Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
Estafilococos Os estafilococos são células esféricas gram-positivas, geralmente dispostas em cachos irregulares semelhantes a cachos de uvas. Crescem rápido em muitos tipos de meio de cultura e são me tabolicamente ativos, fermentando carboidratos e produzindo pigmentos que variam do branco ao amarelo intenso. Alguns são membros da microbiota normal da pele e das mucosas dos seres humanos; outros causam supuração, formação de absces sos, várias infecções piogênicas e mesmo septicemia fatal. Com frequência, os estafilococos patogênicos hemolisam o sangue, coagulam o plasma e produzem uma variedade de enzimas e to xinas extracelulares. O tipo mais comum de intoxicação alimen tar é causado por uma enterotoxina estafilocócica termoestável. Os estafilococos desenvolvem rapidamente resistência a nume rosos antimicrobianos, resultando, assim, problemas na conduta terapêutica. O gênero Staphylococcus é constituído por pelo menos 40 es pécies. As quatro espécies de importância clínica encontradas com maior frequência são o Staphylococcus aureus*, o Staphylo coccus epidermidis, Staphylococcus lugdunensis e o Staphylococ cus saprophyticus. O S. aureus é coagulase-positivo, o que o distingue das outras espécies; é um importante patógeno para os seres humanos. Quase todos os indivíduos sofrem algum tipo de infecção causada por S. aureus durante a vida, cuja gravida de varia de uma intoxicação alimentar ou infecção cutânea de pouca importância até infecções graves e potencialmente fatais. Os estafilococos coagulase-negativos são membros da microbio ta humana normal, e às vezes causam infecções frequentemen te associadas a dispositivos e aparelhos implantados, tais como próteses de articulações, cateteres intravasculares, especialmen te em pacientes muito jovens, idosos e imunocomprometidos. Cerca de 75% dessas infecções causadas por estaftlococos coa gulase-negativos devem-se ao S. epidermidis; as infecções cau sadas por Staphylococcus lugdunensis, Staphylococcus warneri, Staphylococcus hominis e outras espécies são menos comuns. O S. saprophyticus representa uma causa relativamente comum de infecções do trato urinário em mulheres jovens, embora ra ramente causem infecções em pacientes hospitalizados. Outras espécies são importantes na medicina veterinária. Morfologia e identificação A. Microrganismos típicos Os estafilococos são células esféricas com cerca de 1 µm de diâ metro, dispostas em cachos irregulares (Figura 13.1). Também * N. de R.T. A espécie Staphylococcus. aureus é composta por duas subes pécies: Staphylococcus aureus, subespécie aureus e Staphylococcus aureus, subespécie anaerobius. C A P Í T U L O são observados como cocos isolados, aos pares, tétrades e ca deias em culturas líquidas. Os cocos jovens são fortemente gram-positivos; com o envelhecimento, muitas células tornam se gram-negativas. Os estaftlococos são imóveis e não formam esporos. Sob a influência de fármacos, como a penicilina, os estafilococos sofrem lise. As espécies Micrococcus assemelham-se frequentemente aos estafilococos, sendo encontradas em forma de vida livre no ambiente e formando agrupamentos regulares de quatro (tétrades) ou oito cocos. Suas colônias podem ser amarelas, vermelhas ou alaranjadas. Os micrococos raramente estão as sociados a doenças. B. Cultura Os estafilococos crescem rapidamente na maioria dos meios bacteriológicos, em condições aeróbias ou microaeroftlicas. Crescem com mais rapidez ainda a 37ºC, mas formam melhor o pigmento à temperatura ambiente de 20 a 25ºC. As colônias em meio sólido são arredondadas, lisas, elevadas e brilhantes (Fi gura 13.2). Em geral, o S. aureus forma colônias acinzentadas a amarelo-douradas intensas. No isolamento primário, as colônias de S. epidermidis costumam ser de cor cinza a branca; muitas colônias só apresentam pigmento após incubação prolongada. Não há produção de pigmento em condições anaeróbias ou em caldo. Vários graus de hemólise são provocados pelo S. aureus e ocasionalmente por outras espécies. As espécies de Peptostrepto coccus e Peptoniphilus, que são cocos anaeróbios, frequentemen te assemelham-se aos estafilococos quanto a sua morfologia. O gênero Staphylococcus contém duas espécies, S. saccharolyticus e S. aureus subespécie anaerobius, que inicialmente só crescem em condições de anaerobiose, mas tornam-se aerotolerantes em subculturas. Esse fenômeno pode também ser observado, mais raramente, em algumas amostras de S. epidermidis. C. Características de crescimento Os estafilococos produzem catalase, o que os distingue dos es treptococos, eles fermentam lentamente muitos carboidratos, produzindo ácido láctico, mas não gás. A atividade proteolítica varia bastante de uma cepa para outra. Os estafilococos pato gênicos produzem muitas substâncias extracelulares, que serão discutidas adiante. Os estafilococos mostram-se relativamente resistentes a ressecamento, calor (suportam temperatura de SOºC duran te 30 min.) e cloreto de sódio a 9%, porém são rapidamente inibidos por certas substâncias químicas, como, por exemplo, hexaclorofeno a 3%. 