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ELETROMAGNETISMO I 1 0 ANÁLISE VETORIAL Este capítulo oferece uma recapitulação aos conhecimentos de álgebra vetorial, já vistos em outros cursos. Estando por isto numerado com o zero, não faz parte de fato dos nossos estudos de eletromagnetismo. Sem ele o tratamento dos fenômenos de campos elétricos e magnéticos torna-se mais complicado, uma vez que estes são obtidos matematicamente através de operações vetoriais. SISTEMA DE COORDENADAS Um exemplo prático de um sistema de coordenadas encontra-se numa carta geográfica onde um ponto é localizado em função da latitude e da longitude, isto é, medidas angulares que são tomadas em função de um referencial neste sistema plano. No espaço, um ponto também pode ser perfeitamente determinado quando conhecemos a sua posição em vista de um sistema de coordenadas. Particularmente no espaço tridimensional, um ponto é determinado em função de 3 coordenadas. Os sistemas de coordenadas definem um ponto no espaço como fruto da intersecção de 3 superfícies que podem ser planas ou não. Vamos nos ater aqui a três tipos de sistemas de coordenadas: cartesianas, cilíndricas e esféricas. Sistema de coordenadas cartesianas, também conhecido por coordenadas retangulares, define um ponto pela intersecção de 3 planos. Neste sistema um ponto P (x, y, z) é definido pela intersecção dos planos x, y e z constantes paralelos respectivamente ao plano y0z, ao plano x0z e ao plano x0y, conforme a figura 0.1. É o sistema (x, y, z). Figura 0.1 O sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares (x, y, z). UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 2 Sistema de coordenadas cilíndricas. Neste sistema de coordenadas o ponto P (r, φ, z) é determinado pela intersecção de uma superfície lateral cilíndrica de raio r constante e altura infinita, pelo semiplano φ constante (que contem o eixo z) e finalmente pelo plano z constante, como pode ser mostrado na figura 0.2. É o sistema (r, φ, z). Figura 0.2 O sistema de coordenadas cilíndricas (r, φ, z) Sistema de coordenadas esféricas que define um ponto P (r, θ, φ) na superfície de uma esfera de raio r constante centrada na origem, vinculando-o pela intersecção desta superfície com uma outra cônica θ (ângulo formado com o eixo y) constante e um semiplano φ (contendo o eixo z) constante, melhor esclarecido pela figura 0.3. É o sistema (r, θ, φ). Figura 0.3 O sistema de coordenadas esféricas (r, θ, φ) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 3 VETOR Muitas grandezas necessitam de uma direção e de um sentido além do valor e da unidade, ou seja, de sua intensidade para uma definição perfeita. Assim, definiremos os vetores como representantes de classes ou conjuntos de segmentos de retas orientadas com mesma intensidade ou módulo, direção e sentido no espaço. A figura 0.4 mostra um mesmo vetor representado por segmentos de retas de mesmo tamanho, mesma orientação e paralelas no espaço. vr Figura 0.4 A classe de vetores vr no espaço VERSOR OU VETOR UNITÁRIO Trata-se de um vetor de módulo 1, com a direção de um dado vetor vr Um vetor vvaˆ . r é definido como múltiplo o submúltiplo de m vezes este versor aˆ e possui o mesmo sentido quando m for positivo ou o sentido oposto, caso m seja negativo. Assim, um vetor pode ser expresso como o produto de um versor por um escalar de modo que: v vaˆmv =r (0.1) Outra forma de se indicar um versor é aquela que exprime a relação entre um vetor e o seu próprio módulo, isto é, v v v vaˆv r r r == (0.2) Se conhecermos o sistema de coordenadas, um ponto P pode ser localizado no espaço pelas componentes de um vetor posição que vai da origem deste sistema de coordenadas ao referido ponto. Trata-se de uma soma vetorial das componentes orientadas por seus versores. Um vetor V r cuja origem coincide com a origem de um sistema de coordenadas cartesianas e com extremidade no ponto P pode ser dado por: zzyyxx aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.3) Do mesmo modo o ponto P pode ser determinado nos sistemas cilíndrico e esférico sendo a soma vetorial das componentes dadas respectivamente por zzφφrr aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.4) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 