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0. LINDB LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

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ATUALIZADO EM 10/05/2017
1. INTRODUÇÃO
O Código Civil Francês (1804) instalou uma série de inovações no ordenamento jurídico; porém, essas modificações não tinham como serem efetivadas naquele momento histórico, oportunidade na qual foi editada uma Lei de Introdução com a finalidade de acomodar as modificações do CC ao ordenamento jurídico.
No Brasil aconteceu a mesma coisa, surgindo a necessidade de criação de uma “Lei de Introdução ao Código Civil - LICC” (hoje Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB) para acomodar o Código Civil que surgia na época, compatibilizando o sistema jurídico.
A antiga “LICC” (hoje LINDB) nada introduz ao CC, na verdade, não mantém qualquer relação com ele.
Enquanto o objeto de estudo do CC é a tutela da pessoa humana, a LINDB preocupa-se com a própria norma jurídica, sendo essa o seu o objeto de estudo. Há, portanto, uma diversidade de objetos e, sendo assim, a “LICC” não era e não é um diploma legal introdutório do CC apesar desse antigo nome.
A LINDB, na verdade, é um diploma legal multidisciplinar que se aplica universalmente a qualquer ramo do direito. É, portanto, um código geral sobre a elaboração e aplicação das normas jurídicas; tem como objetivo, então, a elaboração, vigência e aplicação de leis. Seja qual for o ramo do direito, as normas devem ser elaboradas e aplicadas conforme a “LICC” ou LINDB.
Trata-se, portanto, de uma norma de SOBREDIREITO (lex legum)
Na expressão de Arruda Alvim, a “LICC” é um código de normas e não um apêndice ao CC. Vê-se, então, que o nome LICC era indevido, tanto que foi modificado para Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).
Assim, a LINDB é autônoma e independente do CC. Prova disso é que o CC foi alterado e a LINDB continuou a mesma.
2. ESTRUTURA DA LINDB
A estrutura da LINDB pode ser dividida em 07 tópicos para a sua melhor compreensão.
1- Vigência das normas: art. 1º e 2º.
2- Obrigatoriedade da norma: art. 3º.
3- Integração da norma: art. 4º.
4- Interpretação da norma: art. 5º.
5- Aplicação da lei no tempo: art. 6º.
6- Aplicação da lei no espaço: artigos 7º a 19.
3. VIGÊNCIA DAS NORMAS: ART. 1º E 2º
*#OUSESABER: Qual o momento em que o projeto de lei se transforma em lei? A corrente majoritária entende que o projeto de lei se torna lei com a sanção ou com a rejeição do veto. Segundo esta posição, a promulgação apenas promulga uma lei já existente. Neste sentido, Gilmar Mendes afirma que “com a promulgação se atesta a existência da lei, que passou a existir com a sanção ou com a rejeição do veto, e se ordena a sua aplicação”. Pedro Lenza conclui da seguinte forma: “tanto é que o art. 66, §7º, fala, expressamente, em promulgação da lei, e não do projeto de lei. Portanto, para as provas objetivas leve esta posição.
*#OUSESABER: “Apenas leis de pequena repercussão estão autorizadas a utilizar a cláusula “entra em vigor na data de sua publicação”. Resposta: CERTO. Não obstante possa-se notar, atualmente, uma verdadeira generalização do uso da referida cláusula, há previsão legal expressa LIMITANDO sua utilização às normas de ‘pequena repercussão’. Trata-se do art. 8º da Lei Complementar 95/98, o qual prevê que: 'a vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, RESERVADA A CLÁUSULA "ENTRA EM VIGOR NA DATA DE SUA PUBLICAÇÃO" PARA AS LEIS DE PEQUENA REPERCUSSÃO'. A regra, portanto, é que seja estabelecido um prazo de vacatio legis, a fim de que a população possa tomar conhecimento da norma jurídica que entrará em vigor.
Vigência e existência são conceitos diversos.
A existência da norma se dá no momento da sua promulgação. Mas ao existir não significa que a lei tenha vigência, mas sim que formalmente é um fato jurídico (não possui coercibilidade).
O momento da existência não se confunde com a vigência. Isso porque, depois de promulgada, a lei precisa de um iter legislativo para que as pessoas tenham conhecimento da norma para, somente depois, passar a ter vigência: publicação → lapso temporal → vigência.
A lei só ganha vigência depois da vacatio legis (lapso temporal para que as pessoas tenham conhecimento de sua existência).
Então, há uma grande diferença entre a EXISTÊNCIA da lei e sua VIGÊNCIA. Há a promulgação, publicação, vacatio legis e vigência.
Art. 1º, LINDB → salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país
QUARENTA E CINCO DIAS depois de oficialmente publicada.
§1º → nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada.
§3º → se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§4º → as correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Neste período de vacatio legis a lei já existe, mas ainda não tem vigência. A LC 95/98, no seu art. 8º, modificou o art. 1º da LINDB, de modo que a partir de agora toda norma legal deve, obrigatoriamente, cumprir um período de vacatio legis.
Art. 8º, LC 95/98 → a vigência da lei será indicada de forma expressa e de modo a contemplar prazo razoável para que dela se tenha amplo conhecimento, reservada a cláusula "entra em vigor na data de sua publicação" para as leis de pequena repercussão.
E o prazo de vacatio legis deve corresponder ao número de dias necessário para que todas as pessoas conheçam a lei. Assim, toda norma legal deve ter um período de vacatio legis que deve ser expresso em um número de dias.
A fórmula que se conhecia, “esta lei entra em vigor na data de sua publicação”, só poderá ser utilizada para as leis de pequena repercussão.
Exemplo: A Lei 11.280/06 criou a possibilidade de conhecimento de ofício da prescrição. Esta lei não é de pequena repercussão com certeza. Assim, esta lei não poderia entrar em vigor no momento de sua publicação. Ela teve, então, um período de vacatio legis de 90 dias, pois este foi o prazo que o legislador entendeu necessário para que todos dela tomassem conhecimento.
Mas essa é uma NORMA IMPERFEITA, pois não há sanção para o seu descumprimento. Ou seja, como é o próprio legislador quem tem que dizer se a lei é de pequena repercussão ou não, ele mesmo não criou sanções para quando fosse dito, na nova lei, que ela entraria em vigor no momento de sua publicação, apesar de esta não ser de pequena repercussão.
Exemplo: lei que determinou que a separação e o divórcio poderiam ser feitos em Cartório entrou em vigor na data de sua publicação, apesar de ser de extrema importância e grande repercussão.
Regra: toda lei tem que ter um prazo de vacatio legis, e este prazo tem que estar expresso em dias.
Contagem do prazo de vacatio legis (art. 8º, §1º, LC 95/98): a contagem do prazo da vacatio legis possui uma regra autônoma/própria, incluindo-se o primeiro e o último dia, entrando a lei em vigor no dia subsequente a consumação integral do prazo.
Art. 8º, §1º, LC 95/98 → a contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subsequente à sua consumação integral.
Na prática, o resultado é idêntico ao encontrado na contagem dos prazos processuais. Esta regra de contagem justifica a razão de toda vacatio legis ser contada em dias.
Segundo a doutrina, não importa se o ultimo dia for feriado ou final de semana, entrando em vigor a norma mesmo assim, ou seja, a data não é prorrogada para o dia seguinte (Tartuce, p. 05).
Nem sempre a vacatio legis é estabelecida em dia, de modo que nesses casos não será possível a aplicação da regra do §1º do art. 8º da LC 05/98. Exemplo: CC/02.
Art. 2044, CC → este Código entrará em vigor 1 (um) ano após a sua publicação.
Dessa forma, se o prazo de vacatio legis for fixado em mês ou ano, indevidamente, já que de ordinário ele deveria ser expresso em dias, utiliza-se a regra do art. 132, CC que estabeleceque prazo em mês ou ano é contado de “data a data”, pouco interessando quantos dias existam entre as datas.
