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CONTABILIDADE GERENCIAL PROFESSOR DANIEL VIEGAS RIBAS FILHO 1 Caracterização da contabilidade gerencial A contabilidade gerencial pode ser caracterizada, superficialmente, como um enfoque especial conferido a várias técnicas e procedimentos contábeis já conhecidos e tratados na contabilidade financeira, na contabilidade de custos, na análise financeira e de balanços, colocados numa perspectiva diferente, num grau de detalhe mais analítico ou numa forma de apresentação e classificação diferenciada, de maneira a auxiliar os gerentes das entidades em seu processo decisório. A contabilidade gerencial, num sentido mais profundo, está voltada única e exclusivamente para a administração da empresa, procurando suprir informações que se “encaixem” de maneira válida e efetiva no modelo decisório do administrador. A contabilidade gerencial também se vale, em suas aplicações, de outros campos de conhecimento não circunscritos à contabilidade. Atinge e aproveita conceitos da administração da produção, da estrutura organizacional, bem como da administração financeira, campo mais amplo, no qual toda a contabilidade empresarial se situa. De maneira geral, portanto, pode-se afirmar que todo procedimento, técnica, informação ou relatório contábeis feitos “sob medida” para que a administração os utilize na tomada de decisões entre alternativas conflitantes, ou na avaliação de desempenho, recai na contabilidade gerencial. Certos relatórios financeiros, todavia, são válidos tanto sob o ponto de vista do interessado externo à empresa quanto sob o ponto de vista da gerência. Diferenças entre a Contabilidade Gerencial e Financeira Embora as informações econômicas possam ser classificadas de várias maneiras, os contadores sempre dividem a informação contábil em dois tipos: financeira e gerencial. O diagrama abaixo ilustra as relações entre a contabilidade financeira e gerencial. Entender essas relações ajuda a entender as necessidades informacionais da gerência. Usuários: Usuários Externos e Administração Administração Características: Demonstrações Financeiras Relatórios Gerenciais Preparados segundos as normas, CPC’s e Legislação Preparados de acordo com as necessidades gerenciais Preparados periodicamente Preparados periodicamente ou quando necessário CONTABILIDADE GERENCIAL PROFESSOR DANIEL VIEGAS RIBAS FILHO 2 As informações da contabilidade financeira são relatadas em demonstrativos financeiros úteis para pessoas ou instituições “de fora” ou externos à empresa. Exemplos de tais usuários incluem acionistas, credores, instituições governamentais e público em geral. Na medida em que a administração usa esses demonstrativos financeiros para dirigir operações atuais e planejar operações futuras, a administração freqüentemente começa a avaliar os resultados já contidos nas demonstrações financeiras. A administração financeira, objetiva e periodicamente, relata os resultados das operações e a condição financeira da empresa de acordo com os princípios fundamentais da contabilidade (PFCs). As informações da contabilidade gerencial incluem dados históricos e estimados usados pela administração na condução de operações diárias, no planejamento de operações futuras e no desenvolvimento de estratégias de negócios integradas. As características da contabilidade gerencial são influenciadas pelas variadas necessidades da administração. Primeiramente, os relatórios de contabilidade gerencial fornecem medidas objetivas de operações passadas e estimativas subjetivas de futuras decisões. O uso de estimativas subjetivas nesses relatórios auxilia a administração a responder às oportunidades de negócios. Segundo, os relatórios gerenciais não precisam ser preparados conforme os princípios fundamentais da contabilidade. Já que somente a administração usa as informações da contabilidade gerencial, o contador pode fornecê-las de acordo com as necessidades da administração. Terceiro, os relatórios de contabilidade gerencial podem ser preparados periodicamente junto com a contabilidade financeira, ou a medida que a administração precisar das informações. Por exemplo, se um gerente sênior estiver tomando uma decisão