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cap 01

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1
Classificação e diagnóstico 
em psiquiatria
I. Introdução
O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 4a edição, texto revisado 
(DSM -IV -TR), publicado em 2000 pela American Psychiatric Association, é o sistema ofi-
cial de classificação utilizado por todos os profissionais da área da saúde mental para 
o diagnóstico de transtornos psiquiátricos. O DSM -IV -TR contém critérios diagnósticos 
para 17 categorias principais de transtornos mentais (Tab. 1.1) e compreende 375 doen-
ças distintas. Todos esses transtornos são abordados neste livro em capítulos separados.
Um sistema semelhante é utilizado na Europa, chamado de Classificação internacional 
de doenças e problemas relacionados à saúde (CID). Ambos, CID e DSM -IV -TR, utilizam os 
mesmos códigos numéricos (os quais devem constar em relatórios médicos e formulários 
de seguro) para cada transtorno. Toda a terminologia deste livro segue a nomenclatura 
oficial e os seus critérios diagnósticos constam na abordagem de cada transtorno.
A classificação e os códigos numéricos do DSM -IV -TR estão listados na página 573 
deste manual.
II. Características básicas do DSM ‑IV ‑TR
 A. Critérios diagnósticos
 1. O sistema diagnóstico do DSM -IV -TR lista critérios diagnósticos para cada trans-
torno.
 2. Caso uma quantidade suficiente de sinais e sintomas seja obtida a partir da 
história e do estado mental do paciente (Ver Cap. 2), é possível estabelecer o 
diagnóstico.
 3. Critérios diagnósticos específicos aumentam a confiabilidade (p. ex., observado-
res diferentes obtêm os mesmos resultados).
 B. Abordagem descritiva
 1. O DSM -IV -TR apenas descreve transtornos mentais e não oferece teorias quanto 
a suas causas. Ele não abrange etiologia nem tratamento.
 2. A abordagem descritiva aumenta a validade. Ela mede o que se propõe (p. ex., 
um paciente diagnosticado com esquizofrenia realmente é esquizofrênico).
III. Definição de transtorno mental
Um transtorno mental é uma doença com manifestações psicológicas e comportamen-
tais associadas com sofrimento significativo e prejuízo no funcionamento causado por 
perturbação biológica, social, psicológica, genética, física ou química. Ele é medido em 
termos de desvio de algum conceito normativo. Cada doença possui sinais e sintomas 
característicos.
Além das classificações do DSM -IV -TR, outros termos utilizados em psiquiatria para 
descrever doenças mentais são os seguintes:
 A. Psicótico. Perda do teste de realidade com delírios e alucinações (p. ex., esquizo-
frenia).
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 B. Neurótico. Não há perda do teste de realidade; baseado em conflitos principalmen-
te intrapsíquicos ou eventos de vida que causam ansiedade; entre os sintomas estão 
obsessão, fobia e compulsão.
 C. Funcional. Não há dano estrutural conhecido nem causa biológica bem definida 
que explique o prejuízo.
 D. Orgânico. Doença causada por um agente específico que produz alteração estrutu-
ral no cérebro; normalmente associada a prejuízo cognitivo, delirium ou demência 
(p. ex., doença de Pick). A expressão orgânico não é usada no DSM -IV -TR, pois 
infere que alguns transtornos mentais não apresentam um componente biológico 
ou químico, no entanto, permanece em uso corrente.
 E. Primário. Não há causa conhecida; também denominado idiopático (semelhante a 
funcional).
 F. Secundário. Identificado com manifestação sintomática de transtorno sistêmico, mé-
dico ou encefálico (p. ex., delirium resultante de uma doença encefálica infecciosa).
IV. Classificação de transtornos no DSM ‑IV ‑TR
 A. Transtornos geralmente diagnosticados pela primeira vez na infância ou na ado‑
lescência
 1. Retardo mental. Funcionamento intelectual abaixo da média; início anterior aos 
10 anos de idade. Associado ao prejuízo do amadurecimento e da aprendizagem 
e inadaptação social; classificado de acordo com o quociente de inteligência (QI) 
como leve (50-55 a 70), moderado (35-40 a 50-55), grave (20-25 a 35-40), ou 
profundo (inferior a 20-25).