200 SEÇÃO Ili Bacteriologia , ;. • .... ... • ' • , ' FIGURA 13.1 Coloração do Staphylococcus aureus pelo método de Gram mostrando cocos gram-positivos em pares, tétrades e cachos. Amplificação original de 1.000 vezes. (Cortesia de L. Ching.) Os estaftlococos exibem sensibilidade variável a muitos an timicrobianos. A resistência pode ser causada por diferentes • mecanismos: 1. A produção de �-lactamase, sob o controle dos plasmí deos, é comum e torna os microrganismos resistentes a muitas penicilinas (penicilina G, ampicilina, ticarcilina, FIGURA 13.2 Colônias de Staphylococcus aureus em uma placa de ágar-sangue após incubação de 24 horas. As colônias amarelo-acinzen tadas apresentam 3 a 4 mm de diâmetro em uma placa de 10 cm. As colônias são cercadas por zonas claras de �-hemólise de cerca de 1 cm de diâmetro. (Cortesia de H. Reyes.) piperacilina e similares). Os plasmídeos são transmitidos por transdução e talvez também por conjugação. 2. A resistência à nafcilina (bem como à meticilina e à oxaci lina) independe da produção de �-lactamase. A resistência à nafcilina é codificada e regulada por uma sequência de genes encontrados em uma região do cromossomo cha mado cassete cromossômico estaftlocócico (staphylococcal cassette chromosome mec [SCCmec]). O gene mecA nesse locus codifica especificamente uma proteína de ligação à penicilina (protein bindingpenicillin [PBP]) de baixa afini dade (PBP2a), que é responsável pela resistência. Existem 12 tipos diferentes de SCCmec. Os tipos I, II e III estão associados a infecções adquiridas em hospitais e podem conter genes que codificam resistência a outros antimi crobianos. O SCCmec tipo IV tem sido encontrado prin cipalmente em cepas de S. aureus resistentes à meticilina adquiridas na comunidade (CA-MRSA), e tende a ser me nos resistente e mais transmissível. Esse tipo de SCCmec também foi responsável por surtos epidêmicos na última década nos EUA e em alguns países da Europa. Outros ti pos têm a sua distribuição limitada em diferentes localiza ções geográficas no mundo. 3. Nos EUA, o S. aureus e o S. lugdunensis são considerados sensíveis à vancomicina se a concentração inibitória míni ma (CIM) for =:;; 2 µg/mL; de sensibilidade intermediária se a CIM for de 4 a 8 µg/mL; e resistente se a CIM for � 16 µg/mL. Cepas do S. aureus com sensibilidade interme diária à vancomicina foram isoladas no Japão, nos EUA e em alguns outros países. Essas cepas são conhecidas como VISA ( vancomycin-intermediate S. aureus). Em geral, essas cepas de S. aureus têm sido isoladas de pacientes com in fecções complexas que receberam terapia prolongada com vancomicina. Às vezes há falha do tratamento com vanco micina. O mecanismo de resistência está associado a uma síntese aumentada de parede celular e alterações na parede celular, e não é provocado pelos genes van encontrados nos enterococos. As cepas de S. aureus com suscetibilida de intermediária à vancomicina costumam ser resistentes à nafcilina, mas em geral são sensíveis a oxazolidinonas e a quinu pristina/ dalfopristina. 4. Desde 2002, diversas cepas de S. aureus resistentes à vanco micina (VRSA) foram isoladas de pacientes nos EUA. Essas amostras continham o gene de resistência à vancomicina vanA dos enterococos (Cap. 14) e o gene mecA de resistên cia à nafcilina (ver anteriormente). Essas cepas eram sensí veis a outros antimicrobianos. A resistência à vancomicina é uma grande preocupação no mundo inteiro. 5. A resistência mediada por plasmídeos às tetraciclinas, eritromicinas, aminoglicosídeos e outros fármacos é fre quente nos estafilococos. 6. O termo "tolerância,, implica que os estaftlococos são ini bidos, mas não destruídos por um fármaco - isto é, exis te uma grande diferença entre a concentração inibitória mínima e a concentração bactericida mínima de um anti microbiano. Os pacientes com endocardite causada por S. aureus tolerante podem apresentar uma evolução clínica prolongada em comparação com os pacientes que têm en docardite provocada por S. aureus totalmente suscetível. Às vezes, a tolerância pode ser atribuída à ausência de ati vação das enzimas autolíticas na parede celular. D. Variação Uma cultura de estaftlococos contém algumas bactérias que diferem da maioria da população na expressão de determi nadas características da colônia (tamanho, presença de pig mento, ocorrência de hemólise), na elaboração de enzimas, na resistência a fármacos e na patogenicidade. A expressão dessas características in vitro é influenciada pelas condições de cres cimento: quando o S. aureus resistente à nafcilina é incuba do a 37ºC em ágar-sangue, um em cada 107 microrganismos expressa resistência à nafcilina; quando incubado a 30ºC em ágar contendo cloreto de sódio a 2 a 5%, um em cada 103 mi crorganismos expressa tal resistência; esse fenômeno é também conhecido como resistência heterogênea. Estrutura antigênica Os estafilococos contêm polissacarídeos e proteínas antigêni cas, bem como outras substâncias importantes na estrutura da parede celular. O peptidoglicano, um polímero de polissacarí deos contendo subunidades ligadas, proporciona o rígido exo esqueleto da parede celular. O peptidoglicano é