Art. 132, CC → salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
§3º → os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.
Assim, o CC/02, que foi publicado em 11/01/02, entrou em vigor no dia 11/01/03. É importante perceber que todas essas regras, que emanam do art. 8º, LC 95/98, fizeram com que o art. 1º, LINDB, se tornasse subsidiário. Isto, porque só utilizaremos o prazo do art. 1º quando o legislador não tiver estabelecido um prazo de vacatio legis expresso e não se tratar de uma lei de pequena repercussão.
Além disso, essas regras somente se aplicam às normas legais.
As normas jurídicas administrativas (portarias, decretos, regulamentos, resoluções) sempre entrarão em vigor na data de sua publicação (Decreto nº 572/1890).
Durante o prazo de vacatio, a lei, que já existe, mas não tem vigência, pode ser modificada?
Ora, se ela existe, só pode ser modificada através de lei nova, mesmo no período de vacatio legis. Sendo assim, a modificação de uma lei dentro do seu período de vacatio legis só pode ocorrer através de uma nova lei.
Porém, a correção de erros materiais ou inexatidões pode ser feita através da simples republicação da lei com as devidas correções.
No caso de republicação da lei, o prazo de vacatio legis volta a correr do zero somente para a parte que foi corrigida.
O prazo de vacatio legis, portanto, reinicia SOMENTE para a parte que foi retificada e não para as demais, que continuam contando o prazo normalmente.
Art. 1º, §3º, LINDB → se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
Art. 1º, §4º, LINDB → as correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Revogação: uma vez cumprida a vacatio legis e entrando em vigor, a lei continuará vigendo até que venha outra e, expressa ou tacitamente, a revogue  princípio da continuidade.
Já podemos notar, então, que a revogação de uma lei pode ser expressa ou tácita, bem como que no sistema brasileiro só se admite a revogação de uma lei através de outra lei.
Art. 2º, LINDB → não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§1º → a lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
O art. 9º da LC 95/98 estabeleceu uma novidade no que tange a revogação das normas, dispondo que a revogação das normas preferencialmente deve ser expressa. Sendo assim, toda vez que for editada uma nova lei, essa deverá indicar de forma expressa quais os dispositivos legais revogados por ela.
Art. 9º, LC 95/98 → a cláusula de revogação deverá enumerar, expressamente, as leis ou disposições legais revogadas.
Deve-se evitar, então, aquela velha e inútil fórmula “revogam-se todas as disposições em contrário”, pois esta leva a crer que estaria revogando expressamente quando não está.
Esta regra não se aplica às leis temporárias, pois estas cessam ao alcançar o termo indicado.
E, quando o legislador não revogar expressamente os dispositivos legais, será aplicada a regra de que fica revogado tudo aquilo que for contrário à nova regra.
O Direito Brasileiro não admite o dessuetudo, que é a revogação da lei pelos costumes (uma lei que não conseguiu “pegar”, por exemplo).
O STJ é firme neste sentido, mesmo quanto às leis que não são respeitadas ou observadas. Este é o caso observado quanto às casas de prostituição, que não deixaram de ser crime, apesar de serem toleradas em todo o Brasil.
A revogação necessariamente se dará por outra lei, que revogará expressa ou tacitamente, no todo ou em parte a lei antiga.
	NEVER EVER FORGET!
A revogação é gênero da qual ab-rogação e derrogação são espécies.
a) ab-rogação: é a revogação total da lei.
b) derrogação: é a revogação parcial da lei.
Sobre revogação de lei devemos ter cuidado com a redação do §2º do art. 2º da LICC.
Art. 2º, § 2º, LINDB → a lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
Esse dispositivo estabelece que uma lei nova, que trate da mesma matéria de lei anterior, e que traga disposições que estejam ao lado (a par) da outra lei, não revoga a lei anterior, mas sim que será utilizada juntamente com aquela.
Repristinação: é o restabelecimento dos efeitos de uma lei que foi revogada pela revogação da lei revogadora.
A revogação da lei revogadora não restabelece os efeitos da lei revogada.
Ex.: Lei A → Lei B → Lei C. A Lei C revoga a Lei B, os efeitos da Lei A não serão restabelecidos.
Art. 2º, § 3º → salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Porém, o próprio § 3º do art. 2º da LINDB abre uma exceção à repristinação ao dizer que pode haver efeitos repristinatórios quando houver expressa disposição neste sentido na lei.
Ou seja, o Direito Brasileiro não admite a repristinação como um instituto, mas aceita que existam efeitos repristinatórios quando houver expressa disposição neste sentido. Atente-se que isso não é tecnicamente repristinação, pois o que existe é a vigência de nova lei que traz efeitos repristinatórios, trazendo de volta os efeitos de uma lei anterior.
O art. 27 da Lei 9.868/98 estabelece a possibilidade de efeitos repristinatórios no controle concentrado de constitucionalidade. Isto, porque, a lei revogada será tratada como se nunca tivesse existido nem nunca tivesse produzido efeitos. Sendo assim, a lei revogada volta a surtir efeitos.
Art. 27, Lei 9868/98 → ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
	
No exemplo dito acima, se a Lei B fosse declarada inconstitucional, ela passaria a ser tratada como se nunca tivesse existido e nunca tivesse produzido efeitos; sendo assim, a Lei A poderia surtir seus efeitos normalmente.
CUIDADO: isso é exclusivo do controle concentrado. No controle difuso não é possível, pois este gera efeitos inter partes tão-somente.
A jurisprudência do STF tem entendido que, ao declarar a inconstitucionalidade de uma lei em controle concentrado, pode ser modulada a eficácia desta decisão a fim de preservar a segurança jurídica. Isso porque, quando as leis são submetidas ao controle de constitucionalidade, já estão em vigor por certo lapso temporal e a sua retirada do ordenamento jurídico sem qualquer ressalva pode trazer mais prejuízos.
Desta maneira, o STF pode declarar a inconstitucionalidade sem efeitos retroativos. Isto, na prática, leva à perpetuação dos efeitos já ocorridos pela lei inconstitucional, revogando as leis anteriormente existentes e vigentes.
Assim, se o STF imprimir eficácia ex nunc a decisão do controle de constitucionalidade, não haverá efeito repristinatório, pois a lei revogadora, declarada inconstitucional, produziu efeitos, implicando na revogação da anterior a si.
Dessa forma, nem toda declaração de inconstitucionalidade implica efeitos repristinatórios.
Isso porque eventualmente admite-se uma declaração de inconstitucionalidade sem efeitos retroativos, assim se mantendo a revogação da lei.
4. OBRIGATORIEDADE DA NORMA: ART. 3º
Art. 3º, LINDB → ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.
O art. 3º da LINDB traz presunção de que todas as pessoas conheçam a lei. Por isso, a LINDB cria uma proibição de desconhecimento da lei para que ninguém possa se furtarà sua incidência.[1: A seguinte assertiva foi considerada incorreta (TJPR/2017): Consoante a LINDB, há uma presunção absoluta de que todos conhecem as leis brasileiras. ]
Ninguém pode se escusar de cumprir a lei, alegando o desconhecimento dela. Ou seja, toda lei traz consigo uma presunção de conhecimento por todos.
Princípio da Obrigatoriedade Relativa/Mitigada: a presunção de conhecimento da lei não é absoluta, uma vez que se existem situações excepcionais expressamente previstas em lei em que se admite a alegação de erro de direito.
A alegação de erro de direito só pode ser feita em casos previstos em lei.
Esses casos previstos em lei são muito mais numerosos no Direito Penal. Exemplos: art. 21, CP (erro de proibição); art. 65, II, CP (atenuante da pena); art. 8º, Lei de Contravenções Penais.