 2. Transtornos da aprendizagem. Déficit de amadurecimento no desenvolvimento 
associado a dificuldade de aquisição de habilidades específicas em matemática, 
expressão escrita e leitura.
 3. Transtorno das habilidades motoras. Prejuízos no desenvolvimento de coorde-
nação motora (transtorno do desenvolvimento da coordenação). Crianças com 
esse transtorno geralmente são desajeitadas e descoordenadas.
TABElA 1.1
Grupos de condições no DSM‑IV‑TR*
Transtornos diagnosticados com frequência pela primeira vez na infância ou adolescência
Delirium, demência, transtorno amnéstico e outros transtornos cognitivos
Transtornos mentais devido a uma condição médica geral
Transtornos relacionados a substâncias
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
Transtornos do humor
Transtornos de ansiedade
Transtornos somatoformes
Transtornos factícios
Transtornos dissociativos
Transtornos sexuais e de identidade de gênero
Transtornos da alimentação
Transtornos do sono
Transtornos do controle dos impulsos não classificados em outro lugar
Transtornos da adaptação
Transtornos da personalidade
Outras condições que podem ser foco de atenção clínica
*Cada transtorno é abordado em um capítulo separado neste livro.
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 4. Transtornos da comunicação. Prejuízo desenvolvimental que resulta na dificul-
dade de produção de frases adequadas à idade (transtorno da linguagem ex‑
pressiva), dificuldade no uso e entendimento das palavras (transtorno misto da 
linguagem receptivo ‑expressiva), dificuldade na articulação (transtorno fono‑
lógico) e perturbações na fluência, cadência e ritmo da fala (tartamudez).
 5. Transtornos globais do desenvolvimento. Caracterizados por comportamento 
autista, atípico e retraído; imaturidade exacerbada; desenvolvimento inadequa-
do, dividem -se em transtorno autista (comportamento estereotipado geralmente 
sem fala), transtorno de Rett (perda da fala e das habilidades motoras com redu-
ção do crescimento da cabeça), transtorno desintegrativo da infância (perda da 
fala e das habilidades motoras adquiridas antes dos 10 anos de idade), transtorno 
de Asperger (comportamento estereotipado com alguma habilidade de comuni-
cação) e do tipo sem outra especificação (SOE).
 6. Transtornos de déficit de atenção e do comportamento disruptivo. Caracte-
rizados por desatenção, agressividade excessiva, delinquência, destruição, hosti-
lidade e sentimentos de rejeição, negatividade ou impulsividade. Dividem -se em 
transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (dificuldade de manter a aten-
ção, impulsividade), transtorno da conduta (delinquência) e transtorno desa‑
fiador de oposição (negatividade).
 7. Transtornos da alimentação da primeira infância. Caracterizados por ingestão 
de alimentação inadequada ou bizarra e hábitos de alimentação normalmente 
iniciados na infância ou adolescência e que persistem na idade adulta. Dividem-
-se em pica (ingestão de substâncias não nutritivas) e transtorno de ruminação 
(regurgitação ou remastigação).
 8. Transtornos de tique. Caracterizam -se por vocalizações ou movimentos repen-
tinos, involuntários, recorrentes, estereotipados. Dividem -se em transtorno de 
Tourette (tique vocal e coprolalia), transtorno de tique motor ou vocal crônico 
e transtorno de tique transitório.
 9. Transtornos da excreção. Incapacidade de manter controle do intestino (en‑
coprese) ou da bexiga urinária (enurese) devido à imaturidade fisiológica ou 
psicológica.
 10. Outros transtornos da infância ou adolescência. Transtorno de ansiedade de 
separação (não consegue desligar -se de casa, p. ex., recusa em ir à escola devido à 
ansiedade), mutismo seletivo (recusa voluntária de falar), transtorno de apego 
reativo na infância (prejuízo grave na capacidadede se relacionar, com início 
antes dos 5 anos de idade), transtorno de movimento estereotipado (chupar o 
polegar, bater a cabeça, roer as unhas, beliscar a pele).