destruído por ácido forte ou por exposição à lisozima, sendo importante na patogênese da infecção, pois induz a produção de interleucina 1 (piro gênio endógeno) e de anticorpos opsônicos pelos mo nócitos. Além disso, pode atuar como quimioatraente para os leucócitos polimorfonucleares, apresenta atividade semelhante a uma endotoxina e ativa o complemento. Os ácidos teicoicos, que são polímeros polirribitol-f osfato, são ligados cruzadamente ao peptidoglicano e podem ser an tigênicos. Em pacientes com endocardite ativa causada por S. aureus, pode-se verificar a presença de anticorpos contra o áci do teicoico detectáveis por difusão em gel. A proteína A é um componente da parede celular de amos tras de S. aureus, sendo caracterizada como uma proteína de superfície dentro do grupo de adesinas, denominadas, compo nentes de superfície microbiana reconhecedores de moléculas adesivas de matriz (microbial surface components recognizing adhesive matrix molecules [MSCRAMMs]). A fixação bacte riana à célula hospedeira é mediada por MSCRAMMS, sendo estes importantes fatores de virulência. A proteína A liga-se à porção Fc das moléculas de IgG, exceto IgG3• A porção Fab da IgG ligada à proteína A permanece livre para combinar-se com um antígeno específico. A proteína A tornou-se um importan te reagente em imunologia e na tecnologia laboratorial diag nóstica. Assim, por exemplo, a proteína A, ligada a moléculas de IgG dirigidas contra um antígeno bacteriano específico, aglutina bactérias que apresentam esse antígeno em sua super fície ("coaglutinação" [clumping factor]). Outro importante MSCRAMM é o fator de agregação* presente na superfície da parede celular. O fator de agregação se liga, de forma não enzi mática, ao fibrinogênio e a plaquetas, resultando em agregação da bactéria. Existem muitos outros MSCRAMMs para serem descritos (ver referências) que desempenham importantes fun ções na colonização e invasão de S. aureus. A maioria das amostras clínicas de S. aureus é dotada de cápsulas de origem polissacarídica que inibem a fagocitose por leucócitos polimorfonucleares, a não ser que haja anticorpos * N. de R.T. O fator de agregação também é denominado coagulase ligada. CAPÍTULO 13 Estafilococos 201 específicos. Pelo menos 1 1 sorotipos já foram identificados, onde os sorotipos 5 e 8 são responsáveis pela maioria das infec ções. Esses tipos capsulares são alvos para vacinas conjugadas. Testes sorológicos apresentam utilidade limitada na indentifi cação dos estaftlococos. Enzimas e toxinas Os estafilococos podem causar doença em virtude de sua capa cidade de multiplicação e ampla disseminação nos tecidos, bem como pela produção de muitas substâncias extracelulares, algu mas delas enzimas e outras consideradas toxinas, embora pos sam atuar como enzimas. Muitas das toxinas estão sob o controle genético dos plasmídeos; outras podem estar sob controle tanto cromossômico quanto extracromossômico. Em outros casos, o mecanismo de controle genético não está bem definido. A. Catalase Os estafilococos produzem catalase, que converte o peróxido de hidrogênio em água e oxigênio. O teste da catalase diferen cia os estafilococos, que são positivos, dos estreptococos, que são negativos. B. Coagulase e fator de agregação S. aureus produz coagulase, uma proteína semelhante a enzima que coagula o plasma oxalatado ou citratado na presença de um fator contido no soro. A coagulase liga-se à protrombina e, juntas, tornam-se enzimaticamente ativas, iniciando a po limerização da fibrina. A coagulase pode depositar fibrina na superfície dos estaftlococos, alterando talvez sua ingestão por células fagocíticas ou sua destruição no interior dessas células. A produção de coagulase é considerada sinônimo de potencial patogênico invasivo. O fator de agregação (clumpingfactor), outro exemplo de MSCRAMM (ver anteriormente) é responsável pela aderência dos microrganismos ao fibrinogênio e à fibrina. Quando mistu rados com o plasma, os S. aureus formam agregados. O fator de agregação é distinto da coagulase. Uma vez que induz uma forte resposta imunogênica do hospedeiro. Esse antígeno tem sido in vestigado como possível candidato vacinal, porém até o momen to nenhuma vacina humana baseada nesse fator está disponível. C. Outras enzimas Outras enzimas produzidas pelos estaftlococos são a hialuro nidase, ou fator de propagação; estaftloquinase, que provoca fibrinólise, mas tem ação muito mais lenta que a estreptoqui nase; proteinases; lipases; e �-lactamase. D. Hemolisinas A a.