4 φφθθrr aˆVaˆVaˆV)OP(V ++=−= r (0.5) A figura 0.5 mostra os três versores aplicados em P. Os vetores unitários do sistema retangular apresentam direções fixas, independentemente do ponto P, o que não ocorre nos outros dois sistemas de coordenadas (exceto para o versor ), onde cada versor é normal à sua superfície coordenada, coerente com o sentido de crescimento de cada coordenada associada ao ponto P. zaˆ Figura 0.5 Versores das componentes coordenadas. PRODUTO ESCALAR É uma operação vetorial cujo resultado é um valor escalar, ou seja, uma grandeza algébrica; um valor numérico precedido de um sinal. O produto escalar entre dois vetores A r e B r cujas direções formam um ângulo α entre eles é denotado por BA rr ⋅ cujo resultado é dado por: αcosABBA =⋅ rr (0.6) Pela relação (0.6) observamos que o produto escalar entre dois vetores multiplica o módulo de um vetor pelo módulo da projeção do outro sobre ele. De acordo com a figura 0.6, em uma linguagem matemática podemos escrever: Aproj.BBproj.ABA BA ==⋅ rr (0.7) O produto escalar entre dois vetores resulta positivo quando o menor ângulo entre eles é agudo. Resulta nulo quando os vetores forem perpendiculares e será negativo quando o ângulo α entre os vetores estiver entre 90º e 180º inclusive. UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 5 Figura 0.6 O produto escalar entre A r e B r . Sendo o resultado de um produto escalar um valor algébrico, a propriedade comutativa pode ser assim verificada: ABαcosBAαcosABBA rrrr ⋅===⋅ (0.8) Sejam dois vetores em um sistema de coordenadas onde zzyyxx aˆAaˆAaˆAA ++= r e zzyyxx aˆBaˆBaˆBB ++= r . Considerando que o produto escalar entre dois versores paralelos possui módulo igual a 1 e que entre versores perpendiculares o resultado é nulo, o produto escalar será dado por zzyyxx BABABABA ++=⋅ rr (0.9) O quadrado do módulo de um vetor pode ser obtido a partir do produto escalar de um vetor por ele próprio. Assim, 2 z 2 y 2 x 2 AAAAAA ++==⋅ rrr (0.10) PRODUTO VETORIAL O produto vetorial entre dois vetores A r e B r , onde suas direções formam um ângulo agudo α entre eles, denotado por BA rr × , fornece como resultado outro vetor com as características abaixo: 1. Intensidade: αsenABαsenB.ABA ==× rrrr ; 2. Direção: perpendicular aos dois vetores A r e B r ; 3. Sentido: o do avanço de um parafuso de rosca direita, fornecido pela regra da mão direita, na ordem em que se tomam os dois vetores. Em linhas gerais o produto vetorial de dois vetores A r e B r pode ser expresso na direção e sentido de um versor naˆ perpendicu ar al A r e B r , cujo sentido é dado pela regra da mão direita e ilustrado na figura 0.7. Assim, naˆ)αsenAB(BA =× rr (0.11) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 6 Figura 0.7 O produto vetorial entre A r e B r Podemos também verificar sem nenhuma dificuldade que este produto não é comutativo e podemos escrever que se o versor estiver definido naˆ naˆ)αsen(ABBAAB −=×−=× rrrr (0.12) Podemos observar na figura 0.5 que os versores das coordenadas são perpendicularesentre si em qualquer um sistema. Assim, cada versor pode ser estabelecido em função dos outros dois como o resultado de um produto vetorial. Para um sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares teremos: yxz xzy zyx aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.13) Da mesma forma para um sistema de coordenadas cilíndricas: φrz rzφ zφr aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.14) E para um sistema de coordenadas esféricas: θrφ rφθ φθr aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ aˆaˆaˆ =× =× =× (0.15) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 7 Estas expressões mostram que cada versor pode ser determinado em função dos outros dois. Pela relação (0.12) verificamos que se invertermos a ordem dos versores no produto vetorial, teremos um versor negativo àqueles obtidos pelas relações (0.13), (0.14) e (0.15). Quaisquer dois vetores ou versores paralelos possuem o produto vetorial nulo, visto que sen 0 = sen π = 0. ELEMENTOS DIFERENCIAIS DE VOLUMES, LINHAS E SUPERFÍCIES Sistema cartesiano Tomemos um paralelepípedo elementar de arestas dx, dy e dz conforme a figura 0.8 (a), onde o seu volume dv é dado por dz.dy.dxdv = (0.16) O elemento vetorial de linha Ld é dado pela soma vetorial de suas arestas dx, dy e dz orientadas pelos versores , e resultando na diagonal do paralelepípedo, de maneira que xaˆ yaˆ zaˆ zyx aˆdzaˆdyaˆdxLd ++= r (0.17) Figura 0.8 Comprimentos, áreas e volumes elementares. Sistema cilíndrico Tomaremos agora um paralelepípedo curvilíneo cujas arestas serão dadas por dr, r.dφ e dz mostradas na figura 0.8 (b). Da mesma forma como procedemos no sistema retangular, o elemento de volume será dzφrdrddz.