No Direito Civil há apenas DOIS casos em que se permite a alegação de erro de direito, quais sejam:
a) Casamento putativo (art. 1.561, CC): no caso de casamento nulo ou anulável celebrado com boa-fé, os efeitos do ato serão ser preservados em relação aos filhos
Art. 1561, CC → embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
Exemplo: casamento de A com B, sua irmã.
Erro de fato: A não sabia que B era sua irmã.
Erro de direito: A sabia que B era sua irmã, mas não sabia quer era proibido o casamento entre irmãos. O que é necessário aqui é que as pessoas estejam de BOA-FÉ.
Erro como vício de vontade no negócio jurídico (art. 139, III, CC): esse erro pode ser alegado para o desfazimento do negócio jurídico.
Art. 139, III, CC → o erro é substancial quando sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
Exemplo: compra de terreno em Petrópolis/RJ em área que fora considerada de uso público por Lei Municipal.
Obrigatoriedade “simultânea”: antigamente, a lei se tornava obrigatória por etapas: primeiro na capital federal, depois nas zonas litorâneas e depois ia se interiorizando. Agora, ela entra em vigor em todos os locais do país ao mesmo tempo.
5. INTEGRAÇÃO DA NORMA: ART. 4º
Integrar significa colmatar, preencher lacunas. A integração da norma é a atividade pela qual o juiz complementa a norma. E essa necessidade de complementação da norma surge porque o legislador não tem como prever todas as situações possíveis no mundo fático.
A lacuna nunca irá se referir ao ordenamento, mas sim apenas à legislação. Assim, mesmo que exista lei lacunosa, o ordenamento é completo, pois existem mecanismos de integração, de colmatação.
O ordenamento jurídico vedou o “non liquet”, que significa que o juiz não pode se eximir do dever de julgar alegando lacuna ou desconhecimento da norma.
Art. 4º, LINDB → quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. 
Para lembrar: ordem alfabética: A,C,P.
Esse dispositivo traz um rol TAXATIVO e preferencial de integração da norma. Sendo assim, o juiz deve se valer dessa ordem e somente dos critérios integrativos colocados neste dispositivo.
Havendo lacuna, o juiz está obrigado a promover a integração da norma; colmatará o vazio.
Além disso, como se presume que o juiz conhece todas as leis, basta que a parte narre o fato (narra-se o fato que eu te darei o direito – iura novit curiae).
Exceções: o juiz pode determinar à parte interessada que faça prova da EXISTÊNCIA e VIGÊNCIA da lei alegada em 4 hipóteses:
- Direito municipal.
- Direito estadual.
- Direito estrangeiro.
- Direito consuetudinário.
Alexandre Câmara alerta que o juiz só pode mandar a parte fazer prova de direito municipal e estadual que não seja de sua jurisdição. Caso contrário, ou seja, se o direito municipal ou estadual for do local de sua jurisdição, o juiz não poderá determinar que a parte faça prova porque se presume que ele conheça a lei.
E quando o juiz for utilizar direito estrangeiro, ele poderá mandar a parte fazer prova.
No entanto, o Protocolo de Las Leñas determina que o juiz não pode mandar a parte fazer prova das leis de países integrantes do MERCOSUL, pois, neste caso, se presume que o juiz conheça a legislação.
Isto se aplica também a documentos estrangeiros oriundos de países do MERCOSUL. Assim, quando vier o documento de um país do MERCOSUL, o juiz não pode mandar fazer a tradução juramentada, pois igualmente se presume que ele conhece a tal língua.
Espécies de Lacunas, conforme Maria Helena Diniz:
Lacuna normativa: ausência total de norma para um caso concreto;
Lacuna ontológica: presença de norma para o caso concreto, mas que não tenha eficácia social;
Lacuna axiológica: presença de uma norma para o caso concreto, mas cuja aplicação seja insatisfatória ou injusta;
Lacuna de conflito ou antinomia: choque de duas ou mais normas válidas, pendente de solução no caso concreto. 
Presente uma lacuna, deverão ser utilizadas as formas de integração da norma jurídica.
2.3.1.	Métodos de Colmatação
Na integração, da norma o juiz deverá se valer da analogia, dos costumes e dos princípios gerais de direito, devendo utilizar esses métodos nesta ordem porque o art. 4º da LINDB estabeleceu um rol taxativo e preferencial.
OBS: a doutrina moderna contesta a obrigatoriedade de aplicar os métodos de colmatação na exata ordem do art. 4º, principalmente no que concerne aos princípios constitucionais (Nesse sentido: Flávio Tartuce).
Analogia: é primeiro mecanismo de integração. É o preenchimento da lacuna através da comparação. Por meio da analogia, compara-se uma determinada hipótese, não prevista em lei, com outra, já contemplada em lei. O seu fundamento é a igualdade jurídica.
A analogia pode ter duas formas:
b1) analogia legis: se concretiza pela comparação de um caso não previsto com outro já previsto em lei. Assim a lacuna será integrada comparando-se uma situação atípica (não tratada na norma) com uma outra situação especificadamente prevista em lei (típica).
b2) analogia iuris: o juiz preenche a lacuna com a comparação do caso com o sistema como um todo. Dessa forma, compara-se a situação não prevista em lei com os valores do sistema e não com um dispositivo legal.
Exemplo: união homoafetiva, que não está prevista em lei, e os conflitos jurídicos decorrentes destas uniões também não têm previsão legal, sendo que o juiz não pode se negar a resolvê-los. O juiz poderá solucionar tais casos com regras semelhantes, como as regras da união estável, por exemplo, se valendo de analogia legis, portanto. Foi o que decidiu o STF.
Porém, será caso de analogia iuris, se, em vez de comparar com a legislação de união estável, comparar com os princípios constitucionais.
OBS: não se admite analogia em sede de direito penal nem direito tributário, salvo em favor da parte (ou seja, não existe analogia para prejudicar o réu ou o contribuinte).
	ANALOGIA
	INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
	Rompe-se com os limites do que está previsto na norma. (Integração).
	Apenas amplia-se o sentido da norma, havendo a subsunção. (Conhecimento).
OBS: normas de exceção não admitem analogia ou interpretação extensiva. Exemplo: um pai pode hipotecar um imóvel a um filho sem a autorização dos demais, pois a lei somente exige autorização para a venda, sob pena de anulabilidade. A norma, assim não pode ser aplicada por analogia à hipoteca, salvo para proteger um filho incapaz, por exemplo.
b) Costumes: são os usos cotidianos locais, ou seja, os usos reiterados de uma comunidade. Os costumes podem ser de 3 espécies:
b1) costumes contra legem: materializam uma prática cotidiana atentatória à lei. No Direito Brasileiro não se admitem os costumes contra legem, pelo simples motivo de que isto, na prática, implicaria admitir o dessuetudo, o que não é possível.
b2) costumes secundum legem: são os costumes determinados na lei. A sua utilização vem expressa na própria lei.
Nessa espécie, o próprio o ordenamento jurídico diz que o juiz devejulgar pelos costumes naqueles casos determinados. Assim, vê-se que não são hipóteses de lacunas no sistema, pois o próprio ordenamento é que remete aos costumes. Nesses casos, portanto, não há integração, mas sim subsunção.
Exemplo: art. 445, § 2º, CC/02, que traz prazo para a ação sobre vício redibitório sobre animal, como o caso de um touro que se descobriu estéril, estabelecendo que o prazo é determinado pelos usos locais.
Art. 445, §2º, CC → tratando-se de venda de animais, os prazos de garantia por vícios ocultos serão os estabelecidos em lei especial, ou, na falta desta, pelos usos locais, aplicando-se o disposto no parágrafo antecedente se não houver regras disciplinando a matéria.
b3) costumes praeter legem: são aqueles costumes que não foram previstos em lei, sendo utilizados para preencher lacunas. É a única forma de costumes que serve como forma de colmatação. Exemplo: eficácia do cheque pós-datado (juiz se vale dos costumes para aceitar a indenização por dano moral quando do depósito do cheque antes da data - STJ).