-hemolisina é uma proteína heterogênea que atua em um largo espectro de membranas das células eucarióticas. A �-toxina degrada a esfingomielina sendo, portanto, tóxica pa ra muitos tipos de célula, inclusive os eritrócitos humanos. A ô-toxina é heterogênea, dissociando-se em subunidades em detergentes não iônicos. Desestrutura membranas biológicas e pode ter um papel nas doenças diarreicas causadas por S. aureus. A y hemolisina é uma leucocidina que lisa leucócitos sendo composta por duas proteínas denominadas S e F. Essa hemolisina pode interagir com duas proteínas, compreendendo 202 SEÇÃO Ili Bacteriologia a leucocidina de Panton-Valentine (PVL) (ver adiante), para formar seis potenciais toxinas de dois componentes. Todas es tas seis toxinas proteicas são capazes de lisar de maneira efi ciente os leucócitos pela formação de poros nas membranas intracelulares, o que aumenta a permeabilidade dos cátions. Isso leva a uma liberação maciça de mediadores inflamatórios, como a IL 8, leucotrienos e histamina, que são responsáveis por necrose e inflamação grave. E. Leucocidina de Panton-Valentine A toxina PVL do S. aureus possui dois componentes que ao contrário das hemolisinas codificadas cromossomicamente são codificadas por um fago móvel. Essa toxina pode destruir os leucócitos humanos e de coelhos. Os dois componentes, desig nados como S e F, atuam sinergisticamente na membrana dos leucócitos, como descrito anteriormente para a y toxina. Esta toxina constitui um importante fator de virulência em infec ções causadas por CA-MRSA. Ambos os grupos de hemolisi nas são regulados pelo gene agr (ver adiante). F. Toxinas esfoliativas As toxinas epidermolíticas do S. aureus são compostas por duas proteínas de massa molecular (MM) igual. A toxina es foliativa A ( esfoliatina) é codificada pelo gene eta localizado em um fago, sendo termoestável (resiste a fervura por 20 mi nutos). A esfoliatina B é mediada por plasmídeo, sendo ter molábil. Essas toxinas epidermolíticas produzem descamação generalizada na síndrome estafilocócica da pele escaldada por dissolução da matriz mucopolissacarídica da epiderme. Estas toxinas são superantígenos. G. Toxina da síndrome do choque tóxico A maioria das cepas de S. aureus isoladas de pacientes com a síndrome do choque tóxico produz uma toxina denominada toxina da síndrome do choque tóxico 1 (toxic shock syndrome toxin-1 [TSST 1]), semelhante à enterotoxina F. A TSST 1 é o protótipo de um superantígeno (Cap. 8). Essa toxina se liga a molécula de histocompatibilidade principal classe II (major histocompatibility complex [MHC] classe II), levando à estimu lação das células T, que promove as inúmeras manifestações da síndrome do choque tóxico. A toxina está associada a febre, choque e comprometimento multissistêmico, inclusive erup ção cutânea descamativa. O gene da TSST 1 é encontrado em cerca de 20% dos isolados de S. aureus, inclusive MRSA. H. Enterotoxinas Existem várias enterotoxinas (A-E, G-J, K-R e U, V) que são con sideradas superantígenos semelhantes a TSST-1. Aproximada mente 50% das cepas de S. aureus podem produzir uma ou mais enterotoxinas. As enterotoxinas são termoestáveis e resistem à ação das enzimas intestinais. Importante causa da intoxicação alimentar, as enterotoxinas são produzidas quando o S. aureus cresce em alimentos que contenham carboidratos e proteínas. A ingestão de 25 µg de enterotoxina B resulta em vômitos e diar reia. É provável que o efeito emético da enterotoxina resulte da estimulação do sistema nervoso central (centro dos vômitos) após a toxina atuar sobre receptores neurais no intestino. Os genes da toxina esfoliativa, da TSST 1 e das enteroto xinas estão em um elemento cromossômico chamado ilha de patogenicidade, que interage com elementos genéticos acessó rios - bacteriófagos - para produzir as toxinas. Patogênese Os estafilococos, em particular o S. epidermidis, são membros da microbiota normal da pele humana, das vias respiratórias e do trato gastrintestinal. O estado de portador nasal do S. au reus é observado em 20 a 50% dos seres humanos. Os estaftlo cocos também são encontrados regularmente no vestuário, nas roupas de cama e em outros fômites em ambientes humanos. A capacidade patogênica de uma determinada cepa de S. aureus reside no efeito combinado dos fatores extracelulares e toxinas, juntamente com as propriedades invasivas da cepa. Em uma extremidade do espectro patológico encontra-se a intoxica ção alimentar estaftlocócica, atribuível meramente à ingestão de enterotoxina pré-formada; no outro extremo, estão a bacterie mia estafilocócica e abscessos disseminados em todos os órgãos. O S. aureus patogênico e invasivo produz coagulase, ten dendo a formar um pigmento amarelo e ser hemolítico. Os estafilococos não patogênicos e não invasivos, como o S. epi dermidis, são coagulase-negativos e tendem a ser não hemolí ticos, raramente provocando supuração, mas podem infectar próteses ortopédicas ou cardiovasculares, ou causar doença em indivíduos imunossuprimidos. Podem ser refratários ao tra tamento devido à formação de biofilmes. S. lugdunensis tem emergido como um patógeno associado a um espectro de in fecções similar ao do S. aureus. Além disso, essas duas espécies compartilham características fenotípicas, como as hemolisinas e o fator de agregação. Em geral, o S. saprophyticus não é pig mentado, mostra-se resistente à novobiocina e não é hemolíti co, e causa infecções das vias urinárias em mulheres jovens. Regulação dos determinantes da virulência A expressão dos determinantes de virulência em estaftlococos é regulada por diversos sistemas sensíveis que reagem aos si nais do ambiente. O primeiro desses sistemas consiste em duas proteínas (sistema de dois componentes), como, por exemplo, o gene regulador