 B. Delirium, demência, transtorno amnéstico e outros transtornos cognitivos. Transtor-
nos caracterizados por alteração na estrutura e função cerebrais que resultam em pre-
juízo de aprendizagem, orientação, discernimento, memória e funções intelectuais.
 1. Delirium. Caracterizado pela confusão de curta duração e alterações na cogni-
ção causadas por uma condição médica geral (p. ex., infecção), substâncias 
(p. ex., cocaína, opioides, fenciclidina), ou múltiplas etiologias (p. ex., trauma-
tismo craniano e doença renal). Delirium SOE pode apresentar outras causas (p. 
ex., privação de sono).
 2. Demência. Caracterizada pelo prejuízo grave na memória, no discernimento, na 
orientação e na cognição; demência do tipo Alzheimer – normalmente ocorre 
em pessoas com mais de 65 anos de idade e manifesta -se por desorientação inte-
lectual e demência, delírios ou depressão progressivos; demência vascular – cau-
sada por trombose ou hemorragia; demência causada por uma condição médica 
geral – relacionada ao HIV ou a traumatismo craniano; grupo misto – doença de 
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Pick, doença de Creutzfeldt -Jacob (causada por uma proteína mutante denomi-
nada príon); também pode ser induzida por substância, causada por toxinas ou 
medicamentos – vapores de gasolina, atropina ou múltiplas etiologias e SOE.
 3. Transtornos amnésticos. Caracterizados por prejuízo da memória e esqueci-
mento. Causados por uma condição médica geral (p. ex., hipoxia, toxina), ou 
substância (p. ex., maconha, diazepam [Valium]).
 C. Transtornos mentais causados por uma condição médica geral não classificados 
em outro local. Sinais e sintomas de transtornos psiquiátricos que ocorrem como 
resultado direto da doença. Entre eles estão transtornos associados a sífilis, encefa-
lite, abscessos, doença ou trauma cardiovascular, epilepsia, neoplasia intracrania-
na, transtornos endócrinos, pelagra, avitaminose, infecção sistêmica (p. ex., febre 
tifoide, malária) e doenças degenerativas do sistema nervoso central (SNC) (p. ex., 
esclerose múltipla). Podem produzir transtorno catatônico (p. ex., imobilidade 
resultante de acidente vascular) ou alteração da personalidade (p. ex., resultan-
te de tumor cerebral). Também podem produzir delirium, demência, transtorno 
amnéstico, transtorno psicótico, transtorno do humor, transtorno de ansieda‑
de, disfunção sexual e transtorno do sono.
 D. Transtornos relacionados a substâncias
 1. Transtornos relacionados ao uso de substâncias. Dependência ou abuso de 
drogas psicoativas (anteriormente sob a denominação de drogadição). Abrange 
pacientes adictos ou dependentes de drogas como álcool, nicotina (tabaco) e 
cafeína. Os pacientes podem ser dependentes de opioides (p. ex., ópio, alcaloi-
des opiáceos e seus derivados, e analgésicos sintéticos com efeitos semelhantes 
aos da morfina); alucinógenos (p. ex., dietilamida do ácido lisérgico [LSD]); 
fenciclidina; hipnóticos, sedativos ou ansiolíticos; cocaína, cannabis (haxi-
xe, maconha); anfetaminas; e inalantes.
 2. Transtornos induzidos por substâncias. Fármacos psicoativos e outras subs-
tâncias podem causar síndromes de intoxicação e abstinência, além de deli-
rium, demência persistente, transtorno amnéstico persistente, transtorno 
psicótico, transtorno do humor, transtorno de ansiedade, disfunção sexual 
e transtorno do sono.