sobre uma expansão geográfica, o relatório gerencial pode ser desenvolvido em seu formato e dentro de um período planejado que possa auxiliá-lo na decisão. Por último, os relatórios gerenciais podem conter informações para a empresa ou para um segmento dela, como divisão, produto, projeto ou território. Onde termina a contabilidade financeira e onde se inicia a contabilidade gerencial? O ponto de “ruptura” entre os dois grandes ramos da contabilidade não é tão fácil de ser discernido. Certos relatórios, cúpula do processo contábil-financeiro, tais como o Balanço Patrimonial, a Demonstração de Resultados representam, de certa forma, a fronteira entre contabilidade financeira e gerencial. Não se pode afirmar, todavia, que tais peças contábeis, apenas por serem o último degrau ou a súmula do processo de contabilidade financeira, e por servirem preponderantemente aos interessados externos à empresa (bancos, agências governamentais e mesmo acionistas desligados da gerência), não sejam importantes, pelo menos como ponto de partida, para a contabilidade gerencial e para a administração. Assim serão à medida que sirvam como indicador válido do desempenho, mesmo que em largos traços, da empresa, e desde que possam ser utilizados no modelo previsional da gerência. A análise financeira e a de balanços, por exemplo, tanto podem servir para o emprestador de dinheiro na avaliação da segurança do retorno do empréstimo ou financiamento como para a gerência na avaliação de tendência da empresa. Provavelmente, ambos se utilizarão de um bom número de índices calculados da mesma forma, com ênfases diferenciadas. A contabilidade de custos, por sua vez, e todos os procedimentos contábeis e financeiros ligados a orçamento empresarial, a planejamento empresarial, a fornecimento de informes contábeis e financeiros para decisão entre cursos de ação alternativos recaem, sem sombra de dúvida, no campo da contabilidade gerencial. Decisões do último tipo, como fabricar ou comprar, substituição de equipamentos, expansão da planta, redução ou amento de volume, combinação de produtos, etc. requerem informações contábeis (além das de outras disciplinas) que não são facilmente encontradas nos registros da contabilidade financeira. Na melhor das hipóteses, requerem um esforço extra de classificação, agregação e refinamento para poderem ser utilizadas em tais decisões. CONTABILIDADE GERENCIAL PROFESSOR DANIEL VIEGAS RIBAS FILHO 3 Atitudes e características do contador gerencial Se nos fosse perguntado qual ou quais as características que distinguem o bom contador gerencial de outros profissionais ligados à área da contabilidade, diríamos que a fundamental é saber “tratar”, refinar e apresentar de maneira clara, resumida e operacional dados esparsos contidos nos registros da contabilidade financeira, de custos, etc., bem como juntar tais informes com outros conhecimentos não especificamente ligados à área contábil, para suprir a administração em seu processo decisório. Outros conceitos A contabilidade gerencial, segundo o professor Lopes de Sá, através de um sistema de informações, de métodos e conhecimento da organização e da utilização do planejamento, fornecerá informações para atender a necessidade de seus usuários, com relatórios que demonstram os resultados por atividades e global da empresa, comparando-se o planejado com o realizado, para análise da gestão empresarial e da necessidade de tomada de decisões, visando auxiliar a empresaa atingir seus objetivos. O professor Crepaldi define a contabilidade gerencial como “o ramo da contabilidade que tem por objetivo fornecer instrumentos aos administradores de empresas que os auxiliem em funções gerenciais. É voltada para a melhor utilização dos recursos econômicos da empresa, através de um adequado controle dos insumos efetuados por um sistema de informações gerenciais.” A Contabilidade Gerencial é um processo com a finalidade de produzir informações estratégicas, econômicas e de gestão das operações, de custos e das demais atividades organizacionais que ocorrem na empresa, para o processo decisório e de controle, com medidas de desempenho e lucratividade. A contabilidade gerencial é definida por Atkinson