acessório (accessory gene regulator [agr] ). Ou tros dois sistemas incluem as proteínas de ligação a DNA (p. ex. proteínas sar) e os pequenos RNAs reguladores (microRNAs; p. ex. RNAIII). A ligação dos sensores a ligantes extracelulares específicos, ou a um receptor, resulta na cascata de fosforilação que leva à ligação do regulador a uma sequência de DNA es pecífica, a qual leva posteriormente à ativação das funções de regulação-transcrição. Existem diversos sistemas regulatórios de dois componentes em S. aureus, como agr, o mais bem des crito, saeRS, srr AB, arlSR e lytRS. Um resumo de como esses sistemas interagem está brevemente descrito a seguir. O gene regulador acessório (agr) é essencial no controle por quorum sensing da expressão gênica. Ele controla a expressão preferencial das adesinas de superfície (proteína A, coagulase e proteína de ligação ao fibrinogênio) e a produção de exoproteí nas (toxinas tipo TSST 1), dependendo do momento da fase de crescimento (e, portanto, da densidade bacteriana). Em baixa densidade celular, o promotor P2 fica reprimido, e a transcrição da proteína transmembrana, AgrB; peptídeo precursor, AgrD; sensor transmembrana, AgrC; e o regulador da transcrição, AgrA, estão em baixos níveis. Como a densida de celular aumenta durante a fase estacionária de crescimento, o sensor AgrC ativa o regulador AgrA, uma proteína de ligação ao DNA que ativa os promotores P2 e P3. O promotor P3 ini cia a transcrição da ô hemolisina e um efetor chamado RNAIII, que reprime a expressão das adesinas de superfície e ativa a se creção de exoproteínas em níveis transcricional e de tradução. Agr também é controlado positivamente por uma proteína de ligação ao DNA chamada SarA (codificada por sar) e possivel mente por outros sistemas regulatórios. Comprovou-se que pelo menos quatro sistemas regulató rios de dois outros componentes afetam a expressão dos genes de virulência, sendo chamados sae, exoproteínas de S. aureus; srr AB, staphylococcal respiratory response; arlS, sensor relacio nado com o locus de autólise; e lytRS. Sae regula a expressão gênica em nível transcricional, sendo essencial para a produção de a-toxina, �-hemolisinas e coagulase. Sua atividade indepen de da atividade de agr. SrrAB é importante na regulação da ex pressão dos fatores de virulência influenciados pelo oxigênio do ambiente. O locus arlSR é importante no controle da autóli se e diminui a ativação do locus agr. O locus lytRS também está envolvido na autólise. Patologia O protótipo de uma lesão estafilocócica é o furúnculo ou ou tros abscessos localizados. O S. aureus estabelecido em grupos, em um folículo piloso, provoca necrose tecidual (fator dermo necrótico ). A coagulase produzida coagula a fibrina ao redor da lesão e no interior dos vasos linfáticos, resultando na for mação de uma parede que limita o processo, sendo reforçada pelo acúmulo de células inflamatórias e, posteriormente, de tecido fibroso. No centro da lesão, ocorre liquefação do tecido necrótico (intensificada por hipersensibilidade tardia), e o abs cesso "aponta" na direção da menor resistência. A drenagem do líquido do centro do tecido necrótico é seguida de lento preenchimento da cavidade por tecido de granulação, com ci catrização final. A supuração focal (abscesso) é típica da infecção estaftlo cócica. A partir de qualquer foco, os microrganismos podem propagar-se, através dos vasos linfáticos e da corrente sanguí nea, para outras partes do corpo. A supuração no interior das veias, associada à trombose, constitui uma característica co mum dessa disseminação. Na osteomielite, o foco primário de crescimento do S. aureus consiste, em geral, em um vaso san guíneo terminal da metáfise de um osso longo, resultando em necrose do osso e supuração crônica. O S. aureus pode causar pneumonia, meningite, empiema, endocardite ou sepse, com supuração em qualquer órgão. Os estafilococos pouco invasi vos estão envolvidos em muitas infecções cutâneas (p. ex., ac ne, piodermatite ou impetigo). Os cocos anaeróbios (espécies de Peptostreptococcus) participam das infecções anaeróbias mistas. Os estaftlococos também causam doença graças à elabo ração de toxinas, sem infecção invasiva aparente. A esf oliação bolhosa - a síndrome da pele escaldada - é causada pela pro dução de toxina esfoliativa. A síndrome do choque tóxico está associada à TSST 1. CAPÍTULO 13 Estafilococos 203 Manifestações clínicas A infecção estafilocócica localizada aparece em forma de "es pinha", infecção de folículo piloso ou abscesso. Em geral, ve rifica-se intensa reação inflamatória localizada e dolorosa que sofre supuração central e cicatriza rapidamente quando o pus é drenado. A parede de fibrina e células em torno do centro do abscesso tende a impedir a disseminação dos microrganismos, não devendo ser rompida por manipulação ou traumatismo. A infecção por S. aureus também pode resultar da conta minação direta de uma ferida, como, por exemplo, infecção estafilocócica pós-operatória da ferida ou infecção após trau matismo ( osteomielite crônica após fratura exposta, meningite após fratura do crânio). Se houver disseminação do S. aureus e