 3. Transtornos relacionados ao álcool. Subclasse de transtornos relacionados a 
substâncias que inclui intoxicação com álcool (embriaguez simples); abstinên-
cia de álcool; delirium por intoxicação (devido a estado de embriaguez de vá-
rios dias); delirium por abstinência de álcool (também denominado delirium 
tremens [DTs]); transtorno psicótico induzido pelo álcool (inclui alucinose 
alcoólica – distinta de DTs por sensório claro); transtorno amnéstico persisten‑
te induzido pelo álcool ([síndrome de Korsakoff] – geralmente antecedida por 
encefalopatia de Wernicke, uma condição neurológica de ataxia, oftalmoplegia 
e confusão, ou as duas podem coexistir [síndrome de Wernicke -Korsakoff]); e 
demência persistente induzida pelo álcool (distinta da síndrome de Korsakoff 
por déficit cognitivo múltiplo). Também podem ocorrer transtorno do humor, 
transtorno de ansiedade, disfunção sexual e transtorno do sono induzidos 
pelo álcool.
 E. Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. Abrange transtornos manifestados 
por perturbações de pensamento e interpretação errônea da realidade, frequente-
mente acompanhada por delírios e alucinações.
 1. Esquizofrenia. Caracterizada por alterações no afeto (ambivalente, constrito e 
responsividade inadequada; perda de empatia em relação a terceiros), compor-
tamento (retraído, agressivo, bizarro), pensamento (distorção da realidade, às 
vezes com delírios e alucinações) e cognição. A esquizofrenia inclui cinco tipos:
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1. desorganizada (hebefrênica) pensamento desorganizado, riso nervoso, afe-
to superficial e inadequado, comportamento e maneirismos tolos e regressi-
vos, queixas somáticas frequentes e delírios e alucinações eventuais transitó-
rios e desorganizados;
2. catatônica – o subtipo de perturbação psicomotora é caracterizado por 
atividade motora em excesso e às vezes violenta, e o subtipo de imobilidade 
motora tem como característica a inibição generalizada, estupor, mutismo, 
negativismo, flexibilidade cérea, e em alguns casos, estado vegetativo;
3. paranoide – esquizofrenia caracterizada por delírios de grandiosidade ou 
de perseguição e, às vezes, por alucinações ou religiosidade excessiva, e o 
paciente muitas vezes é hostil e agressivo;
4. indiferenciada – comportamento desorganizado com delírios e alucinações 
proeminentes; e
5. residual – sinais de esquizofrenia após um episódio esquizofrênico psicótico, 
em que os pacientes não estão mais psicóticos (o transtorno depressivo 
pós ‑psicótico da esquizofrenia pode ocorrer durante a fase residual).
 2. Transtorno delirante (paranoide). Transtorno psicótico associado a delírios 
persistentes (p. ex., erotomaníaco, grandioso, invejoso, persecutório, somático, 
sem especificação). Paranoia é uma condição rara caracterizada pelo desenvol-
vimento gradual de um sistema delirante complexo com ideias de grandiosida-
de; apresenta curso crônico; o restante da personalidade se mantém intacto.
 3. Transtorno psicótico breve. Transtorno psicótico com duração inferior a quatro 
semanas causado por estressor externo.
 4. Transtorno esquizofreniforme. Semelhante à esquizofrenia, com delírios, alu-
cinações e incoerência, mas com duração inferior a seis meses.
 5. Transtorno esquizoafetivo. Caracteriza -se por uma mecla de sintomas esquizo-
frênicos e elação acentuada (tipo bipolar) ou depressão (tipo depressivo).
 6. Transtorno psicótico induzido. O mesmo delírio ocorre em duas pessoas, sen-
do que uma delas é menos inteligente que a outra ou mais dependente dela 
(também denominado folie à deux).
 7. Transtorno psicótico devido a uma condição médica geral. Alucinações ou 
delírios que resultam de uma doença (p. ex., epilepsia do lobo temporal, avita-
minose, meningite).
 8. Transtorno psicótico induzido por substância. Sintomas de psicose causados 
por substância psicoativa ou de outra natureza (p. ex., alucinógenos, cocaína).