Requisitos para aplicação dos costumes:
- Continuidade;
- Uniformidade;
- Diuturnidade;
- Moralidade;
- Obrigatoriedade.
Assim, é necessário que o costume esteja arraigado na consciência popular após a sua prática durante um tempo considerável, e, além disso, goze da reputação de imprescindível norma costumeira.
Por fim, vale lembrar que existe o COSTUME JURISPRUDENCIALOU JUDICIÁRIO, cujo maior exemplo são as súmulas dos Tribunais Superiores.
c) Princípios gerais de direito: são, na verdade, postulados universais. Vejamos:
1. Não lesar a ninguém;
2. Dar a cada um o que é seu;
3. Viver honestamente.
Os princípios possuem um papel quaternário: só se decide com base neles se o juiz não conseguiu decidir com base na lei, na analogia e nos costumes.
Alguns doutrinadores entendem que o art. 4º da LINDB foi revogado porque o princípio possui densidade normativa, não podendo ter papel quaternário.
Segundo a doutrina, o artigo não foi revogado porque precisamos nos lembrar da estrutura dos princípios.
Canotilho nos transmitiu a regra de que a norma jurídica é igual a norma-princípio mais norma-regra.
Norma jurídica = norma-princípio + norma-regra.
E esta fórmula revela que todo princípio tem força normativa.
Sendo assim, como se poderia dizer que os princípios têm papel secundário, e pior, quaternário?
Em verdade, o que precisamos perceber é que existem dois diferentes tipos de princípios: princípios fundamentais e princípios informativos (ou gerais).
Princípios fundamentais ou institucionais: correspondem às opções do sistema, ou seja, a opção do sistema por este ou aquele valor. Logo, os princípios fundamentais possuem força normativa, exatamente na medida em que os princípios fundamentais obrigam. Os princípios fundamentais são as opções valorativas de cada sistema.
Princípios gerais/informativos: são meras recomendações, têm caráter propositivo, e são universais. Portanto, não possuem força normativa porque só servem para desempate.
Enquanto os princípios fundamentais correspondem a uma opção de um sistema, os princípios informativos são universais.
Diante dessas considerações, devemos ler o art. 4º com algumas modificações: onde está escrito quando a lei for omissa, deveríamos escrever quando a NORMA JURÍDICA FOR OMISSA, pois a norma jurídica pode ser a norma-regra ou a norma-princípio, e este princípio dito aqui é o princípio fundamental.
Art. 4º, LINDB → quando a lei for omissa (=quando a norma jurídica for omissa), o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Além disso, os princípios referidos no dispositivo seriam os princípios INFORMATIVOS apenas. E sendo assim, o art. 4º da LINDB não violaria a força normativa dos princípios fundamentais.
Este art. 4º deixa clara a inexistência de regra de subsunção, pois o juiz realiza a atividade de interpretação tão somente, e não mais a subsunção.
*Equidade: excepcionalmente o ordenamento jurídico admite a utilização da equidade como meio de integração. A equidade é a busca do bom/equilibrado/ justiça equitativa (nem tanto o mar, nem tanto a terra).
O direito brasileiro só admite a equidade quando houver previsão em lei.
Equidade é um conceito aberto, vago, altamente subjetivista, não podendo ser utilizada em qualquer caso.
A equidade surge da “Ética a Nicômaco”, na qual Aristóteles diz que a equidade era o justo, o bom, o equilíbrio. O autor consagrou nesta obra a ideia de que a virtude está no meio, na equidade. Mas o juiz somente poderá se valer da equidade quando a lei assim determinar.
Às vezes, é a própria lei que estabelece o critério de equidade (equidade legal), mas poderá também o juiz estabelecê-lo (equidade judicial).
Exemplos:
Art. 7º, CDC → os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
NCPC/2015
Art. 85, § 8o Nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o juiz fixará o valor dos honorários por apreciação equitativa, observando o disposto nos incisos do § 2o.
§ 2o Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
Uso de equidade quando o juiz fixar os honorários advocatícios nas causas em que não há estimativa patrimonial.
A CLT também permite o uso de equidade.
Na lei de alimentos o juiz fixará o percentual de alimentos por equidade.
Exemplos de equidade no CC:
Redução equitativa da cláusula penal (multa), quando o devedor já cumpriu em parte a obrigação ou quando a cláusula se apresenta abusiva.
Art. 413, CC → a penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negócio.
O juiz também pode reduzir equitativamente o quantum indenizatório sempre que perceber um desequilíbrio entre o grau de culpa e a extensão do dano (isto não poderá ocorrer nos casos de responsabilidade objetiva, pois nestes não se discute culpa).
Art. 944, §único, CC → se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, equitativamente, a indenização.
6. INTERPRETAÇÃO DA NORMA: ART. 5º
Art. 5º, LINDB → na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
A interpretação não se confunde com integração. Integrar é preencher uma lacuna. Já interpretar é buscar o alcance e o sentido. Logo, a atividade interpretativa é a atividade de buscar o sentido e o alcance de uma norma que já existe.
O art. 5º consagra que em toda interpretação devem ser respeitados os fins sociais a que se dirige a norma. Assim, toda interpretação é sociológica e teleológica. Isto é dizer que, em toda interpretação, deve se ter presente o impacto que a norma terá em uma comunidade.
Toda e qualquer interpretação da norma deve ser sociológica/teleológica, isto é, deve atender aos fins sociais a que a norma se destina.
A prova do tempo de serviço de atividade rural deve ser feita através de documentos e não por meio exclusivamente testemunhal. Contudo, nos casos em que o trabalhador rural não tem como provar através da prova documental, irá se admitir a prova exclusivamente por testemunha desde que esta seja idônea.
Ao realizar a interpretação da norma, podemos chegar a um resultado ampliativo,restritivo ou declarativo.
1 - Interpretação ampliativa: a norma que diga respeito aos direitos fundamentais individuais ou sociais (art. 5º e 7º da CF/88) se submete à interpretação ampliativa.
2 - Interpretação declaratória: as normas de Direito Administrativo se submetem a uma interpretação declarativa, por conta do princípio da legalidade.
3 - Interpretação restritiva: as normas que estabeleçam privilégio, sanção, renúncia, fiança e aval se submetem a interpretação restritiva.
A propósito, veja-se o art. 819, CC/02:
Art. 819. A fiança dar-se-á por escrito, e não admite interpretação extensiva.
E mais, a Súmula 214, STJ dispõe que o fiador, na locação, não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.
STJ Súmula 214 O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu.
	PROVA ORAL DPE/RS/2011: O que é “interpretação integrativa”?
Na vigência de um contrato podem surgir situações imprevistas pelas partes que não serão solucionadas através de uma simples interpretação das cláusulas ou disposições do contrato. Nessas situações, passa a existir então uma atividade psíquica diferente da do hermeneuta, ou seja, surgem a interpretação integrativa e a integração propriamente dita do contrato.
Na interpretação integrativa, mesmo havendo pontos omissos no contrato, a intenção dos contratantes deve surgir da ideia geral, ou seja, do espírito do contrato, obedecendo, os princípios da boa-fé, dos usos sociais, do que já foi cumprido pelas partes. Assim, o intérprete poderá concluir, de acordo com as entrelinhas do contrato, o que foi desejado pelos contratantes. 
Desse modo, exemplificando, se os contratantes estabeleceram para os pagamentos parcelados, um índice de correção monetária, e esse índice deixou de existir, o intérprete pode encontrar outro índice substitutivo ou próximo daquele que deixou de existir, para ser aplicado no contrato, ainda que assim não esteja. Expresso no contrato, porque a equidade e o princípio da boa-fé regem os contratos e determinam que não haja enriquecimento ilícito ou injusto, diante da desvalorização da moeda.