bacteriemia, poderá ocorrer endocardite, osteomielite hematogênica aguda, menin gite ou infecção pulmonar. O quadro clínico assemelha-se ao observado em outras infecções hematogênicas. A localização secundária em determinado órgão ou sistema é acompanhada de sinais e sintomas de disfunção orgânica, bem como intensa supuração focal. A intoxicação alimentar causada por enterotoxina estaftlo cócica caracteriza-se por um curto período de incubação (1 a 8 h), náuseas violentas, vômitos e diarreia, assim como rápida convalescença. Não ocorre febre. A síndrome do choque tóxico manifesta-se por início abrupto com febre alta, vômitos, diarreia, mialgias, erupção escarlatiforme e hipotensão, com insuficiência cardíaca e renal nos casos mais graves. Com frequência, esta síndrome ocorre até 5 dias após o início da menstruação em mulheres jovens que usam tampões higiênicos de alta absorção, mas também é observada em crianças e em homens com infecções de feridas por estaftlococos. A síndrome pode ter recidiva. O S. aureus associado à síndrome do choque tóxico pode ser encontrado na vagina, em tampões higiênicos, feridas ou outras infecções localizadas, ou na garganta, mas praticamente nunca na cor rente sanguínea. Exames diagnósticos laboratoriais A.Amostras São amostras apropriadas para cultivo: pus coletado por swab de superfície ou aspirado a partir de um abscesso, sangue, as pirado traqueal ou líquido cerebrospinal para cultura, depen dendo da localização do processo infeccioso. A nasofaringe anterior é a região para coleta de material por swab para deter minação de colonização nasal tanto por cultura clássica quanto por testes de amplificação do ácido nucleico. B. Esfregaços Estaftlococos típicos aparecem como cocos gram-positivos em aglomerados, em esfregaços corados de pus ou escarro. Não é possível distinguir os microrganismos saprofíticos (S. epider midis) dos patogênicos (S. aureus) nos esfregaços. C. Cultura As amostras semeadas em placas de ágar-sangue produzem colônias típicas em 18 horas a 37ºC, porém a hemólise e a 204 SEÇÃO Ili Bacteriologia formação de pigmento podem não ocorrer em um prazo de alguns dias, sendo seu aparecimento ótimo à temperatura am biente. O S. aureus, mas não outros estafilococos, fermenta o manitol. As amostras contaminadas com microbiota mista po dem ser cultivadas em meio que contenha NaCl a 7,5%; o sal inibe a maior parte da microbiota normal, mas não o S. aureus. Utilizam-se ágar com manitol hipertônico ou meio cromogê nico disponível comercialmente para rastreamento dos porta dores nasais de S. aureus e pacientes com fibrose cística. D. Teste da catalase Teste usado para detectar a presença de enzimas citocromo oxi dase. Deposita-se uma gota de solução de peróxido de hidrogênio a 3% sobre uma lâmina e acrescenta-se uma pequena quantidade do crescimento bacteriano na solução. A formação de bolhas (li beração de oxigênio) indica resultado positivo no teste. E. Teste da coagulase O plasma citratado de coelhos (ou de seres humanos), diluído a 1:5, é misturado com um volume igual de caldo de cultura ou crescimento de colônias em ágar, sendo incubado a 37ºC. Um tubo de plasma misturado com caldo estéril é incluído como controle. Se houver a formação de coágulos em 1 a 4 horas, o resultado do teste será positivo. Os estafilococos coagulase-positivos são considerados pa togênicos para os seres humanos; entretanto, os estaftlococos coagulase-positivos de cães (Staphylococcus intermedius) e gol finhos ( Staphylococcus delphini) raramente causam doença em seres humanos. As infecções de próteses podem ser causadas por microrganismos do grupo do S. epidermidis coagulase-negativo. F. Teste de sensibilidade Deve-se fazer o teste de microdiluição em caldo ou por difu são em disco rotineiramente com estafilococos isolados de infecções clinicamente significativas. É possível prever a re sistência à penicilina G pelo resultado do teste positivo para a �-lactamase; cerca de 90% de S. aureus produzem �-lactamase. A resistência à nafcilina (e à oxacilina, bem como à meticili na) ocorre em cerca de 65% de S. aureus e aproximadamente 75% de S. epidermidis. A resistência à nafcilina (ou à oxacilina) correlaciona-se com a presença de mecA, o gene que codifica uma proteína de ligação à penicilina (PBP2a) que não é afe tada por esses fármacos. O gene pode ser detectado por meio da reação em cadeia da polimerase (PCR). A maior parte dos laboratórios clínicos usa métodos fenotípicos, como o rastrea mento em placas de ágar contendo oxacilina. Os estaftlococos que crescem em ágar Muller-Hinton contendo 4% de NaCl e 6 µg/mL de oxacilina, em geral, são positivos para o gene mecA e resistentes à oxacilina/nafcilina. Alternativamente, um teste para detecção do produto do gene mecA, a PBP2a, está dispo nível comercialmente, sendo muito mais rápido que uma PCR para detecção de mecA ou outros testes para a resistência que empreguem meios de crescimento em ágar com oxacilina. G. Testes sorológicos e tipagem Os testes sorológicos para o diagnóstico de infecções por S. au reus têm pouco valor prático. Os padrões de sensibilidade a antibióticos mostram-se úteis