 9. Transtorno psicótico SOE (também denominado psicose atípica). Característi-
cas psicóticas relacionadas a
1. cultura específica (koro – encontrado nas regiões sul e leste da Ásia, medo de 
encolhimento do pênis);
2. um determinado período de tempo ou evento (psicose pós -parto – de 48 a 72 
horas após o parto); ou
3. um conjunto singularde sintomas (síndrome de Capgras – pacientes acredi-
tam possuir um clone).
 F. Transtornos do humor (anteriormente denominados transtornos afetivos). 
Caracterizam -se por alteração no humor (p. ex., depressão) que domina a vida 
mental do paciente, sendo responsável pela redução do funcionamento. Os trans-
tornos de humor podem ser causados por uma condição médica geral ou por 
uma substância (p. ex., drogas [cocaína] ou fármacos [agentes antineoplásicos, 
reserpina] psicoativos).
 1. Transtornos bipolares. Caracterizam -se por alterações graves de humor entre 
depressão e euforia e por remissão e recorrência. Bipolar I – episódio manía-
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co ou misto, geralmente com episódio depressivo maior; bipolar II – episódio 
depressivo maior com episódio hipomaníaco (menos intenso do que mania); 
transtorno ciclotímico – tipo menos grave do que transtorno bipolar.
 2. Transtornos depressivos. Transtorno depressivo maior – humor gravemente 
depressivo, retardo mental e motor, apreensão, inquietação, perplexidade, agi-
tação, sentimentos de culpa, ideação suicida, em geral recorrente. Transtorno 
distímico – forma menos grave de depressão, geralmente causada por evento 
ou perda identificável (anteriormente denominado neurose depressiva). Depres‑
são pós ‑parto ocorre dentro do período de 1 mês após o parto. Depressão de 
padrão sazonal (também denominada transtorno afetivo sazonal [TAS]) ocorre 
com maior frequência durante os meses de inverno.
 G. Transtornos de ansiedade. Caracterizados por ansiedade intensa e persisten-
te (transtorno de ansiedade generalizada), com frequência beirando o pânico 
(transtorno de pânico) e medo de sair de casa (agorafobia); medo de situações 
ou objetos específicos (fobia específica) ou de desempenho e fala em público (fo‑
bia social); intrusão involuntária e persistente de pensamentos, desejos, compul-
sões ou ações (transtorno obsessivo ‑compulsivo). Inclui o transtorno de estres‑
se pós ‑traumático – segue -se a estresse extraordinário (guerra, catástrofe) e se 
caracteriza por ansiedade, pesadelos, agitação e, às vezes, depressão; transtorno 
de estresse agudo – semelhante ao transtorno de estresse pós -traumático, mas 
dura quatro semanas ou menos. Também pode ser causado por (1) condição médi‑
ca geral (p. ex., hipertireoidismo) ou (2) substância (p. ex., cocaína).
 H. Transtornos somatoformes. Caracterizados pela preocupação com o corpo e te-
mor de doença. Classificam -se em transtorno de somatização – queixas somáticas 
múltiplas sem patologia orgânica; transtorno conversivo (anteriormente denomi-
nado histeria, síndrome de Briquet) – são afetados os sentidos especiais ou o sistema 
nervoso voluntário, resultando em cegueira, surdez, anosmia, anestesia, parestesia, 
paralisia, ataxia, acinesia ou discinesia; os pacientes podem apresentar ausência de 
preocupação inadequada (la belle indifference) e podem obter benefícios de suas 
ações (ganho secundário); hipocondria (neurose hipocondríaca) – caracteriza-
da pela preocupação com o corpo e temores persistentes de uma suposta doença; 
transtorno doloroso – preocupação com dor para a qual contribuem fatores psico-
lógicos; transtorno dismórfico corporal – preocupação infundada que uma parte 
do corpo é deformada.
 I. Transtornos factícios. Caracterizados pela produção intencional ou simulação de 
sintomas psicológicos, físicos, ou ambos, para assumir o papel de enfermo (tam-
bém denominado síndrome de Munchausen).