Custódio Miranda estudando sobre o trabalho mental de interpretação integrativa diz: “não se cuida, como é bem de ver, a investigação da vontade hipotética, presumível ou real, que jamais existiu, mas da reconstrução de uma declaração incompleta, na medida em que se disse menos do que a ideia que se presidiu à elaboração do conteúdo”.
7. APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO: ART. 6º
Art. 6º, LINDB → a Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada.
Art. 5º, XXXVI, CRFB → a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
É certo que toda lei se destina aos fatos presentes e futuros, mas não aos passados. No Direito Brasileiro, portanto, consagrou-se a regra da irretroatividade das leis, de modo que as leis novas não alcançam os fatos pretéritos. A regra da irretroatividade é aplicável inclusive às normas jurídicas de ordem pública.
Exceção: admitem-se, excepcionalmente, efeitos retroativos na lei quando presentes dois requisitos, quais sejam:
a) Expressa disposição neste sentido: é preciso que a lei diga que produzirá efeitos retroativos, e, 
b) que a retroação não prejudique o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido.
Direito adquirido: é aquele que se incorporou ao patrimônio do particular. É uma concepção exclusivamente patrimonialista, de modo que não há direito adquirido personalíssimo. Todo direito adquirido é patrimonial. A nova lei deverá respeitar o negócio jurídico celebrado sob termo ou condição suspensiva.
Art. 6º, §2º, LINDB → consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem.
Além disso, não existe direito adquirido em face do Poder Constituinte, pois ele instala uma nova ordem jurídica, sendo que tudo que lhe é incompatível é repelido. Porém, no Brasil, esta tese sofreu uma mutação, decorrente de interpretação do STF acerca das reformas previdenciárias estabelecidas pelo Poder Legislativo.
	Olha o gancho:
O STF disse que não há direito adquirido nem em face do Poder Constituinte Originário, nem em face do Poder Constituinte Derivado. Ou seja, emenda constitucional não precisa respeitar direito adquirido, mas isto é só no Brasil, por conta da Reforma da Previdência.
	#APROFUNDAMENTO Daniel Sarmento (citado pelo Tartuce, p. 30):
Ademais, verifica-se hoje uma mitigação da ideia de direito adquirido. Tal direito não pode ser levado ao extremo, sob pena de gerar injustiças. A segurança jurídica é um valor importante no Estado Democrático de Direito, mas não é o único valor e nem mesmo o mais importante. Se a segurança jurídica for protegida ao máximo, provavelmente o preço que se terá de pagar será um comprometimento na tutela da justiça e da igualdade substancial.
Assim, a segurança jurídica, que no Estado Liberal era mais identificada com a proteção da propriedade e dos direitos patrimoniais em face do arbítrio estatal, caminha para uma segurança contra os infortúnios da vida; para uma segurança como garantia de direitos sociais básicos para os excluídos; e até para a segurança em face das novas tecnologias e riscos ecológicos da chamada “sociedade de risco”.
Coisa julgada: é a qualidade que reveste os efeitos decorrentes de uma decisão judicial contra a qual não cabe mais impugnação dentro dos mesmos autos.
Art. 6º, §3º, LINDB → chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.
Pode haver coisa julgada de decisão interlocutória, desde que ela aprecie o mérito e não seja impugnada (exemplo: concessão de tutela de parcela incontroversa do pedido).
A coisa julgada não pode violar outra questão em que já se decidiu pela inconstitucionalidade. Hoje já se fala, inclusive, na relativização da coisa julgada – investigação de paternidade (DNA).
Ato jurídico perfeito: é o ato pronto e acabado, já tendo exaurido seus efeitos. O ato jurídico perfeito não mais produz efeitos. Ele é a antítese das relações continuativas, pois estas são as que perpassam no tempo (iniciam sob a égide de uma lei e continuam após o início de uma nova lei).
Art. 6º, §1º, LINDB → reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
O ato jurídico perfeito não pode ser atingido pelos efeitos de uma lei nova, pois ele não mais produz efeitos.
As relações continuativas podem ser atingidas pela lei nova? O casamento, assim como o contrato, são exemplos de relações continuativas.
O casamento celebrado sob a égide do CC/16, que atravessou o tempo, está sob a égide do CC/02 ou continua sofrendo os efeitos do CC/16?
No que tange às relações continuativas a regra é de que a sua existência e a sua validade ficam submetidas à lei em que foi celebrado o ato, mas a eficácia submete-se à regra da lei nova. Assim, a existência e a validade ficam na lei de origem (lei da data de celebração) e a eficácia submete-se à lei nova.
Exemplo: as pessoas que casaram sob a égide do CC/16 não podiam mudar seu regime de bens, mas quem casa agora pode.
Art. 2039, CC → O regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do Código Civil anterior, Lei no 3.071, de 1º de janeiro de 1916, é o por ele estabelecido.
Como a mudança do regime diz respeito a eficácia do ato, podemos concluir que as pessoas casadas sob a égide do CC/16 podem sim alterar seu regime de bens (Maria Berenice Dias; STJ, REsp 821.807/PR, rel. Min. Fátima Nancy Andrighi).
A única voz discrepante é a da professora Maria Helena Diniz, que defende a impossibilidade de alteração de regime de bens, mas sozinha nesta posição.
Ultratividade: é o fenômeno através do qual uma lei, já revogada, produz efeitos mesmo após a sua revogação.
Inúmeros são os exemplosde ultratividade vindos do Direito Penal, como é o caso da norma penal mais benéfica. No Direito Civil é bem mais rara a hipótese de ultratividade, mas ocorre isto, por exemplo, no direito de sucessão.
O princípio da saisine é um exemplo de ultratividade. Sendo assim, a pessoa que morreu à época do CC/16, mas tendo a abertura da sucessão se dado após a vigência do CC/02, *não terá a sucessão regulada pelas novas regras da lei civil.
Súmula 112, STF → o imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão.
8. APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO: ART. 7º A 19º
A regra geral de aplicação da lei no espaço é de que, dentro do território brasileiro, é aplicada a lei brasileira. Ou seja, a lei brasileira se aplica no espaço territorial brasileiro.
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.
Porém, existem situações excepcionais em que a própria LINDB admite a aplicação da lei estrangeira no território brasileiro.
Dessa forma, o Brasil adotou a teoria da territorialidade moderada/mitigada, uma vez que no espaço territorial brasileiro aplica-se a lei brasileira em respeito à soberania nacional.
Regra de Conexão: para que haja a aplicação da lei estrangeira no território brasileiro é preciso que haja uma regra de conexão, sendo ela chamada de estatuto pessoal em que se aplica a lei do domicilio do interessado.
Aplicação do Estatuto Pessoal: lei do domicílio do interessado: a LINDB prevê 07 hipóteses de aplicação da lei estrangeira no território brasileiro:
- Nome.
- Personalidade.
- Capacidade.
- Direito de família.
- Bens móveis que o interessado traz consigo.
- Penhor.
- Capacidade sucessória.
Art. 7º, LINDB → a lei do país em que DOMICILIADA a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§1º → realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§2º → o casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.
§3º → tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a lei do primeiro domicílio conjugal.
§4º → o regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
§5º → o estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais. (Redação dada pela Lei nº 12.036, de 2009).
§7º → salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.
§8º → quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.
Nestes sete casos, teremos a aplicação do estatuto pessoal, hipótese na qual será aplicada a lei estrangeira, qual seja, a lei do domicílio do interessado.