na avaliação das infecções por S. aureus e para determinar se vários isolados do S. epidermidis de hemoculturas representam bacteriemia causada pela mesma cepa, disseminada por um ni cho de infecção. As técnicas de tipagem molecular têm sido utilizadas para documentar a disseminação de clones do S. aureus produtores de doença epidêmica. A eletroforese em gel de campo pulsa do (PFGE) e a tipagem por sequenciamento de múltiplos locus (MLST) são altamente discriminativas. Tratamento A maioria dos indivíduos abriga estaftlococos na pele, no na riz ou na garganta. Mesmo que fosse possível remover da pele os estaftlococos (p. ex., no eczema), ocorreria reinfecção qua se imediatamente por perdigotos. Como os microrganismos patogênicos se disseminam geralmente a partir de uma lesão (p. ex., furúnculo) para outras áreas da pele por meio dos dedos e das roupas, é importante proceder a uma rigorosa assepsia local para controlar a furunculose recidivante. As infecções cutâneas múltiplas graves (acne, furunculose) ocorrem mais frequentemente em adolescentes. Verifica-se a ocorrência de infecções cutâneas semelhantes em pacientes que recebem tratamento prolongado com corticosteroides. Na acne, as lipases dos estafilococos e das corinebactérias liberam ácidos graxos dos lipídeos e, assim, causam irritação tecidual. As tetraciclinas são utilizadas para tratamento a longo prazo. Abscessos e outras lesões supurativas fechadas são tratados por drenagem, que é essencial, e terapia com antimicrobianos, muitos dos quais exercem algum efeito contra os estafilococos in vitro, mas é difícil erradicar os estafilococos patogênicos dos indivíduos infectados, visto que os microrganismos desenvol vem rapidamente resistência a muitos antimicrobianos, e os fármacos não conseguem atuar na parte necrótica central da lesão supurativa. Além disso, é difícil erradicar o estado de por tador de S. aureus. A osteomielite hematogênica aguda responde satisfatoria mente aos antimicrobianos. Na osteomielite crônica e recidivante, a drenagem cirúrgica e remoção do osso morto são acompanha das de administração prolongada de fármacos apropriados, em bora seja difícil erradicar os estafilococos infectantes. Oxigênio hiperbárico e aplicação de retalhos miocutâneos vascularizados ajudam na cicatrização em caso de osteomielite crônica. A bacteriemia, a endocardite, a pneumonia e outras infecções causadas por S. aureus exigem tratamento intravenoso prolon gado com penicilina resistente à �-lactamase. Com frequência, a vancomicina é reservada para os estafilococos resistentes à naf cilina. Nos últimos anos, o aumento da concentração inibitória mínima (MIC) à vancomicina, entre diversas cepas de MRSA isoladas de pacientes hospitalizados levaram os clínicos a pro curar outras terapias. Os agentes alternativos para o tratamento de bacteriemias e endocardites por MRSA incluem novos an timicrobianos, como a daptomicina, linezolida e dalf opristina quinopristina (ver Cap. 28). Além disso, estes agentes podem ser bactericidas e oferecem alternativas quando alergias impedem o emprego de outros compostos ou quando ocorrer falha clí nica no tratamento. Entretanto, o uso desses agentes deve ser discutido com os infectologistas e farmacêuticos, pois os efeitos colaterais e a farmacocinética são característicos de cada agente. Há pouco tempo, uma nova classe de cefalosporinas denomi nada ceftarolina, que apresenta atividade contra MRSA (outras bactérias gram-positivas e algumas gram-negativas) foi aprova da para o tratamento de infecções cutâneas de tecidos moles e de pneumonias comunitárias. Esse fármaco ainda não apresenta indicação para o tratamento de bacteriemias. Se a infecção for causada por S. aureus não produtor de �-lactamase, a penicilina G é o fármaco de escolha, mas atualmente essas cepas de S. au reus raramente são encontradas. É difícil curar as infecções por S. epidermidis, visto que ocor rem em próteses em que as bactérias podem ser sequestradas da circulação em um biofilme. O S. epidermidis é mais frequente mente resistente a antimicrobianos do que o S. aureus; cerca de 75% das cepas de S. epidermidis são resistentes à nafcilina. Devido à frequência de cepas resistentes a fármacos, é con veniente fazer antibiogramas com os estaftlococos isolados para ajudar na escolha dos fármacos sistêmicos. A resistência a fármacos do grupo da eritromicina tende a surgir tão rapi damente que eles não devem ser utilizados isoladamente no tratamento de infecção crônica. A resistência a fármacos (pe nicilinas, tetraciclinas, aminoglicosídeos, eritromicinas, etc.) determinada pelos plasmídeos pode ser transmitida entre os estaftlococos por transdução e talvez por conjugação. As cepas de S. aureus resistentes à penicilina G, provenien tes de infecções clínicas, sempre produzem penicilinase. No momento, S. aureus isolados em comunidades nos EUA cons tituem mais de 95%. Com frequência, mostram-se sensíveis a penicilinas resistentes à �-lactamase, às cefalosporinas ou à vancomicina. A resistência à nafcilina independe da produção de �-lactamase, e sua incidência clínica varia acentuadamente em diferentes países e