como um processo de produzir informações operacionais e financeiras para funcionários e administradores. Que só deve ser direcionado pelas necessidades informacionais dos indivíduos internos da empresa e deve orientar suas decisões operacionais e de investimentos (...) Medidas da condição econômica da empresa, como as de custos e lucratividade dos produtos, dos serviços, dos clientes e das atividades das empresas, são obtidas do sistema de contabilidade gerencial (...) como medida de desempenho econômico de unidades operacionais descentralizadas, como as unidades de negócios, as divisões e os departamentos, ligando a estratégia da empresa à execução da estratégia individual de cada unidade operacional, sendo também, um dos meios primários pelo qual operadores/funcionários, gerentes intermediários e executivos recebem feedback sobre seus desempenhos, capacitando-os a aprenderem com o passado e melhorarem para o futuro. A seguir apresenta-se as distinções entre a contabilidade Gerencial e a contabilidade Financeira, segundo dois autores diferentes. CONTABILIDADE GERENCIAL PROFESSOR DANIEL VIEGAS RIBAS FILHO 4 Figura 1: Comparação entre a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial Contabilidade Gerencial Contabilidade Financeira USUÁRIOS PRIMÁRIOS Gestores da organização em vários níveis. Usuários externos, como investidores e agências governamentais, mas também gestores das organizações. LIBERDADE DE ESCOLHA Sem restrições, exceto custos em relação a benefícios de melhores decisões gerenciais. Restringida pelos princípios de contabilidade geralmente aceitos. IMPLICAÇÕES COMPORTAMENTAIS Preocupação com a influencia que as mensurações e os relatórios exercerão sobre o comportamento cotidiano dos gestores. Preocupação em mensurar e comunicar fenômenos econômicos. As considerações comportamentais são secundárias, embora a compensação dos executivos baseada em resultados relatados possa ter impacto em seu comportamento. ENFOQUE DE TEMPO Orientação para o futuro: uso formal de orçamentos, bem como de registros históricos. Ex.: orçamento de 20X1 comparado com o desempenho real de 20X1. Orientação para o passado: avaliação histórica. Ex.: desempenho real de 20X2 comparado com o desempenho real de 20X1. Horizonte de tempo Flexível, com uma variação que vai de horas a 10 ou 15 anos. Menos flexível: geralmente um ano ou um trimestre. Relatórios Detalhados; preocupam-se com detalhes de partes da entidade, produtos, departamentos, territórios etc. Resumidos; preocupam-se primeiramente com a entidade como um todo. Delineamento de atividades Campo de ação se define com menor precisão. Uso mais intenso de disciplinas como economia, ciências de decisão e comportamentais. Campo de ação se define com maior precisão. Menor uso de disciplinas afins. Fonte: Horngren (2004, p.5) - adaptação CONTABILIDADE GERENCIAL PROFESSOR DANIEL VIEGAS RIBAS FILHO 5 Figura 2: Comparação entre a Contabilidade Financeira e a Contabilidade Gerencial FATOR CONTABILILIDADE FINANCEIRA CONTABILIDADE GERENCIAL Usuários Externos e Internos. Internos. Objetivos dos relatórios Reportar o desempenho passado às partes externas, facilitando a análise financeira. Facilitar o planejamento, controle, avaliação de desempenho e tomada de decisão internamente. Freqüência dos relatórios Anual, trimestral, mensal. Quando necessário pela administração. Custos ou valores utilizados Históricos ( passados). Históricos e esperados (previsões) Bases de mensuração Moeda corrente. Várias (moeda corrente, moeda estrangeira, índices, etc.). Restrições nas informações Regulamentada: dirigida por regras e princípios fundamentais da contabilidade e por autoridades governamentais. Desregulamentada: sistemas e informações determinadas pela administração para satisfazer necessidades estratégicas e operacionais. Natureza da Informação Objetiva, auditável, confiável, consistente e precisa. Mais subjetiva e sujeita a juízo de valor, válida, relevante e acurada. Perspectiva dos relatórios Orientação histórica. Atual, orientada para o futuro para facilitar o planejamento, controle a avaliação de desempenho. Fonte: Padoveze (p.39-40, 2005).
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