Mas a aplicação do estatuto pessoal pressupõe a filtragem interna ou filtragem constitucional. Essa é uma necessidade para o respeito da soberania do Estado. Sendo assim, só se pode aplicar uma lei estrangeira ao território nacional se ela passar pelo crivo constitucional, pois poderia até mesmo atentar contra a soberania nacional se assim não fosse.
Exemplo: o árabe não pode casar mais de 1 vez no Brasil ainda que no seu país de origem se admita 3 casamentos.
Existem 3 casos em que a LINDB admite a aplicação da lei estrangeira sem a aplicação do estatuto pessoal, ou seja, a aplicação da lei estrangeira tem regra especifica que não obedece o domicilio do interessado.
1- Conflito sobre bens imóveis: aplica-se a lei do lugar em que está situado o imóvel.
Exemplo: juiz na fronteira do Brasil com Uruguai, que vai julgar uma execução hipotecária e é um bem que está no Uruguai, julgando a execução com base na lei uruguaia, pois é local e que está o imóvel.
NCPC/2015
Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
2- lei sucessória mais benéfica ao cônjuge ou aos filhos.
Exemplo: estrangeiro que faleceu deixando bens no Brasil. Estes bens situados no Brasil só podem ser partilhados pela Justiça Brasileira. Como Portugal tem leis mais favoráveis no Direito Sucessório, utilizar-se-á a lei portuguesa, e assim seria se fosse mexicano.
3- lugar da obrigação: no caso de contratos internacionais se aplica a lei de residência do proponente.
Art. 9º, §2º, LINDB → a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que RESIDIR o proponente.
Já em relação aos contratos internos aplica-se a lei do lugar onde foi feita a proposta.
Art. 435, CC → reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi PROPOSTO.
A decisão judicial estrangeira, a carta rogatória ou laudo arbitral estrangeiro também podem ser cumpridos no Brasil desde que se submetam a homologação no STJ. Assim, essas medidas, para que sejam cumpridos no Brasil, pressupõem o exequatur do STJ, que irá determinar o cumprimento delas no Brasil. E uma vez homologado pelo STJ, o cumprimento das medidas será feito por um juiz federal de 1º grau.
Para que o STJ homologue a decisão judicial estrangeira, a carta rogatória ou o laudo arbitral estrangeiro, é preciso que estejam presentes três requisitos:
a) prova do trânsito em julgado.
Súmula 420, STF → não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem prova do trânsito em julgado.
Filtragem constitucional: só podem ser cumpridas as sentenças que sejam compatíveis com o nosso ordenamento jurídico. Cumprimento das formalidades processuais dos artigos 963 do NCPC, dentre as quais se encontra a necessidade de oitiva do MP.
Art. 15.  Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.(Leia-se Superior Tribunal de Justiça).
NCPC/2015
Art. 963. Constituem requisitos indispensáveis à homologação da decisão: 
I - ser proferida por autoridade competente;
II - ser precedida de citação regular, ainda que verificada a revelia; III - ser eficaz no país em que foi proferida;
IV - não ofender a coisa julgada brasileira;
V - estar acompanhada de tradução oficial, salvo disposição que a dispense prevista em tratado;
VI - não conter manifesta ofensa à ordem pública.
Parágrafo único. Para a concessão do exequatur às cartas rogatórias, observar-se-ão os pressupostos previstos no caput deste artigo e no art. 962, § 2o.
O STJ poderá homologar essas medidas de forma monocrática; somente a denegação da homologação que não pode serfeita de forma monocrática.
Dispensa de Homologação: Ressalta-se que, com o NCPC, a sentença estrangeira de divórcio consensual produzirá efeitos no Brasil, independentemente, da homologação pelo STJ.
Art. 961, § 5o A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior Tribunal de Justiça.
Ademais, como novidade, o NCPC afirma que, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça – decisão estrangeira não definitiva pode ser executada no Brasil por carta rogatória sem necessidade de homologação pelo STJ.
Art. 962. É passível de execução a decisão estrangeira concessiva de medida de urgência.
1o A execução no Brasil de decisão interlocutória estrangeira concessiva de medida de urgência dar-se-á por carta rogatória.
2o A medida de urgência concedida sem audiência do réu poderá ser executada, desde que garantido o contraditório em momento posterior.
3o O juízo sobre a urgência da medida compete exclusivamente à autoridade jurisdicional prolatora da decisão estrangeira.
4o Quando dispensada a homologação para que a sentença estrangeira produza efeitos no Brasil, a decisão concessiva de medida de urgência dependerá, para produzir efeitos, de ter sua validade expressamente reconhecida pelo juiz competente para dar-lhe cumprimento, dispensada a homologação pelo Superior Tribunal de Justiça.
O NCPC/2015 traz um capítulo próprio acerca da homologação de sentença estrangeira.
ANTINOMIAS JURÍDICAS OU LACUNAS DE COLISÃO
Antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente, sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto.
CRITÉRIOS BÁSICOS DE SOLUÇÃO DOS CHOQUES ENTRE NORMAS
3.1.1.	Critério Cronológico
Norma posterior prevalece sobre a anterior.
3.1.2.	Critério da Especialidade
Norma especial prevalece sobre a geral.
3.1.3.	Critério Hierárquico
Norma superior prevalece sobre a inferior
O critério cronológico é o mais fraco, após, vem o da especialidade e o da hierarquia é o mais forte, ante a importância do texto constitucional.
CLASSIFICAÇÃO DAS ANTINOMIAS
Antinomia de 1º Grau
Conflito entre normas que envolve apenas UM dos critérios acima expostos.
Antinomia de 2º Grau
Choque de normas válidas que envolve DOIS dos critérios analisados, ou, quando não houver a possibilidade de solucionar um conflito pelos critérios acima, haverá uma antinomia de 2º grau.
Antinomia Aparente
Aquela que pode ser resolvida pelos critérios da especialidade, hierarquia e cronológico. Quando a própria lei tiver critério para a solução do conflito.
Antinomia Real
Não pode ser resolvida pelos critérios acima. Não houver na lei critério para a solução do conflito.
ANTINOMIAS DE 2º GRAU
Norma especial e anterior X norma geral posterior (especialidade x cronológico)
Prevalece a primeira, em razão da especialidade.
Norma superior anterior X norma inferior posterior (hierárquico x cronológico)
Prevalece a primeira, pela hierarquia.
Norma geral superior X norma especial inferior (hierárquico x especialidade)
Não há uma metarregra geral de solução aqui, sendo esta, portanto, uma antinomia real, segundo Maria Helena Diniz, podendo-se preferir para a solução do conflito qualquer um dos critérios. Todavia, para Bobbio, deve prevalecer a lei superior.
Para defender a aplicação da lei especial, deve-se lembrar do princípio da isonomia, consagrado no art. 5º, CRFB, pelo qual a lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de maneira desigual os desiguais. Na parte destacada está o critério da especialidade, que, por isso, pode fazer frente ao da hierarquia.
	Aparente
	Real
	Quando o conflito normativo puder ser resolvido pelos critérios: cronológicos, hierárquico ou da especialidade.
	Ocorre quando não é possível reconhecer o conflito de normas pelos critérios tradicionais. É antinomia de segundo grau.
	Antinomia de 1º Grau
	Antinomia de 2º Grau
	É o mesmo que antinomia aparente
	É a antinomia que não pode ser resolvidas pelos critérios tradicionais. Nesse caso, diz-se	que a antinomia é de 2º, pois que um conflito de normas tem mesmo um conflito entre os critérios de resolução da antinomia. Nesse caso, a doutrina aponta os meta critérios de resolução de antinomias: 
- Hierárquico x cronológico: prevalece o hierárquico 
- Especialidade x cronológico: prevalece especialidade. 
- Hierárquico x especialidade: deverá ser decidido à luz da situação concreta.