 J. Transtornos dissociativos. Caracterizados por alteração repentina e temporária na 
consciência ou identidade. Amnésia dissociativa (psicogênica) – perda de me-
mória sem causa orgânica; fuga dissociativa (psicogênica) – afastamento físico 
de casa sem explicação; transtorno dissociativo de identidade (transtorno de 
personalidade múltipla) – a pessoa apresenta duas ou mais identidades distintas; 
transtorno de despersonalização – sentimento de que as coisas são irreais.
 K. Transtornos sexuais e da identidade de gênero. Dividem -se em parafilias, trans-
tornos da identidade de gênero e disfunções sexuais. Nas parafilias, os interesses 
sexuais da pessoa dirigem -se principalmente a objetos, em vez de outras pessoas, a 
atos sexuais que não estão normalmente associados ao coito, ou ao coito praticado 
sob circunstâncias bizarras. Entre as parafilias estão exibicionismo, fetichismo, 
frotteurismo, pedofilia, masoquismo sexual, sadismo sexual, travestismo feti‑
chista (vestir -se com a roupa do sexo oposto), e voyeurismo. As disfunções sexuais 
incluem transtornos do desejo sexual (transtorno de desejo sexual hipoati‑
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vo, transtorno de aversão sexual), transtorno da excitação sexual (transtorno 
da excitação sexual feminina, transtorno erétil masculino [i. e., impotência]), 
transtornos do orgasmo (transtorno do orgasmo feminino [i. e., anorgasmia]), 
transtorno do orgasmo masculino (i. e., ejaculação retardada ou demorada, eja-
culação precoce), e transtornos sexuais dolorosos (dispareunia, vaginismo). A 
disfunção sexual pode ser causada por uma condição médica geral (p. ex., escle-
rose múltipla) ou induzida por substância (p. ex., anfetamina). Os transtornos 
da identidade de gênero (incluindo o transexualismo) se caracterizam por incô-
modo com o próprio sexo biológico e o desejo de livrar -se das próprias característi-
cas sexuais (p. ex., castração).
 l. Transtornos da alimentação. Caracterizam -se pela perturbação acentuada do com-
portamento alimentar. Inclui anorexia nervosa (perda de peso corporal, recusa 
para comer) e bulimia nervosa (ingestão compulsiva de alimentos com ou sem 
vômito).
 M. Transtornos do sono. Abrangem:
(1) dissonias, quando o indivíduo não consegue adormecer ou manter o sono 
(insônia) ou dorme demais (hipersonia);
(2) parassonias, como transtorno de pesadelo, transtorno de sonambulismo 
e transtorno de terror noturno (o indivíduo desperta imóvel em estado de 
terror);
(3) narcolepsia (ataques de sono com perda do tônus muscular [cataplexia]);
(4) transtorno do sono relacionado à respiração (ronco, apneia); e
(5) transtorno do ritmo circadiano do sono (sonolência diurna, jet lag).
 Os transtornos do sono também podem ser causados por uma condição médica 
geral (p. ex., doença de Parkinson) e abuso de substância (p. ex., alcoolismo).
 N. Transtornos do controle dos impulsos não classificados em outro local. Abran-
gem transtornos nos quais os indivíduos não conseguem controlar impulsos e os 
executam. Incluem transtorno explosivo intermitente (agressão), cleptomania 
(furto), piromania (provocar incêndios), tricotilomania (arrancar cabelos) e jogo 
patológico.
 O. Transtornos da adaptação. Reação mal -adaptativa a um estresse de vida bem de-
finido. Divide -se em seis subtipos, conforme os sintomas – com ansiedade, humor 
depressivo, misto de ansiedade e depressão, com perturbação da conduta e 
com perturbação mista das emoções e da conduta.
 P. Transtornos da personalidade. Transtornos caracterizados por padrões mal-
-adaptativos de comportamento profundamente arraigados, geralmente de uma vida 
inteira, que costumam ser reconhecidos durante a adolescência ou antes dela.
