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Neurose, psicose e perversao Psicopatologia e normalidade (1)

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Neurose, psicose e perversão: 
Psicopatologia e normalidade1 
 
Cabe, de início fazer algumas reflexões sobre doença mental. A legislação brasileira 
usa o termo “doença mental”, por exemplo, no art. 26 do Código Penal, para 
estabelecer a inimputabilidade penal. Podemos deduzir do uso do termo “doença 
mental” que a legislação acompanha a visão da medicina e de algumas teorias do 
campo do saber da psicologia que diferenciam a doença mental da normalidade. Isso 
faz sentido, pois, o direito tradicionalmente trata da norma. Dependendo da 
abordagem que se adota a respeito da psique pode se dizer que a doença mental é 
uma “desorganização do mundo interior”. Essa é a posição da medicina que elabora 
a distinção, tal como o direito o faz, entre saúde e doença mental. Há verdadeiros 
códigos que estabelecem para os médicos os protocolos para encontrarem os 
diagnósticos e as terapêuticas. 
No entanto, a diferenciação entre doença e saúde mental encontra seus críticos. Dois 
grandes críticos da psiquiatria merecem ser citados nesse contexto: Michel 
Foucault e Franco Basaglia. Resumidamente, o que criticam é que “o saber científico 
e suas técnicas surgem, ..., comprometidos com os grupos que querem manter 
determinada ordem social”. Essas e outras razões levaram Franco Basaglia a criar 
a Antipsiquiatria, um movimento que no Brasil é fundamental na transformação dos 
“manicômios” em clínicas especializadas, nas quais se procura respeitar a cidadania 
do doente. 
Do ponto de vista da psicanálise, a diferença entre “doente” e “normal” é apenas 
uma questão da maneira como cada um de nós lida com suas angústias. Para 
Sigmund Freud, o ser humano é um “animal doente”, porque a civilização exige 
sacrifícios que causam conflitos inconscientes. Freud contribuiu para o estudo das 
doenças mentais, dividindo seu imenso campo de estudo m três estruturas 
psíquicas: neurose, psicose e perversão. Quem pesquisa a Classificação Internacional 
de Doenças (CID 10), as encontrará descritas dentre inúmeros outros quadros de 
doenças. Para Freud, as estruturas psíquicas manifestam o jeito como cada um se 
posiciona diante da angústia causada pela castração que a civilização impõe. As 
estruturas psíquicas (Neurose, Psicose e Perversão) são, em outras palavras, “as 
diferentes maneiras de posicionar-se diante da lei do desejo”. 
Neurose 
Quem sofre de uma neurose obsessiva tenta resolver os conflitos internos entre a lei 
e o desejo, negando o desejo, tentando obedecer cegamente à lei. São pessoas 
“certinhas” que sofrem, por exemplo, de timidez, porque não se permitem 
manifestar o que desejam. Defendem-se do mundo que os angustia por suas 
surpresas e por suas contingências, permanecendo nos limites das normas sociais, 
do senso comum. O conflito entre a obediência à lei e o desejo pode levar o sujeito, 
por exemplo, a apresentar sintomas comportamentais repetitivos ou a viver 
paralisado por dúvidas e pelo medo de agir. 
A neurose histérica pressupõe uma posição diante da lei do desejo que questiona sua 
legitimidade. Inconscientemente, a pessoa que sofre de histeria quer ser chamado à 
ordem. Acredita que um dia vai realizar seu desejo dentro da civilização que, por 
hora, lhe nega essa realização. Característica para a neurose histérica é a 
insatisfação generalizada, rebeldia, a falta de concentração. Muitas vezes, a 
insatisfação converte-se em dores no corpo sem fundo orgânico. 
 
1 http://cursodireitocerto.blogspot.com/2015/06/neurose-psicose-perversao.html 
 
A neurose de angústia, cujo traço principal é a fobia causada por objetos, tem sua 
origem no mesmo fato que é causa das histerias histérica e obsessiva, ou seja, o 
desejo sexual infantil recalcado. No fundo, o que causa a neurose de angústia, é 
medo de castração, medo da sexualidade que pode, frequentemente, manifestar-se 
na adolescência. 
Psicose 
Quando uma pessoa sofre de uma psicose maníaco-depressiva, na medicina 
chamada de transtorno bipolar, ela vive fases alternadas de aparente “normalidade”, 
de euforia e de melancolia. As fases de euforia e de melancolia são desencadeadas 
pelo que na psiquiatria se chama de “evento”. Emoções fortes que não tiram pessoas 
neuróticas, ou seja, “normais”, da série, provocam euforia ou depressão nas pessoas 
que sofrem desse tipo de psicose. Elas “perdem o rumo” nessas fases da vida. 
Dentre os mais diversos tipos de psicoses, abordados por Freud e os psiquiatras 
que dialogam com sua teoria, e também pelos que estabeleceram CID 10, são as 
psicoses esquizofrênica e paranoica. Quando uma pessoa sofre de esquizofrenia, ela 
apresenta uma fala “sem rumo”. Tem grande dificuldade para se ligar ao mundo, 
“não encontra maneira de usar a mídia ... adequadamente e toma caminhos 
incomuns, não aceitos, pelo discurso” ... “não consegue encontrar a 
normalidade”. Fora dos padrões da normalidade encontra-se, portanto, também 
quem sofre de uma psicose paranoica. À diferença do quadro de esquizofrenia, na 
paranoia, a pessoa constitui um quadro não confuso, orientado, porém, delirante. A 
pessoa pode ter a ilusão de ser perseguido ou, ao contrário, apresentar algum delírio 
de grandeza. Vale lembrar que muitas vezes a psicose só se manifesta, quando o 
que na medicina se chama de “evento” desencadeia a psicose. 
Perversão 
Finalmente, vale mencionar a estrutura psíquica que Sigmund Freud chama 
de perversão. Não necessariamente, a perversão se confunde com o que na 
psiquiatria se chama psicopatia. Para Freud, perverso é quem busca satisfação 
sexual além dos limites da maneira “normal” de encontrar prazer. Como a própria 
psicanálise reconhece que não há um padrão de satisfação sexual, perverso é, em 
termos gerais, um sujeito que não se curva diante dos limites da civilização e vai 
buscar a satisfação “exatamente onde as leis e o discurso comum indicam que a 
satisfação está proibida”. Diante desse conceito de perversão, podemos constatar 
que perversos são muitos! 
Diferentemente do perverso, o sujeito que a psiquiatria chama de psicopata é um 
sujeito aparentemente “normal”, bem comportado, age dentro da lei e engana até 
profissionais experientes. No entanto, essa aparente “normalidade” do psicopata 
representa um perigo. Não reconhecido como sujeito perigoso, é capaz de cometer 
atos extremamente violentos pelo puro prazer de causar dor e de matar.

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