	
FONTES DO DIREITO
INTRODUÇÃO
No sentido que interessa a esse estudo, a expressão “fontes do direito” está relacionada ao aspecto de fonte criadora do direito, servindo para demonstrar suas formas de expressão.
De início, cabe destacar que a doutrina é bastante divergente no que tange à classificação das fontes do direito, apresentando-se, no presente resumo, algumas das várias classificações propostas.
Para VENOSA, as fontes diretas são as que, de per si, têm força suficiente para gerar a regra jurídica. Segundo o autor, para a doutrina tradicional, as fontes diretas também podem ser denominadas fontes imediatas ou primárias e, para a maioria dos doutrinadores, nessa classificação enquadram-se a lei e o costume.
Ao lado dessas, estão as fontes mediatas ou secundárias, que não têm a força das primeiras, mas esclarecem os espíritos dos aplicadores da lei e servem de precioso substrato para a compreensão e aplicação global do Direito. Como exemplos dessas fontes, podem ser citadas, sem unanimidade entre os juristas, a doutrina, a jurisprudência, a analogia, os princípios gerais de Direito e a equidade.
Já para TARTUCE, em uma visão civilista clássica, as fontes formais, diretas ou imediatas são constituídas pela lei, pela analogia, pelos costumes e pelos princípios gerais de direito, referidos no art. 4ª da Lei de Introdução. São fontes independentes que derivam da própria lei, bastando por si para a existência ou manifestação do direito. Para esse doutrinador, a LEI constitui fonte formal, direta ou imediata primária, enquanto as demais fontes referidas são formais, diretas ou imediatas secundárias.
A lei, como fonte formal primária, é a principal fonte em nosso ordenamento, já que o Direito Brasileiro sempre foi filiado à escola da Civil Law, de origem romano-germânica. Apesar da tendência de valorização dos precedentes jurisprudenciais, introduzida principalmente através das súmulas vinculantes, é certo que as súmulas não têm a mesma força das leis, de forma que nosso sistema permanece essencialmente legal.	Comment by Carlos Erger: 
As fontes não formais, indiretas ou mediatas, na visão desse autor, são constituídas pela doutrina e pela jurisprudência, que não geram por si só a regra jurídica, mas acabam contribuindo para a sua elaboração. Tais institutos não constam da lei, de forma expressa, como fontes do direito.
Alguns autores, porém, a exemplo de MARIA HELENA DINIZ, entendem que doutrina e jurisprudência podem ser consideradas partes integrantes do costume, constituindo também fontes formais, diretas ou imediatas secundárias do direito, desde que reconhecida a sua utilização pela comunidade jurídica em geral.
TARTUCE entende, ainda, que a equidade, a justiça do caso concreto, também é fonte não formal, indireta ou mediata, assim como a doutrina e a jurisprudência.
LEI
Lei é uma regra geral que, emanando de autoridade competente, é imposta, coativamente, à obediência de todos (CLÓVIS BEVILÁQUA). É a norma imposta pelo Estado, devendo ser obedecida, assumindo forma imperativa (TARTUCE). Prevista a lei para um caso concreto, merece esta aplicação direta, conhecida como subsunção, conceituada como sendo a incidência imediata ou direta de uma norma jurídica.
A lei, como fonte principal do Direito, tem as seguintes características básicas: generalidade (dirige-se a todos os cidadãos, tendo eficácia erga omnes), imperatividade (é um imperativo, impondo deveres e condutas), permanência (perdura até que sejarevogada por outra ou perca a eficácia), competência (deve emanar de autoridade competente, com o respeito ao processo de elaboração) e autorizamento (a norma autoriza ou desautoriza determinada conduta).
No que tange à classificação das leis, a mais relevante delas é a que considera sua força obrigatória. As normas cogentes (ou de ordem pública) são aquelas que atendem mais diretamente ao interesse geral, merecendo aplicação obrigatória, eis que são dotadas de imperatividade absoluta. As partes não podem, mediante convenção, ilidir a incidência de uma norma cogente. Exemplo: normas relacionadas com os direitos da personalidade (arts. 11 a 21 do CC), com os direitos pessoais de família, com a nulidade absoluta dos negócios jurídicos e com a função social da propriedade e dos contratos (art. 2.035, parágrafo único, CC). Já as normas dispositivas (também chamadas supletivas, interpretativas ou de ordem privada) são aquelas que interessam somente aos particulares, podendo ser afastadas por disposição de vontade. Tais normas funcionam no silêncio dos contratantes, suprindo a manifestação de vontade porventura faltante. Exemplo: normas que dizem respeito ao condomínio, ao regime de bens do casamento e à anulabilidade de um negócio jurídico.
COSTUMES
Os costumes podem ser conceituados como sendo as práticas e usos reiterados, com conteúdo lícito e relevância jurídica. Formam-se eles paulatinamente, de forma quase imperceptível, até o momento em que aquela prática reiterada é tida por obrigatória. Note-se que nem todo uso é costume, já que o costume é um uso considerado juridicamente obrigatório. Para tanto, exige-se que o costume seja geral, ou seja, largamente disseminado no meio social, ainda que setorizado numa parcela da sociedade. Exige-se, ainda, que o costume tenha certo lapso de tempo, pois deve constituir-se em hábito arraigado, bem estabelecido. Por fim, o costume deve ser constante, repetitivo na parcela da sociedade que o utiliza.
Para converter-se em fonte do direito, dois requisitos são imprescindíveis: um de ordem objetiva (o uso, a exterioridade do instituto), outro de ordem subjetiva (a consciência coletiva de que aquela prática é obrigatória). É este último aspecto que distingue o costume de outras práticas reiteradas, de ordem moral ou religiosa, ou de simples hábitos sociais.
Exemplos de utilização do costume como fonte subsidiária de interpretação no CC/02: arts. 569, II; 596; 599; 615; 965, I; 1297, § 1º.
Art. 569. O locatário é obrigado:
II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajuste, segundo o costume do lugar;
Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, mediante prévio aviso, pode resolver o contrato.
Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá, porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em trabalhos de tal natureza.
Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor:
I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar;
Art. 1.297. O proprietário tem direito a cercar, murar, valar ou tapar de qualquer modo o seu prédio, urbano ou rural, e pode constranger o seu confinante a proceder com ele à demarcação entre os dois prédios, a aviventar rumos apagados e a renovar marcos destruídos ou arruinados, repartindo-se proporcionalmente entre os interessados as respectivas despesas.
§ 1o Os intervalos, muros, cercas e os tapumes divisórios, tais como sebes vivas, cercas de arame ou de madeira, valas ou banquetas, presumem-se, até prova em contrário, pertencer a ambos os proprietários confinantes, sendo estes obrigados, de conformidade com os costumes da localidade, a concorrer, em partes iguais, para as despesas de sua construção e conservação.
Os costumem podem ser secundum legem (há referência expressa aos costumes no texto legal, razão pela qual não se fala em integração, mas sim em subsunção, eis que a própria norma jurídica é aplicada), praeter legem (costume integrativo, serve para preencher lacunas quando a lei for omissa) ou contra legem (opõe-se ao dispositivo de uma lei e, para a maioria dos doutrinadores, não pode ser admitido, por gerar a instabilidade do sistema).
Mesmo aqueles que admitem o costume ab-rogatório procedem em caráter de exceção. Clóvis Beviláqua afirma que o costume contra legem seria inconveniente por tirar do aparelho jurídico a supremacia da lei e a certeza das prescrições legais, mas conclui que “se o legislador for imprevidente em desenvolver a legislação nacional de harmonia com as transformações econômicas, intelectuais e morais operadas no país, casos excepcionais haverá em que, apesar da declaração peremptória da ineficácia ab-rogatória do costume, este prevaleça CONTRA LEGEM, porque a desídia ou a incapacidade do poder legislativo determinou um regresso parcial da sociedade da época, em que o costume exercia, em sua plenitude, a função de revelar o direito, e porque as forças vivas da nação se divorciam, nesse caso, das normas estabelecidas na lei escrita”.