 1. Transtorno da personalidade paranoide. Caracterizado por suspeita sem fun-
damento, hipersensibilidade, ciúme, inveja, rigidez, autoimportância excessiva 
e tendência a culpar e atribuir motivação maldosa a terceiros.
 2. Transtorno da personalidade esquizoide. Caracteriza -se por timidez, sensibili-
dade excessiva, preferência por solidão, esquiva de relacionamentos íntimos ou 
competitivos, excentricidade, fantasia e habilidade para expressar hostilidade e 
agressividade; não há perda de capacidade de reconhecer a realidade.
 3. Transtorno da personalidade esquizotípica. Semelhante à personalidadees-
quizoide, mas o indivíduo exibe leve perda do teste de realidade, possui crenças 
estranhas, é retraído e distante.
 4. Transtorno da personalidade obsessivo ‑compulsiva. Caracteriza -se por preo-
cupação excessiva com conformidade e padrões de consciência; o paciente pode 
ser rígido, extremamente minucioso, dedicado, inibido e incapaz de relaxar (três 
Ps – pontual, poupador e preciso).
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 5. Transtorno da personalidade histriônica. Caracteriza -se por instabilidade 
emocional, excitabilidade, reação excessiva, vaidade, imaturidade, dependência 
e autodramatização para atrair a atenção e seduzir.
 6. Transtorno da personalidade esquiva. Caracteriza -se por baixos níveis de 
energia, tendência a cansar -se facilmente, ausência de entusiasmo, incapacidade 
de aproveitar a vida e sensibilidade extrema ao estresse.
 7. Transtorno da personalidade antissocial. Abrange indivíduos em conflito com 
a sociedade. Incapazes de lealdade, são egoístas, insensíveis, irresponsáveis, im-
pulsivos e incapazes de sentir culpa ou aprender por experiência; apresentam 
baixo nível de tolerância à frustração e tendência a culpar aos outros.
 8. Transtorno da personalidade narcisista. Caracteriza -se por sentimentos de 
grandiosidade, merecimento, inveja, manipulação, ausência de empatia e carên-
cia de atenção e admiração.
 9. Transtorno da personalidade borderline. Caracteriza -se por instabilidade, im-
pulsividade, sexualidade caótica, atos suicidas, comportamento automutilador, 
problemas de identidade, ambivalência e sentimento de vazio e tédio.
 10. Transtorno da personalidade dependente. Caracteriza -se por comportamen-
to passivo e submisso; o indivíduo não se sente seguro de si e torna -se totalmen-
te dependente de terceiros.
 Q. Outras condições que podem ser foco de atenção clínica. Inclui condições nas 
quais não há transtorno mental, mas o problema é o foco do diagnóstico ou trata-
mento.
 1. Fatores psicológicos que afetam a condição clínica. Transtornos caracteriza-
dos por sintomas físicos causados ou afetados por fatores emocionais; costumam 
envolver um único sistema de órgãos com controle ou estímulo do sistema ner-
voso autônomo. Exemplos: dermatite atópica, dor nas costas, asma brônquica, 
hipertensão, enxaqueca, úlcera, colo irritável e colite (também denominados 
transtornos psicossomáticos).
 2. Transtornos dos movimentos induzidos por medicamentos. Transtornos 
causados por medicamentos, especialmente antagonistas dos receptores do-
paminérgicos (p. ex., clorpromazina [Thorazine]). Inclui parkinsonismo, sín‑
drome maligna induzida por neuroléptico (rigidez muscular, hipotermia), 
distonia aguda (espasmo muscular), acatisia aguda (inquietação), discinesia 
tardia (movimentos coreiformes) e tremor postural.
 3. Problemas de relacionamento. Prejuízo na interação social de uma unidade de 
relacionamento. Inclui problemas de relacionamento entre pai/mãe ‑criança, 
problemas de relacionamento com parceiro e problemas de relacionamento 
com irmãos. Também pode ocorrer quando um membro é doente mental ou 
físico, o que acarreta estresse para o outro.