φrd.drdv == (0.18) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 8 E o comprimento elementar Ld será dado então pela soma de suas componentes dr, rdφ e dz orientadas pelos versores , e onde raˆ φaˆ zaˆ zφr aˆdzaˆφrdaˆdrLd ++= r (0.19) Sistema esférico Considerando ainda um paralelepípedo curvilíneo de arestas dr, r.dθ e r.senθ.dφ mostradas na figura 0.8 (c), o elemento de volume será dado por φdθdrdθsenrφdθsenr.θrd.drdv 2== (0.20) Logo, o comprimento elementar Ld será dado por φθr aˆφdθsenraˆθrdaˆdrLd ++= r (0.21) Os elementos de área, em qualquer dos três sistemas de coordenadas, podem ser determinados sem maiores dificuldades em qualquer sistema de coordenadas, uma vez que bastará multiplicar as arestas elementares que definem a superfície da face em questão. UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 9 IDENTIDADES VETORIAIS As identidades vetoriais relacionadas abaixo podem ser provadas, embora algumas exijam do estudante um pouco de trabalho “braçal”. Simplificando a notação vetorial para as identidades que seguem, os vetores são indicados apenas por letras maiúsculas, sem as setas, enquanto que os escalares estão representados por letras minúsculas. Assim: ( ) ( ) ( ) BACACBCBA ⋅×≡⋅×≡⋅× (a) ( ) ( ) ( )CBABCACBA ⋅−⋅≡×× (b) ( ) BABA ⋅∇+⋅∇≡+⋅∇ (c) ( ) vuvu ∇+∇≡+∇ (d) ( ) BABA ×∇+×∇≡+×∇ (e) ( ) ( AuuAuA ⋅∇ )+∇⋅≡⋅∇ (f) ( ) ( ) ( uvvuuv ∇+∇≡∇ ) ) (g) ( ) ( ) ( AuAuuA ×∇+×∇≡×∇ (h) ( ) ( ) ( BAABBA )×∇⋅−×∇⋅≡×⋅∇ (i) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )ABBAABBABA ×∇×+×∇×+∇⋅+∇⋅≡⋅∇ (j) ( ) ( ) ( )BAABABBABA ∇⋅−∇⋅+⋅∇−⋅∇≡××∇ (k) vv 2∇≡∇⋅∇ (l) 0A ≡×∇⋅∇ (m) 0v ≡∇×∇ (n) ( ) AAA 2∇−⋅∇∇≡×∇×∇ (o) UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino ELETROMAGNETISMO I 10 EXERCÍCIOS DE APLICAÇÃO 1) Encontre o vetor que liga o ponto P (5, 7, -1) ao ponto Q (-3, 4, 1). Calcule também o vetor unitário ou versor associado ao vetor determinado por A r A r . 2) Determine a distância entre os pontos A (5 mm; π; 2 mm) e B ( 3 mm; -π/6; -2 mm), dados em coordenadas cilíndricas. 3) Dados e , calcule a projeção do vetor zy aˆ10aˆ4A += r yaˆ3B = r A r sobre a direção do vetor . B r 4) Dados os vetores zyx aaaA ˆ3ˆ4ˆ2 −+= r e yx aˆaˆB +−= r , calcule os produtos escalar e vetorial entre eles. 5) Dados e , calcule o menor ângulo formado entre eles usando o produto vetorial e o produto escalar entre eles. yx aˆ4aˆ2A += r zy aˆ4aˆ6B −= r 6) Determine a expressão para o produto vetorial entre dois vetores genéricos e A r B r num sistema cartesiano e mostre que ele pode ser calculado a partir do determinante de uma matriz 3 x 3. 7) Estabeleça uma condição de paralelismo entre dois vetores a partir do produto vetorial entre eles. 8) Obtenha a condição de ortogonalidade entre dois vetores. 9) Use um sistema de coordenadas esféricas para calcular a área sobre uma casca esférica de raio r com α ≤ θ ≤ β. Qual o resultado quando α = 0 e β = π? 10) Dado o plano A x + B y + C z = K, onde K é uma constante, obtenha um vetor nV r normal a este plano. Pode existir mais de uma solução? 11) Encontre os versores em um sistema de coordenadas esféricas em função de correspondentes coordenadas retangulares (cartesianas). UNESP – Naasson P. de Alcântara Jr. – Claudio Vara de Aquino Este capítulo oferece uma recapitulação aos conhecimentos de SISTEMA DE COORDENADAS VETOR VERSOR OU VETOR UNITÁRIO Figura 0.5 Versores das componentes coordenadas. PRODUTO ESCALAR Sejam dois vetores em um sistema de coordenadas onde e . Co PRODUTO VETORIAL Figura 0.7 O produto vetorial entre e ELEMENTOS DIFERENCIAIS DE VOLUMES, LINHAS E SUPERFÍCIES Sistema cartesiano Sistema cilíndrico Sistema esférico IDENTIDADES VETORIAIS