ANALOGIA
Trata-se de um processo de raciocínio lógico pelo qual o juiz estende um preceito legal a casos não diretamente compreendidos na descrição legal. O juiz pesquisa a vontade da lei, para transportá-la aos casos que a letra do texto não havia compreendido. Para que tenha cabimento, portanto, é necessária uma omissão no ordenamento.
A analogia pode se operar de duas formas: legal ou legis (o aplicador do Direito busca uma norma que se aplica a casos semelhantes) ou jurídica ou iuris (não encontrando um texto semelhante para aplicar ao caso em exame, o juiz tenta extrair do pensamento dominante em um conjunto de normas uma conclusão particular para o caso).
PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREITO
Não há consenso, na doutrina, sobre o que seriam os “princípios gerais de direito”. Para SILVIO
RODRIGUES, trata-se das normas que orientam o legislador na elaboração da sistemática jurídica, ou seja, aqueles princípios que, baseados na observação sociológica e tendo por escopo regular os interesses conflitantes, impõem-se, inexoravelmente, como uma necessidade da vida do homem em sociedade. 
Para MARIA HELENA DINIZ, os princípios são cânones que não foram ditados, explicitamente, pelo elaborador da norma, mas que estão contidos de forma imanente no ordenamento jurídico. Já para NELSON NERY JR, trata-se de regras de conduta que não se encontram positivadas no sistema normativo, mas norteiam o juiz na interpretação da norma, do ato ou do negócio jurídico.
Exemplos de princípios gerais implícitos em nosso sistema: “ninguém pode valer-se da própria torpeza” e “a boa-fé se presume”.
DOUTRINA
O trabalho dos juristas, dos estudiosos do Direito. Há discussão a respeito de considerá-las ou não fonte do direito. Hoje, a doutrina não é tão utilizada ou tão citada nas decisões quanto antes de nossa codificação ou em seus primórdios. Porém, não restam dúvidas de que na doutrina o Direito inspira-se, ora aclarando textos, ora sugerindo reformas, ora importando institutos.
JURISPRUDÊNCIA
O conjunto de decisões dos tribunais, ou uma série de decisões similares sobre uma mesma matéria. Pode ser considerada o próprio “direito ao vivo”, cabendo-lhe o papel de preencher lacunas do ordenamento nos casos concretos.
Embora os julgados não tenham força vinculativa, é inegável que um conjunto de decisões sobre uma matéria, no mesmo sentido, influa na mente do julgador, que tende a julgar de igual maneira. Outro aspecto importante é que a jurisprudência orienta o legislador, quando procura dar coloração diversa à interpretação de uma norma, ou quando preenche uma lacuna. Cumpre à jurisprudência, ainda, atualizar o entendimento da lei, dando-lhe uma interpretação atual, que atenda às necessidades do momento do julgamento. Por isso, trata-sede instituto dinâmico.
EQUIDADE
Pode ser conceituada como sendo o uso do bom-senso, a justiça do caso particular, mediante a adaptação razoável da lei ao caso concreto. Segundo o art. 140, parágrafo único do NCPC, o juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
NCPC/2015
Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.
Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei.
Na visão clássica do Direito Civil, a equidade era tratada não como um meio de suprir a lacuna da lei, mas sim como um mero meio de auxiliar nessa missão. Todavia, entende TARTUCE que, no sistema contemporâneo privado, a equidade deve ser considerada fonte informal ou indireta do direito. Isso porque o CC/02 adota um sistema de cláusulas gerais, pelo qual o aplicador do Direito, por diversas vezes, é convocado a preencher “janelas abertas” deixadas pelo legislador, de acordo com a equidade, o bom senso.
	Como o assunto foi cobrado em provas?
01. (FCC – PGE-MT – Procurador do Estado/2016):
De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, a lei nova possui efeito:
a) imediato, por isto atingindo os fatos pendentes, mas devendo respeitar a coisa julgada, o ato jurídico perfeito e o direito adquirido, incluindo o negócio jurídico sujeito a termo ou sob condição suspensiva. 
b) retroativo, por isto atingindo os fatos pendentes, mas devendo respeitar a coisa julgada, o ato jurídico perfeito e o direito adquirido, ao qual não se equiparam, para fins de direito intertemporal, o negócio jurídico sujeito a termo ou sob condição suspensiva. 
c) retroativo, por isto atingindo os fatos pendentes, mas devendo respeitar a coisa julgada, o ato jurídico perfeito e o direito adquirido, ao qual se equipara, para fins de direito intertemporal, o negócio jurídico sujeito a termo, porém não o negócio jurídico sob condição suspensiva.
d) imediato, por isto atingindo os fatos pendentes, ainda que se caracterizem como coisa julgada, ato jurídico perfeito ou direito adquirido. 
e) imediato, por isto atingindo os fatos pendentes, mas devendo respeitar a coisa julgada, o ato jurídico perfeito e o direito adquirido, ao qual se equiparam as faculdades jurídicas e as expectativas de direito.
Gabarito:[2: A. Conforme art. 6º, §2º, LINDB. ]
02. (CESPE – Analista Judiciário – TRT 8ª Região/2016):
Assinale a opção correta, em relação à classificação e à eficácia das leis no tempo e no espaço.
a) Quanto à eficácia da lei no espaço, no Brasil se adota o princípio da territorialidade moderada, que permite, em alguns casos, que lei estrangeira seja aplicada dentro de território brasileiro.
b) De acordo com a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB), em regra, a lei revogada é restaurada quando a lei revogadora perde a vigência.
c) Por ser o direito civil ramo do direito privado, impera o princípio da autonomia de vontade, de forma que as partes podem, de comum acordo, afastar a imperatividade das leis denominadas cogentes.
d) A lei entra em vigor somente depois de transcorrido o prazo da vacatio legis, e não com sua publicação em órgão oficial.
e) Dado o princípio da continuidade, a lei terá vigência enquanto outra não a modificar ou revogar, podendo a revogação ocorrer pela derrogação, que é a supressão integral da lei, ou pela ab-rogação, quando a supressão é apenas parcial.
Gabarito:[3: A.]
03. (FCC – TJ-PI – Juiz Substituto/2015):
Lei nova que estabelecer disposição geral a par de lei já existente, 
a) apenas modifica a lei anterior. 
b) não revoga, nem modifica a lei anterior. 
c) derroga a lei anterior. 
d) ab-roga a lei anterior.
e) revoga tacitamente a lei anterior.
Gabarito:[4: B. Art.2º, §2º.]
04. (CESPE – TRE-MT – Analista Judiciário/2015):
Com base no disposto na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, assinale a opção correta.
a) No tocante aos regramentos do direito de família, adota-se o critério jus sanguinis na referida lei.
b) A sucessão de bens de estrangeiros situados no território brasileiro é disciplinada pela lei brasileira em favor do cônjuge ou dos filhos brasileiros, mesmo se a lei do país de origem do de cujus for-lhes mais favorável.
c) Ao confronto entre uma lei especial e outra lei geral e posterior dá-se o nome de antinomia de segundo grau.
d) Ocorre lacuna ontológica na lei quando existe texto legal para a solução do caso concreto, mas esse texto contraria os princípios que regem a própria justiça.
e) O juiz poderá decidir por equidade, mesmo sem previsão legal.
Gabarito:[5: C.]
05. (CESPE – AGU – Advogado da União/2015):
Julgue o item seguinte, que diz respeito à aplicação da lei, às pessoas e aos bens.
Caso a lei a ser aplicada não encontre no mundo fático suporte concreto sobre o qual deva incidir, caberá ao julgador integrar o ordenamento mediante analogia, costumes e princípios gerais do direito.
Gabarito:[6: Certo.]

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