épocas. A pressão seletiva dos antimicro bianos resistentes a �-lactamases pode não constituir o único determinante na resistência a esses fármacos: na Dinamarca, por exemplo, o S. aureus resistente à nafcilina representou 40% dos microrganismos isolados em 1970 e apenas 10% em 1980, sem qualquer alteração notável no uso da nafcilina ou de fármacos semelhantes. Nos EUA, o S. aureus resistente à nafcilina foi responsável por apenas 0,1 % dos microrganismos isolados em 1970, mas na década de 1990 passou a constituir 20 a 30% dos microrganismos isolados de infecções em alguns hospitais. Em 2003, 60% dos S. aureus isolados em unidades de tratamento intensivo (UTI) hospitalares eram resistentes à na fcilina. Felizmente, os isolados de S. aureus de sensibilidade in termediária à vancomicina têm sido relativamente incomuns, e o isolamento de cepas resistentes à vancomicina é raro. Epidemiologia e controle Os estaftlococos são parasitos humanos onipresentes. As prin cipais fontes de infecção consistem em lesões humanas, fô mites contaminados por essas lesões, vias respiratórias e pele humana. A propagação da infecção por contato assumiu maior importância nos hospitais, onde grande proporção da equipe e dos pacientes abriga estaftlococos resistentes a antibióticos no nariz ou na pele. Embora a limpeza, a higiene e a manipulação asséptica das lesões possam controlar a disseminação dos esta filococos a partir das lesões, dispõe-se de poucos métodos para impedir a ampla disseminação dos estaftlococos a partir dos portadores. Os aerossóis (p. ex., glicóis) e a irradiação ultravio leta do ar têm pouco efeito. CAPÍTULO 13 Estafilococos 205 Nos hospitais, as áreas de maior risco de infecções estafi locócicas graves são os berçários, as unidades de tratamento intensivo, o centro cirúrgico e as enfermarias de quimioterapia para tratamento do câncer. A introdução maciça de S. aureus patogênico "epidêmico" nessas áreas pode resultar em doença clínica grave. Os indivíduos com lesões ativas por S. aureus e os portadores devem ser excluídos dessas áreas. Em tais indi víduos, a aplicação de antissépticos tópicos, como a mupiro cina, no nariz ou no períneo pode diminuir a disseminação de microrganismos perigosos. A rifampicina, associada a um segundo fármaco antiestaftlocócico oral, às vezes proporciona supressão por longo tempo e possivelmente a eliminação do estado de portador nasal; em geral, essa forma de tratamento é reservada para os graves problemas de portador estafilocócico, visto que esses microrganismos têm a capacidade de desenvol ver rapidamente resistência à rifampicina. Para diminuir a transmissão dentro de hospitais, os pa cientes de alto risco, como os internados em unidades de tra tamento intensivo e pacientes transferidos para enfermarias de recuperação de pacientes crônicos, em que a prevalência é alta, precisam ser monitorados com frequência quanto à colo nização das narinas anteriores. Os pacientes com culturas ou PCR positivas devem ser colocados sob precauções de contato (isolamento), para se minimizar a disseminação pelo manuseio por agentes de saúde. Os agentes de saúde devem seguir es tritamente as normas de controle de infecção, usando luvas e lavando as mãos antes e depois do contato com o paciente. Até pouco tempo, os pacientes infectados com MRSA eram confinados principalmente em hospitais. A dissemina ção mundial de poucos clones distintos das cepas comunitá rias CA-MRSA resultou em aumento das infecções de pele e tecidos superficiais, bem como pneumonia necrosante, princi palmente em pacientes jovens sem fatores de risco conhecidos para aquisição de MRSA. Essas cepas parecem mais virulentas. Os isolados de CA-MRSA são caracterizados pela presença da PVL e do SCCmec tipo IV, o que pode explicar a maior sensi bilidade a outros agentes antimicrobianos quando comparados com as cepas de MRSA de origem hospitalar. RESUMO DO CAPÍTULO • As espécies de Staphylococcus são catalase-positivas, gram positivas que crescem em agregados e são habitantes comuns da pele e das mucosas humanas de diferentes animais. • O principal patógeno do gênero Staphylococcus é o S. aureus. Esse microrganismo provoca hemólise em ágar sangue é positivo para o teste da coagulase e produz uma variedade de enzimas extracelulares e toxinas que o tornam virulento. • S. aureus apresenta um sistema regulatório complexo, que responde a estímulos ambientais para a expressão de vários dos seus genes de virulência codificados em ilhas de pato genicidade. • O S. aureus está associado a uma ampla variedade de infec ções invasivas e toxigênicas. Os Staphylococcus coagulase negativos são menos virulentos e estão geralmente mais associados à infecções oportunistas (S. epidermidis) ou sín dromes específicas como o S. saphophyticus que provoca infecções do trato urinário. 206 SEÇÃO Ili Bacteriologia • A resistência a antimicrobianos entre as espécies de Sta phylococcus é bem ampla e é codificada por uma variedade de mecanismos, como a produção de �-lactamases, expres são de PBP alterada (PBP2a) e codificada pelo gene cromos somial mecA, entre outros determinantes de resistência.
Compartilhar