir as dúvidas decorrentes daquele contrato. Portanto, ocorre a derrogação quando há o fenômeno da eleição de foro. Contrato paritário é aquele que as partes discutem as cláusulas, havendo policitação; contrato de adesão é aquele que é inteiramente estabelecido por um dos contratantes, cabendo à outra parte a opção de aceitar ou não. P.: Se em um contrato de adesão houver a cláusula de eleição de foro, esta será válida? R.: Depende. Se o Juiz perceber que a cláusula de eleição de foro prejudica o aderente, dificultando seu acesso à justiça, a cláusula será considerada inválida. Entretanto, se a eleição de foro não prejudicar o aderente, será considerada válida. 2.9.2. Prorrogação de competência Decorre do fato de que a incompetência relativa não pode ser reconhecida pelo Juiz de ofício, competindo ao réu a alegação de incompetência sob a forma de exceção. Ocorre, então, a prorrogação da ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 26/28 competência quando, havendo incompetência de juízo, o réu não propuser a exceção de incompetência. 2.9.3. Conexão de competência A conexão pressupõe a existência de, no mínimo, duas ações que possuem algo em comum entre si correndo em locais diferentes. Para serem conexas, as ações devem ter identidade de pedido ou de causa de pedir (basta um dos elementos em comum, desde que não haja identidade de partes) O CPC manda que as ações conexas sejam reunidas sob dois argumentos: • economia processual; • para não haver decisões contraditórias. Só se reúnem dois processos por conexão enquanto não houver sentença em nenhum deles. A conexão só deve acontecer se o Juiz, na análise do caso concreto, verificar que, continuando as ações separadas, ocasionaria ou não decisões conflitantes. Caso o Juiz verifique que o trâmite em separado pode, em tese, ocasionar decisões contraditórias, deverá reuni-las por serem elas conexas. Caso as decisões não tenham nenhum alcance comum, deverão tramitar em separado. P.: Caso haja duas ações correndo em juízos de competência absoluta e houver risco de decisões conflitantes o que deve ser feito? R.: O CPC é expresso, afirmando que deve-se suspender o andamento de uma das ações para aguardar o julgamento da outra. ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 27/28 O art. 219 do CPC dispõe que a prevenção é gerada pela citação válida. O art. 106 do CPC dispõe que a prevenção é gerada, no caso de ações conexas, pelo Juiz que deu o primeiro despacho. Há, aqui, um conflito aparente de normas. O art. 106 se refere a Juizes que têm a mesma competência territorial (do mesmo foro), enquanto o art. 219 diz respeito a Juizes de foros diferentes. Portanto, se existirem ações conexas correndo perante Juizes do mesmo foro, estará prevento o juízo que proferiu o primeiro despacho. Porém, se existirem ações conexas correndo perante Juizes de foro diferentes, estará prevento o feito em que ocorreu, em primeiro lugar, a citação válida. P.: A conexão pode ser reconhecida pelo Juiz de ofício? R.: O art. 105 do CPC é expresso dispondo que “o Juiz, de ofício ou a requerimento das partes, poderá determinar a reunião de processos que forem conexos”. Portanto, o Juiz poderá reconhecer a conexão de ofício. P.: O Juiz pode determinar a reunião de processos conexos a requerimento do MP funcionando como custos legis? R.: Se o Juiz pode determinar a reunião de processos conexos de ofício (sem o requerimento das partes), poderá também determinar a reunião de processos conexos à requerimento do MP como custos legis. P.: Qual é o momento apropriado para o réu alegar conexão? R.: A conexão deve ser alegada como preliminar em contestação. Entretanto, se a conexão for alegada de outra forma (por petição, exceção etc.), ainda assim o Juiz poderá reconhecer a mesma, visto que é matéria que o Juiz pode conhecer de ofício. P.: Pode-se alegar conexão de um processo de conhecimento e um de execução? ____________________________________________________________________________ MÓDULO II 28/28 R.: Em princípio, na execução não há sentença de mérito e por este motivo não há risco de sentenças conflitantes, portanto não será possível a conexão. Entretanto, se na ação de execução forem opostos embargos, sendo estes um verdadeiro processo de conhecimento, pode haver a conexão. 2.9.4. Continência Para que haja relação de continência entre duas ações, elas devem ter as mesmas partes, a mesma causa de pedir e pedidos diferentes; entretanto, o pedido de uma deve abranger o pedido da outra (ex.: numa Vara corre uma ação para anular uma cláusula de um contrato e na outra Vara corre uma ação para anular o contrato por inteiro). Quando houver continência, as ações devem ser reunidas para evitar sentenças contraditórias. Entretanto, todas as ações que mantém entre si relação de continência já mantém uma relação de conexão (mesma causa de pedir). Por este motivo, a relação de conexão já é suficiente para a reunião das ações. À continência aplicam-se todas as regras da conexão. ___________________________________________________________________ CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA MÓDULO III DIREITO PROCESSUAL CIVIL __________________________________________________________________ Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010 Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br ____________________________________________________________________________ MÓDULO III 1/18 DIREITO PROCESSUAL CIVIL 1. TIPOS DE PROCESSO 1.1. Classificação dos Processos De acordo com o provimento que constitui o pedido, classifica a doutrina a ação correspondente. A natureza jurisdicional do provimento também condiciona a nomenclatura dessa classificação. Temos os processos de conhecimento, de execução e cautelar. Alguns autores ampliam essa classificação tripartida, acrescendo ação mandamental e ação executiva lato sensu. Temos como exemplo o mandado de segurança ou uma medida de manutenção de posse. A ação executiva gera uma sentença bastante próxima à condenatória, porém, cuja execução não necessita de um novo processo. Temos como exemplo a reintegração de posse. Portanto, com facilidade vemos hoje que temos uma classificação quíntupla das ações. 1.2. Processo de Conhecimento O processo de conhecimento é denominado também declaratória em sentido amplo. Aqui, o órgão jurisdicional declara qual das partes têm direito à pretensão deduzida. As partes, portanto, formulam pedidos aos órgãos da jurisdição, obtendo ou não procedência. E caso de procedência, será acolhida a pretensão do autor, em caso contrário, desacolhida. Os processos de conhecimento se subdividem, de acordo com a natureza do provimento em: ____________________________________________________________________________ MÓDULO III 2/18 • meramente declaratório; • constitutivo; • condenatório. Os processos meramente declaratórios, como o próprio nome diz, declaram a existência ou não de uma relação jurídica em uma determinada situação de fato (art. 4.º, CPC). Temos como exemplo uma ação declaratória de inexistência
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