 4. Problemas relacionados a abuso ou negligência. Inclui abuso físico e abuso 
sexual de crianças e adultos.
 R. Outras condições que podem ser foco de atenção clínica. Condições nas quais os 
indivíduos apresentam problemas que não são graves o suficiente para estabelecer 
diagnóstico psiquiátrico, mas que interferem no funcionamento. Classificam -se em 
comportamento antissocial em criança ou adolescente e em adulto (reinci-
dência de atos criminosos), funcionamento intelectual borderline (QI 71-84), 
simulação (produção voluntária de sintomas), falta de aderência ao tratamento, 
problema ocupacional ou acadêmico, problema de fase da vida (paternidade/
maternidade, desemprego), luto, declínio cognitivo relacionado à idade (esque-
cimento normal decorrente de idade avançada), problema de identidade (escolha 
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profissional), problema religioso ou espiritual e problema de aculturação (imi-
gração).
 S. Outras categorias. Além das categorias diagnósticas enumeradas acima, outras cate-
gorias de doenças são listadas no DSM -IV -TR que necessitam de mais estudos antes 
de integrarem oficialmente o DSM -IV -TR ou que são controversas. Entre elas estão:
 1. Transtorno pós ‑concussão. Prejuízo cognitivo, cefaleia, problemas de sono, 
irritabilidade, tontura, alteração na personalidade após lesão na cabeça.
 2. Transtorno neurocognitivo leve. Perturbações na memória, compreensão e 
atenção resultantes de uma doença (p. ex., desequilíbrio de eletrólitos, hipoti-
reoidismo, estágios iniciais de esclerose múltipla).
 3. Abstinência de cafeína. Fadiga, depressão, cefaleias e ansiedade após a inter-
rupção do consumo de café.
 4. Transtorno depressivo pós ‑psicótico da esquizofrenia. Um episódio depres-
sivo, que pode ser prolongado, que surge após uma doença esquizofrênica.
 5. Transtorno deteriorante simples (esquizofrenia simples). Caracteriza -se 
por excentricidades de conduta, inabilidade em corresponder às exigências da 
sociedade, embotamento do afeto, perda de volição e empobrecimento social. 
Delírios e alucinações são evidentes.
 6. Transtorno depressivo menor, transtorno depressivo breve recorrente, e 
transtorno disfórico pré ‑menstrual. O transtorno depressivo menor está 
associado a sintomas leves, como angústia e preocupação excessiva com sin-
tomas autônomos menores (tremor e palpitações). O transtorno depressivo 
breve recorrente é caracterizado por episódios recorrentes de depressão, sen-
do que cada um dura menos de duas semanas (geralmente de 2 a 3 dias) e 
cada um termina com recuperação total. Transtorno disfórico pré ‑menstrual 
ocorre uma semana antes da menstruação (fase lútea) e se caracteriza por 
humor deprimido, ansiedade, irritabilidade, letargia e perturbações do sono.
 7. Transtorno misto de ansiedade ‑depressão. Caracteriza -se por sintomas tan-
to de ansiedade quanto de depressão, sendo que nenhum é predominante (de-
nominado neurastenia na CID).
 8. Transtorno factício por procuração. Também conhecido como síndrome de 
Munchausen por procuração; os pais simulam doença nos filhos.
 9. Transtorno de transe dissociativo. Caracterizado por perda temporária do 
senso de identidade pessoal e consciência do ambiente; o paciente age como 
se fosse possuído por outra personalidade, espírito ou força.
 10. Transtorno de compulsão periódica. Variante da bulimia nervosa, caracteri-
zada por episódios recorrentes de ingestão compulsiva de alimentos sem vômi-
to autoinduzido nem abuso de laxantes.
 11. Transtorno da personalidade depressiva. Caracteriza -se por pessimismo, 
anedonia, tristeza crônica e solidão.
 12. Transtorno da personalidade passivo ‑agressiva. Caracteriza -se por teimosia, 
procrastinação e ineficiência intencional multiplicada por agressão subjacente 
(também denominado transtorno da personalidade negativista).
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