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Interrogatório do acusado nos procedimentos especiais

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
CURSO DE DIREITO
Lorrane Torres Andriani
A CONTROVÉRSIA DO MOMENTO DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO NOS PROCEDIEMNTOS ESPECIAIS. 
Recife/PE
2014
		Atualmente, no âmbito do direito penal, há uma discussão de peso sendo debatida pelos juristas da área e que ainda não foi pacificada pela jurisprudência. 
O ponto controverso é acerca do momento da realização da oitiva do acusado nos procedimentos especiais, como o da Lei do Tóxico, uma vez que o rito especial desta Lei prevê que o acusado seja ouvido primeiro, antes de qualquer testemunha, enquanto que no procedimento comum do CPP, esta determinação apenas vigorou até 2008, quando com a edição da Lei 11.719/2008 a oitiva do acusado foi deslocada para o fim do interrogatório das testemunhas.
		As questões relevantes ao debate dizem respeito ao princípio da especialidade, já que a Lei do Tóxico possui previsão específica, devendo prevalecer sobre o procedimento comum, entretanto, há de se considerar que a oitiva do acusado em momento derradeiro constitui fato mais benéfico ao mesmo, de modo que o princípio da retroatividade da lei mais benéfica poderia incidir no caso.
		O ponto é que há muitas nuances a serem consideradas na discussão.
		O caput do art. 400 do CPP estabelece que o interrogatório do acusado será o último ato da instrução penal.
Art. 400.  Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
A alteração da redação original que estabelecia como primeiro ato o interrogatório do acusado foi alterada devido a modificação do entendimento de que a oitiva do acusado seria um mero meio de prova, a qual atualmente é vista como um importante instrumento de defesa.
De fato, ao ser ouvido antes de ter conhecimento dos depoimentos das testemunhas, bem como do ofendido, o acusado não possui meio hábil para traçar sua versão de modo menos danosa a si mesmo. Isto porque, no caso das testemunhas não trazerem relatos suficientes a comprovação da autoria do crime, a melhor linha de ação do acusado seria a de negar o envolvimento, entretanto, caso os relatos testemunhais fossem concretos e convincentes, é de maior valia ao acusado confessar seu delito e obter os possíveis benefícios deste ato.
Sendo assim, em visão jurídica, tem-se que a oitiva do acusado como derradeiro ato da instrução penal constitui homenagem ao princípio da ampla defesa, o qual deve ser resguardado com todo zelo pelo ordenamento de um estado democrático de direito.
Vale mencionar que em visão menos crítica da matéria poderia se chegar a conclusão de que a inversão discutida apenas beneficiaria o acusado culpado, já que o acusado inocente apenas possui uma versão dos fatos, na qual nega a autoria do crime, entretanto, deve-se levar em consideração que em casos mais raros existem testemunhas compradas para mentir em juízo, de modo que ao relatar sua versão anteriormente, o acusada se verá impossibilitado de se contrapor aos relatos inverídicos trazidos pela testemunha. Sendo de suma importância garantir a todos esta possibilidade de ampla e justa defesa. Já que por muitas vezes irá liberar de punição acusados culpados, entretanto é de menor gravidade moral e social deixar de punir um culpado, do que condenar um inocente ao degradante sistema prisional brasileiro.
Sendo assim, em análise da matéria chega-se a conclusão de que mesmo sendo mais específico, o Art. 57 da Lei do Tóxico deve ser substituído pela previsão geral do CPP quanto ao momento do interrogatório do acusado na instrução penal.
Art. 57.  Na audiência de instrução e julgamento, após o interrogatório do acusado e a inquirição das testemunhas, será dada a palavra, sucessivamente, ao representante do Ministério Público e ao defensor do acusado, para sustentação oral, pelo prazo de 20 (vinte) minutos para cada um, prorrogável por mais 10 (dez), a critério do juiz.
Entretanto, infelizmente, não é neste caminho que segue a jurisprudência pátria, a qual ainda entende pelo princípio da especialidade. Todavia, já há alguns julgados em que se adota o entendimento defendido nesta análise, confira-se a seguir.
EMENTA: PROCESSUAL PENAL. INTERROGATÓRIO NAS AÇÕES PENAIS ORIGINÁRIAS DO STF. ATO QUE DEVE PASSAR A SER REALIZADO AO FINAL DO PROCESSO. NOVA REDAÇÃO DO ART. 400 DO CPP. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I ± O art. 400 do Código de Processo Penal, com a redação dada pela Lei 11.719/2008, fixou o interrogatório do réu como ato derradeiro da instrução penal. II ± Sendo tal prática benéfica à defesa, deve prevalecer nas ações penais originárias perante o Supremo Tribunal Federal, em detrimento do previsto no art. 7º da Lei 8.038/90 nesse aspecto. Exceção apenas quanto às ações nas quais o interrogatório já se ultimou. III ± Interpretação sistemática e teleológica do direito. IV ± Agravo regimental a que se nega provimento.
(AP 528 AgR, Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Tribunal Pleno, julgado em 24/03/2011, DJe-109 DIVULG 07-06-2011 PUBLIC 08-06-2011 EMENT VOL-02539-01 PP-00001 RT v. 100, n. 910, 2011, p. 348-354 RJSP v. 59, n. 404, 2011, p. 199-206).

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